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Brasília-DF. Higiene do TrabalHo – riscos biológicos no ambienTe de TrabalHo Elaboração Mario Paulo Cassiano e Paes Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 6 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 7 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 9 UNIDADE I FUNDAMENTOS BIOLÓGICOS .............................................................................................................. 13 CAPÍTULO 1 OS AGENTES BIOLÓGICOS ..................................................................................................... 13 CAPÍTULO 2 AGENTE BIOLÓGICO E RISCO BIOLÓGICO ............................................................................. 15 CAPÍTULO 3 AGENTES BIOLÓGICOS NAS NORMAS DE SST ........................................................................ 22 UNIDADE II AGENTES MICROBIOLÓGICOS ............................................................................................................. 25 CAPÍTULO 1 A DESCOBERTA DOS MICRÓBIOS ........................................................................................... 25 CAPÍTULO 2 APÓS A MICROBIOLOGIA ....................................................................................................... 31 UNIDADE III CONCEITOS ESSENCIAIS SOBRE AGENTES BIOLÓGICOS ....................................................................... 35 CAPÍTULO 1 INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO .................................................................................................... 35 CAPÍTULO 2 ANTIBIÓTICO X ANTI-INFLAMATÓRIO........................................................................................ 38 CAPÍTULO 3 VACINAS, SOROS E IMUNOGLOBULINAS ................................................................................. 41 CAPÍTULO 4 INFECTIVIDADE, PATOGENICIDADE, VIRULÊNCIA E IMUNOGENICIDADE .................................... 46 UNIDADE IV LISTA OFICIAL BRASILEIRA DE AGENTES BIOLÓGICOS RELACIONADOS AO TRABALHO ........................... 48 CAPÍTULO 1 BASE LEGAL ........................................................................................................................... 48 CAPÍTULO 2 A LISTA (RELAÇÃO) DE DOENÇAS RELACIONADAS AO TRABALHO............................................ 51 UNIDADE V DETALHANDO OS AGENTES .................................................................................................................. 54 CAPÍTULO 1 BACTÉRIAS E BACILOS ............................................................................................................ 54 CAPÍTULO 2 VÍRUS ..................................................................................................................................... 87 CAPÍTULO 3 DEMAIS AGENTES BIOLÓGICOS ............................................................................................ 106 UNIDADE VI ACIDENTES COM MATERIAL BIOLÓGICO ............................................................................................ 120 CAPÍTULO 1 IMPORTÂNCIA DESTE TIPO DE ACIDENTE .............................................................................. 120 CAPÍTULO 2 PRECAUÇÕES UNIVERSAIS .................................................................................................... 123 CAPÍTULO 3 MATERIAIS PERFUROCORTANTES ........................................................................................... 126 CAPÍTULO 4 CONDUTA PÓS ACIDENTE BIOLÓGICO ................................................................................. 134 UNIDADE VII HT/PPRA E PCMSO - RISCOS BIOLÓGICOS ......................................................................................... 147 CAPÍTULO 1 PPRA .................................................................................................................................... 148 CAPÍTULO 2 PCMSO ............................................................................................................................... 155 UNIDADE VIII ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE E APOSENTADORIA ESPECIAL – AGENTES BIOLÓGICOS ...................... 156 CAPÍTULO 1 ADICIONAL DE INSALUBRIDADE ............................................................................................ 156 UNIDADE IX OUTROS ASPECTOS DOS AGENTES BIOLÓGICOS ................................................................................ 162 CAPÍTULO 1 QUALIDADE DO AR EM AMBIENTES CLIMATIZADOS ................................................................ 162 PARA (NÃO) FINALIZAR ................................................................................................................... 167 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 168 6 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 7 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 8 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementaressobre o módulo estudado. 9 Introdução Caro aluno, Bem-vindo à disciplina de Higiene do Trabalho (HT) ou Higiene Ocupacional (HO). Essa é, sem dúvida, uma das mais importantes disciplinas no estudo da Saúde e Segurança do Trabalho (SST). Primeiramente, precisamos entender o conceito de HT. O termo “higiene” tem sua origem na mitologia grega, onde uma das filhas de Esculápio (Deus da Medicina e da cura) chamava-se Hígia, a deusa da limpeza e da sanidade. Portanto, quando pensamos em “higiene”, o termo sempre nos remete ao sentido de “limpeza”. Assim, a HT está ligada à “limpeza” do ambiente, pois é comum que os locais de trabalho contenham agentes que possam agredir (serem nocivos) à saúde dos trabalhadores e da comunidade em torno desses ambientes. O termo “agente” significa “que age, que produz algum efeito” (Dicionário Michaelis). Os agentes ambientais do trabalho são divididos conforme a sua natureza em físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e de acidentes. Quadro 1. Classificação dos agentes ambientais segundo sua natureza. Físicos Químicos Biológicos Ergonômicos Acidentes » Ruído » Calor » Frio » Umidade » Radiações » Condições hiperbáricas » Vibrações Diversos agentes em forma de: » Líquidos » Gases » Vapores » Poeiras » Neblinas » Névoas » Bactérias » Vírus » Parasitas » Protozoários » Fungos » Outros » Posturas forçadas » Levantamento ou deslocamento de pesos » Movimentos repetitivos » Sobrecarga psíquica » etc. » Queda de altura » Queda de objetos » trânsito de veículos » Máquinas desprotegidas » Escada sem proteção » etc. Fonte: Do autor A HT trata, em especial, dos agentes ambientais dos tipos físicos, químicos e biológicos. Os riscos ergonômicos e de acidentes são objeto de outras disciplinas. É primordial um conhecimento aprofundado sobre estes agentes, haja vista que na execução da tarefa de higienização do ambiente precisamos: » saber reconhecê-los; » identificar se podem ou não ser nocivos à saúde humana; 10 » avaliar se suas intensidades ou concentrações estão em nível de nocividade; » saber como esses agentes penetram ou são absorvidos pelo corpo humano; » propor as medidas de HT adequadas àquele agente. Quando a intensidade ou concentração desses agentes estão em um nível capaz de causar efeitos nocivos à saúde humana, passamos a considerá-los um risco, e então, precisamos atuar neste ambiente com medidas de HT para eliminar ou minimizar os possíveis efeitos sobre a saúde dos trabalhadores e da comunidade. Fundamental também é conhecer como esses agentes podem penetrar ou ser absorvidos pelo corpo humano e como atuam no organismo dos trabalhadores, para se conseguir agir preventivamente em SST, como demostrado na figura abaixo: Figura 1. Conhecer os riscos para saber as ações a tomar. Como controlar a saúde do trabalhador: PCMSO Conhecer os AGENTES/RISCOS Como o agente penetra/é absorvido no corpo Ação/agressão/ doença no trabalhador Como proteger: Tipo de EPI-EPC PPRA e outras ações ambientais Fonte: Do autor. Uma vez conhecendo bem como o agente pode ser absorvido ou penetra no corpo do trabalhador, torna-se mais simples propor medidas e programas de HT, evitando-se essa situação. Esse conhecimento é norteador na escolha dos Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC) e de Equipamentos de Proteção Individual (EPI). Figura 2. Exemplo de situação de risco ambiental e ações preventivas. Agente EPC EPI EXAME Poeira Exaustor Máscara Raio X Pulmões Fonte: Do autor. Poeira e exaustor: Do autor. Máscara: <https://openclipart.org/detail/297799/face-mask />. Rx pulmões: <https://radiopaedia.org/cases/normal-chest-x-ray>. Acesso em: 27/4/2019. 11 Já os conhecimentos dos efeitos do agente do corpo do trabalhador irão propiciar o adequado acompanhamento preventivo da saúde dessas pessoas. No exemplo da figura acima, temos o agente químico poeira. Este agente fica disperso no ar do ambiente de trabalho e é absorvido pela respiração, podendo causar danos à saúde pulmonar do trabalhador. Entre as possíveis medidas de HT, pode-se instalar um exaustor (EPC), removendo a poeira ambiental e indicando a adequada máscara de proteção respiratória (EPI) para os trabalhadores expostos. Além disto, ciente de que o efeito nocivo é sobre o aparelho respiratório, o seguimento médico preventivo adequado necessitará de exames clínicos e complementares que avaliem o aparelho respiratório. Com esse preâmbulo, fica mais fácil entender o conceito de HT ou HO*, definida pela Associação Internacional de Higiene Ocupacional (International Occupational Hygiene Association - IOHA) como a“A disciplina de antecipar, reconhecer, avaliar e controlar riscos para a saúde no ambiente de trabalho com o objetivo de proteger a saúde e bem-estar do trabalhador e proteger a comunidade como um todo.” Neste caderno optaremos por usar apenas o termo “Higiene do Trabalho - HT” e não “Higiene Ocupacional – HO”, pois o termo HO tem um viés que pode induzir ao erro ideológico de que é a ocupação que adoece, sendo que, na verdade, o modo como essa ocupação é executada, ou como o processo produtivo (trabalho) é realizado, é que pode gerar patologias. Este caderno consiste em um material básico aos conhecimentos exigidos do profissional prevencionista com relação ao Agentes/Riscos biológicos. Porque o Engenheiro de Segurança do Trabalho (EST) e outros profissionais de SST precisam conhecer sobre agentes biológicos? Porque são inúmeros os ramos de atividade econômica nos quais os trabalhadores podem se expor a agentes biológicos e que demandam o conhecimento em HT de um profissional de SST, para atuar preventivamente, entre os quais pode-se citar: hospitais, laboratórios, empresas de saneamento, atividade pecuária, indústria de alimentos, entre outras. Neste material, teremos informações sobre os principais agentes biológicos e sobre as legislações, normas e programas legais destinados às empresas e aos trabalhadores expostos a esses agentes. 12 Conheceremos as principais medidas preventivas ambientais e individuais para evitar que os trabalhadores e a comunidade venham a se contaminar com esses agentes, aplicando a legislação e programas preventivos pertinentes. Trataremos das ações a serem tomadas em casos de acidente com material biológico. Por fim, diante do surgimento do eSocial (uma plataforma digital de informações sociais e trabalhistas do governo brasileiro), entenderemos como fazer a interconexão de todos esses dados com as instituições governamentais. Objetivos » Conhecer os tipos de agentes biológicos. » Conhecer os agentes biológicos e situações descritas na legislação trabalhista. » Saber reconhecer quando esses agentes passam a ser um risco à saúde. » Conhecer as atividades econômicas (empresas, instituições) que estão relacionadas à exposição a agentes biológicos. » Conhecer as possíveis medidas de higiene ambiental (proteção coletiva) e de proteção individual ao trabalhador quando houver exposição aos riscos biológicos. » Conhecer e saber aplicar os programas preventivos, previstos na legislação trabalhista, em relação aos riscos biológicos. » Conhecer as condutas necessárias em casos de acidente biológico. » Conhecer a interconexão da legislação trabalhistas e programas de prevenção com o eSocial. 13 UNIDADE IFUNDAMENTOS BIOLÓGICOS CAPÍTULO 1 Os agentes biológicos Conceito amplo Genericamente, agentes biológicos são seres vivos em suas mais diversas formas de vida, dispersos pelos múltiplos hábitats do planeta. Buscando facilitar o entendimento, vamos dividi-los em: » macroscópicos: seres que podem ser vistos a olho nu, ou seja, sem necessidade de usar aparelhos especiais para observá-los; » microscópicos: seres que, de tão pequenos, somente podemser vistos com aparelhagem (lentes, microscópios etc.). Onipresença Os agentes biológicos estão presentes no nosso dia a dia, principalmente quando se trata de seres microscópicos. No momento em que você está lendo este texto, está respirando esses agentes, já que estão no ar ambiental. Igualmente, estão presentes no teclado do seu celular ou computador, na sua cadeira, na sua cama, na sua pele e até na sua saliva. São onipresentes, podendo estar até mesmo em ambientes bastante inóspitos, por exemplo, em locais com temperatura extremas, como no polo ártico ou em áreas vulcânicas. 14 UNIDADE I │ FUNDAMENTOS BIOLÓGICOS Adicionalmente, essa onipresença pode ser observada nos agentes macroscópicos, por exemplo, os insetos, que estão presentes nos lares, nos comércios, nas indústrias, nos ambientes de lazer e na natureza que nos rodeia. Figura 3. Demodex foliculorum - Ácaro, microscópico, presente na pele humana. Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Haarbalgmilbe.jpg>. Acesso em: 27/4/2019. Conceito restrito Em HT, o conceito de agente biológico se restringe a seres que podem estar no ambiente laboral e que, conforme a situação, podem agir sobre a saúde dos trabalhadores e a comunidade em torno desses ambientes laborais. Entre esses agentes, há seres microscópios e macroscópicos que, como visto, podem estar dispersos por todos os locais de trabalho, desde ambientes administrativos, passando por ambientes da produção, oficinas e, obviamente, por ambientes de maior sujidade. Diante dessa onipresença precisamos compreender quando esses agentes podem ser um risco à saúde do ser humano. 15 CAPÍTULO 2 Agente biológico e risco biológico Agente x risco Se os agentes biológicos estão em todos os lugares, quando então eles são um risco? Essa é uma das perguntas mais importantes em HT. Paracelsus (1493-1541), médico do século XVI, já dizia: “A diferença entre o remédio e o veneno é a dose”. Com base nesse conceito, vamos buscar entender melhor a diferença de “agente” e “risco”. Facilitando a compreensão, vamos usar dois exemplos: primeiro de um agente químico e depois de um agente físico, o ruído. Analisemos, primeiramente, um agente químico. A dose de um agente químico está relacionada a quanto desse agente é absorvido pelo corpo humano. A absorção desses agentes químicos nos ambientes laborais ocorre pela respiração (em especial) e pela pele. A dose absorvida dependerá então: » da concentração do agente no ar: quanto maior a quantidade de agente químico no ar, maior a absorção pela respiração; » do tempo que o trabalhador fica naquele ambiente: quanto mais tempo ficar no ambiente, mais vezes irá respirar o agente. Então, o conceito de dose é essencial. Quanto maior a dose recebida pelo organismo, maior a chance de causar algum dano ao organismo do trabalhador. A natureza do agente também é muito importante. Esse termo “natureza” expressa o tipo, a especificação do agente. Mantendo-se no exemplo dos agentes químicos, há agentes que são tóxicos em quantidade bem menor que outros, vejamos abaixo: 16 UNIDADE I │ FUNDAMENTOS BIOLÓGICOS Quadro 2. Diferença de concentração de toxicidade entre a acetona e o ácido cianídrico. Agente químico Concentração no ar com possível nocividade (mg/m3) Acetona 1870 mg/m3 Ácido Cianídrico 9 mg/m3 Fonte: Do autor . Observem que a natureza do agente “acetona” é menos tóxica, pois é necessária uma concentração no ar muito mais alta para que possa provocar malefícios à saúde do trabalhador. Por outro lado, o ácido cianídrico já traz nocividade em uma concentração bem menor. Então, o importante é a dose absorvida. O quadro acima reflete a concentração do agente no ar, capaz de causar possível dano à saúde se o trabalhador ficar exposto por um período de oito horas. Como vimos, a dose está relacionada não somente à quantidade do agente no ar, mas também ao tempo que o trabalhador fica exposto àquele ar contaminado. Sigamos com o outro exemplo: do agente físico ruído. Nenhum lugar é livre de ruído. Até uma sala de meditação tem algum nível de ruído. A intensidade do ruído é medida em decibel (dB). No Quadro 1 são apresentados alguns exemplos do nível de ruído em alguns ambientes/situações. Quadro 3. Exemplos de níveis de ruído em ambientes. Ambiente Nível de ruído Quarto silencioso 10 - 20 dB Biblioteca 30 - 40 dB Igreja 40 - 50 dB Conversa coloquial 50 - 60 dB Aspirador de pó 70 – 80 dB Fonte: Do autor. Tal qual o exemplo do agente químico anterior, o agente ruído tende a ser mais nocivo à saúde nas situações quando a dose recebida for excessiva para o ouvido humano. Deve-se lembrar que a dose está relacionada à intensidade (volume) e ao tempo de exposição do trabalhador ao ruído. No caso do ruído, os estudos estatísticos populacionais evidenciam uma maior nocividade ao longo dos anos de exposição quando a intensidade estiver acima de 17 FUNDAMENTOS BIOLÓGICOS │ UNIDADE I 85 dB para uma exposição diária de oito horas. Oitenta e cinco dB é, portanto, o critério referencial estatístico, que serve de base para concessão do Adicional de Insalubridade definido pela NR-15 (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2014). Esse é o chamado Limite de Tolerância (LT). Dose = concentração ou intensidade do agente + tempo de exposição. Isto posto, pode-se observar que um agente só será um risco à saúde do ser humano se estiver em uma determinada concentração/intensidade e com um tempo de exposição suficiente para gerar este dano. A Norma Regulamentadora 9 (NR-9) de SST, que está intimamente relacionada à HT, traz a seguinte definição 9.1.5 Para efeito desta NR, consideram-se riscos ambientais os agentes físicos, químicos e biológicos existentes nos ambientes de trabalho que, em função de sua natureza, concentração ou intensidade e tempo de exposição, são capazes de causar danos à saúde do trabalhador. (Grifo nosso) Natureza do agente Vejamos então: A possível nocividade à saúde do trabalhador por um agente será determinada por: Quadro 4. Natureza e dose do agente. Natureza do Agente Dose “Tipo” (espécie) do agente Intensidade/concentração + Tempo de exposição Fonte: Do autor. Como citado anteriormente no exemplo de agente químico, observou-se, que a natureza do agente acetona é menos tóxica do que do agente ácido cianídrico. Precisa-se de uma dose bem maior de acetona para que ocorra dano à saúde do ser humano. O mesmo ocorre com os agentes biológicos. Há seres que, por sua natureza, têm uma chance maior de causar malefícios à saúde do trabalhador. A natureza nociva dos agentes biológicos está ligada a algumas características, que trataremos adiante. 18 UNIDADE I │ FUNDAMENTOS BIOLÓGICOS No caso dos agentes biológicos, a natureza é essencial, pois veremos que é difícil um controle rigoroso da concentração e do tempo de exposição, ou seja, a dose. Em função desta natureza a legislação trabalhista, estabeleceu os tipos de agentes biológicos que devem ser foco da HT, como veremos a seguir. A natureza ou os tipos de agentes biológicos que são objetos da HT estão definidos em várias normas legais. Há muita interpretação equivocada sobre quais seriam os agentes biológicos. Essa incorreção ocorre, em especial com relação a insetos, animais peçonhentos, plantas tóxicas, entre outros. A legislação e normatizações legais em SST colocam essas situações como agentes de acidentes ou químicos e não como agentes biológicos, como veremos a seguir. A natureza dos agentes biológicos e a legislação trabalhista Na atuação como engenheiro higienista ocupacional, precisamos trabalhar respeitando as leis trabalhistas, bem como as normas vigentes que tratam do tema. Como já estudado na disciplina de legislação trabalhista, a Lei 6.514/1977 é a de maior relevância em SST. Foi com base nela que o Ministério do Trabalho desenvolveu as Normas Regulamentadoras (NRs) de SST. Entre as inúmeras NRs, há uma que está intimamente relacionada à HT. Trata-se da NR-9 ou Programade Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA). Observe o que descreve o primeiro item da NR-9: 9.1 Do objeto e campo de aplicação 9.1.1 Esta Norma Regulamentadora - NR estabelece a obrigatoriedade da elaboração e implementação, por parte de todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados, do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais - PPRA, visando à preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores, através da antecipação, reconhecimento, avaliação e consequente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho, tendo em consideração a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais. (Grifo nosso) 19 FUNDAMENTOS BIOLÓGICOS │ UNIDADE I Lembra do conceito de HT visto na introdução deste caderno? Assim era definido pela Associação Internacional de Higiene Ocupacional (International Occupational Hygiene Association - IOHA): “A disciplina de antecipar, reconhecer, avaliar e controlar riscos para a saúde no ambiente de trabalho com o objetivo de proteger a saúde e bem-estar do trabalhador e proteger a comunidade como um todo.” (grifo nosso). Fica evidente, pela parte grifada da NR-9 e do conceito da IOHA, que essa é a norma regulamentadora que está mais imbricada ao tema de HT. Ciente dessa nítida proximidade do PPRA com a HT, demostrada acima, vejamos a definição de agentes biológicos da NR-9: “9.1.5.3 Consideram-se agentes biológicos as bactérias, fungos, bacilos, parasitas, protozoários, vírus, entre outros”. (Grifo nosso) Adicionalmente, outras normatizações legais definem quais as naturezas dos agentes biológicos que serão foco de atenção pela HT. Vejamos: A NR-32 (SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO EM SERVIÇOS DE SAÚDE) normatiza a SST em atividades com evidente exposição a riscos biológicos, haja vista ser dedicada a empresas de serviços em saúde, tais como hospitais, laboratórios, entre outros. Pois bem, essa é mais uma norma que traz em seu cerne a natureza dos agentes biológicos foco de nossa atenção em SST: 32.2.1.1 Consideram-se Agentes Biológicos os microrganismos, geneticamente modificados ou não; as culturas de células; os parasitas; as toxinas e os príons Outra norma legal importante, que trata do assunto é a Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho, definida pelo Ministério da Saúde e adotada pelo Sistema Único de Saúde (Portaria no 1339/GM em 18 de novembro de 1999). Nessa lista, estão assim definidas as doenças relacionadas ao trabalho atinentes aos agentes biológicos: Quadro 5. Agentes biológicos da lista. Bactérias Vírus Fungos Protozoários » Tuberculose » Carbúnculo » Brucelose » Leptospirose » Tétano » Psitacose » Dengue » Febre amarela » Hepatites virais » AIDS » Dermatofitoses e outras micoses superficiais » Candidíase » Paracoccidioidomicose » Malária » Leishmanioses Fonte: Do autor. 20 UNIDADE I │ FUNDAMENTOS BIOLÓGICOS Por fim e dirimindo qualquer dúvida sobre os tipos de agentes biológicos que os profissionais de SST devem focar, estão as definições do eSocial. Figura 4. eSocial. Fonte: <http://portal.esocial.gov.br/>. Acesso em: 27/4/2019. O eSocial é um novo sistema digital de escrituração (lançamento) dos dados trabalhistas, fiscais e previdenciários do Governo Federal, estando também em seu bojo, as informações sobre SST. O eSocial foi instituído pelo Governo Federal, por meio do Decreto no 8.373, de 11 de dezembro de 2014, com o objetivo de unificar todas as informações sobre obrigações fiscais, previdenciárias e trabalhistas em um só sistema. Figura 5. eSocial – Unificação. Fonte: <http://www.enat.receita.fazenda.gov.br/pt-br/area_nacional/noticias/e-social/view>. Acesso em: 27/4/2019. Anteriormente, as informações eram lançadas para cada órgão governamental. Por exemplo, a parte fiscal (impostos, contribuições etc.) na Receita Federal; o Fundo de garantia (FGTS) na Caixa Econômica Federal; as informações trabalhistas e de SST (registro, função, riscos, insalubridade etc.) no Ministério do Trabalho, e assim por diante. 21 FUNDAMENTOS BIOLÓGICOS │ UNIDADE I O eSocial criou um lugar único para todas essas informações. A parte relativa à SST do eSocial, traz todos os possíveis riscos do ambiente laboral. Como o eSocial será o padrão das informações em SST, não restam dúvidas quanto à natureza dos agentes biológicos que devem ser foco da HT, como se observa no quadro abaixo do eSocial: Quadro 6. Fatores de Riscos do Meio Ambiente do Trabalho. Anexo II da NDE no 01/2018 – Tabelas – Versão 2.0 CÓD. FATOR DE RISCO BIOLÓGICOS 03.01.001 Agentes biológicos infecciosos e infectocontagiosos (bactérias, vírus, protozoários, fungos, príons, parasitas e outros) 03.01.999 Outros Fonte: <https://portal.esocial.gov.br/manuais/nde-01-2018-v2-0.zip>. Acesso em: 27/4/2019. Poderia se aventar que agentes tais como animais peçonhentos, insetos, plantas tóxicas poderiam ser enquadradas no código 03.01.999 (outros). Porém, neste mesmo quadro, estes agentes são definidos como agentes de acidente ou químicos, como pode ser visto nos exemplos, do mesmo quadro abaixo: Quadro 7. Agentes mecânicos. 05.01.017 Animais peçonhentos 05.01.018 Animais domésticos 05.01.019 Animais selvagens Fonte: <https://portal.esocial.gov.br/manuais/nde-01-2018-v2-0.zip>. Acesso em: 27/4/2019. 22 CAPÍTULO 3 Agentes biológicos nas normas de SST Micro- e macro-organismos Definimos no capítulo anterior quais são os tipos de agentes biológicos foco das normas legais e que serão objeto de estudo de nosso caderno de HT. Em especial, pudemos observar os definidos na NR-9 e pelo eSocial, que, em breve, irá nortear todas as informações de SST aos diversos órgãos governamentais. Considera-se agente biológico: Quadro 8. Agentes biológicos e normas. NR-9 – PPRA “bactérias, fungos, bacilos, parasitas, protozoários, vírus, entre outros” eSocial “bactérias, vírus, protozoários, fungos, príons, parasitas e outros” Fonte: Do autor. Observem que nas listas da NR-9 e do eSocial há alguns agentes diferentes. A NR-9 menciona os bacilos que não estão na lista do eSocial. Já a lista do eSocial traz príons que não estão na lista da NR-9. Isto ocorre porque os bacilos, como veremos à frente, são tipos de bactérias e os príons podem ser enquadrados no item “outros” da NR-9. Didaticamente, podemos classificá-los em agentes Microscópicos e Macroscópicos: Quadro 9. Agentes macro- e microscópicos. MICROscópicos MACROscópicos » Bactérias » _ » Fungos » Fungos » Bacilos » _ » Parasitas » Parasitas » Protozoários » _ » Vírus » _ » Outros » Outros Fonte: Do autor. As bactérias, protozoários, vírus são necessariamente microscópicos. Já os fungos e parasitas podem ser microscópicos e macroscópicos. 23 FUNDAMENTOS BIOLÓGICOS │ UNIDADE I Dimensões dos agentes microscópicos Como citado, agentes microscópicos somente podem ser visualizados com a ajuda de aparelhos especiais (microscópios e lentes). Na figura abaixo, pode-se ter uma ideia da diminuta dimensão desses agentes: Observem que a ponta de um cabelo humano pode conter inúmeros protozoários, bactérias e milhares de vírus. Figura 6. Tamanho comparativo de agentes microscópicos. Hemácia (Célula vermelha do sangue) Vírus Bactéria Protozoário Fio de cabelo Fonte: Do autor. São também microscópicos vários tipos de fungos. Agentes macroscópicos São seres que conseguimos visualizar a olho nu, ou seja, sem necessidade de aparelhos de aumento. Entre os agentes listados nas normas, temos: parasitas e fungos. Os parasitas são seres que vivem às custas de outro ser, conhecido como hospedeiro, e provoca prejuízo a ele. Os parasitas podem ser divididos em unicelulares (microscópicos), e nesses se enquadram os protozoários. Portanto, os protozoários são considerados parasitas unicelulares. Entretanto, nas normas em SST, os normatizadores optaram por fazer a separação didática de parasitas e protozoários. Assim sendo,pelas normas nacionais de SST, os parasitas são os seres macroscópicos. Como exemplo, podemos citar as verminoses intestinais (lombriga, solitárias, entre outros). 24 UNIDADE I │ FUNDAMENTOS BIOLÓGICOS Figura 7. Parasitas macroscópicos (Lombriga – Ascaris lumbricoides). Fonte: <http://www.sironaanimalhealth.com/wp-content/uploads/2014/07/paracites.png>. Acesso em: 27/4/2019. Com relação aos fungos, a maioria são seres microscópicos. Porém, todos nós, a princípio, conhecemos bem alguns fungos macroscópicos. Podemos citar os cogumelos, que são comestíveis, como os champignons. Outros, como os chamados “orelhas de pau”, que são facilmente visíveis na natureza. Figura 8. Fungos macroscópicos: champignons. Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Champignons_Agaricus.jpg>. Acesso em: 27/4/2019. Figura 9. Fungos macroscópicos: “Orelha de Pau” - Pycnoporus sanguineus. Fonte: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/4/4e/Pycnoporus_sanguineus_284381.jpg/1024px- Pycnoporus_sanguineus_284381.jpg>. Acesso em: 27/4/2019. 25 UNIDADE IIAGENTES MICROBIOLÓGICOS CAPÍTULO 1 A descoberta dos micróbios Ficou claro que estamos em convívio diário com os agentes biológicos, principalmente com os agentes microscópicos. Neste capítulo, precisamos aprofundar o conhecimento sobre esses microrganismos. Um breve histórico dos micróbios A descoberta da existência dos micróbios foi umas maiores revoluções da história médica e mudou profundamente a medicina e o entendimento das doenças. Figura 10. Antonie van Leeuwenhoek (Holanda, 1632-1723). O primeiro microbiologista. Fonte: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Anton_van_Leeuwenhoek#/media/File:Jan_Verkolje_-_Antonie_van_Leeuwenhoek.jpg>. Acesso em: 27/4/2019. Antonie van Leeuwenhoek (Holanda, 1632-1723) foi o primeiro microbiologista conhecido. Ele chamou os micróbios de animalículos. A primeira referência específica às bactérias foi feita em uma carta datada de 9 de outubro de 1676. 26 UNIDADE II │ AGENTES MICROBIOLÓGICOS Nesta descoberta, começa uma das maiores revoluções da história da medicina.. Antes da descoberta dos micróbios A medicina pré-descoberta dos microrganismos, era uma ciência repleta de crendices. Pensava-se que as doenças, em especial as epidêmicas (infecciosas) eram causadas por ar podre, destino, castigo ou praga divina, pecado, maldições, feitiçaria, entres outras superstições. Vigoravam as chamadas eoria miasmática das doenças e teoria dos humores. Pela teoria dos miasmas, locais imundos, contendo dejetos e lixos orgânicos em decomposição emanavam odores, cheiros podres ou sustâncias invisíveis no ar, nocivas e causadoras das doenças infecciosas e epidemias. Exemplo: MALÁRIA: “Maus ares”, daí o nome desta doença. Atualmente, sabemos que essa doença infecciosa é causada por um micróbio (protozoário), chamado Plasmodium e é transmitida por um mosquito. Figura 11. Mosquito do gênero Anopheles (transmissor da Malária). Fonte: <https://en.wikipedia.org/wiki/Anopheles_albimanus#/media/File:Anopheles_albimanus_mosquito.jpg>. Acesso em: 27/4/2019. O conceito miasmático, apesar de equivocado em sua essência, foi responsável por algumas importantes medidas de saúde pública, que atualmente ainda são aplicadas, tais como o enterro dos mortos, o aterro dos excrementos humanos e a recolha do lixo. Com isso, houve um impulso na limpeza e na higiene, acabando por salvar inúmeras vidas. 27 AGENTES MICROBIOLÓGICOS │ UNIDADE II Teoria miasmática <http://www.ghtc.usp.br/server/pdf/ram-Miasmas-Sci-Am.PDF>. Na teoria dos humores, de uma maneira simplificada, inferia-se que algumas doenças eram causadas por um desequilíbrio dos humores (fluídos) do corpo humano. Nesta crença, inferia-se que havia no corpo quatro tipos de humores: sangue, fleuma (catarro), bílis amarela e bílis negra. Se houvesse um desbalanço entre estes humores, surgiriam certas doenças. Naquele tempo, em função da orientação baseada nessas teorias e de que as doenças seriam fruto do pecado, castigo, praga divina, feitiçaria etc., os tratamentos eram realizados através de rezas, penitências, sangrias, sanguessugas, jejuns etc. Os médicos daquela época, desconhecendo os micróbios e embasados na teoria miasmática, vestiam-se de uma maneira especial para atender aos pacientes quando havia uma epidemia: Nos séculos 17 e 18 os médicos usavam máscaras parecidas com bicos de aves, cheias de ervas aromáticas (erva cidreira, hortelã, canfora etc.), para protegê-los dos miasmas. Figura 12. Médicos e a teoria miasmática. Fontes: <https://en.wikipedia.org/wiki/Plague_doctor>; <https ://www.stlfinder.com/model/plague-doctor-mask-3d-model-jTtYGxrV/8176965>. Acesso em: 27/4/2019. 28 UNIDADE II │ AGENTES MICROBIOLÓGICOS A teoria microbiana das doenças A partir da descoberta da existência dos microrganismos por Leeuwenhoek, houve um progressivo conhecimento desses seres. Este estudo, ou ciência, é conhecido como microbiologia. Com o advento dessa ciência, surgiram pesquisas sobre a ligação desses agentes com algumas doenças. Os grandes cientistas da microbiologia Figura 13. Louis PASTEUR (1822-1895). Fonte: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Louis_Pasteur#/media/File:Louis_Pasteur,_foto_av_Paul_Nadar,_Crisco_edit.jpg>. Acesso em: 27/4/2019. Figura 14. Robert KOCH (1843-1910). Fonte: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Robert_Koch#/media/File:Robert_Koch_BeW.jpg>. Acesso em: 27/4/2019. Os cientistas Louis Pasteur (francês) e Robert Koch (alemão) foram os grandes expoentes na determinação da causa microbiana das doenças. 29 AGENTES MICROBIOLÓGICOS │ UNIDADE II Pasteur, pesquisando a causa da deterioração de certos alimentos, descobriu que esta ocorria pela ação de micróbios. Baseado neste fato, criou o método da pasteurização, muito utilizado ainda hoje, na preservação do leite e de outros alimentos. Trata-se de um processo de aquecimento do leite (70ºC), seguido de um resfriamento (4ºC). Esse choque térmico mata a maioria das bactérias que fermentam o leite (e outros alimentos). Figura 15. Pasteurização. Fontes: Do autor e <https://openclipart.org/detail/262501/detailed-cow-line-art>. Acesso em: 27/4/2019. Pasteur foi o grande defensor da teoria microbiana na gênese de doenças. Fez várias experiências em torno disso, tendo grande impacto no tratamento e na prevenção das doenças. Foi dele a invenção da vacina contra o vírus da raiva. Essa doença, transmitida por mordida de cães e outros animais, levou à morte muitas pessoas antes do surgimento da vacina. Robert Koch: Este médico alemão, contemporâneo de Pasteur, foi um personagem icônico na história de microbiologia. Demostrou claramente a gênese microbiana de certas doenças, sendo o seu trabalho essencial no conhecimento das doenças epidêmicas, infecciosas e transmissíveis. Koch foi o primeiro a demostrar, efetivamente, uma doença causada por um agente microbiológico: o carbúnculo. Essa doença é causada por uma bactéria, o Bacillus anthracis, sendo considerada uma doença do trabalho, como veremos no tópico relacionado às bactérias. 30 UNIDADE II │ AGENTES MICROBIOLÓGICOS Koch foi o responsável também por demostrar que a tuberculose era causada por uma bactéria, que em função disso foi denominada “bacilo de Koch” (Mycobacterium tuberculosis). Muitos foram os estudos relevantes de Koch para a Medicina. PASTEUR: <https://www.sciencehistory.org/historical-profile/louis-pasteur>. KOCH: <https://www.nobelprize.org/prizes/medicine/1905/koch/biographical/>. 31 CAPÍTULO 2 Após a microbiologia Com o desenvolvimento da ciência médica microbiológica, observou-se que inúmeras doenças eram causadas por esses agentes e iniciou-se uma corrida por meios de combater esses microrganismos. O primeiro antibiótico Alexander Fleming foi um médico e microbiologista britânico. Durante seus estudos sobre bactérias, houve uma contaminação acidental por uma espécie de fungo, o Penicillium notatum, em uma de suas placas de Petri (Placas devidro para cultivo de bactérias). Figura 16. O primeiro antibiótico: penicilina. Penicillium notatum Alexander FLEMING 1881 -1955 Colônias de bactérias Fontes: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Alexander_Fleming#/media/File:Alexander_Fleming_3.jpg>; <http://www.pbs.org/wgbh/ aso/databank/entries/dm28pe.html>. Acesso em: 27/4/2019. Tratava-se de uma placa de cultivo de um tipo de bactéria chamada estafilococos. Fleming verificou que, em torno dos fungos, as bactérias não se desenvolviam (multiplicavam) e, além disto, havia inúmeras bactérias lisadas (mortas) próximas ao fungo. Fleming desenvolveu, então, o estudo sobre porque aqueles fungos matavam as bactérias, descobrindo assim a penicilina, uma substância produzida pelo fungo e que se tornou o primeiro antibiótico existente. 32 UNIDADE II │ AGENTES MICROBIOLÓGICOS O universo microbiológico Como citado, os micróbios estão em toda parte. Estão no ar que respiramos, no moveis, nas bebidas e comidas de que nos alimentamos, em nossa pele, em nosso cabelo e inclusive, em nossas vísceras. Nossas salivas e fezes são ricas em micróbios. A imensa maioria desses seres é inofensiva. Poucos são patogênicos, ou seja, capazes de trazer danos à saúde dos seres humanos. Conceito: Patogênico (do grego). Pathos: sofrimento ou doença. Genia: Gerar ou produzir. Figura 17. Micróbios e patogenicidade. A maioria dos micróbios do mundo á inofensiva aos humanos Poucos micróbios são sempre patogênicos Alguns podem ser patogênicos A maioria NÃO é patogênica Algas microscópicas produzem 30% a 50% de todo oxigênio que respiramos Fonte: Do autor . Os micróbios “do bem” Além da maioria dos seres microbiológicos serem inofensivos à saúde, vários deles são benéficos para a humanidade, pois produzem alimentos, remédios, degradam dejetos, entre outros benefícios, como podemos ver nos exemplos a seguir. 33 AGENTES MICROBIOLÓGICOS │ UNIDADE II Figura 18. Micróbios que ajudam a medicina: fungos. Fontes: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Penicilliummandarijntjes.jpg>; <https://dicassobresaude.com/wp-content/uploads/2017/09/Penicilina-G-Benzatinica.jpg>. Acesso em: 27/4/2019. Penicilina Fungos – microscópicos Os fungos do gênero Penicillium, podem deteriorar alimentos (bolor), mas foi desses fungos que se extraiu o primeiro e um dos mais importantes antibióticos para combater as infecções bacterianas nos seres humanos: a penicilina. Como citado anteriormente, a penicilina, extraída de um fungo microscópico, revolucionou o tratamento das infecções por algumas bactérias. Figura 19. Micróbios que ajudam a medicina: bactérias. Fontes: <https://ichef.bbci.co.uk/news/660/media/images/53234000/gif/_53234379_escherichia-coli.gif>; <https://www.humulin.com/assets/img/6508_elhu_7030_3_vl_st_abv_300.jpg>. Acesso em: 27/4/2019. O diabetes é uma patologia que se caracteriza pela elevação da glicose no sangue devido a uma deficiência relativa ou absoluta de insulina, uma substância que é produzida no pâncreas. 34 UNIDADE II │ AGENTES MICROBIOLÓGICOS Até há pouco tempo, as pessoas portadoras de diabetes usavam insulina retirada do pâncreas de bois e porcos que eram abatidos nos frigoríficos. Acontece que a insulina bovina ou suína é diferente da humana e muitos diabéticos tinham alergia, além de outros efeitos adversos com o uso dessas insulinas. Por meio de um processo de engenharia genética, atualmente, bactérias produzem insulina idêntica à humana em laboratório que é usada por diabéticos de todo o mundo. Micróbios que nos alimentam As leveduras são fungos microscópicos usados na produção de vários alimentos. São usadas na produção de pães, bebidas alcoólicas, tais como cerveja e vinho, sendo responsáveis pela fermentação e pela produção do álcool presentes nessas bebidas. Algumas bactérias são importantes em certos alimentos, como os lactobacilos do iogurte. Micróbios que ajudam o meio ambiente As algas microscópicas, tanto de água doce quanto de água salgada, são responsáveis pela produção de grande parte do oxigênio que respiramos. Há fungos e bactérias saprófitas ou decompositores, que degradam a matéria orgânica dos seres mortos. Quando ocorre a morte de uma planta ou de um animal, esses micróbios são responsáveis pela decomposição desse material orgânico. Então, a maioria dos micróbios não faz mal à saúde humana e, em muitos casos, ajudam a humanidade em sua saúde e bem-estar. 35 UNIDADE III CONCEITOS ESSENCIAIS SOBRE AGENTES BIOLÓGICOS CAPÍTULO 1 Inflamação e infecção Há uma frequente confusão entre os termos inflamação e infecção. A diferenciação conceitual é importante no entendimento dos riscos biológicos. Inflamação A inflamação é um fenômeno natural do organismo frente a algum tipo de agressão, não necessariamente por um agente biológico. Vejamos um exemplo: Um goleiro, ao defender uma bola chutada, sofre um trauma no dedo, ocorrendo uma luxação. O termo luxação significa que uma articulação (junta), saiu do lugar (os ossos deslocaram e perderam a junção), como na figura abaixo Figura 20. Luxação. Fonte: <https://www.cancercarewny.com/content.aspx?chunkiid=11860>. Acesso em: 27/4/2019. Nesse acidente, ocorrem lesões diversas das estruturas articulares, entre elas na cápsula articular, ligamentos, cartilagem, vasos sanguíneos etc. há uma agressão a essas estruturas. O tratamento, geralmente, é reposicionar o osso no local e imobilizar com gesso ou férula e esperar a cicatrização dos tecidos lesados. 36 UNIDADE III │ CONCEITOS ESSENCIAIS SOBRE AGENTES BIOLÓGICOS Observe que, nessa situação, haverá uma inflamação no local, caracterizada por inchaço, dor, calor, vermelhidão (eritema) e às vezes um extravasamento de sangue (hematoma). Veja que não há qualquer agente biológico (bactéria, vírus ou outros) causando a inflamação. A inflamação ocorreu como uma reação normal do organismo, frente a essas lesões com o objetivo de cicatrizá-las (curar). Uma inflamação é então uma reação normal do organismo que se caracteriza em especial por: » inchaço: há um extravasamento de plasma do sangue que é rico em células e nutrientes que irão “limpar” e “dissolver” as estruturas lesadas, bem como desencadear o processo de cicatrização, formando novos tecidos no local; » dor: sabiamente, o organismo provoa dor no local, para que seja emitido um sinal de alerta de que as estruturas foram lesadas e há necessidade de repousar o local para que possa haver o processo de cicatrização; » calor e eritema: o aumento da temperatura e a vermelhidão locais ocorrem pelo aumento da circulação de sangue no local, levando os nutrientes e as células responsáveis pelo processo de cicatrização. As causas de inflamação podem ser diversas: » traumatismos; » agentes irritantes; » alergias; » queimaduras; » doenças imunológicas; » agentes biológicos; » outras. Os agentes biológicos são apenas uma das causas de inflamação. Nesse caso temos uma inflamação causada por uma infecção. 37 CONCEITOS ESSENCIAIS SOBRE AGENTES BIOLÓGICOS │ UNIDADE III O sufixo “ite” está relacionado a uma inflamação, não importando a causa: » hepatite: inflamação do fígado (pode ser por vírus, álcool, químicos etc.); » amigdalite: inflamação da amígdala (por bactéria, vírus, alergia, química etc.); » rinite: inflamação do nariz (por bactéria, vírus, alergia, química etc.). Infecção Ação exercida no interior do organismo por agentes vivos patogênicos (bactérias, vírus, fungos e protozoários), segundo o dicionário Michaelis. Observe que uma infecção pressupõe a presença de um agente biológico invadindo e agredindo o organismo. Uma infecção (agentes biológicos) sempre causa uma inflamação. Uma inflamação não necessariamente tem infecção, pois, como observado, pode ser causada por outros agentes (traumáticos, físicos, químicos etc.). 38 CAPÍTULO 2 Antibiótico X anti-inflamatório Ciente agora da diferença entre inflamação e infecção, fica mais fácil entendera diferença das medicações antibiótico e anti-inflamatório. significa significa Anti Contra Bio Vida Assim: Anti-biótico: usado contra micróbios (o nome mais correto é Antimicrobiano). Anti-inflamatório: usado contra inflamações. Figura 21. Antinflamatório x Antibioltico. Anti-inflamatório Anti-biótico (antimicrobiano) Basicamente: Alivia dor Basicamente: Mata micróbios Reduz substâncias, dor e inchaço Fontes: <https://en.wikipedia.org/wiki/Sprain#/media/File:Sprain_SAG.jpg>; <https://openclipart.org/detail/162823/funny-green- bactera>. Acesso em: 27/4/2019. Os antibióticos são medicamentos usados contra infecções por micróbios, mais especificamente, infecções por bactérias. Já os medicamentos anti-inflamatórios agem diminuindo a inflamação local, não importando a causa (por agentes biológicos, físicos, químicos, traumáticos etc.). Atuam principalmente aliviando a dor local. 39 CONCEITOS ESSENCIAIS SOBRE AGENTES BIOLÓGICOS │ UNIDADE III Uma inflamação é um fenômeno natural e faz parte do processo de cura e nem sempre deve ser combatida com anti-inflamatórios. Às vezes o repouso do local é o melhor a ser feito. Temos que lembrar, conforme citado acima, que a inflamação é um processo natural no organismo frente a uma agressão e faz parte do processo de cura. Além disto, os anti-inflamatórios são medicamentos com possíveis graves efeitos adversos, podendo até levar à morte. Portanto, não se deve usar anti-inflamatório de maneira indiscriminada. Sempre evitar a automedicação. Muitas infecções que adquirimos, por exemplo, respiratórias (faringite, rinite, sinusite etc.), intestinais (diarreias agudas – gastroenterites), generalizadas (dengue, rubéola), entre outras, são causadas por vírus. São as chamadas viroses. Neste caso o antibiótico não tem qualquer efeito sobre a infecção. Antibióticos não matam vírus e, para a maioria das doenças virais não há remédios (antivirais). Alguns exemplos de viroses » herpes/catapora (antiviral Aciclovir); » AIDS; » gripe (antiviral Tamiflu); » dengue; » hepatite; » sarampo; » rubéola; » caxumba; » ébola; » etc. As viroses são muito comuns, tanto em crianças como adultos. 40 UNIDADE III │ CONCEITOS ESSENCIAIS SOBRE AGENTES BIOLÓGICOS <https://drauziovarella.uol.com.br/infectologia/saiba-como-reconhecer-e- lidar-com-as-viroses-infantis-mais-comuns/>. <http://www.scielo.br/pdf/jped/v79s1/v79s1a09.pdf>. Após o surgimento da AIDS, nos anos 80, houve grande evolução na pesquisa por medicamentos de combate aos vírus (antivirais). Atualmente, existem medicamentos para algumas doenças virais (gripe, hepatite, herpes etc.). Para algumas outras, temos vacinas. Figura 22. Patologias virais e vacinas. Para muitas patologias virais existem vacinas para preveni-las. Importante Vacina Sem Vacina • Gripe • Hepatites A e B • Sarampo • Paralisia infantil • Rubéola • Caxumba • Aids • Dengue • Zika • Chikungunya • Hepatite C • Ebola • Hantavirose • etc. Fonte: <https://en.wikipedia.org/wiki/Middle_East_respiratory_syndrome#/media/File:Mers-virus-3D-image.jpg>. Acesso em: 27/4/2019. 41 CAPÍTULO 3 Vacinas, soros e imunoglobulinas Ao atuar preventivamente em relação aos riscos biológicos, é essencial entender os conceitos de vacinas, soros e imunoglobulinas. Vacina História O termo vacina veio do Latim “vaccinae”, que significa “da vaca”. Esta origem do nome veio por que a primeira vacina descoberta foi a da varíola por um médico britânico, chamado Edward Jenner. Jenner observou que as vacas apresentam uma doença semelhante à varíola. Era um quadro mais leve e que também acometia as pessoas que ordenhavam essas vacas. As pessoas que apresentavam a varíola “da vaca” tinham lesões e um quadro mais brando e a incidência da varíola humana nessa população era muito baixa. Figura 23. Dr. Jenner: criação da vacina. Fonte: <https://en.wikipedia.org/wiki/James_Phipps#/media/File:Jenner_phipps_01.jpg>. Acesso em: 27/4/2019. Então, Jenner supôs que de algum modo quem adquiria a varíola “da vaca”, ficava resistente, protegido, da varíola humana. 42 UNIDADE III │ CONCEITOS ESSENCIAIS SOBRE AGENTES BIOLÓGICOS O Dr. Jenner, em 1796, testou sua hipótese em um garoto de 8 anos, chamado James Phipps. Ele injetou secreção da ferida de uma portadora de varíola “da vaca” em Phipps. Após isto, o garoto desenvolveu a doença. Apresentou um quadro semelhante ao das pessoas que ordenhavam as vacas, com poucas lesões e um quadro de febre leve e logo ficou curado. Após a cura da varíola bovina, Jenner inoculou a varíola humana em Phipps e o garoto não adoeceu. Dr. Jenner comprovou então que se poderia proteger (tornar imune) as pessoas da varíola humana, que era uma doença grave e matava milhares de pessoas, inoculando previamente a vacina “da vaca”. Imunidade Nosso organismo apresenta um sistema de defesa complexo, o sistema imune ou imunológico. O termo imune significa protegido. O sistema de defesa envolve vários órgãos, células e substâncias que nos protegem diariamente da ação de agentes biológicos, químicos e outros. Em especial, com relação aos agentes biológicos, precisamos enfatizar as células brancas do sangue e os anticorpos. De uma maneira simples, as células brancas do corpo são como “soldados” que atacam e destroem os agentes estranhos que invadem o nosso corpo. Já os anticorpos são substâncias produzidas por um tipo de célula branca e que se “ligam” ao agente invasor, destruindo-o ou facilitando a destruição deles pelas células brancas. Tipos de imunidade Quando se adquire imunidade contra uma determinada doença infeciosa, significa que o indivíduo está protegido contra aquele agente biológico. Pode ser uma proteção completa, sem qualquer risco de adquirir a doença, ou parcial, tendo ainda risco de adquirir a doença, porém em uma forma mais leve e sem maiores riscos à vida. Didaticamente divide-se a imunidade em: » Ativa: ocorre quando o indivíduo é acometido pela doença ou é vacinado O corpo reage à presença de um agente biológico e produz células e anticorpos de defesa. 43 CONCEITOS ESSENCIAIS SOBRE AGENTES BIOLÓGICOS │ UNIDADE III » Passiva: o corpo recebe o anticorpo pronto, produzido por um animal (soro) ou outros seres humanos (imunoglobulinas). Figura 24. Imunização ativa x imunização passiva. Vacina Micróbio • Morto • Parte • Inativado • Modificado Contato Célula defesa T Informações para Célula defesa B Célula defesa B Produz Anticorpos Célula defesa B “memória” para o micróbio Ataque do micróbio Célula defesa B “memória” para o micróbio Célula defesa B Produz Anticorpos Anticorpos Neutralizam o Micróbio rapidamente Célula defesa B “memória” para o micróbio Fontes: <https://openclipart.org/detail/201983/horse800px>; <https://en.wikipedia.org/wiki/Travel_medicine#/media/ File:Vaccination_contre_la_grippe_A_(H1N1)_de_2009.jpg>; <https://openclipart.org/detail/129163/siluetas-personajes- masculinos; <https://openclipart.org/detail/154741/feverish-woman>. Acesso em: 27/4/2019. Ação da vacina No caso da vacina, injeta-se preventivamente o agente biológico da doença de que se quer proteger. O agente sofre modificações em laboratório para não gerar a doença e apena induzir a resposta do sistema imune, gerando células de defesa e anticorpos contra aquele agente. Essas modificações são por inativação (morte ou enfraquecimento) do agente, inoculação apenas de parte do agente, ou modificação parcial do agente. Quando essa vacina é injetada, desencadeia uma reação imunológica, gerando células e anticorpos contra o agente. Desenvolve-se uma “memória” imunológica e, se o agente da doença penetra no organismo vacinado, é prontamente destruído. 44 UNIDADE III │ CONCEITOS ESSENCIAISSOBRE AGENTES BIOLÓGICOS Figura 25. Como a vacina age. Vacina Micróbio • Morto • Parte • Inativado • Modificado Contato Célula defesa T Informações para Célula defesa B Célula defesa B Produz Anticorpos Célula defesa B “memória” para o micróbio Ataque do micróbio Célula defesa B “memória” para o micróbio Célula defesa B Produz Anticorpos Anticorpos Neutralizam o Micróbio rapidamente Célula defesa B “memória” para o micróbio Fontes: Do autor,; <https://openclipart.org/detail/205971/virus>; <https://openclipart.org/detail/13288/lymphocyte>; <https:// openclipart.org/detail/129163/siluetas-personajes-masculinos>. Acesso em: 27/4/2019. Ação dos soros e imunoglobulinas No caso de soro ou imunoglobulinas, a imunização é passiva, pois o paciente recebe o anticorpo “pronto”. Esse anticorpo vem do sangue de um animal (soro) ou de seres humanos (imunoglobulinas). Vamos imaginar casos hipotéticos: » soro antirrábico: contém anticorpos retirados de algum animal em laboratório que foi exposto ao vírus da raiva modificado e produziu anticorpos contra este vírus. Quando um paciente é mordido por um cão ou morcego com grande risco de adquirir raiva, é aplicado o soro para evitar a contaminação; » imunoglobulina anti-hepatite B: retirados os anticorpos do sangue de pacientes que já tiveram hepatite B e estão curados (imunizados) ou foram vacinados. Quando um trabalhador tem um acidente com sangue de um paciente que está contaminado pela hepatite B e há grande risco de a pessoa acidentada adquirir a doença, pode-se aplicar a imunoglobulina específica (anticorpo) para hepatite B. 45 CONCEITOS ESSENCIAIS SOBRE AGENTES BIOLÓGICOS │ UNIDADE III Veja que nesses dois casos, a imunização é passiva, pois o paciente já recebe o anticorpo pronto, vindo de um animal ou de outros seres humanos. Figura 26. Soros e imunoglobulinas. Soro - Imunoglobulinas Imunização PASSIVA Micróbio • Morto • Parte • Inativado • Modificado Ou • Infecção prévia Ou • Toxina - veneno Soro ANTICORPOS (Origem animal) Imunoglobulina ANTICORPOS (Origem humana) Y Y Y Y Fontes: <https://openclipart.org/detail/201983/horse800px>; <https://openclipart.org/detail/129163/siluetas-personajes- masculinos>. Acesso em: 27/4/2019. Esse tipo de imunização é usado em casos urgentes, pois no caso da vacina, há um prazo para que ela possa fazer efeito, ou seja, gerar anticorpos. 46 CAPÍTULO 4 Infectividade, patogenicidade, virulência e imunogenicidade Como observado, uma minoria dos agentes biológicos é patogênica ao ser humano. Convivemos diariamente com esses agentes sem que nos sejam nocivos. Alguns conceitos são importantes para entender quais características dos agentes biológicos os tornam um risco à saúde humana. » Infectividade: capacidade de penetrar desenvolver/multiplicar no novo hospedeiro, ocasionando infecção. » Vírus gripe: alta infectividade, facilmente se transmite às pessoas suscetíveis. » Fungos: em geral baixa infectividade; presentes no ambiente, dificilmente se instalam e se multiplicam no organismo do homem. Patogenicidade: capacidade de, após penetrar, causar a doença (sintomas) » Vírus do sarampo: alta patogenicidade, quase todos que são contaminados pelo o vírus, desenvolvem a doença. » Vírus da Poliomielite (paralisia infantil): Baixa patogenicidade. Entre as pessoas que são contaminads pelo vírus, somente cerca de um por cento desenvolve a doença. Virulência: capacidade de gerar casos graves/fatais (indica grande quantidade de casos fatais) » Vírus da raiva: alta virulência (Mata quase todos os infectados) » Vírus do sarampo: alta infectividade, alta patogenicidade, e baixa virulência (é raro ocorrer morte por sarampo, só ocorre quando complicado por desnutrição etc.) Imunogenicidade: capacidade de induzir resposta imune » Vírus do sarampo, rubéola, caxumba etc.: alta imunogenicidade. Uma vez contaminado, não se desenvolve a doença outra vez. 47 CONCEITOS ESSENCIAIS SOBRE AGENTES BIOLÓGICOS │ UNIDADE III » Vírus da Gripe: baixa imunogenicidade. Imunidade temporária, e pode- se adquirir novamente. O grau de risco do agente é baseado nas características de cada agente biológico.A NR-32 traz anexos que mostram esta classificação de risco do agente biológico em quatro classes, bem como a classificação dos principais agentes. Quadro 10. Classificação dos riscos biológicos. ANEXO 1 Os agentes biológicos são classificados em: Classe de risco 1 baixo risco individual para o trabalhador e para a coletividade, com baixa probabilidade de causar doença ao ser humano. Classe de risco 2 risco individual moderado para o trabalhador e baixa probabilidade de disseminação para a coletividade. Podem causar doenças ao ser humano, para as quais existem meios eficazes de profilaxia ou tratamento. Classe de risco 3 risco individual elevado para o trabalhador com probabilidade de disseminação para a coletividade. Podem causar doenças e infecções graves ao ser humano, para as quais nem sempre existem meios eficazes de profilaxia ou tratamento. Classe de risco 4 risco individual elevado para o trabalhador e probabilidade elevada de disseminação para a coletividade. Apresenta grande poder de transmissibilidade de um indivíduo a outro. Podem causar doenças graves ao ser humano, para as quais não existem meios eficazes de profilaxia ou tratamento. Fonte: BRASIL, NORMA REGULAMENTADORA No 32, de 11 de novembro 2005. Segurança e saúde no trabalho em serviços de saúde. 48 UNIDADE IV LISTA OFICIAL BRASILEIRA DE AGENTES BIOLÓGICOS RELACIONADOS AO TRABALHO CAPÍTULO 1 Base legal A lei 8.213/1991, que dispõe sobre a Previdência Social, é também a lei que regulamenta sobre os acidentes e doenças relacionadas ao trabalho. Esta lei define doenças relacionadas à atividade laboral e acidentes do trabalho como acidentes de trabalho. Portanto tanto acidentes como doenças são denominados acidentes de trabalho, como se pode ver nos artigos abaixo: LEI 8213/1991 Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. ... Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes entidades mórbidas: I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social; II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I 49 LISTA OFICIAL BRASILEIRA DE AGENTES BIOLÓGICOS RELACIONADOS AO TRABALHO │ UNIDADE IV § 2o Em caso excepcional, constatando-se que a doença não incluída na relação prevista nos inciso I e II deste artigo resultou das condições especiais em que o trabalho é executado e com ele se relaciona diretamente, a Previdência Social deve considerá-la acidente do trabalho. (Grifo nosso) Portanto, nesses artigos da Lei 8.213/1991 são considerados acidentes de trabalho tanto os acidentes propriamente ditos, quanto as doenças relacionadas ao trabalho (profissional e do trabalho). Observa-se ainda que a lei define que uma relação (uma lista) de doenças relacionadas ao trabalho seria elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social. Outro aspecto importante desta Lei está no § 2o, acima descrito. Observa-se que a legislação não propõe uma lista conclusiva de doenças. Ela define que, mesmo a doença não estando na lista, poderá ser considerada acidente de trabalho, caso se constate que a doença “resultoudas condições em que o trabalho é executado ou com ele se relaciona diretamente”. Um exemplo, para facilitar o entendimento: » Veremos que a Doença de Chagas, causada por um protozoário, não consta da lista oficial. Porém, imaginemos uma pessoa que trabalhe em um laboratório de pesquisa sobre Doença de Chagas se contamine com o protozoário. Nesse caso, apesar desta doença não constar da lista, ela “resultou das condições em que o trabalho é executado ou com ele se relaciona diretamente”, como a lei afirma. Portanto, trata-se de uma doença do trabalho. Existe uma lista oficial de doenças relacionadas ao trabalho que é utilizada por órgãos federais (INSS, Ministério da Saúde (SUS), Ministério do Trabalho, entre outros). Porém, esta lista não é conclusiva, podendo outras doenças serem consideradas acidente de trabalho. A Lei 8.080 de 1990, que dispõe sobre a organização e funcionamento do Sistema Único de Saúde (SUS), também tem definida, em seu Artigo 6o, a elaboração desta lista de doenças relacionadas ao trabalho. 50 UNIDADE IV │ LISTA OFICIAL BRASILEIRA DE AGENTES BIOLÓGICOS RELACIONADOS AO TRABALHO LEI 8080/1990 Art. 6o Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS): ... § 3o Entende-se por saúde do trabalhador, para fins.... VII - revisão periódica da LISTAGEM OFICIAL de doenças originadas no processo de trabalho, tendo na sua elaboração a colaboração das entidades sindicais (Grifo nosso) Esta mesma lista compõe o Anexo II do Decreto 3.048/99 e dá base legal à perícia médica do INSS para analisar se a doença do trabalhador está ou não relacionada ao trabalho, o chamado Nexo Técnico Previdenciário. Com nexo: Doença ou acidente do Trabalho Sem nexo: Doença ou acidente comum (não relacionado ao trabalho) <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3048compilado.htm>. 51 CAPÍTULO 2 A lista (relação) de doenças relacionadas ao trabalho Conforme vimos, as leis definiam a edição de uma relação/lista de doenças relacionadas ao trabalho. Esta lista veio através da Portaria no 1.339, de 18 de novembro de 1999, que assim define em seu preâmbulo: O Ministro de Estado da Saúde, no uso de suas atribuições, e considerando Considerando o artigo 6o, parágrafo 3o inciso VII da Lei no 8.080/1990, que delega ao Sistema Único de Saúde - SUS a revisão periódica da listagem oficial de doenças originadas no processo de trabalho; Considerando a Resolução do Conselho Nacional de Saúde, no 220, de 05 de maio de 1997, que recomenda ao Ministério da Saúde a publicação da Lista de Doenças relacionadas ao Trabalho; Considerando a importância da definição do perfil nosológico da população trabalhadora para o estabelecimento de políticas públicas no campo da saúde do trabalhador, resolve: Art. 1o Instituir a Lista de Doenças relacionadas ao Trabalho, a ser adotada como referência dos agravos originados no processo de trabalho no Sistema Único de Saúde, para uso clínico e epidemiológico, constante no Anexo I desta Portaria. (Grifo nosso) Portaria no 1339: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/1999/prt1339_18_11_1999. html>. Os agentes biológicos citados na lista Nesta lista, estão assim definidas as doenças relacionadas ao trabalho atinentes aos agentes biológicos: 52 UNIDADE IV │ LISTA OFICIAL BRASILEIRA DE AGENTES BIOLÓGICOS RELACIONADOS AO TRABALHO Quadro 11. Agentes biológicos da lista. Bactérias Vírus Fungos Protozoários » Tuberculose » Carbúnculo » Brucelose » Leptospirose » Tétano » Psitacose » Dengue » Febre amarela » Hepatites virais » AIDS » Dermatofitoses e outras micoses superficiais » Candidíase » Paracoccidioidomicose » Malária » Leishmanioses Fonte: Do autor. Abaixo, detalhamos a parte da lista que se relaciona aos riscos biológicos: Quadro 12. Agentes biológicos da lista – detalhada. DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS RELACIONADAS COM O TRABALHO (Grupo I da CID-10) DOENÇAS AGENTES ETIOLÓGICOS OU FATORES DE RISCO DE NATUREZA OCUPACIONAL Bactérias Tuberculose (A15-A19.-) » Exposição ocupacional ao Mycobacterium tuberculosis (Bacilo de Koch) ou Mycobacterium bovis, em atividades em laboratórios de biologia, e atividades realizadas por pessoal de saúde, que propiciam contato direto com produtos contaminados ou com doentes cujos exames bacteriológicos são positivos (Z57.8) (Quadro 25) » Hipersuscetibilidade do trabalhador exposto a poeiras de sílica (Sílico-tuberculose) (J65) Carbúnculo (A22-) Zoonose causada pela exposição ocupacional ao Bacillus anthracis, em atividades suscetíveis de colocar os trabalhadores em contato direto com animais infectados ou com cadáveres desses animais; trabalhos artesanais ou industriais com pelos, pele, couro ou lã. (Z57.8) (Quadro 25) Brucelose (A23.-) Zoonose causada pela exposição ocupacional a Brucella melitensis, B. abortus, B.suis, B. canis etc., em atividades em abatedouros, frigoríficos, manipulação de produtos de carne; ordenha e fabricação de laticínios e atividades assemelhadas. (Z57.8) (Quadro 25) Leptospirose (A27.-) Exposição ocupacional a Leptospira icterohaemorrhagiae (e outras espécies), pelo contato direto com águas sujas, ou em locais suscetíveis de serem sujos por dejetos de animais portadores da leptospira; trabalhos efetuados dentro de minas, túneis, galerias, esgotos em locais subterrâneos; trabalhos em cursos d’água; trabalhos de drenagem; contato com roedores; trabalhos com animais domésticos, e com gado; preparação de alimentos de origem animal, de peixes, de laticínios etc. (Z57.8) (Quadro 25) Tétano (A35.-) Exposição ao Clostridium tetani, em circunstâncias de acidentes do trabalho na agricultura, na construção civil, na indústria, ou em acidentes de trajeto (Z57.8) (Quadro 25) Psitacose, Ornitose, Doença dos Tratadores de Aves (A70.-) Zoonoses causadas pela exposição ocupacional a Chlamydia psittaci ou Chlamydia pneumoniae, em trabalhos em criadouros de aves ou pássaros, atividades de veterinária, em zoológicos, e em laboratórios biológicos etc.(Z57.8) (Quadro 25) Vírus Dengue [Dengue Clássico] (A90.-) Exposição ocupacional ao mosquito (Aedes aegypti), transmissor do arbovírus da dengue, principalmente em atividades em zonas endêmicas, em trabalhos de saúde pública, em trabalhos de laboratórios de pesquisa, entre outros. (Z57.8) (Quadro 25) Febre Amarela (A95.-) Exposição ocupacional ao mosquito (Aedes aegypti), transmissor do arbovírus da Febre Amarela, principalmente em atividades em zonas endêmicas, em trabalhos de saúde pública, em trabalhos de laboratórios de pesquisa, entre outros. (Z57.8) (Quadro 25) Hepatites Virais (B15-B19.-) Exposição ocupacional ao Vírus da Hepatite A (HAV); Vírus da Hepatite B (HBV); Vírus da Hepatite C (HCV); Vírus da Hepatite D (HDV); Vírus da Hepatite E (HEV), em trabalhos envolvendo manipulação, acondicionamento ou emprego de sangue humano ou de seus derivados; trabalho com “águas usadas” e esgotos; trabalhos em contato com materiais provenientes de doentes ou objetos contaminados por eles. (Z57.8) (Quadro 25) Doença pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) (B20-B24.-) Exposição ocupacional ao Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), principalmente em trabalhadores da saúde, em decorrência de acidentes pérfuro-cortantes com agulhas ou material cirúrgico contaminado, e na manipulação, acondicionamento ou emprego de sangue ou de seus derivados, e contato com materiais provenientes de pacientes infectados. (Z57.8) (Quadro 25) 53 LISTA OFICIAL BRASILEIRA DE AGENTES BIOLÓGICOS RELACIONADOS AO TRABALHO │ UNIDADE IV DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS RELACIONADAS COM O TRABALHO (Grupo I da CID-10) DOENÇAS AGENTES ETIOLÓGICOS OU FATORES DE RISCO DE NATUREZA OCUPACIONAL Fungos Dermatofitose (B35.-) e Outras Micoses Superficiais (B36) Exposição ocupacional a fungos do gênero Epidermophyton, Microsporum eTrichophyton, em trabalhos em condições de temperatura elevada e umidade (cozinhas, ginásios,piscinas) e outras situações específicas de exposição ocupacional. (Z57.8) (Quadro 25) Candidíase (B37.-) Exposição ocupacional a Candida albicans, Candida glabrata etc., em trabalhos que requerem longas imersões das mãos em água e irritação mecânica das mãos, tais como trabalhadores de limpeza, lavadeiras, cozinheiras, entre outros. (Z57.8) (Quadro 25) Paracoccidioidomicose (Blastomicose Sul Americana, Blastomicose Brasileira, Doença de Lutz) (B41.-) Exposição ocupacional ao Paracoccidioides brasiliensis, principalmente em trabalhos agrícolas ou florestais e em zonas endêmicas (Z57.8) (Quadro 25) Protozo-ários Malária (B50 – B54.-) Exposição ocupacional ao Plasmodium malariae; Plasmodium vivax; Plasmodium falciparum ou outros protozoários, principalmente em atividades de mineração, construção de barragens ou rodovias, em extração de petróleo e outras atividades que obrigam a entrada dos trabalhadores em zonas endêmicas (Z57.8) (Quadro 25 Leishmaniose Cutânea (B55.1) ou Leishmaniose Cutâneo- Mucosa (B55.2) Exposição ocupacional à Leishmania braziliensis, principalmente em trabalhos agrícolas ou florestais e em zonas endêmicas, e outras situações específicas de exposição ocupacional. (Z57.8) (Quadro 25) Fonte: Ministério da Saúde. Portaria No 1339/GM em 18 de novembro de 1999. 54 UNIDADE VDETALHANDO OS AGENTES Nesta unidade do caderno, trataremos detalhadamente de cada tipo de agente biológico foco da HT, definidos na NR-9 pelo eSocial: » NR9 - PPRA: “bactérias, fungos, bacilos, parasitas, protozoários, vírus, entre outros”; » eSocial: “bactérias, vírus, protozoários, fungos, príons, parasitas e outros”. Facilitando o fluxo do aprendizado, seguiremos a ordem dos agentes biológicos conforme a lista definida pela Portaria no 1339, e 18 de novembro de 1999, do Ministério da Saúde. CAPÍTULO 1 Bactérias e bacilos As bactérias são microrganismos unicelulares (única célula) e procariontes (sem núcleo). As células de organismos mais desenvolvidos têm um núcleo onde fica localizado o material genético da célula (DNA). Nas células procariontes, como as das bactérias, o material genético fica disperso por toda a célula. Formas As bactérias podem ter vários formatos. Na figura abaixo, podem-se observar alguns formatos principais. 55 DETALHANDO OS AGENTES │ UNIDADE V Figura 27. Formas das bactérias. Quanto à forma: • Coco: De forma esférica • Bacilo: Em forma de bastonete • Vibrião: Em forma de vírgula • Espiroqueta: Em forma de espiral. estreptococo estafilococo Fonte: Do autor; <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/de/Bacterial_morphology_diagram-pt.svg>. Acesso em: 27/4/2019. Observe que a NR-9 refere: “9.1.5.3 Consideram-se agentes biológicos as bactérias, fungos, bacilos, parasitas, protozoários, vírus, entre outros.” Na figura que mostra as formas das bactérias, temos que bacilos são bactérias em formado de bastão ou bastonete. Ao lado, uma imagem ao microscópio de bactérias Escherichia coli. Observem o formato de bastão delas. Figura 28. Formas das bactérias. Bacilos. Fonte: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Bacilo#/media/File:E_choli_Gram.JPG>. Acesso em: 27/4/2019. Então, porque a NR-9 separa bactérias de bacilos? 56 UNIDADE V │ DETALHANDO OS AGENTES Bacilos X bactérias Alguns tipos de bacilos são bactérias com características que, em termos de infectividade, multiplicação, patogênese, diferem bastante das bactérias mais comuns. Em especial os bacilos da tuberculose e hanseníase, como veremos a seguir. Os normatizadores, à época da publicação da norma (1994), então, optaram por separar as bactérias dos bacilos. Essa diferenciação não está mais presente em normas mais recentes como a NR-32 e no manual do eSocial. Bactérias da lista A lista de agentes relacionados às doenças do trabalho da Portaria 1.339/1999 do Ministério da Saúde, conforme demostrado, traz as seguintes doenças de etiologia bacteriana: Tuberculose, carbúnculo, brucelose, leptospirose, tétano e psitacose. Vamos agora detalhar cada uma das bactérias da lista. Tuberculose Tuberculose (A15-A19): exposição ocupacional ao Mycobacterium tuberculosis (Bacilo de Koch) ou Mycobacterium bovis, em atividades em laboratórios de biologia, e atividades realizadas por pessoal de saúde, que propiciam contato direto com produtos contaminados ou com doentes cujos exames bacteriológicos são positivos. Hipersuscetibilidade do trabalhador exposto a poeiras de sílica (Sílico-tuberculose) (Fonte: Ministério da Saúde. Portaria No 1.339/GM em 18 de novembro de 1999) “É uma doença infecciosa causada por uma bactéria, Mycobacterium tuberculosis, que acomete geralmente os pulmões, mas pode ocorrer em qualquer outro órgão ou ainda se desenvolver, ao mesmo tempo, em vários órgãos: » Pleura. » Gânglios. 57 DETALHANDO OS AGENTES │ UNIDADE V » Meninge. » Rins e bexiga. » Fígado. » Intestino. » Pele. » Ossos, entre outros. Qualquer pessoa infectada (teve contato, mas não está doente) pelo bacilo de Koch pode desenvolver tuberculose. A OMS estima que um terço da população mundial esteja infectada” (Juntos pelo fim da tuberculose – Ministério da Saúde, 2016). Como citado na parte histórica da Microbiológica, o alemão Robert Koch foi quem descobriu que a doença era causada por essas bactérias e, por isso, foi nomeada “bacilo de Koch”. Figura 29. Robert Koch e o bacilo de “Koch”. Fontes: <https://commons.wikimedia.org/wiki/Robert_Koch#/media/File:RobertKoch_cropped.jpg>; <https://commons. wikimedia.org/wiki/File:Mycobacterium_tuberculosis_MEB_(1).jpg>. Acesso em: 27/4/2019. Tuberculose no Brasil e no mundo A tuberculose acomete pessoas no mundo todo, sendo o Brasil um país de grande prevalência desta patologia. 58 UNIDADE V │ DETALHANDO OS AGENTES Figura 30. Taxas estimadas de incidência de tuberculose no Brasil e no mundo em 2016. • 9,6 milhões de novos casos de tuberculose em todo o mundo. • 1,5 milhão de pessoas morreram em decorrência da tuberculose. • Brasil: Cerca de 70 mil novos casos/ano e 4.500 mortes. O Brasil compõe a lista dos 22 países que concentram 80% da carga de tuberculose do mundo Taxas estimadas de incidência, 2016 2016 Brasil: 42 casos/100 mil habitantes/ano Incidência por 100 mil habitantes/ano Fonte: WHO. Global tuberculosis report 2016. Transmissão Figura 31. Transmissão da Tuberculose. Fonte: <http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2016/agosto/24/af-album-seriado-tuberculose-30jun16-WEB.pdf>. Acesso em: 27/4/2019. Características da transmissão: » Os bacilos são expelidos através de aerossóis pelo doente (portador de doença ativa) quando tosse, fala, espirra ou cospe. » Contatos próximos (pessoas que têm contato frequente) têm alto risco de se infectarem. 59 DETALHANDO OS AGENTES │ UNIDADE V » A transmissão depende do grau de infecção do doente, quantidade expelida de secreção, da forma e duração da exposição ao bacilo e da infectividade do agente. » O tratamento cessa a transmissão em torno de 15 dias. Figura 32. Mycobacterium bovis. Fonte: <https://en.wikipedia.org/wiki/Cheese#/media/File:Cowgirl_Creamery_Point_Reyes_-_Red_Hawk_cheese.jpg>. Acesso em: 27/4/2019. » 1% a 2% dos casos de tuberculose. » Ingestão de laticínios contaminados e não fervidos ou não pasteurizados. Comum antes da invenção da pasteurização. » Diversos queijos ainda são feitos apenas com leite não pasteurizado e podem ser fontes de contágio (Cuidado com os leites e queijos “caipiras”). » Trabalhador rural – sangue e secreções de bovinos contaminados. Contato humano-humano (menos comum). Tuberculose – A doença A principal forma da doença é a pulmonar e: » em 90% das pessoas infectadas, o sistema imune contém o avanço da doença, formando granulomas tubérculos que são tecidos mortos com o bacilo dentro. » cerca de 10% das pessoas infectadas desenvolvem a tuberculose. » alguns fatores favorecem o surgimento
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