Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 CIRROSE HEPÁTICA − A cirrose hepática é definida histologicamente por fibrose hepática difusa, com substituição da arquitetura normal do parênquima hepático por nódulos regenerativos. − Várias etiologias estão relacionadas com o surgimento da cirrose, como infecções virais crônicas, esteato-hepatite alcoólica e não alcoólica (NASH), toxinas e doenças autoimunes sendo que todas elas confluem para doença hepática crônica (DHC). − Independente da causa, todas as etiologias culminam com a mesma via final de lesão hepática e estímulo a deposição de colágeno. − Estima-se que cerca de 40% dos pacientes com cirrose são assintomáticos. Porém quando os sintomas aparecem ocorre piora significativa do prognóstico da doença. − A principal consequência da cirrose é o surgimento de insuficiência hepatocelular e hipertensão portal. − Mesmo com a remoção do agente etiológico relacionado ao surgimento da cirrose, o processo cirrótico pode continuar progredindo, aumentando as complicações dessa doença. − A insuficiência hepática e o sangramento de varizes esofágicas, são as principais causas de morte relacionadas a cirrose hepática. − Além disso, basicamente o tratamento da cirrose visa retirar o insulto base que originou a cirrose e tratar os sintomas decorrentes do quadro de hipertensão portal. − Esse tratamento pode ser clínico, envolvendo medicamentos ou cirúrgico, como o transplante hepático. BASES ANATÔMICAS E FISIOLÓGICAS DO FÍGADO − O fígado é o único órgão em que há aporte sanguíneo (chegada para irrigação) de uma veia e uma artéria: veia porta e artéria hepática. − A veia porta é formada pela junção da veia mesentérica superior e veia esplênica. − Classicamente é dividido em lobos direito, esquerdo, caudado e quadrado. 2 − No entanto, do ponto de vista funcional, pode ser dividido de acordo com a segmentação hepática de Couinaud. − Nesse caso, o fígado é dividido em dois lobos pela cisura principal, também conhecida como linha de Cantlie. Cada lobo é dividido por uma cisura secundária em dois setores: paramediano e lateral. − O primeiro em contato com a cisura principal, e o segundo com a cisura secundária. Cada um destes setores divide-se em dois segmentos, um anterior e outro pos- terior. − Cada um dos segmentos recebe uma numeração de I a VIII, no sentido horário. Portanto, o fígado do ponto de vista anatomofuncional, fica dividido em oito segmentos. − O fígado tem o papel de manter homeostase metabólica do corpo que inclui a síntese de proteínas e destoxificação e excreção de produtos de eliminação. − Esse órgão possui grande reserva funcional, e possui a capacidade de se regenerar. Devido a esse poder de regeneração e a grande reserva funcional, muitas vezes o real impacto de uma doença que acomete o fígado não é evidenciado clinicamente. 3 − A unidade funcional do fígado são os lóbulos hepáticos, por onde passa o sangue proveniente da circulação porta e sistêmica. − Em cada lóbulo há uma tríade portal composta por ramos da artéria hepática, veia porta e ducto biliar. − Os ramos da artéria hepática terminam em sinusoides hepáticos que são capilares altamente fenestrados e desprovidos de membrana o que facilita a saída de moléculas do vaso. − Além disso, essa unidade funcional possui um espaço que fica entre o sinusoide e o hepatócito, chamado de Espaço de Disse. Nesse local fica as células estreladas ou células de Ito que no fígado normal tem a função de armazenar vitamina A, mas diante de lesões, são importantes na fisiopatologia da cirrose hepática. FISIOPATOLOGIA − Como dito anteriormente, existem várias causas que levam a lesão dos hepatócitos, como álcool, vírus e toxinas. − No fígado normal, só existe matriz extracelular (MEC) na capsula hepática e ao redor das veias centrais. − Na presença de fatores infamatórios, como espécies reativas de oxigênio, fatores de crescimento e citocinas, as células estreladas podem ser ativadas e transformadas em miofibroblastos que produzem MEC, sobretudo com colágenos tipos I e III. − Acredita-se que são as células de Kupffer ativadas (tipo de macrófago fígado), hepatócitos lesionados e células endoteliais sinusoidais que produzem esses fatores ativadores das células estreladas. − Além disso, células estreladas possuem a capacidade de se auto estimular através de citocinas e quimiocinas produzidas por ela mesma, como o fator de transformação do crescimento b (TGF-b). − Com a deposição de colágeno no espaço de Disse, ocorre a perda de fenestrações dos sinusoi- des, levando ao espessamento da membrana basal e ao surgimento de alta pressão sinudoidal, além de reduzir a troca natural de solutos por esses espaços. − Com o aumento da pressão intra-sinusoidal, ocorre o desenvolvimento de shunts vasculares entre veia porta-veia hepática e artéria hepática-veia porta. Isso gera uma pressão anormal dentro do fígado e contribui para a disfunção hepática e a hipertensão portal. − No decorrer da lesão hepática, ocorre síntese, deposição e reabsorção de componentes da MEC e com isso, é possível até a restauração da função hepática. 4 − No entanto, quando ocorre um remodelamento significativo e progressivo fígado perde sua capacidade regenerativa, levando a um quadro irreversível. − Com isso, os hepatócitos normais, são substituídos por nódulos parenquimatosos derivados de hepatócitos sobreviventes e de novos hepatócitos gerados, além de septos fibrosos ao redor dos nódulos. − O sangue que circula dentro dos sinusoides não consegue entrar em contato com os hepatócitos e ter seus componentes metabolizados de forma eficiente. − Macroscopicamente o fígado cirrótico possui um aspecto nodular e endurecido e em casos avançados, encontra-se atrófico. − Com isso, podemos resumir que a cirrose hepática é um processo resultante da deposição de matriz extracelular, morte dos hepatócitos e reorganização vascular e hepatocitária. 5 QUADRO CLÍNICO − Como dito anteriormente, a cirrose hepática pode ser assintomática. − Quando apresentam sintomas, estes podem ser inespecíficos. − De um modo geral, geralmente os sintomas da cirrose hepática estão relacionados as complicações associadas como hipertensão portal, insuficiência hepática e a causa de base que originou a cirrose. − Desse modo, podem surgir anorexia, perda de peso, fraqueza, icterícia, ascite, circulação colateral, edema de membros inferiores, diminuição da pressão ar- terial, teleangiectasias, ginecomastia e atrofia testicular nos homens, eritema palmar, baqueteamento digital, osteoartropatia hipertrófica, distrofia ungueal, flapping, entre outras. − Como dito, alguns sintomas podem ser específicos da síndrome clínica consequente da cirrose hepática. − Por exemplo, diante do desenvolvimento de hipertensão portal, sinais e sintomas como ascite, edema, hiperesplenismo, hemorroida e varizes esofá- gicas podem surgir. − Além disso, em estágios mais avançados da cirrose, quando ocorre insuficiência hepática, o paciente pode desenvolver icterícia, encefalopatia hepática, coagulopatia, hipoalbuminemia, desnutrição e até Síndromes hepatorrenal e hepatopulmonar. − Enquanto isso, diante do etilismo, podemos observar neuropatias periféricas, contraturas de Dupuytren (atrofia da fáscia palmar). − Quando a causa da cirrose é por Doença de Wilson, pode-se observar distúrbios neurológicos por envolvimento dos gânglios da base, como distúrbios de movimento, tremores, rigidez e coreia e o achado mais característico dessa doença que são os Anéis de Kayser-Fleisher que ocorre por deposição de cobre na membrana de Descemet do olho. − Na hemocromatose pode ocorrer pigmentação das áreas da pele expostas ao sol, adquirindo uma coloração cinza metálica, além de artropatia das pequenas articulações das mãos.− Além disso, a cirrose pode ser classificada em compensada ou descompensada, de acordo com sua manifestação clínica: − Compensada: ocorre na fase inicial da doença. Geralmente o paciente encontra-se assintomático ou apresenta sintomas inespecíficos como fadiga, perda de peso, fraqueza e anorexia. − Descompensada: paciente pode apresentar icterícia, prurido, ascite (manifestação mais comum de descompensação), edema de membros inferiores, diarreia, sangramento gastrointestinal (hematêmese, hematoquezia, melena), confusão mental, entre outros. DIAGNÓSTICO DA CIRROSE − O diagnóstico de certeza da cirrose hepática só pode ser dado histologicamente. No entanto, pode ser suspeitado com a combinação da anamnese, exame físico, exames laboratoriais e de imagem. ANAMNESE E EXAME FÍSICO − No caso da anamnese, alguns fatores de risco para doenças que levam a cirrose hepática podem ser questionados. 6 − Já no exame físico é possível encontrar os mais diversos sinais que já foram descritos no tópico acima. − Portanto, se suspeita do diagnóstico de cirrose diante de um paciente com hemorragia digestiva, ascite, hepato e/ou esplenomegalia, sinais de insu- ficiência hepática ou mesmo pacientes assintomáticos, mas com evidencia de alterações laboratoriais ou de imagem. EXAMES − Quanto aos exames laboratoriais, podemos solicitar testes de função hepática, testes de coagulação, he- mograma e testes sorológicos, como hepatites B e C. − Nos exames de imagem podemos encontrar alterações morfológicas, além de identificar hipertensão portal e Carcinoma hepatocelular (CHC). − Os exames mais utilizados são a Ultrassonografia de abdome (USG)****, USG com Doppler, tomografia computa- dorizada ou ressonância magnética. • Nesses exames podem ser identificado nódulos hepáticos, heterogeneidade do parênquima hepático, redução do fígado ou sinais de hipertensão portal. • A cirrose em estágios iniciais pode ter exames de imagem normais. Por isso, os exames só nos ajudam em estágios mais avançados e/ou diante da suspeita clínica. − Como dito acima, a biópsia hepática, apesar de ser o padrão ouro, não deve ser realizada de rotina. Esse procedimento, acarreta alguns riscos de morbimortalidade ao paciente, inclusive de sangramento. • Por isso, só deve ser realizada quando o diagnóstico não for estabelecido após avaliação clínica, laboratorial e imagiológica e quando há discordância entre a clínica e resultados de métodos não invasivos. COMPLICAÇÕES DA CIRROSE − As principais complicações da cirrose estão relacionadas com a redução da função hepática, hipertensão portal e aumento do risco de desenvolvimento de carcinoma hepatocelular, além de outras complicações resultantes. HIPERTENSÃO PORTAL − HIPERTENSÃO PORTAL: Essa complicação ocorre devido a formação de fibrose, nódulos e capilarização dos sinusoides, pela cirrose, resultando no aumento da resistência vascular. Além disso, outros fatores como alterações da função renal, alterações de sistemas neuro-humorais e anormalidades da microcirculação hepática estão associados. A Hipertensão portal é responsável pela maioria das suas complicações da cirrose, podendo levar a formação de varizes no esôfago, ascite e outras sintomatologias. INSUFICIENCIA HEPÁTICA − INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA: Com o evoluir da cirrose e da perda de hepatócitos funcionantes, algu- mas funções do fígado podem ficar comprometidas, gerando redução na formação de algumas proteínas, neutralização de toxinas e a destruição de bactérias e produtos bacterianos provenien- tes dos intestinos. − Com isso, pode surgir eritema palmar, telangiectasias, ginecomastia, atrofia testicular, desnutrição com perda de massa muscular, coagulopatia e maior predisposição a infecções decorrentes da redução dos hepatócitos funcionantes, com consequente redução na síntese de proteínas plasmáticas; distúrbio no 7 metabolismo de carboidratos e lipídios; alterações no catabolismo e biotransformação de aminoácidos, hormônios, drogas e xenobióticos e redução na neutralização e destruição de micro-organismos. − Além disso, pode ocorrer encefalopatia hepática, decorrentes da ação no sistema nervoso central de toxinas não adequadamente metabolizadas pelo fígado. ENCEFALOPATIA HEPÁTICA − ENCEFALOPATIA HEPÁTICA: A encefalopatia hepática é uma complicação neurológica que ocorre em pacientes portadores de disfunção hepática grave, está relacionada à falha de detoxificação de metabólitos, principalmente a amônia, provenientes do intestino, atribuídos à presença de insuficiência hepática e de shunts portossistêmicos. − É mais frequentemente desencadeada por hemorragia digestiva alta, infecções agudas, distúrbios hidro- eletrolíticos, grande ingestão de proteínas, deterioração da função hepática e após derivações cirúrgicas portossistêmicas. − Sua intensidade varia da forma clinicamente inaparente ou leve, até a forma aparente e clinicamente evidente. − Para evitar a encefalopatia hepática, podemos utilizar a lactulose 15 a 30mL, via oral, 2x/dia, ajustada para obter duas evacuações/dia. − OBS: sempre que o paciente tem um quadro de encefalopatia, deve-se usar antibioticoprofilaxia para PBE 8 PERITONITE BACTERIANA ESPONTÂNEA (PBE) − PERITONITE BACTERIANA ESPONTÂNEA (PBE): A peritonite bacteriana espontânea (PBE) é uma infecção frequente em pacientes com ascite, sobretudo de origem cirrótica. Estima-se que ela acometa cerca de 20% dos pacientes com ascite e hospitalizados. Acredita-se que um paciente imunodebilitado, com alterações da motilidade gástrica, associado ao supercrescimento bacteriano intestinal, tem maior risco de translocação bacteriana, que levam ao desenvolvimento da infecção peritoneal. − Caracteristicamente, a PBE é monobacteriana, sendo as bactérias aeróbicas Gram-negativas responsáveis por 60% dos casos (E. coli 30-47% e K. pneumoniae 10-15%) e 25% Gram-positivos (Streptococcus pneumoniae). − A mortalidade chega a 25% 9 DIAGNÓSTICO DE PBE − Para darmos o diagnóstico da PBE, é necessário termos em mente que a paracentese é o melhor método diagnóstico, devendo ser realizada em todos os pacientes com ascite. − Isso se deve ao fato de que com o líquido ascítico podemos fazer o estudo da citologia, bioquímica e microbiologiado material. − Na presença de infecção polimicrobiana deve-se suspeitar de peritonite bacteriana secundária. Como a cultura demora 48 h para revelar o resultado, o diagnóstico já pode ser considerado apenas pelo número de leucócitos. TRATAMENTO DE PBE − Para instituirmos o tratamento da PBE, temos que lembrar que existem diferença entre o tratamento da PBE adquirida na comunidade e a nosocomial. Quando adquirida na comunidade devemos cobrir, sobretudo cobrir os gram-negativos entéricos e Streptococus pneumoniae. Para isso, o antibiótico de escolha é o cefotaxime, com dose variando entre 4 a 6 g/dia, por 5 dias. − Nos casos em que o germe envolvido na PBE é de origem hospitalar, devemos iniciar o tratamento com carbapenêmicos, sendo este regime desescalonado o mais breve possível. Além disso, é recomendado o uso concomitante de albumina no tratamento da PBE, visto que estudos tem demonstrado redução dos níveis de citocinas inflamatórias no plasma e na ascite de pacientes com PBE em uso de albumina. − Por fim, a paracentese deve ser repetida, dentro de 48 horas após iniciado o tratamento antimicrobiano da PBE. Deve-se reavaliar o tratamento na ausência de queda mínima de 25% na contagem de PMN da ascite. Se a paracentese de controle apresentar PMN < 250/mm3 e manutenção dos sintomas, deve- se procurar outros focos de infecção. No entanto, se houver aumento do valor de PMN, está indicado realizar TC de abdome com contraste para avaliar a presença de abscessos ou perfuração de vísceras ocas. − PREVENÇÃO DA PBE: Nos pacientesque possuem alto risco de desenvolver PBE, como nos quadros de sangramento digestivo ou com proteínas totais na ascite <1,5g/L, é recomendado a realização de profilaxia para reduzir o risco de um novo quadro de PBE. • Nos pacientes estáveis, pode-se usar VO norfloxacin ou ciprofloxacin. • Já aqueles pacientes com hemorragia digestiva, instáveis ou Child Pugg C, está indicado o uso de ceftriaxone intravenoso. 10 SÍNDROME HEPATORRENAL − Síndrome hepatorrenal: Essa doença é definida como o surgimento de insuficiência renal em pa- cientes com doença hepática, sem que haja evidências clínicas, laboratoriais ou anatômicas de causa conhecida que justifique o seu desenvolvimento. Essa síndrome ocorre devido a uma constrição intensa da vasculatura cortical renal devido à alterações hemodinâmicas em pacientes com hipertensão portal, resultando em oligúria e retenção de sódio. Pode ser de 2 tipos, a síndrome hepatorrenal tipo 1 que se caracteriza-se por rápida e progressiva insuficiência renal com concentração de creatinina 2 vezes maior que a inicial em menos de duas semanas. Já a tipo 2, tem moderada insuficiência renal e seu curso é lentamente progressivo. CARCINOMA HEPATOCELULAR (CHC) − Carcinoma hepatocelular (CHC): O CHC é o tumor maligno primário mais comum do fígado. E possui associação com doenças hepáticas, como hepatite B e C e cirrose. Apesar disso, a relação entre o CHC e a cirrose não é obrigatória, ocorrendo CHC sem cirrose e cirrose sem CHC. Além disso, o carcinoma hepatocelular pode ser identificado por exames de imagem. Por isso, a USG é utilizada no rastreamento semestral de CHC em pacientes sabidamente cirróticos, juntamente com a dosagem sérica da alfafetoproteína. HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA (HDA) 1. HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA (HDA): A HDA é um sangramento que se origina de um ponto localizado entre a boca e o ângulo de Treitz, podendo se manifestar como hematêmese, vômitos, melena e enterorragia. A HDA por hipertensão portal pode ser decorrente de sangramento por varizes esofágicas, gástricas e ectópicas e gastropatia da HP. A HDA está associada à alta mortalidade e pode precipitar outras complicações da cirrose hepática, como encefalopatia hepática, infecções, lesão renal aguda (AKI) e síndrome hepatorrenal. Todos os doentes com cirrose hepática devem efetuar endoscopia digestiva alta (EDA) a cada 2 anos se tiver cirrose compensada e sem varizes e anualmente na cirrose compensada, mas com varizes pequenas. Pessoas com cirrose compensada sem varizes ou com varizes pequenas que evoluem para cirrose descompensada deverão repetir EDA na descompensação. 11 TRATAMENTO − O tratamento da cirrose hepática visa tratar ou suspender a causa base que originou a doença, realizar o manejo adequado das complicações, impedir a descompensação da doença e melhorar a qualidade de vida do paciente. − Sendo assim, é fundamental o rastreamento de varizes (para evitar hemorragia varicosa) e do carcinoma hepatocelular (para que o tratamento seja realizado no estágio inicial do tumor). − Dessa forma, mais recentemente tem se usado e estudado medicações que poderiam ser capazes de parar ou reduzir o surgimento de fibrose hepática. Um exemplo dessas medicações é a colchicina. Esse medicamento atua melhorando a bioquímica hepática. − Além dessas, outras drogas como propiltiouracil e interferon tem sido estudadas. Além disso, em relação as varizes pode-se fazer uso de Betabloqueadores que atuam reduzindo a pressão portal e, por isso, diminuem o risco de desenvolvimento de varizes, hemorragia varicosa e ascite. − Para prevenir a PBE, pode-se lançar mão do uso de antibioticoterapia empírica com • cefotaxima 2g, de 12/12 horas, via intravenosa ou • ceftriaxona 1 a 2g, de 24/24 horas, via intravenosa ou • ácido amoxicilina-clavulanato 1g, de 8/8 horas, via intravenosa. − Nos casos de ascite, além da paracentese de alivio quando há grande acumulo de líquido, podemos usar os diuréticos como furosemida e/ou espironolactona nos casos em que a perda de peso for inadequada ou se houver desenvolvimento de hipercalemia. − Ademais, pacientes cirróticos tendem a ser desnutridos, por isso é essencial uma abordagem nutricional eficaz, assim como a correção de deficiência de vitaminas. 12 − Como a cirrose é até então considerada como uma doença irreversível, o transplante hepático é o único tratamento definitivo para isso é necessário que o paciente preencham os critérios para transplante. − Em alguns pacientes com hipertensão portal e candidatos ao transplante hepático, pode-se realizar a anastomose portocava intra-hepática por via radiológica (TIPS). Esse procedimento, reduz a hipertensão portal e com isso diminui o risco de algumas complicações da cirrose, como a ruptura de varizes esofágicas (o TIPS não é um tratamento definitivo, é apenas uma “ponte” para realização do transplante hepático). PROGNÓSTICO − O prognóstico da cirrose hepática depende de vários fatores, como a etiologia, a gravidade da doença, presença de comorbidades e complicações. − Por exemplo, a taxa de sobrevida em 10 anos de pacientes com a doença compensada é de aproximadamente 90%, enquanto a taxa dos pacientes descompensados é de 50%. CHILD-PUG − Para estimar o prognóstico de pacientes com cirrose, existem vários modelos que podem ser empregados, sendo os mais utilizados a classificação de Child-Pugh (CCP) e de MELD. − A classificação de CCP utiliza parâmetros clínicos e laboratoriais para estratificar a gravidade da doença, o risco cirúrgico e o prognóstico geral. − Os elementos utilizados são albumina, bilirrubina, tempo de protrombina, ascite e encefalopatia. Para cada um desses elementos existe uma pontuação, sendo que a somatória desses pontos indica a gravidade da doença: Grau A: Baixo risco (pontuação de 5 ou 6 pontos). Grau B: Risco moderado (pontuação de 7 a 9 pontos). Grau C: Alto risco (pontuação de 10 a 15 pontos). − A sobrevida estimada em um ano com base neste sistema é de aproximadamente 100% para Child A, 80% para Child B e 45% para Child C. − Ao contrário da CCP, que apresenta três categorias de gravidade, o MELD varia em uma escala contínua entre 6 e 40, o que representa uma estimativa de sobrevida em 3 meses de 90 e 7%, respectivamente. − O MELD é baseado na avaliação dos níveis de bilirrubinas, creatinina e INR (Internacional Normalized Ratio) e tem sido adotado para alocação dos pacientes na fila de transplante hepático. 13 ASCITE DEFINIÇÃO − A ascite é definida como o acúmulo de líquido de origem patológica na cavidade abdominal, podendo se manifestar de forma aguda ou crônica. − Existem várias doenças que cursam com ascite, como neoplasias, doenças cardíacas, infecciosas e hepáticas. É muito comum pacientes com doenças hepáticas desenvolverem ascite • Sendo assim, a ascite não é uma doença, mas sim uma manifestação de uma patologia. • A principal etiologia da ascite é a hipertensão portal, principalmente decorrente da cirrose hepática. − Acredita-se que cerca de 60% dos pacientes com cirrose hepática, cursem com ascite em algum momento da doença. EXAME FISICO − Achados do exame físico, como manobras semiológicas também ajudam fortemente no diagnóstico de ascite. As principais manobras semiológicas para fazer em um paciente com ascite é Piparote e Macicez móvel DIAGNÓSTICO − O diagnóstico pode ser clínico, a partir da visualização de grande volume no abdome, ou a partir de exames de imagens que mostrem liquido acumulado no abdome − Para o estabelecimento do diagnóstico diferencial da ascite, a análise do gradiente de albumina soro-ascite tem um papel importante no esclarecimento etiológico. − Além disso, na avaliação diagnóstica da ascite, a paracentese é o principal método utilizado, independentemente da sua etiologia. • Aparacentese também pode ter a função de alívio nos pacientes muito sintomáticos devido a distensão abdominal provocada pelo acumulo de líquido. • Através desse método é possível verificar a quantidade de polimorfo nucleares existentes no líquido ascítico e com isso fornece o diagnóstico de peritonite bacteriana espontânea (PBE). TRATAMENTO-ASCITE − O tratamento da ascite envolve compensação da causa base, associada a redução do volume do líquido ascítico. • Por exemplo, em casos de ascite por tuberculose peritoneal, a ascite só será tratada com o tratamento da tuberculose. O mesmo serve para neoplasias. Assim, para reduzir a ascite, deve- se tratar o que esta causando ela 14 ASCITE EM CIRRÓTICOS − Para o tratamento da ascite dos cirróticos, recomenda-se repouso e restrição de sal na dieta. A restrição de sódio mais utilizada é a de 88 meq/dia (cerca de 2 gramas de sal), incluindo a soma do sal de todos os alimentos, líquidos e medicações. − Também se deve fazer restrição do consumo de proteínas e uso de diuréticos − Não se deve fazer paracenteses seriadas. Isso porque ao drenar o liquido ascítico, a chance do paciente acumular líquidos novamente e formar outra ascite é muito grande. Assim, paracenteses seguidas não beneficiam o paciente, pois elas só servem para o alívio e não tratam a causa • Em casos de necessidade, como no desconforto respiratório por ascite volumosa, pode-se realizar a paracentese de alívio. • Sempre que for retirado acima de 5 litros de líquido ascítico, devemos repor albumina na proporção de 8 a 10 gramas de albumina para cada litro de ascite, para evitar complicações. CLASSIFICAÇÃO DA ASCITE PARACENTESE ABDOMINAL DEFINIÇÃO − A paracentese consiste em um procedimento minimamente invasivo, realizado à beira do leito, nesses pacientes com diagnóstico de ascite. É realizado uma punção abdominal para aspiração do líquido que está presente na cavidade peritoneal. Ela pode ser feita como diagnóstico de alguma doença ou terapêutico. 15 INDICAÇÃO − É indicado para pacientes internados ou ambulatoriais que apresentem ascite ao exame físico, de início recente ou de causa indeterminada. Por outro lado, quando realizado para fins de terapêutica, é indicado para quem é portador de ascites volumosas e de repetição . CONTRAINDICAÇÕES − A paracentese possui contraindicações absolutas (em que não devemos fazer o procedimento de maneira alguma) e contraindicações relativas (situações em que, dependendo do risco e do benefício, podemos fazer o procedimento, mas ainda não é indicado). • As contraindicações absolutas são hematomas no local da punção, se o paciente apresentar sinais de coagulopatia, além de sinais de infecção no local da punção. • Já as contraindicações relativas são gravidez (pelo risco de perfurar o saco gestacional), bexiga neurogênica/bexigoma (também pelo risco de perfuração), aderências, cicatrizes no local decorrente de cirurgias prévias e visceromegalias. MATERIAL − O Importante antes de qualquer procedimento é saber os materiais que você vai utilizar. O ideal é coloca- los em uma bandeja grande, antes de realizar a sua antissepsia e a do paciente. Para a paracentese iremos precisar de: – - Gorro – Capote – Máscara – Luvas estéreis, de acordo com o tamanho das suas mãos – Campo fenestrado – Gaze estéril – Clorexidina degermante e clorexidina alcóolica – Lidocaína a 1% – Jelco 14 ou 16G – Agulhas (preta e rosa) – Equipo, caso seja uma paracentese de alívio – Frascos para mandar o líquido colhido para análise laboratorial – Seringas de 20 ml (ou 10 ml) e 5 ml – Adesivo estéril (esparadrapo ou micropore, dependendo do serviço) – Sistema coletor fechado PROCEDIMENTO ONDE? − Como saber aonde puncionar? Devemos traçar uma linha imaginária no paciente, que vai da espinha ilíaca anterossuperior até a cicatriz umbilical. Feito isso, vamos dividir essa linha em 3 terços iguais, e a punção será realizada na junção do terço médio com o terço inferior. O lado mais seguro é o esquerdo, porém nas grandes ascites e/ou quando guiado por ultrassom é seguro fazer do lado direito ou até em outros sítios. − Dois outros locais possíveis para a paracentese estão localizados cerca de 5 cm superior e medial à espinha ilíaca anterossuperior em ambos os lados. − Em pacientes com ascite moderada, a localização precisa do líquido ascítico deve ser feita com o ultrassom. 16 COMO? − Após esvaziar a bexiga, o paciente se deita no leito com a cabeça elevada em 45 a 90°. − Colocar o paciente em decúbito lateral com o local em que se planeja fazer a inserção para baixo também promove a migração e flutuação dos circuitos cheio de ar do intestino para cima e para longe do ponto de entrada. − Nesse momento irei realizar a antissepsia do meu paciente, primeiramente com clorexidine degermante e depois com clorexidine alcoolica, sempre esperando secar antes de entrar com a agulha − Por meio de técnica estéril, a área é anestesiada até o peritônio com lidocaína a 1%. • A primeira “picadinha” que o paciente vai sentir é a da anestesia. Fazemos com lidocaína a 1%. Para aspirar a lidocaína do frasco utilizamos a agulha preta. Depois de aspirar, trocamos para a agulha rosa, que é a agulha que vai entrar no paciente. Com o bisel voltado para cima, iremos introduzir a agulha perpendicularmente, aspirando para ver se houve a perfuração de algum vaso, e depois injetando a solução anestésica, não se esquecendo de fazer um pequeno botão anestésico na pele ao final. Esperamos em torno de 10 segundos, que é o tempo de deixar o equipo preparado. − Com tudo pronto, iremos finalmente introduzir o jelco. Dessa vez o paciente não sentirá dor pois o caminho a percorrer pela agulha já está anestesiado. Introduzimos o jelco também com o bisel voltado para cima e perpendicular, no mesmo orifício em que a agulha da anestesia entrou − Entramos com o jelco aspirando e introduzindo lentamente a agulha até notarmos a presença de líquido ascítico refluindo na seringa. Quando isso acontecer, podemos parar de introduzir a agulha, pois já chegamos na cavidade peritoneal do paciente, então iremos retirar a agulha com cautela e introduzir somente o cateter até o final. Assim que retirarmos a agulha, o líquido irá começar a esguichar do cateter, por isso, enquanto não conectamos o equipo, é recomendado que coloquemos o dedo para não fazer uma bagunça generalizada na maca do paciente. Após o equipo estar conectado e as amostras do líquido para o laboratório estiverem colhidas, devemos fixar o cateter na pele do paciente, para ficar bem preso • A primeira seringa retirada para o laboratório será para analise bioquímica • A segunda será para cultura • A terceira será para bacterioscopia, gram e celularidade − Depois de realizada a coleta para laboratório, pode-se realizar a paracentese terapêutica (grande volume), em que conecta-se uma cânula de calibre 14 a um sistema de aspiração a vácuo, a fim de se coletar até 8 L de líquido ascítico. • Recomenda-se a infusão concomitante de albumina IV durante a paracentese de grande volume (acima de 5L) para ajudar a evitar uma alteração significativa no volume intravascular e a hipotensão pós-procedimento. • Hemorragia é a complicação mais comum da paracentese. Ocasionalmente, na ascite tensa, pode ocorrer vazamento prolongado de líquido ascítico através do orifício de punção. 17 Referências: resumo do sanar flix + livro de cirurgia do Sabiston
Compartilhar