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Prática como Componente Curricular

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Introdução
	É fato que algumas histórias acabam por serem criadas e com o passar do tempo, ganham força ao ponto de as pessoas acreditarem que são realmente verdadeiras. Verificamos isto através de filmes, noticiários e notamos que alguns países têm fama justamente pelas suas conhecidas lendas urbanas, e claro, no Brasil, também temos uma boa quantidade delas.
	Por exemplo, uma bem conhecida lenda urbana é a do misterioso animal que supostamente matou diversos animais em diferentes locais espalhados por todo continente Americano, o famoso Chupa Cabras.
	Em meados da década de 1990, uma série de ataques sem explicações bem conhecidas a animais nas zonas rurais alarmou as pessoas no continente americano. O Brasil foi um dos países com mais relatos do caso e o assunto tomou conta dos noticiários durante alguns meses. Estranhamente, animais estavam sendo atacados em regiões muito diversas e distantes umas das outras. As mortes eram todas muito parecidas e, por isso, foram todas atribuídas pela cultura popular a um suposto animal conhecido como Chupa-Cabra, muito embora suas vítimas não fossem apenas cabras.
	O primeiro relato que se tem notícia sobre a ação do suposto Chupa-Cabra teria ocorrido no mês de março de 1995 em Porto Rico. Nesta ocasião, oito cabras foram encontradas mortas pelo fazendeiro proprietário dos animais. Cada cabra tinha três perfurações no tórax e estavam completamente sem sangue. No Brasil, esteve nas manchetes dos principais jornais durante alguns meses, mas desapareceu gradualmente dos noticiários no final da década de 1990. 
	Muitas das lendas urbanas são, em sua origem, baseadas em fatos reais (ou preocupações legítimas), mas geralmente acabam distorcidas ao longo do tempo. Com o advento da Internet, muitas lendas passaram a ecoar de maneira tão intensa que se tornaram praticamente universais causando terror nas regiões em que se difundiam.
Características Principais do Gênero
	A expressão lenda urbana apareceu por volta dos anos de 1970-1980, com folcloristas americanos, para designar as anedotas da vida moderna contadas como verdade, mas que eram falsas e duvidosas (CAMPION-VINCENT, 2005: 21).
	Definimos lendas urbanas como histórias que envolvem elementos ou situações banais do cotidiano, mas que em muitos casos, provavelmente não aconteceram. São contadas como se tivessem ocorrido não especificamente pelos que testemunharam o fato, mas são frequentemente divulgadas com a premissa de terem acontecido com “um amigo da gente”. 
	Estas histórias fantásticas ganharam fama por serem divulgadas no boca a boca e eletronicamente por e-mails, sites, mensagens, entre outros. São enviadas com uma série de avisos, do tipo “cuidado, isso pode acontecer com você”. As lendas urbanas podem ser concebidas como uma história ou narrativa e são tidas como verdadeiras por alguns e falsa por outros. 
	Elas chegam até nós em conversas, nos jornais sensacionalistas, nos filmes, fazendo parte de nosso cotidiano. Nas lendas urbanas os antigos medos e apreensões sociais são rearticulados e as crenças dos sujeitos envolvidos muitas vezes são perpetuadas.
	O discurso lendário, mais do que uma simples narrativa visando divertir um auditório, explora os valores morais de uma comunidade trazendo à luz tanto um exemplo a seguir, um modelo de indivíduo, bem como um contra exemplo, um desvio de comportamento a ser evitado. Sua função primeira é de advertir e persuadir.
	Considerando as principais características desse gênero encontramos histórias sempre pequenas, buscando o máximo de leitores com estrutura de fácil entendimento; a busca de autenticidade por meio de fatos, localizações, personagens e provas; e, todos que a contam dizem ter ouvido de alguém conhecido e procuram dar veracidade ao fato como se tivessem realmente vivido aquilo.
Diferenças entre Lendas Urbanas, Fait Divers e Rumores
	Caracterizamos as lendas urbanas como expressões de nossos medos e desejos. Cada lenda urbana apresenta múltiplas variantes de conteúdo surpreendente, mas geralmente falsas ou duvidosas, contadas como verdadeiras e recentes.
	Ao contrário da lenda urbana, o rumor em geral não é narrativo e repercute por pouco tempo, às vezes contribuindo para a propagação da lenda. É um relato breve, instável e baseado numa crença relativa. Com frequência, a lenda urbana nasce de um rumor ou de um fait divers. O rumor seria a forma breve da lenda. É um enunciado a partir de uma informação não confirmada transmitida como verdade.
	Tanto o rumor como a lenda mobilizam conteúdos e transmitem aspectos da situação social dos propagadores da história. Muitas vezes é difícil saber onde começa o rumor e termina a lenda, no entanto, muitas vezes o rumor perde força, pois outros rumores vêm a lhe substituir com ainda mais intensidade.
	Temos nesse âmbito também, o fait divers, que se relaciona a acontecimentos verídicos que receberam enfoque jornalístico. Trata-se dos acontecimentos marcantes do dia veiculados no jornal, como mortes, acidentes, suicídios, entre outros. 
	No fait divers sensacionaliza-se os fatos, destacando-os de modo espetacular. Jean-Bruno Renard define o fait divers da seguinte forma: “Faits divers e lenda urbana convergem um em direção do outro partindo de pontos opostos: o fait divers é uma legendificação do real e a lenda é um fait divers imaginário”. (RENARD, 1999: 63).
Considerações feitas no ensaio sobre o Conceito de Gênero
	Com exemplos bem definidos em todos os países do mundo, as lendas geralmente fornecem explicações plausíveis, e até certo ponto aceitáveis, para coisas que não têm explicações científicas comprovadas, como acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais. Podemos entender que lenda é uma degeneração do Mito. Como diz o dito popular "Quem conta um conto aumenta um ponto", as lendas, pelo fato de serem repassadas oralmente de geração a geração, sofrem alterações à medida que vão sendo recontadas.
	Dada a definição de lenda:
	[...] uma história ou narrativa que pode nem mesmo ser uma história ou narrativa; ela se dá em um passado histórico recente que pode ser concebido como remoto ou anti-histórico, ou nem mesmo em um passado; ela é tida como verdadeira por alguns, falsa por outros, e ambos ou nenhum dos dois pela maioria. (GEORGES, 1971 apud BRUNVAND, 2002, p. 112).
	Já Röhrich (1988 apud DÉGH, 2001), reitera a ideia de que “a lenda demanda do contador e do ouvinte a crença na verdade do que se conta”, e que as pessoas contam lendas a fim de “verbalizar ansiedades e medos e, ao explicá-los, liberar-se do poder opressivo de seus medos” (p. 37).
	Diante das definições de lenda nos deparamos com a problemática da definição do que sejam as lendas contemporâneas, ou lendas urbanas. Abordaremos algumas definições de lendas urbanas ressaltando o caráter discursivo.
	Numa primeira situação encontramos o narrador que não esteve envolvido, é apresentada como uma posição para a crença, visto que nem sempre é tida como verdadeira, mas é contada como se tivesse acontecido. Estas causam estranheza na população, mas não é descartada a hipótese de realmente terem acontecido.
	As lendas articulam questões com as quais a comunidade se vê às voltas para explicar. Podemos aqui interpretar essas questões como sendo medos, ansiedades, polêmicas e interditos que uma sociedade precisa simbolizar, até certo ponto inconscientemente, na forma de narrativas. Essas narrativas viriam então confirmar ou questionar concepções de mundo tidas como válidas dentro da comunidade em questão.
	As lendas contemporâneas são, sob o ponto de vista do extraordinário, histórias ambivalentes, que lidam com elementos imediatamente reconhecíveis e cotidianos (o mundano), mas que estão de algum modo “fora da ordem”.
	Incorporam também um elemento de emergência no sentido de urgência – por exemplo, ao descrever um problema social que precisa de atenção urgente da comunidade. Ainda que esse sentido de urgência tenda a desaparecer à medida que as últimas lendas vão sendo rapidamente substituídas e outras novas vão surgindo e lhe roubando a atenção.O estudo de tais narrativas não se deve ater a textos fechados, isto é, versões estruturadas ou resumidas de histórias tais como são apresentadas por folcloristas nas enciclopédias do gênero. Como toda narrativa, as lendas urbanas devem ser estudadas como performances em processos sócio discursivos, com atenção especial aos mecanismos de produção/recepção que lhes permitem circular, aos elementos contingenciais de sua enunciação, bem como às questões ideológicas indissociáveis desses processos.
Considerações Finais
	Considerando o fato de que sob este viés, os gêneros possuem infinita riqueza e variedade, tal como as esferas de atividade humana – sua seleção para o ensino não é uma tarefa simples, porém de grande importância, como lemos no seguinte trecho dos PCNs: 
	É preciso que as situações escolares de ensino de Língua Portuguesa priorizem os textos que caracterizem os usos públicos da linguagem. Os textos a serem selecionados são aqueles que, por suas características e usos, podem favorecer a reflexão crítica, o exercício de formas do pensamento mais elaboradas e abstratas, bem como a fruição dos usos artísticos da linguagem, ou seja, os mais vitais para a plena participação numa sociedade letrada. (PCNs, 1998, p.21). 
	O ensino de língua materna por meio dos diversos gêneros textuais pode trazer para a sala de aula os discursos que circulam nas esferas sociais mais diversificadas. Nesse sentido o uso de diferentes versões de lendas urbanas oferece aos professores a oportunidade de explorar situações debatidas socialmente e que intrigam os leitores, despertando nos alunos uma visão mais ampla do mundo que os circunda.
	O professor trabalhando com gêneros textuais como ferramentas de ensino, pode criar espaços em que os discursos e opiniões circulem e possam ser debatidas, dando voz aos alunos.
	O professor fará também bom uso de um conjunto de ações, passos e condições externas a fim de expandir seus métodos de ensino. O uso de suportes introduzidos em sala auxilia na aprendizagem. Recursos visuais veiculados na mídia, como fotografias, reportagem impressas e gravadas em formato de vídeo atraem a atenção dos alunos.
	O professor se fundamentará em reflexões sobre a realidade educacional vivida pelos alunos. Uma abordagem de artigos desenvolvendo temas atuais e questionados pela população pode ajuda-los no desenvolvimento do senso crítico. As lendas urbanas quando trabalhadas em sala podem causar impacto no momento da recepção por parte dos alunos, mas quando abordam-se temas relacionados ao dia a dia destes, isso chama-lhes a atenção. 
	O educador consciente fará uma investigação preliminar a fim de identificar temas dentro do gênero das lendas que não cause espanto ou até mesmo assombro nos alunos. Fará uma avaliação também com respeito a faixa etária dos alunos e escolherá um tema apropriado para a idade da turma. Fazendo uso de artigos desse gênero o professor poderá elaborar atividades interpretativas do texto, bem como análises morfológicas e sintáticas das estruturas.
Referências Bibliográficas:
BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros curriculares nacionais de Língua Portuguesa. Ensino Fundamental. Brasilia: MEC/SEF, 1998. 
Fait Divers. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Faits_divers>. Acesso em: 16 mai. 2015.
Lenda. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Lenda>. Acesso em: 16 mai. 2015.
LOPES, C. R., EM BUSCA DO GÊNERO LENDA URBANA. 2008. 181 f. Tese de Doutorado, - Universidade USP, São Paulo, 2008. Disponível em: <http://ead.unipinterativa.edu.br/bbcswebdav/pid-1074057-dt-content-rid-24773355_1/orgs/LI/PCC%20LETRAS%202014%20e%202015%20TEXTO%202%20LENDAS%20URBANAS.pdf>. Acesso em: 16 mai. 2015.
Revista Info escola. Disponível em: <http://www.infoescola.com/curiosidades/chupa-cabra/>. Acesso em: 16 mai. 2015.
Revista Boitata. Disponível em: <http://revistaboitata.portaldepoeticasorais.com.br/site/arquivos/revistas/1/lenda%20urbana%20Sylvie%20Dion%20ok.pdf>. Acesso em: 16 mai. 2015.
Revista Info Escola. Disponível em: <http://www.infoescola.com/folclore/lendas-urbanas/>. Acesso em: 16 mai. 2015.

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