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HEMORRAGIA SUBARACNOIDEA Eduarda Lins, Mário Cury e Tiago Yuta INTRODUÇÃO Hemorragia subaracnoide (HSA): Symonds, 1924 Causa mais comum: trauma de crânio Aneurismas e malformações vasculares (MAV) → HSA espontânea Importante distinguir → abordagem muito divergente INTRODUÇÃO Mortalidade: 40 a 50% Causa predominante após HSAE: impacto inicial da hemorragia ↓ incidência da ruptura de aneurismas Conhecimento de fatores de risco mutáveis (tabagismo) HAS e contraceptivos orais: dados inconsistentes. INTRODUÇÃO Pacientes com HSAE → ↑ risco de novo episódio Cirurgia precoce: benéfica Pacientes sobreviventes: clipagem para prevenir novo sangramento EPIDEMIOLOGIA HSAE Aneurismas cerebrais saculares: 75 a 80% MAVs: 4 a 5% Indeterminada: 15 a 20% Aneurismas intracranianos Necropsia: 1 a 6% entre adultos (muito pequenos) Adultos realizando angiografia: 0,5 a 1%. EPIDEMIOLOGIA Aneurismas intracranianos 80 a 85%: circulação anterior ↑ morbimortalidade Brasil: 50 a 60% Pacientes hospitalizados: 40% em 1 mês ≥ 1/3: déficit neurológico importante Junção carótida interna + ACP Complexo ACA Bifurcação ACM EPIDEMIOLOGIA Aneurismas intracranianos 56% ♀ < 50 anos: mais comum ♂ Variação geográfica: Finlândia e Japão Ruptura: 40 a 60 anos Apenas 10% < 30 anos 1 a 2% da população adulta: algum aneurisma sacular fisiopatologia Livre comunicação: ESA e artérias cerebrais Causa mais comum: ruptura de aneurisma intracraniano Aneurismas Lâmina elástica e túnica média defeituosas Expansão com a idade Parede típica: apenas íntima e adventícia fisiopatologia Ruptura de aneurisma → sangue no ESA ↑ PIC regional (= PA sistêmica) Sangue se espalha pelo ESA → sinais e sintomas ↓ FS encefálico e taxa metabólica encefálica ↑ PIC + ↓ consciência + alteração da autorregulação vascular fisiopatologia Hidrocefalia: coágulos dificultam absorção de LCR Formação de hematoma → ↑ ↑ ↑ PIC Efeito de massa → edema peri-hematoma Até 1/3 dos pacientes: determinante mais importante da PIC Sangue na parede externa → vasoespasmo Meningite química fisiopatologia Aneurisma sacular ou congênito: 90% dos AIC Bifurcações das grandes artérias intracranianas ♂: artéria cerebral ou comunicante anterior ♀: artéria carótida interna com a comunicante posterior Aneurisma fusiforme ou arteriosclerótico: 7% dos AIC Sistema vertebrobasilar Síndromes compressivas do TE e neuropatias cranianas Fonte: ROBBINS, 2015. Fatores de risco Relacionados com o paciente Tabagismo HAS Uso de cocaína Etilismo Uso de anticoncepcionais Gestação e parto História familiar de HSA Relacionados com o aneurisma Tamanho: 3 a 10 mm (77 a 86%) Morfologia: multilobulados e irregulares Outros fatores Alterações da pressão atmosférica Alterações diurnas: > noite Alterações sazonais: > inverno OUTRAS CAUSAS Malformações arteriovenosas (cerebrais e espinais) Angiomas Discrasias sanguíneas Uso de drogas (cocaína, crack e anfetaminas) Tumores intracranianos TVC Dissecções arteriais intracranianas Angiítes QUADRO CLÍNICO Mais comum: cefaleia súbita e intensa “Pior dor de cabeça da vida” Em “ribombar de trovão” Associados: meningismo, náuseas, fotofobia e vômitos Perda de consciência: 30% das HSA Déficits focais de NC: > incidência nos aneurismáticos QUADRO CLÍNICO ≥ 1/3: sintomas suspeitos dias ou semanas antes Cefaleia, rigidez de nuca, náuseas e vômitos, síncope ou alterações da visão Pequenos vazamentos: cefaleias sentinelas QUADRO CLÍNICO Alguns sinais e sintomas específicos do sítio Crises convulsivas: > circulação anterior ACA: déficit motor MMII ACM: hemiparesia, hemianopsia e disfasia Paralisia III NC: ACInt-ACoP ou ACeS-ACM QUADRO CLÍNICO Outros déficits focais: HIP, vasoespasmo e edema 15% diagnóstico inicial incorreto Maior risco se sintomas leves 40%: deterioração neurológica por novo sangramento Mortalidade imediata de 12 a 15% Importante causa de morte súbita Sinais de mau prognóstico Depressão do NC na admissão Idade avançada Quantidade sangue na TC inicial Estado neurológico precário após 24 h do icto Tamanho, localização e forma do aneurisma Escalas CLÍNICAS Escala de Hunt & Hess Grau Descrição Taxa de mortalidade (%) 0 Assintomático (sem HSA) - I Assintomático, cefaleia ou rigidez de nuca mínima 1,4 II Cefaleia moderada a intensa, rigidez de nuca, sem déficit neurológico (exceto par craniano) 5,4 III Sonolência, confusão, déficit focal leve 18,8 IV Coma, hemiparesia moderada ou intensa, distúrbios vegetativos, descerebração 41,9 V Coma profundo, descerebração, moribundo 76,9 Escalas CLÍNICAS Classificação da World Federation of Neurosurgeons (WFNS) Grau Déficit motor Escala de coma de Glasgow I Ausente 15 II Ausente 13-14 III Presente 13-14 IV Presente ou não 7-12 V Presente ou não 3-6 DIAGNÓSTICO Suspeita clínica: sinais e sintomas Comorbidades e história familiar Padrão-ouro: TC de crânio Até 12h: sensibilidade de 98% 1º dia: 95% 3º dia: 73% Detecção do sangramento Avaliação da etiologia Determinação da topografia da lesão DIAGNÓSTICO TC de crânio (padrão-ouro HSA) Sangue difuso nas cisternas basais Hemorragias mais graves: fissuras silviana e inter-hemisférica e ventrículos TC normal NUNCA afasta HSA Suspeita + TC normal → punção lombar A: HSA difusa espessa na fissura inter-hemisférica anterior e nas fissuras silvianas bilaterais e na cisterna quadrigêmea – aneurisma da ACM anterior. B: HSA perimesencefálica; apenas pequeno foco de sangue na cisterna interpeduncular – nenhum aneurisma identificado. Fonte: ROWLAND, 2011. DIAGNÓSTICO Punção lombar LCR geralmente sanguinolento + ↑ pressão e proteínas ≠ punção traumática: líquido sobrenadante xantocrômico Primeiros dias: Leu/Eri 1:700 (= SP) Meningite química → pleocitose reativa e ↓ glicose Eritrócitos e xantocromia: ≤ 2 semanas Hemácias no ESA –hemólise (2 a 4h)→ oxi-hemoglobina –hemoxigenase (até 12h)→ bilirrubina Macrófagos, aracnoide e plexo coroide DIAGNÓSTICO Angiografia (padrão-ouro etiologia) Diagnóstico definitivo de AIC TC e ARM - → angiograma de 4 vasos Durante colocação de espirais ou após excisão cirúrgica Vasospasmo, trombose local ou técnica deficiente: falso negativo Estudo de seguimento após 1 a 2 semanas Perspectiva lateral de um angiograma da carótida comum esquerda, demonstrando um aneurisma bilobado na artéria carótida interna esquerda, ao nível da artéria comunicante posterior. Fonte: ROWLAND, 2011. DIAGNÓSTICO Angio-TC Diagnóstico complementar e etiologia Vs. Angiografia digital Não invasiva Custo relativamente baixo Estruturas vasculares e não vasculares Grande disponibilidade em grandes centros COMPLICAÇÕES Novos sangramentos Primeiras 24h após ruptura inicial: 4% 4 semanas subsequentes: 1 a 2% Péssimo prognóstico 50% morrem imediatamente 30% morrem por complicações subsequentes Fonte: ROWLAND, 2011. COMPLICAÇÕES Vasoespasmo (20 a 30%) Grande parte da morbimortalidade Início 3 a 5 dias após, ápice 5 a 14 dias após Regressão gradual em 2 a 4 semanas Quantidade de sangue cisternal na TC inicial Letargia, confusão mental e déficits focais Fonte: ROWLAND, 2011. COMPLICAÇÕES Classificação de Fisher Classificação do montante e localização do sangramento Correlação prognóstica (vasoespasmo) Fonte: AGUIAR, 2012. Grau TC 1 Ausência de sangue 2 Sangramento difuso ou em camadas com espessura ≤ 1 mm 3 Coágulo localizado e/ou camada ≥ 1 mm 4 Coágulo intracerebral ou intraventricular com HSA difusa ou não Incidência de vasoespasmo Fisher I Fisher II Fisher III Fisher IV 0.21 0.25 0.37 0.31 COMPLICAÇÕES Hidrocefalia Aguda: 15 a 87% - quantidade de sangue IV e SA Hidrocefalia obstrutiva aguda → ↑ PIC + torpor ou coma Produção continuada de LCR → herniação progressiva do TE Tardia: 8,9 a 48%, 3 a 21 dias após – clínica de HPN 25% dos sobreviventes de HSA: DVP COMPLICAÇÕES Outras Convulsões Distúrbios hidroeletrolíticos Disfunção cardíaca e/ou edema pulmonar neurogênicos ↑ tônus simpático e catecolaminas Febre: 80% - infecciosa ou “central” TRATAMENTO Manejo da fase aguda Monitoramento cardíaco/pressóricoOximetria de pulso Sonda vesical de Foley Obtenção de acessos venosos Central e periférico TRATAMENTO Manejo da fase aguda Intubação orotraqueal Se necessário: Sequência rápida Evitar queda SpO2 Evitar oscilações pressóricas COMPLICAÇÕES CLÍNICAS Pior prognóstico ou ressangramento Glicemia Temperatura Pneumonia Anemia Outras complicações sistêmicas COMPLICAÇÕES CLÍNICAS Hipertermia (41 a 54%) 72 horas: neurogênica Aumento da ocorrência de vasoespasmo e ICT Investigar possível infecção Tratamento agressivo farmacológico/físico COMPLICAÇÕES CLÍNICAS Hiperglicemia (30 a 50%, sem DM) Piora funcional/óbito Correção (150mg/dL) Infusão insulina DM ou tratamento refratário COMPLICAÇÕES CLÍNICAS Anemia HSA + flebotomias + procedimentos + hemodiluição Transfusão caso grave Hb < 8mg/dL Hb < 10mg/dL + vasoespasmo Redução risco ICT + aporte O2 COMPLICAÇÕES CLÍNICAS Deterioração neurológica Considerar monitoramento PIC Suspeita HIC Se HIC: Iniciar protocolo HIC Manter perfusão cerebral adequada TRATAMENTO MAV Neurocirurgia Endovascular Radiocirurgia Tratamento individualizado NEUROCIRURGIA MAV Tamanho Localização Angioarquitetura Idade Condições clínicas Sintomatologia Sangramento prévio Profissão NEUROCIRURGIA MAV Exige: Microscopia Neuronavegação Monitoração eletrofisiológica Estudo angiográfico NEUROCIRURGIA MAV Eletivo Se sangramento: 2 semanas pós-ictus Hematoma Facilitador Emergência HIP + HIC + DLM Drenagem hematoma + angio-TC NEUROCIRURGIA MAV MAV < 3cm + área não eloquente Bons resultados MAV > 5cm +área eloquentes Resultados piores Postergação ENDOVASCULAR MAV Quando MAV > 3cm Região acessível Antes de ressecção cirúrgica Embolização da MAV RADIOCIRURGIA MAV Tamanho, local, e forma Indicado para MAV < 3cm Risco lesão adjacente Risco trombose em 2 anos RADIOCIRURGIA MAV TRATAMENTO AIC Retirada formação sacular Preservação artéria original Redução ressangramento TRATAMENTO AIC Cirurgia (Clipagem) Definitivo e de escolha Indicações Localização fácil (ex.: ACM) Pequeno e colo identificável < 70 anos e/ou boa clínica HIP com efeito de massa TRATAMENTO AIC Endovascular Molas metálicas ou “coil” Eletrotrombose TRATAMENTO AIC Endovascular Indicações Difícil acesso (CP) Idade > 70 anos e/ou má condição clínica Contraindicações Base larga e colo não identificado Aneurismas fusiformes Vasos prejudicados TRATAMENTO COMPLICAÇÕES Hidrocefalia Obstrutiva DLC arriscada DVE mais seguro Comunicante DLC e DVE seguros Drenagem LCR → normalização da pressão TRATAMENTO COMPLICAÇÕES Hidrocefalia Aguda: DVE Crônica: DVP Não recomendado DVE > 24h TRATAMENTO COMPLICAÇÕES Fenestração microcirúrgica Pós clipagem Redução hidrocefalia tardia Não recomendado rotina TRATAMENTO COMPLICAÇÕES Crises convulsivas 13 a 18% dos casos Ressagramento ou vasoespasmo (raro) Aumento risco ruptura e isquemia Tratamento agudo: diazepam Profilaxia (fenitoína) se: Agudo (pós-HSA) Fatores de risco conhecidos TRATAMENTO COMPLICAÇÕES Vasoespasmo Angiografia e doppler transcraniano (padrão-ouro) Tratamento Preferível normovolemia + circulação normal X “3H” Nimodipino oral (BCC) → prevenção, não reverte Papaverina Angio-TC/RNM TRATAMENTO COMPLICAÇÕES Vasoespasmo TRATAMENTO COMPLICAÇÕES Hiponatremia 10 a 30%, condições clínicas associadas ↓ volemia/piora VE e ICT SIHAD e síndrome perdedora de sal Tratamento Reposição cristaloide/coloide Fluodrocortisona Solução salina hipertônica BIBLIOGRAFIA CONSULTADA AGUIAR, Paulo et al. Tratado de neurologia vascular: Princípios básicos, diagnóstico e terapêutica. 1. ed. São Paulo, SP: Roca, 2012. CONNOLLY, Sander et al. Guidelines for the Management of Aneurysmal Subarachnoid Hemorrhage: A Guideline for Healthcare Professionals From the American Heart Association/American Stroke Association. Stroke, Nova Iorque, vol. 43, n. 6, p. 1711-1737, 2012. KAERNS, Ciléin. An introduction to brain aneurysms. 2018. Disponível em <https://artibiotics.com/blog/intro-to-brain-aneurysms>. Acesso em 10 nov. 2018. MACHADO, Ângelo. Neuroanatomia funcional. 3. ed. São Paulo, SP: Atheneu, 2014. MARTINS, Milton et al. Clínica médica, Volume 6: Doenças dos Olhos, Doenças dos Ouvidos, Nariz e Garganta, Neurologia e Transtornos Mentais. 1. ed. Barueri, SP: Manole, 2009. MELO-SOUZA, Sebastião. Tratamento das doenças neurológicas. 3. ed. Rio de Janeiro, RJ: Guanabara Koogan, 2013. PINTO, Fernando. Manual de iniciação em neurocirurgia. 2. ed. São Paulo, SP: Santos, 2012. ROWLAND, Lewis. Merritt: Tratado de neurologia. 12. ed. Rio de Janeiro, RJ: Guanabara Koogan, 2011. SIQUEIRA, Mário. Tratado de neurocirurgia. 1. ed. São Paulo, SP: Manole, 2016.
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