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ICTERÍCIA NEONATAL * a icterícia é um dos sinais mais frequentes no período neonatal - 60% dos RN atermo e 80% dos RN pré-termo apresentam icterícia na primeira semana de vida * caracteriza-se por uma coloração amarelada na pele, esclera e membrana mucosas e indica aumento da bilirrubina sérica com acúmulo de bilirrubina nos tecidos A bilirrubina existe de quatro formas diferentes na circulação: (1) bilirrubina indireta ligada reversivelmente à albumina - que constitui a maior parte; (2) de bilirrubina indireta e não ligada à albumina (fração livre); - é essa que tem importância no prognóstico de encefalopatia bilirrubínica aguda (3) bilirrubina direta - compreendendo principalmente monoglicuronídeos e diglicuronídeos, os quais efluem dos hepatócitos para a circulação e que são prontamente excretáveis através dos sistemas renal ou biliar; (4) bilirrubina direta ligada covalentemente a albumina - conhecida como δ-bilirrubina. Aumento da bilirrubina indireta (BI) sérica - hemólise exagerada (icterícia hemolítica) - captação prejudicada - glicuronidação diminuída da bilirrubina – problema na conjugação da bilirrubina nos hepatócitos pela enzima glucoronil-transferase Aumento da bilirrubina direta (BD) sérica - doenças colestáticas -> quando a BI é conjugada em BD, mas sua excreção encontra-se prejudicada (extra ou intra-hepática) * pode ser fisiológica -> adaptação de transição do período fetal (depuração de bilirrubina pela placenta) e neonatal * pode ser patológica -> causando sérios danos neurológicos -> encefalopatia bilirrubínica aguda (EBA): manifestações agudas de neurotoxicidade da bilirrubina vistas durante ou imediatamente após um episódio de hiperbilirrubinemia extrema. Podem surgir características da paralisia cerebral coreoatetoide, mas, quando adequadamente tratada, tem-se relatado regressão do quadro -> kemicterus: manifestam sequelas crônicas e permanentes, atribuíveis à neurotoxicidade da bilirrubina, como resultado da deposição de bilirrubina nos núcleos do cérebro * Nem todos os graus de hiperbilirrubinemia são necessariamente perigosos, mas, como os níveis de Bilirrubina Total (BT) podem continuar aumentando, deve-se indicar fototerapia, limitando o aumento de BT e prevenindo a potencial neurotoxicidade da bilirrubina Metabolismo bilirrubina Formação da BI * degradação do heme (hematocarese) leva a formação de biliverdina pela enzima heme-oxigenase-1 e, em seguida, em bilirrubina indireta (BI) no sistema reticuloendotelial de macrófagos esplênicos. Ligação da BI com a albumina sérica e bilirrubina “fração livre” * a BI é um molécula lipossolúvel e precisa ligar-se a albumina plasmática para ser transportada para o fígado de forma facilitada - enquanto a molécula de bilirrubina indireta está ligada à albumina, não se espera que atravesse a barreira hematoencefálica, não devendo, portanto, ocorrer neurotoxicidade da bilirrubina * se os locais de ligação da albumina se tornarem saturados e a bilirrubina indireta não for capaz de se ligar, parte dela ficará como bilirrubina livre ou desacoplada -> essa fração de bilirrubina “livre” pode entrar nas células do cérebro e provocar danos neurotóxicos. !! quanto maior o nível sérico de bilirrubina indireta (fração livre), maior a chance de o recém-nascido evoluir para encefalopatia bilirrubínica aguda Causas que aumentam a bilirrubina livre - hipoalbuminemia - hemólise excessiva (mesmo com concentração de albumina sérica normal) - acidose metabólica - hipotermia - sepse - drogas (ATB com sulfa) - prematuridade Captação da bilirrubina indireta pelos hepatócitos * a captação da bilirrubina no fígado é controlada pela proteína 1B1 transportadora de ânions orgânicos portadores de solutos, a SLCO1B1, também conhecida como OATP2. * a expressão de variantes desse gene transportador sinusoidal, resultado de polimorfismos, pode afetar a cinética e o metabolismo da bilirrubina. Conjugação da bilirrubina * a bilirrubina indireta é conjugada em bilirrubina direta (hidrossolúvel) nos hepatócitos pela atividade da enzima UGT1A1 - a imaturidade da UGT é um importante contribuinte para a hiperbilirrubinemia tanto em recém-nascidos a termo quanto naqueles pré-termo -> em RN a termo a atividade dessa enzima corresponde a 1% da atividade de UGT de adultos (sendo ainda menor em RN pré-termo) * a imaturidade do desenvolvimento, com a consequente lentificação do processo de conjugação, é, na verdade, o gargalo do processo de eliminação da bilirrubina neonatal e a razão pela qual a maioria dos recém-nascidos apresenta algum grau de icterícia visível no período pós-natal Excreção da bilirrubina direta para o intestino e a circulação êntero-hepática * a bilirrubina direta é secretada na bile e, em seguida, no intestino, a partir do qual é excretada nas fezes. A presença da enzima beta-glicuronidase no cólon desconjuga a bilirrubina-glicuronídeo, permitindo a reabsorção da bilirrubina indireta na corrente sanguínea, aumentando, assim, o pool de bilirrubina. -> eventual atraso no início da alimentação enteral pode diminuir a motilidade intestinal, resultando em aumento da estase intestinal e eliminação diminuída, o que possibilitará uma reabsorção de bilirrubina ainda maior no período perinatal Bilirrubina fetal * durante as últimas fases da gestação humana, a degradação normal de eritrócitos formados anteriormente na vida fetal resulta num aumento de cerca de 150% (8x mais) na produção de bilirrubina por unidade de peso corporal em comparação com os adultos. - há uma a deficiência acentuada na atividade da enzima conjugadora (UGT) é observada em fetos humanos - a atividade da UGT é extremamente baixa antes de 30ª semanas de gestação * a diminuição da atividade da UGT é a etapa central limitante da taxa, a qual, em conjunto com processos adicionais, incluindo o aumento da produção de bilirrubina, o reforço da circulação êntero-hepática e a diminuição da captação no hepatócito, manifesta- se como icterícia fisiológica em seres humanos * devido ao transporte placentário de bilirrubina não conjugada do feto para a mãe é incomum a presença de hiperbilirrubinemia durante a vida fetal - mesmo em estados de hemólise intrauterina grave por condições como Rh ou outras isoimunizações, o grau de anemia excede bastante o nível de hiperbilirrubinemia e a icterícia clínica usualmente é branda ao nascimento. !! Após o parto e a separação da placenta do recém-nascido, aumentos da bilirrubina total (BT) podem ser esperados e podem ser excessivos diante de doenças hemolíticas * por outro lado, a placenta é pouco permeável à bilirrubina conjugada - assim, na ausência de evidência de doença hemolítica, se houver a presença de icterícia clínica ao nascimento, deve-se suspeitar de hiperbilirrubinemia conjugada, causada por patologia hepática intrauterina. sempre pensar nessas possíveis causas ao avaliar um RN com hiperbilirrubinemia, pois aumentam o risco de neurotoxicidade Hiperbilirrubinemia no RN * em qualquer fase da vida, em qualquer recém-nascido, a BT representa uma combinação de duas forças: - o catabolismo do heme e a produção de bilirrubina - a eliminação da bilirrubina produzida -> primariamente pelo processo de conjugação da bilirrubina, mas também por sua excreção. * enquanto houver equilíbrio entra a produção, conjugação e excreção de bilirrubina no organismo processos, a BT pode subir para níveis fisiológicos, mas não representa risco para os recém-nascidos a termo previamente saudáveis. * caso esse delicado equilíbrio seja comprometido e a produção supere a eliminação da bilirrubina, haverá um desequilíbrio que poderá resultar em hiperbilirrubinemia -> é possível, por exemplo, que um feto com hemólise grave (por incompatibilidade sanguínea materno-fetal) pode não necessariamente apresentar hiperbilirrubinemia se os processos de conjugação e excreção estiverem funcionando bem e compensandoa degradação aumentada de eritrócitos. -> por outro lado, uma hemólise moderada associada com uma imaturidade da enzima UGT (frequente nos RN pré-termo tardio) pode levar ao desequilíbrio desse processo e levar a um quadro de hiperbilirrubinemia Fatores que afetam o equilíbrio entre a produção-conjugação-excreção da bilirrubina - hemólise - imaturidade da UGT (enzima que atua na conjugação hepática da bilirrubina) - polimorfismo do gene UGT1A1 - circulação entero-hepática Hiperbilirrubinemia indireta bilirrubina indireta sérica > 2,0mg/dL Hiperbilirrubinemia direta bilirrubina direta sérica > 1,0mg/dL - desde que BI compreenda mais de 10% da BST * normalmente adultos e crianças mais velhas apresentam - BT sérica 0,2-1,0 mg/dL - BI sérica 0,2-0,8 mg/dL - BD sérica 0,1-0,3 mg/dL a BT é um preditor de neurotoxidade bilirrubínica aguda (EBA)? * embora a BT seja empregada como ferramenta para o manejo da hiperbilirrubinemia neonatal, esse exame é um fraco preditor do desfecho neurológico relacionado à bilirrubina. -> é improvável que um RN a termo previamente saudável, sem condição hemolítica evidente, desenvolva neurotoxicidade bilirrubínica com níveis de BT < 25 mg/dL, não há realmente nenhum ponto de corte específico em que o nível de BT vá, ou não, ser preditivo de neurotoxicidade * O uso de sua fração livre (bilirrubina indireta livre) como indicador para instituir a fototerapia ou para realizar a exsanguino- transfusão permite melhor identificação dos RN de risco para lesão cerebral. - contudo a dosagem da fração livre de BI sérica não é utilizado na prática clínica, sendo a BT ainda utilizada para decidir a conduta clínica em RN com hiperbilirrubinemia. CASO CLÍNICO 1 RN de 36 semanas de gestação, previamente saudável, com 48 horas de vida apresentou BT foi de 15,0 mg/dL. O que esse valor de BT significa? -> valores altos de BT são multifatoriais, ou seja, pode haver tanto um aumento na produção de bilirrubina quanto um processo de hemólise A icterícia refere-se à coloração amarelada da esclera, da pele e das membranas mucosas, devido a uma infiltração do pigmento amarelado do soro, a bilirrubina. A hiperbilirrubinemia, por outro lado, refere-se a uma dosagem da bilirrubina sérica, cujo resultado é maior do que o estabelecido como normal HIPERBILIRRUBINEMIA NEONATAL PRECOCE * a hiperbilirrubinemia e icterícia neonatal precoce (que ocorre entre as primeiras 24h e 36h de vida) chama atenção para causas não fisiológicas do aumento dos níveis de bilirrubina sérica INCOMPATIBILIDADE SANGUÍNEA MATERNO-FETAL * O aparecimento de icterícia nas primeiras 24-36 horas de vida alerta para a diagnóstico de doenças hemolíticas por incompatibilidade sanguínea materno-fetal ao antígeno D do sistema Rh, aos antígenos A ou B do sistema ABO ou aos antígenos eritrocitários irregulares -> na ausência de evidência de doença hemolítica, se houver a presença de icterícia clínica ao nascimento, deve-se suspeitar de hiperbilirrubinemia direta, causada por patologia hepática intrauterina. INCOMPATIBILIDADE METERNO-FETAL POR RH -> a incompatibilidade materno-fetal Rh alerta para doença hemolítica por anticorpos maternos anti-D * destruição de eritrócitos fetais D positivos com liberação excessiva de bilirrubina e CO * o feto desenvolve mecanismos compensatórios para promover a eritropoese fornecendo um pool cada vez maior de bilirrubina e de um quadro de anemia hemolítica * anemia e presença de reticulócitos no sangue periférico * hepatoesplenomegalia * hiperbilirrubinemia precoce (com níveis elevados nas primeiras 24-36h e possibilidade de desenvolver EBA) * Diagnóstico pré-natal: detecção dos anticorpos séricos anti-D no Coombs indireto (mãe) * a tipagem do sangue do neonato (ABO, D e Dfraco) deve ser feita por Coombs direto logo após o nascimento - Coombs direto positivo sugere que as hemácias do bebê estão recobertas pelos anticorpos anti-D da mãe * O acompanhamento clínico e a interpretação laboratorial permitem determinar a gravidade da icterícia hemolítica INCOMPATIBILIDADE METERNO-FETAL POR ABO -> a incompatibilidade materno-fetal ABO alerta para doença hemolítica por anticorpos maternos anti-A ou anti-B * principal fator de risco para hiperbilirrubinemia grave * Após o advento da imunoglobulina anti-D administrada à gestante e à mãe, a incidência da eritroblastose fetal diminuiu drasticamente, sendo que a causa atual mais frequente de doença hemolítica é a incompatibilidade ABO. mãe O e feto A ou B * apenas 2% dos casos evoluem com hiperbilirrubinemia nas primeiras horas de vida * a anemia hemolítica é mais intensa quando o feto é do tipo B * afeta exclusivamente mães do tipo O com bebês do tipo A ou B - Genitoras do grupo A ou B, respectivamente, produzem anticorpos anti-A ou anti-B, com predominância da classe IgM que não atravessa a barreira transplacentária, dessa forma, não causa a destruição das hemácias B ou A. -> Diagnóstico: evolução clínica e investigação laboratorial - icterícia precoce (nas primeiras 24-36h de vida) que evolui de forma gradual e persistente nas duas primeiras semanas de vida - pico de hiperbilirrubinemia no 5° dia de vida - BI pode alcançar até 20mg/dL com risco de evolução para EBA (é diagnosticada com frequência após alta hospitalar) !! é MUITO IMPORTANTE acompanhar a evolução clínica da icterícia após a alta do RN * a comprovação da doença é difícil, sendo fundamental o acompanhamento da evolução clínica da icterícia e dos resultados dos exames laboratoriais para o diagnóstico confirmatório da doença hemolítica * a detecção de Coombs direto não contribui para o esclarecimento do diagnóstico (diferente da incompatibilidade de Rh) * a detecção de anticorpos anti-A ou anti-B no sangue de cordão ou do RN, denominado teste do eluato, demonstra que existem anticorpos acoplados às hemácias, mas sem associação com a gravidade da doença. -> Hemograma: - discreta diminuição na Hb e Hct (alteração na morfologia das hemácias do RN -> detecção de esferócitos) - reticulocitose (10-30%) CASO CLÍNICO 2 RN nasceu de uma gestação a termo de mãe com tipagem sanguínea do grupo O, Rh positivo. As enfermeiras consideraram que a pele do bebê estava amarelada quando de sua admissão no berçário. O médico julgou que se tratava apenas de uma icterícia muito leve, optando por ignorá-la. Uma enfermeira experiente, contudo, colheu uma BT com 12 horas de vida e o resultado foi de 9,2 mg/dL. “Não é muito alta”, declarou o médico. No dia seguinte (28 horas), o valor da BT era de 15 mg/dL. O que deve ser feito nesse caso? - Mãe O+ - RN com icterícia - BT alta para o tempo de vida (12h) e aumento progressivo do BT nas primeiras 24h -> icterícia neonatal precoce NUNCA é fisiológica (CONTINUAÇÃO) Uma hora após o início da fototerapia, os resultados laboratoriais subsequentes mostraram: recém-nascido do grupo sanguíneo B, Rh positivo, TAD (Coombs direto) fortemente positivo, Hb 12,0 mg/dL, hematócrito 36% e contagem de reticulócitos 6%. A anemia, em associação com a contagem elevada de reticulócitos, sugere a ocorrência de hemólise. Após seis horas de fototerapia intensiva, o valor da BT repetida foi de 18,3 mg/dL. O que se deve fazer agora? a. continuar fototerapia e repetir BT em 12h b. exsanguinotransfusão c. administrar IGIV 1g/kg Imunoglobulina Intravenosa (IGIV) na Anemia Hemolítica Imune * em RN com incompatibilidade ABO, a administração de IGIV se revela muito eficaz na prevenção do aumento da BT, reduzindo a necessidade de exsanguinotransfusão -> é preciso realizar uma abordagem agressiva com RN com incompatibilidade ABO (1) reconhecimento da elevada frequência de recém-nascidos de mães do grupo sanguíneo O; (2) identificação de icterícia precoce, por inspeção visual ou avaliação da bilirrubina transcutânea (BTc); (3) fototerapia de alta intensidade (4) administração de IGIV se a BT continuaraumentando, apesar da fototerapia - evita a necessidade de se realizar exsanguinotransfusão nos recém-nascidos ABO-incompatíveis. INCOMPATIBILIDADE METERNO-FETAL POR ERITRÓCITOS IRREGULARES (ESFEROCITOSE HEREDITÁRIA) * anemia hemolítica mais comum por defeito na membrana (alterações de proteínas que unem o citoesqueleto do eritrócito e a sua membrana plasmática) * a incompatibilidade materno-fetal por antígenos eritrocitários irregulares do sistema Rh (Cc, Ee), Kell (Kk), Duffy (Fya), Kidd (Jka, Jkb), MNS (M, N, S e s), apesar de rara, também ocasiona quadros graves de doença hemolítica perinatal ou morte intrauterina. * o RN apresenta sinais clínicos e laboratoriais de doença hemolítica, muitas vezes intensa com reticulocitose e aumento de eritroblastos, diminuição do hematócrito e da hemoglobina, e hiperbilirrubinemia grave * suspeitar frente a uma icterícia hemolítica que não existe incompatibilidade materno-fetal ABO e Rh (antígeno D) e o Coombs direto do RN for positivo e com - CHCM > 36g/dL associada ou não a RDW >14 Diagnóstico: curva de fragilidade osmótica (as células esferocitárias defradam mais rapidamente que as normais) - o painel de hemácias é necessário para a confirmação do antígeno irregular Considerações sobre doenças hemolíticas e o risco de EBA e Kemicterus * acredita-se que RN com doença hemolítica apresentam risco mais elevado para neurotoxicidade induzida por bilirrubina do que aqueles em que a hiperbilirrubinemia não é causada por um processo hemolítico -> um RN com icterícia de causa hemolítica (por incompatibilidade, por exemplo) que apresenta níveis de BT entre 20-24 mg/dL está em risco maior de encefalopatia bilirrubínica aguda (EBA) e Kemicterus do que um RN a termo, saudável e com níveis altos de bilirrubina total (icterícia do leite materno, por exemplo) raramente está em risco para encefalopatia aguda ou crônica. * isso não significa que não será prescrito fototerapia para esse paciente!! Resposta: é preciso iniciar fototerapia “intensa” e repetir BT em 4/6h -> desde o início, esse bebê não foi corretamente conduzido. Um RN de mãe do tipo O pode apresentar risco de hiperbilirrubinemia neonatal se seu tipo sanguíneo for A ou B. O segundo fator de risco para hiperbilirrubinemia grave foi a presença de icterícia logo após o nascimento, com uma concentração de BTS significativamente acima do percentil 95. As respostas “a” e “c” estão incorretas. Não há necessidade de se realizar a exsanguinotransfusão nesse momento, já que, em muitos casos de isomunização ABO, o aumento da BT pode ser modulada. Resposta: C – iniciar IGIV -> A resposta “a” é incorreta porque esperar 12 horas permite que, eventualmente, a bilirrubina atinja um nível perigoso. A resposta “b” pode ser considerada uma opção válida. No entanto, segundo a experiência dos autores, a administração de IGIV praticamente eliminou a necessidade de exsanguinotransfusão em recém-nascidos com incompatibilidade ABO. -> como se acredita que a fração livre de bilirrubina é aquela que atravessa a barreira hematoencefálica, parece lógico que recém- nascidos que apresentam condições hemolíticas devem apresentar frações mais elevadas de bilirrubina livre do que os recém- nascidos sem hemólise. Quando suspeitar de uma icterícia neonatal hemolítica? - icterícia precoce (<24h após o parto) - RN que apresenta aumento rápido de bilirrubina (valores que “saltam” percentis do nomograma de bilirrubina hora-específico) DEFICIÊNCIA DA G6PD * a deficiência de glicose-6-fosfato (G-6-PD) é uma doença genética associada ao cromossomo X que pode afetar indivíduos dos dois sexos e que deve ser pesquisada em todo RN que apresenta icterícia não fisiológica -> Deficiência de G6PD na forma de icterícia hemolítica aguda: rápido aumento de BI desencadeado por agentes oxidantes -> Deficiência de G6PD na forma icterícia hemolítica leve: associada ao polimorfismo genético com expressão reduzida da UGT com níveis altos de BI, mas sem anemia associada. * é a principal causa de Kemicterus * o diagnóstico da deficiência da G6PD é feito pela atividade reduzida da G6PD com hemólise (a dosagem normal não exclui a deficiência) * comum em descendentes afro-americanos, mediterrâneo, oriente médio -> suspeitar quando o hemograma apresenta valores normais, na presença de valores extremamente elevados de BT, o que só se pode atribuir à hemólise e quando houver aumentos súbitos da BT. Tratamento: * fototerapia e exsanguinotransfusão (em casos graves) IDADE GESTACIONAL DE 35-36 SEMANAS (PREMATURO TARDIO) * a idade gestacional de 35-36 semanas, independentemente do peso ao nascer, é considerada um dos fatores de risco mais importantes para a hiperbilirrubinemia significante DIFICULDADE NO ALEITAMENTO MATERNO * quando o aleitamento materno ocorre de forma inadequada ou insuficiente pode levar ao desenvolvimento da hiperbilirrubinemia significante na primeira semana de vida - isso ocorre devido ao aumento da circulação êntero-hepática da bilirrubina e à sobrecarga de bilirrubina ao hepatócito * é atribuída a dificuldade de sucção e/ou pouca oferta láctea - tem como consequência a perda de peso maior que 10% em relação ao peso do nascimento que é acompanhada de desidratação - níveis de BT podem ser >20mg/Dl a perda de peso >7% em relação ao peso de nascimento é um alerta para a necessidade de acompanhamento mais cuidadoso em relação à amamentação e à possibilidade de hiperbilirrubinemia significante * a implementação de boas práticas relacionadas à amamentação diminui os níveis de hiperbilirrubinemia significante e a necessidade de fototerapia !! otimizar o aleitamento materno nos recém-nascidos saudáveis com contato pele a pele e estímulo ao aleitamento na sala de parto na primeira hora de vida é uma estratégia efetiva, simples e econômica para evitar a hiperbilirrubinemia significante. FATORES ÉTINICOS-RACIAIS * comum associar em algumas populações BT >20mg/dL devido a polimorfismos genéticos que estão relacionados com a enzima glucoritransferase (UGT) e, assim, diminuição da capacidade de conjugação hepática da BI em BD -> ocorre polimorfismo na UGT em descendentes de asiáticos, irmão com histórico de icterícia neonatal tratado com fototerapia OUTRAS CONDIÇÕES DE HIPERBILIRRUBINEMIA PRECOCE * o cefalohematoma e equimoses em um neonato chama atenção para hiperbilirrubinemia e icterícia prolongada * o clampeamento tardio do cordão umbilical está associado com policitemia no RN -> o que pode levar ao aumento de BT e a quadros de icterícia neonatal que necessita de fototerapia * RN de mães diabéticas insulinodependentes e fetos GIG apresentam níveis mais altos de bilirrubina devido a grande quantidade de hemácias fetais * a síndrome de icterícia do leite materno é uma causa de hiperbilirrubinemia indireta prolongada - considerada apenas quando o diagnóstico de outras doenças hemolíticas, deficiência da G6PD e hipotireoidismo for afastado - aparece desde a primeira semana de vida e persiste por mais duas ou três semanas (podendo chegar até os 3 primeiros meses de idade) !! nessa síndrome chama atenção o bom estado geral do RN, com ganho de peso adequado. CASO CLÍNICO 3: RN GP, do sexo masculino, nasceu a termo nos Estados Unidos, de pais gregos que haviam imigrado recentemente. Os pais relataram que um bebê anterior na família precisou fazer fototerapia. No momento da alta, com 48 horas, a BT era de 11,0 mg/dL (percentil 75 do nomograma de bilirrubina). O bebê estava em aleitamento materno, aparentemente com sucesso. -> Esse bebê era de alto risco para hiperbilirrubinemia grave, com base na história de um irmão que necessitou de fototerapia e pela origem mediterrânea da família. Além da presença de níveis de BT na zona de risco intermediário alto. * Com base nos fatores de risco do RN e mais os fatores adicionais (aleitamento materno e sexo masculino) seria preciso repetir a BT nesse bebê dentre de 24h, além deinstruir os pais para reconhecimento da icterícia. O caso foi conduzido de maneira errada. (CONTINUAÇÃO) Aos 5 dias, o bebê tornou-se letárgico e recusando amamentação. Eles ligaram para o consultório do pediatra, mas foi-lhes dito que a primeira consulta disponível seria às 14h do dia seguinte. Com o início das crises convulsivas, os pais levaram o bebê para o pronto- socorro. A enfermeira da triagem exclamou: “Esse bebê está parecendo uma abóbora!” Enquanto esperavam atendimento por um médico, o bebê entrou em apneia e necessitou de intubação e ventilação. Foi administrado fenobarbital. Uma hora e meia depois, a BT era de 35 mg/dL. O bebê foi internado na enfermaria pediátrica, com acesso venoso, sendo-lhe administrado antibiótico e iniciada a fototerapia. Foi solicitado sangue para exsanguinotransfusão, mas, por problemas técnicos, a entrega da bolsa levou três horas. -> paciente apresenta sinais de encefalopatia bilirrubínica em curso qual a melhor conduta? Resposta: iniciar fototerapia intensa enquanto aguarda a exsanguinotransfusão * Objetivos: - reduzir imediatamente a BT por exsanguinotransfusão e fototerapia intensiva - a redução rápida do BT melhora o quadro e muito bebês não terão comprometimento neurológico nenhum !! a encefalopatia crônica causada por bilirrubina é conhecida com kemicterus -> No caso em questão, a exsanguinotransfusão através da veia umbilical foi iniciada sete horas após a chegada ao pronto-socorro. O teste de G6PD no sangue que havia sido coletado antes da exsanguinotransfusão foi muito baixo, indicativo de deficiência de G6PD. Ao serem questionados, descobriu-se que um vizinho havia preparado uma refeição para os pais que continha favas, um prato de etnia Mediterrânea. Provavelmente, o bebê foi exposto aos metabólitos desse feijão através do leite materno. Atualmente, o bebê tem 7 anos e apresenta paralisia cerebral coreoatetoide grave Efeitos Clínicos da Hiperbilirrubinemia Neonatal Grave (neurotoxicidade) !! Lembrar: RNs pré-termo apresentam permeabilidade aumentada da barreira hematoencefálica - assim, além de apresentarem níveis elevados de bilirrubina nos primeiros dias de vida também apresentam risco aumentado de apresentar neurotoxicidade -> Condições que causam lesões na barreira hematoencefálica aumentam o risco de neurotoxicidade da hiperbilirrubinemia - acidose - hipercapnia - hiperosmolaridade - hipoglicemia - meningite - infecção - hemorragia intracraniana Encefalopatia bilirrubínica aguda (EBA) Fase inicial: letargia grave, hipotonia, sucção débil * má alimentação em um bebê que previamente se alimentava bem - sinais pouco específicos, mas que na presença de icterícia grave levantam um alerta para EBA - é preciso instituir o tratamento sem demora Fase intermediária: estupor moderado, irritabilidade e hipertonia flutuante (alternada) com hipotonia e sonolência Fase avançada: opistótono e arqueamento da coluna (retrocólis) * choro fraco * o RN pode apresentar um grito agudo * ocorre a paresia do olhar vertical (sinal do sol poente) * febre, convulsões, apneia e morte * fácies característica do kemicterus: parestesia do olhar vertical (olhando sempre para cima), retração palpebral e distonia facial -> criança parece chocada, assustada e ansiosa !! a exsanguinotransfusão está indicada nas fases intermediárias e avançadas da encefalopatia - objetivo de evitar comprometimento crônico Paralisia cerebral crônica (Kemicterus) - bilirrubina impregna/deposita nos gânglios da base, hipocampo e alguns núcleos no tronco cerebral (áreas que mais usam O2) - controle muscular anormal (movimentos e tônus muscular típicos da paralisia cerebral coreoatetoide) - distúrbio no processamento auditivo (com ou sem perda auditiva) - disfunção oculomotora (paralisia do olhar para cima) - displasia do esmalte dos dentes - déficit cognitivo Fatores predisponentes: hipoglicemia, hipotermiaa, infecções, acidose, hipóxia, hipoalbuminemia e drogas (benzoatos, ceftriaxona, ibuprofeno) CONJUGAÇÃO DIMINUÍDA DE BILIBINA E HIPERBILIRRUBINEMIA NEONATAL * A conjugação diminuída de bilirrubina pode resultar em hiperbilirrubinemia, de forma independente ou em conjunto com a produção aumentada de bilirrubina - Prematuridade - Estenose pilórica - Síndrome de Gilbert * doença benigna genética * situação mais frequente de comprometimento da conjugação hepática da BI * ocorre o aumento da BI por deficiência na captação hepática da bilirrubina associada a deficiência da atividade de UGT - Hipotireoidismo * cerca de 10% dos recém-nascidos com hipotireoidismo congênito podem desenvolver icterícia prolongada devido à atividade diminuída da UGT, - por isso é preciso solicitar testes de função tireoidiana em RN com icterícia. * triagem metabólica de rotina para o diagnóstico de hipotireoidismo deve estar disponível na primeira semana de vida. - Síndrome de Crigler-Najjar tipo I * a síndrome de Crigler-Najjar tipo I é uma doença autossômica recessiva rara que se caracteriza pela ausência quase completa de atividade hepática da UGT. * sinais e sintomas aparecem a partir do 2-3 dias de vida * nesse caso, se a BT não for rigorosamente controlada com fototerapia para a vida toda, o RN pode desenvolver hiperbilirrubinemia não conjugada grave e kernicterus. -> Diagnóstico: pode ser obtido por sequenciamento do gene UGT1A1. - o transplante hepático oferece o único tratamento definitivo para a doença; - muitas crianças irão apresentar sinais de encefalopatia ao decorrer da doença Síndrome de Crigler-Najjar tipo II * a síndrome de Crigler-Najjar tipo II é mais comum que a doença tipo I e, em geral, é benigna. * caracterizada pela baixa atividade da UGT * a ocorrência de kernicterus é rara * a hiperbilirrubinemia indireta ocorre nos primeiros dias de vida, podendo ser exacerbada pelo jejum, por doenças e por anestesia. * após o período neonatal, não deve haver risco de kernicterus no longo prazo -> o fenobarbital pode ser utilizado como um recurso clínico simples para distinguir entre as doenças do tipo II e do tipo I. BERA – exame auditivo para detectar neurotoxicidade induzida pela BI - RN ictéricos com a doença tipo II responderão à administração oral de fenobarbital com acentuado declínio na BT - RN ictéricos com a doença tipo I não responderão ao uso de fenobarbital. Icterícia do leite materno (ILM) * o leite materno apresenta níveis elevados da enzima beta-glicuronidade - essa enzima pode causar maior absorção de bilirrubina intestinal no neonato * é justamente essa enzima que está presente no cólon e que permitindo a reabsorção da bilirrubina indireta na corrente sanguínea, aumentando, assim, o pool de bilirrubina no neonato. -> caracteristicamente, a síndrome da icterícia do leite materno apresenta-se com: - icterícia fisiológica com BT entre 15-25mg/dL após o 7° dia de nascimento (geralmente entre 10-15° dia) * considerada apenas quando o diagnóstico de outras doenças hemolíticas, deficiência da G6PD e hipotireoidismo for afastado - aparece desde a primeira semana de vida e persiste por mais duas ou três semanas (podendo chegar até os 3 primeiros meses de idade) !! nessa síndrome chama atenção o bom estado geral do RN, com ganho de peso adequado. Diagnóstico: níveis de BT sérica que diminuem em 24-48h após a suspensão temporária da amamentação * a maioria dos recém-nascidos com icterícia do leite materno pode ser acompanhada sem outras intervenções. - no entanto, deve-se estar certo da inexistência de outra patologia. - indica-se a dosagem das frações da bilirrubina, bem como a realização de exames de tireoide e cultura de urina. Icterícia associada a amamentação (IAA) * é associada a amamentação ineficiente do neonato - a ingesta calórica deficiente leva a um transporte êntero-hepático e via de excreção da bilirrubina corporal reduzidos - apresenta-se como icterícia precoce (nas primeiras 24-36h devida) * é atribuída a dificuldade de sucção e/ou pouca oferta láctea - tem como consequência a perda de peso maior que 10% em relação ao peso do nascimento que é acompanhada de desidratação - níveis de BT podem ser >20mg/Dl -> a perda de peso >7% em relação ao peso de nascimento é um alerta para a necessidade de acompanhamento mais cuidadoso em relação à amamentação e à possibilidade de hiperbilirrubinemia significante CASO CLÍNICO 4: RN a termo, sexo masculino, nasceu de pais que eram primos em segundo grau. O bebê foi amamentado. A BT era de 20,0 mg/dL no terceiro dia de vida. A fototerapia foi fundamental para diminuir o valor da BT e o bebê recebeu alta, sendo readmitido apenas três dias depois, com um valor de BT de 23,0 mg/Dl. Qual o diagnóstico mais provável? Resposta: * neste caso, o diagnóstico principal é icterícia associada à amamentação (icterícia por “oferta inadequada” de leite materno). A icterícia da amamentação ocorre nas primeiras semanas de vida. Falta de técnica adequada, ingurgitamento, fissura mamilar, pouca quantidade de leite e fadiga podem prejudicar a eficácia da amamentação por parte da mãe. Fatores neonatais como a sucção não efetiva podem ser comum nos RN pré-termo tardio. O resultado pode ser amamentação ineficaz, pouca hidratação, eliminação tardia do mecônio e estase intestinal, tudo isso levando ao aumento da circulação êntero-hepática e da carga de bilirrubina. * a icterícia do leite materno, por outro lado, ocorre após os primeiros 3 a 5 dias de vida. As mutações do gene UGT1A1, incluindo o polimorfismo (TA)7 do promotor ou a mutação do G71R, podem contribuir para o desenvolvimento de hiperbilirrubinemia nos recém- nascidos amamentados com leite materno. Os RN mais gravemente afetados podem atingir níveis de pico de bilirrubina tão elevados quanto 20 a 30 mg/dL, sem clara evidência de hemólise ou de doenças. A interrupção do aleitamento materno e a substituição por uma fórmula durante um a três dias costuma provocar queda rápida da concentração da BT. No entanto, com frequência, isso não é recomendado, a não ser que as concentrações de BT atinjam níveis que possam acarretar riscos para o bebê. No retorno ao aleitamento materno, em geral a BT não aumenta. Icterícia Neonatal fisiológica Recém-nascido a termo * no período neonatal existem fatores que promovem uma maior elevação de BI que levam ao quadro de icterícia fisiológica a. sobrecarga de bilirrubina no hepatócito * o RN produz até duas ou três vezes mais bilirrubina que um adulto, levando-se em conta seu peso corporal. - isso ocorre pela maior quantidade proporcional de hemoglobina encontrada no RN e pela menor meia-vida das hemácias (a meia- vida é de 70-90 dias, enquanto no adulto é de 100-120 dias) * a reabsorção entérica da BI também está aumentada, contribuindo para a maior sobrecarga b. diminuição da captação e conjugação hepática * devido a imaturidade do sistema enzimático * a captação está prejudicada principalmente pela atividade da UGT diminuída característica do período fetal No recém-nascido atermo, a icterícia fisiológica é caracterizada por uma elevação progressiva da concentração de BT no sangue para um pico médio de 5 a 6 mg/dL entre 48 e 120 horas da idade, com a maioria dos recém-nascidos atingindo um pico com 72 a 96 horas de idade -> Isso é seguido por um declínio rápido para cerca de 3 mg/dL no quinto dia de vida fase 1 da icterícia fisiológica: período inicial de elevação progressiva de BT até atingir o pico (3-4 dias) fase 2 da icterícia fisiológica: período tardio de hiperbilirrubinemia mínima, a partir do 5° dia, quando as concentrações de BT declinam lentamente, atingindo o valor adulto normal de < 2,0 mg/dL * metade dos RN com hiperbilirrubinemia não se tornam visivelmente ictéricos - a icterícia cutânea no recém-nascido não se tornará visível até as concentrações de TB excederem 5 a 6 mg/dL em neonatos * em níveis mais baixos de TB, só a cabeça e as escleras podem ser afetadas, com tórax, abdome, pernas e pés se tornando ictéricos paralelamente ao aumento das concentrações de TB !! a avaliação clínica dos RNs é especialmente antes da alta de recém-nascidos, especialmente os que recebem alta antes de 72 horas de idade. Recém-nascido pré-termo * a icterícia fisiológica em prematuros é mais grave do que em crianças nascidas a termo - em crianças prematuras maiores, as concentrações médias de pico de TB podem alcançar 10 a 12 mg/dL no 5° dia de vida !! essa demora em alcançar a concentração máxima em comparação com recém-nascidos a termo reflete principalmente o retardo da maturação da atividade hepática da UGT. * a idade gestacional de 35-36 semanas, independentemente do peso ao nascer, é considerada um dos fatores de risco mais importantes para a hiperbilirrubinemia significante - esses RN (pré-termo tardio) possuem capacidade diminuída de conjugação hepática da bilirrubina e apresentam dificuldade na sucção e deglutição para manter uma oferta adequada de leite materno - O risco de um RN com IG de 36 semanas desenvolver níveis de BT ≥20mg/dL é 8 vezes maior quando comparado ao risco de um RN de 41 semanas * todos os graus de icterícia visível em recém-nascidos prematuros devem ser cuidadosamente monitorados e plenamente investigados -> aumento do risco de encefalopatia bilirrubínica aguda (EBA) ou kemicterus Recém-nascido pré-termo tardio * a gestação de prematuros tardios (34 semanas e 36 e seis dias) é um fator de risco importante para o desenvolvimento de hiperbilirrubinemia neonatal grave e kemicterus - nesse momento da gestação, a capacidade de conjugação hepática ainda é imatura e pode contribuir para maior prevalência, gravidade e duração da icterícia neonatal nesses recém-nascidos. * os fatores de risco adicionais que aumentam a incidência de hiperbilirrubinemia grave nesses recém-nascidos incluem alimentação com leite materno, constituição grande para a idade gestacional, sexo masculino, deficiência de G6PD e outros. Recém-nascido pós-termo * espera-se que quase todos os recém-nascidos pós-maturos e cerca da metade de todos os recém-nascidos a termo pequenos para a idade gestacional tenham pouca ou nenhuma icterícia fisiológica, com concentrações de pico de TB inferiores a 2,5 mg/dL Quadro Clínico * surgimento de icterícia entre o 2º e 3º dia de vida - nunca no momento do nascimento ou antes das primeiras 24h de vida * a icterícia apresenta progressão céfalo-caudal * a BT pode aumentar até 5mg/dL por dia até atingir o pico * a BD nunca ultrapassa 2 mg/dL ou 20% da BT na icterícia fisiológica * pico de BI entre o 3º e 4º dia de vida (RN a termo) e resolução do caso em 7 dias * pico de BI no 5º dia de vida e resolução do caso em 14 dias (RN pré-termo -> demora para atingir a maturidade) - a termo: 5-6 mg/dL - pré-termo: 10-12 mg/dL - pós-termo: até 2,5 mg/dL Zonas de Kramer * progressão da icterícia de maneira craniocaudal - zona I: icterícia somente na face - zona II: icterícia da cabeça até a cicatriz umbilical - zona III: hipogástrio até as coxas - zona IV: joelhos até tornozelos e cotovelos e punhos - zona V: mãos e pés * casos de icterícia fisiológica visível resolvem-se: - 7 dias em RN a termo - 14 dias em RN pré-termo Manejo clínico-laboratorial * apenas a estimativa clínica (Zonas de Kramer) não é suficiente para detectar os RN com BI ≥12 mg/dL, recomendando-se a verificação dos fatores de risco associados à hiperbilirrubinemia indireta assim como o tempo de vida do RN para decidir pela dosagem sérica da bilirrubina. -> método invasivo (dosagem sérica da bilirrubina) -> padrão ouro -> método não invasivo (transcutânea) Exames laboratoriais que devem ser solicitados na investigação de hiperbilirrubinemia - BT e frações - hemograma (Hb, Hct, morfologia hemácias, reticulócitos e esferócitos) - tipagem sanguínea da mãe e do RN - teste de Coombs indireto em mãe Rh negativo (pesquisa anti-D) - teste Coombsdireto do RN - pesquisa de anticorpos maternos para antígenos irregulares (painel eritrocitário) - dosagem da G6PD - urocultura - triagem metabólica (hormônios tireoidianos T4 e TSH) (teste do pesinho) * em casos de icterícia prolongada é importante diferenciar se a icterícia é por aumento de bilirrubina direta ou indireta: - avaliar coloração de fezes e urina Quando solicitar BT em RN >35 semanas antes da alta hospitalar? - icterícia nas primeiras 24-36h de vida (icterícia precoce) - incompatibilidade tipo sanguíneo materno-fetal Rh e ABO - icterícia em RN com 35-36 semanas independente do peso ao nascer (pré-termo tardio) - icterícia em RN com dificuldade de amamentação e/ou perda de peso >7% em relação ao peso do nascimento - icterícia em RN a termo abaixo da linha mamilar (Zona II de Kramer) -> o pediatra deve realizar a primeira consulta após a saída da maternidade, no máximo, até o 5º dia de vida, para avaliar as condições de amamentação, além da icterícia e outras possíveis intercorrências Quando solicitar BT em RN<35 semanas antes da alta hospitalar? * A hiperbilirrubinemia indireta é encontrada praticamente em todos os RN pré-termos com idade gestacional abaixo de 35 semanas sendo a icterícia mais intensa na primeira semana de vida com um pico mais tardio do que a do termo, e concentrações de BT entre 10 e 12mg/dL no quinto dia. !! Atenção A icterícia colestática é sempre patológica e indica disfunção hepatobiliar. Ficar atento com: * hiperbilirrubinemia direta * acolia fecal ou fezes hipercoradas * colúria -> investigar hepatite ou obstrução das vias biliares - a bilirrubina pode não atingir valores normais até o final do primeiro mês * ressalta-se que uma das causas frequentes de hiperbilirrubinemia indireta no RN < 35 semanas compreende os extravasamentos sanguíneos - hematomas extensos - tocotrauma (trauma no parto) - hemorragia intre-periventricular !! nestes casos SEMPRE realizar a US transfontanelar para excluir esse quadro * RNs com policitemia também podem apresentar níveis elevados de bilirrubinemia indireta Fatores de risco para neurotoxicidade por bilirrubina em RN pré-termo - RN extremo baixo peso (<1000g) - Apgar < 3 no 5° minuto - PaO2 < 40 mmHg por mais de 2h (sustentada) - ph <7,15 por mais de 1h - temperatura <35°C por mais de 4h - albumina sérica <2,5g/dL - sepse - rápido aumento de BT (sugerindo doença hemolítica) - deterioração clínica -> apneia e bradicardia que requer ventilação/IOT ouhipotensão com necessidade de tratamento nas últimas 24h * diferentemente do manejo dos RNs a termo em RNs pré-termo (em especial aqueles que apresentam muito baixo peso ao nascer (<1500g) a dosagem e controle da BT deve ser periódica - de preferência realizar com o micro método -> para evitar anemia (medida transcutânea) Tratamento * os pilares do tratamento de hiperbilirrubinemia neonatal são: fototerapia e exsanguinotransfusão * as indicações levam em conta não apenas o valor real da BT, mas também o tempo e o percentil desse valor, a idade gestacional e a presença de fatores de risco -> Quanto maior for o percentil da BT, menor for a idade gestacional e maior for o número de fatores de risco, mais cedo deve-se iniciar o tratamento. Fototerapia * a fototerapia consegue degradar a bilirrubina em excesso no organismo ao utilizar a energia luminosa absorvida pela epiderme e pelo tecido subcutâneo do RN *a eficácia da fototerapia é avaliada pelo declínio da BT após determinado tempo de exposição à luz * para obtenção do efeito terapêutico, a luz da fototerapia precisa ter um comprimento de onda adequado para penetrar na pele, ser absorvida pela bilirrubina e produzir os fotoderivados * a área de superfície corpórea exposta à luz está diretamente relacionada à velocidade de declínio da bilirrubinemia - é preciso maximizar a área exposta a luz para formar fotoderivados -> uma forma de fazer isso na prática clínica é utilizar fontes adicionais de fototerapia, iluminando, por exemplo, a superfície planar anterior e dorsal do recém-nascido ao mesmo tempo (fototerapia dupla)
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