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Avaliação Psicológica 945a Avaliação psicológica: contextos de atuação, teoria e modos de fazer / organizado por Sabrina Martins Barroso, Fabio Scorsolini- Comin e Elizabeth do Nascimento. – Novo Hamburgo : Sinopsys, 2019. 16x23 ; 320p. ISBN 978-85-9501-117-5 1. Avaliação psicológica. I. Barroso, Sabrina Martins. II. Scorsolini-Comin, Fabio. III. Nascimento, Elizabeth do. IV. Título. CDU 159.9 Catalogação na publicação: Mônica Ballejo Canto – CRB 10/1023 Sabrina Martins Barroso Fabio Scorsolini-Comin Elizabeth do Nascimento Organizadores Avaliação Psicológica contextos de atuação, teoria e modos de fazer 2019 © Sinopsys Editora e Sistemas Eireli, 2019 Avaliação psicológica: contextos de atuação, teoria e modos de fazer Sabrina Martins Barroso, Fabio Scorsolini-Comin e Elizabeth do Nascimento (Organizadores) Capa: Fabiana Franck Imagem da capa: Shutterstock Assistente editorial: Jade Arbo Supervisão editorial: Mônica Ballejo Canto Editoração: Formato Artes Gráfi cas Todos os direitos reservados à Sinopsys Editora Fone: (51) 3066-3690 E-mail: atendimento@sinopsyseditora.com.br Site: www.sinopsyseditora.com.br Autores Sabrina Martins Barroso (Org.) – Psicóloga pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e doutora em Saúde Pública (UFMG). Professora Adjunta da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFTM. Coordenadora/Líder do grupo de Pesquisa Núcleo de Avaliação Psicológica e Investigações em Saúde (NAPIS-CNPq). Fabio Scorsolini-Comin (Org.) – Psicólogo, mestre e doutor em Psicologia pela Faculdade de Filosofi a, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, com pós-doutorado em Tratamento e Prevenção Psicológica pela mesma instituição. Professor do Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas e do Programa de Pós-graduação em Enfermagem Psiquiátrica da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Coordenador do ORÍ USP – Laboratório de Pesquisa em Psicologia, Saúde e Sociedade. Coordenador do Centro de Psicologia da Saúde da EERP-USP. Elizabeth do Nascimento (Org.) – Psicóloga pela Universidade Federal de Mi- nas Gerais (UFMG), mestrado em Psicologia pela UFMG, doutorado em Psi- cologia pela Universidade de Brasília (2000). Professora associada da UFMG. Integrante do Laboratório de Avaliação e Intervenção em Saúde (LAVIS). vi Autores Alexsandro de Andrade – Psicólogo e mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina, doutor em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo, com pós-doutorado pela University of Hawaii. Professor do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo. Ana Carolina Braz – Psicóloga, mestra e doutora em Psicologia pela Universidade Federal de São Carlos, com doutorado sanduíche e pós-doutorado pela Universidade do Porto. Colaboradora do Programa de Mestrado em Psicologia Forense da Uni- versidade Tuiuti do Paraná. Andrea Kotzian Pereira – Psicóloga e mestra em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Especialista em Psicoterapia Psicanalítica de Crianças e Adolescentes pelo CEAPIA. Codiretora administrativa, professora e coordenadora do Setor de Adoção do CEAPIA. Cláudia Sampaio Correa da Silva – Psicóloga, mestra e doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com doutorado sanduíche pela Universidade de Lisboa. Psicóloga do Núcleo de Apoio ao Estudante da UFRGS e do Serviço de Orientação Profi ssional da UFRGS. Érika Arantes de Oliveira-Cardoso – Psicóloga, mestre e doutora em Psicologia pela Faculdade de Filosofi a, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP). Psicóloga do Departamento de Psicologia da FFCLRP-USP. Professora do Programa de Pós-graduação em Psicologia da FFCLRP-USP. Fábio Camilo da Silva – Psicólogo pela Universidade Guarulhos, mestre em Psicologia pela Universidade São Francisco e doutorando em Psicologia da Saúde pela Universidade Metodista. Professor em cursos de especialização em Psicologia do Trânsito e Avaliação Psicológica. Autor do Teste de Atenção Seletiva (TAS), da Escala de Avaliação do Bullying Escolar (EAB-E) e coautor do Teste de Inteligência Verbal (TIV). Gerente de Educação da Vetor Editora. Fernanda Kimie Tavares Mishima-Gomes – Psicóloga, Mestre e Doutora em Psico- logia pela Faculdade de Filosofi a, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP). Psicóloga do Departamento de Psicologia da FFCLRP- -USP. Coordenadora do Serviço de Triagem e Atendimento Infantil e Familiar do Centro de Psicologia Aplicada da FFCLRP-USP. Autores vii João Carlos Alchieri – Doutor em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Diretor Institucional da Associação Brasileira de Psicologia do Tráfego (ABRAPSIT) e Presidente da Associação Brasileira de Psicologia Jurídica (ABPJ 2017-2019). Juliane Callegaro Borsa – Psicóloga, mestre em Psicologia Clínica pela Pontifícia Un- iversidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), doutora pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Experiência de estágio de doutorado no Grupo di Ricerca P.A.T. Psicometria Assessment e Testistica (Università di Bologna, Itália). Pro- fessora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Líder do Grupo de Pesquisa em Avaliação Psicológica APlab – Pessoas & Contextos. Coordenadora do Laboratório de Avaliação Psicológica de Crianças e Adolescentes (LAPcriad). Manoel Antônio dos Santos – Psicólogo, mestre e doutor em Psicologia Clínica pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IP-USP). Professor Titular da Faculdade de Filosofi a, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP) e do Programa de Pós-graduação em Psicologia da FFCLRP- USP. Membro da Comissão de Assessoramento do CNPq, Membro da Comissão de Avaliação Quadrienal da CAPES. Coordenador da equipe de Psicologia/Psico- -Oncologia do Núcleo de Ensino, Pesquisa e Reabilitação de Mastectomizadas (REMA-EERP-USP) e do Serviço de Psicologia do Grupo de Assistência em Transtornos Alimentares (GRATA-FMRP-USP). Coordenador do Grupo de Ação e Pesquisa em Diversidade Sexual e de Gênero – VIDEVERSO, da FFCLRP-USP. Manuela Ramos Caldas Lins – Psicóloga pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), doutora em Psicologia pela Universidade de Brasília (UnB). Fundadora e coordenadora do Núcleo de Estudos em Avaliação Psicológica (NEAPsi). Marcelo Augusto Resende – Psicólogo, mestre e doutor em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e coordenador do curso de pós-graduação em Avaliação e Diagnóstico Psicológico (PUC-MG). Marco Antônio Pereira Teixeira – Psicólogo, mestre e doutor em Psicologia pe- la Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professor do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde coordena o Núcleo de Apoio ao Estudante e o Serviço de Orientação Profi ssional. Maria Lucia Tiellet Nunes (in memorian) – Psicóloga pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), mestre em Psicologia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e doutora em Psicologia Tratamento e Prevenção pela Freie Universität Berlin. Professora da PUC-RS. Vice-presidente da Associação Brasileira de Rorschach e Métodos Projetivos. Mariana Silva Cecílio – Psicóloga e mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Membro do GIPA – Grupo InterinstitucionalPró- -Adoção – e coordenadora nas Ofi cinas Preparatórias para Pretendentes à Adoção do município de Uberaba-MG. Professora da Universidade de Uberaba (UNIUBE). Marianna Carla Maia Dantas de Lucena – Psicóloga pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), mestre em Psicologia pela UFRN, doutoranda em Ciências da Saúde pela UFRN. Priscilla de Oliveira Martins-Silva – Psicóloga, mestre e doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo. Professora do Departamento de Administração e dos Programas de Pós-graduação em Administração e Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo. Sérgio Eduardo Silva de Oliveira – Psicólogo pela UNILAVRAS, mestre e doutor em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com estágio na University of Minnesota. Professor do Departamento de Psicologia Clínica da Universidade de Brasília e pesquisador do Grupo de Estudo, Aplicação e Pesquisa em Avaliação Psicológica (GEAPAP-UFRGS). Sonia Regina Pasian – Psicóloga pela Universidade de São Paulo, mestre em Filosofi a (Epistemologia da Psicologia e da Psicanálise) pela Universidade Federal de São Carlos, doutora em Ciências (Saúde Mental) pela Universidade de São Paulo e Livre- -Docência pela Universidade de São Paulo. Professora Associada da Universidade de São Paulo no Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofi a, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, campus Ribeirão Preto. Coordenadora do Centro de Pesquisas em Psicodiagnóstico. Valeria Barbieri – Psicóloga pela Faculdade de Filosofi a, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP), mestre e doutora em Psicologia Clínica pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IP-USP). Realizou pós-doutorado na Universidade Paris Diderot – Paris 7. Livre Docente em Psicodiagnóstico pela USP. Professora do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-graduação em Psicologia da FFCLRP-USP. viii Autores Autores ix Vanessa Barbosa Romera Leme – Psicóloga e mestra em Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo, com pós-doutorado pela Universidade Federal de São Carlos e estágio na Universidade do Porto. Professora do Instituto de Psicologia e do Programa de Pós-graduação em Psicologia Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Desenvolvimento Humano e Relações Interpessoais (NuDERI). Vivian de Medeiros Lago – Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Pelotas e psicóloga pela Universidade Católica de Pelotas. Mestre e doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com estágio na Universidade de Portsmouth, Reino Unido. Coordenador do curso de Psicologia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos e pesquisadora do Grupo de Estudo, Aplicação e Pesquisa em Avaliação Psicológica da UFRGS (GEAPAP). Prefácio ............................................................................................. 13 Sonia Regina Pasian 1 Técnicas de entrevista e suas aplicações em avaliação psicológica clínica ................................................. 19 Sérgio Eduardo Silva de Oliveira 2 U lização de métodos proje vos na avaliação psicológica ....... 41 Fernanda Kimie Tavares Mishima-Gomes Valeria Barbieri 3 Técnicas de observação em avaliação psicológica clínica .......... 69 Sérgio Eduardo Silva de Oliveira 4 Avaliação da agressividade na infância ...................................... 91 Juliane Callegaro Borsa Manuela Ramos Caldas Lins 5 Avaliação psicológica aplicada ao contexto da adoção ............. 119 Andrea Kotzian Pereira Maria Lucia Tiellet Nunes Mariana Silva Cecílio Fabio Scorsolini-Comin Sumário 6 Avaliação psicológica no contexto judiciário cível ..................... 141 Vivian de Medeiros Lago 7 Avaliação psicológica no contexto dos transtornos alimentares ... 165 Érika Arantes de Oliveira-Cardoso Manoel Antônio dos Santos 8 Avaliação psicológica em cirurgia bariátrica .............................. 187 Marianna Carla Maia Dantas de Lucena João Carlos Alchieri 9 Avaliação psicológica para concessão do porte de arma de fogo .......................................................................... 209 Marcelo Augusto Resende Elizabeth do Nascimento 10 Avaliação psicológica no contexto do aconselhamento de carreira ....................................................... 225 Marco Antônio Pereira Teixeira Cláudia Sampaio Correa da Silva 11 Avaliação psicológica aplicada à seleção de pessoas ................ 249 Alexsandro de Andrade Priscilla de Oliveira MarƟ ns-Silva Fábio Camilo da Silva 12 Avaliação em habilidades sociais ............................................... 273 Vanessa Barbosa Romera Leme Ana Carolina Braz 13 Laudo: a formalização do processo de avaliação psicológica .... 293 Sabrina MarƟ ns Barroso Elizabeth do Nascimento Anexos disponíveis em www.sinopsyseditora.com.br/formavps xii Sumário User Retângulo A alegria proporcionada pelo convite para elaborar o prefácio deste livro soma-se a responsabilidade de apresentá-lo de forma com- patível à qualidade de seu conteúdo. A iniciativa dos organizadores vem em bom tempo, para tratar de questões teóricas e práticas da ava- liação psicológica em diferentes contextos, como aponta o próprio tí- tulo da obra, a qual é recheada de dilemas do cotidiano profi ssional. Há que se valorizar muito positivamente a organização desse conhecimento no campo da avaliação psicológica, pois, aos olhos de muitos, trata-se da área a qual todo titulado em psicologia pode exercer. Mas, aos que labutam no cotidiano, onde a psicologia é so- licitada a responder questões complexas e, no geral, envoltas em di- lemas, vem a preocupação e clara percepção de que nem todo profi s- sional de psicologia possui segurança e adequada competência técni- ca nos processos de avaliação psicológica. O livro busca preencher essa lacuna, vem auxiliar alunos e profi ssionais a se atualizarem e a se fundamentarem em práticas de avaliação psicológica consistentes e cientifi camente embasadas, que darão o devido suporte para en- frentar a complexidade dos contextos onde a psicologia é solicitada. Assim, nossas ações profi ssionais poderão ter a positiva consequên- cia social por todos tão almejada. Prefácio Sonia Regina Pasian 14 Prefácio Postos esses princípios, o livro nos convida, no Capítulo 1, a caminhar por diferentes terrenos com os quais a avaliação psicológica tem a contribuir. Inicia-se nas questões relativas aos procedimentos de entrevista, abordando questões clássicas e embasando possibilidades de uso desse instrumento na prática profi ssional, altamente relevante para os mais variados contextos de trabalho do psicólogo, com o devi- do destaque para a atuação clínica. Defi nições operacionais para fun- ções psicológicas a serem examinadas durante entrevista, bem como os processos psicológicos nela envolvidos, são descritos de forma didá- tica e clara, ofertando recursos técnicos para o iniciante e para o pro- fi ssional de psicologia em seu contexto de estudo/trabalho. O Capítulo 2 envolve-nos nas possibilidades de contribuição científi ca dos métodos projetivos de avaliação psicológica. Há um convite a rememorar a história dos instrumentos de exame da psicolo- gia, reconstruindo a defi nição de metodologia projetiva e a exemplifi - cando em sua diversidade técnica. Esse capítulo ainda nos oferece de- talhada ilustração clínica de caso de avaliação psicológica infantil, onde é minuciosamente explorada a riqueza advinda da entrevista, do Desenho da Figura Humana (DFH) e do Teste de Apercepção Infan- til/Figuras de Animais (CAT-A). No contexto da avaliação clínica, o Capítulo 3 é primoroso em abordar as técnicas de observação como recursos para a prática no campo da avaliação psicológica. Muitos profissionais ou estudantes deixam de trei- nar nos procedimentos observacionais, incorrendo em falhas técnicas des- necessárias, muitas vezes ingênuas. Observar exige treinamento e formação qualifi cada para ser recurso profi ssional. Não é pura intuição ou olhadela sobre a realidade. O capítulo aborda exatamente esse conteúdo e ilustra as implicações práticas possíveis de serem obtidas com adequada observação clínica, oferecendo-nos, inclusive, quadros ilustrativos de variáveis a serem focalizadas e sistematizadas nos processos observacionais, convidando-nos a fundamentar nossas práticas profi ssionais em psicologia. Favorece a cien- tifi cidade de nossas ações no campo do psicodiagnóstico. O Capítulo 4 aborda a temática da agressividade no contexto do desenvolvimento infantil. Defi ne o construto no campo da psico- Avaliação Psicológica: contextos de atuação, teoria e modos de fazer 15 logia e nos convida a pensar nos procedimentos técnicos disponíveis para sua avaliação em crianças. São listados vários instrumentos psico- lógicos, expondo suas principais características técnicas, além de apre- sentar refl exões sobre o uso das técnicas gráfi cas (em especial o Dese- nho de Figura Humana) para essa fi nalidade, atrelada a entrevista de anamnese e entrevista lúdica. O capítulo encerra-se com caso ilustrati- vo dessas questões, deixando vir à tona não só as bases teóricas, mas a forma como se processa no cotidiano essa avaliação da agressividade na história de uma criança. No campo da adoção, a avaliação psicológica tem suscitado vá- rios questionamentos. Essa realidade é abordada no Capítulo 5. Os autores apresentam elementos históricos e técnicos para embasar a prática do psicólogo nesse campo, ilustrando as diferentes perspectivas pelas quais um profi ssional pode ser chamado para atuar com crianças e suas famílias, caracterizando a diversifi cada demanda existente. Apresentam, por fi m, exemplo clínico de processo psicodiagnóstico de uma criança cujos pais buscaram o profi ssional para “conhecer o fi - lho”. A riqueza das informações clínicas e refl exões derivadas desse processo psicodiagnóstico certifi ca a complexidade do campo e nos convida ao aprimoramento e responsabilidade profi ssional, compatí- vel com os avanços técnico-científi cos da psicologia. No capítulo seguinte, o livro volta-se aos processos de avaliação psicológica realizados no contexto judiciário. A autora aponta a diversi- dade de demandas nele embutidas, utilizando o termo “avaliação foren- se”, explanando seus objetivos, possíveis estratégias técnicas e derivações profi ssionais aí implicadas, chamando-nos a refl etir sobre a seriedade dos posicionamentos do psicólogo nesse campo, seja como perito ou como assistente técnico. Há riqueza de detalhamentos técnicos para a boa condução dos processos de avaliação psicológica nesse contexto, in- cluindo orientações relativas aos documentos produzidos, apaziguando dúvidas frequentes no contexto forense. Esse capítulo traz a exemplifi - cação de perícia psicológica judicial (disputa de guarda). O Capítulo 7 aborda a avaliação psicológica no contexto dos transtornos alimentares, caracterizando-os teoricamente e oferecendo 16 Prefácio recursos para a compreensão dos mesmos, em especial da anorexia e bulimia nervosas. Em acréscimo apresentam dados empíricos obtidos com 27 avaliações psicodiagnósticas realizadas com casos de transtor- nos alimentares em tratamento, examinados por meio do método de Rorschach e pelo teste de Pfi ster, abordando seu funcionamento lógi- co e afetivo, além da adaptação social. O tema da avaliação psicológica em casos de cirurgia bariátrica é assunto do Capítulo 8. Os autores contextualizam o tema da obesi- dade e seus possíveis tratamentos, chegando ao processo de avaliação psicológica nos casos em que a cirurgia bariátrica constitua a indica- ção terapêutica da equipe multidisciplinar. Elementos teóricos e técni- cos dessa avaliação são tratados de forma clara, de modo a embasar o psicólogo em sua atuação nesse campo, chegando a apresentar uma listagem dos instrumentos mais recorrentes e seus principais achados, apontando a contribuição dos métodos projetivos, inclusive para in- tervenções futuras com os casos. Na sequência, o Capítulo 9 focaliza os processos de avaliação psicológica para concessão de porte de arma de fogo, de natureza obrigatória (avaliação compulsória). Os autores apontam os cuidados técnicos necessários para o trabalho nessa área, fortemente regulamen- tada, bem como ilustram caminhos possíveis para o profi ssional de psicologia. Sabiamente o capítulo ainda nos convida a pensar sobre os desafi os inerentes nesse campo. Ilustra o processo com um estudo de caso, enriquecedor para embasar as ações nessa área. Já no Capítulo 10 tem-se o tema do aconselhamento de carreira e seu vínculo com a avaliação psicológica. Há um importante históri- co da área logo no início do texto, apontando os paradigmas envolvi- dos nesse contexto e seus derivados nos processos de avaliação psico- lógica. Chegam a oferecer instrumentos úteis para esses processos na tentativa de facilitar a atuação do psicólogo, concluindo o capítulo com detalhado estudo de caso. Dimensões históricas e conceitos técnicos da avaliação psicoló- gica no campo da seleção de pessoas constituem o tema do Capítulo 11. Os autores caminham de modo a oferecer condições para o profi s- Avaliação Psicológica: contextos de atuação, teoria e modos de fazer 17 sional se inserir nessa área de forma competente e cuidadosa, respei- tando princípios éticos. Ao fi nal são apresentados exemplos práticos, bastante úteis ao psicólogo que atuar nesse contexto. O penúltimo capítulo aborda a avaliação psicológica de habili- dades sociais, apresentando o histórico do campo, seus principais con- ceitos e sua interlocução com a perspectiva bioecológica do desenvol- vimento. Por fi m, exemplifi cam os princípios abordados num proces- so de treinamento de habilidades sociais com idosos, permitindo-nos acompanhar a avaliação psicológica realizada a partir dessa perspectiva teórico-metodológica da psicologia, envolvendo necessidades dos ido- sos e treinamento da equipe de trabalho. Para encerrar, tem-se o Capítulo 13, voltado ao laudo enquanto formalização fi nal do processo de avaliação psicológica. Esse texto vem preencher séria lacuna no Brasil, pois oferece informações preciosas so- bre os princípios, as diretrizes e os passos necessários para elaboração do laudo, resultado da avaliação psicológica. As autoras partem de casos re- ais, ilustrando erros e acertos desses processos, de modo a nos ofertar ri- quíssimo material para estudo e refl exão profi ssional, estimulando nosso aprimoramento técnico-científi co no campo. A análise cuidadosa do conjunto dos capítulos organizados nes- te volume nos leva a testemunhar sua atualidade e importância para o campo da avaliação psicológica no Brasil, ofertando relevante conhe- cimento para o aprimoramento da área. Por ter percorrido esse cami- nho de leitura atenta do material, encontro-me fortalecida em princí- pios teóricos, exemplos práticos e didáticos nos variados contextos de aplicação da avaliação psicológica. Resta-me, portanto, concluir este prefácio convidando-os, enfaticamente, para também realizarem a mes- ma cuidadosa análise deste conjunto de capítulos, compondo um todo superior à somatória de suas unidades, como classicamente apren- demos na psicologia. Parabenizo os organizadores pela obra e desejo a todos uma profícua leitura! No trabalho de avaliação psicológica, o profi ssional pode lançar mão de uma ampla gama de técnicas para a coleta de informações, a sa- ber: entrevistas, observação direta do comportamento, dinâmicas, testes psicológicos, tarefas experimentais, técnicas projetivas e expressivas, role- -playing, entre outras. O recomendado é que o profi ssional utilize dife- rentes técnicas para a coleta e validação de informações para que o estu- do psicológicoda pessoa em avaliação resulte em um quadro que repre- sente fi dedignamente seu real e atual funcionamento. A abordagem multimétodo de coleta de dados possibilita a triangulação de informa- ções, de modo que o psicólogo tenha disponível uma variedade de da- dos que fundamentarão suas decisões ao fi nal do processo. Na avaliação psicológica, tanto os aspectos verbais quanto os não verbais são de igual importância para o entendimento do funcionamen- to psicológico da pessoa que está sendo avaliada. O conteúdo das narra- tivas possibilita que o psicólogo levante diferentes tipos de informações, tais quais: autopercepções, valências afetivas atribuídas às experiências, formas de representações dos outros, memórias de fatos e eventos de vida, entre outras. Para além do conteúdo narrativo, as expressões com- portamentais, as atitudes e as condutas das pessoas são também fontes ricas de informações. O psicólogo pode identifi car incongruências entre Técnicas de entrevista e suas aplicações em avaliação psicológica clínica Sérgio Eduardo Silva de Oliveira 1 20 Técnicas de entrevista e suas aplicações em avaliação psicológica clínica o conteúdo narrado e o comportamento expresso acerca de uma per- cepção, assim como observar reações comportamentais durante o pro- cesso avaliativo que indicam estados emocionais (p. ex.: constante fric- ção das mãos, balançar das pernas e respiração ofegante como indicati- vos de ansiedade; tom de fala monotonal, empobrecida expressão emo- cional e olhar baixo como sinais de humor disfórico, etc.). Para fi ns deste capítulo, serão abordadas algumas técnicas de con- dução de entrevista que podem ser empregadas na avaliação psicológica no contexto clínico. O objetivo aqui é instrumentalizar tecnicamente o psicólogo para a condução de entrevistas no psicodiagnóstico, aumen- tando a qualidade de sua prática profi ssional. Sabe-se que diferentes contextos de atuação, como o escolar, hospitalar, forense, organizacio- nal, entre outros, demandam posturas e condutas diferenciadas. Contu- do, reconhece-se que existem aspectos e técnicas de entrevista que são compartilhados entre os diferentes contextos de atuação. TIPOS DE ENTREVISTAS A entrevista é a principal ferramenta do psicólogo para a prática da avaliação psicológica no contexto clínico (Tavares, 2007a). Por meio dela, o profi ssional pode acessar o mundo interno do paciente1, suas representações, crenças, visões de si, do outro e de mundo, suas experiências, etc. Para tanto, é importante que o clínico2 conheça e domine técnicas de condução de entrevistas. A literatura psicológica é rica em materiais que auxiliam nisso. Os dois principais manuais de avaliação psicológica do país, Psicodiagnóstico – V (Cunha, 2007) e Psicodiagnóstico, da coleção Avaliação Psicológica (Hutz, Bandeira, Trentini, & Krug, 2016), possuem capítulos voltados especifi camente 1 Diferentes abordagens psicológicas denominam as pessoas que estão em avaliação psicológica no contexto clínico como pacientes. Existem abordagens que preferem nomear essas pessoas como clientes, examinandos, avaliandos, entre outros. Neste capítulo, a palavra paciente refere-se à pessoa que está sendo atendida em um processo de avaliação psicológica. 2 No contexto de atuação clínica, o profi ssional da Psicologia também é usualmente denomi- nado como clínico. Dessa forma, esse termo (clínico) refere-se, neste capítulo, ao psicólogo que atua com avaliação psicológica no contexto clínico. Avaliação psicológica: contextos de atuação, teoria e modos de fazer 21 para a prática de entrevistas. Dessa forma, não se pretende aqui, neste capítulo, rever o que a literatura brasileira já apresenta sobre o tema, mas sim apresentar algumas técnicas de comunicação verbal. Contudo, antes de apresentar as técnicas comunicativas pro- priamente ditas, faz-se importante delimitar os tipos de entrevistas que o psicólogo pode conduzir em um psicodiagnóstico. Os tipos de entrevista podem ser classifi cados de acordo com seus aspectos formais (Tavares, 2007b): de livre estruturação, semiestruturada e estruturada. A principal diferença entre essas formas de entrevista encontra-se no protagonismo dos agentes: a forma de livre estruturação implica maior protagonismo do entrevistado, a semiestruturada compreende uma diretividade compartilhada e, na estruturada, o entrevistador assume um papel mais diretivo. O tipo de livre estruturação permite que o paciente protagonize a entrevista falando dos temas e assuntos que lhe vier à mente. Esse tipo de entrevista é melhor representado pela técnica psicanalítica de associação livre (para mais detalhes recomenda-se a leitura de Celes, 2005; Macedo & Falcão, 2005; Priszkulnik, 1998). Contudo, obvia- mente, outras abordagens psicológicas podem valer-se dessa modali- dade de entrevista, variando a técnica de condução e análise. No psi- codiagnóstico3 esse tipo de entrevista não é comumente usado devido ao limite de tempo que o processo tem. Contudo, também não há nenhuma contraindicação do uso dessa técnica no psicodiagnóstico. A entrevista semiestruturada, por sua vez, permite essa troca de protagonismo entre o profi ssional e o paciente. O clínico geralmente tem um roteiro com pontos previamente estabelecidos para serem es- clarecidos, mas sua sequência não é fi xa e permite que o paciente in- clua novos assuntos e produza em seu ritmo. O tipo de entrevista se- miestruturada mais comum na prática da avaliação psicológica é a en- trevista de anamnese (para detalhes recomenda-se a leitura de Silva & Bandeira, 2016). Nesta modalidade, o psicólogo busca investigar as- pectos desenvolvimentais, de saúde, de contexto, intra e interpessoais 3 O termo psicodiagnóstico é historicamente colocado como sinônimo de avaliação psicológi- ca no contexto clínico (Krug, Trentini, & Bandeira, 2016). 22 Técnicas de entrevista e suas aplicações em avaliação psicológica clínica que são relevantes para explicar ou para relacionar com o estado psi- cológico atual da pessoa em avaliação. Finalmente, as entrevistas estruturadas se caracterizam pelo pro- tagonismo do profi ssional, o qual possui um roteiro fi xo a ser seguido e geralmente deve ter critérios claros e objetivos de codifi cação das respostas dos pacientes. As principais representantes dessa modalidade de entrevista são as Entrevistas clínicas estruturadas para o Manual diagnóstico e estatístico dos transtornos mentais – DSM (Tavares, 2007a). Neste caso específi co é recomendado que o psicólogo tenha um pro- fundo conhecimento de psicopatologia, de acordo com o sistema de classifi cação do DSM (American Psychiatric Association, 2014). Du- rante esse tipo de entrevista, o psicólogo verifi ca, por meio de pergun- tas e provas (perguntas complementares que comprovem o sintoma), se um determinado sintoma está presente ou não, assim como o nível de atenção clínica do sintoma presente. Esse tipo de entrevista au- menta a fi dedignidade das conclusões, uma vez que a forma estrutura- da e os critérios objetivos uniformizam a entrevista, aumentando a concordância entre avaliadores. Todos esses três tipos de entrevistas podem ser aplicados com pessoas de qualquer fase do ciclo vital, desde que tenham condições cognitivas para isso. Além disso, elas também podem ser aplicadas com outros informantes com o intuito de validar informações ou co- letar novos dados (para entrevista com outros informantes, recomen- da-se a leitura de Giacomoni & Bandeira, 2016). Note-se, aqui, que a entrevista de livre estruturação não é proveitosa nesses casos, uma vez que o foco dessas entrevistas é a própria pessoa e, na entrevista com outros informantes, o foco é a pessoa a ser avaliada e não o entrevista- do. Finalmente, quando se trata de entrevista com crianças, técnicas específi cas usando brinquedos ou outros materiais lúdicos são reco- mendadas (para detalhes, recomenda-se a leitura de Krug, Bandeira, & Trentini, 2016; Werlang, 2007). Avaliação psicológica:contextos de atuação, teoria e modos de fazer 23 TÉCNICAS COMUNICATIVAS Feitas as devidas delimitações acerca dos tipos de entrevistas, vale agora apresentar algumas técnicas de comunicação verbal que podem auxiliar na condução das entrevistas. García-Soriano e Roncero (2012) sumarizaram uma série de técnicas de comunicação verbal, as quais fo- ram agrupadas em dois blocos: (1) não diretivas (com as técnicas de pa- ráfrases, refl exo das emoções, clarifi cação, resumo, autorrevelação e ur- gência); e (2) diretivas (com as técnicas de indagação, interpretação, en- quadre, confrontação, afi rmação de capacidade, informações e instru- ções). Entretanto, para o presente capítulo, foi feita uma atualização dos agrupamentos em: (1) técnicas não diretivas; (2) técnicas semidiretivas; e (3) técnicas diretivas. As técnicas não diretivas, ou de escuta, compreendem inter- venções verbais que sinalizam uma escuta ativa. A utilização dessas técnicas favorece o estabelecimento de uma relação positiva entre o entrevistado e o avaliador e elas são consideradas não diretivas por serem apenas um feedback do avaliador para o entrevistado acerca do entendimento da mensagem (García-Soriano & Ronce- ro, 2012). Esse grupo de técnicas serve para fortalecer o vínculo entre o entrevistador e o entrevistando e para encorajar o paciente a seguir com sua produção narrativa. Neste momento, recomendo que o leitor observe as informações referentes às quatro técnicas de comunicação verbal não diretivas, na Tabela 1.1, antes de retomar a leitura do próximo parágrafo. Após a leitura das técnicas descritas na Tabela 1.1 o leitor é ca- paz de perceber que essas quatro técnicas têm em comum o objetivo de mostrar para a pessoa que está sendo entrevistada que ela é ouvida e compreendida. Essa postura pode favorecer a produção verbal do paciente de forma colateral. Uma vez que a pessoa percebe que ela está de fato sendo ouvida e que há um interesse no que ela está dizen- do, espera-se que ela melhore a sua produção narrativa. Além disso, essas técnicas têm um caráter organizador, isto é, elas buscam devolver ao paciente suas falas de forma resumida e organizada. 24 Técnicas de entrevista e suas aplicações em avaliação psicológica clínica Ta be la 1 .1 S ín te se d as té cn ic as n ão d ire Ɵ v as d e co m un ic aç ão v er ba l Té cn ic a D es cr iç ão O bj e v os Re co m en da çõ es Ex em pl os Pa rá fr as es Re pe Ɵ r , c om s ua s pr óp ri as p al av ra s, o co nt eú do c og ni Ɵ v o da m en sa ge m q ue o E ac ab ou d e di ze r. – Tr an sm iƟ r a o E o si gn ifi ca do c en tr al d a m en sa ge m . – Fa ci lit ar a o rg an iz aç ão e e xp re ss ão d o pe ns am en to d o E. – Fo ca r no c on te úd o co gn iƟ vo d a m en sa ge m . – Fa ci lit ar a c om pr ee ns ão d o A e po ss ib ili ta r a co m pr ov aç ão d o E so br e o qu e fo i e nt en di do . – In tr od uz a al gu m as p al av ra s- ch av e do en tr ev is ta do (c om m od er aç ão – p ar a nã o pa re ce r um “ pa pa ga io ”) . – Se ja b re ve e e xa to . – N un ca m od ifi qu e ou a di ci on e in fo rm aç õe s. E: “ Fo i q ua nd o eu fu i t ra ns fe rid o pa ra c á. E u es ta va a co st um ad o co m o r itm o da m in ha ci da de e a go ra e st ou te nd o qu e m e vi ra r co m o fr en es i d es sa c id ad e” . A : “ Pa re ce q ue e ss a m ud an ça fo rç ou v oc ê a se ad ap ta r a u m n ov o ri tm o de v id a” . Re fl e xo En fa Ɵ z ar a s em oç õe s ex pl ic ita m en te ex pr es sa da s na m en sa ge m q ue o E ac ab ou d e di ze r. – Co m un ic ar a o E qu e as e m oç õe s fo ra m en te nd id as a de qu ad am en te . – Fa ci lit ar o e nt en di m en to e e xp re ss ão em oc io na l d o E. – N ão u se d em as ia da m en te a té cn ic a de re fl e xo p ar a nã o in du zi r o E. – Co nh eç a ad je Ɵ v os e m oc io na is p ar a us ar o m ai s ad eq ua do . E: “ D es de e nt ão e u te nh o Ɵ d o di fi c ul da de s pa ra d or m ir, m e al im en ta r.. . P ar ec e qu e nã o co ns ig o m e de sl ig ar e re la xa r” . A : “ Es sa a da pt aç ão te m d ei xa do v oc ê um ta nt o an si os o” . Re su m o Si nt eƟ z ar o s pr in ci pa is as pe ct os c og ni Ɵ v os e em oc io na is d e um a co m un ic aç ão . – D em on st ra r ao E q ue e le te m s id o en te nd id o. – Li ga r e o rg an iz ar o s as pe ct os tr at ad os n a en tr ev is ta . – Re la ci on ar o s te m as -c ha ve d a en tr ev is ta . – Id en Ɵ fi c ar te m as c om un s na s di fe re nt es m en sa ge ns . – Fa ci lit ar a tr an si çã o en tr e te m as . – D im in ui r a in te ns id ad e em oc io na l d o E. – Va lo riz ar o p ro gr es so . – O r es um o po de s er fe ito n o in íc io da e nt re vi st a (r es um in do a s es sã o an te ri or ), du ra nt e a en tr ev is ta (p ar a fe ch ar u m a pa rt e) , o u no fi na l; – In cl ua o E p ar a in cr em en ta r a ex aƟ d ão . A : “ Em n os so ú lƟ m o en co nt ro v oc ê m e co nt ou de s ua tr an sf er ên ci a pa ra e ss a ci da de e q ue to da s es sa s m ud an ça s es ta va m lh e de ix an do um p ou co a ns io so . E st ou c er to ?” Cl ar ifi ca çã o Pe di r qu e o E es cl ar eç a as pe ct os o s qu ai s o A nã o es tá s eg ur o de te r co m pr ee nd id o ad eq ua da m en te . – Es cl ar ec er a s ca ra ct er ís Ɵ c as p re ci sa s da m en sa ge m . – Id en Ɵ fi c ar o p ro bl em a im pr ec is o. – Em pr eg ue a té cn ic a so m en te s e a in fo rm aç ão c on fu sa fo r i m po rt an te . – Av al ie s e é pr ef er ív el e sc la re ce r a in fo rm aç ão n o m om en to o u se e la p od er á se r es cl ar ec id a es po nt an ea m en te n o de co rr er d a en tr ev is ta . A : “ Eu n ão c on se gu i o uv ir d ir ei to , v oc ê po de ri a re pe Ɵ r ?” A : “ Se e nt en di d ire ito , a tr an sf er ên ci a so m en te o co rr eu p or c au sa d a tr oc a da co or de na çã o do s et or , e st ou c er to ?” A : “ A tr an sf er ên ci a fo i d ev id a à tr oc a da co or de na çã o ou p or c au sa d a qu ed a na pr od uç ão ? N ot a: E = e xa m in an do ; A = a va lia do r. A s in fo rm aç õe s de st a ta be la s ão b as ea da s (a da pt aç õe s e tr ad uç õe s liv re s) n a ob ra d e G ar cí a- So ri an o e Ro nc er o (2 01 2, p . 1 11 -1 15 ). Avaliação psicológica: contextos de atuação, teoria e modos de fazer 25 As duas primeiras técnicas descritas, a saber, a paráfrase e o re- fl exo, são formas de organizar os aspectos ideacionais e afetivos do pa- ciente, respectivamente. Enquanto a primeira propõe uma organiza- ção das ideias e das narrativas, a segunda busca signifi car as experiên- cias emocionais. Essas técnicas podem favorecer o insight e a organiza- ção interna do paciente. A técnica do resumo tem uma função de continuidade. Por meio dela, o profi ssional mostra à pessoa o que foi compreendido até um dado momento, sinalizando que ela pode continuar de onde pa- rou. Essa técnica podetambém ser aplicada solicitando que a própria pessoa faça um resumo do que aconteceu (García-Soriano & Ronce- ro, 2012). Nesse caso, o psicólogo pode dizer algo como: “Como você resumiria os aspectos mais importantes que conversamos até agora?” A aplicação dessa técnica permite, além de outras coisas, que o clínico observe quais aspectos do assunto são mais relevantes para o paciente. Além disso, o psicólogo pode avaliar a capacidade de síntese e de or- ganização do pensamento da pessoa que está em avaliação. Finalmente, a técnica de clarifi cação é bastante útil na avaliação psicológica e ela busca sanar imprecisões e confusões. Essa técnica pode ser aplicada de diferentes formas, como, por exemplo, quando o psicólogo não entende uma informação que foi dita ou quando deseja comprovar que entendeu uma informação corretamente (García-So- riano & Roncero, 2012). Neste caso, o psicólogo pode pedir ao pa- ciente que clarifi que essas incertezas. Na avaliação psicológica, é im- portante que o clínico esteja certo de que compreendeu corretamente a mensagem de seu paciente. Contudo, a técnica de clarifi cação deve ser empregada somente nos casos em que o tema em questão tem re- levância para o caso. De outra maneira, o uso constante de clarifi ca- ções pode alongar a entrevista. Como salientam García-Soriano e Roncero (2012), não há um consenso quanto à classifi cação das técnicas de autorrevelação e urgên- cia; há quem as considere como não diretivas e há quem as considere diretivas. As autoras as classifi caram como não diretivas, entretanto, para este capítulo, elas foram classifi cadas como semidiretivas. Esta é 26 Técnicas de entrevista e suas aplicações em avaliação psicológica clínica uma nova categoria, a qual foi formulada haja vista que essas duas téc- nicas tendem a exercer certo efeito de direcionamento no entrevistado, ainda que não de forma explícita. Esse potencial de diretividade foi a razão para a elaboração dessa nova categoria. Note que essas duas técni- cas implicam na introdução da fi gura e experiências do avaliador e elas atuam na relação profi ssional-paciente. A Tabela 1.2 apresenta tais téc- nicas. Recomenda-se que o leitor faça a leitura dessa tabela e depois re- torne a leitura para o próximo parágrafo. O leitor deve ter observado que as duas técnicas semidiretivas, a sa- ber, a autorrevelação e a urgência, têm em comum a emergência de ques- tões referentes à relação entre o clínico e o paciente. A primeira (autorre- velação) deve ser usada com muita cautela e com pouca frequência. Algu- mas pessoas precisam, e às vezes demandam abertamente, que o psicólogo conte algo de si para se sentirem mais confi antes e confortáveis para con- tarem suas experiências íntimas. Não existe uma receita de quando o psi- cólogo deve usar essa técnica. Não é porque o paciente demanda, implíci- ta ou explicitamente, que o psicólogo conte algo de si, que o mesmo deve assim o fazer. O psicólogo deve estar atento ao ritmo de produção da pes- soa na avaliação, ao grau de cooperação dela, aos afetos manifestados, às condutas e atitudes expressas e à qualidade do vínculo estabelecido. A ideia do uso dessa técnica é fortalecer a relação para que o paciente se sin- ta mais confortável para continuar produzindo, isto é, relatando suas ex- periências, medos, vergonhas, ansiedades, sintomas, etc. Chama-se a aten- ção para que o psicólogo não use essa técnica para sanar necessidades pes- soais (como, por exemplo, um desabafo). A segunda técnica (urgência) refere-se à exposição de questões problemáticas da relação no momento em que ocorrem. A ideia é des- velar o que não foi dito, mas foi percebido; é trazer às claras atuações ou situações subentendidas que podem interferir na produção e no processo psicodiagnóstico. Essa é uma técnica que também deve ser usada com cautela, devido ao risco de respostas indesejáveis dos pa- cientes. Contudo, a abstenção de seu uso também pode ser bastante prejudicial, pois pode dar a impressão de que temas importantes são evitados (García-Soriano & Roncero, 2012). Avaliação psicológica: contextos de atuação, teoria e modos de fazer 27 Ta be la 1 .2 S ín te se d as té cn ic as s em id ir eƟ v as d e co m un ic aç ão v er ba l Té cn ic a D es cr iç ão O bj e v os Re co m en da çõ es Ex em pl os Au to rr ev el aç ão - R ev el ar in fo rm aç õe s de m og rá fi c as p es so ai s ou ex pe ri ên ci as p es so ai s. – Pr om ov er o v ín cu lo c om o E . – A um en ta r a e m pa Ɵ a p ar a qu e o E se s in ta c om pr ee nd id o. – Fa ci lit ar a a ut or re ve la çã o do E . – Co m pa rƟ lh ar in fo rm aç ão . – Su ge ri r q ue h á al go c om um en tr e A e E. – U se s om en te s e ne ce ss ár io , p oi s es ta té cn ic a é po uc o re co m en da da . – Es te ja c er to d e qu e se u us o es tá aj ud an do n a re la çã o co m o E e nã o se rv in do à s su as p ró pr ia s ne ce ss id ad es . E: “A á re a on de fi ca a e m pr es a aq ui é ex tr em am en te c on fu sa e é s em pr e um e st re ss e ch eg ar lá . A h! V ou p ar ar de fa la r i ss o, p or qu e vo cê v ai fi ca r pe ns an do q ue e u so u um c ha to !” A : “ D iv er sa s ve ze s qu e eu p re ci se i fa ze r al go n aq ue la re gi ão , e u Ɵ v e di fi c ul da de s de m e lo co m ov er , p oi s a ci rc ul aç ão d e pe ss oa s ne ss a ár ea é re al m en te a lta ”. U rg ên ci a - D es cr ev er o q ue e st á ac on te ce nd o em u m d ad o m om en to a re sp ei to d a re la çã o en tr e A e E . – D is cu Ɵ r e xp lic ita m en te a lg o qu e o A s en te s ob re s i m es m o, so br e o E ou s ob re a re la çã o qu e nã o te nh a si do e xp re ss ad o de fo rm a di re ta . – Fo rn ec er u m fe ed ba ck s ob re um m om en to c on cr et o da en tr ev is ta . – A ux ili ar a a ut oe xp re ss ão d o E. – Li m ite -s e a de sc re ve r o qu e oc or re no e xa to m om en to (a qu i e a go ra ). – Pr op or ci on e um a de ci sã o se m ju lg ar a si tu aç ão . – A ss um a a re sp on sa bi lid ad e do e nu nc ia do (“ eu m e si nt o in co m od ad o co m is so ”, ao in vé s de “v oc ê es tá m e de ix an do in co m od ad o co m is so ”) . – Av al ie s e o E es tá p re pa ra do p ar a en fr en ta r a in te rv en çã o e se é o m om en to a de qu ad o. A : “ Si nt o m ui to , e st ou te nd o di fi c ul da de s de c on ce nt ra r- m e, po de m os v ol ta r s ob re e ss a id ei a de no vo ?” (f oc o no A ). A : “ O a m bi en te p ar ec e te ns o ho je , pa re ce q ue h oj e es tá m ai s di İ c il tr ab al ha r” (f oc o na re la çã o) . N ot a: E = e xa m in an do ; A = a va lia do r. A s i nf or m aç õe s d es ta ta be la sã o ba se ad as (a da pt aç õe s e tr ad uç õe s l iv re s) n a ob ra d e G ar cí a- So ria no e R on ce ro (2 01 2, p . 1 15 -1 17 ) 28 Técnicas de entrevista e suas aplicações em avaliação psicológica clínica Vale notar que o uso dessa técnica deve desvelar questões no momento em que elas ocorrem. Isto é, não deve se esperar o mo- mento passar, não a empregue ao fi nal da sessão, como, por exem- plo, dizendo: “eu fi quei incomodado com seu tom de voz naquela hora em que você se queixou da nossa última sessão”. Ou mesmo dizendo: “eu tenho fi cado incomodado com sua postura de reclama- ção das sessões”. O recomendadoé utilizar essa técnica no momento em que a questão problema ocorre e sempre identifi cando o respon- sável pelo enunciado. No exemplo, isso poderia ser: “eu me sinto um pouco incomodado frente a essa sua queixa”. Note que, nesse exemplo, o psicólogo assume a responsabilidade pelo afeto negativo que está experimentando. Ele diz: “eu me sinto um pouco incomo- dado frente a essa sua queixa” ao invés de “você está me deixando incomodado com essa sua queixa”. O clínico deve ter em mente que essa técnica serve para que o paciente refl ita e tenha insights sobre a forma como a relação está acontecendo no aqui e agora, e não so- mente para expressar as próprias insatisfações. Por fi m, as técnicas diretivas ou de infl uência são caracterizadas por intervenções verbais que o avaliador faz para infl uenciar direta- mente o comportamento do entrevistado. Elas são mais complexas que as técnicas de escuta, uma vez que seu emprego pode gerar, por exemplo, respostas de resistência. O uso dessas técnicas é indicado quando um rapport está bem estabelecido e quando o entrevistado oferece sinais de receptividade a estes tipos de intervenções verbais (García-Soriano & Roncero, 2012). As sete técnicas diretivas têm em comum o objetivo de infl uenciar o comportamento e/ou percepção do paciente. Note que algumas técnicas, tais quais a interpretação e o enquadre, são mais comuns em entrevistas de psicoterapia, contudo, elas podem ser perfeitamente aplicadas à avaliação psicológica. Seus valores no psicodiagnóstico estão em possibilitar a avaliação da reação e do grau de adaptação e insight dos pacientes após suas administra- ções. Leia na Tabela 1. 3 os tipos de técnicas diretivas e depois retorne à leitura do próximo parágrafo. Avaliação psicológica: contextos de atuação, teoria e modos de fazer 29 Ta be la 1 .3 S ín te se d as té cn ic as d ire Ɵ v as d e co m un ic aç ão v er ba l Té cn ic a D es cr iç ão O bj et iv os R ec om en da çõ es Ex em pl os In da ga çã o – In da ga r s ob re o en tre vi st ad o. – D ua s fo rm as : 1) P er gu nt as a be rta s: Fo rm ul ar p er gu nt as cu ja s re sp os ta s re fl i ta m as id ei as d o E. 2) P er gu nt as fe ch ad as : Fo rm ul ar p er gu nt as cu ja s re sp os ta s in fo rm em a lg o co nc re ta m en te . 1) P er gu nt as a be rta s: – In ic ia r a e nt re vi st a. – C on vi da r o E a fa la r. – In ce nt iv ar o E a g er ar in fo rm aç õe s. – In ce nt iv ar o E a d es cr ev er se us c om po rta m en to s, se nt im en to s e pe ns am en to s. 2) P er gu nt as fe ch ad as : – Es tre ita r a á re a de d is cu ss ão . – O bt er in fo rm aç õe s es pe cí fi c as . – Es cl ar ec er a sp ec to s co nc re to s. – Ev ite c on ve rte r p er gu nt as a be rta s em fe ch ad as . – U se p er gu nt as a be rta s pa ra e nt en de r o fu nc io na m en to d o E . – U se p er gu nt as fe ch ad as p ar a ob te r in fo rm aç õe s es pe cí fi c as . – C ui de p ar a qu e a pe rg un ta n ão re su lte e m re sp os ta lo ng a. – N ão p er gu nt e po r c ur io si da de . – N ão fa ça p er gu nt as c uj os o bj et iv os nã o es te ja m c la ro s pa ra v oc ê. – Ev ite p er gu nt as q ue c om ec em co m “p or q uê ?” , p oi s po de m g er ar re sp os ta s de fe ns iv as (“ Po r q ue n ão ?” ). – D ê te m po p ar a o E pe ns ar . – Ev ite fa ze r v ár ia s pe rg un ta s de u m a ve z. – N ão fo rm ul e pe rg un ta s em s en tid o ne ga tiv o (“N ão te m b eb id o m ui to , ce rto ?” ). – N ão fa ça p er gu nt as d up la s (“ Vo cê te m a lte ra çõ es n o so no o u ap et ite ?” ). – Fa ça p er gu nt as c ur ta s pa ra e vi ta r co nf un di r o E . 1) P er gu nt as a be rta s: A: “Q ua l o m ot iv o qu e te tr ou xe a qu i ho je ?” A: “Q ua l s ua e xp er iê nc ia c om e ss e tip o de a tiv id ad e? ” A: “E m q ua is s itu aç õe s vo cê ge ra lm en te s e se nt e de ss a fo rm a? ” A: “O q ue v oc ê no rm al m en te fa z qu an do is so a co nt ec e? ” 2) P er gu nt as fe ch ad as : A: “Q ua nd o is so a co nt ec eu ?” A: “V oc ê te m e xp er iê nc ia c om e ss e tip o de a tiv id ad e? ” A: “O nd e vo cê e st av a du ra nt e es se ep is ód io ?” A: “C om q ue m v oc ê di sc ut iu ?” In te rp re ta çã o – P ro po rc io na r u m a ex pl ic aç ão a lte rn at iv a ao p ro bl em a ou pr eo cu pa çã o do E c om ba se n as o bs er va çõ es do A a ce rc a da s co nd ut as , p ad rõ es , de se jo s e se nt im en to s im pl íc ito s do E . – M el ho ra r a re la çã o po si tiv a, re fo rç an do a a ut or re ve la çã o do E e a c re di bi lid ad e do A . – Id en tifi c ar p ad rõ es e nt re a s m en sa ge ns e c on du ta s do E . – To rn ar e xp líc ita s as m en sa ge ns im pl íc ita s do E . – N ão fa ça in te rp re ta çõ es a bs ol ut as , m as te nt at iv as , i nc lu in do u m a cl ar ifi ca çã o no fi na l, pa ra s e as se gu ra r q ue e la e st á co rr et a e ev ita r r ea çõ es d e re si st ên ci a. E: “T em s id o ba st an te d ifí ci l l id ar c om tu do is so . N ov a ci da de , n ov a eq ui pe d e tra ba lh o, n ov as a tiv id ad es , n ov a ca sa . At é ho je n ão c on si go a cr ed ita r q ue fu i t ra ns fe rid o. M in ha v id a an te s er a um a m ar av ilh a. A go ra e st ou te nd o qu e co m eç ar tu do d e no vo e a pr en de r t ud o no va m en te ”. co nƟ n ua 30 Técnicas de entrevista e suas aplicações em avaliação psicológica clínica Ta be la 1 .3 S ín te se d as té cn ic as d ire Ɵ v as d e co m un ic aç ão v er ba l ( co nƟ n ua çã o) Té cn ic a D es cr iç ão O bj et iv os R ec om en da çõ es Ex em pl os In te rp re ta çã o – En te nd er o p ro bl em a à lu z de um m ar co te ór ic o; – Pr om ov er o au to co nh ec im en to d o en tre vi st ad o. – Fa ça a in te rp re ta çã o so m en te q ua nd o o E e st á pr óx im o a ch eg ar a e ss a m es m a in te rp re ta çã o, p od en do as su m ir o no vo s ig ni fi c ad o e qu an do ho uv er te m po s ufi c ie nt e na s es sã o pa ra o m an ej o da a ns ie da de o u re si st ên ci a qu e po de m a dv ir de ss a té cn ic a. A: “E u te nh o a im pr es sã o de q ue a pr in ci pa l q ue st ão q ue p od e es ta r in co m od an do v oc ê, m ai s do q ue a m ud an ça e to da s as c oi sa s no va s qu e vo cê te m q ue li da r, é um a se ns aç ão de im po tê nc ia q ue v oc ê pa re ce e st ar ex pe rim en ta nd o fre nt e à de ci sã o da no va c oo rd en aç ão e m tr an sf er i-l o. Es to u ce rto ?” En qu ad re – O fe re ce r u m a no va pe rs pe ct iv a pa ra o E in te rp re ta r o m un do d e fo rm a m ai s ad ap ta tiv a, m as s em fa ze r ex pl íc ito s pr oc es so s im pl íc ito s ou n ão co ns ci en te s. – Au xi lia r o E a c on si de ra r a po ss ib ili da de de qu e ex is te m m od os d ife re nt es de v er a re al id ad e, le vá -lo a ex pl or ar e ss as a lte rn at iv as e ap ro xi m á- lo d a m ud an ça . – M ot iv ar o E a p er m an ec er na e nt re vi st a ou a in ic ia r u m tra ta m en to . – Aj ud ar o E a c om pr ee nd er o s ob je tiv os d o tra ta m en to . – Aj ud ar o E a e nt en de r a co nd ut a de o ut ra p es so a e re sp on de r d e m od o di fe re nt e. – Ap liq ue e st a té cn ic a qu an do o E es tiv er v en do o m un do d e fo rm a di sf un ci on al . E: “A go ra , t od a ho ra te m u m a pe ss oa ao m eu la do m e di ze nd o o qu e fa ze r, m e fa la nd o da s re gr as lo ca is d a em pr es a, m e pe rg un ta nd o se tu do es tá in do b em . N ão a gu en to m ai s se r v ig ia do . T od os fi ca m e m c im a, es pe ra nd o qu e eu c om et a um e rr o” . A: “E ss es c om po rta m en to s de se us c ol eg as n ão p od er ia m s er d e au xí lio ? A o in vé s de e le s es ta re m te m on ito ra nd o, e le s po de m e st ar , n a ve rd ad e, in te re ss ad os e m s eu b em - es ta r e n a su a ad ap ta çã o. P od e se r q ue o fo co n ão s ej a o se u ‘m au p as so ’”. C on fro nt aç ão – A pr es en ta r c on tra di çõ es no d is cu rs o e/ ou co nd ut a do E . – Aj ud ar a e xp lo ra r m od os di fe re nt es d e pe rc eb er a lg um as pe ct o. – To rn ar a p es so a m ai s co ns ci en te d as d is cr ep ân ci as ou in co ng ru ên ci as e m s eu s pe ns am en to s, s en tim en to s ou co nd ut as . – U til iz e so m en te q ua nd o ho uv er ev id ên ci as s ufi c ie nt es p ar a de m on st ra r a in co ng ru ên ci a. – Fu nd am en te c om e xe m pl os es pe cí fi c os d a co nd ut a do E e vi ta nd o ge ne ra liz aç õe s. – Ad ic io ne u m a cl ar ifi ca çã o ao fi na l. E: “A go ra e st ou b em m ai s tra nq ui lo e ac ei ta nd o m el ho r a s itu aç ão ”. A: “V oc ê m e di z qu e es tá s e se nt in do m el ho r, m as e xp iro u pr of un da m en te en qu an to fa la va is so e e sf re go u su as m ão s” – in co ng ru ên ci a en tre o co nt eú do d o di sc ur so e a s m an ife st aç õe s co rp or ai s. co nƟ n ua Avaliação psicológica: contextos de atuação, teoria e modos de fazer 31 co nƟ n ua Ta be la 1 .3 S ín te se d as té cn ic as d ire Ɵ v as d e co m un ic aç ão v er ba l ( co nƟ n ua çã o) Té cn ic a D es cr iç ão O bj et iv os R ec om en da çõ es Ex em pl os C on fro nt aç ão – E m pr eg ue u m to m d e vo z e um a po st ur a qu e in di qu em p re oc up aç ão e ap oi o e nã o en fre nt am en to . – U til iz e ex pr es sõ es c om o “p or u m la do ... e p or o ut ro ... ” a o in vé s de “p or um la do ... , m as d aí ... ”. – So m en te u til iz e es sa té cn ic a se u m a re la çã o de c on fi a nç a fo i e st ab el ec id a. – U til iz e qu an do o E e st iv er p re pa ra do pa ra m ud ar o u da r- se c on ta d a in co ng ru ên ci a. – U til iz e so m en te s e há te m po su fi c ie nt e na s es sã o pa ra tr ab al ha r a re aç ão d o E . E: “E st ou m e es fo rç an do p ar a m e ad ap ta r a e ss a no va e ta pa d e m in ha vi da . M as , a go ra n ão m e pe ça p ar a te r qu e fi c ar d e ‘b lá b lá b lá ’ c om e ss e po vo na h or a do in te rv al o” . A: “V oc ê es tá m e di ze nd o qu e es tá se e sf or ça nd o pa ra s e ad ap ta r à no va e m pr es a, m as s e re cu sa a se re la ci on ar c om s eu s co le ga s de tra ba lh o? ” – in co ng ru ên ci a en tre o co nt eú do d o di sc ur so e a c on du ta . Afi rm aç ão d e C ap ac id ad e - C om un ic ar a o E su a ca pa ci da de p ar a re al iz ar u m a at iv id ad e. - I nc en tiv ar o E a re al iz ar u m a de te rm in ad a at iv id ad e. - A ju da r o E a to m ar co ns ci ên ci a de s ua p ró pr ia ca pa ci da de . - E nf at iz ar o s be ne fíc io s pa ra o en tre vi st ad o se im pl ic ar n a at iv id ad e. – U til iz e so m en te q ua nd o o E m an ife st ar s eu d es ej o de le va r a c ab o a at iv id ad e e qu an do e st iv er s eg ur o de q ue o E te nh a as h ab ilid ad es ne ce ss ár ia s pa ra is so . – N ão u til iz e qu an do o E te m u m a im ag em d e si m es m o m ui to n eg at iv a. A: “E u re al m en te g os ta ria d e m e ad ap ta r a e ss e no vo tr ab al ho e s eg ui r m in ha v id a aq ui n es sa c id ad e. ” E: “A nt es d e se m ud ar p ar a cá , v oc ê tin ha u m a ad eq ua da p ro du tiv id ad e na e m pr es a, m an tin ha s au dá ve is re la cio na m en to s co m s eu s co le ga s de tra ba lh o e tin ha s eu s am ig os . E st ou ce rto d e qu e vo cê p od e de se nv ol ve r bo as re la çõ es a qu i t am bé m . V oc ê é co m un ica tiv o e so ci áv el . V oc ê te m ca pa cid ad e de a pr en de r n ov as ta re fa s e se e sf or ça p ar a se r b em -s uc ed id o ne la s” . 32 Técnicas de entrevista e suas aplicações em avaliação psicológica clínica Té cn ic a D es cr iç ão O bj et iv os R ec om en da çõ es Ex em pl os In fo rm aç ão - C om un ic ar fa to s e da do s. - A ju da r o E a id en tifi c ar al te rn at iv as a nt e um a de te rm in ad a si tu aç ão . - A va lia r a s co ns eq uê nc ia s ou im pl ic aç õe s de c ad a al te rn at iv a ou d ec is õe s. - C or rig ir in fo rm aç õe s nã o ex at as o u di ss ip ar m ito s. - M ot iv ar o E a e xa m in ar as pe ct os q ue e le p od e es ta r ev ita nd o. - P ro po rc io na r u m a es tru tu ra à en tre vi st a ou à a va lia çã o ou a o tra ta m en to . - P si co ed uc ar p or m ei o de in fo rm aç õe s im po rta nt es a o ca so . - S ej a ob je tiv o na tr an sm is sã o da in fo rm aç ão (n ão o cu lte e fe ito s ne ga tiv os , n ão d ê op in iã o pe ss oa l s ob re qu al o pç ão é m ai s re co m en dá ve l). - N ão s ob re ca rre gu e o E c om in fo rm aç õe s de sn ec es sá ria s. - F or ne ça s om en te in fo rm aç õe s qu e vo cê e st ej a se gu ro d el as . - A va lie o m om en to a de qu ad o pa ra da r a s in fo rm aç õe s, q ua nd o o E as ne ce ss ite e p os sa a ce itá -la s. A: “V oc ê sa bi a qu e ne ss a fi li al e xis te um p ro gr am a de e xp er im en ta çã o qu e os fu nc io ná rio s po de m s e ca nd id at ar ? O s fu nc io ná rio s ex pe rim en ta m e m tr ês m es es c in co d ife re nt es p os to s de tr ab al ho de nt ro d a fi li al e a o fi n al d es se p er ío do você p od e op ta r p or u m a da s ár ea s ex pe rim en ta da s” – in fo rm aç ão e sp ec ífi ca . A : “ Su as d ifi cu ld ad es e m d or m ir, d e se c on ce nt ra r, de s e al im en ta r, su a ex ce ss iv a pr eo cu pa çã o sã o si nt om as de a ns ie da de ” – in fo rm aç ão d e co nc ei to s ou m od el os . A: “O s re su lta do s de s ua a va lia çã o su ge rir am q ue v oc ê ap re se nt a um T ra ns to rn o de A ju st am en to ” – in fo rm aç ão d e no tíc ia s de sa gr ad áv ei s. In st ru çõ es - O fe re ce r u m c on ju nt o de pa ut as s ob re c om o fa ze r al go . - E ns in ar o E a re al iz ar (o u de ix ar d e re al iz ar ) u m a de te rm in ad a ta re fa o u co m po rta m en to . - U se li ng ua ge m a da pt ad a às ha bi lid ad es d o en tre vi st ad o. - D ê in st ru çõ es e sp ec ífi ca s, e xp liq ue o s pa ss os d et al ha da m en te . - V er ifi qu e se o E e nt en de u. - S ol ic ite e xp lic ita m en te a a te nç ão d o E. - D ê as in st ru çõ es m ai s co m o su ge st õe s do q ue c om o or de ns . - I ns tru a cl ar am en te o E q ua nd o el e tiv er q ue re al iz ar u m a ta re fa q ue en vo lv a ou tra p es so a, c on ta nd o- lh e o qu e se rá p ed id o po r e le , o p or qu ê e o re su lta do p os sí ve l. A: “A go ra e u vo u da r a v oc ê al gu m as in st ru çõ es e p re ci so d e su a at en çã o. Eu g os ta ria q ue , p ar a no ss a pr óx im a se ss ão , v oc ê lis ta ss e os a sp ec to s qu e vo cê ju lg a po si tiv os e n eg at iv os e m es ta r a qu i. G os ta ria q ue v oc ê lis ta ss e os a sp ec to s po si tiv os e n eg at iv os d e m or ar n es sa c id ad e. G os ta ria ta m bé m qu e vo cê li st as se o s as pe ct os p os iti vo s de tr ab al ha r n es sa fi lia l e o s as pe ct os ne ga tiv os . V oc ê en te nd eu ? O q ue v oc ê ac ha d es sa id ei a? P ar a qu e fi q ue c la ro , vo cê p od er ia , p or g en til ez a, re pe tir a ta re fa q ue e u pe di p ar a vo cê fa ze r ne ss a se m an a? ” N ot a: E = e xa m in an do ; A = a va lia do r. A s in fo rm aç õe s de st a ta be la s ão b as ea da s (a da pt aç õe s e tr ad uç õe s liv re s) n a ob ra d e G ar cí a- So ri an o e Ro nc er o (2 01 2, p . 1 18 -1 28 ). Ta be la 1 .3 S ín te se d as té cn ic as d ire Ɵ v as d e co m un ic aç ão v er ba l ( co nƟ n ua çã o) Avaliação psicológica: contextos de atuação, teoria e modos de fazer 33 A técnica de indagação é a mais comumente usada no psicodiag- nóstico e visa a coleta de dados das mais diferentes naturezas, como cognitivas, afetivas, comportamentais, históricas, entre outras. As técni- cas de interpretação e enquadre, como dito anteriormente, não são mui- to comuns na prática da avaliação psicológica, mas nem por isso são contraindicadas. Pelo contrário, essas técnicas são bastante valorizadas no modelo de psicodiagnóstico interventivo (Heck & Barbieri, 2016). A técnica de confrontação é bastante útil para verifi car o nível de cons- ciência, insight e intencionalidade do paciente sobre os seus relatos e/ou suas percepções. As três últimas técnicas listadas na Tabela 1.3, a saber, afi rmação de capacidade, informação e instrução, demandam um pro- tagonismo mais ativo do clínico. A administração dessas técnicas requer do clínico habilidades e conhecimentos específi cos. Por exemplo, o psi- cólogo somente pode fazer a afi rmação de capacidade quando ele pos- suir diferentes fontes de evidências de que o paciente realmente apre- senta capacidade para a realização da tarefa. Qualquer incentivo irrealis- ta poderá trazer prejuízos importantes para o processo de avaliação como um todo. Para aplicar a técnica de informação, é importante que o psicólogo esteja seguro das informações que vai oferecer. Não é ad- missível que o clínico transmita ideias ou crenças sem embasamento científi co e conhecimento adequados. A informação deve ser clara, pre- cisa e sincera. Essa técnica é muito útil na entrevista de devolutiva. Fi- nalmente, a técnica de instruções é bastante usada no psicodiagnóstico. O psicólogo deve usar linguagem apropriada para instruir o paciente nas atividades que ele precisa desempenhar ao longo das sessões. APLICAÇÕES PRÁTICAS DE ENTREVISTAS EM PSICODIAGNÓSTICO As refl exões e categorizações discutidas neste capítulo servem para fi ns didáticos e formativos. Na prática, entende-se que tanto os diferentes tipos de entrevista quanto as distintas técnicas comu- nicativas podem ocorrer concomitantemente dentro de um sistema 34 Técnicas de entrevista e suas aplicações em avaliação psicológica clínica dinâmico e complexo de interação clínico-paciente. Para auxiliar no aprendizado da aplicabilidade dessas técnicas apresento, a se- guir, alguns trechos de entrevistas com diferentes pacientes e em momentos variados do psicodiagnóstico. Caso A: entrevista de triagem Diferentes serviços de saúde e serviços-escolas empregam a prá- tica da entrevista de triagem para uma avaliação inicial da demanda. Essa prática tem como objetivo encaminhar o paciente para o serviço que melhor atenda a demanda apresentada. Essas entrevistas de tria- gem são, geralmente, semiestruturadas, e visam levantar informações básicas da demanda e motivo do encaminhamento. Certa vez, uma criança de família de baixo nível socioeconô- mico foi encaminhada para avaliação psicológica. Vieram para a entrevista de triagem os pais da menina de 12 anos de idade. No começo da entrevista, o entrevistador se apresentou e informou aos pais sobre os propósitos do encontro. Logo depois, foi iniciada a entrevista com a pergunta: Entrevistador (E): Por que vocês vieram procurar o serviço de avalia- ção psicológica para a fi lha de vocês? Mãe (M): O médico pediu. Olha aqui (mostrou o encaminhamento de um neurologista que tinha escrito: “Solicito avaliação neuropsicológica”). (E): Por que o médico pediu essa avaliação? (M): Eu não sei! Ele pediu um monte de exames e esse também. (E): E por que a sua fi lha está indo no médico? (M): Porque a professora da escola mandou. Ela disse que ela não está conseguindo aprender. (E): E o que o médico falou? (M): Ele fez um monte de exames e não deu nada. Então ele mandou para a psicóloga. (E): Entendi. E ela está fazendo algum tratamento médico ou com psicólogo ou com qualquer outro profi ssional? (M): Ainda não. Foi por isso que eu vim aqui. Avaliação psicológica: contextos de atuação, teoria e modos de fazer 35 (E): E qual a difi culdade que ela tem tido na escola? (M): A professora disse que ela não está aprendendo. Disse que ela não está conseguindo ler e nem escrever. [Neste momento, apliquei a técnica de resumo para me certifi car de que tinha entendido tudo corretamente e para verifi car se após esse resumo alguma informação nova poderia emergir.] (E): Então, se eu entendi correto, a fi lha de vocês está tendo difi cul- dades na escola, pois ela não está conseguindo aprender a ler e a es- crever, e a professora sugeriu que vocês procurassem um médico por causa disso. O médico fez alguns exames que deram resultados nor- mais e então ele pediu uma avaliação neuropsicológica. É isso? (M): Isso mesmo. [A entrevista continuou, o entrevistador tentou levantar breves infor- mações de histórica clínica, escolar e familiar. Os pais eram pouco instruídos (tinham apenas o Ensino Fundamental completo) e ti- nham um padrão restrito de comunicação e interação.As respostas eram curtas e pouco informativas. As perguntas eram feitas ao casal, mas era a mãe quem sempre as respondia. Foram feitas perguntas di- retas ao pai, o qual se mostrou reticente e, também, pouco informati- vo. Ao fi nal, concluiu-se pela inclusão da menina para a avaliação psi- cológica, tendo agendado para a próxima sessão uma nova entrevista de anamnese com os pais para coleta de dados mais completos sobre o desenvolvimento e a história de vida da paciente]. Caso B: entrevista de anamnese A entrevista de anamnese é uma entrevista semiestruturada que busca investigar aspectos do desenvolvimento e da história de vida do paciente que possam estar relacionados à queixa atual. Esse relato re- fere-se ao caso de uma senhora de 52 anos de idade que buscou a ava- liação psicológica por queixas de problemas de memória. Ao investi- gar eventos na infância, a senhora informou que ela sempre teve mui- tas difi culdades escolares e de relacionamento, descrevendo-se como impulsiva, briguenta e difícil. Ela contou alguns exemplos e o entre- vistador continuou a entrevista com a intenção de verifi car um possí- vel padrão familiar ou genético. 36 Técnicas de entrevista e suas aplicações em avaliação psicológica clínica (E): Os fi lhos da senhora também apresentaram alguma difi culdade escolar? Paciente (P): Mas por que você quer saber disso? O que isso tem a ver com meu caso? O que te importa saber se meus fi lhos tiveram difi cul- dades na escola? [Neste momento, o entrevistador percebeu certo descontentamento e sentimento hostil por parte da paciente. Então, foram aplicadas as técnicas de urgência, refl exo e informação.] (E): Parece que você se aborreceu com essa pergunta, mas a ideia aqui é saber se, além de você, outras pessoas da sua família apresentam ou apresentaram difi culdades similares às suas. Isso porque várias condi- ções clínicas possuem componentes hereditários e quanto mais pes- soas da família apresentarem essas difi culdades, mais informações eu vou ter para entender o que se passa com você. (P): Ah! Sim, entendi. Na verdade, os meus fi lhos também tiveram difi culdades na escola. A minha fi lha mais nova... [Após a aplicação dessas técnicas, a paciente mudou o tom de voz e se mostrou mais pacífi ca. Ela de fato relatou que todos os fi lhos apresen- taram difi culdades escolares, tendo inclusive inscrito, posteriormente, o fi lho do meio para avaliação psicológica. Para além das informações que esse evento (aborrecimento) foi trazido para a compreensão do caso dela o emprego das técnicas fortaleceu a relação e resultou na co- laboração da paciente para o processo de coleta de dados.] Caso C: entrevista diagnóstica As entrevistas diagnósticas são, geralmente, estruturadas e visam à ve- rifi cação da presença de sintomas de diferentes quadros nosológicos. Na ocasião, o entrevistador estava avaliando uma mulher de 25 anos de idade com suspeita de transtorno de personalidade borderline. O trecho que segue ocorreu durante a aplicação da MINI (Entrevista Internacional Neuropsi- quiátrica) (Amorim, 2000), enquanto era aplicado o módulo de Suicídio. (E): Durante o último mês, você tentou suicídio? [A paciente fi cou parada, com os olhos fi xos numa parte da mesa, sem qualquer reação corporal ou emocional. Ela permaneceu assim Avaliação psicológica: contextos de atuação, teoria e modos de fazer 37 por quase três minutos, até que olhou para mim e serenamente per- guntou]: (P): Correr até a janela, mas não pular é uma tentativa? [Ela morava no quinto andar de um prédio.] [Ficou claro que aquela pergunta mobilizou pensamentos e afetos im- portantes. Considerando que estávamos ainda no início da sessão (cerca de 15 minutos) e que a paciente demandava elaborar todo aquele afeto eliciado pela pergunta, o entrevistador, então, decidiu mudar a técnica da entrevista estruturada para a de livre estruturação, permitindo que a paciente falasse daquilo que ela quisesse. Essa mu- dança foi com fi ns tanto avaliativos quanto interventivos. Buscou-se, com isso, avaliar a forma como a paciente lida com situações estres- santes e angustiantes, assim como possibilitar que ela elaborasse e buscasse signifi car esse evento.] Caso D: entrevista lúdica A técnica da entrevista lúdica é direcionada à avaliação de crian- ças e adolescentes (Krug et al., 2016). Busca-se, por meio da brinca- deira, identifi car habilidades, potencialidades, características pessoais, limitações e sintomas das crianças. Esse tipo de entrevista foi aplicado em um menino de 11 anos que estava apresentando difi culdades esco- lares e que sofria bullying na escola por causa de seu elevado peso. En- quanto brincava, ele pegou um carrinho e começou a atropelar todos os personagens da história (bonecos, animais e objetos – como uma casinha). Enquanto ele “matava” os personagens, dizia: “toma, seus malvados”. Com base nos dados coletados e nas manifestações com- portamentais e afetivas do menino naquela brincadeira, foi utilizado técnicas de interpretação e enquadre. (E): Olha só! Esse carrinho está bastante bravo. Ele atropelou todo mundo. Você não acha que de vez em quando a gente fi ca bravo igual e fi ca com vontade de bater em todo mundo que nos machuca? Mas, se o carrinho matar todo mundo, com quem ele vai brincar depois? Será que não tem ninguém que é bom? Todo mundo é mau? 38 Técnicas de entrevista e suas aplicações em avaliação psicológica clínica (P): É sim. Todo mundo vai morrer e o carrinho vai brincar sozinho com os brinquedos dele. [O entrevistador confessa que a sua expectativa era de que a criança refl etisse e dissesse que nem todo mundo era mau. Contudo, não foi isso o que aconteceu. Apesar disso, o emprego dessas técnicas forneceu indícios sobre o nível de generalização da perspectiva ne- gativa que o menino tinha sobre seus pares, bem como o grau de sofrimento que ele estava experimentando por causa das agressões que estava sofrendo.] CONSIDERAÇÕES FINAIS Espera-se que o presente capítulo tenha ajudado o leitor a am- pliar seu repertório de técnicas e competências profi ssionais. Como costuma dizer a Profa. Dra. Denise Ruschel Bandeira: “não adianta testes válidos se não se tem psicólogos válidos”. Dessa forma, é impor- tante que o psicólogo, na prática da avaliação psicológica, saiba perfei- tamente o que está fazendo, de modo a validar todas as informações coletadas por meio de métodos válidos. O presente capítulo teve por objetivo instrumentalizar tecnicamente o psicólogo para a condução de entrevistas no psicodiagnóstico, aumentando a validade de suas ati- vidades profi ssionais. REFERÊNCIAS American Psychiatric Association. (2014). Manual diagnóstico e estatístico de transtor- nos mentais: DSM-5 (5 ed.). Porto Alegre: Artmed. Amorim, P. (2000). Mini International Neuropsychiatric Interview (MINI): va- lidação de entrevista breve para diagnós- tico de transtornos mentais. Revista Bra- sileira de Psiquiatria, 22(3), 106-115. Celes, L. A. (2005). Psicanálise é traba- lho de fazer falar e fazer ouvir. Psychê, 9(16), 25-48. Cordioli, A. V., Zimmermann, H. H., & Kessler, F. (2004). Rotina de avaliação do estado mental. Fonte: http://www. u f r g s . b r / p s i q u i a t r i a / p s i q / Avalia%C3%A7%C3%A3o%20%20d o%20Estado%20Mental.pdf Avaliação psicológica: contextos de atuação, teoria e modos de fazer 39 Cunha, J. A. (2007). Psicodiagnóstico-V. Porto Alegre: Artmed. García-Soriano, G. & Roncero, M. (2012). Técnicas de comunicación ver- bal. In C. Perpiñá, Manual de la entre- vista psicológica: Saber escuchar, saber perguntar (pp. 109-137). Madrid: Edi- ciones Pirámide. Giacomoni, C. H. & Bandeira, D. R. (2016). Entrevista com pais e demais fontes de informação. In C. S. Hutz, D. R. Bandeira, C. M. Trentini, & J. S. Krug, Psicodiagnóstico (pp. 206-210). Porto Alegre: Artmed. Heck, V. S. & Barbieri, V. (2016). Psi- codiagnóstico interventivo. In C. S. Hutz, D. R. Bandeira, C. M. Trentini, & J. S. Krug,
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