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E-BOOK 1 E-BOOK 2 SUMÁRIO • INTRODUÇÃO...........................................................................3 • AFINAL, O QUE É O GLÚTEN?..............................................4 • DOENÇA CELÍACA..................................................................5 • SENSIBILIDADE AO GLÚTEN/TRIGO NÃO CELÍACA..........................................................................6 • SENSIBILIDADE AO GLÚTEN/TRIGO NÃO CELÍACA E SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL, DUAS CONDIÇÕES DIFERENTES COM SINTOMAS E GATILHOS SEMELHANTES...................................................8 • EFEITOS DOS FODMAPS NO INTESTINO............................9 • ALIMENTOS FONTES DE FODMAPS..................................10 • O CONSUMO DE GLÚTEN REALMENTE FAZ MAL PARA OS INDIVÍDUOS NÃO CELÍACOS?......................................11 • CONTAMINAÇÃO, SERIA A LEGISLAÇÃO VIGENTE TOLERANTE DEMAIS?..........................................................12 • CONCLUSÃO...........................................................................13 • REFERENCIAS........................................................................14 E-BOOK 3 GLÚTEN E DISFUNÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL INTRODUÇÃO Atualmente os meios de comunicação têm dado considerável atenção a um novo transtorno relacionado ao glúten que contribuiu para a adoção de dietas sem glúten (GF) por pessoas saudáveis. Curiosamente, desde 2004, as vendas desses produtos cresceram em torno de 30% ao ano, apesar de não haver tal aumento correspondente na incidência de sensibilidade a esse composto. Infelizmente o terrorismo nutricional cresce cada vez mais seguido por interesses, visto que é um mercado cada vez mais lucrativo e pouco apoiado pela ciência. E-BOOK 4 AFINAL, O QUE É O GLÚTEN? O glúten é um tipo de proteína presente no trigo, cevada, malte e centeio que, quando é colocada em água, dá a consistência flexível que é característica das massas criadas com farinha de trigo. Para os indivíduos que não apresentam restrições ao consumo do glúten, ao fazer a retirada desse nutriente acabam também excluindo grande parte de alimentos que atuam como fonte de carboidratos, podendo ocasionar a perda de peso, mas é importante enfatizar que o glúten por si não ocasiona aumento do peso em indivíduos saudáveis! E-BOOK 5 DOENÇA CELÍACA A doença celíaca é um transtorno inflamatório crônico do intestino delgado, que pode ser definida como um estado de maior resposta do sistema imune aos fragmentos da digestão do glúten em indivíduos com predisposição genética (essa doença está associada a genes do MHC de classe II, HLA DQ2 e HLA DQ8), ou seja, o sistema de defesa dos celíacos detectam o glúten como uma ameaça externa ao organismo e ativam as respostas de defesa corporal, e devido a esse fato, as pessoas com a doença celíaca DEVEM seguir uma dieta GF. Essa doença é mais comum em crianças, mas também ocorre em adultos, atingindo em torno de 1% da população mundial e é caracterizada por atrofia das células intestinais, diarreia crônica, distensão/dor abdominal, perda de peso e sintomas extraintestinais como: Fadiga, dor de cabeça, anemia, dermatite, depressão e ansiedade. Outros sintomas da doença celíaca estão relacionados à má absorção de nutrientes, onde as deficiências nutricionais mais presentes em celíacos são de: Ferro, vitamina B9, B6, B12, cobre e zinco. A determinação de anticorpos IgA da antigliadina, antitransglutaminase e antiendomísio são os testes iniciais recomendados e estão quase sempre associados a confirmação dessa doença; o exame padrão ouro para diagnóstico é a biopsia por meio de endoscopia. E-BOOK 6 Eles também apresentam maiores chances de desenvolver outras doenças autoimunes devido a uma falha do sistema imunológico de ter uma boa resposta de tolerância, ou seja, uma resposta que evita com que o sistema de defesa ataque o próprio organismo. Um grande fator que deve ser mencionado é a contaminação cruzada, que ocorre quando alimentos sem glúten entram em contato com alimentos que o contêm, isso pode acontecer durante o processo de fabricação, quando o mesmo equipamento é usado para produzir uma variedade de produtos, um exemplo clássico é a aveia, onde seu consumo deve ser restrito em pacientes celíacos apesar de não ser uma fonte alimentar que contenha o glúten. SENSIBILIDADE AO GLÚTEN/TRIGO NÃO CELÍACA A sensibilidade ao glúten/trigo não celíaca (SGTNC) é mais comum no sexo feminino e tem início geralmente a partir da 4 ª década de vida, sendo raro na infância. Essa condição está presente em pacientes com testes negativos para doença celíaca e alergia ao trigo; ela é caracterizada por uma combinação de sintomas intestinais e extraintestinais que ocorre logo após o consumo de alimentos contendo glúten/trigo. Os sintomas são: Inchaço, dores abdominais e hábitos intestinais anormais (diarreia/prisão de ventre), também há a presença de sintomas extraintestinais envolvendo o sistema nervoso, articulação e músculo. E-BOOK 7 Além do glúten, outros componentes dos cereais foram propostos como indutores dos sintomas como os: frutanos (em breve falarei mais sobre eles) e os inibidores da α-amilase/tripsina (ATI). A criação de espécies de trigo que são cada vez mais resistentes às pragas, levou ao aumento de espécie de ANTÍGENOS; eles resistem à digestão no intestino e são potentes ativadores de células do sistema imune, iniciando uma resposta pró-inflamatória. Diagnosticar essa sensibilidade não é fácil, pois não existem critérios confiáveis, especialmente pela falta de biomarcadores, por isso, um método usado é prescrever uma dieta sem glúten para ver se os sintomas regridem, em caso positivo, esses alimentos são excluídos e depois de um tempo serão reintroduzidos para checar se os sinais retornam. O autodiagnostico deve ser evitado e a restrição deve ser iniciada apenas quando há uma evidência clara de que o paciente sofre dessa sensibilidade. Embora um número elevado de pacientes tenha sido diagnosticado com essa sensibilidade por especialistas, diversos estudos confirmaram a existência de uma verdadeira sensibilidade em apenas 20% dos casos, ou seja, 80% dos pacientes foram erroneamente diagnosticados com essa condição; indicando claramente que houve uma superestimação dessa síndrome. Deve-se ter especial cuidado em evitar diagnósticos errados que levem a dietas de eliminação inúteis ou mesmo prejudiciais, pois elas podem causar deficiências nutricionais. E-BOOK 8 SENSIBILIDADE AO GLÚTEN/TRIGO NÃO CELÍACA E SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL, DUAS CONDIÇÕES DIFERENTES COM SINTOMAS E GATILHOS SEMELHANTES A síndrome do intestino irritável (SIR) é uma condição bastante comum, podendo afetar até 20% da população, seu diagnóstico gira em torno de dores/desconfortos abdominais em conjunto com hábitos intestinais alterados, podendo ser predominantemente de diarreia, constipação (prisão de ventre) ou ambos. O trigo contém frutano que é membro de uma classe de compostos classificados como FODMAPs, que são uma classe de carboidratos mal absorvidos pelo intestino, isso leva à sua exposição a bactérias intestinais que os fermentam liberando gases; esses compostos são muito importantes para a saúde intestinal, beneficiando a população bacteriana que reside no intestino, porém a grande fermentação e elevada produção de gases podem ocasionar dores e atrapalhar a qualidade de vida dos pacientes. E-BOOK 9EFEITOS DOS FODMAPS NO INTESTINO FONTE: Diet therapy for irritable bowel syndrome: progress at last magnus simrén - gastroenterology, 2014. Alguns pacientes com a síndrome do intestino irritável (SIR) apresentam melhora dos sintomas a partir da retirada do trigo e derivados da dieta. E-BOOK 10 ALIMENTOS FONTES DE FODMAPS ALIMENTOS FONTES DE FODMAPS FONTE: WEBDIET A SGTNC (Sensibilidade ao glúten/trigo não celíaco) apresenta sintomas bem semelhantes a SIR, como inchaço, dores abdominais e alterações dos movimentos intestinais. Enquanto os sintomas E-BOOK 11 intestinais da SIR são frequentemente flutuantes (piora e depois ameniza), a SGTNC caracteriza-se por uma persistência estável dos sintomas intestinais. A distinção clínica entre essas 2 condições pode ser percebida devido a maiores manifestações extraintestinais envolvendo o sistema nervoso, articulação e manifestações cutâneas na SGTNC. Biesiekierski et al (2013) mostraram que não houve efeito do glúten em indivíduos com SGTNC, sugerindo que a sensibilidade ao glúten pode ser confundida por sensibilidade aos FODMAPs ou aos inibidores da α-amilase/tripsina. A grande maioria dos estudos mostraram eficácia de uma dieta baixa em FODMAPs em pacientes com SIR. Nessa dieta ocorre a exclusão de carboidratos naturalmente contidos em: Soja, Feijão, ervilha, grão-de-bico, cebola, mel, pera, melancia, leite e derivados. Embora os FODMAPs sejam encontrados em grãos contendo glúten, eles também podem ser encontrados em alimentos sem glúten, incluindo brócolis, alho, cebola, leite, legumes, mel, frutas e vegetais. O CONSUMO DE GLÚTEN REALMENTE FAZ MAL PARA OS INDIVÍDUOS NÃO CELÍACOS? Até o momento, não há evidências científicas para sustentar que o glúten/trigo seja prejudicial para a população saudável, visto que essa sensibilidade está limitada a uma população específica. As pessoas devem ser avisadas de que uma restrição alimentar inadequada pode causar deficiências nutricionais, já que os alimentos que contêm glúten são fontes importantes de vários nutrientes. Níveis mais baixos de fibras, vitamina B3, B9, B12, vitamina E, A, fósforo, calcio, zinco e selênio foram relatados na dieta de indivíduos celíacos (que seguem uma dieta GF) em comparação com pessoas saudáveis. E-BOOK 12 Lebwohl et al (2017) realizaram um estudo com mais de 110 mil pessoas sem antecedentes de doenças cardiovasculares (DCV) e buscou analisar a associação da ingestão de glúten à longo prazo com o desenvolvimento de DCV, a população selecionada foi acompanhada por 24 anos. Após todas as análises, os autores concluíram que o consumo de alimentos contendo glúten não foi associado ao risco de DCV, além disso, a exclusão do glúten pode resultar em uma baixa ingestão de grãos integrais que trazem benefícios ao coração, portanto, uma dieta GF para a prevenção de DCV em pessoas sem doença celíaca não deve ser recomendada. CONTAMINAÇÃO, SERIA A LEGISLAÇÃO VIGENTE TOLERANTE DEMAIS? Na lavoura, o trigo pode ser contaminado por diversas substâncias em função das condições climáticas como: Chuva, solo e as condições de armazenamento. Uma das doenças mais comuns que ataca este cereal é a Fusariose, ocasionada por fungos, que produzem substâncias tóxicas denominadas de micotoxinas, tendo grande incidência em cereais como: Trigo, milho, cevada e em seus produtos. As micotoxinas são toxinas de ocorrência inevitável em produtos de origem vegetal, porém uma exposição resulta em um aumento da suscetibilidade a doenças secundárias causadas por vírus, bactérias e fungos. Zearalenona e desoxinivalenol (DON) são as principais toxinas produzidas e o uso de fungicidas no decorrer do plantio do trigo não garante a ausência dessas substâncias no grão. Em 2012, a ANVISA publicou uma nova legislação sobre os limites máximos de micotoxinas em alimentos, recomendando o limite máximo de 3.000 μg/kg de DON no trigo e derivados, já a Commission of the European Communities E-BOOK 13 (2007) recomenda valores máximos para farinha de cereais (750 μg/kg). Outro importante fator de contaminação dos produtos alimentícios é a contaminação por fragmentos de insetos, onde a legislação vigente (RDC-14) tolera até 75 fragmentos de insetos a cada 50g de farinha de trigo! Vieira et al. (1999) analisando 54 amostras de farinha de trigo no Rio Grande do Sul, detectaram 26% das amostras com possível contaminação por zearalenona. A partir dos resultados da contaminação de DON nas amostras avaliadas por Machado et al (2015), pode-se confirmar que 61,4% (total de 1092) das amostras foram consideradas positivas para DON e 15% apresentaram níveis de contaminação maiores do que 3.000 μg/kg (limite máximo aceitável pela legislação). A exposição a níveis elevados de DON pode desencadear vômito, perda de peso, dores abdominais, diarreia e redução da atividade do sistema imunológico. CONCLUSÃO Podemos concluir que o glúten pode desencadear sintomas intestinais e extraintestinais em uma pequena parcela da população como os celíacos, pessoas com síndrome do intestino irritável e com sensibilidade ao glúten/trigo não celíaca; portanto são esses os indivíduos que irão se beneficiar de uma dieta sem glúten. Deve-se ter especial cuidado ao diagnosticar esses transtornos relacionados ao glúten, pois uma dieta de eliminação pode causar deficiências nutricionais que irão afetar a saúde. E-BOOK 14 É necessário uma maior fiscalização e uma possível redução dos limites máximos tolerados de micotoxinas, dado a grande diferença entre esses limites comparando a legislação brasileira com a europeia, com o objetivo de assegurar uma maior qualidade desses alimentos à população, reduzindo os casos de mal-estar que acomete as pessoas sensíveis após a ingestão do glúten e outros derivados do trigo. Para finalizar, Pantaleão et al (2016) publicaram um posicionamento da sociedade brasileira de alimentação e nutrição (SBAN) sobre a questão da dieta GF; nesse posicionamento, os autores concluíram que: 1. Não há evidências suficientes para assumir que os indivíduos saudáveis apresentem qualquer benefício com o consumo de uma dieta GF; 2. Estudos recentes sugerem que a sensibilidade ao glúten pode ser confundida por sensibilidade aos FODMAPs ou aos os inibidores da α-amilase/tripsina (ATI). REFERENCIAS AZIZ, Imran; DWIVEDI, Krit; SANDERS, David S. From coeliac disease to noncoeliac gluten sensitivity; should everyone be gluten free?. Current opinion in gastroenterology, v. 32, n. 2, p. 120-127, 2016. BIESIEKIERSKI, Jessica R. et al. No effects of gluten in patients with self-reported non-celiac gluten sensitivity after dietary reduction of fermentable, poorly absorbed, short-chain carbohydrates. Gastroenterology, v. 145, n. 2, p. 320-328. e3, 2013. E-BOOK 15 BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC no 7 de 18 de fevereiro de 2011, DOU de 22/02/2011. Dispõe sobre limites máximos tolerados (LMT) para micotoxinas em alimentos, 2011. CALORI-DOMINGUES MA, Almeida RR, Tomiwaka MM, Gallo CR, Gloria EM, Dias CTS. Ocorrência de desoxinivalenol em trigo nacional e importado utilizado no Brasil. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v.27, n.1, p.181-185, 2007. COMMISSION OF THE EUROPEAN COMMUNITIES. Commission Regulation (EC) Nº 1126/2007 of 28 September 2007, amending Regulation (EC) Nº 1881/2006 setting maximum levels for certain contaminants in foodstuffs as regards Fusarium toxins in maize and maize products. [S.l : s.n], 2007. CUI, Chongwei et al. Celiac disease and nonceliac gluten sensitivity. Annals of Allergy, Asthma & Immunology, v. 118, n. 4, p. 389-393, 2017. DE GIORGIO, Roberto; VOLTA, Umberto; GIBSON, Peter R. Sensitivity to wheat, glutenand FODMAPs in IBS: facts or fiction?. Gut, v. 65, n. 1, p. 169-178, 2016. DOS SANTOS, Joice Sifuentes et al. Monitoring and ingestion of deoxynivalenol by wheat. Semina: Ciências Agrárias, v. 32, n. 4, p. 1439-1450, 2011. DOS SANTOS, Joice Sifuentes et al. Zearalenona e desoxinivalenol em trigo brasileiro–cenário sobre necessidade de monitoramento analítico. Biosaúde, v. 12, n. 1/2, p. 31-46, 2016. E-BOOK 16 LEBWOHL, Benjamin et al. 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