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Princípios Gerais de Antibioticoterapia

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Princípios Gerais de Antibioticoterapia 
A cavidade bucal é habitada por bactérias, fungos e vírus. No entanto, as bactérias 
predominam no ambiente (aproximadamente 700 espécies). 
 
Nem todas as espécies são patogênicas, algumas delas são consideradas compatíveis com 
saúde e podem competir com patógenos, contribuindo para a manutenção da saúde. 
 
Componentes estruturais bacterianos 
- Parede celular 
- Membrana citoplasmática 
- Ribossomos 
- DNA; material genético 
- Plasmídeos (material genético extracelular que codifica fatores de virulências) 
- Fimbrias (transferência de plasmídeos entre bactérias e adesão bacteriana) 
 
Classificação bacteriana 
Gram Positivo x Gram Negativo: 
- baseado na coloração de Gram 
- diferem quanto a espessura da parede celular e a presença de componentes 
antigênicos 
 
Em relação à necessidade de Oxigênio:  
- Anaeróbias estritas: não toleram a presença de oxigênio, não se desenvolvem na 
presença dele. Encontradas subgengivais (abscessos endodônticos e periodontais)  
- Anaeróbias facultativas: independente da presença ou não de oxigênio, conseguem se 
desenvolver. Maior parte das bactérias que habitam a cavidade bucal 
- Aeróbias: precisam da presença de oxigênio para se desenvolver.  
 
Infecção bacterianas 
A cavidade bucal possui nichos distintos (tecidos duros e moles, supra e subgengivais) onde 
ocorre a colonização por grupos distintos de bactérias. 
 
As principais infecções bacterianas ocorrem nas mucosas e na região perirradicular e se 
iniciam, normalmente, devido a um desequilíbrio entre o biofilme e o sistema imune, o que é 
chamado de ​DISBIOSE. 
 
Acredita-se que a disbiose se inicia pelo acúmulo de biofilme, que propicia condições para que 
os patógenos (que já estão presentes em pequena quantidade na cavidade bucal) consigam 
se multiplicar e dominar aquele nicho, dando início à infecção odontogênica. 
 
A escolha do medicamento antimicrobiano deve ser feita considerando as características da 
microbiota associada a cada infecção e de acordo com o mecanismo de ação do antibiótico. 
 
Toxicidade Seletiva:​ capacidade do medicamento de atuar nos componente bacterianos e não 
nas células humanas 
 
Características gerais dos antibióticos usados em Odontologia 
Grupos mais usados: 
- Penicilinas  
- Cefalosporinas 
- Lincosaminas (Clindamicina) 
- Macrolídeos (Claritromicina e Azalídeos/Azitromicina) 
- Nitro-imidazólicos (Metronidazol) 
 
Penicilinas 
- exemplos: Amoxicilina, Penicilina V, Ampicilina 
Mecanismo de ação:​ interfere na formação de parede celular, principalmente nas bactérias 
em multiplicação (toxicidade seletiva = células humana não possui parede celular) 
 
Espectro de ação da Amoxicilina:​ anaeróbios estritos e facultativos gram positivos e 
anaeróbios estritos gram negativos (Amplo espectro) 
 
ATENÇÃO!​ Bactérias produtoras da enzima Betalactamase (estafilococos, associados a 
infecções da pele), uso do antibiótico associado ao Ácido Clavulânico 
- a enzima se liga aos betalactâmicos e degrada o antibiótico, impedindo seu efeito na 
bactérias 
- o ácido clavulânico é uma molécula de Beta-lactâmico modificada para que a enzima 
bacteriana se ligue de maneira irreversível, ou seja, age como um inibidor da enzima 
betalactamase, impedindo a degradação do antibiótico 
 
Efeitos adversos e secundários: 
- náusea, diarréia e alergias 
- interações medicamentosas diversas 
- microrganismos multirresistentes  
 
Cefalosporinas 
Estrutura básica é semelhante à penicilina, desse modo, são também sensíveis às bactérias 
produtoras de betalactamase. 
 
Mecanismo de ação:​ inibição da síntese de parede celular 
 
Espectro de ação:​ semelhante à penicilina 
 
Pacientes alérgicos à penicilina também podem manifestar reação alérgica às 
cefalosporinas, devido a semelhança estrutural de ambas.  
 
Macrolídeos 
Mecanismo de ação:​ inibição da síntese proteica nos ribossomos.  
- células humanas também possuem ribossomos, porém são estruturalmente diferentes 
dos bacterianos, portanto, esse grupo de antibióticos possui baixa citotoxicidade para 
células humanas 
 
Claritromicina 
- forte inibidora das CYPs hepáticas (enzimas responsáveis pela metabolização e 
inativação de diversos medicamentos) 
- interação medicamentosa grave, onde há aumento do efeito de outros medicamentos 
- uso com precaução 
 
 
Azitromicina 
- meia-vida prolongada (68 hrs), o que permite o uso em dose única diária 
- alta concentração em células de defesa do organismo, o que garante sua liberação no 
foco da infecção 
- efeitos adversos relatados incluem aumento do risco de problemas cardiovasculares, 
por isso, é contraindicada em pacientes com cardiopatias 
 
Lincosaminas (Clindamicina) 
A Clindamicina é a única desse grupo que é administrada em Odontologia. 
 
Mecanismo de ação:​ inibição da síntese proteica 
 
Espectro de ação: ​semelhante ao da penicilina, porém também atua em Staphylococcus 
aureus e algumas espécies produtoras de penicilinases  
 
Efeitos colaterais:  
- diarréia intensa 
- risco de colite pseudomembranosa (inflamação do cólon do intestino ocasionada pela 
bactéria Clostridium difficile (naturalmente controlada pela microbiota residente, 
porém se multiplica após a ação do antibiótico na microbiota residente). Se caracteriza 
por febre e dor abdominal, se não tratada pode levar ao óbito. 
 
Nitro-Imidazólicos (Metronidazol)  
Mecanismo de ação:​ produção de efeitos citotóxicos e danificação do DNA.  
- células de mamíferos não ativam o metronidazol, o que explica sua baixa toxicidade 
 
Espectro de ação:​ bacilos gram negativos anaeróbios estritos (presentes na doença 
periodontal) 
 
Uso clínico de antibióticos em Odontologia 
Antibióticos são usados para auxiliar o organismo a restabelecer o equilíbrio entre a 
microbiota e o sistema imune. 
 
Fatores a serem observados na presença de uma infecção: 
- identificar a origem da infecção e remoção da causa (principal conduta) 
- características de disseminação 
- necessidade de suporte sistêmico 
- necessidade de auxílio antibiótico para prevenir ou combater a infecção 
 
Profilaxia antibiótica 
É realizada para ​prevenir uma infecção.  
 
Os procedimentos bucais, sobretudo aqueles que promovem algum tipo de sangramento, 
expõem o paciente a uma bacteremia transitória, em indivíduos saudáveis essa bacteremia 
não tem implicações relevantes, porém, dependendo das condições do procedimento 
(manipulação excessiva, necrose tecidual pós-cirúrgica) e do paciente (imunossupressão, 
alterações metabólicas), o uso da profilaxia antibiótica é indicada para prevenir 
complicações e morbidade. 
 
Deve ser feito em uma dose única alta previamente à intervenção, para que, no momento do 
procedimento, tenha-se altas concentrações do antibiótico no sangue e nos tecidos.  
 
Endocardite infecciosa (EI) 
Infecção causada por patógenos que acessam a corrente sanguínea e se instalam, 
colonizando o revestimento do coração (endocárdio) e/ou mais válvulas cardíacas. 
 
Causada por estreptococos do grupo viridans e os Staphylococcus aureus, responsáveis por 
80% dos casos, possuem alta capacidade de adesão e, normalmente, estão presentes na 
mucosa oral e pele. 
 
Apresenta altos níveis de mortalidade (cerca de 30%), podendo levar a complicações graves 
como, por exemplo, embolia e insuficiência cardíaca congestiva.  
 
Sinais e sintomas comuns: febre baixa, dores nas articulações, fadiga, sudorese e perda de 
peso, os quais se manifestam entre 2 a 4 semanas após a infecção. 
 
Recomendação da American Heart Association - AHA 
A profilaxia contra EI é razoável antes dos procedimentos dentários que envolvem a 
manipulação do tecido gengival, da região periapical dos dentes ou perfuração da mucosa 
oral em pacientes com as seguintes condições:  
- válvulas cardíacas protéticas  
- malformações cardíacas congênitas  
- história prévia de endocardite bacteriana  
- enxerto alogênico (cardíaco, renal, fígado)  
- pacientes imunocomprometidos (quimioterapia, HIV, transplantesde órgãos)  
- febre reumática  
- leucopenia (diminuição dos glóbulos brancos; abaixo de 1.000/mm³ 
 
* independe se o paciente tem ou não uma infecção, é obrigatório antibioticoprofilaxia nesses 
casos citados acima 
 
* ​diabetes compensada​ (< 140) ​não​ tem necessidade de antibiótico  
 
* ​diabético descompensado e com dor​, fazemos ​tratamento sintomático​ e ​encaminhamos 
imediatamente o paciente ao médico  
 
Tabela 1  Primeira Escolha  Alérgicos à Penicilina 
 
 
 
 
 
 
 
 
Via Oral 
Amoxicilina 
Adultos - dose única de 2g (4 cáps), 
30-60 min antes do procedimento 
 
Crianças - 50mg/Kg de peso 
corporal, dose única 1h antes do 
procedimento 
Clindamicina 
Adultos - 600mg 
Crianças - 20mg/Kg de peso corporal 
Dose única, 1h antes do procedimento 
 
OU 
 
Azitromicina ou Claritromicina 
Adultos - 500mg 
Crianças - 15mg/Kg de peso corporal 
Dose única, 30-60 min antes do 
procedimento 
 
 
Incapazes 
de fazer via 
oral 
Ampicilina 
Adultos - 2g via intramuscular ou 
intravenosa 
Crianças - 50mg/Kg de peso 
corporal, via IM ou IV 
 
Dose única, 30 min antes do 
procedimento 
Clindamicina 
Adultos - 600mg via IM ou IV 
Crianças - 20mg/Kg de peso corporal 
via IV 
Dose única, 30 min antes do 
procedimento 
 
 
 
Procedimentos em que NÃO é necessária a profilaxia, mesmo que o paciente apresente risco 
à EI:  
- injeções anestésicas (exceto a intraligamentar) em tecidos não infectados 
- colocação, remoção ou ajuste de próteses ou aparelhos ortodônticos 
- tomadas radiográficaS 
- esfoliação de dentes decíduos 
- sangramento no lábio ou mucosas por trauma 
- remoção de suturas 
 
Terapia antibiótica 
É indicada quando há ​sinais de disseminação do processo infeccioso​: 
- febre 
- mal-estar geral ou imunocomprometidos 
- taquicardia 
- linfadenite 
- celulite 
- falta de apetite 
- trismo 
 
O primeiro passo é sempre o correto diagnóstico e a remoção da causa/foco infeccioso, 
seguida da administração de antibioticoterapia, quando indicada, observando sempre a 
evolução clínica do paciente 
 
Protocolo:  
Uma dose de ataque (geralmente o dobro da dose usual), 30 a 45 min antes do início dos 
procedimentos clínicos, principalmente se forem cruentos em local infectado (drenagem de 
abscessos, exodontias, raspagem e alisamento radicular). Seguido de manutenção do 
antibiótico por um período de 3 a 5 dias, na dose usual (ex: Amoxicilina 500mg - 1 cáps a cada 
8h / Clindamicina 300mg - 1 cáps a cada 8h)

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