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Terapia Nutricional no Câncer Profa. Paula Salmito Definição Câncer pode ser definido como um GRUPO DE DOENÇAS vasto e heterogêneo caracterizado pelo progressivo crescimento celular anormal e por mutações intracelulares (genoma). Fatores de Risco Químicos (Níquel, Benzopireno, Agrotóxicos, etc) Físicos (Radiações ionizantes e Raios UV) Biológicos (Bactérias, Vírus e Fungos) Fatores Ambientais Outros Fatores Ambientais Associados ao Câncer: - Tabagismo e Alcoolismo - Uso Crônico de Estrógenos (Estudos são conflitantes) - Obesidade - Alimentação Rica em Gordura Trans e Saturada Fatores de Risco Carne Vermelha: CA Colorretal Bebidas alcoólica: CA boca, laringe, faringe, esôfago, colorretal e mama Excesso de Gordura Corporal: CA esôfago, pâncreas, vesícula biliar, colorretal, mama, endométrio e rins Estimativa de fator prevenível de câncer pela alimentação, nutrição, atividade física e gordura corporal: - Boca, faringe e laringe: 63% - Esôfago: 60% - Endométrio: 52% - Estômago: 41% Fatores de Risco Fatores Genéticos - Mais associados a alterações na expressão de um gene (Oncogenes X Genes Supressores) - Expressão de proteínas importantes no controle da apoptose celular (P53) - Ocorre mais em crianças Epidemiologia Mundo (OMS) - 14,1 milhões de novos casos - 8,2 milhões de mortes - Em 2030 estima-se 21,4 milhões de novos casos com 13,2 milhões de morte/ano Brasil (INCA 2018) - Homens: 324.580 mil novos casos - Mulheres: 310.300 mil novos casos Tipos de Câncer mais Incidentes no Brasil HOMENS - Próstata - Pulmão - Cólon e Reto - Estômago - Cavidade Oral/Esôfago - Melanoma MULHERES - Mama - Pulmão - Cólon e Reto - Estômago - Colo do Útero - Cavidade Oral/Esôfago - Melanoma Distribuição do Câncer É um problema de saúde pública A distribuição é diferente entre as regiões do Brasil - Ex: Sul e Sudeste ocupam a liderança e Norte/Nordeste a menor incidência A frequência do tipo de câncer varia muito entre os sexos e regiões - Ex: Câncer de estômago é 2x mais frequente em homens - Ex: Melanoma é mais incidente no Nordeste Carcinogênese Mais de 200 genes estão envolvidos no processo de alteração molecular para proliferação celular tumoral Carcinogênese Oncogenes e Genes Supressores - Aproximadamente 30 genes supressores - Inibem proliferação celular - Promovem apoptose - Inatividade = Perda de função - Existem 2 genes supressores p/ 1 oncogene - Exemplo: p53 Genes de Reparo: descobertos recentemente e são responsáveis por reparar danos ao DNA das células Fases do Processo de Carcinogênese Processo lento e pode levar anos Possui diferentes fases: - Iniciação - Promoção - Progressão Fases do Processo de Carcinogênese Iniciação: Dano ao DNA genômico que pode acarretar mutações que são passados as células “filhas”, porém são compatíveis com a vida; Nessa fase atuam os Genes de Reparo de DNA; Caso o dano não seja reparado a tempo essa mutação pode evoluir e gerar células tumorais Fases do Processo de Carcinogênese Promoção: expansão clonal das células iniciadas. Aumento no nº de mutações (Células pré-malignas). É uma etapa REVERSÍVEL; GRANDE PERÍODO DE LATÊNCIA; Para que ocorra essa transformação, é necessário um longo e continuado contato com o agente cancerígeno promotor; A suspensão do contato com agentes promotores muitas vezes interrompe o processo nesse estágio; Alguns componentes da alimentação e a exposição excessiva e prolongada a hormônios são exemplos de fatores que promovem a transformação de células iniciadas em malignas. Fases do Processo de Carcinogênese Fases do Processo de Carcinogênese PROGRESSÃO: é o terceiro e último estágio • Fenótipo malígno • Características de agressividade (invasão e disseminação) • Crescimento descontrolado • Velocidade anormal • Ativação de oncogenes e inativação de genes supressores • Irreversível Nesse estágio o câncer já está instalado, evoluindo até o surgimento das primeiras manifestações clínicas da doença. O PAPEL DOS COMPOSTOS BIOATIVOS NO CANCER Os compostos biotivos podem influenciar nas diversas etapas do desenvolvimento de carcinomas, sendo classificados como: - INIBIDORES - BLOQUEADORES - SUPRESSORES O PAPEL DOS COMPOSTOS BIOATIVOS NO CANCER INIBIDORES Teriam a capacidade de INIBIR a formação de carcinógenos (Preventivo) BLOQUEADORES Atuariam na fase de iniciação da doença (Sugestiva ação na modulação de genes – Metilação e acetilação) SUPRESSORES Teriam sua ação nas fases de promoção e progressão da doença (Instalação do Tumor) O PAPEL DOS COMPOSTOS BIOATIVOS NO CANCER Estudos tem se voltado para compostos capazes de MODULAR A EXPRESSÃO DOS GENES (EPIGENÉTICA) - Compostos que atuam INIBINDO ENZIMAS A NÍVEL MOLECULAR: Desacetilases - Composto promissore: Ácido Butírico na fase inicial da doença (Inibidor) - Leucemia e CA de cólon. Limitação: Reduzido tempo de ação. Compostos Imunomoduladores, ou seja, Levam a apoptose de células alteradas: - Tributirina, presente na gordura do leite e no mel; - Ação Inibitória: eficaz no hepatocarcinoma O PAPEL DOS COMPOSTOS BIOATIVOS NO CANCER ALGUNS COMPOSTOS RELATADOS NA LITERATURA COM AÇÃO ANTITUMORAL: Fase de Iniciação (Inibidor) Fase de Promoção e Progressão (Bloqueador e/ou Supressor) Licopeno Beta Caroteno Luteína Vitamina A Ácido Retinóico Geraniol Farnesol Beta ionona Ácido Fólico Selênio Café Alho Como se comportam as células com câncer? Geralmente, têm capacidade para formar novos vasos sanguíneos (ANGIOGÊNESE) mantendo a atividades de crescimento descontrolado; O acúmulo dessas células forma os tumores malignos; Multiplicam-se de maneira descontrolada, mais rapidamente do que as células normais do tecido à sua volta, invadindo-o; Mecanismo de morte celular está inativo Como se comportam as células com câncer? Adquirem a capacidade de se desprender do tumor e de migrar; Invadem inicialmente os tecidos vizinhos, podendo chegar ao interior de um vaso sangüíneo ou linfático e, através desses, disseminar-se, chegando a órgãos distantes do local onde o tumor se iniciou, formando as metástases; As células com câncer são, geralmente, menos especializadas nas suas funções do que as suas correspondentes normais. Como se comportam as células com câncer? Conforme as células com câncer vão substituindo as normais, os tecidos invadidos vão perdendo suas funções; Dependendo do tipo da célula do tumor, alguns dão metástases mais rápido e mais precocemente, outros o fazem bem lentamente ou até não o fazem Padrões de Crescimento Proliferativo • HIPERPLASIA • HIPERTROFIA • METAPLASIA • DISPLASIA Não Neoplásicos • Anaplasia • Neoplasia Neoplásicos Padrões de Crescimento Proliferativo Hiper plasia •Aumento do número de células Hiper trofia •Aumento do tamanho das células Meta plasia •Troca da célula por uma de outro tecido Displa sia •Crescimento de células do mesmo tecido, mas menos madura Padrões de Crescimento Proliferativo Anaplasia •Crescimento de novas células com características primitiva (embrionárias). Indica desvios da normalidade mais acentuados do que na displasia, além de ser irreversível. Representa o melhor critério para o diagnóstico de malignidade dos tumores (neoplasias). Neoplasia •Crescimento novo. Células maduras, mas que não desempenham suas funções Caquexia do Câncer Conjunto de anorexia, perda de peso, perda de massa muscular e gordurosa + anemia; Fatores locais: tumores TGI (obstrução, má-absorção, náuseas e vômitos), ovarianos e hepático(ascite), SNC (↓ consciência) Presença de alterações metabólicas importantes; Frequentemente associada a casos de neoplasia do pulmão, pâncreas, rins e trato gastrintestinal Síndrome multifatorial, na qual há perda contínua de massa muscular (com perda ou ausência de perda de massa gorda), que não pode ser totalmente revertida pela terapianutricional convencional, conduzindo ao comprometimento funcional progressivo do organismo (Consenso Internacional, 2011). Síndrome da Caquexia A desnutrição protéico-calórica é muito comum no câncer (30 – 50%) dos pacientes; Intensidade varia conforme o tipo, localização e estágio da neoplasia PACIENTE COM COMPROMETIMENTO DO ESTADO NUTRICIONAL AUMENTO DA MORBIDADE E DA MORTALIDADE Síndrome da Caquexia GERALMENTE OCORRE PERDA DE 30% DO PESO 85% MASSA GORDA E 75% MASSA MUSCULAR (ESQUELÉTICO) Não há alteração do conteúdo visceral Síndrome da Caquexia Caquexia do Câncer 2/3 dos pacientes apresentam-se caquéticos, no momento do óbito; 22% das mortes são causadas por esta condição; Resulta em diminuição da resposta à QT e RT; Em pacientes cirúrgicos aumenta morte e morbidade; Aumenta a incidência de complicações. Caquexia do Câncer – Manifestações Clínicas Anorexia Perda tecidual Atrofia da musculatura esquelética Miopatia (doença do músculo) Perda rápida do tecido gorduroso Alterações da sensibilidade do paladar Saciedade precoce Perda de peso Caquexia do Câncer – Manifestações Laboratoriais Anemia Hipoalbuminemia Hipoglicemia Hiperlipidemia Intolerância a glicose Caquexia do Câncer - Alterações Metabólicas Algumas vezes a caquexia se estabelece na ausência de anorexia ou redução da ingestão alimentar Citocinas: ↑ TNF, IL-1, IL-2, IL-6 Hormônios: ↑ cortisol, glucagon, catecolaminas e hormônio de crescimento Algumas vezes a terapia nutricional não consegue restabelecer o processo de perda tecidual Caquexia do Câncer - Alterações Metabólicas As principais alterações metabólicas envolvem: • Estímulo da gliconeogênese • Aumento da captação de glicose pelas células tumorais (10 – 50x em relação as células normais) Proteínas: ↑ turnover de proteínas, ↑ catabolismo muscular, ↓ aa ramificados no plasma; Lipídios: ↑ lipólise, ↓ lipogênese, hiperlipidemia TMB: ↑ em alguns tumores e pode ↓ em outros Resumindo as alterações Metabólicas na Caquexia do Câncer Resumindo as alterações Metabólicas na Caquexia do Câncer Resumindo as alterações Metabólicas na Caquexia do Câncer Assistência Nutricional no Paciente com Câncer Ambulatorial e Hospitalar - Avaliação nutricional (Diagnóstico Nutricional) - Cálculo das necessidades nutricionais - Terapia nutricional Avaliação Nutricional Avaliação nutricional Métodos subjetivos - História clínica - Exame físico - História nutricional - Dados sócio-econômicos Métodos objetivos - Medidas antropométricas - Exames bioquímicos - Testes imunológicos Avaliação Nutricional Paciente Ambulatorial s/risco nutricional - Reavaliação a cada 30 dias Paciente Ambulatorial c/ risco nutricional - Reavaliação a cada 15 dias Paciente Hospitalizados - ASG a cada 48h - Avaliação Nutricional Completa 1x/semana Indicadores de Risco Nutricional ASG – B ou C ASG-PPP: ≥ 2 (Método preferencial de avaliação nutricional em pacientes oncológicos - Consenso INCA) Ingestão alimentar < 60% das necessidades %PP – significativa ou grave Transplante alogênico NECESSIDADES NUTRICIONAIS Objetivos da TN do Paciente Oncológico em Tratamento Prevenir ou recuperar a deficiência de nutrientes Preservar a massa corpórea magra Minimizar as complicações pós-cirúrgicas, bem como ajudar na recuperação e cicatrização Melhorar a tolerância aos tratamentos de quimio e radioterapia Manter o vigor físico e energia Melhorar a qualidade de vida Aumentar a resposta imune Necessidades Nutricionais Necessidades Nutricionais TERAPIA NUTRICIONAL Estado Nutricional Estágio da Doença Efeito do Tratamento Assistência Nutricional Clínico Cirúrgico Terapia Química e/ou Radioterápica Cuidados Paliativos Assistência Nutricional Paciente Clínico Observar: - Proteínas séricas - Albumina - Pré-albumina - Transferrina - Proteína ligada ao retinol - Proteína C reativa - Perfil glicêmico Se o paciente tem risco de desnutrição ou já se apresenta desnutrido a dieta deve ser Hipercalórica e Hiperprotéica; - Normoglicídica (observar glicemia) - Normolipídica (Verificar perfil de lipídios e tipo de Câncer) Se o paciente eutrófico e não tem risco de desnutrição a dieta deve ser normocalórica e normoprotéica; - Normoglicídica (observar glicemia) - Normolipídica (Verificar perfil de lipídios e tipo de Câncer) Assistência Nutricional Paciente Clínico Micronutrientes e Fibras - 100% da DRI, especialmente os antioxidantes Tipo de Fibras - Diarreia: + Solúveis - Constipação: + Insolúveis com aumento no consumo hídrico Terapia Nutricional no paciente Cirúrgico Em condições pré - operatória – severo risco nutricional: iniciar 10 a 14 dias antes da cirurgia Perda de peso > 10-15% nos últimos 6 meses IMC < 18,5 kg/m2 ASG: grau C Albumina: < 30 g/l Indicações da TNE Cirurgia No pós-operatório de cirurgia de cabeça e pescoço e GI em pacientes desnutridos ↓ Iniciar TNE precoce TERAPIA NUTRICIONAL NA QUIMIO E RADIOTERAPIA Repercussões nutricionais dependem também da região irradiada, número de aplicações, concomitância com quimioterapia Prevalência de desnutrição em radioterapia: - 11 – 33% (geral) - 50% (abdominal) - 30 – 90% cabeça/pescoço, trato aerodigestivo Efeitos colaterais da radioterapia Início entre 2a e 3a semana • SNC : Anorexia, náuseas, vômitos • Tórax: Disfagia, odinofagia, esofagite, náuseas, vômitos Efeitos colaterais da radioterapia Abdômen e pélvis Náuseas, vômitos, dor abdominal, diarreia (6 - 87%), esteatorréia, ulcerações, fístulas, obstrução, enterite actínica (100% imediato; 2,5-25% tardio), constipação, anorexia Toxicidade (30%) Perda ponderal (83%) Conjunto de sintomas (6-78%) Efeitos colaterais da radioterapia Cabeça e pescoço Mucosite (96%), xerostomia (83%), disfagia (imediata e tardia), odinofagia, alterações gustativas e olfativas, anorexia, monilíase Perda ponderal (93%) Indicações da TNE Radioterapia Radiação na região cabeça / pescoço e esôfago Não há indicação de rotina para radioterapia em outras regiões do corpo Efeitos Colaterais da Quimioterapia Alteração do apetite Alteração do paladar Alteração de peso Anemia Diarreia Distensão Abdominal (com dor ou desconforto) Efeitos Colaterais da Quimioterapia Edema Estomatite Glossite Hiper/hipoglicemia Hipocalcemia Hipocalemia Náuseas Retenção Na/H20 Ulcerações digestivas Vômitos Indicações da TNE Quimioterapia Não há indicação de rotina para pacientes em quimioterapia No paciente incapaz de se alimentar: > 7 dias Quando a ingestão alimentar: < 60% das necessidades - > 10 dias TNP – Impossibilidade de uso do TGI Vias de Acesso x Câncer Pós-operatório de câncer cabeça e pescoço: gastrostomia Grandes cirurgias do TGI: nasojejunal ou jejunostomia Radio e quimioterapia: via transnasal ou percutânea Mucosite oral: gastrostomia Contra-indicações da TNE Transplante de medula óssea Obstrução intestinal Choque severo Isquemia intestinal Dieta Enteral Imunomoduladora Ácidos graxos W-3 Modulador metabólico e inflamatório Modula a síntese de eicosanoides Reduz os níveis IL-1, IL-1β, IL-6 e TNF-α Reduz a excreção urinária do Fator de Indução da Proteólise (PIF) Não há recomendação de suplementação na Terapia de Manutenção Oral Dieta Enteral Imunomoduladora Glutamina Preserva a função e permeabilidade intestinal Reduz a perda proteica durante o estresse Favorece a função dos macrófagos e linfócitos, e a fagocitose neutrofÍlica Não há recomendação de suplementação na Terapia de Manutenção Oral Dieta Enteral Imunomoduladora INDICAÇÃO: Pré-operatório de cirurgias abdominais e de cirurgias cabeça pescoço Iniciar 5 a 7 dias antes independente do Estado Nutricional Dieta com imunomoduladores(w-3 e arginina) Continuar no pós-operatório por 5 a 7 dias com dieta imunomoduladora (cirurgias não complicadas) ATENÇÃO AO W3 – Somente no Pré- Operatório, pois ele atrapalha a formação de colágeno e consequentemente a cicatrização Pacientes em Cuidados Paliativos Doença Avançada Doença terminal Cuidados ao fim da vida Objetivos da TN no Câncer Avançado • Reduzir os efeitos locais do tumor • Reduzir os riscos de infecção • Reduzir a astenia • Proporcionar bem-estar Necessidades Nutricionais TNE no Câncer Avançado TNE reduz a privação nutricional, evita a desidratação Gastrostomia – associa-se a maior risco de infecção TNE deve ser utilizada em pacientes impossibilitados de usar a via oral por período prolongado TNE não é justificada, desde que não traga benefícios Respeitar a vontade do indivíduo e da família Terapia Nutricional em Cuidados Paliativos Sempre respeitar tolerância e aceitação Ajustar as recomendações de acordo com as comorbidades TNP não oferece benefícios no estágio terminal da doença Objetivos: promover conforto, alívio dos sintomas e melhora da QV do paciente Não há indicação para TN – considerar consenso entre paciente / família e equipe multidisciplinar Lembrar que a TN está contra-indicada: instabilidade hemodinâmica No paciente oncológico ao fim da vida – aspectos bioéticos
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