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Salmoneloses aviárias Adrielly Alves Araújo As duas principais doenças causadas pela bactéria Salmonella em aves são a pulorose e o tifo aviário causados por sorovares de Salmonella enterica. Pulorose É causada pela Salmonella enterica sorovar Pullorum (S. Pullorum), conhecida como “diarréia branca bacilar”, que pode ser um sinal clínico presente na doença. É uma doença de caráter septicêmico que pode acometer galinhas, perus, faisões, codornas, papagaios, entre outras aves. As linhagens leves de galinhas parecem ser mais resistentes à infecção quando comparadas às pesadas. São bactérias gram negativas, bacilares, não flageladas - imóvel, embora alguns meios possam favorecer sua dispersão. É de distribuição mundial, porém com maiores surtos na américa latina e méxico. É de importância principalmente para aves jovens, de 2-3 semanas de idade, nas quais causa mortalidade variável, mas que pode chegar a 100%. As que se recuperam podem se tornar portadoras sendo subclínicas ou assintomáticas, o que dificulta sua identificação no plantel e mantém a bactéria circulante no meio. Sua transmissão é horizontal, por contato direto, indireto por fômites, cama contaminada, dispersão das bactérias nos incubatórios e nascedouros, e vertical pela presença da bactéria nos óvulos das matrizes que contaminam os ovos - pintinhos já nascem infectados, e caso sobrevivam ao período de maior mortalidade (2-3 semanas de idade) se tornam aves adultas infectadas. Além disso, vetores como roedores, cascudinho, etc, podem favorecer a disseminação entre as aves. Patogenia Infecção por via oral, após ingestão das bactérias, estas colonizam o epitélio da mucosa intestinal, é fagocitada porém continua sua multiplicação no interior dos fagócitos, sendo disseminada via sangue e linfa para os linfonodos mesentéricos, depois para fígado e baço causando lesões, e depois pelo organismo como um todo - doença septicêmica, o que inclui o trato reprodutivo = transmissão vertical. Sinais clínicos Elevado número de pintinhos mortos dentro dos ovos ou logo após a eclosão. As aves afetadas apresentam depressão, ficam com frio e se juntam para se aquecer, dificuldade respiratória, anorexia ou hiporexia, diarreia branca que pode ser vista ao redor da cloaca e na cama, e desidratação. Em casos agudos pode-se ocorrer morte súbita das aves, sem nenhum tipo de sinal ou lesões na necropsia. Em casos menos agudos pode-se ter lesões pulmonares, articulares = problemas de desenvolvimento, redução na produção de ovos e eclodibilidade. Em perus os sinais são semelhantes, mas a diarreia é mais esverdeada do que esbranquiçada, eles não se acumulam e sim se afastam, e podem apresentar hipertermia. Diagnóstico Lesões macro: hepato e esplenomegalia, aumento dos rins, focos necróticos no fígado. presença de conteúdo caseoso no saco vitelínico. Nódulos brancos nos pulmões e musculatura cardíaca, nódulos na moela, nos cecos, e articulações com exsudato purulento. As alterações cardíacas podem levar a quadro de insuficiência cardíaca com congestão passiva crônica no fígado e ascite, pericárdio espessado, presença de conteúdo fibrinoso, seroso amarelado. Em portadoras crônicas, adultas, deformação dos óvulos císticos, com conteúdo oleoso ou caseoso (ooforite na idade reprodutiva), ovulação peritoneal com consequente peritonite. Nesses casos mais crônicos é mais difícil o isolamento das bactérias, pode ocorrer a colonização das lesões por outros agentes mascarando o diagnóstico de salmonelose. Sorologia: Pode ser falso negativo quando feita no início na infecção, 3-10 dias. E o resultado positivo pode ser falso positivo por reações cruzadas com outras salmonelas. A mais utilizada é a Soroaglutinação rápida. Definitivo: isolamento e identificação da bactéria a partir de fígado, baço, cecos, folículos ovarianos, fluido sinovial, swabs de intestino, etc. Cultivo em meios especiais - verde brilhante, XLD, XLT4, SS - seguida de caracterização bioquímica. Diferencial: Aspergilose (lesões pulmonares), Micoplasmose (artrite), colibacilose, estafilococose e pasteurelose. Profilaxia e controle Exames sorológicos periódicos e sacrifício compulsórios dos lotes infectados. Lotes de avós e matrizes tem de ser obrigatoriamente livres. Aves obtidas de fontes seguras, não misturar aves de diferentes origens, ambientes limpos e desinfetados com testes negativos para salmonella, biosseguridade. O tratamento com antibióticos não elimina as aves portadoras. Tifo aviário Seu nome vem da similaridade de sinais clínicos apresentados na febre tifóide humana. Doença causada pela bactéria Salmonella Gallinarum, é altamente patogênica podendo acometer qualquer ave de qualquer idade, porém é mais comum em aves adultas, principalmente de postura e matrizes - aves de ciclo mais longo. Sua epidemiologia é parecida e relacionada à pulorose. Muitas vezes pode-se ter aves infectadas, mesmo que ainda não apresentando os sinais, pode eliminar a bactéria no ambiente. Diferente da pulorose, no tifo a presença dos agentes nas fezes não é comum, sendo preferencialmente feito swab de cloaca em aves com infecção aguda para identificação dos agentes. As salmonelas Gallinarum e Pullorum apresentam semelhanças sorológicas não podendo ser distinguidas em testes sorológicos básicos - reações cruzadas, inclusive nos testes bioquímicos. Epidemiologia As galinhas são os hospedeiros naturais da Salmonella Gallinarum embora galinhas de linhagens leves pareçam ser mais resistentes. Outras aves podem ser hospedeiras e assim como outras espécies como ratos, chimpanzés, raposas, coelhos e cobaias. Por outro lado, os pombos parecem ser resistentes à infecção. A transmissão se dá principalmente de forma horizontal, pelo contato direto entre as aves, canibalismo, presença de aves mortas na granja, a transmissão vertical ainda não é comprovada visto que existem divergências entre autores, porém como é uma doença septicêmica, assim como a pulorose, é provável que possa haver disseminação das bactérias para o trato reprodutivo. A mortalidade pode variar de 40-80% sendo que a morte porde acontecer de 7-14 dias da infecção, seja pela própria doença ou por intoxicação por medicamentos usados na tentativa de tratamento. Patogenia Alguns sorotipos são restritos ao trato gastrintestinal = ingestão dos agentes e colonização das microvilosidades intestinais = síndrome da má absorção. Outros são capazes de se disseminar via corrente sanguínea pormacrófagos causando doença septicêmica. Uma vez no sangue, a liberação de LPS induz à grave anemia hemolítica, com perda de mais de 70% de eritrócitos circulantes totais. Sinais clínicos As afetadas por cepas intestinais apresentam diarreia amarelada-esverdeada a esverdeada. Outros sinais ocorrem pela anemia severa como a prostração, apatia, dispnéia, anorexia, queda na postura e óbito. O curso da doença dura em torno de 5-7 dias, ocorrendo repetições dos quadros e mortes no galpão, quando em aves jovens pode ser confundido com pulorose devendo ser feito o diagnóstico diferencial (lembrando que o fato de ser mais comum em adultas não significa que o tifo aviário não possa acometer outras idades). Imunidade A presença de anticorpos aglutinantes não significa proteção podendo até ser prejudicial para a ave - formação de complexos antígeno-anticorpo que se depositam causando reação de hipersensibilidade causando a anemia hemolítica, artrite, vasculite. Diagnóstico Lesões macroscópicas: são decorrentes de toxemia e septicemia, congestão de órgãos internos e palidez de carcaça (anemia), hepato e esplenomegalia severa (aumento de 3-4x), fígado friável, esverdeado, amarelado, necrose e hemorragias hepáticas, vesícula biliar aumentada. Hemorragias petequiais e necrose em coração e baço também podem ocorrer. Quando apresenta um curso mais longo, podem aparecer nódulos esbranquiçados no coração (pericardite e miocardite), pulmão, baço, rins, moela, pâncreas, duodeno e cecos, folículos ovarianos hemorrágicos, murchos, congestos, císticos, disformes, com conteúdo caseoso ou hemorrágico em seu interior. Provas sorológicas: Soroaglutinação rápida, soroaglutinação lenta, ELISA, detectam as Pullorum e Gallinarum. Isolamento e identificação: são necessários meios especiais como RP, XLD, XLT4, TSI e McConkey (ficam translúcidas, diferenciam de E. coli) e posterior sorotipagem em laboratórios especializados. As amostras de eleição são de baço, fígado, ovários e coração. Diferencial: Outras salmoneloses, colibacilose, pasteurelose, micoplasmose, doença de Marek Tratamento Não elimina o estado de portador. Pode ser feito com uso de sulfas e nitrofuranos, porém as sulfas são bem tóxicas às aves, principalmente quando usadas por longos períodos e devido às lesões hepáticas já causadas pelas bactérias. Por isso geralmente se opta pela dizimação do plantel. Profilaxia e controle Biosseguridade, monitoramento sorológico, sacrifício compulsórios de lotes positivos, e outras medidas previstas no Programa Nacional de Sanidade Avícola.
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