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Principal causa > icterícia fisiológica > a maioria dos bebês apresentarão. Para entender: metabolismo da bilirrubina • Diariamente o corpo produz bilirrubina > indireta (BI), proveniente da degradação do heme da hemoglobina > é tóxica e precisa ser excretada pelo organismo > organismo não consegue excretar a indireta, então precisa converter em bilirrubina direta (BD) > é transportada pelo fígado, captada pelo hepatócito e conjugada ao ácido glicurônico (uma ou duas moléculas) > enzima responsável pela conjugação: glicuroniltransferase > formação da bilirrubina direta, que é hidrossolúvel e pode ser excretada. Na vida fetal • O feto também produz bilirrubina > quem excreta na vida fetal é a placenta > não excreta a bilirrubina direta, mas sim a indireta (que é produzida pelo sistema retículo endotelial) > então o fígado do bebê não capta ou capta pouca bilirrubina, já que não precisa converter para ser excretada, ocorre também pouca conjugação em bilirrubina direta, portanto. No recém-nascido • Aumento de bilirrubina indireta nos 3 primeiros dias de vida: o Primeiro mecanismo: produção exagerada de bilirrubina indireta > nos primeiros dias de vida o RN produz muita bilirrubina > devido ao hematócrito muito alto (feto tem o hematócrito alto > que vive no útero, que é um ambiente de muita hipóxia, por isso produz mais hemácias) > a hemácia do RN também tem meia-vida muito curta > então a criança produz muita bilirrubina indireta devido à alta degradação; o Segundo mecanismo: o fígado ainda é muito imaturo ao nascimento > está aprendendo a captar e conjugar a bilirrubina > com a produção muito alta do RN e a ineficácia desses processos, há o acúmulo dessa bilirrubina indireta produzida. o Terceiro mecanismo: aumento da circulação êntero-hepática > nos primeiros dias de vida a criança tem um trânsito intestinal mais lento e a bilirrubina conjugada, quando chega ao intestino, pode ser desconjugada (passa a ser BI novamente) e é reabsorvida, voltando para a circulação > esse processo é denominado de circulação êntero-hepática > nesse período ocorre então uma atividade muito grande da enzima glicuronidase (quebra do ácido glicurônico da bilirrubina). • Esses 3 processos acima determinam o quadro de icterícia fisiológica > acontece pelo AUMENTO da BILIRRUBINA INDIRETA! IMPORTANTE: 1. Enzima responsável pela conjugação da BI + Ácido Glicurônico = GLICURONILTRANSFERASE; 2. Enzima responsável pela desconjugação da BD = GLICURONIDASE. Provável icterícia NÃO FISIOLÓGICA • O que nos faz pensar em uma icterícia não fisiológica: o Início entre 24 e 36 horas de vida > o clássico é 24, mas, o Nelson (tratado de pediatria), diz ser 36 > as crianças com icterícia fisiológica aumentam progressivamente desde o primeiro dia e conseguem ter a bilirrubina detectável a partir das primeiras 48 horas apenas. ▪ Observação: a bilirrubina aumenta aproximadamente 3 mg/dL por dia e só consegue ser detectada a partir de 5 mg/dL. Ou seja, somente após o fim do segundo dia (48h) ela poderá ser detectada em um RN com icterícia fisiológica. Caso comece antes (24 a 36h), então provavelmente não é fisiológica. o Aumento de bilirrubina maior que 5 mg/dL/dia > é mais rápido que o normal, conforme dito acima; o Nível muito elevado de bilirrubina (maior que 12 mg/dL em um RN a termo) > a imaturidade do fígado precisa se resolver principalmente a partir do 3º dia após o nascimento > começa a conjugar mais BI em BD > é detectado com exame laboratorial ou quando alcança a zona 3 de Kramer (essa zona começa na cicatriz umbilical para baixo > sempre sentido crânio-caudal); o Outra alteração clínica: na fisiológica, a bilirrubina é a única alterada. Se tiver outras alterações fora do normal, já pensamos que podem ser a causa base ou parte da icterícia; o Icterícia persistente: o fígado precisa amadurecer e mandar a bilirrubina embora > precisa diminuir a circulação da BI. A definição é controversa, mas, basicamente é: ▪ Termo: é a que dura mais de 7 a 10 dias; ▪ Pré termo: dura mais de 10 a 14 dias. o Que cursa com sinais clínicos de colestase: na fisiológica o aumento é apenas da BI. Se a criança apresenta, além disso, colúria e /ou acolia, ela tem aumento de BD e isso não é compatível com icterícia fisiológica. Se não for fisiológica, o que pode ser? • Sempre avaliar: se o paciente em aumento de BD e BI; • Mas, podemos organizar o pensamento de outra forma, sem começar pela fração de bilirrubinas, mas sim pelo início da icterícia: ICTERÍCIA PRECOCE Menos que 24 horas de vida e ictérico > pode ser uma anemia hemolítica, até que se prove ao contrário > a causa mais comum de hemólise nas primeiras 24 horas de vida é a incompatibilidade materno-fetal > uma mãe que produz anticorpos que detectam antígenos eritrocitários (antígenos na superfície das hemácias). Várias formas: o Mais grave: incompatibilidade Rh > apenas uma situação possível: mulher Rh negativo e RN Rh positivo. Cuidado: nem todas as mulheres Rh negativo produzem anticorpos anti-Rh (o anticorpo não é anti-Rh, é anti-D, mas, generaliza-se como anti-Rh para facilitar a compreensão). Só se produz o anticorpo anti-Rh quando se é sensibilizada, ou seja, a mãe precisa ter sido previamente sensibilizada (realiza-se o teste de Coombs INDIRETO (CI), com resultado positivo caso tenha sido sensibilizada) > a forma mais comum de sensibilização é uma gravidez prévia. O RN terá um Coombs DIRETO (CD) positivo nesse caso também; o Mais comum: incompatibilidade ABO: tipicamente a mulher é do grupo O (tem anticorpos A ou B) e o RN é do grupo A ou B. Aqui não tem necessidade de CI na mãe > tem necessidade de CD no RN, que pode ser positivo ou negativo (o negativo não afasta a hipótese diagnóstica de incompatibilidade ABO, mas, muito pouco provável o diagnósitico de incompatibilidade Rh). Outras possibilidades: • Esferocitose hereditária: defeito de membrana > não costuma causar hemólise nas primeiras horas de vida; • Deficiência de G6PD: é a deficiência enzimática mais comum > não costuma causar hemólise nas primeiras horas de vida; ATENÇÃO: Nessas duas acima o CD vai ser sempre negativo > o processo de hemólise não tem nada a ver com a presença de anticorpos. • Diagnóstico definitivo: avaliação complementar > uma série de exames: o Dosagem de BT e frações > aumento de BI; o Hematócrito > diminuído; o Contagem de reticulócitos > aumentada. IMPORTANTE: icterícia precoce por anemia hemolítica = BI aumentada + hematócrito diminuído + reticulócitos aumentados. • Esses três acima me diz que o paciente tem uma doença hemolítica, para eu descobrir a causa (ou me aproximar dela), precisamos solicitar outros exames: o Tipo sanguíneo e fator Rh: comparar do RN com a mãe > Coombs direto para o RN; o Hematoscopia: avaliação do esfregaço do sangue periférico (sempre que possível) > principalmente a descrição dos esferócitos > se o RN tem esferócitos no sangue periférico, devemos considerar duas possibilidades: ▪ Esferocitose; ▪ Incompatibilidade ABO. ▪ Exemplos: • RN do grupo A e mulher do grupo A: não existe incompatibilidade, então, se detecto esferócitos, é esferocitose; • RN do grupo A e mulher do grupo O: o Coombs Direto é positivo, então o diagnóstico é de incompatibilidade ABO (na esferocitose o CD é sempre negativo); • RN do grupo A e mulher do grupo O: pode haver incompatibilidade e CD é negativo e possui esferócitos no sangue periférico > pode ser os dois, mas, é mais comum a incompatibilidade ABO. ICTERÍCIA PERSISTENTE OU TARDIA • Persistente: que durou mais de 7 ou 10 dias no nascido a termo ou mais de 10 a 14 dias no pré-termo; • Tardia: que começou depois do 2º ou 3º dia após o nascimento. Se na primeira ou segunda semana não houve ainda a icterícia que é considerada fisiológica, então não é mais fisiológica. • Sempre dosas BT (bilirrubina total) e frações > principalmenteapós 2 ou 3 semanas do nascimento! o Aumento de BI (atenção: a BI pode estar aumentada em outros casos, mas, sempre associado a outras disfunções ou sinais/sintomas); ▪ Pensar no diagnóstico: ICTERÍCIA DO LEITE MATERNO > o RN está em aleitamento materno exclusivo e existe alguma substância que está interferindo no metabolismo da bilirrubina > prognóstico é muito bom e se resolve após algumas semanas > as vezes fica muito alta a bilirrubina e suspende-se o leite materno por 24 a 48h e manter a amamentação com fórmula nesse período. • Atenção: não confundir com icterícia do aleitamento materno: também tenho RN com aleitamento exclusivo, mas, nos primeiros dias de vida > está sendo mal amamentado > baixa ingestão láctea > perde muito peso e o trânsito intestinal está lentificado > aumento da circulação êntero-hepático da bilirrubina > que leva a esse quadro > o tratamento aqui não se suspende o aleitamento, mas sim corrige-se a técnica da amamentação e estímulo do aleitamento materno. o Aumento de BD: preocupante! ▪ Atresia das vias biliares: não tem alteração da árvore biliar ao nascer, mas, nos primeiros dias ocorre a obliteração progressiva (fibrose) > interrupção da drenagem biliar > primeira semana de vida não tem nada ou tem icterícia fisiológica > surgem sinais de colestase a partir da terceira semana (colúria e colia) > tem que ser diagnosticada o mais rápido possível > realizar cirurgia (de KASAI = portoenterostomia = anastomose do intestino com o hilo hepático) > reestabelece a drenagem biliar > tem que ser feito nas primeiras 8 semanas de vida para ter sucesso > se não fizer, o prognóstico é ruim. Tratamento Aumento de BI: • É uma substância neurotóxica > passa a BHE > leva à encefalopatia bilirrubínica > causa de óbito no período neonatal > ou quadro crônico (Kernicterus); FOTOTERAPIA • Necessário realizar fototerapia > luz muda a estrutura da bilirrubina na derme, tornando-se hidrossolúvel e ser liberada na urina; • Icterícia nas primeiras 24 horas de vida: sempre precisa de fototerapia; • RN com bilirrubina maior que 17 > não é consensual, mas, indica-se fototerapia; EXSANGUINEOTRANSFUSÃO • Retirar o sangue cheio de bilirrubina e adicionar sem bilirrubina > evitável hoje em dia, até porque a fototerapia é muito eficaz. EXTRA: ZONAS DE KRAMER
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