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Ana Cecília Menezes | Gastro 2021.1 Doença do Refluxo Gastresofágico (DRGE) É uma afecção crônica decorrente do fluxo retrógrado do conteúdo gástrico e ou duodenal para o esôfago, acarretando um espectro variável de sintomas e/ou sinais, associados ou não a lesões teciduais (atinge qualquer faixa etária, mais comum na terceira e quarta décadas). Fisiopatologia A DRGE pode ser tanto por alterações esofágicas, quanto por alterações do fluxo esofágico quando por alterações gástricas. Mecanismos: 1. Relaxamento transitório do E.I.E: Quando o individuo deglute o esfíncter inferior e superior se abre para o alimento chegar ao estômago (fisiológico: fugaz, conteúdo não lesiona a mucosa esofágica). O patológico é quando algumas alterações anatômicas fazem com que o esfíncter se abra em um período de tempo maior e consequentemente um volume maior. 2. Diminuição da pressão do E.I.E: Precisa- se de uma pressão para manter o esfíncter fechado, quando o paciente tem uma pressão baixa desse esfíncter qualquer pressão intragástrica vai vencer essa outra pressão causando o refluxo. 3. Hérnia de hiato: O esfíncter está exatamente contido pelo diafragma, a hérnia de hiato faz com que a parte superior do estomago (fundo do estomago) hernie para a porção intratorácica o que causa mais relaxamento do que o paciente que tem o esfíncter contido pelo diafragma. Observação: Existem dois mecanismos de defesa para esses refluxos: depuração esofágica e a função salivar. Dessa maneira, quando se tem o relaxamento fisiológico, o organismo começa a produzir saliva e a saliva desses para o esôfago e aumenta a motilidade do esôfago e faz com que o refluxo que subiu descer de volta para o estômago. 4. Diminuição da depuração esofágica (contratilidade/motilidade) 5. Diminuição da função salivar: causa menos neutralização e aumenta a probabilidade de refluxo 6. Conteúdo do material refluído (associação com o refluxo duodeno gástrica). 7. Retardo no esvaziamento gástrico Manifestações clínicas: Sintomas típicos: pirose retroesternal (acidez atrás do esterno) – 2x/ semana; 4-8 semanas; regurgitação ácida. Sintomas atípicos: sintomas otorrinolaringológicos/pulmonares (são os menos responsivos aos IBPs) – 60% dos sintomas extraesofágicos não são causados por refluxo Ana Cecília Menezes | Gastro 2021.1 Sintomas de alarme: disfagia; odinofagia; HDA; anemia; anemia; história familiar de neoplasia. NOVO MANEJO DA DRGE CONFORME CONSENSO DE LYON Fenótipos - Pirose funcional: queimação/azia retroesternal e não é orgânica (não é refluxo), todos os exames são normais, mas o paciente tem a mesma sensação de queimação de um paciente com refluxo. - DRGE não erosiva: quando se tem endoscopia normal - DRGE erosiva (classificação LA, C/D): possui solução de continuidade, na endoscopia vai estar presente ferida (erosão). - DRGE complicada (esôfago de barret): esôfago de barret é uma lesão maligna em decorrência de refluxo prolongado. MANEJO DA DRGE-DIAGNÓSTICO CLÍNICO 1º PASSO: Teste de inibidor da bomba de prótons Na presença de sintomas típicos de refluxo gastresofágico, sem sinais de alarme. - Teste com IBP*: o Sensibilidade 71% e especificidade 44% o Menor custo do que os testes diagnósticos o Elevada reposta ao placebo o Favorecem diagnósticos excessivos e abuso de IBP o Esofagite erosiva é encontrada em <10% dos pacientes em uso de IBP Observação: Pode tratar clinicamente por 60 dias e observar a resposta terapêutica aos IBPs: Resposta parcial ou recidiva dos sintomas, pode tentar dobrar a dose do IBP por mais 8 semanas + Endoscopia Digestiva Alta Observação: Se tiver indicação de pirose funcional troca o IBP para antidepressivo. 2º PASSO: Endoscopia digestiva alta (primeiro exame complementar) o Sem resposta ao IBP, recidiva dos sintomas, sintomas atípicos ou sintomas de alarme. o Avaliação da integridade da mucosa, fenótipos. - 70% DRGE não erosiva - 30% DRGE erosiva - 6-12% Esôfago de Barret o Avaliação de complicações o Realizar biópsias para diagnósticos diferenciais e alternativos o Baixa sensibilidade e alta especificidade Classificação endoscópica - Savary-Miller: Historicamente usada na década de 70-80; inclui complicações. - Los Angeles Melhor avaliação para esofagites Muito utilizada em vários países Padronização com boa correlação entre observadores Exclui não erosiva Ana Cecília Menezes | Gastro 2021.1 Conforme o consenso de Lyon... Grau A: Inespecífica 5-7, 5%, pois presente em assintomáticos. Grau B: Baixa relação inter observador (evidências inconclusivas) Grau C e D: Evidência definitiva para DRGE! Barret e estenose, também são conclusivas. Classificação endoscópica: Los Angeles Grau A (a erosão apontada pela seta é < 5 mm) Grau B (lesão > 5 mm) Grau C (diferença para a B é a confluência das lesões no grau C): significa a certeza de esofagite Grau D (presença de confluência – maior que 75%): significa a certeza de esofagite MANEJO DA DRGE: DRGE REFRATÁRIA Paciente com quadro clinico sugestivo de refluxo com EDA normal ou grau A, B de LA faz tratamento com IBP por 8 semanas. Se tiver melhora parcial ou recidiva porsteriomente trata com a dose dobrada de IBP por mais 8 semanas + EDA. Se não tiver melhora dos sintomas ou melhora parcial significa DRGE refratária = EDA Ana Cecília Menezes | Gastro 2021.1 Monitoramento ambulatorial do refluxo – Phmetria esofágica 24h DRGE refratário, mantendo sintomas. Pacientes com EDA sem esofagite Pacientes com sintomas atípicos Correlacionas os sintomas com exposição ácida anormal Indicação cirúrgica Não poderia fechar em pirose funcional caso o exame desse negativo 3º PASSO: Phmetria esofágica de 24h: especifico para diagnosticar refluxo (bem mais sensível do que a endoscopia) Tempo de exposição ácida (TEA): % tempo < pH < 4 o TEA < 4% normal o TEA 4-6% inconclusivo o TEA > 6% confirmatório Manometria esofágica o Avaliar a transição esofagogástrica e a atividade motora do corpo do esôfago o Localização e tônus do esfíncter inferior do esôfago o Antes da pHmetria (localiza aonde irá colocar a sonda da pHmetria) 4º PASSO: Impedância Phmetria de 24h: muito mais completa, vai mostrar qual conteúdo é refluído (se é acido ou não ácido). 2/3 - são ácidos 1/3 – não ácidos o É o padrão ouro para detecção e caracterização dos episódios de refluxo o Mas, dispendiosa e não amplamente disponível. o Caracterizar o refluxo ácido ou não ácido e a associação entre percepção dos sintomas e eventos de refluxo o Define melhor pirose funcional e hipersensibilidade ao esôfago o Caro: 1200 reais, não acobertado por planos e nem pelo SUS. Ana Cecília Menezes | Gastro 2021.1 RESUMO Portanto, pacientes com DRGE não comprovada, o monitoramento do refluxo pode classificar o refluxo em: - DRGE não erosiva - Hipersensibilidade ao refluxo - Pirose funcional - Refluxato não ácido Tratamento Mudanças comportamentais: o Perda de peso pode ajudar a reduzir e eliminar os sintomas da DRGE o Dieta, cessação do tabagismo, moderação do álcool (não foram estabelecidas associações consistentes) o Posição de dormir em inclinação (tem sido uma ferramenta eficaz para aqueles com sintomas noturnos). Medicamentos: IBP Cirurgia: o Indicação cirúrgica - DRGE controlada de forma incompleta: cuidado com diagnósticos funcionais - Intolerância ou abandono da terapia - Refluxo não ácido o Fundoplicadura de nissen - Necessidade de altas doses de IBP para controlar sintomas - Sintomas persistentes e comprovados DRGE ou lesão da mucosa esofágica,apesar da terapia medica máxima. - Esôfago de Barret - A cirurgia não é recomendada em pacientes que demostram uma completa falta de resposta à terapia com IBP
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