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3 SISTEMA DIGESTÓRIO PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Função geral e divisão do sistema digestório • Órgãos do sistema digestório • Órgãos anexos OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Apresentar os principais aspectos funcionais do sistema digestório, bem como suas subdivisões • Estu- dar, do ponto de vista morfológico e funcional, as estruturas anatômicas que formam o tubo digestório • Estudar os órgãos anexos do sistema digestório. PROFESSORA Dra. Carmem Patrícia Barbosa INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), você há de concordar comigo que comer é muito bom! Quem não aprecia aquele sanduíche com batatas fritas? Ou quem sabe, você prefere aquela salada, ou mesmo aquele churrasco? De qualquer for- ma e independentemente de suas preferências, comer é essencial à vida. O que acontece com os alimentos que ingerimos? Por que a saciedade que sentimos quando comemos macarrão é diferente daquela de quando comemos feijoada? Por que alguns alimentos engordam e outros são tão adequados à saúde? Além disso, qual o trajeto dos alimentos ao adentrarem o nosso sistema digestório e como cada estrutura que o forma age? A fim de responder a essas e a outras perguntas, estudaremos esse sis- tema. Isto é importante, pois, enquanto profissional, você responderá ques- tionamentos sobre o corpo e o seu funcionamento. Além disso, no contexto escolar, você precisa estar atento(a), porque muitos distúrbios alimentares (anorexia e bulimia) podem aparecer na infância e adolescência. Todavia a informação adequada dependerá de seu conhecimento acerca do tema. Para o alimento ser útil, ele deve percorrer o sistema digestório, perma- necer tempo suficiente em cada estrutura e ser submetido a secreções. Assim, os órgãos desse sistema são adaptados à apreensão do alimento, mastigação, deglutição, digestão, absorção dos nutrientes e expulsão de resíduos. O texto a seguir será fundamentado em autores como Dangelo e Fattini (2011), Moore et al. (2014), Miranda Neto e Chopard (2014) e outros. A nomenclatura está atualizada (CFTA, 2001), mas é necessário que você utilize um atlas de anatomia, como Narciso (2012), Rohen, Yokochi e Lüt- jen-Drecoll (2002) e outros. Nosso objetivo é descrever aspectos relevan- tes desse sistema e suas relações com os outros. Não se esqueça de que o profissional precisa conhecê-lo, pois esse sistema garante o fornecimento de energia para os músculos. Bom estudo! U N IC ES U M A R 167 1 FUNÇÃO GERAL E DIVISÃO DO SISTEMA digestório FUNÇÃO DO SISTEMA DIGESTÓRIO Como o próprio nome já diz, o sistema digestório tem como principal função realizar a digestão, suprindo os seres vivos de nutrientes e realizando a eliminação de substâncias não úteis ao organismo (como os restos do metabolismo celular) (DANGELO; FATTINI, 2011). Não se esqueça de que, para isso, suas estruturas devem ser capazes de realizar a apreensão do alimento (ou seja, colocar o alimento em contato com a primeira porção desse sistema, a boca), a mastigação (totalmente dependente dos dentes superiores e inferiores), a deglutição (da qual participam várias estruturas, como a língua, que impulsiona o alimento, e a faringe, que inicia os movimentos pe- ristálticos), a digestão propriamente dita (que ocorre, principalmente, na boca, no estômago e no duodeno), a absorção dos nutrientes e da água dos alimentos (da qual participam os intestinos delgado e grosso) e a expulsão dos resíduos eliminados sob a forma de fezes (função do intestino grosso). U N ID A D E 3 168 DIVISÃO DO SISTEMA DIGESTÓRIO O sistema digestório divide-se em duas porções principais: o canal alimentar e os órgãos anexos. O canal alimentar é constituído por órgãos situados na cabeça, no pescoço, no tórax, no abdome e na pelve. Por ele o alimento transita e sofre o proces- so de digestão propriamente dito. Inicia na cavidade oral, inclui a faringe, o esôfago, o estômago, o intestino delgado e o intestino grosso (o qual se abre para o meio externo por meio do ânus). Por isso, alguns autores, como Dangelo e Fattini (2011), salientam que o canal alimentar é aberto em suas duas extremidades (boca e ânus) de forma que a luz pela qual o alimento transita pode ser considerada parte do meio externo. Os órgãos anexos são estruturas nas quais o alimento não transita, mas que são essenciais ao processo de digestão, uma vez que produzem secreções com caráter di- gestivo. Eles incluem as glândulas salivares (que produzem saliva rica em amilase sa- livar, uma enzima que degrada amido), o fígado (que produz bile para a degradação da gordura) e o pâncreas (que produz o suco pancreático para degradar gordura). Boca Glândulas salivares Esôfago Estômago Pâncreas Intestino grosso ÂnusReto Apêndice vermiforme Intestino delgado Vesícula biliar Fígado Figura 1 - Órgãos do sistema digestório U N IC ES U M A R 169 2 ÓRGÃOS DO SISTEMA digestório BOCA A boca é a primeira porção do canal alimentar. Suas funções incluem a apreensão do alimento, a mastigação, a deglutição, a percepção dos sabores, a digestão e a fonação. A apreensão é, de fato, responsabilidade da boca, por meio dos lábios superiores e inferiores. Já as outras funções são exercidas indiretamente por ela. Por exemplo, a mastigação, embora ocorra na boca, depende da atuação dos den- tes, os quais, a partir de ação mecânica, modificam fisicamente os alimentos para diminuir seu tamanho e aumentar sua superfície para que fiquem expostos aos agentes da digestão química (as enzimas). De igual modo, embora a deglutição ocorra a partir da boca, ela depende da ação da língua; a percepção dos sabores dos alimentos também depende das papilas da língua, e a digestão só ocorre a partir da atuação da amilase salivar. Além disso, a boca é essencial à emissão da voz, uma vez que faz parte do aparelho fonador (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). A boca comunica-se com o meio externo por meio da rima da boca (uma fenda anterior formada pela junção dos lábios superior e inferior). Posteriormente, ela se comunica com a parte oral da faringe por meio do istmo da garganta (istmo das fauces ou istmo orofaríngeo). Assim, enquanto os lábios representam seu limite an- terior, o istmo da garganta representa seu limite posterior. Além disso, as bochechas representam seu limite lateral, o palato duro e mole, seu limite superior, e os músculos do assoalho da boca, seu limite inferior. U N ID A D E 3 170 Ela é dividida em duas porções, o vestíbulo da boca e a cavidade própria da boca ou cavidade oral. O vestíbulo é o espaço anterior da boca no qual você pode passar sua língua. Ele fica entre lábios e bochechas (anterior- mente) e gengiva e dentes (posteriormente). Nesta região, é possível visualizar a face externa da gengiva e dos dentes, e se você puxar os lábios, também dá para ver o freio do lábio superior, o freio do lábio inferior e os freios laterais (estes freios servem para restringir a mobilidade dos lábios; algumas pessoas colocam piercing neles). A cavidade oral é constituída pelo restante da cavidade da boca, ou seja, é o es- paço interno ocupado pela língua. Nesta região, além da língua, é possível visualizar a face interna da gengiva e dos dentes. Nela, as glândulas salivares lançam a saliva. Lábio superior Palato mole Lábio inferior Figura 2 - Boca Lábios Os lábios são duas pregas musculofibrosas compostas pelo músculo orbicular da boca e cobertas por uma pele fina e sensível. Embora apresentem os freios (como vimos há pouco), eles têm mobilidade. Apresentam glândulas salivares U N IC ES U M A R 171 labiais e são muito irrigados (por isto, qualquer corte, por menor que seja, pode sangrar) (WATANABE, 2000). Como visto anteriormente, os lábios superior e inferior se unem formando uma fenda anterior chamada rima da boca, e nos lados direito e esquerdo (nos “cantinhos” da boca) estão as comissuras labiais ou ângulos da boca. Bochechas As bochechas têm estrutura quase igual a dos lábios.Na verdade, são contínuas a eles e representam a parede móvel da cavidade oral (FREITAS, 2004). Sua com- posição é cutâneo-músculo-mucosa, ou seja, de fora para dentro apresenta pele, músculo e mucosa. Seu principal músculo é o bucinador e, entre este músculo e a mucosa, existem várias pequenas glândulas bucais. Acima do músculo bucinador, existe um tecido gorduroso chamado corpo adiposo da bochecha. Este corpo é maior em crianças (o que explica o fato de a maioria das crianças serem “bochechudas”. O M. Bucinador é o principal músculo na constituição da bochecha Figura 3 - Bochecha Palato O palato é uma região composta principalmente de osso, músculo e mucosa e que fica interposta entre a cavidade nasal e a cavidade oral. Assim, pode-se afirmar que o palato representa o assoalho da cavidade nasal e o teto da cavidade oral. Por U N ID A D E 3 172 isso, sua face superior (voltada ao nariz) é recoberta por mucosa respiratória, e sua face inferior (voltada à boca) é recoberta por mucosa oral repleta de glândulas palatinas (MADEIRA, 2001). Sua região anterior é predominantemente óssea e imóvel sendo, por isso, chamada de palato duro. Ao contrário, sua região posterior é predominante- mente muscular e com relativo movimento sendo, assim, chamada de palato mole. O palato duro é formado pela junção das maxilas (direita e esquerda) com os ossos palatinos (direito e esquerdo). Estes quatro ossos se unem por meio de suturas (a sutura palatina mediana une as maxilas e a sutura palatina transversa une as maxilas aos ossos palatinos). Essa região tem coloração rósea devido à vascularização menos intensa do que a do palato mole (o qual é mais avermelhado). Além disso, a mucosa que reveste o palato duro fica intimamente em contato com o periósteo que reveste seus ossos, podendo, inclusive, ser chamada de mucoperiósteo. No palato duro, além dos processos alveolares que alojam os dentes da maxila, localizam-se importantes forames pelos quais artérias, veias e nervos passam. O forame incisivo, por exemplo, fica atrás dos incisivos centrais e permite a passa- gem do nervo nasopalatino que inerva a região anterior do palato. Esse forame ímpar é recoberto pela papila incisiva (uma saliência bem perceptível ao passar a língua sobre ele). Outros forames do palato duro incluem o forame palatino maior (por onde passa o nervo palatino maior que inerva a região posterior do palato duro) e os forames palatinos menores (por onde passam os nervos palatinos menores que inervam o palato mole). Além disso, a região anterior do palato duro apresenta as pregas palatinas transversas, que servem como ponto de apoio à língua e para a fixação do alimento durante a mastigação em indi- víduos desdentados. O palato mole é constituído por cinco músculos principais (músculo da úvula, músculo palatoglosso, músculo palatofaríngeo, músculo tensor do véu palatino e músculo levantador do véu palatino). Não se preocupe em memorizar esses músculos, porque eles atuam na deglutição (elevando o palato para que o alimento não reflua em direção à cavidade nasal) e, por isso, são estudados, principalmente, pelos fonoaudiólogos e otorrinolaringologistas. Vale ressaltar que, na região mediana do palato mole, projeta-se uma saliência chamada úvula palatina (popularmente conhecida como “campainha” ou “sininho”), lateralmente da qual saem duas pregas (o arco palatoglosso e o arco palatofaríngeo). U N IC ES U M A R 173 Palato duro Palato mole Entre estes arcos, há um espaço chamado fossa tonsilar, o qual é ocupado pela tonsila palatina (popularmente conhecida como “amídala” ou “amígdala”). Figura 4 - Palato duro e mole Istmo das fauces Representa o limite posterior da boca, ou seja, onde acaba a boca e começa a faringe (MADEIRA, 2001). O istmo das fauces é um espaço compreendido entre a úvula palatina (superiormente), os arcos palatoglossos (lateralmente), o dorso da língua e a cartilagem epiglótica da laringe (inferiormente). Tonsila faríngea Tonsila palatina Tonsila lingual Figura 5 - Istmo das fauces U N ID A D E 3 174 Língua A língua é um órgão muscular, móvel, revestido por mucosa, com importante função na mastigação e na deglutição, assim como órgão gustativo e fonador. Sua extremidade mais afilada e anterior é chamada de ápice, suas regiões laterais são as margens laterais e sua região inferior é a face inferior (MADEIRA, 2001). Ela se situa parcialmente na cavidade oral e parcialmente na faringe (na por- ção oral da faringe). Assim, a língua estende-se até a epiglote e, com ela, apresenta três pregas mucosas: prega glossoepiglótica mediana, prega glossoepiglótica late- ral direita e prega glossoepiglótica esquerda. Tais pregas formam, entre si, espaços chamados de valéculas epiglóticas. Sua face superior é chamada de dorso da língua, o qual é sulcado, em sua região mediana, pelo sulco mediano da língua. Esse sulco divide a língua em metade direita e esquerda, mas embora seja bem identificável no vivo, não é fa- cilmente visível no cadáver. Além do sulco mediano, a língua também apresenta o sulco terminal, o qual se posiciona na junção dos dois terços anteriores com o terço posterior da língua. Este sulco a divide em duas porções, o corpo (anterior ao sulco) e a raiz (posterior ao sulco). Na raiz da língua, existem importantes estru- turas do sistema linfático chamadas tonsilas linguais. A mucosa que reveste o dorso apresenta receptores gustativos, as papilas linguais, as quais dão um aspecto rugoso à língua. As papilas circunvaladas são maiores, facilmente identificáveis, em forma de “V” ou “Y” adiante do sulco terminal e estão relacionadas à percepção do azedo (motivo pelo qual alimentos ou líquidos que não parecem amargos inicialmente, tornam-se durante a deglutição). As papilas folhadas, localizadas no terço médio da margem lateral da língua, relacionam-se à percepção do sabor ácido (azedo). Em contrapartida, as filiformes permitem a percepção do doce e do salgado e são sensíveis ao toque. Elas estão em grande número no dorso da língua e são alongadas. Já as papilas fungiformes, mais numerosas no ápice e nas margens, têm formato arredondo e são sensíveis à percepção de doce e salgado. Em corte transversal, é possível identificar o septo da língua (que divide sua estrutura em parte direita e esquerda, e onde, normalmente, as pessoas furam piercing ou cortam a língua para que ela fique septada). Os músculos que a formam podem ser intrínsecos ou extrínsecos. Os intrínsecos dão sua forma e os extrínsecos, seus movimentos. São eles o longitudinal superior, o longitudinal inferior, o transverso e o vertical (como intrínsecos), o hioglosso, o estiloglosso, o palatoglosso e o genioglosso (como extrínsecos). U N IC ES U M A R 175 Abaixo da língua estão importantes acidentes anatômicos, como o freio da língua (que limita sua mobilidade), a carúncula sublingual (onde a glân- dula submandibular desemboca), a prega sublingual (que protege o ducto da glândula submandibular), a prega franjada (que recobre a veia profunda da língua) e vasos sublinguais, os quais possibilitam a rápida absorção de medi- camentos. Isto ocorre porque o sangue que é drenado pela veia sublingual é transportado para a veia jugular interna e não passa pelo fígado, ou seja, não é metabolizado neste órgão; se o medicamento for administrado por via oral, ele é absorvido pelo intestino, é metabolizado pelo fígado, e isto poderá fazer com que os efeitos demorem a se manifestar. Por fim, é importante mencionar que a língua é bastante inervada (tanto em relação ao tato, à dor, temperatura, pressão, propriocepção e gustação quanto em relação à sua capacidade contrátil). Assim, de forma geral, o nervo hipoglosso (XII par de nervos cranianos) possibilita sua inervação motora, e os nervos vago (X par), glossofaríngeo (IX par), trigêmeo (V par) e facial (VII par) permitem sua inervação sensitiva. Epiglote Tonsila palatina Tonsila linguais Forame cegoSulco terminal Sulco mediano Papilas linguais fugiforme Papilas linguais �liformes Papilas linguais circunvaladas Corpo Ápice Figura 6 - Língua U N ID A D E 3 176 GENGIVA A gengiva é formada por tecido fibroso coberto por mucosa. Enquanto a gengiva alveolar (ou gengiva livre) é vermelha, a gengiva propriamente dita (ou gengiva aderida) é fixa aos processos alveolares da mandíbula e da maxila e tem coloração rósea. Pode ser chamada de gengiva lingual superior, gengiva lingual inferior, gengiva labial maxilar e labial man- dibular (MADEIRA, 2001). Dentes Os dentes são estruturas rígidas, esbranquiçadas, implantadas em cavidades da maxila e da mandíbula (denominadas alvéolos dentais). Em cada dente, distin- guem-se três partes: raiz (implantada no alvéolo), coroa (parte mais evidente) e colo (região entre a raiz e a coroa circundada pela gengiva). Eles são abundante- mente vascularizados e inervados (por isto, as anestesias são necessárias para os procedimentos odontológicos) (MADEIRA et al., 2014). No homem, há duas dentições, a primária (ou decídua) e a permanente. A primá- ria (que o povo chama de “dentes de leite”) apresenta 20 dentes (sendo oito incisivos, quatro caninos e oito molares). A permanente tem 32 dentes (sendo oito incisivos, quatro caninos, oito pré-molares e 12 molares). A substituição da primá- ria pela permanente começa a partir dos seis ou sete anos e pode durar até os 25 anos de idade. Este fato é interessante, pois faz com que os mamíferos sejam os únicos com heterodontia (ou seja, apresentam dentes morfologicamente diferentes entre si). Em relação às funções, enquanto os incisivos cortam o alimento e os caninos o rasgam, os pré-molares e os molares fazem sua trituração. Tal fato é importante, pois a ação mecânica dos dentes é responsável pela exposição do alimento à ação enzimática, facilitando a digestão. Assoalho da boca O assoalho da boca representa o limite inferior dessa. Ele é constituído, principalmente, pelo músculo platisma e pelos músculos supra-hióideos (como o ventre anterior do di- gástrico, o músculo milo-hióideo, o gênio-hióideo e o estilo-hióideo) (MADEIRA, 2001). Figuta 7 - Gengiva e dentes U N IC ES U M A R 177 Anel Linfático da Faringe Embora já tenhamos mencionado o anel linfático na Unidade 2, quando estudamos o sistema vascular linfático, é importante lembrar que, na parte posterior da cavidade oral e na porção oral da faringe, existem as tonsilas palatinas, as tonsilas linguais, as tonsilas faríngeas e as tonsilas tubárias, as quais, enquanto estruturas linfáticas, minimizam a contaminação dos alimentos ingeridos a partir da produção de células imunológicas (MADEIRA, 2001). FARINGE A faringe já foi estudada na Unidade 2, quando aprendemos o sistema respirató- rio. No entanto reveremos seus principais aspectos. Ela é uma estrutura múscu- lo-membranosa localizada posteriormente à cavidade nasal, à cavidade oral e à laringe. Por isso, apresenta três porções sem limites precisos entre elas, chamadas de porção nasal da faringe, porção oral da faringe e porção laríngea da faringe. A porção nasal é superior e tem função respiratória. A porção oral é média e tem função digestória. A porção laríngea é inferior, tem função respiratória e dá con- tinuidade ao esôfago. Assim, a faringe é uma estrutura associada tanto ao sistema respiratório quanto ao digestório, atuando como um canal comum à passagem do ar e do alimento (DI DIO, 2002). Ela inicia na base do crânio e termina ao nível da sexta vértebra cervical, relacionando-se posteriormente à coluna vertebral. É constituída por três camadas, sendo a mais externa chamada adventícia, a média, formada por músculos estriados esqueléticos, e a interna, mucosa. Seus músculos estriados podem ser externos ou internos e estão relacionados aos movimentos peristálticos da faringe. Os externos são os constritores (superior, médio e inferior) e os internos são o palatofaríngeo, o estilofaríngeo e o salpingofaríngeo. Figura 8 - Anel linfático U N ID A D E 3 178 Figura 9 - Faringe Na porção nasal da faringe, existe um importante acidente anatômico chamado óstio faríngeo da tuba auditiva, o qual é protegido pelo toro tubário. Este óstio é uma abertura em forma de fenda que marca a desembocadura da tuba auditiva, ou seja, a tuba auditiva comunica a parte nasal da faringe com a cavidade timpânica da orelha média. Esta comunicação serve para igualar a pressão do ar externo à pressão daquele contido na própria cavidade timpânica (percebemos claramente isso quan- do descemos a serra do mar e sentimos a pressão externa como um incômodo). Devido a essa comunicação, uma infecção da faringe pode se propagar à orelha média (isto é muito comum em crianças, cujo quadro de tonsilite acaba evoluindo para um quadro de otite). Além disso, o óstio também drena muco e perilinfa que existem nos canais semicirculares. Nas bordas do óstio faríngeo da tuba auditiva, existem aglomerações linfáticas chamadas, em conjunto, de tonsila tubária. Além da tonsila tubária, nesta parte da faringe existe, ainda, a tonsila faríngea a qual, se aumentada, passa a ser chamada de adenoide (como já visto no capítulo anterior). ESÔFAGO É um tubo fibromuscular de 25 cm de comprimento e 2 cm de diâme- tro. Superiormente, ele é constituído por músculo estriado esquelético (com controle voluntário), inferiormente, por músculo liso (com con- trole involuntário) e, em sua região média, há os dois tipos de músculos (MOORE et al., 2014). Parte nasal da faringe Parte oral da faringe Parte laríngea da faringe U N IC ES U M A R 179 Você sabia que o esôfago apresenta estreitamentos em sua parede que são essenciais ao funcionamento? Se o estreitamento cardíaco não funcionar, pode haver refluxo gastroe- sofágico, irritação do esôfago e azia. pensando juntos Esse tubo é a continuação da faringe e dá continuidade ao estômago. Assim, no tórax, está situado anteriormente à colu- na vertebral e passa posteriormente à tra- queia. Para atingir o abdome, ele atravessa o músculo diafragma (pelo hiato esofági- co) e desemboca no estômago. Portanto, apresenta três porções: cervical, torácica (maior) e abdominal. É formado por lâminas musculares circulares (internamente) e lâminas mus- culares longitudinais (externamente). As contrações destes músculos alteram sua luz vascular a fim de permitir a passagem do bolo alimentar, impulsionando-o du- rante o peristaltismo, também chamado de movimento peristáltico ou peristalse; este movimento é próprio de todo o canal ali- mentar e não depende da gravidade, pois ocorre, inclusive, de cabeça para baixo. Faringe Língua Traqueia Esôfago Esfíncter Figura 10 - Esôfago PERITÔNIO E CAVIDADE PERITONEAL Você já ouviu falar em peritônio ou cavidade peritoneal? Talvez nunca. Todavia você já pode ter ouvido falar em pessoas que tiveram “barriga d’água” e acumularam líquido na cavidade peritoneal. Então, o que é peritônio, o que é cavidade peritoneal e como é possível ter “água na barriga”? Vamos entender como tudo funciona. U N ID A D E 3 180 O peritônio é uma membrana serosa transparente e brilhante que reveste a cavidade abdominal, a cavidade pélvica e as vísceras destas cavidades. Ele é for- mado por duas lâminas contínuas, o peritônio visceral (que envolve as vísceras) e o peritônio parietal (que reveste as paredes destas cavidades). Enquanto o peri- tônio parietal é sensível à pressão, ao calor, ao frio, à laceração e à dor, o peritônio visceral é insensível ao toque, ao calor, ao frio e à laceração, mas é estimulado por distensão e irritação química. Existe uma cavidade entre estas duas lâminas (a cavidade peritoneal), a qual contém uma fina película de líquido peritoneal (TORTORA et al., 2010). Alguns órgãos abdominais ficam aderidos à parede posterior do abdome e o peritônio passa à frente deles. Por isso, são chamados de órgãos retroperitoneais. Tais órgãos (como os rins e o pâncreas) sãofixos. Outros se destacam da parede abdominal, sendo acompanhados pelo peritônio que os reveste e se salientam na cavidade abdominal de modo que, entre eles e a parede do abdome, forma-se uma lâmina peritoneal dupla chamada de mesentério, meso ou ligamento (por meio dela, vasos e nervos chegam aos órgãos peritonizados). Às vezes, estas pregas se estendem entre dois órgãos por uma lâmina do peritônio chamada omento (o omento maior sai como um avental do estômago, recobre os intestinos e se fixa ao colo transverso do intestino grosso; o omento menor vai do estômago ao fígado). Por fim, alguns órgãos são intraperitoneais. Voltando à “barriga d’água”, o peritônio pode ser acometido por um processo inflamatório chamado peritonite, o qual pode ser localizado ou generalizado. Neste caso, é comum ocorrer ascite, ou seja, pode haver acúmulo de enormes quantidades de líquido seroso na cavidade peritoneal, fazendo com que o indi- víduo sinta dor e, muitas vezes, precise até drená-lo. U N IC ES U M A R 181 ESTÔMAGO Enquanto a faringe e o esôfago apresentam estrutura tubular, o estômago é considerado uma dilatação do canal alimentar. Ele segue o esôfago, dá conti- nuidade ao intestino e está situado logo abaixo do músculo diafragma, com sua maior porção à esquerda do plano mediano. Assim, o estômago está unido ao músculo diafragma, ao baço e ao colo transverso e é quase totalmente coberto pelo peritônio (DI DIO, 2002). Sua principal função é realizar a digestão química (por meio das enzimas do suco gástrico secretado por suas glândulas) e mecânica dos alimentos (já que apresenta movimentos circulares e peristálticos). No entanto ele pode conter até Estômago Colo transverso Artéria mesentérica superior Duodeno Omento menor Omento maior Pelve Cavidade peritoneal supracólica infracólica Figura 11 - Peritônio e cavidade peritoneal U N ID A D E 3 182 três litros de alimento (funcionando como um reservatório) e é capaz de absorver algumas substâncias (como álcool e alguns medicamentos). Suas funções depen- dem, principalmente, dos neurônios do plexo entérico e de neurônios extrínsecos do sistema nervoso autônomo. Na superfície mucosa interna do estômago, existem muitas pregas gástricas, as quais se distendem ao receber o alimento e desaparecem com a distensão do órgão. Além disso, embora sua forma e posição possam variar com a idade, o tipo constitucional do indivíduo, a alimentação, a posição do indivíduo e o estado fisiológico do órgão, seu estudo é feito considerando quatro partes principais: parte cárdica, fundo, corpo e parte pilórica. A parte cardia é sua porção proximal que se comunica com o esôfago. O fundo é uma região superior, acima da sua junção com o esôfago. O corpo, a maior parte do órgão, apresenta faces anterior e posterior unidas por duas margens, a curvatura gástrica maior (à esquerda) e a curvatura gástrica me- nor (à direita). A parte pilórica é sua porção terminal, que se comunica com o duodeno. Ela apresenta uma região mais alargada chamada de antropilórico, o qual se estreita originando o canal pilórico, que termina no piloro (região esfincteriana distal). Tanto na parte cárdica quanto no piloro localizam-se orifícios chamados óstiocárdico e óstiopilórico, onde há uma condensação de feixes musculares que constituem um mecanismo de abertura e fechamento para regular o trânsito do bolo alimentar. Normalmente, o piloro fica em contração tônica e só se abre para dar passagem ao quimo (bolo alimentar misturado às secreções gástricas quan- do o duodeno está vazio e pronto para digerir mais conteúdo gástrico). Assim, estômago e duodeno agem coordenadamente de forma que, quando o duodeno está cheio, o músculo esfíncter do piloro se contrai para impedir que mais quimo seja lançado no duodeno. U N IC ES U M A R 183 O estômago pode apresentar algumas disfunções, por exemplo, gastrite e úlcera péptica. Na úlcera, surgem lesões na camada mais superficial da mucosa que reveste o estômago. Todavia ela pode se manifestar também no duodeno (a porção do intestino delgado). Quando a úlcera surge no estômago, ela é denominada úlcera gástrica; quando surge no duodeno, ela é chamada de úlcera duodenal. Fonte: Pinheiro (2016, on-line)4. explorando Ideias Esôfago FUNDO CORPO Curvatura gástrica maior PILORO Duodeno Óstio pilórico Esfíncter pilórico Curvatura gástrica menor CÁRDIA Figura 12 – Estômago U N ID A D E 3 184 INTESTINOS Os intestinos seguem o estômago e se dividem pelo calibre em intestino delgado e intestino grosso. Figura 13 - Intestino delgado e grosso Intestino delgado O intestino delgado tem de quatro a seis metros de comprimento, uma vez que se estende do piloro até o ceco (primeira porção do intestino grosso). É subdividido em três segmentos: duodeno, jejuno e íleo. Embora represente o principal local de absor- ção dos alimentos, ele também participa da digestão (DANGELO; FATTINI, 2011). Desta forma, à semelhança do estômago, o intestino delgado exerce dois tipos de atividades sobre o alimento: mecânica (pois mistura e propulsiona o quimo por meio de movimentos estimulados pelos plexos nervosos do siste- ma nervoso entérico) e química (por meio das enzimas entéricas, pancreáticas U N IC ES U M A R 185 e da bile). Assim, vale ressaltar que a ação das secreções do próprio intestino (suco entérico), do pâncreas (suco pancreático) e do fígado (bile) sobre o quimo forma o quilo na fase final da digestão, quando já existem substâncias prontas para serem absorvidas. O ducto do fígado (ducto colédoco) e o ducto pancreático desembocam na mucosa do duodeno pela papila maior do duo- deno; o ducto pancreático acessório desemboca na mucosa do duodeno pela papila menor do duodeno. O duodeno é a primeira porção do intestino delgado com 25 cm de compri- mento, sendo, por isso, considerado a sua menor parte. É um órgão em forma de “U” aberto para a esquerda, que começa no óstiopilórico e termina na flexura duodeno-jejunal. Ele “abraça” a cabeça do pâncreas e é aderido à parede posterior do abdome, sendo quase todo retroperitoneal (portanto, bastante fixo). A segunda porção do intestino delgado é o jejuno (com 2,5 metros) e a ter- ceira é o íleo (com 3,5 metros). Tais porções são contínuas entre si, pois não há uma divisão anatômica nítida entre elas. Assim, o termo jejuno-íleo é comum. Ao contrário do duodeno, que é fixo, o jejuno-íleo representa a parte móvel do intestino delgado (pois, apesar de estarem presos à parte posterior do abdome pelo mesentério, esta prega peritoneal é longa e permite ampla movimentação). O íleo termina no ceco (como foi mencionado). Intestino grosso O intestino grosso representa a porção terminal do canal alimentar que “emol- dura” o intestino delgado. Ele absorve água e eletrólitos do quilo, determinando a consistência do bolo fecal. Além disso, atua na formação, transporte e expulsão das fezes (as quais são resíduos sólidos da alimentação cuja eliminação ocorre por meio da defecação) (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Ele é mais calibroso e curto do que o intestino delgado (mede aproximada- mente 1,5 metros de comprimento) e se difere do delgado por apresentar faixas espessas de músculo liso longitudinal (as tênias do colo) gordura na serosa (os apêndices omentais do colo), e dilatações limitadas por sulcos transversais (as saculações do colo). É subdividido em ceco, colo ascendente, colo transverso, colo descendente, colo sigmoide e reto. O ceco é o segmento inicial, em fundo cego, que se continua como colo ascendente. Tem 7,5 cm de comprimento e largura e se localiza na U N ID A D E 3 186 Você sabia que a defecação depende de receptores nervosos da parede do reto, que a constipação intestinal pode ser desencadeada pela falta de peristaltismo e a diarreia é um mecanismo de defesa? pensando juntos Você sabia que a inflamação do apêndice vermiforme é conhecida como apendicite? Em- bora as causas da apendicite não sejam totalmenteconhecidas, existe relação com a obs- trução por gordura ou por fezes e infecção por vírus. É comum o aparecimento de fortes dores abdominais e até febre. Se a apendicite não for prontamente tratada, pode ocorrer o rompimento do apêndice vermiforme, levando o indivíduo à morte. Fonte: Minha Vida ([2018], on-line)5. explorando Ideias fossa ilíaca esquerda. Dele destaca-se o apêndice vermiforme, um prolongamento cilindroide alongado (de 6 a 10 cm de comprimento) que se forma no ponto de encontro das tênias. O apêndice é rico em folículos linfáticos. O colo ascendente segue em direção cranial, à direita da cavidade abdominal. Ele alcança o fígado e se curva para continuar como colo transverso. É retrope- ritoneal. O colo transverso é a parte mais longa e móvel do intestino grosso, pois atravessa da direita para a esquerda toda a parte superior da cavidade abdominal. O colo descendente inicia à esquerda da cavidade abdominal e termina na altura da crista ilíaca esquerda, onde dá continuidade ao colo sigmoide. Está fixo à parede posterior do abdome (é retroperitoneal, portanto, fixo). O colo sigmoide tem trajeto sinuoso (em forma de “S”), dirige-se para o plano mediano da pelve e termina na altura da terceira vértebra sacral, onde dá continuação ao reto. O reto e o canal anal representam a parte terminal e fixa do intestino grosso. O reto tem 15 cm de comprimento e possui uma parte dilatada (a ampola do reto) que armazena temporariamente as fezes. O canal anal é uma parte estreita, com cerca de 3 cm de comprimento, que atravessa o períneo e se abre no exterior por meio do ânus. No canal anal, se notam as colunas anais, em cuja base há uma densa rede venosa que forma a zona hemorroidária. É drenado por três conjuntos principais de veias (veia retal superior, média e inferior). U N IC ES U M A R 187 3 ÓRGÃOS ANEXOS FÍGADO O fígado está localizado imediatamente abaixo do diafragma e apresenta certa mobilidade durante os movimentos diafragmáticos e, em posição ereta, fica mais baixo devido à gravidade (WATANABE, 2000). É considerado a maior glândula do corpo e, depois da pele, o maior órgão (pesando 1,5 kg). Ele está unido à parede abdominal anterior, ao estômago e ao duodeno. É con- siderado plástico, pois se adapta aos órgãos vizinhos, os quais lhe causam impressões. Este órgão desempenha importante papel nas atividades vitais, uma vez que interfere no metabolismo de carboidrato, gordura e proteína, armazena glicogênio, sintetiza vários compostos orgânicos, metaboliza e excreta substâncias tóxicas en- dógenas ou exógenas (como medicamentos e alimentos), participa dos mecanismos de defesa do corpo e secreta a bile (atuando como glândula exócrina). A bile é um líquido esverdeado, de gosto amargo, que vomitamos quando não temos nada no estômago (ela é popularmente conhecida como fel). É produzida de forma contínua pelo fígado e armazenada na vesícula biliar (um órgão em forma de saco que fica embaixo do fígado). Tem ação detergente (emulsificante) sobre gorduras e favorece a absorção de ácidos e vitaminas lipossolúveis (sem bile, cerca de 40% da gordura seria excretada pelas fezes, assim como as vitaminas A, D, E e K). A bile é drenada pelos ductos hepáticos (direito e esquerdo), os quais se unem U N ID A D E 3 188 para formar o ducto hepático comum. Este ducto se une ao ducto cístico (que vem da vesícula biliar), formando o ducto colédoco, o qual se abre no duodeno. O fígado apresenta duas faces, a diafragmática e a visceral. A diafragmática é convexa, lisa e fica em contato com o músculo diagrama. A visceral fica em con- tato com as vísceras abdominais (estômago, duodeno, omento menor, vesícula biliar, flexura direita do colo, colo transverso, rim direito e glândula suprarrenal direita). Nessa face está a vesícula biliar, o sulco da veia cava inferior e a porta do fígado. Além disso, nessa face estão dois lobos anatômicos (o direito e o esquerdo) e dois lobos acessórios (o quadrado e o caudado). Figura 14 - Fígado PÂNCREAS O pâncreas está situado profundamente na cavidade abdominal, atrás do estô- mago e é fixo à parede posterior do abdome (ou seja, é retroperitoneal e com pequena mobilidade). É considerado a segunda maior glândula anexa do siste- ma digestório (depois do fígado) e é classificado como glândula mista, uma vez que secreta insulina e glucagon (de maneira endócrina) e suco pancreático (de maneira exócrina) (FREITAS, 2004). É dividido em cabeça (extremidade dilatada à direita emoldurada pelo duo- deno), colo (entre a cabeça e o corpo, com cerca de 2 cm), corpo (em posição transversal sobre as duas primeiras vértebras lombares) e cauda (extremidade afilada à esquerda, situada perto do baço). U N IC ES U M A R 189 O suco pancreático é recolhido por dúctulos que formam o ducto pancreáti- co principal e o ducto pancreático acessório (inconstante). O ducto pancreático principal começa na cauda e termina na cabeça do pâncreas. Na maioria das vezes, esse ducto se une ao ducto colédoco e se abre no duodeno (como já visto). Fígado Vesícula biliar Pâncreas Duodeno Figura 15 - Pâncreas GLÂNDULAS SALIVARES Como o próprio nome sugere, as glândulas salivares são responsáveis por produ- zir a saliva. Esta, por sua vez, é um líquido viscoso, transparente, insípido e inodo- ro que previne contra as cáries, lubrifica o bolo alimentar, facilita seu transporte sem irritar as paredes do tubo digestório e inicia a digestão do amido. Além disso, a saliva mantém a cavidade oral limpa, permite sentir o sabor da maior parte dos alimentos, excreta algumas substâncias, como metais pesados e medicamentos, mantém o pH da cavidade própria da boca, entre outros (MADEIRA, 2001). Não sei se você já usou a expressão “dá água na boca só de ouvir falar” quando pensa em um alimento que você aprecia? Pois é! Essa expressão é correta, pois considera que a salivação é antecipada à ingestão do alimento e começa a ser produzida antes da digestão (chamamos de fase cefálica da salivação, o mesmo se aplica quando sentimos o cheiro do tal alimento ou quando o vemos). U N ID A D E 3 190 Existem dois subgrupos de glândulas salivares, as maiores e as menores. As glândulas salivares menores estão localizadas nas bochechas, nos lábios, no palato e na mucosa da língua. As glândulas salivares maiores são três pares: as glândulas parótida, submandibulare sublingual. ■ As glândulas parótidas ficam lateralmente na face, anterior à orelha externa. Elas apresentam um canal excretor, chamado ducto parotídeo, o qual perfura o músculo bucinador e se abre na cavidade oral, ao nível do segundo molar superior. Elas podem ser infectadas por vírus, causando parotidite (popularmente conhecida como caxumba). ■ As glândulas submandibulares localizam-se abaixo da mandíbula. Seus ductos (o ducto submandibular) se abrem na cavidade oral abaixo da língua, na carúncula sublingual (umas “bolinhas” que temos embaixo da língua). ■ As glândulas sublinguais são as menores e as mais profunda delas. Si- tuam-se lateral e inferiormente à língua. Apresentam muitos pequenos ductos sublinguais que se abrem no assoalho da boca. Ducto parotídeo Glândula parótida Glândula parótida Glândula submandibular Ducto submandibular Glândula sublingual Ductos sublinguais Figura 16 - Glândulas salivares U N IC ES U M A R 191 CONSIDERAÇÕES FINAIS A obtenção de energia para o metabolismo celular depende do funcionamento do sistema digestório. De igual modo, a contração muscular, o pensamento, o aprendizado e tantas outras funções não ocorreriam sem o suprimento energético essencial. Por isto, o sistema digestório é vital. Certamente, você consegue, agora, responder a algumas perguntas feitas an- teriormente. Assim, creio que você já conhece os princípios fundamentais da digestão e a atuação de cada estrutura anatômica que forma o sistema digestório. Todavia é importante destacar que muitas doenças são comuns a esse sistema, por exemplo, gastrite,esofagite, acalasia, doença de Crohn, colite ulcerativa e muitas outras. Tais doenças comprometem seu funcionamento, debilitando o indivíduo e causando diversas deficiências físicas e mentais. Algumas delas podem ser evitadas por meio do desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis (como a ingestão adequada diária de líquidos, bem como de alimentos prebióticos e probióticos). Tais condutas garantem o funcionamento ideal das estruturas anatômicas que compõem o sistema em questão. Além disso, vale ressaltar que o pleno conhecimento anatômico e fisiológico de tais estruturas é relevante ao aspecto preventivo de tais doenças. Por isto, o estudo pormenorizado desse sistema é essencial a profissionais da saúde, como você. Lembre-se de que o profissional comumente responde a questionamentos referentes ao corpo humano e ao seu funcionamento. Além disso, lembre-se que você poderá contribuir para minimizar muitos distúrbios alimentares (como anorexia ou bulimia). Assim, boa capacitação para você! 192 na prática 1. Em relação ao sistema digestório, é correto afirmar: a) O fígado produz a bile e a vesícula biliar a armazena. b) A bile é produzida pela vesícula biliar e armazenada no fígado. c) O duodeno produz a bile e a vesícula biliar a armazena. d) A bile é produzida pela vesícula biliar e armazenada no duodeno. e) Quem produz e armazena a bile são, respectivamente, o fígado e o duodeno. 2. Em relação ao sistema digestório, os seus órgãos considerados supradiafragmáticos são: a) Boca, faringe, laringe, esôfago e glândulas salivares. b) Boca, faringe, esôfago (porção cervical e torácica) e glândulas salivares. c) Boca, faringe, esôfago (porção cervical, torácica e abdominal) e glândulas salivares. d) Boca, faringe, laringe, esôfago (porção cervical, torácica e abdominal) e glândulas salivares. e) Boca, faringe, estômago e glândulas salivares. 3. A respeito dos órgãos do sistema digestório aqui estudados, aqueles considerados infradiafragmáticos são: a) Esôfago (porção cervical, torácica e abdominal), estômago, intestino delgado, intestino grosso, fígado e pâncreas. b) Esôfago (porção torácica e abdominal), estômago, intestino delgado, intestino grosso, fígado e pâncreas. c) Esôfago (porção abdominal), estômago, intestino delgado, intestino grosso, fígado e pâncreas. d) Esôfago (porção abdominal), estômago, intestino delgado, intestino grosso, fíga- do, pâncreas e glândulas salivares. e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta. 4. Considere que um aluno ingeriu, na hora do lanche, um sanduíche de pão, carne e bacon. Assinale, dentre as alternativas a seguir, aquela que contém o local correto onde tais alimentos serão digeridos: a) O pão no duodeno (pois é composto, principalmente, por proteína), a carne no estômago (pois é composta, principalmente, por carboidrato) e o bacon no duodeno (pois é composto, principalmente, por gordura). 193 na prática b) O pão na faringe e no esôfago (pois é composto, principalmente, por carboidrato), a carne no estômago (pois é composta, principalmente, por proteína) e o bacon no duodeno (pois é composto, principalmente, por gordura). c) O pão na boca e no esôfago (pois é composto, principalmente, por carboidrato), a carne no duodeno e no colo transverso (pois é composta, principalmente, por proteína) e o bacon no colo ascendente e transverso (pois é composto, princi- palmente, por gordura). d) O pão na boca e no duodeno (pois é composto, principalmente, por carboidra- to), a carne no estômago e no duodeno (pois é composta, principalmente, por proteína) e o bacon no duodeno (pois é composto, principalmente, por gordura). e) O pão na boca e no estômago (pois é composto, principalmente, por carboidrato), a carne no estômago e no fígado (pois é composta, principalmente, por gordura) e o bacon no duodeno e no pâncreas (pois é composto, principalmente, por gordura). 5. A respeito do sistema digestório aqui estudado, ele apresenta como principais ór- gãos anexos: a) Baço, fígado e glândulas salivares. b) Pâncreas, timo e glândulas salivares. c) Pâncreas, fígado e reto. d) Ceco, fígado e glândulas salivares. e) Pâncreas, fígado e glândulas salivares. 194 aprimore-se Leia o artigo indicado a seguir, que trata de uma doença relativamente comum do sistema digestório: o refluxo gastro-esofágico. PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À DOENÇA DO REFLUXO GAS- TROESOFÁGICO A doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), bem como os demais sintomas oriun- dos do sistema digestório superior, são de alta frequência na prática clínica diária. Ainda que suas complicações não sejam frequentes, constituem-se, pela elevada prevalência, tema de relevância nas questões de saúde pública. As taxas de preva- lência de DRGE, caracterizada por presença de sintomas de pirose e regurgitação ácida, são bastante variáveis, mas, principalmente em países ocidentais, quase sem- pre elevadas. Na Espanha, estudo transversal publicado em 2004 identificou preva- lência de 31,6% de DRGE ao ano (2). Na Bélgica também é elevada, tendo sido de 28% em 2002 (7). Em estudo rea- lizado na Austrália, em 1996, 56% dos indivíduos relataram ter tido sintomas de DRGE pelo menos alguma vez em suas vidas, sendo que 37% os têm pelo menos uma vez a cada quatro meses (1). Na Dinamarca, em 1994, a prevalência foi de 38% entre os homens e 30% entre as mulheres (5). No Brasil, em 2001, foi de 48,2% (10). Em estudo de revisão publicado em 1997, a variação da prevalência fica na faixa de 10% a 48% para pirose, 9% a 45% para regurgitação ácida e 21% a 59% para ambos os sintomas (4). Elevado número de consultas é originado a partir de sintomas de DRGE. Na In- glaterra, em 1994, 8% das consultas médicas em atenção primária à saúde e 11% da demanda espontânea foram ocasionadas por sintomas do sistema digestório (3). Em Autumn, na Alemanha, em estudo realizado no ano de 2000, 81,7% dos in- divíduos com sintomas de DRGE já haviam realizado pelo menos uma gastroscopia para investigaçãode seus sintomas (14). Estudo realizado entre trabalhadores na Itália, em 1999, mostrou que pelo menos 2,6% dos indivíduos sintomáticos têm seu trabalho afetado pelos sintomas (13). 195 aprimore-se Estudos de base populacional com baixos índices de perdas ou recusas ainda são minoria entre as publicações sobre este tema. Os estudos para investigar fato- res determinantes de DRGE são, em sua maioria, realizados em serviços de saúde, podendo indicar fatores agravantes e não necessariamente fatores de risco para os indivíduos da população que não procura ajuda médica para seus sintomas. Fonte: Oliveira et al. (2005). 196 eu recomendo! Este filme da “Super Interessante Coleções” apresenta os principais eventos associa- dos à digestão e ao sistema digestório. Ele retrata, por meio de exemplos práticos, todo o trajeto que o alimento percorre desde sua ingestão até sua eliminação, bem como as estruturas anatômicas pelas quais ele passa. Demonstra a ação das secre- ções digestivas e correlaciona à vida diária. Web: https://www.youtube.com/watch?v=6JfDX94htbU. Conheça um pouco mais a doença do refluxo gastroesofágico, por meio deste vídeo. Descubra o que é, quais os principais sintomas e o que causa essa doença. Web: https://www.abcdasaude.com.br/gastroenterologia/doenca-do-refluxo-gastro-esofagico. Aprenda um pouco mais a fisiologia da defecação e evite problemas relacionados a ela. Web: http://www.medicinageriatrica.com.br/2008/08/11/ incontinencia-anal-parte-2-anato- mia-e-fisiologia-do-assoalho-pelvico. filme