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Apresentação AA Agência Nacional do Petróleo – ANP – coordenou, neste ano, um estudo sobre a atividade de refino de petróleo no Brasil. Os principais resultados são discutidos nesta publicação, que visa orientar uma reflexão sobre o futuro deste segmento estratégico da indústria do petróleo. O estudo, realizado com apoio da empresa de consultoria Booz-Allen & Hamilton, conclui, com base em projeções de crescimento de demanda, que o nível de dependência externa no que diz respeito ao abastecimento do mercado interno de derivados de petróleo deverá aumentar dos atuais 17% para 35% em 2010. OO consumo nacional, hoje situado em cerca de 107 milhões de m3/ano (1,8 milhão de barris/dia), deverá crescer para 145 milhões de m3/ano (2,5 milhões de barris/dia) nos próximos oito anos. Se não forem realizados investimentos para a expansão da capacidade de refino, esse aumento irá gerar um déficit de até 50 milhões de m3/ano (860 mil barris/dia), volume este que deverá ser importado, provocando impacto crescente na balança comercial do país. OO trabalho propõe variáveis a serem consideradas, projeta diferentes cenários para a evolução da demanda e mostra as experiências de diversos países. Alerta, também, para o potencial impacto que um esforço importador causará sobre a balança comercial brasileira e expõe alternativas de suprimento de derivados de petróleo para o país no fim da década. A análise das possibilidades serve como subsídio para a definição dos possíveis rumos a serem adotados para o desenvolvimento do segmento. PPEERRSSPPEECCTTIIVVAASS PPAARRAA OO DDEESSEENNVVOOLLVVIIMMEENNTTOO DDOO RREEFFIINNOO DDEE PPEETTRRÓÓLLEEOO NNOO BBRRAASSIILL ÍÍNNDDIICCEE I. INTRODUÇÃO..................................................................................................... 4 II. OBJETIVOS ........................................................................................................ 4 III. PREMISSAS ADOTADAS................................................................................... 4 IV. REFINO NO BRASIL........................................................................................... 5 IV.1. CARACTERIZAÇÃO DA DEMANDA ........................................................................ 5 IV.2. CARACTERIZAÇÃO DO SUPRIMENTO ................................................................... 7 IV.3. PERSPECTIVAS FUTURAS PARA DEMANDA E SUPRIMENTO.................................. 12 IV.3.1.Projeção de Demanda .............................................................................. 12 IV.3.2.Alternativas de Investimento..................................................................... 18 IV.3.3.Cenário de Referência.............................................................................. 20 V. CONTEXTO INTERNACIONAL......................................................................... 22 V.1. TENDÊNCIAS DA DEMANDA E DO SUPRIMENTO .................................................. 22 V.2. EXEMPLOS DE POLÍTICAS DO GOVERNO PARA O SETOR DE REFINO .................... 26 V.2.1. Políticas para Incentivar Investimentos .................................................... 26 V.2.2. Outras Políticas ........................................................................................ 28 VI. PRINCÍPIOS QUE DEVEM NORTEAR O DESENVOLVIMENTO DO REFINO NACIONAL .................................................................................................. 29 VI.1. COBERTURA DE DEMANDA............................................................................... 30 VI.2. REQUERIMENTOS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL E ESPECIFICAÇÃO DE PRODUTOS.... 31 VI.3. USO DO CRU NACIONAL .................................................................................. 32 VI.4. DIMENSÃO E URGÊNCIA DOS INVESTIMENTOS.................................................... 32 VI.5. PORTE E MODELO DA PETROBRAS ................................................................... 33 VI.6. PERFIL DOS AGENTES ECONÔMICOS ................................................................ 34 VI.7. CONTROLE DA INFRA-ESTRUTURA LOGÍSTICA.................................................... 34 VI.8. AMBIENTE COMPETITIVO ................................................................................. 35 VI.9. ATRAÇÃO DE INVESTIMENTOS .......................................................................... 35 VI.10. PLANEJAMENTO E IMPLEMENTAÇÃO DE AÇÕES REGULADORAS........................... 36 VII. CONCLUSÕES................................................................................................. 38 ANP Modelo para o Desenvolvimento do Refino Nacional 4 I. INTRODUÇÃO Dentre as etapas da cadeia de valor do petróleo no Brasil, a de refino é a que apresenta o menor nível de concorrência. Os setores de distribuição e revenda já têm alto nível de competitividade, enquanto os de exploração e produção estão em evolução. Mas esta situação está mudando, pois no início de 2002 houve a abertura do mercado. Os preços dos derivados estão liberados, os subsídios foram praticamente eliminados (restando, apenas, o relativo ao GLP para população de baixa renda), não existe mais ressarcimento de transporte e há liberdade para importar/exportar petróleo, gás natural e produtos refinados. No entanto, verifica-se uma defasagem entre a evolução da demanda de derivados de petróleo e os investimentos em refino. Neste contexto, o governo e a ANP precisam levar em conta uma série de pontos críticos, detalhados ao longo deste documento. Ao coordenar a elaboração deste estudo, foi objetivo da ANP abrir e organizar o debate no seio da sociedade brasileira sobre a atual conjuntura do setor de refino, bem como apresentar as diversas situações que podem acontecer no futuro em decorrência das medidas que forem adotadas no presente e nos próximos anos. II. OBJETIVOS O objetivo deste documento é discutir os principais pontos críticos para estabelecer um modelo de desenvolvimento do refino nacional que permita dar prosseguimento às mudanças em andamento no setor. Para isso, é preciso responder às seguintes questões: Quais devem ser as fontes de suprimento de derivados de petróleo ? − A importação? − O refino local (por meio do incremento de conversão, da expansão da capacidade, ou da implantação de novas refinarias)? − As centrais petroquímicas? Os formuladores? Como deve ser configurado o parque de refino nacional ? Qual será a necessidade de investimento no setor e quais serão as fontes ? Quais devem ser o modelo competitivo, as fases e a velocidade de implantação? Quais devem ser as principais ações e medidas reguladoras que a ANP e o governo federal devem implantar para: − Fomentar investimentos? − Garantir concorrência? III. PREMISSAS ADOTADAS Este estudo foi desenvolvido do ponto de vista da União, buscando identificar e representar seus interesses. Não representa especificamente interesses de qualquer outro agente nacional ou internacional, embora tenha havido a preocupação de entender as principais expectativas de todos os envolvidos com a evolução do setor de refino nacional. ANP Modelo para o Desenvolvimento do Refino Nacional 5 Alguns princípios de regulação foram adotados, tais como: Produzir de forma eficiente e com tecnologia adequada; Promover a capacitação nacional na área de refino; Adotar práticas mundiais com respeito ao meio ambiente, à saúde ocupacional e à segurança; Garantir a qualidade de produtos; Promover a indústria nacional de bens e serviços associados ao refino. Por fim, diversos orientadores estratégicos foram levados em conta para identificar as possíveis vias de ação: Assegurar o suprimento; Criar condições para atrair investidores privados de longo prazo; Contribuir para o equilíbrio da balança comercial; Permitir a adequação da Petrobras ao modelo emergente; Considerar impactos potenciais na arrecadação fiscal. IV. REFINO NO BRASIL IV.1. CARACTERIZAÇÃO DA DEMANDA O consumo de energiano Brasil cresceu a uma taxa de 4,9% ao ano durante os últimos 30 anos. O crescimento acima da média do consumo de gás natural (16,1% a.a.), álcool etílico (10,5% a.a.) e eletricidade (7,5% a.a.) se contrapõe ao crescimento abaixo da média do consumo de derivados de petróleo (4,5% a.a.). Mesmo assim, o petróleo ainda representa uma das maiores fontes de energia consumida no país, responsável por 35% do consumo dos 231 milhões de toneladas equivalentes de petróleo em 1999 (a eletricidade é a maior fonte de energia, com 40% do total). Desde 1970, houve fortes mudanças no mix de produtos, com o consumo de gasolina e óleo diesel crescendo 2,2% a.a. e 5,4% a.a., respectivamente, e o de óleo combustível apenas 1,6% a.a. Especificamente nos últimos 15 anos, verificou-se um aumento nas taxas de crescimento do consumo de gasolina (para 5,7% a.a) e de óleo diesel (para 4,3%), enquanto o crescimento do consumo de óleo combustível permaneceu estável. A demanda total de derivados de petróleo em 2001 foi de 107 milhões de m3/ano. Óleo diesel e gasolina representaram 56% do consumo em volume. GLP, nafta e óleo combustível representaram outros 32%. A região sudeste concentrou quase metade do volume total (47%) seguida pela região sul (21%) e pelo Nordeste (18%). As demais regiões representaram 14% (ver figura IV.1). ANP Modelo para o Desenvolvimento do Refino Nacional 6 (1 ) Considerando gasolina, diesel, óleo combustí vel, que rosene de aviação, GLP e nafta. No tas: Dados de outros produtos não disponíveis Fonte: ANP Participação de cada produto no mix (% do volume total) 12% 8% 4% 8% 35% 21%12% Óleo diesel Gasolina Nafta Óleo combustível Querosene Outros GLP 2001 Volume total = 107 milhões m³ (aprox. 1,84 milhões bbl/d ia) Consumo de derivados(1) por região (% do volume total) 6% 8% 18% 21% 47% Sudeste Centro-Oeste Norte Nordeste Sul Figura IV.1 - Participação do consumo de cada derivado no consumo total e consumo total de derivados por região 2 0 .4 6 9 1 8 .9 2 2 3 3 .6 4 5 3 6 .8 0 5 1 2 .1 3 9 1 9 .4 2 2 2 1 .8 7 6 9 .8 8 5 1 8 .1 4 8 9 .8 7 9 1 3 .0 9 3 7 .891 9 .0 5 2 1 3 .1 5 6 6 .530 6 .237 7 .462 6 .096 5 .910 12 .6773 .935 2 .496 4 .171 4 .1265 . 8 0 2 3 . 7 2 6 3 . 6 7 9 8 . 8 8 0 P ro d uçã o C o nsum o P ro d uçã o C o nsum o Ó leo Dies e l G as o lina Ó leo c ombús tív e l Na f ta G LP Q ueros ene O u tros Fontes: Balanço Energético Nacional (BEN)—2000 e ANP (dados 2001) Figura IV.2 - Perfis de produção e consumo (mil m3/ano) ANP Modelo para o Desenvolvimento do Refino Nacional 7 A demanda por derivados de petróleo tem sido complementada com a importação de produtos. Em 1984, a importação de derivados foi de 1,2% do volume final consumido naquele ano. Em 2001, este percentual subiu para 17,2%, um crescimento de 21,5% ao ano desde 1984, taxa esta bem superior à do crescimento do consumo final no mesmo período (3,9% a.a.). Este aumento das importações foi causado, principalmente, pela evolução da diferença entre os perfis de produção das refinarias e o do consumo de derivados (ver figura IV.2). Como exemplo, a produção de óleo diesel em 1984 (20,5 milhões m3/ano) foi 8% superior à demanda (18,9 milhões m3/ano). Já em 2001, houve déficit de 9% na cobertura da demanda deste derivado (a produção foi de 33,6 milhões m3/ano, enquanto a demanda foi de 36,8 milhões m3/ano). IV.2. CARACTERIZAÇÃO DO SUPRIMENTO Em 2001, o Brasil importou 315 mil bbl/dia, o equivalente a 16% do total consumido e exportado. As principais carências foram GLP, óleo diesel e nafta, com importações de 66 mil bbl/dia (34%), 114 mil bbl/dia (16%) e 59 mil bbl/dia (26%), respectivamente. Houve exportação de excedentes de óleo combustível (109 mil bbl/dia) e de gasolina (51 mil bbl/dia) e, em menor escala, de querosene e óleo diesel (1 mil bbl/dia), conforme se pode ver na tabela IV.1. Derivado Importação(mil bbl/dia) Produção para consumo doméstico (mil bbl/dia) Exportação (mil bbl/dia) GLP 66 128 0 Óleo diesel 114 579 1 Nafta 59 170 0 Outros 54 89 11 Querosene 22 67 1 Gasolina 0 283 51 Óleo combustível 0 204 109 Total 315 1520 173 Tabela IV.1 - Volume de suprimentos em 2001 ANP Modelo para o Desenvolvimento do Refino Nacional 8 No que se refere à localização das fontes internas de suprimento, o Brasil conta com 13 refinarias, das quais sete estão no Sudeste (REPLAN, REDUC, REVAP, RPBC, REGAP, RECAP, MANGUINHOS), três na região sul (REPAR, REFAP, IPIRANGA), duas no Nordeste (RLAM, LUBNOR) e uma na região norte (REMAN). Existe uma forte concentração das refinarias brasileiras no Sudeste (63% da capacidade total em 2001) e no Sul (20%). O Brasil conta ainda com 54 terminais espalhados principalmente ao longo da costa e uma malha de dutos interligando refinarias e terminais (ver figura IV.3). A capacidade nominal de processamento dessas refinarias – entendida como a capacidade de processamento de petróleo nas suas unidades de destilação atmosférica – foi de 304 mil m3/dia (1.914 mil bbl/dia) em 20011, e o volume de cargas processadas ficou em torno de 85% do volume nominal. Três das cinco refinarias com maior capacidade de processamento (REPLAN, REVAP e REPAR) tiveram utilização acima de 90%. Em contrapartida, a RLAM, a segunda maior refinaria brasileira em capacidade, utilizou 78% da capacidade nominal, enquanto a REDUC, a terceira maior, utilizou 77%. Entre as refinarias privadas, a Ipiranga teve utilização de 97% e a de Manguinhos, de 101%. 1 Com quanto cada refinaria brasileira contribui para a capacidade de refino do país: REPLAN, 56.000 m³/dia; RLAM, 41.850 m³/dia; REDUC, 38.500 m³/dia; REVAP, 35.900 m³/dia; REPAR, 30.000 m³/dia; REFAP, 30.000 m³/dia; RPBC, 27.000 m³/dia; REGAP, 24.000 m³/dia; RECAP, 8.500 m³/dia; REMAN, 7.300 m³/dia; MANGUINHOS, 2.200 m³/dia; IPIRANGA, 2.000 m³/dia e LUBNOR, 1.000 m³/dia. Os fluxos de derivados básicos agrupados por macrorregião foram bastante desequilibrados, sendo mais significativo o déficit observado nas regiões norte/nordeste. Nesta macrorregião, a produção (excluindo petroquímicas e UPGNs) foi de 14,5 milhões m3/ano em 2001. Como a demanda foi de 24,4 milhões m3/ano, houve um déficit de 9,9 milhões m3/ano (ver figura IV.4). ANP Modelo para o Desenvolvimento do Refino Nacional 9 ORSOL OSBRA ORBEL ORSUL ORNIT OSCAN ORSUB ORPENE OSPAR OPASC OLAPA REMAN RLAM REFAP Ipiranga Terminal terrestre Terminal aquaviário Refinaria Oleodutos Polidutos Armazenadoras de gás Fontes: Transpetro , ANP REGAP OBATI OPASA OSSP OSBAT OSRIO ORBIG OSDUC OSVOL / OSRIO OSVAT/OSPLAN REVAP RECAP REDUC Manguinhos RPBC REPLAN Extensão dos dutos : • Petróleo - 1.800 km • Derivados - 4.600 km Capacidade de tancagem : • Total - 10,5 milhões m 3 • Claros - 3,5 milhões m 3 Figura IV.3 - Mapa de refinarias, terminais e dutos A evolução histórica do parque de refino brasileiro pode ser dividida em quatro fases: Aprendizado (1954-1965): foram inauguradas seis refinarias (Manguinhos, RLAM, RECAP, RPBC, REMAN e REDUC), mas o consumo de derivados e a capacidade de produção interna continuaram baixos. Refinar era um bom negócio para o Brasil, pois era investimento com retorno certo e permitia economia de divisas; Auto-suficiência (1966-1980): houve grandes atividades rumo à auto- suficiência em refino, finalizada com o segundo choque do petróleo (originado em janeiro de 1979, quando a Revolução Islâmica no Irã, um dos maiores exportadores de petróleo, substituiu o Xá Reza Pahlevi, aliado do Ocidente no Mundo Árabe, pelo Aiatolá Khomeini, levando a uma instabilidade política). Os investimentos foram voltados para construção e ampliação de refinarias. Importar petróleo era mais barato do que importar derivados e, além disso, o investimento em Exploração & Produção (E&P) não tinha retorno garantido; Excesso de capacidade (1981-1989): no longo período de recessão após o segundo choque do petróleo houve redução do consumo de derivados, o que tornou a capacidade derefino superior à demanda nacional. Além disso o programa Proálcool contribuiu para aumentar o excedente de gasolina. Redirecionar investimentos e ajustar a produção eram as prioridades; Retomada do crescimento (1990- hoje): o consumo de derivados voltou a crescer, ultrapassando a capacidade de processamento das refinarias e ANP Modelo para o Desenvolvimento do Refino Nacional 10 acarretando um aumento das importações de derivados. Adicionalmente, teve início a flexibilização do monopólio da Petrobras, que deixou de abastecer totalmente o país com derivados de produção própria. Figura IV.4 - Fluxo de derivados por macrorregião Os investimentos no refino se concentraram na década de 70, provocando um aumento significativo da capacidade de processamento de petróleo. Na década de 90 foram parcialmente retomados (ver figura IV.5), visando ao incremento do potencial de conversão2 das refinarias. De fato, a partir de 1980 os investimentos foram direcionados para a 2 O aumento do potencial de conversão das refinarias brasileiras foi alcançado com investimentos, ao longo da década de 90, em unidades de craqueamento catalítico fluido (fluid catalytic cracking – FCC), unidades de coqueamento retardado e unidades de craqueamento catalítico fluido de resíduos – RFCC. conversão, havendo uma mudança no perfil de produção, com incremento da participação de derivados leves e médios, melhoria na qualidade dos derivados e aumento das exigências ambientais. A participação do óleo combustível na produção total de derivados caiu de 39% (1960) para 18% (2000). O mesmo ocorreu com a gasolina (de 25% para 20%) e com o querosene (de 7% para 4%). Em contrapartida, a participação do óleo diesel cresceu de 19% para 34% e a do GLP passou de 4% para 7%. A nafta, que até 1960 não era utilizada para fins petroquímicos, respondeu por 11% da produção de derivados em 2000. Fluxos Regionais Totais de Derivados em 2001 (1) Inclui a Produção das Petroquímicas e das UPGNs Fonte: ANP Déficit de 9,9 milhões m³/ano (171 mil bbl/dia) Produção de 14,5 milhões m³/ano (250 mil bbl/dia) Superávit de 9,7 milhões m³/ano (167 mil bbl/dia) Produção de 18,2 milhões m³/ano (314 mil bbl/dia) Déficit de 2,7 milhões m³/ano (47 mil bbl/ dia) Norte/Nordeste Centro-oeste /Sudeste Sul Nota: Em cada macrorregião, a seta interna é a produção para consumo doméstico e a seta externa é o complemento do déficit (entrando) ou o escoamento do superávit (saindo) Produção de 65,6 milhões m³/ano (1.130 mil bbl/dia) ANP Modelo para o Desenvolvimento do Refino Nacional 11 Evolução dos Investimentos em Refino da Petrobras (US$ milhões) Nota: Investimentos medidos em dólar/EUA constante 2000, calculado a partir da série histórica de índice de preços ao consumidor americano (CPI) Fontes: Petrobras, Análise BAH 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 19 54 19 56 19 58 19 60 19 62 19 64 19 66 19 68 19 70 19 72 19 74 19 76 19 78 19 80 19 82 19 84 19 86 19 88 19 90 19 92 19 94 19 96 19 98 20 00 Figura IV.5 - Evolução dos investimentos em refino da Petrobras (US$ milhões) A maior parte do petróleo nacional (63% do total processado) é pesado (abaixo de 28°API). O cru nacional predominante, o tipo Marlim (36% do total processado), é o mais pesado (abaixo de 21 °API). Mesmo assim, o crescimento do setor de E&P nacional levou as refinarias brasileiras a processar, preferencialmente, o petróleo nacional, reduzindo as importações. Em 1985, 48% do petróleo processado era importado. Esse percentual foi reduzido para 24% em 2000. Os investimentos na adequação do parque de refino para processar os crus pesados nacionais levaram ao já mencionado aumento da capacidade de conversão das refinarias brasileiras. A conversão média do parque de refino do Brasil em 1998 (32%) é comparável à de países com capacidade média (em bbl/dia) similar à brasileira, tais como Alemanha (38%), Grã-Bretanha (36%), França (29%) e Japão (21%). Ao mesmo tempo, é superior à conversão em países com maior capacidade média instalada, como Coréia do Sul (21%) e Arábia Saudita (12%). Este aumento da conversão trouxe benefícios econômicos às refinarias, porque, como mostra a figura IV.6, a margem bruta de refino está fortemente relacionada ao potencial de conversão da refinaria. ANP Modelo para o Desenvolvimento do Refino Nacional 12 Conversão X X Margem Bruta 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 3.0 5.0 7.0 9.0 REPLAN RLAM REDUC REVAPREPAR REFAP RPBC REGAP RECAP REMAN IPIRANGA EUA3 Margem bruta (2) (US$/bbl) C on ve rs ão (1 ) (1) Soma das cargas das unidades de conversão (em relação à capacidade da refinaria) (2) Receita obtida com os derivados menos o custo da matéria-prima, por barril de petróleo (3) Média da margem bruta nos EUA nos últimos 10 anos; conversão e capacidade média das refinarias em 1998 Nota: Não foi possível estabelecer a conversão da refinaria de Manguinhos Fontes:ANP, Petrobras , Platts , EIA, Análise BAH Capacidade Figura IV.6 - Relação entre potencial de conversão e margem bruta por refinaria O impacto conjunto das importações de petróleo e derivados no resultado da balança comercial tornou-se significativo. Em 2001, a exportação de derivados totalizou US$ 1,4 bilhão. Mas, com importações de US$ 2,8 bilhões, houve déficit de US$ 1,4 bilhão. O mesmo aconteceu com o petróleo, com déficit de US$ 3,3 bilhões. O impacto total do déficit de US$ 4,7 bilhões é significativo, mesmo considerando-se que houve superávit de US$ 2,6 bilhões na balança comercial no mesmo período. IV.3. PERSPECTIVAS FUTURAS PARA DEMANDA E SUPRIMENTO IV.3.1. Projeção de Demanda As projeções da demanda de derivados contemplam a evolução histórica do consumo de produtos, correlacionada com parâmetros macroeconômicos, demográficos e outros (como carga rodoviária transportada, tráfego aéreo, etc.). Para cada produto é analisada a sua principal utilização e são selecionados os impulsionadores que melhor representem o seu consumo. São considerados dois grupos de produtos, com comportamentos distintos quanto à associação com os impulsionadores: ANP Modelo para o Desenvolvimento do Refino Nacional 13 Produtos destinados a pessoas físicas (como gasolina e GLP), para os quais se usam parâmetros primários demográficos – como população e número de domicílios – atrelados a parâmetros secundários macroeconômicos; Produtos destinados a pessoas jurídicas (como diesel, querosene, óleo combustível e nafta), para os quais são considerados parâmetros macroeconômicos ou outros parâmetros mais adequados. As projeções, feitas com base em série histórica que se estende até 1999, contemplam o conjunto total dos produtos e os substitutos de cada um deles. Assim, levam em conta a demanda de álcool anidro, álcool hidratado e gás natural veicular (GNV) – no caso da gasolina – e a demanda de gás natural – no caso do óleo combustível e do GLP – de forma a representar a demanda potencial de cada derivado, incluindo a parcela que deverá ser substituída. As alterações de especificação de produtos e as variações de preço foram consideradas de baixo impacto na demanda dos produtos. A evolução das especificações dos produtos não foi considerada potencial impulsionadora de demanda. A maior parte delas diz respeito a questões ambientais. Adicionalmente, as alterações de especificação relacionadas à performance, historicamente, se mostraram de baixa percepção para o consumidor final. Os produtos derivados de petróleo, por serem de necessidade básica, historicamente apresentam baixa elasticidade ao preço. Por este motivo, minimizaram-se possíveis impactos da evolução de preços e subsídios na demanda pelos produtos. O resumo da projeção das principais variáveis (PIB, população, domicílios, carga rodoviária e tráfego aéreo) utilizadas para explicar a demanda dos produtos encontra-se na figura IV.7. Figura IV.7 – Resumo da projeção das principais variáveis (1) Taxa de crescimento anual acumulado Fontes:Banco Central,OCDE, GEIPOT, DAC, Análise BAH Dados TCAA 2000-2010 PIB 2,8% Setor Primário 3,2% Setor Secundário 1,2% Setor Terciário 3,3% Energia/Tributos 3,2% PIB per Capita 1,4% População 1,3% Domicílios 1,8% Carga Rodov. Transp. 3,0% Tráfego Aéreo 3,4% Dados TCAA 2000-2010 PIB 2,8% Setor Primário 3,2% Setor Secundário 1,2% Setor Terciário 3,3% Energia/Tributos 3,2% PIB per capita 1,4% População 1,3% Domicílios 1,8% Carga rodov. transp. 3,0% Tráfego aéreo 3,4% ANP Modelo para o Desenvolvimento do Refino Nacional 14 Com base nestes parâmetros e em série histórica que se estende até 1999, estimou-se que a demanda de derivados atingirá 145 milhões de m3/ano em 2010, com crescimento de 3% ao ano entre 1999 e 2010. Diesel e gasolina representarão 60% dessa demanda (ver figura IV.8). 105 126 145 1999 2005 2010 Óleo combustível 6% GLP 11% Querosene 3% Nafta 11% Outros 9% Gasolina 27% Diesel 33% Fontes: Balanço Energético (BEN) - 2000, IBGE, DAC, GEIPOT; Análise BAH Figura IV.8 - Demanda futura de derivados por produto (milhões m3/ano) O consumo potencial de gasolina, incluindo seus substitutos, impulsionado pelo PIB do setor terciário, atingirá 52 milhões m3/ano em 2010, com crescimento anual de 4,5% ao ano entre 1999 e 2005. Por ser um produto consumido em sua maior parte por pessoas físicas, foi atrelado ao fator populacional (consumo por habitante em litros). Para representar a evolução do consumo potencial de gasolina e substitutos, o parâmetro utilizado foi a taxa de urbanização, representada pela evolução do PIB do setor terciário. Após a projeção do consumo potencial, é necessário projetar a substituição dos produtos, e conseqüentemente obter a demanda líquida de gasolina. No horizonte de estudo, os produtos substitutos da gasolina são o álcool hidratado e o GNV. Além dos produtos substitutos, o álcool anidro é adicionado à gasolina para produzir a gasolina C (comercial). As premissas assumidas foram: GNV: representará o consumo de 5% da frota em 2010; Álcool anidro: o percentual de álcool misturado à gasolina tenderá a diminuir progressivamente até 2005, estabilizando-se em 20%. Assim, o consumo líquido de gasolina será de 39 milhões m3/ano em 2010. ANP Modelo para o Desenvolvimento do Refino Nacional 15 O consumo potencial de GLP, incluindo a substituição por gás natural, atingirá 19 milhões m3/ano (crescimento de 3,7% ao ano entre 1999 e 2010). O GLP, apesar de ter algum consumo industrial, é um produto de utilização predominantemente residencial, portanto sua demanda está atrelada ao consumo por domicílio. O consumo por domicílio evolui de acordo com a penetração do produto, que pode ser representada pela evolução do PIB do setor terciário (crescimento do comércio, incluindo o comércio de eletrodomésticos). Como premissa, foi considerado que o potencial de substituição ocorre apenas nas regiões com potencial acesso ao gás natural. Também foi considerada uma taxa de substituição ao longo do tempo de acordo com a evolução do cenário econômico e a disponibilidade da infra- estrutura. Por meio dessas premissas, estima-se que a substituição de GLP pelo gás natural atingirá 15% em 2010, o que leva a uma demanda líquida de GLP de 16 milhões m3/ano. Impulsionado pela carga rodoviária transportada, o consumo de diesel atingirá 47 milhões m3/ano em 2010 (2,6% ao ano, entre 1999 e 2010). Por ser um produto direcionado principalmente para o consumo no transporte rodoviário de cargas, não deve ser atrelado a variáveis populacionais. O parâmetro diretamente relacionado ao consumo de diesel é a carga rodoviária transportada. Este parâmetro, por sua vez, apresenta forte correlação com o PIB (variável secundária). Apesar de existirem especulações sobre a substituição do consumo de diesel por fontes alternativas (biodiesel, por exemplo), consideramos baixo o impacto no horizonte do estudo. O consumo potencial de óleo combustível em 2010 atingirá 17 milhões m3/ano (taxa de 2,4% ao ano entre 1999 e 2010), desconsiderando a substituição pelo gás natural. O óleo combustível é um produto de uso industrial e para geração de energia elétrica, portanto, não é coerente adotar variáveis demográficas. Os parâmetros que representam a evolução do consumo de óleo combustível, de acordo com a sua utilização, são o PIB do Setor Secundário (para representar o consumo industrial) e o PIB do Setor Terciário (para representar a demanda de energia elétrica). O gás natural é apontado como principal produto substituto do óleo combustível. As premissas assumidas foram: Potencial de substituição em regiões com acesso primário ao gás natural, sem considerar, porém, a viabilidade dos investimentos necessários para a construção de acessos secundários; Taxa de substituição ao longo do tempo de acordo com a evolução da perspectiva econômica e a disponibilidade de infra-estrutura. Estima-se, então, que a substituição por gás natural atingirá 48% em 2010, reduzindo, portanto, o consumo líquido de óleo combustível para 8 milhões m3/ano. Impulsionado pelo desenvolvimento de equipamentos mais eficientes, juntamente com a evolução do tráfego aéreo, o consumo de querosene alcançará 5 milhões m3/ano em 2010. O consumo de querosene é basicamente para uso em aviação, portanto correlacionado com o consumo por km voado (performance de consumo). A quantidade de quilômetros voados, por sua vez, se correlaciona com o PIB do ANP Modelo para o Desenvolvimento do Refino Nacional 16 Setor Terciário, por ser bastante atrelada à evolução do setor de serviços. Não foi assumida reincidência de nenhuma renovação brusca na frota (o último período foi entre 1989 e 1992). Demanda Total de Derivados de Petróleo—Ano de 2010 Demanda Total 145 milhões m3/ano Demanda total 145 milhões m3/ano PRODUTOS NORTE NORDESTE CENTRO-OESTE SUDESTE SUL BRASIL Gasolina 19% 20% 27% 31% 26% 27% Diesel 46% 27% 46% 30% 31% 32% Óleo Combustível 12% 2% 3% 9% 3% 6% Nafta 0% 26% 0% 5% 20% 11% GLP 10% 13% 10% 11% 9% 11% Querosene 4% 3% 4% 4% 2% 3% Outros 9% 9% 9% 9% 9% 9% TOTAL 100% 100% 100% 100% 100% 100% PRODUTOS NORTE NORDESTE CENTRO-OESTE SUDESTE SUL BRASIL Gasolina 19% 20% 27% 31% 26% 27% Diesel 46% 27% 46% 30% 31% 32% Óleo combustível 12% 2% 3% 9% 3% 6% Nafta 0% 26% 0% 5% 20% 11% GLP 10% 13% 10% 11% 9% 11% Querosene 4% 3% 4% 4% 2% 3% Outros 9% 9% 9% 9% 9% 9% TOTAL 100% 100% 100% 100% 100% 100% Participação por produto nas regiões — ano 2010 Fontes: Balanço Energético Nacional (BEN) 2000 - Superintendência de Estudos Estratégicos, Análise BAH Norte 6% Nordeste 19% Centro- oeste 9% Sudeste 45% Sul 21% Figura IV.9 - Demanda futura de derivados por região (milhões m3/ano) ANP Modelo para o Desenvolvimento do Refino Nacional 17 O consumo de nafta aumentará de acordo com a expansão da capacidade de produção dos três pólos petroquímicos (COPENE, COPESUL e PQU), devendo alcançar 16 milhões m3/ano em 2010 (2,0% ao ano, entre 1999 e 2010). O quarto pólo petroquímico, em construção no RJ, terá o gás natural como insumo, não impactando o consumo de nafta. Para a projeção da evolução do consumo regional utilizaram-se os mesmos impulsionadores de demanda da projeção nacional de consumo aplicados às cinco regiões geopolíticas brasileiras, parametrizados para colocá-los em perspectiva regional. Em 2010, o consumo da região sudeste representará 45% do consumo nacional de derivados, enquanto a região norte representará apenas 6% (ver figura IV.9). Como exemplos, a gasolina e o diesel apresentam crescimentos mais acentuados nos mercados em evolução (regiões norte, nordeste e centro-oeste), como mostra a figura IV.10. (*) Explícitos a unidade x milhões de m³ Gasolina 14.1% 14.7% 8.4% 8.8% 52.7% 51.5% 20.5% 20.5% 4.4% 4.5% 1999 2010 Sul Sudeste Centro-oeste Nordeste Norte 18,1 38,8 (1) Taxa de crescimento anual acumulado Fontes: Balanço Energético Naciona (BEM)l ( BEN) - 2000, Superintendência de Estudos Estratégicos , AnáliseBAH Diesel 9.1% 9.2% 15.3% 16.2% 12.5% 12.7%42.9% 42.0% 20.2% 19.9% 1999 2010 Sul Sudeste Centro-oeste Nordeste Norte 35,5 46,9 Participação do Consumo por Região Figura IV.10 – Participação do consumo por região (gasolina e diesel) ANP Modelo para o Desenvolvimento do Refino Nacional 18 IV.3.2. Alternativas de Investimento Sem a intenção de definir o que deve ser feito, mas sim a de dar os parâmetros das possibilidades de futuro do setor dependendo das medidas que forem adotadas, são apresentados diferentes cenários. O parque de refino poderá evoluir de formas diversas em função de alternativas de investimento: Alternativa "Menor Investimento": serão realizados investimentos necessários para manter o parque de refino em condições de competir em um mercado aberto. Investimentos em qualidade, meio ambiente e segurança também serão necessários para atender a especificações/legislações futuras; Alternativa "Adequação de Perfil e Conversão": além dos investimentos previstos na alternativa anterior, foram adicionados investimentos em conversão e pequeno aumento de capacidade, planejados pela Petrobras até 2010. São propostos alguns ajustes ao plano Petrobras com o objetivo de otimizar a utilização das unidades de conversão e tratamento (ex. FCC e HDT) nas refinarias onde os investimentos estão previstos; Alternativa "Cobertura da Demanda em 2010": visa aumentar a produção dos principais derivados para atender à demanda interna. A partir dos investimentos das alternativas anteriores são incluídos três módulos de 30 mil m3/dia de capacidade (cerca de 190.000 bbl/dia cada) para cobrir a demanda prevista em 2010. Estes módulos de produção poderão ser instalados tanto em refinarias existentes quanto em novos empreendimentos (projetos greenfield), nos quais o investimento será maior. Estimou-se que o investimento máximo, necessário para cobrir a demanda em 2010, será entre US$ 13,5 bilhões e US$ 15 bilhões (ver figura IV.11). Portanto, existe uma diferença entre as alternativas “Adequação de Perfil e Conversão" e "Cobertura da Demanda em 2010" da ordem de US$ 4,5 bilhões a US$ 6 bilhões. Em todas as alternativas, o maior percentual dos investimentos será em qualidade de produtos, proteção ambiental e segurança operacional (entre 40% e 90% do total). No caso da alternativa "Cobertura da Demanda em 2010", haverá também um forte investimento (30% do total) em expansão de capacidade. ANP Modelo para o Desenvolvimento do Refino Nacional 19 RPSP-2632-01-5-2Q01?h Investimentos (US$ bilhões) Perfil de Investimentos (% total) Adicional Greenfield(1) Expansão Capacidade Conversão Qualidade/ Meio ambiente/ Segurança 90% 67% 40% 28% 17% 30% 10% 3% 6% 10% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Investimento mínimo Adequação de perfil e conversão Cobertura da demanda (1) Investimento adicional necessário caso as expansões tenham que ser feitas por meio de projetos greenfieldsem vez de utilizar a infra-estrutura existente nas refinarias Fontes: Petrobras, ANP, Análise BAH 6.0 6.0 6.0 2.5 2.5 4.5 0.7 0.50.5 1.5 0.0 2.0 4.0 6.0 8.0 10.0 12.0 14.0 16.0 Investimento mínimo Adequação de perfil e conversão Cobertura da demanda 6,7 9,0 15,0 Figura IV.11 - Alternativas de investimentos ANP Modelo para o Desenvolvimento do Refino Nacional 20 IV.3.3. Cenário de Referência Tomando-se a alternativa “Adequação de Perfil e Conversão" como cenário de referência, verifica-se que em 2010 será preciso importar todos os derivados com exceção de óleo combustível e querosene, totalizando aproximadamente 670 mil bbl/dia (27% da demanda total). As principais importações serão de gasolina (26%) e óleo diesel (17%), como pode ser observado na tabela IV.2. Derivado Importação(mil bbl/dia) Produção para consumo doméstico (mil bbl/dia) Gasolina 175 490 Nafta 180 100 Óleo diesel 140 670 GLP 100 180 Outros 75 160 Óleo combustível 0 150 Querosene 0 85 Total 670 1.835 Tabela IV.2 – Volume de suprimentos em 2010 (Cenário de adequação de perfil e convesão) Fluxos Regionais Totais de Derivados em 2010 (1) Inclui a Produção das Petroquímicas e das UPGNs Fontes:Balanço Energético Nacional (BEN) - 2000, Anuário ANP, IBGE, Análises BAH Déficit de 18,9 milhões m³/ano (330 mil bbl/dia) Produção de 18,5 milhões m³/ano (320 mil bbl/dia) Déficit de 9,6 milhões m³/ano (170 mil bbl/dia) Produção de 23,6 milhões m³/ano (410 mil bbl/dia) Déficit de 6,5 milhões m³/ano (110 mil bbl/dia) Norte/Nordeste Centro-oeste /Sudeste Sul Nota: Em cada macrorregião, a seta interna é a produção para consumo doméstico e a seta externa é o complemento do déficit (entrando) ou o escoamento do superávit (saindo) Produção de 67,8 milhões m³/ano (1.170 mil bbl/dia) Figura IV.12 - Demanda x produção (comparativo 2000 e 2010) A auto-suficiência (produção necessária para atender à demanda interna total) será alcançada apenas em óleo combustível e querosene. ANP Modelo para o Desenvolvimento do Refino Nacional 21 Todos os fluxos por região passarão a ser deficitários. No Norte/Nordeste, a produção de 18,5 milhões de m3/ano não será suficiente para cobrir a demanda de 37,4 milhões de m3/ano, gerando um déficit de 18,9 milhões de m3/ano. Conforme mostra a figura IV.13, o mesmo ocorrerá no Sudeste/Centro- oeste (com uma produção de 67,8 milhões de m3/ano para uma demanda de 77,4 milhões de m3/ano) e no Sul (com uma produção de 23,6 milhões de m3/ano para uma demanda de 30,1 milhões de m3/ano). Figura IV.13 - Fluxo de derivados por macrorregião (2010) O impacto estimado na balança comercial de derivados do petróleo será de US$ 5,2 bilhões, sendo os maiores déficits em gasolina (US$ 1,6 bilhão), nafta (US$ 1,5 bilhão) e óleo diesel (US$ 1,2 bilhão). Em um cenário "Cobertura da Demanda em 2010", as importações seriam limitadas a GLP, nafta e outros, reduzindo a necessidade de importação para aproximadamente 240 mil bbl/dia (ver tabela IV.4). Importações menores reduziriam o impacto na balança comercial de derivados para menos de US$ 1 bilhão. Embora houvesse déficit de US$ 1,5 bilhão em nafta, este seria compensado pelo superávit na exportação de óleo diesel (US$ 0,7 bilhão) e óleo combustível (US$ 0,5 bilhão). Derivado Importação (milbbl/dia) Produção para consumo doméstico (mil bbl/dia) Nafta 175 105 Outros 45 190 GLP 20 250 Óleo diesel 0 810 Gasolina 0 670 Óleo combustível 0 150 Querosene 0 85 Total 240 2.260 Tabela IV.3 - Volume de suprimentos em 2010 (Cenário de cobertura de demanda) 0 5.000 10.000 15.000 20.000 25.000 30.000 35.000 40.000 45.000 50.000 0% 50% 100% 150% 200% D em an da ( m il m ³/a no ) Produção/Demanda 2010 2000 Óleo combustível Nafta GLP Gasolina Óleo diesel Querosene Outros Fontes: AnáliseBAH , ANP ANP Modelo para o Desenvolvimento do Refino Nacional 22 No cenário "Menor Investimento", seria necessário novamente importar todos os derivados com exceção de óleo combustível e querosene, mas totalizando um volume maior, em torno de 860 mil bbl/dia. Haveria maior importação de gasolina (34% da demanda total) e de óleo diesel (28%), como se pode observar na tabela IV.3, fazendo o impacto na balança comercial de derivados subir para US$ 6,3 bilhões. Os maiores déficits seriam de gasolina (US$ 2,1 bilhões), óleo diesel (US$ 1,9 bilhão) e nafta (US$ 1,5 bilhão). Derivado Importação(mil bbl/dia) Produção para consumo doméstico (mil bbl/dia) Gasolina 225 440 Óleo diesel 220 580 Nafta 180 100 GLP 130 145 Outros 105 130 Óleo combustível 0 150 Querosene 0 85 Total 860 1.630 Tabela IV.4 - Volume de suprimentos em 2010 (Cenário de menor investimento) V. CONTEXTO INTERNACIONAL V.1. TENDÊNCIAS DA DEMANDA E DO SUPRIMENTO Atualmente ocorre intenso transporte intercontinental de óleo cru. Da produção mundial de 74 milhões bbl/dia, o fluxo de crus entre os continentes é de 45% (33 milhões de bbl/dia). Os maiores importadores são EUA, Europa Ocidental e Japão, e os maiores exportadores são o Oriente Médio e a antiga União Soviética. Entretanto, o fluxo intercontinentalde refinados (9 milhões bbl/dia) representa apenas 14% da produção total (70 milhões bbl/dia), sendo os principais importadores os EUA e a Europa Ocidental. Novamente os maiores exportadores são o Oriente Médio e a antiga União Soviética. Este fluxo menor de refinados decorre da localização das refinarias nas proximidades dos centros de consumo, de forma a suprir a demanda local. Existem dois tipos de impulsionador para esta proximidade dos centros de consumo: os econômicos e os estratégicos. Entre os econômicos, destaca-se o menor custo de transporte de crus quando comparado ao de refinados. Além disso, os crus podem ser fornecidos mundialmente, enquanto as refinarias têm que adaptar sua produção à demanda local, devido ao perfil da demanda de refinados e às especificações dos produtos. Dentre os impulsionadores estratégicos está o fato de que os governos ainda consideram as refinarias uma indústria estratégica, seja como fornecedor de combustível para as Forças Armadas ou como indicador do nível de desenvolvimento do país. Outro impulsionador estratégico é a dificuldade de realocar uma refinaria estabelecida em um lugar, devido à grande base de ativos instalados e aos altos custos de preparação do terreno, entre outros motivos. De fato, a capacidade de refino por região é próxima à demanda por refinados (ver figura V.1). Como exceção, destacam-se apenas a América do Norte, onde há um déficit significativo, e a antiga União Soviética e o Oriente Médio, onde a baixa utilização das refinarias é uma ANP Modelo para o Desenvolvimento do Refino Nacional 23 característica marcante. Nas demais regiões, a utilização da capacidade de refino é alta. Outro aspecto a ser destacado no mercado de derivados de petróleo é que tem ocorrido um deslocamento do perfil de refinados para produtos leves. De 1965 até 2000, houve um crescimento acelerado no consumo dos destilados médios em detrimento dos óleos combustíveis. Enquanto nesse período os destilados médios (óleo diesel e querosene) cresceram de uma participação de 27% do total para 37%, os óleos combustíveis reduziram sua participação de 29% para 16%. Gasolinas e outros derivados (gases residuais, GLP, coque, lubrificantes, etc.) permaneceram estáveis. Grande parte da redução no consumo de derivados mais pesados (óleo combustível e combustível para aquecimento) está ocorrendo devido à sua substituição, com sucesso, por outras fontes, tais como: Gás natural: mais eficiente do que o óleo combustível e com melhorias no rendimento; Energia nuclear e hidroelétrica: também mais eficiente do que o óleo combustível, embora ainda dependa do acesso do país à tecnologia (nuclear) ou dos recursos naturais (hidro) e da aceitação popular (nuclear). Figura V.1 – Demanda de refinados x capacidade de refino por região (1999) (1) OCDE = Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico: Austrália, Japão, Coréia do Sul, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Groenlândia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Países Baixos, Nova Zelândia, Noruega, Polônia, Portugal, Espanha, Suécia, Suíça, Grã-Bretanha, Canadá, México, EUA, República Tcheca, Hungria, República Eslováquia, Turquia Fontes: BP Statistical Review, International Energy Agency, , Análise BAH 0 5 10 15 20 25 América do Norte Europa Ásia OCDE Antiga União Soviética Oriente Médio África América do Sul Ásia não- OCDE M ilh õe s bb l/d ia Demanda refinados Capacidade de refino (1) (1) OCDE = Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico: Austrália, Japão, Coréia do Sul, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Groenlândia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Países Baixos, Nova Zelândia, Noruega, Polônia, Portugal, Espanha, Suécia, Suíça, Grã-Bretanha, Canadá, México, EUA, República Tcheca, Hungria, República Eslováquia, Turquia Fontes: BP Statistical Review, International Energy Agency, , Análise BAH 0 5 10 15 20 25 América do Norte Europa Ásia OCDE Antiga União Soviética Oriente Médio África América do Sul Ásia não- OCDE M ilh õe s bb l/d ia Demanda refinados Capacidade de refino (1) ANP Modelo para o Desenvolvimento do Refino Nacional 24 Por outro lado, a demanda crescente por transportes e a falta de substitutos efetivos contribuíram para o crescimento da demanda por gasolina e diesel. Os principais substitutos ou têm disponibilidade limitada devido à baixa produção (caso do GLP) ou a rede de distribuição ainda é pouco desenvolvida (GNV). Outras fontes alternativas de energia (biomassa, resíduos, hidrogênio, etc.) não podem ser consideradas para uso em larga escala ainda nesta década. Em termos de capacidade mundial de refino, embora acompanhando a demanda de refinados na última década, vem ocorrendo aumento da utilização da capacidade instalada, com risco de haver falta de capacidade. Em 1980 a utilização era de 77%, mas em 1999 subiu para 92%, com tendência a continuar crescendo (ver figura V.2). Apesar de ultimamente a taxa de utilização estar alta, as margens de refino – definidas como a venda bruta do refinado subtraída do preço dos crus, dos custos de transporte, dos custos operacionais da refinaria e da provisão de custo de crédito – não têm sido atraentes. Raramente atingiram os níveis esperados para reinvestimento. Na maioria das regiões situam-se em torno de US$ 3,50/bbl. Nos últimos dez anos, as margens de refino foram extremamente voláteis. Embora a Guerra do Golfo tenha aumentado as margens temporariamente (no noroeste da Europa a margem para o tipo Brent alcançou o pico de US$ 3,76/bbl), a tendência se reverteu rapidamente e as margens caíram abaixo dos níveis de 1989 (em 1999 a margem para o tipo Brent foi de US$ 0,30/bbl). Embora o ano 2000 tenha sido excepcional (margem de US$ 1,93/bbl), estimulado pela escassez de gasolina nos EUA, em 2001 as margens caíram novamente. Figura V.2 – Evolução da capacidade de refino comparada com a demanda mundial de refinados 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 89 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 mi lh õe s bb l / di Demanda de refinados Capacidade de refino Fontes: BP Statistical Review-Junho 2001, EIA, Análise BAH Recessão mundial e altos preços de energia Fechamento de refinarias nos EUA e Europa (baixa rentabilidade) Crescimento mundial com preços de energia moderados Certa capacidade adicional; aumento da confiabilidade das refinarias ANP Modelo para o Desenvolvimento do Refino Nacional 25 Conseqüentemente, os investimentos em refino foram muito reduzidos. No caso dos EUA, apenas os investimentos em redução de poluição cresceram, mesmo assim apenas em termos percentuais (ver figura V.3). Na Europa, o mesmo comportamento pode ser observado. O investimento total não foi tão reduzido quanto nos EUA (de US$ 5,2 bilhões em 1988 para US$ 4,3 bilhões). Entretanto, o percentual destinado ao meio ambiente subiu de 10% (US$ 0,5 bilhão) para 42% (US$ 1,8 bilhão), provocando uma redução do investimento relacionado à demanda de US$ 4,7 bilhões para US$ 2,5 bilhões. No que diz respeito a agentes econômicos atuando na cadeia de valor do petróleo, identificam-se tanto agentes tradicionais quanto alternativos. Dentre os tradicionais destacam-se quatro tipos, com estratégias diferentes: Grandes multinacionais (majors): estão em processo de desinvestimento no setor de refino, devido à baixa rentabilidade, para redirecionar fluxo de caixa para E&P (exemplos: BP e Unocal); NOCs (National Oil Companies) produtoras de petróleo: consideram o refino um canal de vendas de seus próprios crus, apostando na criação de valor ao longo da cadeia de valor (exemplos: KPC e PDVSA/CITGO); NOCs não-produtoras de petróleo: mantêm refinarias como ativos estratégicos, mas redirecionam o fluxo de caixa para negócios mais rentáveis (exemplos: Hellenic Petroleum e OMV); Refinarias independentes: buscam gerar caixa e se desenvolvem em mercados em que há concorrênciae rentabilidade no refino (exemplo: Petro Plus). 0 2 4 6 8 10 12 14 19 74 19 80 19 86 19 92 19 98 bi lh õe s de d ól ar es (1 99 9) Total Investimentos de Empresas FRS Investimentos com Redução de Poluição (U.S. Bureau of the Census) Investimentos com Redução de Poluicão (American Petroleum Institute) 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 19 74 19 80 19 86 19 92 19 98 (1): FRS engloba todas as grandes empresas produtoras de energia baseadas nos EUA (32 empresas em 1999) Fontes: Investimentos em Refino: Energy Information Administration, Form EIA-28 (Financial Reporting System, FRS) Investimentos relacionados à poluição: 1974-1994: U.S. Department of Commerce; 1990-1999: American Petroleum Institute, U.S. Petroleum Industry's Environmental Expenditures, 1990-1999 (Washington, DC, 19 de janeiro de 2001) Nota: RFG = Reformulated Gasoline Pico do período de investimento para atender às especificações de RFG (1) Investimentos em Redução de Poluição como um Percentual do Total dos InvestimentosInvestimentos Anuais Figura V.3 – Investimentos em downstream e relacionados à poluição (EUA) ANP Modelo para o Desenvolvimento do Refino Nacional 26 Entre os agentes alternativos, destacam-se os traders e importadores. Os agentes alternativos são os seguintes: Traders: operam tanto na compra quanto na venda em mercados com liquidez e escala; Importadores: oferecem ativos de logística (como píeres, tanques de armazenamento e acesso à logística doméstica) para refinarias, traders estrangeiros e varejistas locais; Formuladores (blenders): dependem de oportunidades de desequilíbrio entre oferta e demanda, acesso à infra- estrutura logística e à informação. Suas atividades normalmente são transitórias; Plantas petroquímicas: mundialmente são agentes marginais. Produzem alguns produtos que compõem a gasolina, mas freqüentemente não contam com a infra- estrutura para comercializar a gasolina eficientemente. V.2. EXEMPLOS DE POLÍTICAS DO GOVERNO PARA O SETOR DE REFINO V.2.1. Políticas para incentivar investimentos Os reguladores podem incentivar o investimento por meio da criação de condições financeiras e de mercado atraentes, e da estabilização das expectativas dos refinadores. Existem várias alavancas disponíveis para alcançar estes objetivos. Por exemplo, é possível estimular o aumento da demanda de um derivado específico tornando o mercado atraente por meio de incentivos fiscais. Este favorecimento de demanda também pode ser obtido com políticas para construção e manutenção da confiança na estabilização do crescimento da demanda. Como exemplo, podem ser mencionadas políticas de longo prazo, mudanças progressivas nas políticas domésticas, etc. Outra alavanca potencial disponível é garantir aos refinadores investidores que haverá um ambiente competitivo harmonioso a longo prazo. Essa alavanca pode ser implementada, por exemplo, por meio da definição de especificações difíceis de serem atingidas (regras de formulação rígidas), protegendo os refinadores que investem para competir. De fato, um ambiente competitivo saudável é uma forte alavanca para atrair investimentos. Receber bem novos investidores (domésticos ou internacionais) é fundamental. E, em caso de mudanças de políticas com impacto sobre esse ambiente, é importante o faseamento adequado da implementação. A oferta de subsídios e/ou isenções fiscais, com períodos bem definidos, pode também ser empregada para garantir a antecipação de investimentos em novas refinarias ou na modernização de refinarias existentes, sendo uma outra alternativa de alavanca para incentivar investimentos. Finalmente, podem ser implementadas políticas de incentivo à redução de custos operacionais, como a adoção de tecnologias mais eficientes. É importante, no entanto, enfatizar que os tipos de política de incentivo aos investimentos aqui descritos foram adotados em vários países, caracterizando-se, portanto, como modelos que odem servir de base ANP Modelo para o Desenvolvimento do Refino Nacional 27 para o desenvolvimento do refino nacional. Na Suécia, por exemplo, estimulou-se a demanda de diesel com baixíssimo teor de enxofre via incentivos fiscais. As especificações do diesel (peso máximo de enxofre, densidade máxima, peso máximo de aromáticos) implementadas pela Suécia em 1994 estão entre as mais rígidas do mundo. Foi criado um imposto por m3 de derivado para cada ppm de conteúdo de enxofre. Como resultado, houve grande aumento da demanda por diesel de baixo teor de enxofre, incentivando refinadores a investir em unidades de conversão para produzir combustíveis mais limpos. Quase toda a capacidade foi convertida e, atualmente, os refinadores suecos estão bem posicionados para aproveitar a crescente demanda desse diesel na Europa. A política foi bem-sucedida por ter criado expectativas altas e duradouras para os refinadores, antecipando a tendência mundial por produtos menos poluentes. A Índia é um exemplo de antecipação de investimentos em novas refinarias por meio de isenções fiscais. Até recentemente, o país enfrentava um grande déficit de derivados. Em 1998, o governo decidiu estimular investimentos em novas refinarias oferecendo isenções fiscais por cinco anos para os projetos iniciados após 1998 e concluídos antes de 2003. Tais incentivos resultaram em três novas refinarias, levando a Índia à auto- suficiência. O fator decisivo para o sucesso foi o horizonte de tempo do incentivo – claramente determinado e razoavelmente curto (cinco anos) – aliado a ameaças de que os subsídios seriam cancelados caso o projeto não fosse completado até 2003. Além disso, a política claramente favorecia projetos greenfield, sem nenhum incentivo para expansões. Um ambiente competitivo aberto pode ser eficaz para captar investimentos. A Índia abriu o setor de refino para agentes privados nacionais e estrangeiros para a construção de novas refinarias em 1991. Os agentes estrangeiros poderiam ter participação de até 49%, em caso de joint ventures (JV) com agentes privados nacionais, e de 26%, em JV com empresas estatais. O varejo permaneceu sob controle do governo, mas estava previsto um potencial acesso a ele em 2002, desde que fossem realizados investimentos prévios em refino, E&P ou infra-estrutura dutoviária. A política conseguiu atrair investimentos de agentes privados nacionais (em particular da Reliance, gigante petroquímico indiano) devido à expectativa de elevado crescimento da demanda de derivados e à potencial abertura do mercado de varejo. Entretanto, não foi capaz de atrair agentes estrangeiros devido, principalmente, à falta de acesso ao varejo e às incertezas sobre os prazos e as regras de desregulamentação. Para obter sucesso a abertura para a concorrência tem de ter suas etapas bem planejadas e implementadas. A Polônia, antes de privatizar e permitir a concorrência, investiu em modernização do seu parque de refino. As refinarias enfrentavam falta de capital, tecnologias obsoletas, baixa eficiência energética e baixa utilização da capacidade. O governo decidiu, então, lançar um plano agressivo para modernizar a indústria de refino, com custos estimados em US$ 2,5 bilhões. Este plano foi baseado na proteção dos refinadores domésticos por meio do aumento de tarifas alfandegárias e em um grande investimento para modernizar as instalações das refinarias Plock e Gdansk. Uma parcela significativa dos custos desta ANP Modelo para o Desenvolvimento do Refino Nacional 28 modernização foi assumida por investidores privados – privatização da Plock por meio de IPO (initial public offering) e venda de 75% da Gdansk para a Rotch Energy do Reino Unido, que concordou em investir US$ 600-700 milhões em expansão. Devido a este plano, a Polônia pôde aumentar a sua auto-suficiência em diesel e óleo de aquecimento, apesar do aumento na demanda. Pôde melhorar a qualidade dos produtos e, ao mesmo tempo, se preparar para a livre concorrência. A boa implementação por fases, com o início da modernização dos ativos domésticosantes da mudança da política, foi a chave para que as refinarias domésticas se preparassem para a concorrência . V.2.2. Outras Políticas Por fim, além de incentivar investimentos, os reguladores também podem promover a concorrência de preços, tanto entre refinadores quanto ao redor deles, conforme a tabela V.1 a seguir: Alavancas de concorrência relacionadas a preço Concorrência entre refinadores Concorrência ao redor de refinadores Estrutura de concorrência: Dominância/ Alta concentração/Propriedade Quebrar o monopólio de refino em várias entidades distintas Impor acesso a terceiros Suprimento de produtos Criar oportunidades de trading com logística Reduzir taxas de importação e dar acesso à logística Quebrar direitos exclusivos de importação Política de precificação Adotar políticas de livre precificação Favorecer agentes que dêem descontos Tabela V.1 – Visão geral das políticas para promover concorrência de preços A Polônia, por exemplo, dividiu seu setor de refino em vários órgãos para competir entre si. O governo reestruturou a indústria de refino para estabelecer a base para os pólos futuros de concorrência no refino e comercialização. As refinarias Plock e Gdansk foram transformadas em empresas acionárias em 1993. Foram implementadas a fusão da refinaria Plock com uma das cinco pequenas refinarias do Sul (Trzebinia) e a fusão da refinaria Gdansk com outra refinaria do Sul (Jedlicze). Em 1997 a Lei de Energia estabeleceu o acesso de terceiros à infra-estrutura logística, como forma de evitar supremacias regionais. O maior pólo (Plock) permanecerá sob controle do governo, enquanto os outros serão privatizados para empresas internacionais. ANP Modelo para o Desenvolvimento do Refino Nacional 29 Na França, ao contrário, foi permitida uma alta concentração no setor de refino. A TotalFinaElf, após sua fusão, passou a ter seis refinarias e a dominar 55% do mercado. Outras quatro empresas (ExxonMobil, Shell, BP e CRR) ficaram com os 45% restantes. Mas o livre acesso à infra-estrutura logística foi mantido. Numerosos terminais de importação são operados por empresas logísticas independentes e mais de 50% do transporte de derivados é feito em polidutos operados por consórcios sob intensa fiscalização de autoridades de defesa da concorrência. Estas condições de livre acesso ajudaram a viabilizar a concorrência entre as refinarias. VVII.. PPRRIINNCCÍÍPPIIOOSS QQUUEE DDEEVVEEMM NNOORRTTEEAARR OO DDEESSEENNVVOOLLVVIIMMEENNTTOO DDOO RREEFFIINNOO NNAACCIIOONNAALL A situação atual e, principalmente, a evolução da demanda e do suprimento nos próximos anos suscitam dez princípios que devem nortear a concepção de um modelo para o desenvolvimento do refino nacional (ver figura VI.1). Figura VI.1 – Questões-chave para o desenvolvimento do refino nacional Dimensão e urgência dos Dimensão e urgência dos investimentos Ambiente Competitivo AAmmbbiieennttee ccoommppeettiittiivvoo Atração de Cobertura da demanda 1 Uso doUso do cru nacional 3 Controle da Petrobras PPoorrttee ee mmooddeelloo ddaa PPeettrroobbrraass 5 Perfil dos Agentes PPeerrffiill ddooss aaggeenntteess eeccoonnôômmiiccooss 6 Infra-estrutura logística CCoonnttrroollee ddaa iinnffrraa--eessttrruuttuurraa llooggííssttiiccaa 7 4 8 AAttrraaççããoo ddee iinnvveessttiimmeennttooss 9 de MA e especif especif. de produto meio ambiente e Normas de2 PPllaanneejjaammeennttoo ee iimmpplleemmeennttççããoo ddee aaççõõeess rreegguullaaddoorraass 10 Dimensão e urgência dos Dimensão e urgência dos investimentos Ambiente Competitivo AAmmbbiieennttee ccoommppeettiittiivvoo Atração de Cobertura da demanda 1 Uso doUso do cru nacional 3 Controle da Petrobras PPoorrttee ee mmooddeelloo ddaa PPeettrroobbrraass 5 Perfil dos Agentes PPeerrffiill ddooss aaggeenntteess eeccoonnôômmiiccooss 6 Infra-estrutura logística CCoonnttrroollee ddaa iinnffrraa--eessttrruuttuurraa llooggííssttiiccaa 7 4 8 AAttrraaççããoo ddee iinnvveessttiimmeennttooss 9 de MA e especif especif. de produto meio ambiente e Normas de2 PPllaanneejjaammeennttoo ee iimmpplleemmeennttççããoo ddee aaççõõeess rreegguullaaddoorraass 10 Dimensão e urgência dos Dimensão e urgência dos investimentos Ambiente Competitivo AAmmbbiieennttee ccoommppeettiittiivvoo Atração de Cobertura da demanda 1 Uso doUso do cru nacional 3 Controle da Petrobras PPoorrttee ee mmooddeelloo ddaa PPeettrroobbrraass 5 Perfil dos Agentes PPeerrffiill ddooss aaggeenntteess eeccoonnôômmiiccooss 6 Infra-estrutura logística CCoonnttrroollee ddaa iinnffrraa--eessttrruuttuurraa llooggííssttiiccaa 7 4 8 AAttrraaççããoo ddee iinnvveessttiimmeennttooss 9 de MA e especif especif. de produto meio ambiente e Normas de2 PPllaanneejjaammeennttoo ee iimmpplleemmeennttççããoo ddee aaççõõeess rreegguullaaddoorraass 10 ANP Modelo para o Desenvolvimento do Refino Nacional 30 VI.1. COBERTURA DE DEMANDA O fluxo intercontinental de petróleo cru é de 45% do total processado no mundo, enquanto o fluxo intercontinental de refinados representa apenas 14% da produção mundial. Isso mostra que as refinarias estão localizadas perto dos centros de consumo, de forma a suprir a demanda local. Além do mais. existem impulsionadores econômicos e estratégicos para esta proximidade dos centros de consumo, conforme apresentado no item V.1 – Tendências da Demanda e Suprimento. A prática internacional demonstra que os países procuram manter sob sua responsabilidade a produção de pelo menos 70% ou 80% da demanda interna. A maioria dos países da Europa, os EUA e a Argentina produzem mais de 70% da demanda interna de derivados. Historicamente, o Japão sempre se preocupou com sua dependência no suprimento de derivados. Desenvolveu novas unidades de refino a fim de processar o máximo de petróleo possível para atender à demanda doméstica e, atualmente, produz mais de 80% de sua demanda de derivados em suas refinarias. Outro exemplo é a Índia, que, para atender ao aumento de demanda de derivados, tem concentrado seus esforços no aumento de capacidade de refino (cinco refinarias nos últimos dez anos) e na implementação da tecnologia necessária para atingir a demanda predominante de destilados médios (5% de aumento de conversão nos últimos cinco anos). Ao mesmo tempo, esses países estão tentando adequar a produção ao perfil da demanda e da sua evolução. A Índia tem procurado reduzir sua dependência de importações de diesel e óleo para aquecimento. Na França, os refinadores domésticos não acompanharam esta evolução, o que resultou em um superávit de gasolina e em um aumento no déficit de destilados médios. O Brasil, atualmente, está acima da faixa de 80% da cobertura da demanda interna de derivados, havendo déficit de alguns produtos que não chega a comprometer o abastecimento nacional (ex.: diesel e GLP). Mas precisará fazer investimentos para continuar assim em 2010. A demanda de derivados no país hoje é de 107 milhões m³/ano (base: 2001) e cerca de 92% são supridos pela produção interna. Em 2010, a demanda estimada será de 145 milhões m³/ano e serão necessários de US$ 4,5 bilhões a US$ 6 bilhões de investimentos em aumento de capacidade do parque de refino nacional para equacionar o déficit previsto para aquele ano, além dos US$ 9 bilhões já previstos no Plano Estratégico da Petrobras. A realização ou não dos investimentos no parque de refino pode acarretar impactos significativos na balança comercial do país: (i) considerando os investimentos previstos no Plano Estratégico da Petrobras, haverá um déficit de derivados de 670 mil bbl/d que, se suprido por importações, acarretará um impacto de US$ 5,2 bilhões por ano; (ii) caso haja dificuldades na implementação do citado plano da Petrobras, o déficit aumentaria para 860 mil bbl/d, com um impacto de US$ 6,3 bilhões por ano; (iii) por outro lado, caso os investimentos previstos pela Petrobras e os adicionais necessários para aumento de capacidade sejam realizados, o déficitseria reduzido para 240 mil bbl/d, com um impacto de US$ 700 milhões/ano. ANP Modelo para o Desenvolvimento do Refino Nacional 31 Estes investimentos também reduzirão o alto grau de dependência externa dos volumes de demanda projetados. Caso os investimentos não ocorram, o grau de dependência de importação de derivados causaria o risco de desabastecimento, além das pressões inerentes a elevações de preços. A atual transação mundial de derivados envolve 9 milhões bbl/dia. Sem investimentos, em 2010 o Brasil precisaria importar em torno de 10% desse mercado. Além do mais, os países não estão investindo em aumento de capacidade de refino visando a exportações e, sim, o mínimo para suas necessidades internas, provocando o risco de desabastecimento e pressões sobre os preços. O Brasil teria como possíveis fontes de suprimento externo a Venezuela e a Argentina, países vizinhos tradicionalmente exportadores de petróleo e derivados. Em resumo, a demanda de derivados deveria ser suprida majoritariamente pela produção local, evitando um elevado déficit na balança comercial e uma grande dependência externa. Para isso, investimentos da ordem de US$ 4,5 bilhões a US$ 6 bilhões serão necessários para aumento de capacidade, visando atender à demanda em 2010. VI.2. NORMAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL E ESPECIFICAÇÃO DE PRODUTOS Desde os anos 80, a redução de emissões de poluentes é o maior direcionador de mudanças de especificações de combustíveis de transportes em âmbito internacional (EUA, Europa e Japão). Conseqüentemente, os países industrializados têm lançado seus programas de controle de qualidade do ar, forçando melhorias em motores e combustíveis. Dentre estes países, alguns adotam programas ainda mais radicais, em geral aliados à redução de impostos. No Brasil, a legislação está evoluindo e seguindo tendências internacionais. Entretanto, existe claramente uma defasagem desta legislação quando comparada às existentes em países desenvolvidos (ex. teor de enxofre do diesel em 2000: Brasil – 2.000 ppm (metropolitano); Suécia – 50 ppm; Europa – 350 ppm). Especificações e regulamentações mais rígidas trazem fortes impactos para o setor de refino, pois resultam em grandes investimentos, que algumas vezes comprometem a sobrevivência de refinarias. Podem ter impacto substancial nos custos operacionais de refino – nem sempre compensados com o aumento dos preços –, o que pressiona a rentabilidade dos negócios. Por outro lado – conforme foi discutido no item V.1, Tendências da Demanda e do Suprimento –, os investimentos em refino foram muito reduzidos nos últimos anos, enquanto a participação dos investimentos relacionados à proteção ambiental continua crescendo. Na Europa, em 2000 investiu-se cerca de US$ 1,8 bilhão em adequações relativas ao meio ambiente, num total de US$ 4,3 bilhões (42%). Em 1988, estes investimentos representavam apenas 10% do total. No Brasil, a Petrobras já divulgou em seu plano a intenção de investir US$ 6 bilhões no refino, para atender à evolução das especificações, a questões ambientais e de segurança operacional. ANP Modelo para o Desenvolvimento do Refino Nacional 32 Portanto, seriam necessários investimentos significativos no futuro visando adaptar a produção de refinados às exigências de qualidade de produtos, proteção ambiental e segurança operacional. VI.3. USO DO CRU NACIONAL Mundialmente, o cru tem se tornado mais pesado. Em função disso, os países, inclusive o Brasil, têm se preparado para esse tipo de processamento. Países dependentes de petróleo importado em geral prepararam suas estruturas de refino com alta conversão para se adaptar a crus pesados. No Brasil, os crus que estão surgindo são também mais pesados, já que a média nacional, que em 1993 era de 28 °API, em 2000 baixou para 25 °API. É prática mundial as refinarias processarem misturas de crus, facilitando o uso de pesados e até extrapesados, que também apresentam dificuldades físicas de transporte. Este procedimento pode ser observado no Brasil. Apesar da média do cru nacional ter atingido 25 °API no ano 2000, o °API médio do cru processado foi de 28,5, o que significa que foram realizados blendings para diluição (processamento de 25% importado e 75% nacional). O país tem a maioria de suas refinarias preparadas para processar cru pesado, o que permite ao refinador escolher entre vários crus para atingir o perfil de produção desejado. Em termos de tendência mundial na seleção de crus, verifica-se a utilização do melhor sob o aspecto econômico para cada refinaria, evitando a mudança das unidades de refino de acordo com a exploração e a produção de petróleo locais. Por exemplo, o México e os EUA processam o cru economicamente mais vantajoso para cada refinaria, não importando a origem, mas sim a combinação, a estrutura de refino e o perfil de derivados desejado. O critério para seleção do cru pode, em alguns casos, ser ainda uma questão estratégica e/ou econômica. A Venezuela, por exemplo, utiliza o cru local para produção de derivados, a fim de capitalizar suas enormes reservas e agregar valor ao seu cru porque este não é de boa qualidade e derivados possuem maior valor agregado. Como conclusão, a utilização de crus diferentes (nacionais ou importados) deveria se basear em decisões econômicas, proporcionando flexibilidade aos agentes. VI.4. DIMENSÃO E URGÊNCIA DOS INVESTIMENTOS Como resultado das considerações anteriores, a dimensão e a urgência dos investimentos totais necessários em refino representam por si só uma questão crítica. O total dos investimentos necessários para adequar o parque de refino e atender à demanda em 2010 é de US$ 13,5 bilhões a US$ 15 bilhões, incluindo neste montante US$ 9 bilhões previstos no Plano Estratégico da Petrobras. Comparativamente, nos últimos oito anos, a Petrobras investiu US$ 4,2 bilhões no refino. Além disso, o país deve tomar decisões de investimento no curto prazo, para que os efeitos possam ser sentidos ainda no final da década. Caso os investimentos não ocorram, o grau de dependência de importação de derivados, conforme foi dito ANP Modelo para o Desenvolvimento do Refino Nacional 33 anteriormente, poderia levar ao risco de desabastecimento. Como os países estão investindo em aumento de capacidade de refino apenas para atender a suas necessidades internas e visando a exportações, a ausência de investimentos poderia provocar risco de falta e pressões sobre os preços. Quanto à atratividade, apesar das margens de refino mundiais serem baixas e com alta volatilidade, no Brasil há perspectivas de que as condições sejam melhores, pois os custos operacionais praticados pelas refinarias de porte médio a alto (>150.000 bbl) são mais baixos do que os do mercado internacional. Em resumo, a dimensão e a urgência dos investimentos totais necessários no refino, quando comparadas com a situação recente, representam uma mudança significativa na política de investimentos. VI.5. PORTE E MODELO DA PETROBRAS No Brasil, a Petrobras detém quase a totalidade do mercado de refino: controla mais de 98% da capacidade de refino nacional e supre 80% do mercado doméstico. Além disso, atua sob um modelo operacional integrado, realizando planejamentos de produção, custos e investimentos conjuntos entre as refinarias e fazendo uso de uma malha logística bastante interligada. Seu parque de refino atual possui margens brutas médias comparáveis às médias mundiais (US$ 5,5 a US$ 7,8 por barril). A entrada de sócios minoritários em joint ventures em refinarias específicas não impacta significativamente o controle. A título de exemplo, em outros países onde existia alta concentração no setor de refino o modelo foi revisto. No caso da Polônia, houve uma reformulação desse setor com reestruturação e fusão de refinarias, venda de postos de gasolina às refinarias e estabelecimento de acesso de terceiros à infra-estrutura logística. O objetivo foi criar a base para os pólos futuros de concorrência no refino e na comercialização. O maior pólo permanecerá sob controle do governo, enquantoos outros serão privatizados. Na França, foi aprovada a fusão da TotalFinaElf, resultando na concentração de 55% do mercado de refino, com a condição de que o grupo vendesse grande parte dos seus ativos logísticos (depósitos e polidutos). Na Índia, existe uma multiplicidade de agentes econômicos atuando no refino: três empresas estatais de comercialização e refino, quatro refinarias estatais independentes e joint venture entre empresas estatais e privadas, além de uma empresa privada nacional. Além disso, estes agentes compartilham a propriedade da empresa criada para atuar na infra-estrutura (Petronet Índia). Na Argentina, a YPF detinha 60% da capacidade de refino antes da privatização. Depois disso, uma série de obrigações foram impostas à Repsol/YPF, tais como desinvestimento em postos para voltar à participação anterior à privatização (troca de ativos com a Petrobras) e impossibilidade de transferência de ativos a agentes com participação superior a 10% no varejo ou refino. Diferentemente, na Venezuela, houve a consolidação do monopólio estatal no setor de refino. Isto ocorreu porque o petróleo é a indústria mais importante do país, onde a monetização das reservas de petróleo tem um grande impacto na economia nacional. A PDVSA, empresa nacional de petróleo, em 2000 contribuiu ANP Modelo para o Desenvolvimento do Refino Nacional 34 com 84% das exportações nacionais e 51% da receita fiscal. Em suma, o controle exercido de fato pela Petrobras sobre o refino impõe dificuldades significativas para o surgimento de novos concorrentes. A mudança desse quadro depende de uma revisão da participação da Petrobras para que novos agentes tenham condições de concorrer com ela. VI.6. PERFIL DOS AGENTES ECONÔMICOS Os agentes econômicos atuando no refino podem ser tradicionais ou alternativos, e com perfis variados (ver item V.1 – Tendências da Demanda e Suprimento). A presença dos agentes com diferentes perfis determina o nível de concorrência presente no mercado. No setor de refino brasileiro atual, predominam dois tipos de agente, em diferentes escalas: uma NOC produtora de petróleo e, em menor escala, dois agentes privados que são refinarias integradas com o varejo (Manguinhos e Ipiranga). O volume da produção nacional de crus ainda não justifica postura semelhante à praticada pela Venezuela, onde se manteve o monopólio estatal, viabilizando a estratégia de escoar a produção do seu próprio cru. Mundialmente, também se pode observar a presença de vários agentes determinando o nível de concorrência. Na França, embora a TotalFinaElf tenha mais da metade da capacidade de refino do país, a participação dos hipermercados gerou uma divergência de interesses no varejo. Contudo, a permissão para a prática de dumping no varejo inibiu investimentos no refino. A Índia abriu o mercado de refino para empresas privadas, garantindo auto- suficiência por meio da construção – via incentivos fiscais – de refinarias greenfield. Embora não tenha conseguido atrair multinacionais (o varejo ainda não foi liberado), a iniciativa privada local tem investido pesadamente no setor de forma isolada. Na Argentina, com a obrigatoriedade imposta à Repsol/YPF de desinvestir parte de sua capacidade de refino e varejo para um agente com participação menor que 10%, um novo agente (Petrobras) foi atraído. Portanto, o estabelecimento de novos agentes relevantes é condição necessária para uma concorrência estrutural no setor de refino. VI.7. CONTROLE DA INFRA-ESTRUTURA LOGÍSTICA A tendência mundial é o compartilhamento de infra-estrutura logística com grande transparência, gerando um bom ambiente competitivo e abrindo espaço para investimentos em expansão. Na França, mais de 50% dos derivados são transportados por dutos, que são abertos a terceiros, foram construídos com incentivos da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e são operados por consórcios/empresas logísticas independentes, sob forte fiscalização de autoridades de defesa da concorrência. Também foi determinado que a TotalFinaElf deveria se desfazer de grande parte de seus ativos logísticos. Na Índia, foi criada a Petronet Índia, na qual 50% de participação é das empresas públicas e o restante é do setor privado e de investidores financeiros. Esta empresa é encarregada de construir novos dutos, com a possibilidade de criar JVs entre empresas públicas e privadas. ANP Modelo para o Desenvolvimento do Refino Nacional 35 O compartilhamento da infra- estrutura logística é mais eficaz quando a posse e o controle dos dutos/terminais são balanceados entre diferentes agentes. Isso evita a concentração da informação dos fluxos nas mãos de um único agente e, no caso em que os preços são regulados, o poder regulador é fortalecido. Identificam-se duas opções de modelo tarifário para os serviços logísticos, associados ao provimento de livre acesso: tarifas negociadas entre os agentes, apenas a partir do momento em que os reguladores tenham garantido a concorrência justa entre os refinadores; e tarifas reguladas pelo governo, o modelo normalmente mais utilizado. No Brasil, o esquema de propriedade, controle e operação da infra-estrutura logística precisa ser revisto. Houve a liberação do acesso à infra-estrutura para os agentes interessados, em meados de 2000. Este modelo, entretanto, ainda não corresponde às expectativas, já que a propriedade dos dutos e terminais permaneceu nas mãos da Petrobras e há ausência de transparência nas operações. Logo, a configuração e o controle atual da infra-estrutura logística ainda impedem o estabelecimento da concorrência, seja por volume ou por preço. VI.8. AMBIENTE COMPETITIVO O ambiente competitivo pode ser gerado entre refinadores ou ao redor deles, como apresentado no item V.2-2 (Outras Políticas). No Brasil, o refino é o setor da cadeia de valor do petróleo que apresenta menor nível de abertura e concorrência. É, portanto, o setor que o governo e a ANP querem focalizar para continuar o processo de abertura. Entretanto, dada a condição de domínio da Petrobras, algumas das alavancas discutidas deverão ser aplicadas para estabelecer o ambiente competitivo. A concorrência só poderá ser desenvolvida por meio da atração de agentes econômicos relevantes, que poderão não se estabelecer nas atuais condições de concorrência. VI.9. ATRAÇÃO DE INVESTIMENTOS É preciso alterar algumas variáveis a fim de criar as condições atrativas em termos econômicos e estratégicos para os agentes desejados. Algumas características do setor de refino no Brasil são vantajosas: o estágio de abertura e o nível de intensidade competitiva em que se encontram as outras etapas da cadeia de valor do petróleo; o crescimento de quase 40% na demanda para os próximos anos; a boa margem bruta de refino e os custos operacionais baixos. Entretanto, ainda existem condições não adequadas à atração de investimentos para o setor de refino do Brasil. A principal é a existência de um agente mantendo o controle e a hegemonia no refino e na infra-estrutura logística. Além disso, falta uma visão de longo prazo para o desenvolvimento do setor. Conseqüentemente, é necessário atuar no ambiente competitivo para criar as condições estratégicas e econômicas para conquistar agentes com o perfil desejado. ANP Modelo para o Desenvolvimento do Refino Nacional 36 Esta geração de condições atrativas precisa ser combinada com incentivos, devido ao porte e à urgência dos investimentos necessários. Considerando- se o crescimento previsto de demanda e a cobertura do parque de refino atual, os investimentos precisam acontecer num horizonte de tempo curto, definido e gerenciável Atentando para o nível e a volatilidade das margens de refino – e o fato de que os investimentos em refino são tipicamente atrelados a outras atividades na cadeia do petróleo –, é bastante usual que os países estabeleçam políticas de incentivo como ferramenta para fomentar investimentos (isenções fiscais e tributárias, barreiras alfandegárias, direitos exclusivos de construção e/ou operação em uma área definida,