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Epidemiologia do Envelhecimento 2 SUMÁRIO: INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 5 1. ENVELHECIMENTO POPULACIONAL .......................................................................... 6 1.1 Envelhecimento Humano ......................................................................................... 6 1.2 Velhice ....................................................................................................................... 8 1.3 Autonomia ................................................................................................................. 9 1.4 Independência ........................................................................................................ 10 1.5 Fragilidade .............................................................................................................. 11 1.6 Atividade da vida diária, Atividade instrumental da vida diária e Atividade avançada da vida diária ............................................................................................... 12 1.7 Mitos e Estereótipos .............................................................................................. 14 1.8 Feminização da Velhice ......................................................................................... 15 2. TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA ................................................................................. 15 3. QUALIDADE DE VIDA NA VELHICE ........................................................................... 16 3.1 Funcionalidade e Ambiente em idosos ................................................................ 18 4. DOENÇAS NEUROPSIQUIÁTRICAS NO ENVELHECIMENTO .................................. 21 4.1 Depressão em Idosos............................................................................................. 21 4.2 Esquecimento ......................................................................................................... 22 4.3 Comprometimento Cognitivo Leve ....................................................................... 24 4.4 Doença de Alzheimer ............................................................................................. 26 4.5 Doença de Parkinson ............................................................................................. 28 5. ALTERAÇÕES PSICOLÓGICAS NO ENVELHECIMENTO ......................................... 30 5.1 Teoria da Seletividade Socioemocional ............................................................... 30 5.2 Modelo do comboio social ..................................................................................... 31 5.3 Conceito de Enfrentamento ................................................................................... 33 6 - TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO NA DOENÇA DE PARKINSON ............... 35 6.1 Fisioterapia na Doença de Parkinson ................................................................... 35 6.2 Realidade Virtual na Doença de Parkinson .......................................................... 36 6.3 Musicoterapia na Doença de Parkinson ............................................................... 37 7. O QUE É CUIDADO? .................................................................................................... 38 7.1 O Autocuidado ........................................................................................................ 39 7.2 Quem é o Cuidador? .............................................................................................. 39 Epidemiologia do Envelhecimento 3 7.3 O Cuidador e a Equipe de Saúde .......................................................................... 40 7.4 O Cuidador e a Família ........................................................................................... 40 7.5 Cuidador Informal ................................................................................................... 41 7.6 Cuidador Formal ..................................................................................................... 41 7.7 Como planejar o cuidado do idoso? ..................................................................... 42 7.8 Higiene do Sono ..................................................................................................... 43 8. ATIVIDADES PARA MANTER O IDOSO COM QUALIDADE DE VIDA E SE SENTIR ÚTIL ................................................................................................................................... 45 9. POLÍTICAS PÚBLICAS ................................................................................................ 46 9.1 Desenvolvimento de ações para população idosa .............................................. 47 9.2 Estatuto do Idoso ................................................................................................... 48 10. PROMOÇÃO DA SAÚDE ............................................................................................ 51 10.1 Promoção da Saúde como Estratégia ................................................................ 52 11 - ENVELHECIMENTO ATIVO ...................................................................................... 54 12 - DESAFIOS DA POPULAÇÃO QUE ENVELHECE .................................................... 55 12.1 Para onde encaminhar o idoso? ......................................................................... 55 12.1.1 Serviço de Saúde ............................................................................................. 55 12.1.2 Serviço de Assistência Social ........................................................................... 56 REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 57 Epidemiologia do Envelhecimento 5 INTRODUÇÃO O envelhecimento populacional é um proeminente fenômeno mundial, no Brasil houve um aumentou em nove vezes a população idosa nos últimos sessenta anos. Em 1940 representava cerca 1,7 milhão de idosos, e em 2.000 aproximadamente 14,5 milhões. Há uma estimativa para o ano de 2020 que cerca de 30,9 milhões de pessoas serão idosas. Diante desse cenário observa-se que o gerenciamento das políticas públicas voltadas para a população que envelhece está obsoleto, o que implica na construção de mecanismos que possam atender os idosos nos diversos âmbitos do sistema da saúde, social e cultural, em busca de um o envelhecimento ativo. Para que se torne realidade, faz-se necessário a divulgação de projetos voltados para a população idosa em âmbito nacional, estadual e regional. O aumento nas pesquisas sobre o envelhecimento normal e patológico tem aumentado mundialmente, no entanto ainda se faz necessárias investigações sobre o aumento da população idosa em países em desenvolvimento para que os governantes possam estabelecer metas a curto e longo prazo. “Envelhecer é como velejar, você não pode parar o vento, mas, pode direcionar a vela para que o vento lhe seja favorável” (Aldemita Vaz de Oliveira). Epidemiologia do Envelhecimento 6 1. ENVELHECIMENTO POPULACIONAL O aumento do contingente idoso é resultado do aumento da taxa de crescimento populacional, em face da alta fecundidade prevalecente no passado comparativamente à atual e à redução da mortalidade. Enquanto o envelhecimento populacional significa mudanças na estrutura etária, ou seja, a queda da mortalidade é um processo que se inicia no momento em que ocorre o nascimento, trazendo alterações nas estruturas familiares e na sociedade. Apesar da diminuição da fecundidade e da mortalidade ser responsáveis pelo aumento da longevidade, e isso poderá trazer resultados de políticas e incentivos promovidos pela sociedadee pelo Estado e do progresso tecnológico, as suas consequências têm sido vistas, em geral, com preocupações, uma vez que acarreta pressões para a transferência de recursos financeiros no âmbito da saúde e social para a sociedade, colocando desafios para o Estado, os setores produtivos e as famílias. Por exemplo, o aumento da expectativa de vida ao nascer e o declínio da fecundidade nos países em desenvolvimento estão provocando a “crise da velhice”. Esta é traduzida por uma pressão nos sistemas de previdência social a ponto de pôr em risco não somente a segurança econômica dos idosos, mas também o próprio crescimento econômico. As próprias ciências sociais se sentem desafiadas no seu papel em busca de uma compreensão para essa transformação, bem como em fornecer instrumentos para avaliar o seu impacto nas condições de vida do idoso nas políticas públicas, etc. A velhice é heterogênea e por isso os idosos têm inserções distintas na vida social e econômica do país. Assim, a velhice ultrapassa em termos etários ou socioeconômicos, que pode trazer demandas diferenciadas, e como consequência alterar a formulação de políticas públicas para a população idosa. 1.1 Envelhecimento Humano O idoso também está sujeito a influências intrínsecas, como a constituição genética que é responsável pela longevidade, e os fatores extrínsecos referente às exposições ambientais que sofreu ao longo da sua vida, como a alimentação, o sedentarismo, a poluição ambiental, entre outros, os quais proporcionam a heterogeneidade da velhice. Epidemiologia do Envelhecimento 7 O envelhecimento é caracterizado por ser um processo, e a velhice por uma fase da vida, sendo o velho ou idoso um resultado final que constituem um conjunto de componentes que estão intimamente relacionados. Apesar do envelhecimento ser um fenômeno comum a todos os seres vivos, ainda hoje existem questões referentes à dinâmica e à natureza do processo de envelhecimento, até mesmo em determinar a idade biológica. Alguns biogerontologistas dizem que o envelhecimento é uma fase de todo um continuum que é a vida. É possível observar nesse continuum que é o envelhecimento algumas fases do desenvolvimento humano, como a puberdade e maturidade, entre as quais podem ser identificados marcadores biofisiológicos que representam limites de transição entre as fases do desenvolvimento. Como por exemplo, a menarca que é considerada um marcador do início da puberdade na mulher. O envelhecimento humano não possui um marcador biofisiológico como observado em outras fases. De qualquer maneira, a demarcação entre maturidade e envelhecimento é arbitrariamente fixada, mais por fatores socioeconômicos e legais que biológicos. Como por exemplo, a aposentadoria que pode ser marcador econômico, no entanto, não podemos considera-la como marcador biofisiológico. A incapacidade de mensurar o fenômeno do envelhecimento, que está intimamente vinculada à dificuldade de definir a idade biológica, justifica a falta de segurança para adotar quaisquer das teorias existentes sobre o fenômeno. Os mesmos motivos justificam a inexistência de uma definição de envelhecimento que atenda aos múltiplos aspectos que o compõem. Reforçando a definição de envelhecimento que é um processo dinâmico e progressivo, no qual há modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas, e também pode-se notar que essas modificações podem determinam a perda da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente, proporcionando maior vulnerabilidade e incidência de algumas doenças que podem levar o idoso à morte. Existe outro conceito de envelhecimento que está ligado a questões funcionais do indivíduo, ou seja, é caracterizado pela redução da capacidade de adaptação homeostática diante situações de sobrecarga funcional do organismo. Diante do novo olhar sobre as alterações que ocorrem no envelhecimento, alguns pesquisadores da área da gerontologia resolveram classificar o envelhecimento normal ou Epidemiologia do Envelhecimento 8 senescência onde ocorrem a flacidez da pele, o embranquecimento do cabelo, as manchas senis. E as alterações com características patológicas ou senilidade, tais como a doença de Alzheimer, osteoporose, doença de Parkinson, osteoartrite, entre outros. As alterações que ocorrem no decorrer do envelhecimento acontecem de forma individual em cada indivíduo. O envelhecimento é um processo no qual os indivíduos podem analisar a sua própria existência, e por um lado concluir que alcançou muitos objetivos, e por outro lado que sofreu muitas perdas tanto no âmbito físico quanto no psicológico. Para a reflexão sobre o processo de envelhecimento humano, acesse o link: Vídeo 1. https://www.youtube.com/watch?v=HCddlkIlTbI&feature=youtu.be Comentário: o artista coreano Jeong Seok Hyeon recriou o processo de envelhecimento com a ilustração de uma mulher. Jeong desenha a imagem de um bebê e com base neste desenho se desenvolve o processo de envelhecimento, mudando detalhes como rugas faciais e tom de pele. O resultado mostra uma vida acontecendo diante de nossos olhos, em menos de cinco minutos. 1.2 Velhice Na fase da velhice pode-se observar algumas manifestações somáticas que são caracterizadas pela redução da capacidade funcional, calvície, canície, redução da capacidade de trabalho e da resistência física, entre outras. Essas alterações de forma geral frequentemente são observadas com facilidade por outras pessoas, mas existem alterações que são difíceis de notar como as perdas do papel social, solidão, perdas psicológicas e motoras, e afetivas. Na maioria das pessoas, tais manifestações somáticas e psicossociais se tornam evidentes a partir do fim da terceira década de vida ou um pouco mais, muitos antes da idade cronológica que demarca socialmente o início da velhice - 60 anos de idade. Vale ressaltar que essas manifestações são facilmente observáveis quando o processo que as determina encontra-se em toda sua plenitude. No entanto, não existe um consenso que determina que tais características físicas, psicológicas, sociais, culturais e espirituais possam ser características específicas do início da velhice. O início da velhice é indefinido e impossível Fonte: Pinterest - link: https://br.pinterest.com/pin/482 870391282042373/ https://www.youtube.com/watch?v=HCddlkIlTbI&feature=youtu.be Epidemiologia do Envelhecimento 9 de fixar, talvez uma das maiores dificuldades encontradas seja nas diferentes formas que a sociedade enxerga o envelhecimento humano e o idoso. Por um lado, ainda é observado uma visão preconceituosa principalmente com os indivíduos pertencentes a classe social baixa, e por outro lado uma afeição com os idosos de classes sociais elevadas. A velhice não é um processo é um estado que caracteriza a posição do indivíduo idoso e tem uma dimensão existencial, que poderá modificar a relação da pessoa com o tempo, como consequência poderá gerar mudanças nas relações com o mundo e com sua própria história. Desse modo, essa fase não pode ser entendida senão em sua totalidade, mas também como um fato cultural. De acordo com o Estatuto do Idoso, o indivíduo que completa 60 anos é definido idoso independentemente das suas condições físicas ou psicológicas. Já a Organização Mundial da Saúde define como idoso o indivíduo de 65 anos ou mais para aqueles de países desenvolvidos, e 60 anos ou mais para os indivíduos de países subdesenvolvidos. Diante desse arcabouço que é a velhice, nota-se que chegar a uma definição exata dessa fase torna-se difícil ainda mais quando a expectativa de uma boa velhice é de ter uma vida saudável. Portanto, a velhice deve ser compreendida em sua heterogeneidade, observando que é constituída por um processo biológico, mas não deixa de ser influenciada pelos fatores sociais e culturais da sociedadeem que o indivíduo está inserido. Para a compreensão do Envelhecer acesse os vídeos: Vídeo 2. Envelhecer (2009) – música de Arnaldo Antunes https://www.youtube.com/watch?v=nXpMjB5SmnA Vídeo 3. A bela velhice com Mirian Goldenberg – Café Filosófico https://www.youtube.com/watch?v=jX9SWTOE4jY Vídeo 4. Abertura do programa Amor e Sexo - https://globoplay.globo.com/v/5678312/ 1.3 Autonomia A autonomia pode ser definida como a capacidade de estabelecer e seguir suas próprias regras, e para o indivíduo idoso ela é pode ser mais útil que a independência. Uma vez que a autonomia pode ser restaurada por completo, mesmo quando o indivíduo https://www.youtube.com/watch?v=nXpMjB5SmnA https://www.youtube.com/watch?v=nXpMjB5SmnA https://www.youtube.com/watch?v=jX9SWTOE4jY https://www.youtube.com/watch?v=jX9SWTOE4jY https://globoplay.globo.com/v/5678312/ https://globoplay.globo.com/v/5678312/ Epidemiologia do Envelhecimento 10 continua dependente. Como por exemplo, um idoso mesmo com uma fratura no fêmur restrito a uma cadeira de rodas, poderá exercer sua autonomia, apesar de não ser totalmente independente. Portanto, a autonomia está diretamente relacionada à capacidade do indivíduo em ser dependente ou independente, ou seja, conseguir realizar suas atividades de vida diária sem a ajuda de outra pessoa, mas também o indivíduo pode ser simultaneamente autônomo e independente para realizar suas atividades da vida diária. Já como princípio ético, a autonomia é definida como forma de liberdade pessoal baseada no respeito pelas pessoas, objetivando a independência dos indivíduos para poder determinar o curso de vida enquanto este direito não infringir a autonomia dos outros. A limitação física para o idoso pode representar risco para a autonomia, principalmente quando a limitação provocar a dependência na realização das atividades da vida diária e consequentemente levando-o a depender de outras pessoas. O indivíduo idoso tem uma percepção do seu estado de saúde que irá indicar o real fato do bem-estar e assim torna-se capaz avaliar a qualidade de vida, morbidade, declínio físico e mortalidade. A presença de incapacidade física pode abalar a confiança dos idosos em realizar as atividades de vida diária. No entanto, com as alterações ocorridas no envelhecimento, os idosos tendem a manter a integridade de sua identidade pessoal. E por isso é importante que o idoso tente preservar sua autonomia para que seja possível manter as relações sociais, o autocuidado, o engajamento com a sociedade, tomar banho, vestir-se, entre outros. 1.4 Independência A independência e dependência são conceitos ou estados que só podem existir em relação a alguma outra coisa. Pode-se identificar em um mesmo indivíduo dois estados diferentes, independência financeira e dependência emocional. Uma pessoa pode ser completamente independente do ponto de vista afetivo, e fisicamente estar cega. A independência pode ser definida como a capacidade em poder exercer sua autonomia. O idoso que mantém sua independência e autodeterminação pode ser considerado saudável, ainda que apresente uma ou mais doenças crônicas. Desse modo, Epidemiologia do Envelhecimento 11 do ponto de vista da saúde pública, a capacidade funcional surge como um novo componente do conceito de saúde, adequado para instrumentar e operacionalizar uma política de atenção à saúde do idoso. No envelhecimento se busca a manutenção da autonomia e o máximo de independência possível, em última análise, a melhora da qualidade de vida. Isso só poderá ser obtido por meio de uma avaliação gerontológica abrangente, que tem a finalidade de atuar sobre o desempenho físico, cognitivo, afetivo e social. O acelerado crescimento da população e das particularidades dos indivíduos que envelhecem, acredita-se que tenha menor participação do idoso na sociedade e um aumento significativo da demanda de cuidados para os indivíduos que sofrem de alguma doença que impossibilitem de cuidar de si mesmo. Para estabelecer essa demanda deve ser realizada avaliação da capacidade funcional do idoso, que pode ser definida como “a habilidade do indivíduo em desempenhar independentemente as atividades ou tarefas cotidianas, identificadas como essenciais para a manutenção do seu bem-estar” 1.5 Fragilidade A fragilidade no envelhecimento pode ser considerada multidimensional o que envolve a interação complexa de fatores biológicos, psicológicos e sociais no curso de vida. O processo de fragilidade provoca efeitos que podem evoluir para a irreversibilidade, o que pode levar ao declínio da capacidade funcional, sendo a causa de dependência e pode antecipar a morte. O conceito da fragilidade é importante para que os profissionais da saúde acompanhem os indivíduos que estão em risco para a incapacidade funcional, identificando a necessidade de intervenção imediata nos casos de doenças agudas e de tratamento contínuo nas doenças crônicas. Alguns parâmetros para a detecção da fragilidade poderão indicar a necessidade de cuidados apropriados com os idosos que se encontram mais suscetíveis aos efeitos adversos das intervenções médicas. Em meados de 1980, Whoodhouse propôs o conceito de fragilidade nos indivíduos com 65 anos de idade ou mais que dependiam de outras pessoas para poderem realizar as atividades da vida diária. Desta forma, alguns estudos tentavam associar a fragilidade à perda da autonomia e dependência para realizar as atividades básicas de vida diária. O tema fragilidade na velhice nos remete a pensar sobre a amplitude deste conceito, tendo em vista a sua multidimensionalidade. A fragilidade biológica resulta do agravamento Epidemiologia do Envelhecimento 12 das condições do envelhecimento, o que pode ser observado na velhice e ao longo do envelhecimento humano. Paulatinamente a fragilidade é instalada, visto que decorre do progressivo agravo das perdas relacionadas ao processo normal de envelhecimento. O desenvolvimento da fragilidade é geralmente sutil, assintomático e inicia-se após um evento desestabilizador. Embora os estágios iniciais do processo de fragilidade possam ser clinicamente silenciosos, quando esgotadas as reservas chega-se a um limiar de grave vulnerabilidade e a fragilidade pode se tornar detectável pelo olhar clínico. Durante processo da fragilidade, o total de reservas fisiológicas é diminuído e torna- se menos provável que sejam suficientes para a manutenção e o reparo dos danos causados pelo envelhecimento corporal. Melhor compreensão destas alterações clínicas e a base de seus mecanismos pode surgir a partir da investigação do estado pré-frágil. A pré fragilidade é distinguível do envelhecimento considerado normal e cria oportunidade para a investigação de intervenções que podem em tese reverter o processo de fragilização. Atualmente, há diferentes definições de fragilidade e estratégias para detectar esta síndrome e a sua gravidade. Os modelos têm foco em domínios distintos: os funcionais, a acumulação de déficit e as questões biológicas. Por exemplo, escala FRAIL é composta por questões simples e dirigidas, a partir de quatro questões do Cardiovascular Health Study e da Escala de Rockwood. Os 5 componentes da FRAIL (fatigue, resistance, ambulation, illnesses, loss of weight), tradução: 1) fadiga; 2) resistência; 3) ambulação; 4) doenças e 5) perda de peso. A escala é um teste simples que pode aumentar a identificação da síndrome da fragilidade. A escala FRAIL tem um escore de 0-5, ou seja, 1 ponto por cada componente; 0 = melhor e 5 = pior. Os idosos frágeis são classificados com a pontuação entre 3-5, os idosos pre-frágeis entre 1-2, e robustos 0. A escala FRAIL para indivíduos considerados frágeis e pre-frágeis podem predizer significativamente a mortalidade e o aumento dos níveis de dependência em atividades de vida diáriae atividade instrumental de vida diária. 1.6 Atividade da vida diária, Atividade instrumental da vida diária e Atividade avançada da vida diária Com o decorrer do envelhecimento nota-se o aumento da ocorrência de incapacidade funcional. A incapacidade funcional tem diversas classificações, uma delas é Epidemiologia do Envelhecimento 13 a restrição para desempenhar atividade dentro da extensão considerada normal para a vida humana. Para outros autores a incapacidade funcional diz respeito ao desempenho físico e pode ser definida pela dificuldade ou necessidade de ajuda para o indivíduo executar tarefas cotidianas básicas ou mais complexas necessárias para a vida independente na comunidade e tarefas relacionadas à mobilidade. O estudo da capacidade funcional é útil para avaliar o estado de saúde dos idosos. Dessa maneira pode-se avaliar com enfoque em dois domínios: a) as atividades básicas da vida diária, também chamadas de atividades de autocuidado ou de cuidado pessoal e b) as atividades instrumentais da vida diária, também denominadas de habilidades de mobilidade ou de atividades para manutenção do ambiente. As atividades básicas estão ligadas ao autocuidado do indivíduo, como alimentar-se, banhar-se e vestir-se. Já as atividades instrumentais englobam tarefas mais complexas muitas vezes relacionadas à participação social do sujeito, como por exemplo, realizar compras, atender ao telefone e utilizar meios de transporte. Existem vários instrumentos que conseguem avaliar a capacidade funcional nos idosos. A capacidade funcional pode ser classificada conforme o que se quer avaliar no idoso, como, atividades de vida diária, avaliação de equilíbrio e quedas, avaliação do risco de desenvolvimento de úlceras por pressão, avaliação de depressão e solidão e avaliação cognitiva. Em alguns casos, quando o idoso apresenta comprometimento na memória faz- se necessário a aplicação do instrumento de capacidade funcional em um informante (cuidador) do idoso para que possa obter fidedignidade do relato. Nesse texto pretende-se citar apenas os instrumentos que avaliam as atividades de vida diária. A comunidade científica utiliza quatro instrumentos: o Índice de Katz, Escala de Lawton e Brody, Índice de Pfeffer e Índice de Barthel. O Índice de Katz avalia a independência dos idosos no desempenho de seis funções básicas: banhar-se, vestir-se, ir ao banheiro, transferência, continência e alimentação. A Escala de Lawton e Brody avalia o nível da pessoa idosa no que se refere a realização das atividades avançadas de vida diária. O Índice de Pfeffer avalia a capacidade do indivíduo para realizar as atividades avançadas de vida diária e as funções cognitivas/sociais. O Índice de Barthel avalia o nível de independência do sujeito para realização de dez atividades básicas de vida diária: comer, higiene pessoal, uso dos sanitários, tomar banho, vestir e despir, controle dos esfíncteres, deambular, transferência da cadeira para a cama, subir e descer escadas. Epidemiologia do Envelhecimento 14 Para compreender como os instrumentos avaliam a capacidade funcional do idoso acesse os artigos que estão na referência dessa apostila: 1. Índice de Katz 2. Escala de Lawton e Brody 3. Índice de Pfeffer 4. Índice de Barthel Para a compreensão dos instrumentos que avaliam a capacidade funcional do idoso, acesse os artigos: 1.7 Mitos e Estereótipos Atualmente, os estereótipos mais estudados são os que se referem a grupos étnicos, no entanto existem estereótipos em todas as esferas da vida social referentes a ambos os sexos, às ocupações, ao ciclo de vida, à família, à classe social, ao estado civil, aos desvios sociais e a qualquer campo da vida que desejamos diferenciar. O estereótipo pode ser definido como “uma representação social sobre as descrições típicas de um grupo, categoria ou classe social, e caracteriza-se por ser um modelo lógico para resolver uma contradição da vida cotidiana, e serve, sobretudo para dominar o real”. No entanto, também contribui para o não reconhecimento da singularidade do indivíduo, a não reciprocidade, a não duplicidade, o autoritarismo em determinadas situações. Socialmente a valorização dos estereótipos projeta sobre a velhice uma representação social gerontofóbica e isso contribui para a imagem que os idosos têm de si mesmo, bem como das condições e circunstâncias que envolvem a velhice, pela perturbação que causam uma vez que negam o processo do desenvolvimento. A rejeição e a categorização de um grupo são desenvolvidas porque as características individuais com características negativas são atribuídas a todas as pessoas que pertencem à um grupo. Por exemplo, a palavra “velhote” descreve os sentimentos ou preconceitos resultantes dos “mitos” acerca dos idosos. Os preconceitos envolvem geralmente crenças que o envelhecimento torna as pessoas senis, inativas, fracas e inúteis. O mito pode ser caracterizado como “uma construção do espírito que não se baseia na realidade” e por isso compõe uma representação simbólica. Pode ser também um conjunto de expressões feitas ou eufemismos, que mantemos relativamente aos idosos. Em uma análise mais densa nota-se que os mitos ocultam muitas vezes certa hostilidade e Epidemiologia do Envelhecimento 15 quando utilizados demasiadamente, impedem o estabelecimento de contatos verdadeiros com os idosos. Por um lado, os “mitos” e os “estereótipos”, podem estar muitas vezes ligados ao desconhecimento do processo de envelhecimento, e consequentemente podem influenciar a forma como os indivíduos mais jovens interagem com o idoso. Por outro lado, os mitos e os estereótipos, são a causa de enorme perturbação nos idosos, uma vez que negam o seu processo de envelhecimento e os impedem de reconhecer as suas potencialidades, de procurar soluções precisas para os seus problemas e de encontrar medidas adequadas para enfrenta-los. 1.8 Feminização da Velhice Diante do processo de envelhecimento populacional observa-se que no Brasil e no mundo ocorre predominância da população feminina entre os idosos. Em números absolutos há 302 milhões de mulheres e 247 milhões de homens com 60 anos de idade ou mais. Nos países desenvolvidos, as mulheres acima de 60 anos representam mais de 20% do total da população feminina. Esse fenômeno é denominado “feminização da velhice” Todavia, quando se analisa os dados sob outro olhar, percebe-se que viver mais não é sinônimo de viver melhor. As mulheres apresentam algumas desvantagens em relação aos homens no decorrer da vida, como por exemplo, ser discriminada, ter salários inferiores aos dos homens, ter dupla jornada de trabalho, baixa escolaridade, solidão devido a viuvez, além de apresentarem maior probabilidade de serem mais pobres que os homens, dependendo, assim, de mais recursos externos. 2. TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA A transição epidemiológica teve como principais ideias centrais, a gradativa mudança na relação de mortalidade e adoecimento, ou seja, a substituição das doenças infecciosas pelas doenças crônico-degenerativa e agravos produzidos pelo homem. As mudanças na transição epidemiológica estão diretamente relacionadas às transições demográficas, no padrão e ritmo de vida dos indivíduos, nos determinantes e nas mudanças consequentes na população. O aumento das doenças crônicas não transmissíveis tornou-se um problema de saúde em nível global e ameaça à saúde e ao desenvolvimento humano. Assim, as morbidades das doenças crônicas não transmissíveis vistas em idosos são definidas como Epidemiologia do Envelhecimento 16 tendo um curso clínico longo, irreversível e frequentemente associadas à fragilidade natural orgânica dos indivíduos. O plano de ação do Ministério da Saúde (MS, 2011/12) aponta que, entre as doenças crônicas não transmissíveis prevalentes estão as doençascirculatórias - hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, endócrino - diabetes mellitus, respiratório e câncer. As doenças crônicas não transmissíveis mais prevalentes estão ligadas a alguns fatores sociais que contribuem para o desenvolvimento destas doenças, como a desigualdade social, as diferenças de acesso aos bens e serviços, a desigualdade no acesso à informação de saúde, a baixa escolaridade e os fatores de risco ambientais modificáveis, como tabagismo, abuso de álcool, falta de exercício físico, nutrição inadequada e obesidade. Assim, as doenças crônicas não transmissíveis podem ser relacionadas ao envelhecimento, adicionadas aos fatores sociais que contribuem para o seu desenvolvimento, constituem, para o Brasil, o problema da saúde com maior dimensão e intensidade. As doenças crônicas não transmissíveis podem atingir qualquer idade, mas é notado em maior frequência e intensidade na população idosa e também poder estar associada a outras doenças, como: doença renal crônica, doenças reumáticas e doenças mentais, por terem funções metabólicas diminuídas, redução de capacidade motora agravada pelo avanço da idade e hábitos sociais resistentes a mudanças, contribuindo para o declínio da qualidade da saúde e de vida. 3. QUALIDADE DE VIDA NA VELHICE A qualidade de vida na velhice pode ser definida como a avaliação multidimensional referenciada a critérios sócio normativos e intrapessoais, a respeito das relações atuais, passadas e prospectivas entre o indivíduo maduro ou idoso e o seu ambiente. Alguns estudos empíricos sugerem que existam fortes associações entre a qualidade de vida percebida, o bem-estar subjetivo e mecanismos da personalidade, como, por exemplo, o senso de controle, o senso de eficácia pessoal, o senso de significado e as estratégias de enfrentamento. Esses mecanismos têm fortes relações com a competência adaptativa, que é expressada em relação à competência emocional que é a capacidade de lidar com fatores estressores, em competência cognitiva que é a capacidade de resolução dos problemas, e em competência comportamental no desempenho social. Em conjunto, essas competências se refletem no exercício de papéis sociais, na manutenção de Epidemiologia do Envelhecimento 17 atividades sociais, nas relações sociais e no ajustamento pessoal, e têm importante relação com a saúde física e mental. Lawton (1983) estabeleceu um modelo de qualidade de vida na velhice é expressa diante da variedade de aspectos e influências próprias a fase de vida, e é representada em quatro dimensões inter-relacionadas: a. Condições ambientais: o contexto físico, ecológico e ao construído pelo homem, que influi na competência adaptativa (emocional, cognitiva e comportamental) e lhe dá as bases. Ou seja, o ambiente deve oferecer condições adequadas à vida das pessoas. b. Competência comportamental: o desempenho dos indivíduos frente às diferentes situações da vida e, portanto, depende da potencialidade de cada um, de suas experiências e condições de vida, dos valores agregados durante o envelhecimento e do desenvolvimento pessoal, que, por sua vez, é influenciado pelo contexto histórico-cultural. c. Qualidade de vida percebida: a avaliação da própria vida pode ser influenciada pelos valores que o indivíduo foi agregando e pelas expectativas pessoais e sociais. Igualmente, a pessoa avalia as condições de seu ambiente, físico e social, e a eficácia de suas ações nesse ambiente. d. Bem-estar subjetivo: é a satisfação com a própria vida, satisfação global e satisfação específica em relação a determinados aspectos da vida; reflete as relações entre condições objetivas (ambientais), competência adaptativa e percepção da própria qualidade de vida, as três dimensões precedentes. É mediada pelos antecedentes pessoais (históricos, genéticos e socioeconômico-culturais), pela estrutura de traços de personalidade e pelos seus mecanismos de autorregulação (senso de significado pessoal, sentido da vida, religiosidade/transcendência, senso de controle, senso de eficácia pessoal e adaptabilidade). Existem alguns fatores que são considerados críticos à manutenção da integridade, da independência e da autonomia do idoso. Existem grandes diferenças individuais entre os idosos, mais que em qualquer outro grupo etário em quase todos os tipos de características, as físicas, mentais, psicológicas, condições de saúde e socioeconômicas, o que tornam as conclusões a respeito da qualidade da vida e do cuidado necessário altamente individualizadas. Essa heterogeneidade do envelhecimento leva a duas situações-limite: a) muitos idosos podem continuar saudáveis e com boa habilidade funcional até anos tardios, mantendo estáveis suas características físicas, mentais, comportamentais e sociais. Assim, se existir hábitos e estilos de vida saudáveis, e com ausência de uma doença importante, Epidemiologia do Envelhecimento 18 haverá adaptabilidade e reserva funcional suficientes para a maioria das atividades, b) outros idosos podem adquirir incapacidades em quaisquer dos domínios físico, mental, psicológico, condições de saúde e socioeconômico, não havendo recuperação. Assim, se existir pouca reserva funcional o idoso não terá recursos para recuperar de doenças. Cada vez mais as doenças crônico-degenerativas prevalentes na população idosa diminuem gradativamente as reservas funcionais e podendo levar à incapacidade, com deterioração funcional. Diante dessa problemática nota-se que as adaptações e modificações ambientais podem ser realizadas, além de reabilitação e uso de próteses e órteses, que podem restaurar e compensar as perdas funcionais, manter a atividade e, assim, contribuir para o bem-estar do idoso, da sua família e da sociedade. Quando o idoso se torna dependente, o grande desafio é saber respeitar a sua individualidade e a sua autonomia. 3.1 Funcionalidade e Ambiente em idosos O ambiente e a incapacidade funcional em idosos podem estar correlacionados, tanto na área de pesquisa quanto na prática clínica. Atualmente é reconhecido que o ambiente tem um papel determinante na funcionalidade dos idosos, especialmente aqueles que apresentam alguma limitação funcional, seja de natureza física, sensorial ou cognitiva. Um meio ambiente saudável e amigável para o desenvolvimento do ser humano é importante durante todo seu ciclo vital. No entanto, ainda não é observado nos ambientes uma preocupação na criação de lugares que possam possibilitar que as pessoas de todas as idades e em qualquer estado funcional possam utilizá-lo plenamente. É observado mundialmente a existência de dificuldades em relação ao envelhecimento biológico e o ambiente. Com o envelhecimento biológico observa-se grandes alterações nos sistemas, as quais interferem na capacidade dos idosos em responder e interagir com o ambiente. Em geral, existe considerável variabilidade quanto à velocidade e às consequências do declínio biológico das diferentes funções e estruturas no organismo que envelhece. Da mesma maneira, os indivíduos podem adotar diferentes mecanismos compensatórios. Um idoso pode apresentar, por exemplo, maior comprometimento na sua audição, mantendo a visão funcional em boas condições, o que certamente fará que em determinados ambientes, as pistas visuais tornem-se mais importantes. No entanto, além das alterações fisiológicas do envelhecimento, muitos idosos Epidemiologia do Envelhecimento 19 apresentam mudanças relacionadas a doenças crônico-degenerativas e às complicações decorrentes dessas doenças. Por esses motivos, faz-se necessário o planejamento com uma equipe multiprofissional, para avaliar as condições físicas, comportamentais, ambientais e de saúde do idoso, para que seja realizada as alterações necessárias de acordo com as necessidades do indivíduo. Em geral, vivemos em uma sociedade que foi projetada paraos adultos jovens, de altura mediana e sem nenhuma limitação funcional. Exemplos disso são os supermercados, com suas prateleiras altas; as escadarias das igrejas; as portas rotatórias dos bancos; as escadas rolantes nas estações de metrô e as catracas dos ônibus, além de espaços privados, como o ambiente domiciliar. Todos são geralmente planejados para atender os anos iniciais da vida adulta. Observa-se que em locais os quais idosos dependentes vivem, por exemplo, as Instituições de Longa Permanência não apresentam adaptações ambientais, e dessa forma os idosos tendem a se isolar e a esconder suas dificuldades, muitas vezes dificultando o tratamento adequado e a prevenção de doenças físico-funcionais. Existe uma concordância sobre a necessidade de considerar características individuais ao planejar ambientes, e a avaliação multidimensional sobre qualidade de vida, considerando os critérios intrapessoais e sócio normativos que determinam as expectativas de desempenho e de interação do indivíduo com o ambiente. O modelo de Lawton, Nahemow (1973) denominado Competence environmental press model ajuda a entender como considerar as características individuais. Competence environmental press model traz a ideia que para cada pessoa existiria uma combinação ótima entre as competências individuais e as circunstâncias e condições ambientais que resultariam na melhor funcionalidade possível. O componente pessoal inclui habilidades sensoriais, motoras, cognitivas e condições de saúde. Já o componente ambiental significa a demanda que este impõe aos indivíduos e pode ser descrito em cinco categoriais amplas: ambiente físico, ambiente pessoal, ambiente de pequenos grupos, ambiente suprapessoal e ambiente social ou megassocial. A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde foi proposta pela Organização Mundial de Saúde, e representou mudança importante quando se pensa em funcionalidade e envelhecimento, na medida em que consegue incluir na determinação da funcionalidade e da incapacidade aspectos relacionados com o contexto do meio Epidemiologia do Envelhecimento 20 ambiente físico e social, a diferentes percepções e atitudes frente à incapacidade, à dependência e à fragilidade na velhice. De acordo com a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, os fatores ambientais constituem o ambiente físico, social e de atitudes nas quais as pessoas vivem e administram sua vida, estes são considerados os fatores externos aos indivíduos que agem como moderadores entre as condições de saúde, estruturas e funções do corpo e o desempenho enquanto membro de uma comunidade e sobre a capacidade de executar ações ou tarefas. Os fatores externos podem ter influência tanto positiva quanto negativa e sua influência é dada de modo bidirecional, não sendo a incapacidade e o desempenho de resultado de doenças e disfunções em sistemas orgânicos, tendo o ambiente apenas como um facilitador ou uma barreira. Ao contrário, o ambiente é capaz de provocar condições desfavoráveis que alteram a saúde e a funcionalidade das pessoas idosas. Essa inter- relação entre incapacidade e ambiente é complexa, assim diferentes ambientes podem ter um impacto distinto sobre o mesmo indivíduo com uma determinada condição de saúde em diferentes fases do seu envelhecimento. A modificação de um ambiente vai muito além de sugerir sobre a retirada de tapetes, a colocação de barras ou a elevação de vasos sanitários. Medidas padronizadas para colocação de corrimão, barras ou interruptores estão disponíveis em documentos de normatização técnica, manuais e livros. Porém, ainda assim, existem inúmeras diferenças individuais em relação a parâmetros biomecânicos e funcionais, aos desejos e às expectativas e quanto ao uso dos ambientes. Portanto, existe uma gama de necessidades, que podem ir desde a acessibilidade para idosos em cadeira de rodas, até possibilitar que uma idosa com limitações visuais e de equilíbrio possa locomover-se em casa, tendo seu risco de queda minimizado. Epidemiologia do Envelhecimento 21 4. DOENÇAS NEUROPSIQUIÁTRICAS NO ENVELHECIMENTO 4.1 Depressão em Idosos É importante ressaltar que existe aumento da incidência de distúrbios psicológicos, sobretudo na velhice, embora esses distúrbios possam ocorrer em qualquer fase do desenvolvimento. Assim, a saúde mental é indispensável para o bem-estar geral do indivíduo e da sociedade. No entanto, na maioria das vezes os transtornos mentais não são considerados importantes em comparação com a saúde física, apesar de se projetar aumento no quantitativo de indivíduos que apresentam algum tipo de transtorno mental, tendo em vista o envelhecimento populacional. Na psiquiatria o termo depressão é utilizado para determinar um transtorno de humor, ou seja, onde a principal queixa de alterações exibidas pelo indivíduo é o humor depressivo e às vezes irritáveis durante a maior parte do tempo. A depressão não é considerada consequência natural do envelhecimento, e sim um transtorno psíquico associado a um intenso sofrimento e deterioração da qualidade de vida. A depressão é Epidemiologia do Envelhecimento 22 caracterizada por episódios de longa duração, alta cronicidade, prejuízos biopsicossociais e físicos, e pelo aumento da prevalência de suicídio. Os transtornos depressivos unipolares estão entre as 10 principais causas de anos de vida ajustados para incapacidade, independentemente do sexo e para todas as idades. Porém, quando apenas a componente incapacidade da carga é avaliada, a depressão passa a ser a causa mais importante de anos vividos com incapacidade, independentemente da idade e do sexo. Esses indicadores traduzem a necessidade de um olhar diferenciado para a possibilidade do diagnóstico de depressão em idosos, uma vez que é comum o diagnóstico errôneo dos sintomas depressivos ao processo de envelhecimento, por parte do próprio idoso, de seus familiares, de alguns profissionais de saúde e pelas características somáticas da velhice. O cenário apresentado primordialmente causa o aumento no custo econômico para o indivíduo, a família e a sociedade, composto por fatores como o custo dos serviços sociais e de saúde, a redução na produtividade ou perda do emprego e o impacto negativo na mortalidade prematura. Diversos idosos apresentam sintomas depressivos, que muitas vezes não são identificados como a doença propriamente dita que pode ser observado nas queixas somáticas, por exemplo, dores pelo corpo sem causa explicável, falta de ar, dificuldade de deglutição, anorexia, desconforto abdominal, tonturas, falta de energia, dificuldade de concentração mental, alterações sexuais e do sono são frequentes, e podem ser decorrentes ou indicativos de sintomas depressivos. Portanto, é relevante avaliar o idoso no contexto da sociedade e do núcleo familiar para que se possa identificar estressores ambientais e familiares antes de fechar o diagnóstico de depressão e/ou sintomas depressivos. Para o entendimento da depressão no idoso acesse o artigo: Validade da escala de depressão do Center for Epidemiological Studies entre idosos brasileiros que se encontra nos artigos enviados para a disciplina. 4.2 Esquecimento O padrão de deterioração da memória no idoso normal se assemelha ao encontrado nas fases iniciais da doença de Alzheimer, como o declínio da memória operacional e da Epidemiologia do Envelhecimento 23 recente. O declínio nas memórias operacional e imediata são mais expressivos que a memória imediata e remota, Figura.3. O aprendizado de situações ou informações novas, a evocação retardada e repetição de números em ordem inversa são as funções mnésicas mais alteradas, enquanto o vocabulário (memória episódica), o fundo de informações, a repetição denúmeros em ordem direta e a realização de tarefas rotineiras e automatizadas mantêm-se relativamente intactas. As dificuldades de memória relacionadas à idade são maiores para a memória episódica do que para a memória semântica e pioram em ordem crescente na seguinte sequência: 1ª. memória de procedimentos, 2ª. memória de reaprendizado, 3ª memória de reconhecimento, 4ª. memória de evocação baseada em pistas contextuais, 5ª. memórias de evocação livre, 6ª. memória prospectiva (lembrar de lembrar), Figura. 5. O envelhecimento normal afeta principalmente a memória prospectiva e a evocação livre e retardada de material verbal aprendido, preservando sua lembrança baseada em pistas contextuais, como por exemplo base de imagens visuais. Na discriminação entre doença de Alzheimer e envelhecimento normal, os melhores testes têm sido o de evocação retardada (após 15 a 30 minutos) de listas de 10 a 15 palavras aprendidas e o de memória lógica (recontagem de estórias e recordação de lista de palavras associadas a figuras). Epidemiologia do Envelhecimento 24 O envelhecimento normal deixa relativamente intactos o vocabulário e o processamento sintático*, enquanto altera a lembrança de palavras (na conversação e em testes de fluência verbal), aparecendo então raras parafasias1. Em questão ao discurso, podemos ver dificuldades narrativas, especialmente com inferências, - sumarização e interpretação moral de estórias, e a omissão de informações sobre a “situação” da estória; a omissão de passos essenciais durante a descrição de procedimentos; e na conversação, dificuldade de compreensão, falta de clareza do enunciado, “parafasias narrativas” e problemas com inferências e pressuposições. Estudos longitudinais utilizando recontagem e interpretação de estórias mostram variação intraindividual da “amnésia” de um dia para o outro, o que depende de algumas variáveis como o tamanho e complexidade da estória, as alterações do humor, os problemas de família, as doenças passageiras, o efeito colateral de medicamentos, o entusiasmo, a familiaridade ou interesse com a estória, e efeito da prática e aprendizado. 4.3 Comprometimento Cognitivo Leve As manifestações clínicas da demência de caráter neurodegenerativo podem passar, anteriormente, por uma etapa designada de comprometimento cognitivo leve, embora nem todos os indivíduos com esta condição progridam para um quadro demencial. O comprometimento cognitivo leve tem alterações de memória episódica, tais como esquecimentos relacionados às situações da vida cotidiana, e outras alterações cognitivas envolvendo atenção, linguagem, orientação no tempo e no espaço, reconhecimento de ambientes e pessoas bem como, organização e planejamento de pensamentos e ações podem fazer parte das características clínicas do comprometimento cognitivo leve. A 1 Parafasia é um tipo de erro na expressão da linguagem associado com a afasia e caracterizado pela produção involuntária de sílabas, palavras ou frases durante a fala Epidemiologia do Envelhecimento 25 importância clínica dessas alterações tende a ser criteriosamente valorizada na medida em que elas passam a deflagrar impacto desfavorável no desempenho das atividades da vida diária. A caracterização diagnóstica do comprometimento cognitivo leve implica a ocorrência de queixas de memória episódica ou de alterações em outros domínios da cognição pelo próprio paciente ou por um informante, por esse motivo a confirmação por meio de testagem objetiva por meio de avaliação neuropsicológica. O comprometimento cognitivo leve é uma condição observada em indivíduos para os quais ainda não se aplica o diagnóstico de demência, mas pode apresentar a transição para um estado de deterioração cerebral, especialmente nos indivíduos que iniciam uma queda de declínio das atividades funcionais e sociais. Os esquecimentos observados nos idosos podem manter-se estáveis ou retornar à condição de normalidade. Além disso, diversas causas podem levar a baixo desempenho cognitivo em idosos, como uso de polimedicação, doenças sistêmicas mal controladas, como a hipertensão, diabetes, doença pulmonar obstrutiva crônica, cardiopatias de baixo débito, hipotireoidismo e depressão. Quando as causas são identificadas e adequadamente tratadas, existe a estabilização e até mesmo reversão do quadro de prejuízo cognitivo. No entanto, em algumas pessoas, o comprometimento cognitivo leve tende a progredir para uma demência, e isso acontece especialmente naqueles com doenças neurodegenerativas e doença cerebrovascular que é o comprometimento cognitivo vascular. Atualmente, o conceito de comprometimento cognitivo leve tem sendo expandido para englobar declínio cognitivo relacionado a diversas doenças neurológicas, como doença de Parkinson, esclerose múltipla, entre outros, embora nestes casos o diagnóstico etiológico já esteja presente quando se instala o declínio cognitivo. Epidemiologia do Envelhecimento 26 4.4 Doença de Alzheimer A doença de Alzheimer constitui de 50% a 70% das demências, e pode se instalar já na quarta década de vida, embora a maior incidência seja após os 60 anos de idade. Geralmente, quanto mais cedo o início, pior o prognóstico, mais rápida a deterioração mental e invalidez. O início é insidioso, com uma evolução lenta e progressiva, sendo a dificuldade de memória é um dos primeiros sinais. Os recentes avanços no entendimento da complexa fisiopatologia da doença de Alzheimer como por exemplo, a maior conscientização e envolvimento da sociedade, os diagnósticos cada vez mais precoces e precisos, os progressos científicos na descoberta de novos tratamentos, bem como a proliferação de grupos de apoio permitiram o surgimento de boas perspectivas, que se contrapõem as estratégias antigas. Devido à esses avanços sobre a doença de Alzheimer é possível apontar para um panorama mais otimista, no qual os indivíduos com a doença de Alzheimer e seus familiares podem ter maiores chances de planejamento e reestruturação para os desafios futuros relacionados com a evolução da doença, sobretudo no que diz respeito aos cuidados médicos, ao suporte social, aos aspectos financeiros e legais. Atualmente os pesquisadores da área não descobriram medicamentos capazes de interromper ou alterar o curso da doença de Alzheimer. No entanto, as medicações juntamente com intervenções psicossociais e técnicas de reabilitação cognitiva apresentam melhora nos desempenhos cognitivo e funcional e na redução da ocorrência dos distúrbios de comportamento e sintomas neuropsiquiátricos. Já é costumeiro que os idosos ou seus familiares se queixam de piora do desempenho cognitivo com o envelhecimento. Diante disso é necessário que os profissionais de saúde fiquem atentos na identificação e na avaliação das queixas ou dos sinais apresentados e, dessa forma, possam possibilitar a determinação do estado de gravidade mental do idoso, sempre considerando as variações individuais influenciadas, sobretudo, pela idade e pelo grau de escolaridade. Evidências de esquecimento podem ser observadas de acordo com o comportamento do idoso, sendo as primeiras pistas para a detecção da deterioração cognitiva: a) pacientes demasiadamente repetitivos durante a conversação, b) inobservantes quanto à marcação de consultas, c) frequentemente Fonte: Pinterest - Link: https://br.pinterest.com/pi n/298293175296039934/ Epidemiologia do Envelhecimento 27 confusos quanto ao uso correto da medicação, d) alterações psicológicas e de personalidade, e) no cuidado pessoal adequado. No entanto, vale ressaltar que a hierarquia da progressão dos sintomas da doença de Alzheimer pode sofrer grandes variações. Os vários domínios cognitivos e não cognitivos podem ser afetados em cada paciente demodo diferente, ou seja, são diversas as formas de apresentação clínica e de progressão da doença e, provavelmente, de resposta ao tratamento. Ainda existem dificuldades na identificação de uma data precisa do início da doença. Paulatinamente os sinas e sintomas da doença de Alzheimer aparecem nos idosos, em geral, em um período de 8 a 12 anos. No entanto, há grande variabilidade na velocidade de progressão da doença, desde períodos muito curtos cerca de 2 anos à períodos muito longos em torno de 25 anos. Os fatores podem afetar a progressão da doença de Alzheimer são idade, gênero, gravidade da demência, escolaridade, reserva cognitiva, entre outros. Para elucidar a doença de Alzheimer assista alguns vídeos: Vídeo 5. Trailer do Filme “Para sempre Alice” - https://www.youtube.com/watch?v=U_RUDZx6vYM Comentários sobre o filme: pela primeira vez foi mostrado em um filme norte americano a vida de uma pessoa com doença de Alzheimer. O filme ganhou grandes repercussões pela grande interpretação da atriz Julianne Moore. Baseado no romance homônimo de Lisa Genova, o longa conta a história Alice Howland, uma linguista de sucesso, diagnosticada com Alzheimer aos 50 anos – o que é raro para a idade. O foco do filme é a preocupação com o futuro dos filhos, uma vez que a doença por ser genética. Vídeo 6. Trailer do filme “Amour” - https://www.youtube.com/watch?v=1A0ErvTz5TY Comentário sobre o filme: ele mostra como cuidar do indivíduo com a doença de Alzheimer. Este filme é austríaco e ganhou o Cannes 2012. Georges (Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuelle Riva) são professores de música erudita que já passaram dos 80 anos. A filha, que possui a mesma profissão, vive fora do país com o marido. Um dia, Anne é vítima de um acidente e o amor que une este casal é posto à prova. Vídeo 7. Sátira sobre o esquecimento do grupo Parafernália – “Remédio” - https://www.youtube.com/watch?v=n9iTaU498d4 Comentário sobre o filme: para tentar esquecer como a doença de Alzheimer é dolorosa tanto para os cuidadores quanto para a pessoa, nós precisamos rir de algo. E é isso que essa sátira nós mostra. Vídeo 8. Lisa Genova no TEDTALKS - https://www.youtube.com/watch?v=twG4mr6Jov0 Comentário: a doença de Alzheimer não precisa ser o destino do seu cérebro, diz o neurocientista e autora do livro "Para sempre Alice", Lisa Genova. Ela compartilha a ciência mais recente que investiga a doença de https://www.youtube.com/watch?v=U_RUDZx6vYM https://www.youtube.com/watch?v=1A0ErvTz5TY https://www.youtube.com/watch?v=n9iTaU498d4 https://www.youtube.com/watch?v=twG4mr6Jov0 Epidemiologia do Envelhecimento 28 Alzheimer, bem como algumas pesquisas promissoras sobre o que cada um de nós pode fazer para construir um cérebro resistente a Alzheimer. 4.5 Doença de Parkinson A doença de Parkinson é um dos distúrbios do movimento relacionado atividade motora, frequentemente observada na população idosa, e atinge 85 a 175 casos por 100.000 indivíduos. No entanto, observa-se alguns distúrbios do movimento em outros grupos etários, como em indivíduos de 50 e 60 anos há 50/100 000 indivíduos, entre os 60 e 70 anos a sua prevalência é de 80/100 000 e, entre os 70 e 80 anos de 105/100 000. A doença de Parkinson é uma doença neurodegenerativa crônica em que ocorre a degeneração dos neurônios do sistema nervoso central, com a despigmentação da substância negra do mesencéfalo e proliferação das células da glia. As células não necrosadas apresentam inclusão citoplasmáticas denominada corpo de Lewy, o que leva à diminuição de dopamina, neurotransmissor responsável pelo controle dos movimentos corporais. Os primeiros sinais cardinais da doença de Parkinson são leves e apresentam a bradicinesia, a rigidez, tremor de repouso e instabilidade postural. A bradicinesia2 é a característica mais comum da doença de Parkinson pelo alentecimento ou dificuldade de iniciar o movimento voluntário ou automático, o que dependerá de qual parte do corpo foi comprometida. Os sintomas parkinsonianos são: faces inexpressivas ou hiponímia, fala hipotônica3, micrografia4, não balançar o membro superior ao caminhar, acúmulo de saliva na cavidade bucal, aumento do tempo para realizar as refeições, dificuldade de realizar as atividades de vida diária. A rigidez muscular é representada por uma resistência à movimentação passiva dos membros, pescoço e tronco. Traduz–se pela fragmentação dos movimentos e não ocorre de forma contínua e sim entrecortada; os músculos do segmento são afetados como um todo. Apesar do tremor de repouso ainda ser o primeiro sintoma notado em 70% dos indivíduos com a doença de Parkinson, sendo pelos próprios indivíduos, seus familiares e 2 Bradicinesia é a lentidão de movimentos 3 Fala hipotônica é a diminuição do tônus muscular e da força, o que causa moleza e flacidez 4 Migrofagia é caracterizado por ser uma caligrafia com letras pequenas, havendo uma redução progressiva do tamanho à medida que a escrita progride Epidemiologia do Envelhecimento 29 pelos médicos. No entanto, ainda existem os tremores que não são característicos da doença de Parkinson, por exemplo, a polimedicação, mas em idosos longevos pode-se confundir com tremores normais da velhice podendo favorecer dessa maneira o não diagnóstico. Na maioria das vezes, o tremor é assimétrico, e acomete um ou mais membros, com característica de movimentos rítmicos dos dedos das mãos, semelhante ao ato de contar dinheiro. O tremor tende a piorar com o estresse e desaparece durante o sono. A instabilidade postural é decorrente das alterações dos reflexos posturais, o que ocasiona um maior número de quedas, e pode com a evolução da doença impedir que o idoso se levante ou mantenha-se em pé sem assistência. A doença de Parkinson é neurodegenerativa e de longa duração. O seu diagnóstico não é fácil, pois várias doenças neurodegenerativas e não neurodegenerativas cursam com Parkinson. Os indivíduos que apresentam a doença de Parkinson têm parkisonismo5, mas nem todo indivíduo com parkinsonismo tem doença de Parkinson. O diagnóstico é baseado na identificação dos sinais e sintomas que compõem o quadro clínico. A eficácia diagnóstica está diretamente relacionada com a história clínica detalhada, o exame físico e a identificação de bradicinesia e pelo menos mais um dos demais sinais cardinais: rigidez, tremor e instabilidade postural. Os exames laboratoriais e a tomografia computadorizada do crânio são úteis para afastar outras doenças. Não existe um marcador biológico para a doença de Parkinson e ainda não existe um tratamento curativo ou mesmo isento de problemas, a doença de Parkinson é uma das doenças neurológicas crônicas com um dos melhores índices de sucesso terapêutico. A principal falha no tratamento é o erro no diagnóstico e com um tratamento inadequado. 5 Parkinsonismo é um termo genérico que designa uma série de doenças com causas diferentes e que têm em comum a presença de sintomas semelhantes aos da doença de Parkinson Epidemiologia do Envelhecimento 30 5. ALTERAÇÕES PSICOLÓGICAS NO ENVELHECIMENTO 5.1 Teoria da Seletividade Socioemocional Carstensen (1991) formulou a Teoria da Seletividade Socioemocional para dizer que a seletividade aumenta no que diz respeito ao número de pessoas com as quais se mantêm interações sociais na velhice. A redução das interações sociais é o resultado de um processo de seleção ao longo do envelhecimento pelo qual, de maneira estratégica e adaptativa, se escolhe com quem interagir a fim de maximizar os ganhos e minimizar possíveis riscos sociais e emocionais. Desta forma, a diminuição da amplitude da rede de relações sociais e na participaçãosocial na velhice reflete a redistribuição de recursos socioemocionais pelos idosos, na medida em que há mudança na percepção do futuro. De forma adaptativa, na velhice passamos a ser mais seletivo de acordo com o envolvimento dos relacionamentos sociais mais próximos, os quais possam oferecer retorno emocional maior. Tais alterações adaptativas permitem aos idosos poupar recursos escassos, dirigir para alvos relevantes e otimizar o seu funcionamento afetivo e social. Epidemiologia do Envelhecimento 31 A adaptação ao longo do ciclo de vida depende de histórias prévias do funcionamento de suas experiências de sucesso ou falha em outros momentos ou história com problemas não resolvidos. As normas etárias6 podem contribuir para o desenvolvimento de um construto pessoal de curso da vida, sendo importante atentar para a idade do ponto de vista do próprio idoso e utilizar a experiência e os conhecimentos acumulados pelo indivíduo ao longo da vida. Assista ao vídeo com Laura Carstensen que aborda a felicidade na velhice: Vídeo 5. https://www.ted.com/talks/laura_carstensen_older_people_are_happier?language=pt-br 5.2 Modelo do comboio social O estudo científico das relações sociais contribuiu de forma significativa para a compreensão do envelhecimento. As relações sociais são reconhecidas como um elemento-chave do bem-estar e reconhecidas como tendo efeitos cumulativos sobre a saúde durante o envelhecimento. Teoricamente as relações sociais tendem a apresentar aspectos-chave da condição humana, muitas vezes as relações sociais não têm competência como assunto fidedigno de estudo. As relações sociais são interações que tem certa durabilidade no tempo e certo padrão. Essas interações sociais abrangem tanto os sentimentos positivos e quanto os negativos, ou seja, a percepção de si e do outro com diferentes graus de envolvimento afetivo e intermináveis trocas entre os indivíduos. As relações sociais quando são significativas permitem o desenvolvimento do self7, e assim dão sentido às experiências e também oferecem apoio, esses componentes são importantes elementos no processo de adaptação, principalmente em momentos de transição da vida adulta. Desta forma pode observar que o engajamento nas atividades sociais tem sido associado ao aumento do senso de bem-estar em adultos, bem como na melhora no funcionamento físico, no fortalecimento nas relações sociais e na saúde, uma vez que, as relações sociais podem estimular o senso de significado, neste sentido, o suporte emocional pode ajudar a minimizar o estresse. As pessoas que sempre estão em contato 6 Norma etária é constituída por um conjunto de pessoas de uma mesma idade 7 Self é o indivíduo (eu mesmo), tal como se revela e se conhece, representado em sua própria consciência. https://www.ted.com/talks/laura_carstensen_older_people_are_happier?language=pt-br Epidemiologia do Envelhecimento 32 com outras podem ser influenciadas a terem hábitos saudáveis, a ajuda dada ou recebida pode contribuir para o aumento da percepção do controle pessoal, tendo influência positiva no bem-estar psicológico. O suporte social que a rede social (contato com amigos) oferece, reduz o isolamento social e aumentam a satisfação com a vida dos indivíduos que interagem com outras pessoas em diversos momentos de sua vida. Por esse motivo, quando conceituamos as relações sociais como um comboio permite uma representação parcimoniosa de uma circunstância humana complexa. De acordo com o modelo do comboio social, os indivíduos estão envolvidos com outros que se convivem com eles ao longo da sua vida, e, estas relações variam de acordo com a sua proximidade, com a qualidade da relação, com a sua função como por exemplo, a ajuda, o afeto, a troca de afirmação, e em sua estrutura que pode ser de acordo com o tamanho, a composição, a frequência de contato e a proximidade geográfica. A estrutura, função e qualidade dos comboios são influenciados por características pessoais, como a idade e o gênero, e situacionais com as condições da função, das normas e dos valores, podendo ter implicações significativas para a saúde e o bem-estar do indivíduo ao longo do envelhecimento. A medida em que o comboio social envolve a aproximação dos indivíduos considerados próximos e importantes em três círculos concêntricos que representam três níveis de proximidade: nível 1: contatos íntimos: família, amigo, comboio; nível 2: funções sociais e formais regidas por associados de normas amplamente conhecidos e nível 3: contatos casuais e relações sociais anônimas. Os estudiosos perceberam que os idosos extrovertidos tendem a fazer mais contatos sociais, especialmente amizades, do que os idosos introvertidos. Em relação ao gênero, nota-se que as mulheres fornecem mais apoio as pessoas com maior nível de proximidade do que os homens, tem contatos mais frequentes com os membros de sua rede de suporte social, estão mais satisfeitas com seus amigos e tem maiores redes sociais e multifacetadas do que os homens. A explicação seria de que os homens podem ter sua rede de apoio social restrita desde jovens, e ao longo do Contatos íntimos: família, amigo, comboio. Funções sociais e formais regidas por associados de normas amplamente conhecidos. Contatos íntimos: família, amigo, comboio. Funções sociais e formais regidas por associados de normas amplamente conhecidos. Epidemiologia do Envelhecimento 33 desenvolvimento não se agregou mais indivíduos, assim, a rede de apoio dos homens não irão apresentar reduções em seu suporte social. 5.3 Conceito de Enfrentamento Quando alguém está diante de um evento estressante e busca uma ação para lidar com a situação, foi utilizado uma estratégia de coping. A palavra coping, do verbo to cope, em inglês é utilizada por não ter uma tradução adequada para o português. Existem diversas definições para a palavra coping, mas a mais adequada seria “enfrentamento”. Dessa forma podemos definir o coping como um conjunto de esforços cognitivos e comportamentais, que é utilizado pelos sujeitos com o objetivo de lidar com questões específicas internas ou externas, que podem surgir em situações de estresse e são avaliadas pelos indivíduos como eventos que sobrecarregam e estressam seus recursos pessoais, mas ainda existem maneiras de adaptação diante de uma situação estressante e depende da noção de como poderá ser funcional para o indivíduo, ou seja, de acordo como se avalia a situação vivida diante dos eventos incontroláveis como a morte de um filho, e a perda de todos os bens materiais, a aceitação pode ser a única maneira encontrada por um indivíduo para se manter emocionalmente estável. A estratégia de enfrentamento deve ser entendida independentemente do resultado, bem como sendo a tentativa de administrar o evento estressor. Por sua vez, o próprio processo de envelhecimento pode ser considerado um estressor, visto que existe uma grande tendência dos indivíduos que envelhecem em manter vínculos de dependência onde se têm sua autonomia diminuída. Somando-se a isso, outro fator estressor para os idosos são a presença de doenças debilitantes, as perdas de papéis sociais e afetivas, acarretando diferentes graus de ansiedade, dependendo assim da trajetória de vida e das condições estruturais de cada indivíduo. Ainda permanece a ideia generalizada de que o processo de enfrentamento muda de acordo com o estágio do ciclo de vida no qual o indivíduo se encontra. Desta maneira, os significados das mudanças no processo de enfrentamento com a idade têm sido interpretados de três formas: a) pelo desenvolvimento; b) efeito da coorte a que o indivíduo pertence e c) contexto em que ocorre. Sob a ótica desenvolvimentistas interpretam o processo de coping como mudanças intrínsecas àmaneira com que os indivíduos enfrentam o evento estressor à medida em Epidemiologia do Envelhecimento 34 que envelhecem. Isso significa que as mudanças ocorridas no processo de envelhecimento relacionadas ao estresse vivido podem estar correlacionadas aos estágios do ciclo vital e não determinadas pelo ambiente. A interpretação baseada na influência da coorte8 sugere que indivíduos da mesma idade, e que, portanto, nasceram em um mesmo período, cresceram sob as mesmas condições históricas e viveram experiências similares durante as várias etapas da vida. Todavia, existem as coortes que nasceram em épocas diferentes, ou seja, cada indivíduo lidaria com eventos estressantes de uma maneira diferente, pois teria crescido em condições históricas diferentes. Por exemplo, indivíduos que cresceram durante a Depressão Americana em 1930 tinham expectativas diferentes, e lidavam com os problemas da vida de maneiras diferentes em relação aos indivíduos que cresceram durante o período da Segunda Guerra Mundial. 8 Coorte é uma população que pode ou não ter sofrido as mesmas consequências em determinado ano. Epidemiologia do Envelhecimento 35 6 - TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO NA DOENÇA DE PARKINSON 6.1 Fisioterapia na Doença de Parkinson Para melhorar os sintomas da doença de Parkinson e a qualidade de vida dos pacientes, primeiramente opta-se pelo tratamento farmacológico uma vez que as expectativas de melhora dos sintomas são elevadas, entretanto outras estratégias terapêuticas precisam fazer parte do auxílio ao paciente com doença de Parkinson. Neste caso, pode-se contar com o apoio terapêutico da fisioterapia que constitui importante método, o qual poderá promover exercícios que possam manter a atividade muscular e preservar a mobilidade, acarretando a diminuição e retardamento da evolução dos sintomas e provocando consequente melhorando da qualidade de vida do indivíduo com a doença de Parkinson. O recurso terapêutico da fisioterapia é empregado como tratamento adjunto aos medicamentos ou a cirurgia na doença de Parkinson, mesmo assim, ainda existem dúvidas sobre esse recurso. A fisioterapia é subestimada como alternativa para a doença talvez seja devido à comparação com o tratamento medicamentoso. No entanto, a reabilitação deve compreender exercícios motores, treinamento de marcha que pode ser sem e com estímulos externos, treinamento das atividades de vida diárias, terapia de relaxamento e exercícios respiratórios. Outra meta importante é trabalhar com a sensibilização do paciente e da família sobre os benefícios da terapia por exercícios físicos. Os sintomas neurológicos devem ser avaliados, como por exemplo, a habilidade para andar, a atividade da vida diária, a qualidade de vida e a integração psíquica para que a fisioterapia seja realizada com sucesso nesses indivíduos. Atualmente, profissionais têm utilizado fisioterapia aquática como recurso terapêutico que dirige os exercícios físicos para os efeitos físicos, fisiológicos e Epidemiologia do Envelhecimento 36 cinesiológicos provenientes da imersão do corpo em piscina aquecida como recurso auxiliar da reabilitação ou prevenção de alterações funcionais. A água aquecida provoca aumento do metabolismo e diminuição da tensão muscular, proporcionando um ambiente agradável, confortável e relaxante. Além disso, um dos efeitos provocados pela imersão na piscina seria o aumento dos níveis de dopamina no sistema nervoso central, que se mantêm por algumas horas após a imersão gerando alívio dos sintomas do indivíduo com a doença de Parkinson. Os estudos que utilizaram a fisioterapia aquática como recurso fisioterapêutico no tratamento da doença de Parkinson têm como foco a melhora do equilíbrio, da instabilidade postural e do risco de queda, porém são escassos na literatura estudos que mensurem a repercussão desse tratamento na percepção da qualidade de vida dos indivíduos com a doença. 6.2 Realidade Virtual na Doença de Parkinson A realidade virtual foi proposta nos últimos anos como intervenção na área da reabilitação física e que pode ser utilizada para a diminuição do déficit de equilíbrio e dos membros, em diferentes populações, em pacientes com sequela de acidente vascular encefálico, esclerose múltipla, doença de Parkinson, entre outras. A realidade virtual tem como objetivo recriar e maximizar a sensação de realidade para o indivíduo. Diante disso, esse recurso terapêutico permite a análise das condições motoras e/ou cognitivas nas doenças ou em casos em que existe algum comprometimento do sistema motor. Assim, as características principais da realidade virtual são a imersão e a interação entre o mundo virtual e o indivíduo. A característica da imersão no ambiente virtual pode ser classificada de duas maneiras: imersiva e não imersiva. A realidade virtual imersiva é quando o usuário é levado profundamente para o domínio do mundo virtual, por meio de dispositivos multissensoriais, que capturam os movimentos e o comportamento e lidam com eles, provocando uma sensação de que você está dentro do mundo virtual como se fosse o mundo real. A realidade virtual não imersiva é quando o usuário é transportado parcialmente ao mundo virtual, mas continua a sentir-se no mundo real utilizando, por exemplo, com um monitor comum ou um console, um mouse, um joystick, ou ainda um teclado que permite a manipulação do ambiente virtual. Epidemiologia do Envelhecimento 37 De acordo com pesquisadores, a interação é a capacidade do indivíduo em interagir com os objetos virtuais, através de dispositivos que provocam essa sensação. Ou seja, o usuário entra no espaço virtual e visualiza, manipula e explora os componentes do mundo virtual em tempo real, usando seus sentidos, particularmente os movimentos naturais tridimensionais do corpo. A grande vantagem de utilizar a interação é que conhecimento intuitivo do indivíduo em relação ao mundo real poderá ser levado para o mundo virtual, e para aguentar esse tipo de interação o indivíduo utilizará dispositivos não convencionais, como capacetes de visualização e controle, e luvas de dados, chamadas datagloves. Com o uso desses aparelhos provocará a impressão que tudo que está acontecendo no mundo real, o que proporcionará a exploração do ambiente e a manipulação dos objetos com o as mãos. 6.3 Musicoterapia na Doença de Parkinson Algumas pesquisas mostraram a importância da musicoterapia no auxílio em indivíduos que apresentam a doença de Parkinson. As maneiras de com que a musicoterapia exerce na doença é vista de diversas maneiras: a) na orientação no tempo e espaço; b) no relaxamento; c) a recompor- se, no caso de insegurança ou ansiedade em função da doença de Parkinson; d) a se expressar melhor, no caso de problemas na oralidade ou escrita; e) a potencializar as funções físicas e mentais afetadas; f) a reforçar a autonomia pessoal; g) no reconhecimento do self. Pode-se dizer que a musicoterapia é um recurso terapêutico auto expressivo e de atuação nas funções cognitivas e é observado que quando o indivíduo está em tratamento musicoterápico ocorre um processo de sensibilização de ordem psíquica a partir do meio sonoro-musical, trazendo resultados rápidos que talvez não seria possível obter com palavras. Assim, a musicoterapia e a música poderão propiciar a abertura de novas opções que possam minimizar dificuldades de várias doenças. Epidemiologia do Envelhecimento 38 7. O QUE É CUIDADO? O cuidar é definido como o ato de oferecer ao outro o suporte que ele precisa em algum momento do seu desenvolvimento. O cuidado tende a ser igual para todos os indivíduos que precisam de cuidados, mas difere de acordo com a singularidade de cada pessoa.
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