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Categoria Analise de poemas

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Categoria: ANÁLISE DE POEMAS
– MANUEL BANDEIRA
Profundamente
Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes, cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.
No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam, errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?
— Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente.
*
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.    (Manuel Bandeira)
      O poema possui 38 versos livres divididos em cinco estrofes e pode ser desmembrado em dois momentos: o passado e o presente. As três primeiras estrofes referem-se ao passado como atestam os verbos utilizados pelo autor no pretérito  ( “ adormeci”, “despertei”, “ouvi” etc.) enquanto as duas últimas ao momento presente, observado no uso de advérbio (“hoje”) e nos verbos no presente ( “ouço”, “estão”).
       Inicialmente, o eu lírico confessa uma frustração: a de não ver o fim da festa de São João porque adormecera. Quando despertou no meio da noite, a festa já havia terminado e todos estavam dormindo. O verso de abertura do poema “ Quando ontem adormeci” apresenta um advérbio de tempo (“ontem”) que representa a infância do autor. E essa ideia é confirmada no primeiro verso da terceira estrofe, pois nele há a indicação da idade “ Quando eu tinha seis anos”.
      Nas três primeiras estrofes, o sentimento de perda ocorre por uma imposição da disposição física, porque o menino adormeceu  antes do fim da festa. Já, nas duas últimas estrofes, o sentimento de perda é reiterado e ampliado. No momento presente “hoje não ouço mais as vozes daquele tempo”, percebe-se que a frustração não é causada pelo sono, mas pela morte. Os amigos e familiares da infância do eu lírico “Estão todos dormindo /  Estão todos deitados/ dormindo/ Profundamente”.
      A quarta estrofe do poema não vem separada das anteriores por um ponto final, o que adquire um significado expressivo. O advérbio de tempo “hoje” que abre a estrofe não institui a mudança temporal esperada, pois a ausência de um ponto final na estrofe anterior integra o passado ao presente, enlaçando o “ontem”, “quando eu tinha seis anos”, ao “hoje”.
      A ausência do ponto final não demarca e nem divide o poema em dois blocos semânticos. O sentimento de perda une o passado ao presente, indiferente às sucessivas etapas da vida, e o sentimento de frustração é a marca indelével do autor. Perder o fim da festa na infância talvez fosse para ele uma aprendizagem para suportar as perdas impostas pela morte. “Profundamente”, advérbio de modo que dá título ao poema, tanto se refere à morte dos familiares quanto à sensação de perda que obriga o sujeito a mergulhar nos cantos mais profundos da alma para encontrar a serenidade necessária para suportar a vida.
        No transcorrer do poema, as lembranças do poeta não resvalam nunca no desespero ou em uma  visão pessimista da vida. Ao construir o seu discurso sobre as perdas do passado e do presente em um estilo simples, sem exageros sentimentais, o poeta revela a serenidade com que aceita o peso negativo das etapas vencidas, mas não esquecidas.
A Onda
a onda anda
aonde anda
      a onda?
a onda ainda
ainda onda
ainda anda
        aonde?
aonde?
a onda anda?
      Manuel  Bandeira. Estrela da tarde
        O que mais chama atenção do leitor no poema é a utilização de palavras parecidas entre si, ou seja, um recurso estilístico sonoro cujo nome é paronomásia: onda, anda, aonde, ainda. A palavra que serve de base às variações sonoras é “onda”, que dá título ao poema.
      Manuel Bandeira, por meio do emprego das figuras de linguagem: paronomásia, anáfora, a combinação de um pequeno repertório vocabular e a disposição das palavras no papel, sugere o movimento da onda. As palavras do poema descrevem uma sonoridade arredondada, que provoca uma espécie de letargia, de embriaguez. Como se não bastasse todo esse poder de sugestão, ainda, pode-se acrescentar: a leitura em voz alta do poema em análise, acarreta a sensação de estar recitando um mantra ou mesmo uma espécie de ladainha.
      Ao optar por este tipo de construção o autor viabilizou a fluidez sonora, por isso os vocábulos perdem a sua singularidade e se assemelham cada vez mais. Observa-se que mesmo comprometendo a regência verbal – a construção “ aonde anda a onda?” talvez cause estranheza . Não se deveria perguntar “ para onde anda a onda?” Com certeza, pois essa seria a forma mais correta de acordo com o ponto de vista gramatical. Entretanto, a presença da preposição para quebraria a fluidez sonora e a semelhança entre as palavras que compõem o poema.
      O conhecimento, a intencionalidade e a sensibilidade de Bandeira não permitiram a quebra da musicalidade do poema em nome da obediência à regra gramatical. A utilização da preposição para seria um corpo completamente estranho nesse poema que possui apenas o –nd- como consoantes, aliás, presentes em todas as palavras, tornando, é claro, sua musicalidade ainda mais forte. Se a consoante é escassa, logo abundância de vogais, que são mais leves e mais fluidas, atendendo, portanto, ao propósito do autor, já que elas servem melhor para exprimir as flutuações do mar, o ritmo das águas.
     Deve-se, portanto, celebrar a genialidade de Manuel Bandeira. Por que incorporar à sua produção duas consoantes P e R? Se elas têm o poder de quebrar a musicalidade de um poema tão líquido!
                                                                                             Zamira Pacheco
Análise do poema Estrela da manhã
Eu quero a estrela da manhã
Onde está a estrela da manhã?
Meus amigos meus inimigos
Procurem a estrela da manhã
 
Ela desapareceu ia nua
Desapareceu com quem?
Procurem por toda parte
 
Digam que eu sou um homem sem orgulho
Um homem que aceita tudo
Que me importa?
Eu quero a estrela da manhã
 
Três dias e três noites
Fui assassino e suicida
Ladrão, pulha, falsário
 
Virgem mal sexuada
Atribuladora dos aflitos
Girafa de duas cabeças
Pecai por todos pecai com todos
 
Pecai com os malandros
Pecai com os sargentos
Pecai com os fuzileiros navais
Pecai de todas as maneiras
 
Com os gregos e com os troianos
Com o padre e com o sacristão
Com o leproso de Pouso Alto
 
Depois comigo
 
Te esperarei com mafuás novenas cavalhadas comerei terra e direi
[coisas de uma ternura tão simples
Que tu desfalecerás
 Procurem por toda parte
Pura ou degradada até a última baixeza
Eu quero a estrela da manhã.
O poema em análise abre o livro Estrela da manhã é homônimo do título da obra. Ele é composto de 31 versos livres, distribuídos em 10 estrofes. A estrofe inicial apresenta a ânsia do poeta em encontrar o que ele denomina “estrela da manhã”, solicitando para tanto a ajuda dos amigos e dos inimigos. A segunda estrofe confere um significado especial à estrela, pois ela desapareceu nua, talvez acompanhada por alguém. Ao associar o termo nua ao termo estrela, este ganha no sentido, indicando a encarnação do desejo do poeta aludindo a uma figura feminina.
       Na terceira estrofe, o despojamento moral do eu lírico reforça a ideia de seu sofrimento em função da privação da companhia desejada: “Digam que sou um homem sem orgulho / um homem que aceita tudo/ que me importa?”
       A quarta e quinta estrofes apresentam a passagem para um estado delirante, que se inicia por uma auto degradação e culmina em uma visão surrealista, isto é, em uma imagem que brota, diretamente, do inconsciente: “girafa de duas cabeças”.
      A sexta e sétima estrofes revelam, pelo recurso da anáfora, isto é, da repetição do termo no início do verso, o dilaceramento do eu lírico em face ao desejo, pois ele aceita todaa degradação moral do objeto desejado. A repetição do verbo no imperativo “pecai” alude ao próprio desejo de pecar, o que pode ser observado na estrofe seguinte, composta de um único verso: “Depois comigo”. O isolamento do verso na estrofe intensifica a ideia de solidão. A sucessão dos verbos no imperativo pelo verso nominal, ou seja, o verso sem verbo, realça a intensidade do desejo e a condição solitária do eu lírico.
       A abertura da penúltima estrofe apresenta um verso longo, sem vírgulas: “Te esperarei com mafuás novenas cavalhadas comerei terra e direi coisas de uma ternura tão simples”. A ausência de pontuação reforça a amplitude do desejo. Mafuás são feiras ou parques de diversões; novena é o período de nove dias dedicado a orações; cavalhadas é um folguedo, uma festa popular; a diversão (mafuás, cavalhadas) e a devoção (novena) fundem-se em uma mesma perspectiva, que é a busca da realização do desejo do poeta, e a imagem da mulher desejada torna-se simultaneamente sagrada e profana. O desejo é tão intenso que chega ao limiar da loucura “comerei terra” para, em seguida, converter-se em sublime ternura na construção de um discurso “e direi coisas de uma ternura tão simples” capaz de levar o objeto do seu desejo, no verso seguinte, à perda da consciência “Que tu desfalecerás”.
      Na última estrofe, o eu lírico invoca o auxílio de todos em busca da “estrela da manhã”: “ Procurem por toda parte”. E a estrela parece assumir o significado do desejo amoroso atormentado, pois é desejada “Pura ou degradada até a última baixeza”.
      O tema da frustração é uma constante na obra de Manuel Bandeira e aparece muitas vezes ligado à imagem da estrela. A estrela que o poeta pode apenas contemplar, sem jamais tocar, simboliza a impossibilidade da realização de uma vida desejada. Na abertura de Estrela da vida inteira, o poeta escreveu: “Estrela da vida inteira/ da vida inteira que poderia ter sido/ e que não foi./ Poesia, minha vida verdadeira.”
       Em Estrela da manhã, a imagem da estrela está relacionada ao desejo amoroso, mas ao desejo amoroso frustrado. O poeta procura pela estrela, porém não consegue encontrá-la e nem tocá-la.
         Curiosamente, o poema de abertura do livro e o de fechamento mantêm entre si uma estreita relação, porque o último poema também apresenta a imagem da estrela:
A Estrela e o Anjo
Vésper caiu cheia de pudor na minha cama
Vésper em cuja ardência não havia a menor parcela de sensualidade
Enquanto eu gritava o seu nome três vezes
Dois grandes botões de rosa murcharam
E o anjo da guarda quedou-se de mãos postas no desejo in-
                                                                  satisfeito de Deus

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