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Crescimento Físico e Avaliação Nutricional Prof.Eduardo Cardoso 23.02.21 Propedêutica Pediátrica Aula 4 O crescimento é definido pelo aumento linear continuo, mas não constante, das estruturas que o compõem e resulta da interação de fatores intrínsecos ou orgânicos (genéticos, neuroendócrinos) e extrínsecos ou ambientais (nutricionais, condições geográficas, atividade física, vínculo mãe-filho). Avaliamos o crescimento de uma criança através da avaliação do crescimento que é a medida que melhor define a saúde e o estado nutricional de crianças, já que distúrbios na saúde e nutrição, independente da causa, invariavelmente afetam o crescimento infantil. Os principais objetivos dessa avaliação são: - Detecção precoce de problemas e obter a sua recuperação (prevenção e tratamento); - Identificação das variações da normalidade, tranquilizando a criança e a família, evitando possíveis intervenções prejudiciais; - Identificação de problemas que não podem ser curados, mas que possam ser minimizados, e promover apoio ao paciente e à família. Exemplo: crianças de baixa estatura, avaliando a estatura dos pais, a criança tende a ter uma estatura menor. Avaliar o crescimento da criança é uma atividade fundamental da prática pediátrica. O acompanhamento do peso, da altura (comprimento) e do perímetro craniano (este nos 3 primeiros anos de vida) pode orientar o pediatra sobre as condições de saúde de seu paciente, do mesmo modo quando a mãe (ou cuidador) apresenta alguma queixa ou não. Avaliação do Estado Nutricional Utilizar-se um conjunto de técnicas e medidas que permitem avaliar indicadores que irão definir o estado nutricional do indivíduo ou caracterizar distúrbios de ordem nutricional. Em geral, incluem peso, estatura, circunferências corpóreas (crânio, braço, cintura, quadril, panturrilha), dobras cutâneas (tricipital, bicipital, suprailíaca, subescapular, panturrilha, abdominal) e tamanho dos segmentos corpóreos. O estado nutricional é uma característica individual ou populacional que possui um grande dinamismo. Resulta do balanço entre a ingestão e a perda de nutrientes, levando em conta sua ingestão, absorção, utilização e excreção. Pode manifestar uma nutrição adequada, carência de nutrientes ou algum distúrbio nutricional. A avaliação nutricional é um conjunto de métodos usados para diagnosticar o estado nutricional de indivíduos e/ou populações. Estes métodos incluem anamnese alimentar, exame clínico, dados bioquímicos, antropométricos e psicossociais (comportamento da criança ao longo da consulta ou alguma queixa dos responsáveis), que permitem identificar indivíduos em risco nutricional, possibilitando intervenções e monitoramento. Índices Antropométricos Índices antropométricos são combinações de medidas, essenciais para interpretar tais medidas. Por exemplo, medidas de peso e estatura podem ser combinadas para produzir o índice de massa corporal (peso/estatura²). Podem ser expressos em percentis ou em escores-Z e, para realizar um diagnóstico, os valores observados nestes índices devem ser comparados com valores de referência (padrão). Escore-Z e Percentil na Avaliação Nutricional Escore-Z e percentil são formas de expressar, de modo padronizado, a posição relativa de uma observação no interior de uma distribuição. O escore-Z é um estimador que quantifica a distância de um valor observado em relação à mediana de uma população. No caso da avaliação do estado nutricional, após se calcular a diferença entre o valor observado e a mediana de referência, esse resultado é dividido pelo desvio-padrão relativos a idade e sexo do indivíduo. O percentil também expressa a posição relativa ocupada por determinada observação no interior de uma distribuição. É proveniente da divisão de uma série de observações em uma população de referência em cem partes iguais, estando os dados ordenados do menor para o maior, em que cada ponto de divisão corresponde a um percentil. Nos dois casos a padronização do valor observado se dá em relação ao centro da distribuição dos valores originais, que passará a ser expressa como zero – no caso do escore-Z – ou como 50, no caso do percentil. Escore-Z e percentil são estimadores intercambiáveis e uma vez obtido um se pode calcular o outro. Para avaliação do estado nutricional, assume-se que os valores antropométricos de uma população de referência seguem uma distribuição normal, em que a média e a mediana são iguais. Neste contexto, cada valor de escore-z apresenta um valor de percentil correspondente. Por exemplo, o escore-z 0 corresponde ao percentil 50, isto é, em uma população saudável, espera-se encontrar 50% dos indivíduos acima e 50% dos indivíduos abaixo desse valor. Índices e Curvas de Referência Distribuição Normal e Escore Z Conceito: Escore Z Número de desvio-padrão que separa uma variável aleatória x da média Z = valor - média desvio-padrão Circunferência cefálica - pode detectar algum problema neurológicos. Circunferências corporais - detectam problemas como sobrepeso. Tamanho no segmento corpóreo - para crianças que possuem algum problema de locomoção. Percentil - significa um valor calculado e que nos garante um limite (superior ou inferior) de pertinência a uma classe de equivalência (média). Escore Z & Percentil As curvas da OMS que fazem parte do percentil são: peso por idade, estatura por idade, BMI for age e outros As curvas da OMS que fazem parte do Escore Z são: IMC, peso por idade e estatura por idade Recomendações Atuais Curvas da OMS (2006): - Lançamento em abril de 2006 - Público: menores de 5 anos Curvas da OMS (2007): - lançamento em setembro de 2007 - Público: crianças a partir dos 5 anos e adolescentes (até 19 anos) Curvas de Crescimento OMS 2006 Histórico do Processo - 1993: Comitê de Especialistas da OMS ressaltou que padrão de crescimento utilizado (NCHS 1977) tinha problemas técnicos e biológicos graves • aleitamento artificial (maior problema) – 1994: Assembléia Mundial de Saúde • Resolução WHA 47.5: pactuação da necessidade de se desenvolver um novo padrão internacional • OMS: responsável por direcionar o processo 2006 Objetivo Estabelecer novo padrão internacional mediante a elaboração de um conjunto de curvas adequadas para avaliar o crescimento e estado nutricional de crianças até a idade pré-escolar. 2006 Metodologia – Cerca de 8.500 lactentes e crianças sadias. – Combinação de estudo longitudinal entre nascimento e 24 meses e estudo transversal de crianças entre 18 e 71 meses. (21 visitas nos 24 meses: Semanas 1, 2, 4 e 6; mensalmente entre 2 e 12 meses; a cada 2 meses no segundo ano). – Estudo abrangeu diferentes continentes: África, Américas, Ásia e Europa. Critérios de Inclusão no Estudo - Populações - Condições socioeconômicas favoráveis - Baixa mobilidade da população para permitir acompanhamento - Pelo menos 20% mães dispostas a seguir as recomendações de Aleitamento materno - Existência de suporte ao AM - Presença de Instituições colaborativas qualificadas Critérios de Inclusão no Estudo - Individuais - Ausência de restrições ambientais, econômicas ou de saúde, limitadores do crescimento - Mães não fumantes - Mães dispostas a amamentar - Gravidez não gemelar - Nascimento a termo - Ausência de morbidade significativa 2006 Conclusão Referência OMS em relação aos dados de cada país: Grande uniformidade entre os 6 centros O padrão da OMS deve ser usado para avaliar crianças de qualquer país, independente de etnia, condição socioeconômica e tipo de alimentação. 2007 A OMS optou por reconstruir a referência de crescimento que era recomendada anteriormente,a do National Center for Health Statistics (NCHS) de 1977, para as crianças dos 5 aos 19 anos. Índice de Massa Corpo (IMC) Curva de Crescimento - comparação da criança com ela mesma seguindo os parâmetros da tabela da OMS. - curva de peso para estatura - só existe para crianças até os 5 anos; consegue comparar seu peso, se tem uma magreza ou sobrepeso, mas não se compara com a idade. - IMC para idade - utilizamos do 0 aos 19 anos. Consegue utilizá-lo na vida adulta também. É a curva mais completa, pois relaciona o peso, estatura e idade. - estatuto para idade - gráfico de todas as faixas etárias Índices Antropométricos Adotados pelo Ministério da Saúde Estatura 0-5 anos Estatura 10-19 anos Obesidade e Sobrepeso: Definições Gráfico IMC (OMS) No Brasil, é muito comum utilizar a caderneta da criança, onde terá todas as tabelas de parâmetros antropométricos. Para < 5 anos Para > 5 anos Risco de Sobrepeso - entre P 85 e 97 (z score +1 e +2) Sobrepeso - entre P 97 e 99,9 (z score +2 e +3) Obesidade - > P 99,9 (z score > +3) Sobrepeso - entre P 85 e 97 (z score +1 e +2) Obesidade - entre P 97 e 99,9 (z score +2 e +3) Obesidade Grave - > P 99,9 (z score > +3) No primeiro ano de vida, a avaliação é mensal; No segundo ano de vida, a avaliação é a cada 2 meses; Em crianças de 2 a 10 anos, a frequência deve ser a cada 6 meses ou 1 ano. Avaliação do Crescimento - Anamnese bem detalhada com histórico clínico e alimentar (recebeu aleitamento materno? Exclusivo até quanto tempo? Como é quando foi a introdução alimentar? O que tinha de alimentos? Alimentação atual? Como são preparados os alimentos? Quais alimentos? Quantidade? Aceitação? Dinâmica familiar (come na cozinha, na mesa?); - Antecedentes pessoais - tem alguma doença crônica? Se teve, precisou ficar internado? Quanto tempo? - Antecedentes familiares - saber estatura média dos pais, condições socioeconômicas, se possuem alguma doença crônica; - Exame físico completo incluindo as medidas antropométricas (peso; estatura; Perímetro cefálico nos menores de 2 anos; circunferência abdominal; IMC. Atentar-se para as características fenotípicas que podem indicar síndromes). Sinais clínicos de desnutrição ou obesidade; maturavas puberal dos adolescentes; - Exames laboratoriais - dosagem de ferro, cálcio, proteínas e idade óssea; Avaliação clínica - Anamnese - Condições que possam interferir no crescimento - Condições intra-uterinas (são fundamentais pois pode indicar problemas de formações ou desenvolvidos devido a doenças ou agravos causadores durante a gestação, como problemas placentários ou infecções); - Prematuridade (criança nasce prematura pode perder uma janela uterina que pode ter sido uma maior aquisição de peso e nutrientes, influenciando na avaliação clínica. Sem contar que crianças prematuras tem uma predisposição maior de desenvolver obesidade quando adultas). - Alimentação Avaliação de idade óssea é feita com radiografia de mãos e punhos esquerdo - idade biológica dessa criança - caso tenha uma idade óssea avançada, pode significar que as epífises fecharam mais cedo. Condições de Gestação e Parto Dos de nascimento de um bebê com 34 semanas é de aproximadamente 800 gramas, possui uma curva para avaliar se, nascendo com 34 semanas, o quanto ele deve pesar. < P 10 Sinais Clínicos de Nutrição - tecido celular subcutâneo (quantidade, distribuição, presença de edema) - mucosas (coloração) - pele (textura, temperatura, elasticidade, lesões) - cabelos (quantidade, distribuição, coloração, desprendimento) - musculatura (força muscular) - esqueleto (sinais de raquitismo) Sinal da bandeira - descoloração dos cabelos que podem ocorrer em crianças desnutridas. Faixas de cabelos mais claras alternadas com faixas de cabelos mais escuros. Cabelos mais finos e quebradiços Rosáreo raquítico - casos de raquitismo, forma deformidades ósseos. Protuberância na caixa torácica Antropometria Peso - É a medida mais comumente realizada na avaliação nutricional, sendo de fácil obtenção, baixo custo e boa sensibilidade, além de diagnosticar mudanças recentes no estado nutricional. - Criança de 0 a 2 anos: balança pediátrica com graduação de 10g ou balança pediátrica digital, previamente calibradas, criança despida; mãos e pés não devem tocar outra superfície; - Criança maior de 2 anos e adolescentes: balança tipo adulto, com graduação de 100g, ou balança digital, com mínimo de roupa. Estatura - Para a realização dessa medida, utilizam-se como instrumentos a régua antropométrica (em crianças de até 24 meses para medir o comprimento) e o antropômetro de madeira (para medir a altura) ou, na sua ausência, uma trena ou fita métrica, com divisões em milímetros, afixada à parede (observando-se que tal parede não tenha rodapé, o que provocaria erro na medição). 1. Comprimento: em pacientes hospitalizados que não deambulam, a medição pode ser feita quando estiverem deitados em superfície plana, seguindo o mesmo procedimento realizado em crianças até 2 anos de idade, com uma fita métrica posicionada em sua lateral. 2. Altura: a pessoa deve ser medida em pé e sem sapatos. Deve estar ereta, com os dois pés unidos e todo o corpo encostado no antropômetro. A cabeça deve estar posicionada de modo que seja possível olhar horizontalmente – plano horizontal de Frankfort. O esquadro deve ficar acima da cabeça, fazendo pressão suficiente para comprimir o cabelo. A 1 IMC - Em todas as faixas etárias, pôde-se avaliar o estado nutricional pelo índice de massa corpórea (IMC), que é obtido pela equação: P(kg)/E (m2). - O IMC também pode ser utilizado para classificar o estado nutricional de crianças e adolescentes, no entanto, deve-se levar em consideração a idade e o sexo. - O IMC para a idade é recomendada internacionalmente no diagnóstico individual e coletivo dos distúrbios nutricionais, considerando-se que incorpora a informação da idade do indivíduo e foi válido como indicador de gordura corpórea total nos percentis superiores, além de proporcionar continuidade em relação ao indicador utilizado entre adultos. Perímetro Cefálico - É amplamente utilizada para o acompanhamento do crescimento em crianças até a idade pré-escolar. A medida do punho, quando associada à altura, pode ser útil para avaliar a compleição do indivíduo. Vigilância do Crescimento: Perímetro cefálico - 2 cm/mês 1º trimestre - 1 cm/mês 2º trimestre - 0,5 cm/mês 2º semestre - Ao final do 1º ano: 12 cm - 1º ao 3º ano: 0,25 cm/mês - Entre 3 e 6 anos: 1 cm/ano Circunferência Abdominal - Circunferência da cintura: fortemente associada à gordura visceral e relacionada ao risco cardiovascular. - Várias formas de aferição, a mais empregada é a que utiliza o ponto médio entre a última costela fixa e a crista ilíaca superior, aproximadamente 2 dedos acima da cicatriz umbilical - Quando acima do percentil 90 tem boa correlação com o desenvolvimento de dislipidemia, hipertensão arterial e resistência insulínica. - O referencial sugerido para comparação é o proposto por Freedman Vigilância do Crescimento: 1º anos de vida - Ganho de peso inicial Recém-nascido: perda até 10% do peso primeiros dias; recuperação até 10º dia de vida. - Ganho insuficiente: rever e orientar técnica de amamentação (principal erro) - Pré-termos: IG corrigida - Ganho diário: 25 - 30 gramas/dia (1º Trimestre)20 gramas/dia (2º Trimestre) 10 gramas/dia (2º Semestre) - Lactentes: Peso x2 o peso ao nascimento com 5-6 meses Peso x3 o peso ao nascimento com 12 meses - Peso com 1 ano de idade: Aos 5 anos, espera-se que o peso esteja o dobro de quando a criança tinha 1 ano de idade. ESTATURA - 0 a 3 meses: 3,5 cm/mês - 4º ao 6º mês: 2 cm/mês - 7º ao 9º mês: 1,5 cm/mês - 10º ao 12º mês: 1,2 cm/mês - Ao final do 1º ano: aumento 50% da estatura ao nascimento (25 cm) - 1º ao 3º ano: 1 cm/mês - > 3 anos: 3 a 6 cm/ano Parada ou desaceleração do crescimento: carência nutriciona Pontos de referências: occipício e glabela. Segmentos Inferior e Superior Envergadura Dobras Cutâneas - São usadas com o objetivo de monitorar a quantidade de gordura existente no organismo. Pode-se utilizar a soma dessas medidas para verificar a composição corpórea do paciente. Existem várias medidas de dobras cutâneas, porém as mais utilizadas na área clínica são as dobras tricipital, bicipital, subescapular e suprailíaca. Critérios para Eutrofia Eutrofia = estado nutricional normal Anamnese alimentar Dados antropométricos — peso, estatura e relação peso/estatura e IMC Dados clínicos — - tecido celular subcutâneo (quantidade, distribuição, presença de edema) - mucosas (coloração) - pele (textura, temperatura, elasticidade, lesões) - cabelos (quantidade, distribuição, coloração, desprendimento) - musculatura (força muscular) - esqueleto (sinais de raquitismo) Adolescentes Índice de massa corporal (IMC) IMC = peso (Kg)/E2 (m) Estatura para a idade Considerar em conjunto com o estadiamento puberal de Tanner e o gênero Avaliação semestral Diagnósticos Crescimento físico - Estatura normal - Baixa estatura Condição nutricional - Eutrofia - Distrofia - Desnutrição proteico-calórica (ou energético-proteica) - Sobrepeso -obesidade Roteiro de Exame Físico da Criança Referências Semiologia da infância - Cap.10 Volume 2 - Secção 18
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