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Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS ESTRATÉGIA DE LOGÍSTICA GLOBAL Autora: Jociane Rigoni 568.401.2 R5722e Rigoni, Jocianei. Estratégia de Logística Global / Jociane Rigoni Centro Universitário Leonardo da Vinci. Indaial: Grupo UNIASSELVI, 2010. x ; 98. p.: il Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830-273-3 1. Administração Estratégica 2. Logística I. Centro Universitário Leonardo da Vinci II Núcleo de Ensino a Distância III. Titulo CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Ozinil Martins de Souza Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra B. Götzinger Montibeller Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald Profa. Jociane Stolf Revisão de Conteúdo: Prof. Carlos Manuel Taboada Rodriguez Revisão Gramatical: Profa. Iara de Oliveira Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci Copyright © Editora Grupo UNIASSELVI 2010 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. UNIASSELVI – Indaial. Sou administradora e pesquisadora nas áreas de marketing e logística, meu mestrado foi na área de comprometimento organizacional na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis/SC. Meu doutorado também foi realizado pela UFSC, na área de marketing de relacionamento, pois penso que, no mundo contemporâneo, o diferencial está justamente nas “relações”. Durante o período do doutorado e como resultado de algumas pesquisas, fui convidada para participar de um estágio de doutorado na Universidad Jaume I, em Castellón de La Plana, em Valência na Espanha. Atualmente, sou professora da Universidade Estadual de Ponta Grossa/PR e membro do grupo de pesquisa em Eficiência Organizacional, da Universidad de Valência na Espanha. Pesquisadora, docente e consultora nas áreas de marketing e logística. Jociane Rigoni Sumário APRESENTAÇÃO ........................................................................... 7 CAPÍTULO 1 Gestão Estratégica de Empresas Globais ................................ 9 CAPÍTULO 2 Cadeia de Abastecimento Internacional e Blocos Comerciais .................................................................. 21 CAPÍTULO 3 Projetos da Rede Logística para Operações Globais .......... 47 CAPÍTULO 4 Atividades e Estratégias de Logística Global........................ 67 CAPÍTULO 5 Definição de Estratégias Logísticas Globais ........................ 83 APRESENTAÇÃO Caro(a) pós-graduando(a), iniciamos agora nosso estudo sobre a disciplina de Estratégia de Logística Global. Quantas vezes já ouvimos falar sobre globalização, sobre romper fronteiras, sobre transpor mercados? Toda esta preocupação com o ambiente global, dentro do contexto de mercado e de empresas, é justamente para atender ao consumidor. Nestes estudos, falaremos em específico da representatividade e do papel da estratégia logística no contexto global. Mesmo que atualmente se tenha mais consciência da importância de logística global e da cadeia de suprimentos, em muitas empresas estas ideias ainda estão para ser plenamente implementadas. A boa notícia é que, de modo geral, a logística e o gerenciamento da cadeia de suprimentos ganharam espaço em organizações de todas as atividades e setores, principalmente, com as possibilidades de abertura do mercado, proporcionadas, também, pelo avanço tecnológico das telecomunicações. Outra evolução importante em relação a estes assuntos é o crescente reconhecimento de que cadeias de suprimentos são, na realidade, redes, que formam verdadeiras teias de organizações, porém, ao mesmo tempo, interdependentes. Como resultado da crescente terceirização de tarefas, que antes eram desempenhadas pela própria empresa, a complexidade dessas redes foi crescendo e, com isso, a necessidade de uma coordenação ativa da rede. O suposto “encurtamento” das barreiras geográficas com a internacionalização torna o processo complexo e decisivo para a competitividade, pois, atualmente, as empresas projetam um produto nos Estados Unidos, utilizam mão de obra asiática, com matéria-prima brasileira, para ser comercializado na Europa. Por estas e outras razões, aumentou, e muito, a importância da gestão estratégica da logística global. Neste primeiro capítulo, discutiremos a complexidade de analisar as diferentes dimensões da globalização frente ao contexto ambiental, a emergência das empresas globais olharem para todos os ambientes para que só então as estratégias globais possam ser configuradas. Vamos explorar as implicações de alguns dos aspectos mais significativos do mercado. Falaremos de questões políticas e legais, econômicas, sociais, tecnológicas, naturais e competitivas que devem ser monitoradas através de uma análise ambiental minuciosa para que seja possível uma atuação da estratégia logística global. O desafio mais premente que surge com a globalização é a velocidade das transformações neste ambiente e a capacidade de as empresas o monitorarem. Já no segundo capítulo, serão abordadas as questões relacionadas à cadeia de abastecimento, os elementos constituintes de uma cadeia, bem como o impacto que acordos comerciais, nacionais ou internacionais, podem causar no fluxo de bens. No terceiro capítulo, daremos um enfoque aos projetos de rede logística para operações globais. Um projeto de operações logísticas envolve a análise da localização de depósitos, fábricas, serviços de atendimento ao cliente, dentre outros. São decisões que impactam diretamente no escopo estratégico da empresa. Pois disponibilizar produtos de maneira eficiente, considerando o campo de atuação mundial, de fato, é um desafio. No quarto capítulo, levamos você, aluno (a), a compreender um pouco mais da dinâmica das atividades e estratégias de Logística Global. Encerramos nosso caderno com o quinto capítulo, abordando um pouco da repercussão da recente crise mundial os aspectos que circundam a definição de estratégias de logística global. Espero que os textos que seguem sejam estímulos para voos ainda maiores! Tenha um bom aproveitamento e um ótimo estudo! A autora. CAPÍTULO 1 Gestão Estratégica de Empresas Globais A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 9 Compreender a complexidade da análise ambiental global para elaboração de estratégias. 9 Definir o foco estratégico empresarial de empresas globais. 9 Desenvolver a análise ambiental prática. 9 Aplicar ferramentas de análise estratégica. 9 Coletar elementos suficientes para implementar as estratégias necessárias. 10 Estratégia de logística global 11 Gestão Estratégica de Empresas GlobaisCapítulo 1 Contextualização Já há muito tempo não consumimos somente produtos confeccionados ou produzidos na mesma região em que vivemos. A dinâmica do ambiente ágil e flexível, aliada ao acesso às informações via TV, rádio e internet, deixa- nos sedentos por inovações e por consumir. Logo, uma mesma comunidade não é autossuficiente a ponto de administrar uma produção autônoma e local. Necessita de uma interface com o meio para suprir diferentes tipos de carências existentes no mercado, tanto dos consumidores finais como das indústrias. Uma vez que os produtos não mantêm a mesma origem de produção e consumo, há a necessidade de alocação de recursos para produção e posterior distribuição dos bens acabados até que estes cheguem às mãos dos consumidores ávidos por comprar. Noentanto, até que isto ocorra, há um significativo contexto que deve ser analisado envolvendo vários elementos que vão desde o ambiente econômico, social, tecnológico, natural, político legal até o concorrencial. É necessário compreender que tipo de interferências uma empresa pode sofrer vindas destes diversos ambientes, conforme veremos a seguir. Análise do Ambiente Global É bem provável que o material que você estuda não tenha sido desenvolvido em sua cidade, assim como o computador que você usa não tenha sido produzido no seu país e tão pouco as peças dele vieram de uma só empresa, ou de um só lugar do mundo, assim como o som que você escuta no seu MP3, produzido provavelmente na Ásia, é de uma banda musical famosa dos Estados Unidos. Ao olhar todos estes fatos, o que podemos pensar? Olhe ao seu redor, veja a variedade de produtos e serviços que estão à sua volta ou à sua disposição, cada um desses produtos passou por um processo de transformação até que atingisse este estado de produto acabado. Para que isso tenha ocorrido, vários foram os caminhos percorridos, desde a matéria-prima do fornecedor para a fábrica até o transportador que o levou a uma loja ou um supermercado para que, então, você estivesse com ele à sua disposição. As transações comerciais são definidas em um cenário global e, nesse cenário, há inúmeros fatores que uma empresa deve considerar para desenvolver suas estratégias em um processo dinâmico e extremamente complexo. As transações comerciais são definidas em um cenário global e, nesse cenário, há inúmeros fatores que uma empresa deve considerar para desenvolver suas estratégias em um processo dinâmico e extremamente complexo. 12 Estratégia de logística global Mas, e como é esse processo? Precisamos compreender minimamente o que ocorre com o ambiente no qual o processo se desenvolve e, também, entender um pouco sobre o trajeto que estes produtos fazem para que dentro da estratégia empresarial, dentro do foco do mercado, possam atender às necessidades dos consumidores. Assim, vários são os fatores que podem comprometer a chegada do produto à reta final. É praticamente uma maratona em um cenário de intensa competitividade, onde os mais ágeis, velozes, capacitados se sobressaem em relação aos menos preparados. Condições do clima, tempo, adversários, regras impostas pelos organizadores do evento e público espectador podem ser usados de maneira metafórica com o cenário de uma economia mundial cada vez mais integrada. E, diante dessa integração, os olhos das empresas devem alcançar dimensões internacionais além da necessidade de acompanhar de maneira sistêmica todas as áreas funcionais. Veja que este processo de influência no ambiente empresarial exige do corpo diretivo empresarial um severo acompanhamento do mercado, como se este fosse um treinador bastante rigoroso com o atleta prestes a entrar para a disputa de uma corrida, neste caso, a corrida é por posicionamento de mercado e competitividade. Há uma necessidade de acompanhar o que está acontecendo nos mercados, tanto externo quanto interno à empresa. A análise ambiental permite que seja realizado um monitoramento do comportamento destes mercados. Buscando informações que possam servir de oportunidades, de melhoria, de aberturas de novos mercados, de identificação de novas tendências. Além de ajudar a empresa a também identificar possíveis ameaças que possam vir a comprometer sua competitividade. Um exemplo citado por Churchill e Peter (2002) é o setor dinâmico das telecomunicações, sendo esta prática de monitoramento do mercado e análise ambiental essencial para a sobrevivência. Veja só: algumas empresas se utilizam de relatórios diários, feitos por empresas terceirizadas, baseados em todos os jornais e comerciais de TV da região desejada, à procura de possíveis indícios de que algum concorrente tenha lançado um novo serviço, para que ações e medidas internas sejam desenvolvidas com a capacidade de contrapor-se ao concorrente em menos de 24 horas. Esta capacidade de resposta rápida faz com que a empresa evite perder dinheiro, além de evitar que o concorrente ganhe espaço. Este monitoramento, geralmente, é realizado pelos departamentos de marketing que, com a área de produção, desenvolvem e produzem de acordo com as solicitações de mercado. Assim, precisamos entender que, para que tais ações ocorram, é necessário monitorar e analisar as diferentes dimensões do ambiente, sejam esses ambientes 13 Gestão Estratégica de Empresas GlobaisCapítulo 1 de natureza política legal, sejam de natureza econômica, social, tecnológica, competitiva e natural. Atividade de Estudos: 1) Defina o que é negócio global e a diferença entre negócios internacionais ou multinacionais. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Em cada uma dessas dimensões, a velocidade das transformações é significativa e impactante, principalmente, levando-se em consideração o que falamos anteriormente na nossa apresentação sobre o “encurtamento” do horizonte geográfico das empresas, assim como a interdependência delas, por isso, devem ser cuidadosamente analisadas. Veja, por exemplo, quais as questões que poderiam circundar cada um dos ambientes citados anteriormente e quais os focos de análise do ambiente global. a) No ambiente político legal as questões a serem consideradas são bastante complexas e vão desde a formação dos poderes, da regulamentação política e legislação vigente em cada país, até as instituições governamentais e partidos políticos. Outras características igualmente importantes que devem ser estudadas pelos profissionais que queiram operar com estratégias logísticas globais são: as tarifas comerciais, taxas de impostos, questões de direito internacional, jurisdição, acordos comerciais, dentre outros. O profissional que pretende atuar com operações internacionais necessita observar detalhadamente estas variáveis. Em cada uma dessas dimensões a velocidade das transformações é significativa e impactante, principalmente, levando-se em consideração o que falamos anteriormente na nossa apresentação sobre o “encurtamento” do horizonte geográfico das empresas, assim como a interdependência delas, por isso, devem ser cuidadosamente analisadas. 14 Estratégia de logística global b) No ambiente econômico devemos considerar e analisar o crescimento das importações e exportações, se estas superam as taxas de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto). Questões como o volume de produtos importados e/ ou exportados se referem ao contexto de como está a evolução da economia de um modo geral, se a população está com maior poder aquisitivo, como está a renda desta população. O ambiente econômico estuda todas as questões que envolvem a economia, incluindo, além dessas questões de renda da população, padrões de gastos e consumos, ciclos dos negócios, inflação, recessão, prosperidade. Questões econômicas de ordem mundial afetam significativamente as ações logísticas para operações globais. Para tanto, é necessário compreender as limitações de tarifa, impostos, legalidade alfandegária, etc. Recomendo uma leitura mais aprofundada, para este assunto. Você pode aprofundar seus conhecimentos pesquisando sobreos fluxos comerciais mundiais e a influência do Acordo Geral de Tarifas e Comércio, em: BARREIRAS ALFANDEGÁRIAS, o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT) e Solução de Controvérsias: http://jusvi.com/ artigos/1905 DECRETO Nº 313 – DE 30 JULHO DE 1948: http://www2.mre.gov.br/ dai/m_313_1948.htm c) Já a dimensão do ambiente social no processo de análise de mercado é mais complexa de ser analisada. A cultura, outros idiomas, os costumes, as condições de demografia, os padrões de consumo são bastante diversos de cultura para cultura. Aspectos que devem ser considerados até mesmo no meio regional. Vamos tomar como exemplo o próprio Brasil. Há uma diversidade cultural significativa entre as regiões, tanto sul, como norte, ou nordeste. Cada estado brasileiro assume uma identidade regional específica e isto não é diferente quando abordamos questões em nível global. Uma empresa do interior do estado do Paraná, que atua na produção pecuária e de carnes, para que os muçulmanos exportassem o frango brasileiro, precisou adequar a configuração da 15 Gestão Estratégica de Empresas GlobaisCapítulo 1 atividade produtiva e estrutura fabril em função de que a ave deveria estar virada para Meca no momento do abate. Atividade de Estudos: 1) Escolha um país, faça uma pesquisa sobre o perfil dos consumidores e relacione as adaptações que as empresas tiveram que fazer devido às particularidades desse país. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ d) No ambiente tecnológico também há variáveis como a capacidade de inovações e invenções dentro do conhecimento científico, que abrange, principalmente, a tecnologia de informações, pois por meio dela é possível ligar os fornecedores e clientes em todo o mundo. O nível de desenvolvimento tecnológico e a disponibilidade deste é variável de país para país, no entanto, para a estratégia de logística global é um elemento fundamental, para o gerenciamento de suprimentos, movimentação de mercadorias, estoques, sendo estes alimentados por informações. São as informações que iniciam ou “startam” todo e qualquer processo empresarial, um pedido gerado é uma informação que irá se transformar em venda, uma nota fiscal emitida significa uma venda efetuada que irá gerar receita e uma série de outras ações, como geração de impostos, período de entrega, forma de pagamento, etc. Essa dinâmica informacional só é possível via tecnologias de informações e softwares. Se atuar em um mercado local já apresenta dificuldades para entender e acompanhar a concorrência, no mercado global a complexidade é ainda maior. 16 Estratégia de logística global Para tanto, os profissionais de logística devem levar em conta o que pode afetar a vida da organização em relação ao aspecto do ambiente competitivo. e) O ambiente competitivo diz respeito a todas as ações, as concorrências existentes. Monitorar a concorrência não é uma tarefa fácil, no entanto, é uma ação necessária para acompanhar a mutação do mercado e o que os concorrentes estão fazendo para se manter informados. O próprio curso que você está fazendo pode ser interpretado como um impacto competitivo para as turmas de alunos presenciais. A realidade tecnológica, citada no ambiente anterior, permitiu um novo olhar para as faculdades, dando acesso diferenciado e atendendo um mercado altamente promissor. E esta realidade tecnológica vem, em muito, concorrendo com o sistema tradicional de ensino, não mais ou menos importante, mas menos competitivo em termos de operacionalização. f) Os recursos naturais que devem ser analisados dentro do ambiente natural estão cada vez mais escassos, por isso, também devem ser levados em consideração em um processo de análise de mercado de logística global. Produtos ecologicamente corretos ganham espaço na hora da decisão de compra. Tal fato pode ser comprometido se a capacidade de fornecimento de produtos e serviços for dependente da disponibilidade dos recursos naturais necessários. Na figura a seguir, é possível compreender como os diferentes fatores, abordados anteriormente neste capítulo, podem interferir nas estratégias de logística global de uma empresa, e na empresa propriamente dita também. Toda e qualquer ação que venha a decorrer em algum dos ambientes que descrevemos irá impactar, de alguma forma, na estrutura da empresa e no dimensionamento de suas estratégias. Vamos imaginar a seguinte situação: uma empresa que vê suas vendas caírem e a necessidade de se adaptar a uma nova regulamentação imposta pelo ambiente político legal em função de uma determinação governamental, obrigando a utilização de determinados componentes para produção. Ou, como acompanhamos na mídia há algum tempo, a última alteração governamental proibindo as farmácias de comercializarem produtos de conveniência. Toda e qualquer ação que venha a decorrer em algum dos ambientes que descrevemos irá impactar, de alguma forma, na estrutura da empresa e no dimensionamento de suas estratégias. 17 Gestão Estratégica de Empresas GlobaisCapítulo 1 Figura 1 - Fatores ambientais de influência na estratégia de logística global da empresa Competitivo Empresa Estratégia de Logística Global Econômico Político Legal Social Tecnológico Natural Fonte: A autora. Dornier et al. (2000) argumentam que os mercados mudam sob a influência de produtos, necessidades dos clientes, expectativas de serviços logísticos, mudanças de localização geográfica e assim por diante. Tais fatos levam a necessidades de monitoramento do ambiente ainda maiores. Conhecer o consumidor não é mais prerrogativa de grandes corporações ou de segmentos específicos ou mais lucrativos e trabalhosos. Compreender o que está ocorrendo nos ambientes que cercam as empresas e a necessidade dos consumidores pode ajudar as empresas a se aproximarem do mercado consumidor e a adaptarem seus produtos aos desejos de consumo. Vejamos um pouco mais sobre isto, no texto a seguir: “Não apenas nos setores automobilísticos, eletroeletrônicos e eletrodomésticos, mas também no setor de alimentação e limpeza, a preocupação é conhecer os hábitos dos consumidores para que seja possível adaptar ao máximo os produtos à realidade e ao gosto dos clientes. A tendência de adaptar produtos para atender às particularidades de um país começou nos anos 50 com a indústria automobilística e tornou-se crucial depois da globalização. Hoje, multinacionais do setor de bens de consumo, como a Procter & Gamble, lideram os investimentos nessa direção. [...] O segmento de bens de consumo abarca alimentos, bebidas e produtos de 18 Estratégia de logística global higiene e limpeza – basicamente tudo o que se encontra em um supermercado. Ele é composto, grosso modo, de quinze grandes empresas no mundo, entre gigantes de alimentos como a Pepsico e a Kraft e aquelas voltadas exclusivamente para higiene e beleza, como a Johnson & Johnson. Apenas duas dessas companhias globais, a Procter & Gamble e a Unilever, produzem mercadorias tão variadascomo sorvete, xampu, detergente, ração para cachorro e pilha. Ambas estão esparramadas por mais de uma centena de países e, juntas, faturam algo como 140 bilhões de dólares por ano – quase o mesmo que todo o setor de eletrônicos. Para as empresas, o melhor seria investir na fabricação, por exemplo, de uma única pasta de dentes e vendê-la no mundo inteiro. Mas, para se firmarem em tantos países, elas se veem obrigadas a diversificar seu portfólio de produtos e adaptá-lo ao gosto de cada lugar.” Fonte: BETTI, Renata. O sabão que aqui lava, não lava como lá. Veja, São Paulo, ed. 2118, p. 134, 24 jun. 2009. Atividades de Estudos: 1) Faça uma relação de quantos produtos globais você possui ou usa. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 19 Gestão Estratégica de Empresas GlobaisCapítulo 1 2) Pesquise os 20 principais países exportadores e importadores no comércio mundial de mercadorias. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Após uma análise dos possíveis fatores de influência no ambiente, é necessário definir os objetivos estratégicos logísticos, alinhados com a formulação da estratégia da empresa. Na sequência, podemos ver os passos que seriam necessários para a formulação e implementação de estratégias de logística global. Formulação e Implementação de Estratégias A formulação e implementação de estratégias logísticas, sejam elas locais, sejam elas globais, deverão necessariamente estar vinculadas aos objetivos maiores da empresa. Caso contrário, não há como o processo evoluir. Para a implementação de estratégias, podem ser seguidos alguns passos com o objetivo de orientar o processo de implementação, são eles: estudo de mercado; análise estratégica na dimensão de tempo; definição da estratégia global (central) da empresa; identificação de responsabilidades das áreas funcionais da empresa, alinhadas com metas organizacionais; implementação de ações e controle de processos. Somente após desenvolver um minucioso estudo de mercado, considerando as implicações em todos os ambientes (político, econômico, social, tecnológico, competitivo e natural) será possível a empresa A formulação e implementação de estratégias logísticas, sejam elas locais, sejam elas globais, deverão necessariamente estar vinculadas aos objetivos maiores da empresa. Caso contrário, não há como o processo evoluir. 20 Estratégia de logística global compreender seu papel no mercado e analisar a dimensão do tempo em que a estratégia pode ser aplicada. Identificar as reais metas da empresa e atribuir responsabilidades a cada uma das áreas envolvidas, compreendendo as tarefas e funções específicas que cada uma das áreas terá que desempenhar para se chegar ao objetivo da estratégia global, como se fosse um desdobramento da estratégia central para cada área em particular. Veja, por exemplo, algumas questões que deveriam ser levantadas: qual é o papel da área de marketing para que a estratégia possa ser alcançada? Com base neste objetivo estratégico e com esta análise de marketing, qual é a necessidade de produção? E, assim, identificar o papel que cada área irá desempenhar para contribuir com a estratégia global, seja a área financeira, seja a de recursos humanos, seja a de controladoria, dentre outras. A importância reside no fato de que haja um comprometimento e uma disseminação dos valores estratégicos e das metas às quais a empresa deseja atender. Assim, torna-se possível a implementação das ações específicas separadas por áreas, atribuindo o que é responsabilidade de quem, facilitando, desse modo, o processo de controle. Algumas Considerações Neste capítulo, estudamos um pouco sobre a complexidade da análise ambiental global para elaboração de estratégias e alguns elementos norteadores para que seja possível definir o foco estratégico empresarial de empresas globais. Buscamos compreender para quais elementos e quais ambientes precisamos voltar nossa atenção. No próximo capítulo, compreenderemos como esta complexidade pode afetar a cadeia de abastecimento global. Identificaremos as implicações de localização e os agentes envolvidos na cadeia de abastecimento. Após entendermos os aspectos norteadores do ambiente, torna-se possível definir as políticas empresariais que a empresa pode adotar frente à cadeia. Referencias CHURCHIL, Gilbert A.; PETER, J. Paul. Marketing: criando valor para o cliente. São Paulo: Atlas, 2002. DORNIER, P. et al. Logística e operações globais-texto e casos. São Paulo: Atlas, 2000. CAPÍTULO 2 Cadeia de Abastecimento Internacional e Blocos Comerciais A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 9 Compreender a complexidade da cadeia de abastecimento internacional. 9 Conhecer a importância dos acordos de cooperação internacional. 9 Identificar os elementos de importância na cadeia de abastecimento. 9 Identificar o escopo de localização estratégica na cadeia. 9 Definir políticas empresariais na cadeia. 22 Estratégia de logística global 23 Cadeia de Abastecimento Internacional e Blocos ComerciaisCapítulo 2 Contextualização O grande desafio da logística é colocar o produto onde quer que o cliente o deseje, com os menores custos e com os melhores níveis de serviços possíveis. Considerando que o desejo do cliente pode ser produtos internacionais, estamos de fato diante de um desafio com as mesmas proporções geográficas intercontinentais. O gerenciamento de uma cadeia de abastecimento é bastante complexo e quando isso é extensivo ao mercado internacional, a complexidade aumenta significativamente. Na maioria das vezes, esta atividade de gerenciamento está associada à produção ou às operações de suprimentos em unidades produtivas e de processos de distribuição geograficamente dispersos pelo mundo. Quando falamos em dimensões internacionais, estamos nos referindo aos processos internacionais, que ocorrem em todas as atividades da cadeia de abastecimento. Estas vão desde compras de matéria-prima em um dado local, o centro de distribuição posicionado comercialmente próximo aos clientes, um sistema de transporte que facilite a distribuição, até as atividades do marketing, que precisa conhecer cadaum destes campos de atuação de maneira detalhada. Neste capítulo, o objetivo central é compreender um pouco sobre a complexidade da cadeia de abastecimento internacional, as implicações das cadeias domésticas para as globais e como as implicações e especificidades de cada nação, bem como os acordos comerciais, podem interferir no gerenciamento destas atividades. Vamos adiante! Políticas Empresariais Você tem acompanhado a velocidade com que as coisas caminham. Assim, com o avanço das novas tecnologias e com o aumento da produtividade e do consumo, a utilização generalizada de técnicas logísticas na operação das empresas está sendo um caminho imprescindível para a melhoria da gestão e da otimização dos recursos empresariais em todos os sentidos. A logística, de forma global, acaba por contemplar todos os fatores referentes ao comércio (pesquisa de mercado e estudo de demanda, novos mercados, canais de distribuição, liberação aduaneira, níveis elevados de serviço ao cliente, redes de relacionamentos, redes de informações, etc.). Desse modo, uma política empresarial que contemple a proposição de um valor agregado aos produtos e serviços pode vir através da logística, ao longo 24 Estratégia de logística global de sua cadeia de abastecimento, no gerenciamento correto e efetivo de controle de estoques, no incremento da força de vendas, no uso intensivo e efetivo de ferramentas tecnológicas de informática e telecomunicações (ECR - Efficient Consumer Response, CRM - Customer Relationship Management, MRP - Manufacturing Resource Planning, etc.) que colaborem para a efetivação da política empresarial. Mas você pode estar se questionando, a que se refere uma política empresarial? Pensemos um pouco sobre o que entendemos de política em si. Ao falarmos de política nos veem à cabeça as ações governamentais e a maneira como nossa cidade, estado, ou país são conduzidos, pois a política empresarial diz, também, respeito à maneira pela qual uma empresa irá administrar e organizar suas atividades, tanto internas como externas. Irá determinar sua conduta perante seus funcionários, perante a sociedade e o mercado. Para que a empresa se conecte com as outras empresas integrantes da cadeia de abastecimento global, ela deve adotar uma política empresarial condizente com seu objetivo. Giuzi (1987) defende a visão de que as políticas organizacionais são guias orientadoras da ação administrativa para que seja possível atingir as metas e os objetivos estabelecidos para a organização. Owens (1954) argumenta que as políticas empresariais podem ser entendidas como princípios para a conduta de uma empresa, um curso geral de ação, seguido por pessoas que são responsáveis pela administração do negócio e relações com os stakeholders. Sendo assim, pode-se concluir que política empresarial é a missão, os objetivos da empresa, a visão e a cultura organizacional focadas para a obtenção de um objetivo. A política empresarial pode ser chamada de estratégia organizacional. Dependendo do foco de atuação da empresa, de suas políticas empresariais internas e de seus objetivos para com o mercado é que sua gestão logística será realizada. Uma empresa que tem como política comercial atuar apenas em determinados estados brasileiros irá desempenhar um tipo de atividade na cadeia logística, já uma empresa que forneça seus produtos para mercados internacionais terá uma área de atuação maior com a qual se preocupar e, consequentemente, uma complexidade de gestão um pouco maior. A implementação de uma estratégia internacional no sistema logístico se baseia, principalmente, em definir o espaço de atuação Dependendo do foco de atuação da empresa, de suas políticas empresariais internas e de seus objetivos para com o mercado é que sua gestão logística será realizada. 25 Cadeia de Abastecimento Internacional e Blocos ComerciaisCapítulo 2 da própria empresa, adequar seu processo produtivo às características da oferta em função da demanda. E é na determinação desse espaço de atuação que as empresas precisam monitorar o ambiente no qual pretendem atuar, ou já atuam, acompanhando as forças externas do ambiente, desenvolvendo uma análise ambiental criteriosa. As forças políticas e macroeconômicas acabam por delimitar, muitas vezes, as estratégias e operações globais. Situações como acordos comerciais regionais, redução ou eliminação de barreiras alfandegárias, flutuação da taxa de câmbio, incentivos governamentais, interferem diretamente nas políticas de gestão e exigem maior necessidade de interação ao longo da cadeia de abastecimento. Uma empresa poderia adotar a política de atender apenas uma determinada região de um dado país, o que parece fácil em um primeiro momento, no entanto, poderia deixar de lado uma boa fatia de mercado, pois atingir diferentes áreas geográficas e ampliar o mercado é sempre uma boa alternativa para evitar a concorrência e, também, ganhar novos mercados. Maximizar a flexibilidade e agilidade no sistema operacional pela diversificação geográfica para deter uma amplitude de mercado, não ficando somente vulnerável a uma linha de atuação, pode ser uma estratégia para driblar as incertezas do mercado. Segundo Dornier et al. (2000), uma vez que haja desestabilização econômica de uma moeda em uma dada nação que faça com que a empresa saia de seu equilíbrio, ela deveria pensar em adotar uma posição de transferir sua produção para aquelas instalações ou fornecedores que, em virtude de sua localização, podem gerar o produto ou fornecer as entradas no mínimo ao custo da moeda local. Empresas que possuem redes de instalações globais ou relacionamentos estabelecidos com fornecedores em uma diversidade de países podem implementar este tipo de política ou estratégia empresarial com bastante sucesso. No Brasil, inclusive, há casos de empresas que mudam sua planta industrial em função dos incentivos fiscais por parte de determinadas regiões do país. Nosso país opera com diferentes alíquotas de impostos entre os estados, por este motivo pode ser interessante manter uma empresa, manter sua planta industrial ou a central de distribuição em uma área geográfica e comercializar seus produtos em outras. As forças políticas e macroeconômicas acabam por delimitar, muitas vezes, as estratégias e operações globais. Situações como acordos comerciais regionais, redução ou eliminação de barreiras alfandegárias, flutuação da taxa de câmbio, incentivos governamentais, interferem diretamente nas políticas de gestão e exigem maior necessidade de interação ao longo da cadeia de abastecimento. 26 Estratégia de logística global Elementos da Cadeia de Abastecimento Uma cadeia de suprimentos, na visão de Chopra e Meindl (2003), engloba todos os estágios envolvidos, direta ou indiretamente, no atendimento de um pedido de um cliente. A cadeia de suprimento não inclui apenas fabricantes e fornecedores, mas também transportadoras, depósitos, varejistas e os próprios clientes. A cadeia inclui todas as atividades e funções que vão desde o processo de pedido do cliente ao fornecedor, como desenvolvimento de novos produtos, pesquisa e marketing, operações, distribuição, finanças e o serviço de atendimento ao cliente, considerando os fluxos de, informação, financeiro e material. A partir da figura a seguir, é possível verificar um pouco dessas atividades e funções que partem do fornecedor com vistas a se chegar ao cliente. Figura 2 – Cadeia de Abastecimento Fonte: Ballou (1993, p.18). Na figura anterior, é interessante notar como o fluxo material e dos processos ocorrem, partindo dos fornecedores, envolvendo os departamentos de suprimentos, produção, distribuiçãoalocando-se e estruturando-se de maneira que o produto final chegue a contento ao cliente final. Segundo Ballou (1993, p. 18): As atividades de transporte, estoques e comunicações iniciaram-se antes mesmo da existência de um comércio ativo entre regiões vizinhas. Hoje, as empresas devem realizar essas mesmas atividades como uma parte essencial de seus negócios, a fim de prover seus clientes com os bens e serviços que eles desejam. Entretanto, a administração de empresas nem sempre se preocupou em focalizar o controle e a coordenação coletivos de todas as atividades logísticas. A cadeia inclui todas as atividades e funções que vão desde o processo de pedido do cliente ao fornecedor, como desenvolvimento de novos produtos, pesquisa e marketing, operações, distribuição, finanças e o serviço de atendimento ao cliente, considerando os fluxos de, informação, financeiro e material. 27 Cadeia de Abastecimento Internacional e Blocos ComerciaisCapítulo 2 A coordenação integrada de todas as atividades da logística para atender às necessidades dos clientes, agregando valor ao seu produto ou serviço, é a evolução do conceito de logística para o gerenciamento da cadeia de suprimentos (Supply Chain Management). A cadeia de abastecimento possui seis elementos que devem estar interligados de forma coordenada e planejada para que os produtos e serviços cheguem ao consumidor da forma almejada: produção, fornecedor, estoque, localização, transporte e informação. A globalização tem efeito sobre a cadeia de abastecimento, tornando-a global pelas tendências de valor pelas quais passa a ser influenciada. Sendo assim, as trocas de produtos e serviços entre países acontecem por meio do gerenciamento da cadeia de abastecimento global. Atividade de Estudos: 1) Escolha um ramo de atividade, pode ser o madeireiro, a indústria automotiva, ou outra com a qual você se identifique. Então, desenhe um exemplo prático de uma cadeia de abastecimento envolvendo os seis elementos que devem estar interligados. Acordos de Cooperação Internacionais Desde a segunda Guerra Mundial, há um grande interesse pela cooperação econômica entre as nações, interesse estimulado pelo êxito da União Europeia (EU). Existem muitos níveis de cooperação, desde a redução de barreiras ao comércio até a integração completa de duas ou mais economias nacionais. A cadeia de abastecimento possui seis elementos que devem estar interligados de forma coordenada e planejada para que os produtos e serviços cheguem ao consumidor da forma almejada: produção, fornecedor, estoque, localização, transporte e informação. 28 Estratégia de logística global Os acordos de cooperação internacionais servem para facilitar os trâmites das mercadorias entre os países acordados, otimizar os processos de importação e exportação envolvendo questões de naturezas diversas, como burocracias de um modo geral, documentação de liberação de mercadorias, impostos diferenciados para os países membros, políticas governamentais especiais, dentre outros fatores e critérios. É variada a denominação dada aos atos internacionais, tema que sofreu considerável evolução através dos tempos. Embora a denominação escolhida não influencie o caráter do instrumento, ditada pelo arbítrio das partes, pode-se estabelecer certa diferenciação na prática diplomática, decorrente do conteúdo do ato e não de sua forma. As denominações mais comuns são tratado, acordo, convenção, protocolo e memorando de entendimento. Nesse sentido, pode-se dizer que, qualquer que seja a sua denominação, o ato internacional deve ser formal, com teor definido, por escrito, regido pelo Direito Internacional e que as partes contratantes são necessariamente pessoas jurídicas de Direito Internacional Público. (BRASIL, 2010). Segundo Aaker (1995), uma aliança estratégica ocorre quando duas ou mais organizações decidem conjugar esforços para perseguir um objetivo estratégico comum, podendo, deste modo, ser extensiva também para países ou nações. Um dos mais importantes acordos de cooperação foi o GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio). É um tratado entre 125 nações cujos governos concordavam na promoção do comércio entre os países membros, a ideia era atuação global e multilateral e seus negociadores puderam sentir uma maior liberdade comercial. O acordo mediou mais de 300 disputas comerciais. Sucessora do GATT, a OMC (Organização Mundial de Comércio), fundada em primeiro de janeiro de 1995, com sede em Genebra, cumpriu como uma de suas principais tarefas: sediar o local para negociações dos países signatários diante dos compromissos assumidos de acesso a mercados de serviços bancários, de seguros e de títulos. (WARREN; GREEN, 2000). São incansáveis as práticas governamentais para ampliar a esfera de cooperação internacional, um exemplo são os produtos da Zona Franca de Manaus que, ainda este ano, serão incluídos no acordo de livre comércio entre Mercosul e Chile e poderão beneficiar-se da isenção de tarifas que deverá alcançar quase 90% dos produtos comercializados entre Brasil e Chile. Esse é um dos resultados das práticas de acordos e também um dos sinais da excelente relação entre os dois países. Os chilenos querem discutir com o Brasil “acordos de segunda geração”, como os de cooperação entre as alfândegas, para constituição de operadores alfandegários autorizados, agentes privados que darão mais rapidez aos trâmites burocráticos no comércio exterior. (NEWS COMEX, 2010). 29 Cadeia de Abastecimento Internacional e Blocos ComerciaisCapítulo 2 Os acordos de cooperação podem assumir diferentes modalidades, por exemplo: a modalidade de uma área de livre comércio, que consiste em um grupo de países que concordam em abolir todas as possíveis barreiras internas ao comércio entre eles. Ou a modalidade de união alfandegária que assume o papel evolutivo de uma área de livre comércio, pois, além do acordo comum, as barreiras internas concordam em estabelecer barreiras externas comuns. (WARREN; GREEN, 2000). O mercado comum é a etapa seguinte na escala de integração econômica, uma vez que além das barreiras internas e externas permite livre movimentação de fatores de produção, como mão de obra, capital e informações. Para Quandt (2004), os benefícios podem aumentar conforme a redução dos custos de transação, uma vez que estes tendem a diminuir com a proximidade geográfica, infraestrutura compartilhada, normas comuns e regras táticas para cooperação. Logo, as “transações” comerciais, de certa forma facilitadas por ocasião dos acordos de cooperação, implicam diretamente as estratégias logísticas que se beneficiam de tais acordos, permitindo agilidade e flexibilidade no processo ao longo da cadeia logística. A seguir, você pode estudar o texto sobre a retaliação brasileira ao algodão. A matéria explicita um pouco a forma como esses acordos ou negociações, de um modo geral, podem impactar nas questões logísticas. Retaliação brasileira ao algodão norte-americano poderá sair em dois meses, diz ABRAPA A Câmara de Comércio Exterior (Camex) apresentará a retaliação que o País aplicará contra os Estados Unidos por causa de subsídios ao setor de algodão, diz o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Haroldo Cunha. Ele se reuniu com a secretária executiva da Camex, Lytha Spíndola, para discutir o assunto. Um grupo técnico está estudando os produtos americanos que sofrerão a retaliação tarifária determinada pela Organização Mundial do Comércio (OMC), no último dia 31 de agosto, no valor de até U$ 800 milhões. Cunha explicou que os técnicos estão preocupados em não gerar mais custos aos produtoresbrasileiros, taxando, por exemplo, fertilizantes e máquinas agrícolas. Outra questão que aflige 30 Estratégia de logística global o presidente da Abrapa é a possibilidade de que o governo, em vez de retaliar os americanos, com tarifas às importações, negocie outra compensação qualquer, como a abertura de mercados a outro produto, deixando o algodão de lado. “Isso é inaceitável. Não podemos perder de vista o objetivo principal que é a redução de subsídios. Para que haja alguma movimentação no Congresso americano para um estudo de sua lei agrícola, é preciso que haja pressão para isso, e o mecanismo legal que temos é exatamente a retaliação”, afirmou. Cunha acredita que o preço do algodão no mercado internacional pode aumentar até 20%, caso o governo dos Estados Unidos deixe de subsidiar seus produtores. Atualmente, os estoques mundiais de algodão em pluma estão muito altos, fazendo com que os preços fiquem muito baixos, e outros países produtores também subsidiam o produto, uma política que pode ser revista, segundo Cunha, a partir da decisão da OMC e da forma como o Brasil aplicará a retaliação. Caso o governo tome a decisão pela compensação, o presidente da Abrapa defende que ela venha para o setor de algodão. “Se não temos como competir com os americanos em termos de subsídios, que tenhamos a condição de competir em termos da mesma capacitação no setor produtivo, e é isso que esperamos do governo”, disse, apontando as dificuldades do setor de algodão em tecnologia, defesa vegetal, logística e promoção e marketing do produto nacional. As informações são da Agência Brasil. Fonte: MACEDO, Danilo. Retaliação brasileira ao algodão norte-americano poderá sair em dois meses, diz ABRAPA. Agência Brasil, 21 set. 2009. Disponível em: <http://www.direito2.com.br/abr/2009/set/21/retaliacao- brasileira-ao-algodao-norte-americano-podera-sair-em-dois>. Acesso em: 3 mar.2010. Atividade de Estudos: 1) Realize uma pesquisa para identificar os principais prejuízos que o Brasil teve por conta do caso mencionado no texto. 31 Cadeia de Abastecimento Internacional e Blocos ComerciaisCapítulo 2 ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Localização e Complexidade de Cadeias Globais Vamos compreender, a seguir, as diferenças fundamentais entre as cadeias de suprimentos locais e globais, em que as distâncias geográficas são triviais para o processo de envolvimento nas visões usadas por empresas globais para lidar com as complexidades das taxas de câmbio e algumas inadequações infraestruturais. À medida que uma empresa cresce, surge a necessidade de tomar a decisão em operar no mercado internacional, gerando, assim, uma área da empresa que será responsável pela divisão internacional. À proporção que as atividades da cadeia de suprimentos se localizam em todo o mundo e os fluxos de produtos começam a atravessar as fronteiras nacionais, os gerentes das operações logísticas enfrentam as incertezas e complexidades da rede logística globalizada. Entretanto, diversas características diferenciam as cadeias de suprimentos globais das nacionais. Vamos discutir um pouco sobre a distância geográfica, como esta questão pode impactar nas cadeias globais? A distância geográfica implica lead times de transporte mais longos. As empresas compensam-no com estoques maiores no canal de distribuição. Contudo, os tempos mais longos de transporte não aumentam simplesmente o comprimento médio dos lead times de suprimento. Adicionam, também, variabilidade aos lead times. Nesse caso, as entregas de produtos que cruzam as fronteiras nacionais estão sujeitas a complicações e atrasos imprevisíveis devido aos procedimentos alfandegários burocráticos. Essa incerteza adicionada é tratada por estoques pulmão maiores, os quais contribuem para o comportamento errático do efeito de chicoteamento (whiplash effect ou bullwhip effect). A volatilidade resultante no nível de estoque pode levar a situações custosas de falta de materiais e produtos, falta de resposta oportuna às necessidades do cliente e altos custos administrativos. 32 Estratégia de logística global No entanto, empresas que gerenciam uma rede global de plantas de produção enfrentam os desafios de implementar produção JIT (Just In Time) com fornecedores geograficamente distantes. Algumas acham praticamente impossível atingir a coordenação apertada do programa requerido e o feedback frequente da informação com uma ampla base de clientes. Caro aluno, nos parágrafos anteriores, você compreendeu que a sensibilidade da cotação de uma ação resultante no nível de estoque pode ser levada a situações difíceis, como falta de materiais e produtos, bem como a falta de resposta adequada às necessidades do cliente e altos custos administrativos. Portanto, podemos entender que tempos de respostas, aumentados devido às maiores distâncias geográficas, sempre complicam a tarefa de previsões para mercados internacionais. Locais geograficamente distantes, na maior parte dos casos, implicam que as empresas operem em diferentes ambientes culturais, usando diferentes línguas e observando diferentes práticas de operação. Essas diferenças potencializam substancialmente as dificuldades de comunicação, criando visões distintas e suposições nas quais se baseiam cenários para a evolução do mercado futuro. Somando todas essas complexidades, as empresas ver-se-ão com um problema agudo de informação altamente distorcida e sem acurácia, usada para propósitos de planejamento. No que diz respeito a essa visão, os fabricantes e varejistas acabam carregando maiores níveis de estoque e devem lidar, devido ao efeito exacerbado do chicoteamento, com maior volatilidade em seus níveis de estoque. Essa teoria tradicional de estoques especifica que os estoques de segurança necessários para cobrir a incerteza da demanda variam com o tamanho do erro da previsão. Esses efeitos são agravados pela dificuldade típica de coordenar os efeitos de uma campanha de marketing em nível internacional e de controlar os impactos das atividades promocionais no ponto de venda, uma vez que, em dependências estrangeiras, a localização dos pontos é bastante distante. O efeito do chicoteamento se refere à variação da demanda que tende a aumentar em função da distância dos produtos até o consumidor final, ao longo da cadeia, quando pequenas mudanças no comporto da compra do consumidor podem repercutir em grandes variações de pedidos ao final ou ao longo da cadeia. Consequentemente, as oscilações podem ser significativas, à medida que cada empresa procura equacionar o problema diante de um ponto de vista único. Em situações de cadeias com dimensões internacionais, isto é bastante comum, em virtude do distanciamento do ponto de origem do produto até o consumidor final. 33 Cadeia de Abastecimento Internacional e Blocos ComerciaisCapítulo 2 Se você quiser aprofundar seus conhecimentos a respeito do efeito chicote, leia o artigo: O Efeito Chicote e o seu impacto na Gestão das Cadeias de Suprimentos, basta acessar: http://www.aedb.br/seget/artigos07/1167_Artigo%20-%20 Efeito%20Chicote%20-%20SeGet.pdf Outras Incertezas Macroeconômicas Quando trabalhamos com dados de mercado, a velocidade das transformações e a quantidade de fatores a serem considerados são significativos. Consideramos não somente localização ou aspectos culturais e sociais, conforme vimos anteriormente. Há uma série de fatores e incertezas que devemos considerar,no entanto, há algumas incertezas que repercutem de maneira mais direta nas empresas. Dois fatores macroeconômicos complicadores e de bastante importância no ambiente da cadeia de suprimentos global são as taxas de câmbio e a inflação, que não poderiam ficar de fora de nossa análise. As taxas de câmbio influenciam significativamente uma empresa que tenha negócios, seja com compradores, fornecedores, concorrentes estrangeiros, seja por meio de seu impacto nos custos de entrada, preços de venda e volume de venda, devido às muitas variações que o câmbio acarreta nas moedas. Na conversão de câmbio, alguns países podem ficar prejudicados, devido à situação econômica local, ou perderem poder de barganha, dificultando as negociações. O monitoramento das equipes econômicas vai desde o acompanhamento dos agentes financeiros, das variações das ações nas bolsas, do preço de algumas mercadorias com o propósito de minimizar impactos ou serem pegos de surpresa. Então cabe um questionamento, veja a atividade de estudo: Atividade de Estudos: 1) O que você acha que as empresas podem fazer? Como as empresas devem proceder para contra-atacar os movimentos desfavoráveis na taxa de câmbio? 34 Estratégia de logística global ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ A resposta que poderíamos considerar para a questão anterior é que: As empresas devem usar a flexibilidade na estrutura de sua cadeia de suprimentos global, adotando uma tática frequente, a qual consiste em a empresa mudar suas compras para aqueles fornecedores que, por virtude de sua localização, podem fornecer entradas a um custo inferior na moeda local. Sob essa tática, as empresas estabelecem relacionamentos com fornecedores em uma variedade de países, de forma a melhor usar sua experiência de fornecimento global na implementação de tal estratégia. Às vezes, essa tática ajuda até a estabelecer um fornecedor internacional onde um sequer existe. Portanto, cadeias de suprimentos globais com fontes de produção múltiplas para o mesmo produto e alguma capacidade em excesso podem desenvolver uma segurança adicional contra flutuações na taxa de câmbio e incertezas do macro ambiente. Atingem essa condição usando a capacidade excedente na rede e alocando a produção entre diferentes países. 35 Cadeia de Abastecimento Internacional e Blocos ComerciaisCapítulo 2 Em países em desenvolvimento, com ambientes inflacionários, em situações hiperflacionárias, as práticas na cadeia de suprimento são altamente eficazes e essenciais. Para se ter sucesso em tais ambientes, recorremos à implementação instantânea pelas empresas de aumentos de preços mínimos e prazos de pagamento aos clientes. A empresa deve enfatizar os canais de distribuição que são simples para servir e pagar instantaneamente. Para muitos ambientes e indústrias, isso significa um uso mais pesado de atacadistas e cadeias de supermercados nacionais. Para essa transação, a cobertura de vendas deve ser persistente em garantir a comunicação instantânea e completa aos clientes. Tal comunicação facilita o anúncio e implementação de aumentos de preços. Consideramos, então, que os lead times na cadeia de suprimentos devem ser reduzidos até o valor possível para garantir a distribuição rápida e acurada, permitindo que as empresas minimizem os estoques dos canais de distribuição e evitem atrasos em pagamentos devido à discrepância entre a fatura e a mercadoria recebida. Para ilustrarmos as questões abordadas no parágrafo anterior, vejamos a situação a seguir: Uma empresa sueca projetou um equipamento para produzir embalagens de papel que permitissem que o leite esterilizado fosse mantido sem refrigeração por até três meses, superando, assim, a falta de refrigeração em países em desenvolvimento. As deficiências que as empresas encontram quando começam a operar são substanciais em recursos infraestruturais (redes de transporte, capacidade de telecomunicação, qualificação do trabalhador, qualidade de materiais/ fornecedores, equipamentos, etc.). Para conhecermos mais essas inadequações infraestruturais, vamos comentar alguns desses fatores, segundo Dornier et al. (2000). Consideremos a qualificação do trabalhador: uma empresa pode alterar ou limitar suas escolhas tecnológicas por falta de algumas qualificações dos trabalhadores. Podemos citar, por exemplo, tarefas em máquinas de controle numérico reduzem muito o conteúdo de qualificação, pois os operadores são substituídos por preparadores e programadores de máquina mais facilmente treinados. Chega-se à conclusão de que as dificuldades em encontrar um fornecimento adequado de operadores treinados derivam do crescente uso dessa tecnologia nos países da América do Sul. 36 Estratégia de logística global Outra inadequação de infraestrutura pode ser compreendida como a disponibilidade de fornecimento e qualidade do fornecedor: para minimizar o uso de materiais escassos, as empresas têm forçado-se a projetar suas tecnologias de equipamentos de processo e seus produtos para que a escassez de material não cause problemas para as cadeias de suprimentos globais. As matérias-primas importadas são frequentemente escassas devido às restrições de importação causadas por falta de divisas estrangeiras. Em outros casos, problemas de suprimentos derivam de um quadro subdesenvolvido de fornecedores ou do sistema de transporte. Assim, as empresas tendem a assumir diversos métodos e ações criativos para superar tais problemas de suprimentos. Vamos conhecer outros exemplos, podemos citar o McDonald’s que enfrentou problemas substanciais para desenvolver fornecedores russos confiáveis de alta qualidade em suas operações de restaurantes na Rússia. A cadeia de fast-food empregou com sucesso uma estratégia de integração vertical por meio do desenvolvimento de suas próprias instalações de fabricação e distribuição para processar a carne, produzir batatas fritas, preparar os laticínios e assar os pães e tortas de maçã. Cultivou até suas próprias batatas nos estágios iniciais de suas operações russas. Em outro exemplo, um fabricante de aço brasileiro desenvolveu uma tecnologia para substituir o carvão mineral, que não existia localmente, por carvão vegetal. Podemos concluir, com esses exemplos, que a falta de suprimentos e programas irregulares podem criar um caos no processo de planejamento da cadeia de suprimentos global. A reação típica de manter altos níveis de estoques de matérias-primas ou estoque em processo exacerba a dinâmica perversa do efeito de chicoteamento. Por isso, fica impossível manter em certas redes de fábricas os princípios do fornecimento e produção JIT. Muitas vezes, pode levar as empresas a trocar processos de produção normalmente contínuos por processos em grandes lotes. Podemos ainda considerar outras inadequações de infraestrutura, apontadas também por Dornier et al. (2000), como: a falta de equipamentoe tecnologias de processos locais: em determinados países, a falta de equipamentos e tecnologias de processo pode limitar seriamente os etapas de desenvolvimento e produção de determinados produtos. O problema se torna sério quando 37 Cadeia de Abastecimento Internacional e Blocos ComerciaisCapítulo 2 questões como restrições de importação forçam o desenvolvimento e uso de equipamentos e tecnologias locais. Nesses casos, as empresas são forçadas a realizar o P&D localmente e a desenvolver equipamentos e tecnologias de processos locais. Outras questões a serem consideradas são: inadequações na infraestrutura de transporte e telecomunicações: os canais de distribuição em países em desenvolvimento são muitos longos e fragmentados. Dessa forma, as deficiências nas comunicações criam sérias imperfeições no mercado, que podem impedir a competitividade de uma empresa global despreparada. A deficiência na infraestrutura de transporte pode aumentar os lead-times de distribuição. Passa a ser comum, nesses países, um produto mudar de mãos de quatro a oito vezes antes de atingir o consumidor final. A falta de serviços de telefonia confiáveis significa que o suprimento e a demanda de dados não estão disponíveis de forma imediata, necessitando, assim, de investimentos substanciais da empresa no desenvolvimento de sistemas de informações eficazes. O McDonald’s organizou seu próprio sistema de distribuição com seus próprios caminhões. Na Rússia, a causa principal da falta de comida tem menos a ver com a produção do que com a distribuição. Analisando as inadequações infraestruturais, concluímos que num ambiente competitivo global essas empresas são forçadas a fornecer produtos e serviços altamente customizados para múltiplos mercados nacionais, o que gera a proliferação explosiva de modelos de produtos e opções de serviços oferecidos pela empresa. Na fabricação de um produto adequado para diferentes mercados, as empresas se obrigam a fabricar um produto básico que contenha a maior parte das características e componentes do produto final e, então, acrescentar aqueles componentes de último minuto que tornam o produto específico para o mercado. Temos como exemplo desse tipo de ação computadores para diferentes países que são fabricados com diferentes módulos de fonte de energia, específicos para o país a fim de acomodar a voltagem, frequência e convenções de conectores locais. Além disso, teclados e manuais devem, também, adequar-se à língua local. Essas variações, aparentemente pequenas, podem levar a empresa a produzir mais de uma centena de variações de um computador aparentemente idêntico, levando consigo um impacto significativo na proliferação de produtos na cadeia de suprimentos. Em cadeias de suprimentos globais mal planejadas, predizer a demanda de milhares de itens é um pesadelo de previsões. Incertezas Em cadeias de suprimentos globais mal planejadas predizer a demanda de milhares de itens é um pesadelo de previsões, incertezas de demanda levam à formação de estoques erráticos e a significativos atrasos. Muitas empresas acabam, assim, mantendo níveis de estoques de segurança extremamente elevados, a fim de que possam garantir uma taxa de atendimento razoável. 38 Estratégia de logística global de demanda levam à formação de estoques erráticos e a significativos atrasos. Muitas empresas acabam, assim, mantendo níveis de estoques de segurança extremamente elevados, a fim de que possam garantir uma taxa de atendimento razoável. Dessa forma, podemos concluir que o nível de serviço fornecido ao cliente, em termos de disponibilidade de produtos e de lead-times, deteriora- se drasticamente. Se essas empresas estiverem estocando produtos de alta sazonalidade ou de vida curta, acabam com perdas substanciais devido à obsolescência dos produtos. Para compreender melhor o funcionamento da cadeia de suprimentos de uma empresa brasileira no mercado internacional, a leitura do artigo Cadeias de Valor Global: condições para a inserção de uma cooperativa exportadora de suco de maracujá concentrado no mercado global é bastante enriquecedora. Acesse: ftp://ftp.sp.gov.br/ftpiea/publicacoes/asp1-2-05.pdf Atividade de Estudos: 1) Leia a reportagem A cadeia do frio: do Brasil para o mundo, disponível no material de apoio da disciplina. A seguir, pesquise as estratégias de um setor agroindustrial para identificar o perfil dos consumidores, os fatores que afetam sua decisão de compra com relação à escolha do local e aos atributos dos produtos, a percepção que eles têm sobre a origem e qualidade de determinado produto e exemplifique num texto. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 39 Cadeia de Abastecimento Internacional e Blocos ComerciaisCapítulo 2 ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Integração Vertical em Cadeias de Suprimentos Globais Em diferentes países ou ambientes de mercado, muitas variáveis podem afetar o grau de integração vertical de cadeias de suprimentos globais. Para cada variável e para os diferentes níveis de intensidade dessas variáveis o quadro a seguir, extraído da obra de Dornier et al. (2000), identifica a prática preferida, se ela se relaciona com o desenvolvimento de um maior nível de integração vertical para trás (IV) ou com a intensificação do esforço para desenvolver fornecedores locais (FL). Oferecemos argumentos suportando diversos pontos de vista. Em linhas gerais, temos que ter em mente que cada caso requer uma análise particular detalhada. Para uma melhor compreensão, sugiro que você considere a linha das condições de variáveis como uma régua. Tomemos como exemplo a leitura da primeira linha destacada do quadro, em que aparece a alta condição de variáveis envolvidas no que diz respeito ao ambiente do país, a sua dimensão de tamanho e o crescimento do mercado. Da mesma forma, prossiga com a leitura interpretativa, correlacionando as colunas (TIPOS DE VARIÁVEIS x CONDIÇÕES DE VARIÁVEIS) em cada uma das linhas das colunas. Em diferentes países ou ambientes de mercado, muitas variáveis podem afetar o grau de integração vertical de cadeias de suprimentos globais. 40 Estratégia de logística global Quadro 1 - Integração vertical para trás (IV) versus desenvolvimento de fornecedores locais (FL). Tipos de Variáveis Condições de Variáveis _________________________ Alta ←_____________ → Baixa Ambiente do país Tamanho e crescimento do mercado Custo de mão de obra Qualificação de mão deobra Capacidade gerencial local Risco político Controle de importação de PA (controles de importação de MP) Compatibilidade cultural Situação competitiva Concentração da indústria Forças competitivas relativas Características da empresa Produto Maturidade Diferenciação de marca Diversidade da linha Intensidade de serviços Tecnologia Maturidade Estabilidade Complexidade Recursos Capital Gerencial Experiência anterior Grau de globalização FL IV IV FL FL IV IV FL IV FL FL(IV) IV (FL) FL IV FL IV FL IV IV FL FL IV IV FL FL IV IV FL FL IV FL IV FL IV FL IV FL IV FL IV Fonte: Dornier et al. (2000, p.388). A seguir vamos comentar, de forma geral, alguns dos aspectos por nós considerados mais relevantes para cada uma das variáreis apontadas no quadro anterior e as implicações em cadeias de abastecimento globais. No que se refere ao Ambiente do País, foram considerados: Tamanho e crescimento do mercado: quanto maior o mercado e maior sua taxa de crescimento, maior a probabilidade de a empresa desenvolver integração com as atividades desenvolvidas pelo fornecedor. Já no que se refere ao custo de mão de obra, 41 Cadeia de Abastecimento Internacional e Blocos ComerciaisCapítulo 2 os ambientes com menor custo de mão de obra tendem a favorecer a viabilidade econômica ao longo do tempo, estimulando investimentos de longo prazo em integração vertical. A qualificação de mão de obra leva em conta a falta de trabalhadores preparados e/ou qualificados, o que complica substancialmente a tarefa de expansão da empresa global e, consequentemente, aumenta a complexidade nas atividades de suprimentos da cadeia. Considerando, ainda, o quadro anterior, vamos seguir com mais algumas variáveis que devem ser interpretadas no Ambiente do País. Dentre estas variáveis, destacamos a capacidade gerencial local, o tempo de recursos gerenciais é um ativo vital para a maior parte das empresas globais. Infelizmente, em muitos casos, há falta de oferta. A falta de capacidade gerencial local complica substancialmente a tarefa de integração vertical (IV). Ao mesmo tempo, aumenta a demanda sobre a gerência atual em relação a sua habilidade em implementar uma estratégia global. Embora ela ainda possa ser compreendida como uma variável controlável por parte do corpo diretivo empresarial. No que se refere ao Risco político, a IV aumenta a exposição do ativo capital da empresa em ambientes de risco político, tornando a IV menos desejável, pois não há como uma empresa intervir em questões políticas e econômicas. Outra variável diz respeito aos Controles de importação: os controles de importação, em termos de produtos acabados vendidos pela empresa no mercado, favorecem a alternativa de IV. Esses controles criam um mercado protegido, no qual a empresa pode facilmente justificar seu investimento em integração vertical. Contudo, se os controles de importação se aplicam às matérias-primas e a outros críticos importados, então, a probabilidade de problemas no controle das operações aumenta. O investimento de capital em tais situações se torna muito mais arriscado. Comentamos aqui ainda a variável Compatibilidade cultural: quanto maior o nível de compatibilidade cultural, mais simples é a tarefa gerencial de integrar verticalmente as atividades. A compatibilidade cultural reduz também o risco cultural e os custos de transação. Seguimos agora com a segunda variável apontada no quadro, a Situação Competitiva. Vamos entender o que pode ser analisado dentro desta variável, ainda utilizando a visão de Dornier et al. (2000). Os autores sugerem que na situação competitiva é preciso avaliar a concentração da indústria em ambientes oligopolistas, pois as empresas preferem competitividade forte, o que lhes proporciona, assim, mais controle sobre seu próprio ambiente de atuação. Na visão dos autores, também é possível considerar a força competitiva relativa, em que as empresas mais fortes preferem ações de maior controle sobre suas operações e posição competitiva. Uma vez que os recursos tendem a não ser restrições significativas para essas empresas, a IV é tipicamente uma opção preferida. Ainda complementando a análise do quadro 1, vejamos alguns aspectos que podem ser analisados para a integração vertical, levando em consideração as Características da Empresa, a respeito de seu Produto e o estágio de 42 Estratégia de logística global desenvolvimento em que ele se encontra no mercado. A Maturidade diz respeito ao tempo de vida útil de um determinado produto em relação ao seu volume de vendas. Produtos maduros que se aproximam do final de seus ciclos de vida geram fluxos de receita que, normalmente, não justificam novos investimentos em integração vertical. Estão estagnados, sem perspectiva de crescimento. O desenvolvimento de fornecedores locais se torna uma necessidade dentro de um esforço para esticar a vida do produto em um novo mercado. Uma empresa que desejar Diferenciação de marca deverá adotar uma filosofia baseada na necessidade de preservar a qualidade e a imagem do serviço. Essas empresas lutam pelo controle das operações e a IV serve-lhes muito bem. Já empresas que têm características de atuação em diversificação precisam centrar-se em velocidade. A Diversidade de linhas para a empresa com linhas de produtos altamente variadas é um pesadelo gerencial, pois tentar produzir diferentes componentes é uma dificuldade significativa. Para essas empresas, a velocidade e a profundidade de penetração no mercado têm maior propriedade e tal estratégia pode ser suportada usando fornecedores locais. Já empresas que assumem características de Intensidade na prestação de serviços, cujos produtos requerem serviços pós-vendas substanciais, tendem a preferir a IV. Seus clientes apreciam respostas rápidas e de alta qualidade a problemas no campo. Consequentemente, uma alternativa que permite a redução de distâncias e uma melhor comunicação é preferível. Tecnologia: em países com menor nível de desenvolvimento tecnológico a escassez de fornecedores qualificados é sempre um problema, além disso, as empresas são forçadas no curto prazo a ser seus próprios fornecedores. E uma vez que o desenvolvimento em tecnologia chega à estabilidade sofrem rápida transformação de produto/processo e o investimento em IV é evitado. E quanto mais Complexa a tecnologia, maior o nível necessário de controle sobre o processo produtivo para garantir níveis de qualidade consistentes. Empresas de baixa tecnologia preferem tipicamente fornecedores locais. Ainda para finalizar o quadro 1, é considerada dentro da variável característica da empresa a questão dos recursos, em que a restrição de capital para a IV é uma alternativa difícil de ser justificada em longo prazo. Quanto à gerência, também há dificuldades, pois quanto mais restrita a empresa em termos de talento e tempo gerencial, menor a possibilidade de investir em uma alternativa por recursos gerenciais como a IV. Alavancagem: levar para outro país o que já se tem como Experiência anterior em atividades similares: a inexperiência nas atividades consideradas para a IV é uma forte criadora de inércia contra a IV. E, ainda, o Grau de globalização: empresas que buscam estratégias globais requerem oferta de qualidade uniforme do produto e serviço consistente para uma variedade de mercados locais; exigem níveis muito altos de controle e coordenação da produção. A IV oferece
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