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Resolução do Caso N1 - Teoria Geral do Direito Civil

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Caso N1
A empresa Verde Ouro comercio de produtos esportivos LTDA conheceu o canal de vídeos de Diego Verde Defender com mais de 2 milhões de inscritos na faixa etária entre 10 e 18 anos e visualizou uma importante ferramenta de publicidade. O proprietário do canal é Diego Silva que possui 14 anos de idade e mora com o seu pai, senhor Ivo Silva.
O adolescente conta em seus vídeos que criou o canal para influenciar pessoas a adquirirem produtos verdes visando a proteção ambiental. A empresa Verde Ouro convida Diego para divulgar os seus produtos esportivos causando grande felicidade no adolescente, pois certamente a empresa poderia ajudá-lo a expandir o discurso verde que ele tanto defendia.
Em razão da menoridade de Diego o seu pai participou da negociação e acertaram que o jovem gravaria 10 vídeos publicitários para exibição nos veículos de televisão em seu canal. Fechada a contratação de prestação de serviços de publicidade foram gravados os 10 vídeos e ao longo de 1 ano todos eles foram reproduzidos.
Todavia, com o decorrer dos meses, Diego se deparou com a evasão de vários inscritos sem entender o motivo. Quando o último vídeo foi ao ar divulgando um certo tênis, o adolescente recebeu críticas e informações das pessoas inscritas em seu canal relatando que a fábrica daquele produto utiliza pele de animais como matéria-prima, responde a processos por crime ambiental e por utilizar a mão de obra análoga à condição de escravo.
Em razão da disparidade entre a publicidade realizada e a filosofia de seu canal, Diego sofreu uma redução de mais de 800.000 inscritos. Ao buscar explicações da empresa Verde Ouro, esta comunicou que nunca foi ligada à filosofia de proteção ambiental, alegando ainda que a palavra “Verde” colocada no nome da empresa simboliza apenas uma homenagem a um time de futebol e nada tinha a ver com a “filosofia verde”. Informou também que o canal de Diego foi escolhido unicamente em razão da faixa etária de seu público corresponder ao público-alvo de vendas esportivas.
Pretendendo que alguma providência fosse tomada pois a redução de inscritos gerou grandes prejuízos à credibilidade de sua imagem e à rentabilidade monetária do seu canal, Diego já com 15 anos de idade procurou um advogado para movimentar ação indenizatória e foi informado que precisaria da presença de seu pai.
Porém, o senhor Ivo se recusou a ajudar o filho, pois entendia que o dinheiro recebido havia sido proveitoso e não queria correr o risco de perder.
Diego não possui mãe viva nem demais familiares interessados em representa-lo. Embora estivesse muito decepcionado com a situação, pois além de tudo o rapaz passou a ser alvo de chacotas e acabou acatando o posicionamento paterno para evitar atritos.
Logo que o jovem completou 18 anos de idade procurou novamente ajuda profissional e conseguiu movimentar ação contra a empresa Verde Ouro, buscando ressarcimento pelos danos patrimoniais causados contra seu canal e sua honra já que seu nome foi vinculado à empresa contraria a proteção ambiental por ele defendida. E que no inicio da contratação acreditava que a instituição tivesse buscado em razão de compartilhar da mesma filosofia, sendo que sua vontade em realizar a contratação foi direcionada principalmente por esse motivo.
Após o recebimento da ação, a empresa Verde Ouro foi citada e antes mesmo da audiência de conciliação apresentou contestação alegando que Diego foi representado por seu pai quando firmaram a contratação e recebeu os valores pactuados.
Além disso preliminarmente a empresa alegou que a pretensão de indenização já estaria prescrita, pois transcorreram 4 anos desde a contratação e na verdade as pretensões indenizatórias possuem prazo prescricional de 3 anos, conforme definido no código civil, dessa forma a causa pretendida por Diego estaria prescrita desde os seus 17 anos de idade. Por tais motivos a defesa da empresa entende que o processo deve ser extinto sem resolução do mérito.
Diante do caso apresentado questione-se:
Foi regular a forma como ocorreu a contratação entre Diego e a empresa Verde Ouro?
O processo judicial foi apresentado tempestivamente e possui condições de ser julgado procedente? 
Resolução do Caso (N1)
Em breve síntese, o caso versa sobre a celebração de contrato entre a empresa de produtos esportivos Ouro Verde LTDA. e Diego Silva, um digital influencer, menor de idade, absolutamente incapaz e representado por seu genitor, Ivo Silva, com o fito de cumprir uma campanha publicitária nas redes sociais.
Ocorre que, em razão de um conflito ideológico entre as partes e do envolvimento da empresa em diversos escândalos, esta acabou por prejudicar a imagem do jovem junto ao seu público, o que causou a perda de seguidores e consequentemente danos financeiros, uma vez que a forma de monetização e quantificação dos resultados da profissão de youtuber é medida pelo número de seguidores. Por essa razão, o jovem pleiteia judicialmente a reparação por danos morais e materiais causados pela companhia.
A partir da análise dos fatos é possível afirmar que a forma como ocorreu a contratação foi válida, uma vez que apesar de Diego ser absolutamente incapaz à época da celebração contratual, este foi representado legalmente por seu único genitor vivo, ou seja, o contrato atende a todos os requisitos de validade estabelecidos no art. 104 c/c art. 1.634, VI do Código Civil:
Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:
I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei.
Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos:
VII - representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento;
Entretanto, cumpre-se evidenciar um defeito no negócio jurídico, uma vez que a verdadeira natureza do contrato não foi informada ao menor no momento da celebração. Sendo, portanto, passível de anulação em virtude de erro substancial, uma vez que houve má interpretação do seu real objetivo, com base nos arts. 138, 139, II e 171, II do C.C:
Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio.
Art. 139. O erro é substancial quando:
II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante;
Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico:
II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores.
Pode-se dizer ainda que o processo judicial foi apresentado de forma tempestiva, na forma do art. 198, I c/c art. 206, §3º, V do Código Civil, uma vez que no momento da celebração do contrato o jovem possuía apenas 14 anos. Desta forma, passa-se a contar a fluência do prazo prescricional apenas a partir dos seus 16 anos, data da efetivação de sua maioridade relativa. Nesse sentido, o influenciador digital estaria apto a ingressar com a ação de reparação até os 19 anos de idade:
Art. 198. Também não corre a prescrição:
I - contra os incapazes de que trata o art. 3º;
Art. 206. Prescreve: 
§ 3 o Em três anos:
V - a pretensão de reparação civil;
Passando para o exame das condições de julgamento dos pedidos de Diego, pode-se afirmar que o que foi pleiteado detém o potencial para ser considerado procedente. 
Primeiramente, no que se refere aos danos materiais, é necessário esclarecer que a forma de quantificação de resultados e monetização da profissão de influenciador digital é medida pelo número de seguidores.
É de conhecimento geral que o youtuber tem como propósito principal do canal influenciar pessoas a adquirir produtos eco-friendly a fim de lutar pela proteção do meio ambiente. 
Em consequência damá reputação da requerida pelo uso de matéria-prima animal e o seu envolvimento em diversos escândalos judiciais a exemplo de crimes ambientais e uso de mão-de-obra análoga à de escravo, o jovem ao ter sua imagem associada à empresa em questão sofreu com a perda de 800.000 inscritos, equivalente a uma queda de 40% de seu público.
Nesse entendimento, resta claro que a empresa tirou proveito do apelo ecológico e da filosofia do canal ao buscar o jovem como garoto propaganda da marca. E, uma vez que a Ouro Verde LTDA. quedou silente de forma intencional acerca de suas atividades, no mínimo restariam dúbias suas verdadeiras intenções. 
Em razão disso, há a possibilidade de se falar em omissão dolosa por parte da requerida, consubstanciando-se no art. 147 do Código Civil:
Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado.
Ainda nesse sentido, conforme Guerra et al[footnoteRef:1] (2018, p. 171) “O dever de informar, por seu turno, resulta, no campo contratual, imperioso, e está presente na fase pré-negocial, na fase de execução, e até mesmo na pós-contratual.” [1: GUERRA, Alexandre Dartanhan de Mello et al. Estudos em homenagem a Clóvis Beviláqua por ocasião do centenário do Direito Civil codificado no Brasil. São Paulo: Escola Paulista da Magistratura, 2018. V. 1. Disponível em: <https://api.tjsp.jus.br/Handlers/Handler/FileFetch.ashx?codigo=107219>. Acesso em: 12 dez. 2020.
] 
Ademais, Diego, além de suportar prejuízos patrimoniais ao longo do tempo, também perdeu credibilidade junto ao público, sofrendo danos permanentes que dificultam ou até mesmo impossibilitam o seu retorno como influencer da causa ecológica, o que nos leva à análise dos danos morais.
Conforme explicitado no vídeo, o influenciador sofreu um grave abalo moral não somente por se sentir enganado e decepcionado, mas também por ter sua imagem manchada perante o público, com o agravante de ainda por cima se tornar alvo de chacotas, o que destruiu completamente a sua credibilidade.
Assim, houve ofensa ao seu nome e à sua honra que não somente superam em muito os meros dissabores do dia-a-dia, mas pode-se dizer que afetou de forma contínua o âmago do seu ser, causando frustração e efetivo abalo psicológico o que gera o dever de indenizar como preconiza o art. 186 do C.C:
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Ainda nesse sentido, de acordo com Maria Helena Diniz:
O dano moral direto consiste na lesão a um interesse que visa a satisfação ou o gozo de um bem jurídico extrapatrimonial contido nos direitos da personalidade (como a vida, a integridade corporal e psíquica, a liberdade, a honra, o decoro, a intimidade, os sentimentos afetivos, a própria imagem) ou nos atributos da pessoa (como o nome, a capacidade, o estado de família). Abrange, ainda, a lesão à dignidade da pessoa humana (CF/88, art. 1º, III). (DINIZ, 2008, p. 93).
Por todo o exposto, infere-se que se trata de um contrato válido, porém anulável em razão de erro substancial. Além disso, a ação movida por Diego é tempestiva, em virtude da suspensão do prazo prescricional prevista no art. 198 do Código Civil, passando a contar a partir da sua maioridade relativa aos dezesseis anos. Por fim, a reparação por dano material e moral requerida é válida e possui chances de êxito, posto que as consequências negativas advindas da contratação do jovem podem ser consideradas de responsabilidade da empresa Ouro Verde LTDA.

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