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DERRAMES PLEURAIS A pleura é formada por dois folhetos: parietal e visceral. A pleura parietal é dividida em cervical, costal, diafragmática e mediastinal, essa nomenclatura ajuda na descrição de achados. A pleura visceral é suprida pelas artérias brônquicas e circulação pulmonar. Drena para o sistema venoso pulmonar. A pleura costal é suprida pelas artérias intercostais e ramos da mamária interna. Pleura mediastinal é suprida pelas artérias brônquicas, diafragmáticas superiores e mamária interna. O Ápice pulmonar pelas artérias subclávias. As veias advindas dessas áreas drenam para a veia cava e peribrônquicas. A drenagem linfática das pleuras é feita para os linfonodos mediastinais, peritraqueais etc. se utiliza os estomas de Wang que ligam a cavidade pleural e vasos linfáticos submesoteliais, localizados na pleura costal, mediastinal e diafragmática. Entre os folhetos há o líquido pleural que ajuda no deslizamento dos folhetos para respiração. A etiologia do derrame pleural pode estar associada à menor drenagem do líquido ou aumento de sua produção. Os derrames pleurais podem ou não estar associados à doença na pleura. Em geral, os causados por doenças da pleura em si assemelham-se ao plasma (exsudatos), enquanto os que ocorrem com uma pleura normal são ultrafiltrados do plasma (transudatos). Mecanismos de formação do DP Algumas doenças tem até mais de um dos mecanismos descritos a seguir: aumento da pressão hidrostática capilar (IC), diminuição da pressão oncótica capilar, alterações da permeabilidade da membrana pleurocapilar (K), redução do fluxo linfático, passagem transdiafragmática (pode ocorrer ascite), aumento da negatividade da pressão intrapleural. Semiologia Vamos observar alterações no exame físico a partir de 300 ml de líquido pleural. Na maioria das vezes haverá menor expansividade da caixa torácica ipsilateral, podendo também ser sentida durante a palpação local. Na ausculta pulmonar, o aumento da quantidade de líquido na cavidade pleural proporciona a redução progressiva do murmúrio vesicular até sua ausência. A presença do atrito pleural (ausculta e palpação) traduz, em geral, a localização de um processo inflamatório. Sintomatologia Os sintomas mais frequentes são: desconforto ou dor, tosse e dispneia. Podem estar associados a outros sintomas dependendo da etiologia do DP, exemplo: hemoptise. A dor pleurítica se manifesta com moderada intensidade, em pontada e variando com os movimentos respiratórios (ventilatório dependente!). Nos processos infecciosos costuma ser aguda e crescente. Nos processos embólicos e no pneumotórax apresenta-se de forma súbita. A inervação do gradio costal, pleuras diafragmática e mediastínica pode transferir a dor para longe do local comprometido. A tosse geralmente é seca podendo vir em acessos. A presença de dispneia é bastante variável, assim como sua intensidade. Costuma apresentar- se de forma súbita na embolia e no pneumotórax e crescente nos processos inflamatórios e infecciosos. Etiologias Abordagem diagnóstica em DP: 1. Estabelecer a presença de DP: dados clínicos e imagem radiológica. 2. Determinara causa do derrame ou o mecanismo fisiopatológico envolvido. 3. Avalias necessidade de investigação pleural. No Rx em PA e perfil irá aparecer opacidade homogênea que, devido à ação da gravidade, flui para as porções mais declives da cavidade pleural. A imagem é uma parábola / menisco. Pede- se a imagem em Laurel (decúbito lateral) quando há dúvidas ou quer aprofundar os dados sobre o tipo de derrame. Em derrame pleural com disposição subpulmonar: em perfil é visto derrames na cissura e não tanto o sinal do menisco. Dependendo do tempo de derrame e da causa, é possível que há uma loculação/ septação do derrame, principalmente nos exsudatos que são mais proteicos. Acabam não ficando livres, adquirem bordas. Podem não alterar muito sua forma com o decúbito. O DP loculado em cissura é chamado de pseudotumor pela aparência, pode ser chamado de tumor evanescente/ Vashing tumor/ tumor fantasma. Pacientes com IC descompensada pode apresentar e geralmente melhora com uso de diurético. Diagnóstico laboratorial: líquido pleural Quando investigar o líquido pleural? Quando paciente não apresenta melhora após o tratamento da causa suspeita. Coletar também quando há alguma complicação como febre, dor, derrame organizado. Geralmente não investiga o DP do paciente com IC, IR etc. O ideal é retirar de 20 a 60 milímetros de líquido. Sempre coletar o sérico junto! O líquido normalmente tem aspecto amarelo citrino. Na primeira avaliação deve determinar se o derrame pleural é um transudato ou exsudato. Para essa diferenciação se usa os critérios de Light (DHL significa desidrogenase lática): Se um dos parâmetros der positivo já caracteriza exsudato: • Proteína pleural/sérica > 0,5 • DHL pleural/ sérica > 0,6 • DHL pleural > 2/3 do limite superior do valor de referência sérico para o método O derrame pleural de paciente fazendo uso de diuréticos por mais de 48 horas (principalmente pacientes com IC) podem assumir características de exsudato ao invés de transudato pelos critérios de Light. Assim, recomenda-se a utilização do gradiente de albumina. A albumina sérica menos a albumina pleural deve ser maior que 1,2g/dl para ser caracterizado como transudato. Na suspeita de transudato: coletar amostra de soro e liquido pleural para dosagem de DHL e proteína. Se o paciente utiliza diurético, acrescentar a dosagem de albumina. Na suspeita de exsudato, além da proteína e de DHL, a dosagem pleural de outros parâmetros auxilia no diagnóstico diferencial da etiologia como pH, glicose e contagem celular total e diferencial. Na suspeita de tuberculose, acrescentar dosagem pleural de adenosina deaminase (ADA). Analise de citologia oncótica é recomendada na suspeita de malignidade. Níveis elevados de amilase pleural ou relação entre amilase pleural e sérica maior que 1 podem indicar derrame pleural secundário a pancreatite aguda, pseudocisto de pâncreas, ruptura do esófago, malignidade e gravidez ectópica. Na suspeita de derrames infecciosos acrescentar bacterioscopia por Gram, pesquisa por fungos, baciloscopia para micobactérias e cultura para aeróbios, anaeróbios, fungos e BAAR. Se liquido pleural com aspecto leitoso e turvo, suspeitar de quilotórax. Dosar triglicerídeos, colesterol e quilomícrons. Indicam quilotórax quando triglicerídeos > 110 UI/l e presença de quilomícrons; valores elevados de colesterol pleural diagnosticam pseudoquilotórax. Na suspeita de urinotórax: creatinina pleural / sérica > que 1 confirma diagnóstico. No derrame de etiologia reumatoide, valores de fator reumatoide podem estar elevados no líquido pleural e no de etiologia lúpica pode apresentar elevação na titulação de anticorpos antinucleares (FAN). PARÂMETRO VALOR NO LP ALTERAÇÃO DOENÇA OBSERVAÇÃO Glicose 60 – 80 mg/dl < 60 ml/dl Tb, neoplasia, paragonimíase, sd de Churg- Strauss, hemotórax, pleurite lúpica. Quanto mais baixa a glicose pleural, maior a atividade inflamatória ou infecciosa local. 40 – 60 ml/dl Derrame parapneumônico1 não complicado. < 40 mg/dl Pleurite reumatoide, derrame parapneumônico complicado, empiema. DHL2 Igual ao valor sérico Até 1000 UI/L TB, derrame parapneumônico não complicado, pleurite reumatoide, neoplasia. O valor do DHL é tão mais elevado quando maior a inflamação pleural > 1000 UI/L Paragonomíase, derrame parapneumônico complicado, epiema, neoplasia avançada. pH Igual ao valor sérico < 7,2 Derrame parapneumônico complicado, ruptura do esôfago, pleutite reumatoide, paragonimíase, hemotórax, TB, pleurite lupíca, empiema, neoplasia, urinotórax. O pH arterial pode influenciar o valor do pleural. Valores baixos de pH estão associados a valores de p CO2pleural elevados. Amilase Igual ao valor sérico Maior que o sérico ou relação amilase pleural – sérica >1 Pancreatite aguda, pseudocisto do pâncreas, ruptura do esôfago, gravidez ectópica, neoplasia. Pseudocisto de oâncreas pode ter amilase > 100.000UI/L. Adenosina deaminase (ADA) 3 < 40 UI/L > 40 UI/L TB, linfoma, pleurite reumatoide, empiema. Na forte suspeita de TB, ADA confirma. Hemácias (totais) < 100 mm³ > 100.000 mm³ Trauma, neoplasia, embolia pulmonar, pós op, pleurite por asbesto etc. Acidente de punção pode aumentar hemácias. Leucócitos (totais) < 150 mm³ > 10.000 mm³ Derrame parapneumônico complicado, empiema. Dificilmente usado como parâmetro diagnóstico ou prognóstico. Neutrófilos Igual ao valor sérico > 75% Derrame parapneumônico complicado, empiema. Processo infl ou infec agudo. Eosinófilos Igual ao valor sérico > 10% Pneumotórax, hemotórax, infarto pulmonar, toracocentese prévia, pleurite por asbesto, drogas, doenças parasitárias e fúngicas. Ocorre pela entrada de ar ou sangue no espaço pleural; raro na TB e neoplasia. Basófilos Igual ao valor sérico > 10% Infiltração pleural na leucemia. Raro. Linfócitos Igual ao valor sérico > 50% TB, linfoma, pleurites crônicas. Inflm ou infec crônica. No exsudato linfocítico de origem indeterminada está indicada a biópsia pleural. 1 ocorre durante o curso clínico de uma pneumonia ou abcesso pulmonar 2 é a enzima de transferência de hidrogênio que catalisa a oxidação do L-lactato a piruvato com a mediação de NAD+. É fundamental no processo que resulta em energia para células. 3 enzima que participa do catabolismo de purinas e está relacionada à proliferação de linfócitos na reação celular, principalmente os linfócito T-helper. Punção – biopsia pleural transcutânea É feito por toracoscopia ou utilizando a agulha de Cope. No segundo, é feito com anestesia local, coleta-se pleura parietal. Esse procedimento é reservado quando não diagnóstico exato pelo líquido pleural e há suspeita de doença pleural como TB. Estudo por imagem Agressão local pode fazer a pleura reagir desenvolvendo derrame pleural, camada de fibrina, espessamento, neoplasias ou calcificações. O estudo das patologias usualmente se inicia com radiografia de tórax em algumas incidências, podendo ser complementado pela TC ou US que detectem pequenos derrames pleurais e avaliam melhor a densidade e distribuição do líquido na cavidade pleural. A RM é pouco empregada para estudo da cavidade pleural. O uso do US é recomendado para comprovação de lojas pleurais, estudo de empiemas e identificação de metástases pleurais. São mais frequentes, com aspecto radiológico tradicional em parábola (parábola de Damoiseau), e relaciona-se à presença de liquido inflamatório (exsudato) ou não inflamatório (transudato). Limites de derrames convexos, em vez de côncavos, sugerem complicações ou cronicidade deles. A presença de ar concomitante ao derrame já implica a apresentação de nível hidroaéreo, apresentando o limite superior do líquido não em parábola, mas como uma linha horizontal. Nessa situação, temos o chamado hidropneumotórax. Derrames de pequenas proporções apresenta-se como simples apagamento do seio costofrênico ou é confundido com espessamento pleural. A incidência em decúbito lateral (ipsilateral) ajuda na visualização. Em grandes derrames pleurais o hemitórax atingido apresenta os espaços intercostais alargados e seu perfil é mais convexo e distendido que o outro. No espessamento pleural ocorre aproximação dos espaços intercostais e tendem à retificação ou concavidade do perfil. Nos derrames volumoso o mediastino desvia-se para o outro hemitórax, enquanto nas atelectasias ou grandes fibroses ele é repuxado para o hemitórax comprometido. Derrame ex-vácuo ocorre quando há um derrame de grandes proporções associado a uma atelectasia significativa do mesmo lado, de modo que forças opostas de anulam e o mediastino permanece centralizado. Suspeitar de tumor broncogênico central. Em determinadas ocasiões a aparente elevação de uma hemicúpula diafragmática pode estar ligada à presença de derrame infrapulmonar, sem que se desenvolva a parábola tradicional. Nessa situação, o seio costofrênico é menos agudo que o contralateral; a incidência em perfil reforça tal suspeita. Se o derrame for à esquerda, percebe-se um aumento da distância entre o limite inferior do pulmão e a câmara de ar do estômago. Derrame pleural com elevação da hemicúpula diafragmática correspondente costuma ocorrer nas embolias pulmonares, derrames parapneumônicos, sempre acompanhados de comprometimento parenquimatoso justapleural. As cissuras são espaços virtuais que podem ser ocupadas por líquido inflamatório ou transudato, simulando aspectos pseudotumorais ou os chamados tumores fantasmas, que desaparecem com a reversão do processo causal. Situações que podem simular derrame pleural Os espessamentos pleurais apresentam-se como sombras em superfícies com mais de 10 mm de largura, regulares ou não, localizadas ou esparsas. Incidências com raios horizontais tendem a mostrar a fixação da imagem, enquanto US e TC descartam a presença de líquido, embora em derrames protraídos as duas situações possam ocorrer simultaneamente. Processos neoplásicos pleurais, com exceção do mesotelioma benigno, têm derrame pleural como uma complicação constante. Mesotelioma pleural maligno é tumor originado da superfície pleural geralmente ligado ao contato prévio com asbesto.
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