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Feridas - Medicina Veterinária

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RESUMO PATOLOGIA CIRÚRGICA
· FERIDAS
Toda ferida é uma solução de continuidade, ou seja, por meio de um trauma ocorre a separação das estruturas, interrompendo fluxo sanguíneo e apresentando contaminação variável. Essas lesões podem ser classificadas de acordo com:
1. Agentes traumáticos
a) Químicos: substâncias cáusticas (ex: iodo, veneno de cobra, medicamento Revulsivo- pomada a base de iodo que causa feridas na pele, é usado para remodelamento ósseo). 
b) Térmicos: incêndios, choques, Dimetilsulfóxido (DMSO- anti-inflamatório que causa lesão na pele).
c) Mecânicos: arame liso, brigas, traumas. 
2. Intensidade do trauma
a) Superficial: pouca perda de musculatura.
b) Profunda: muita perda de musculatura, pode ter exposição óssea.
3. Forma da lesão
a) Incisa: bordas lisas, regulares, sem retalhos, bem delimitada, possível realizar sutura. 
b) Lacerante: é a mais comum, apresenta margens irregulares, (pode ser causada por mordidas de cães, principalmente nos ovinos). 
c) Avulsiva: ruptura do tecido por força de tração. Ocorre descolamento da pele e exposição da musculatura.
d) Abrasiva: ralado, perda da derme, a lesão ocorre na pele. 
e) Perfurante: algum objeto perfurocortante, lesão mais profunda.
4. Grau de contaminação
a) Limpa: criada cirurgicamente, em capo estéril.
b) Limpa contaminada: até 6 horas após a ocorrência, pouca contaminação.
c) Contaminada: de 6 a 12 horas de ocorrência.
d) Infectada suja: > 12 horas de ocorrência. Pode apresentar pus, corpo estranho, exsudato. São as lesões mais comuns. 
· REPARO TECIDUAL: cura da lesão. 
a) Regeneração: o reparo ocorre pelo mesmo tipo celular afetado (ex: fígado), possui a capacidade de regenerar.
b) Cicatrização: a reposição é feita com tecido conjuntivo (ex: pele). As fases da cicatrização são:
1. Resposta vascular: ocorre a lesão e inicia-se um sangramento, o organismo realiza vasoconstrição para evitar a perda de sangue. Os leucócitos aumentam a permeabilidade do vaso e migram elementos para formação do coágulo que funciona como tampão para o extravasamento de sangue, levando à um processo inflamatório.
2. Proliferativa: os macrófagos fagocitam os microrganismos e realiza debridamento da ferida (remoção do tecido afetado, comprometido). Os fibroblastos auxiliam na matriz celular, e ocorre uma neovascularização (com a ferida, interrompe o fluxo sanguíneo, então, no local forma-se uma nova vascularização para ajudar a irrigar o locar e eliminar o agente), nessa fase a ferida apresenta uma coloração rósea com aspecto granular. 
3. Modelação: diminui a rede neovascular, aumenta o colágeno, para iniciar o processo de epitelização, que ocorre de forma centrípeta (das bordas para o centro). Ocorre a maturação dos tecidos e retração pelos miofibroblastos, levando à cicatrização final.
· TECIDO DE GRANULAÇÃO: esse tecido é formado para preencher o espaço lesionado, proteger os ossos para evitar infecção, diminuir o tamanho da ferida fornecendo miofibroblastos necessários para contração e fechamento da ferida. É importante e necessário a formação do TG para a cicatrização e proteção. 
· PROBLEMAS NA CICATRIZAÇÃO
Um dos problemas que pode ocorrer no processo de cicatrização é a formação do Tecido de Granulação Exuberante (TGE), impede a migração epitelial e diminui o processo de contração da ferida, passa da pele, fica uma camada maior do que a ideal, e isso atrapalha a cicatrização correta da ferida. Em membros dos equinos tem muita vascularização e pouca musculatura, sendo um dos locais que mais é acometido pelo TGE.
Pode ocorrer por tratamento inadequado da ferida, a pressão do spray, gaze, estimula do crescimento do TG, se for mais do que necessário, leva à formação do TGE. Ocorre mais em região distal dos membros (abaixo de carpo e tarso). 
· CONTROLE DO TGE: Cauterização do tecido com sulfato de cobre diretamente na ferida ou associado com alguma pomada umectante, causando necrose do TGE. Pode ser removido por ressecção cirúrgica (realiza anestesia total intravenosa, associada com a técnica de Bier onde é realizado o garrote), acolchoar bem o animal no momento da cirurgia, após o procedimento realizar bandagem (sangra muito, e não deve retirar a bandagem com sangue, para ajudar a coagular bem o sangue, por 48h), não deve-se usar substâncias irritantes (agua oxigenada, tintura de iodo, pois, estimula o tecido de granulação) , deve-se usar iodo povidine, corticoides tópicos (inibir a fase inflamatória, assim, não ocorre neovascularização e epitelização, diminuindo a concentração de fibroblastos, consequentemente, a produção de TG). 
· ATENDIMENTO DE UM PACIENTE COM FERIDA
1. Avaliação geral do paciente: inspecionar todo o corpo, aferir os parâmetros, se há hemorragia severa, perfuração ou ruptura de órgãos, o comportamento do animal (em casos de lesões neurológicas, avaliar equilíbrio, locomoção). 
2. Avaliação da ferida: classificação, grau de contaminação. 
· TRATAMENTO DA FERIDA: o objetivo do tratamento é ter cicatrização com restauração o mais completo possível, em um menor tempo e menor custo. 
a) Primeira intenção: realização de suturas, em feridas com menos de 6 horas (feridas limpas, ou limpa contaminada). É realizada anaplastia (reconstrução). Procedimento: realiza-se tricotomia, limpeza da ferida (água, sabão, com pressão), uso de antissépticos para diminuir a carga bacteriana, e realiza a sutura. O pós-operatório: soro antitetânico (5000 UI- 1 FRASCO, SC, OBRIGATÓRIO), antibioticoterapia sistêmica (penicilina, gentamicina, enrofloxacina, ceftiofur), anti-inflamatório, curativo local (bandagem para proteção da ferida), quando não for possível usar bandagem, passar antisséptico e repelente diariamente, a retirada dos pontos é com 15 dias.
b) Segunda intenção: ‘’Aberta’’, feridas com mais de 6 horas. Porém, isso não é uma regra, deve-se avaliar a ferida e o animal como um todo, se o tecido estiver viável e for possível, pode realizar a sutura. O problema da contaminação é que não permite a cicatrização correta dos pontos. Procedimento: tricotomia, limpeza da ferida com água, sabão neutro, antissépticos para reduzir carga bacteriana.
Alguns antissépticos:
a) Água oxigenada: causa irritação tecidual, estimula o TG, é útil nos primeiros dias.
b) Iodo povidine: não causa irritação e não é toxico. 
c) Clorexidine: antimicrobiano de alto padrão, elimina a maioria das bactérias, não é toxico e corrosivo. 
d) Permanganato de potássio: antisséptico e antimicrobiano, é um agente oxidante forte podendo causar queimaduras. É bom para feridas profundas, ou problemas no casco. Utilizar com água morna para melhorar a penetração nos tecidos. 
· EPITELIZAÇÃO: formação de crostas para proteção da ferida. 
Pode utilizar glicerina iodada 10%, fitoterápicos (barbatimão, mas deve consertar o tecido de granulação primeiro, depois utilizar, é cicatrizante, antibacteriano), pomadas, açúcar (acelera o processo de formação do tecido de granulação, diminui edema, exsudato, melhora a circulação, não pode usar quando tem TGE), repelente, enxerto de pele, antibiótico tópico (neomicina, gentamicina). 
· PERFUSÃO REGIONAL: é feito antibioticoterapia preventivo IV, no local da ferida, aumentando a concentração. É muito utilizado em membros. Realiza o torniquete próximo e acima da ferida, e o fármaco abaixo da ferida, o torniquete pode ficar no máximo 60 min. 
Acima do carpo/tarso (garrote mais proximal): volume até 40mL (antibiótico + anestésico). Abaixo do carpo/tarso: volume até 20-25mL sem vaso constritor. 
Diluir o fármaco em água, solução isotônica, ringer lactato, anestésico.
Tomar cuidado com os vasos, acima do carpo: veia cefálica, abaixo: veias digitais (quartela), acima do tarso: veia femoral, abaixo: veias digitais. 
· MEDICAMENTOS E DOSES
a) SORO ANTITETANICO: 5000 UI (1 frasco) - SC/IM.
b) PENICILINA: 20.000 a 40.000 UI/KG/IM a cada 72h, realizar 3 aplicações. 
c) GENTAMICINA (usado em grande volume): 2-4mg/kg/BID ou 6,6mg/kg/SID.
d) ENROFLOXACINA (ferimentos de face): 2,5-5mg/kg/SID OU BID.
e) CEFTIOFUR: 2,2-4mg/kg/IM/SID.
f) FLUNIXIM MEGLUMINE (analgesicovisceral- cólica): 1,1mg/kg/SID/3d/IV ou IM.
g) FENILBUTAZONA (muito bom para locomotor, dose máxima pode causar úlceras gástricas): 2,2 – 4,4mg/kg/SID/3d/IV.
h) CETOPROFENO (osteomuscular): 2,2mg/kg/SID/3-5d.
i) MELOXICAM (claudicação): 0,6mg/kg/SID.
PARA PERFUSÃO REGIONAL:
j) CEFTRIAXONA: abaixo do carpo/tarso: 2g; acima do carpo/tarso: 4g.
k) CEFTIOFUR: 250mg.
l) GENTAMICINA: 440mg
m) LIDOCAINA (SEM VASOCONSTRITOR): 10-20mL.
· ENXERTO DE PELE: composto de epiderme e porções variadas da derme. É retirado da região dorsal do pescoço, onde a crina cobre. Usa-se lidocaína, e retalha pedaços da pele e armazena em compressas. São feitos ‘’pinch’’ (envelopes) que são enxertados. Deve realizar na direção correta do pelo, e implantar uma quantidade maior do que deseja pois, 50% ou mais fica na compressa e acaba perdendo.

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