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Suporte básico de vida no trauma • Rápido → organizado → eficiente = MAIOR SOBREVIDA • PHTLS – suporte pré hospitalar • ATLS – Intrahospitalar Princípios filosóficos: 1. Avaliação rápida e segura 2. Processos de intervenção e estabilização 3. Transporte para local definitivo Atendimento inicial à vítima de trauma • Avaliar (vida/morte) - 15/30 segundos - Extricação: retirada do paciente de dentro das ferragens • A-B-C-D-E - Triagem - Análise primária • Reanimação cardiopulmonar • Transporte • Análise secundária • Hospital - Cena/conduta/transporte - Cinemática: estudo da transferência de energia do trauma → 90% diagnóstico PRIORIDADES • Morte iminente • Perda de membro • Outras condições (idade, gestantes, etc) ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR • “Golden Hour” - R. Adams Cowley • Intervalo de tempo crucial no qual deve-se iniciar o tratamento definitivo às vítimas de traumatismo grave • Tratamento definitivo precoce = maior índice de sobrevida CENÁRIO ➔ É sexta-feira à noite, temperatura em torno de 25°C, e sua equipe foi encaminhada para atendimento a paciente vítima de queda de motocicleta. A informação é que a vítima estava com capacete e que estava inconsciente e com respiração ruidosa OBS: TIPOS DE AMBULÂNCIA • Ambulância básica – técnicos, atendimentos para pacientes menos graves • UTI móvel –médicos, traumatismos mais graves (poucas no Brasil) ➔ Precauções universais: • Luvas • Proteção ocular • Máscara • Avental/Macacão ➔ Avaliação da cena: • Responsabilidade da equipe do APH - Observar toda a cena - Relatar todos os detalhes • Maiores chances de sobrevida para a vítima - Menor tempo da conduta propedêutica ➔ Segurança da cena: • Garantir a segurança dos socorristas e da vítima • Cenas de crime: acionar polícia e bombeiros com antecedência ➔ Avaliação e atendimento iniciais: • Objetivos: - Identificar a sequência de prioridades (ABCDE) - Aplicar os princípios do exame inicial - Aplicar as normas e técnicas na reanimação inicial - Valorizar a história médica do doente e do trauma (colher a história Sampla) OBS: Na maioria das vezes o paciente está morto e não em PCR AS PRIORIDADES • X – Causa de sangramento INCONTROLÁVEL (amputação traumática, perda de volemia) • A (airway) – Vias aéreas com proteção da coluna cervical (lesão: principal causa de morte em pacientes vítima de trauma) • B (breathing) – Respiração • C (circulation) – Circulação (sangramentos controláveis) • D (déficit neurológico) – Avaliação neurológica sumária (contração normal da pupila, sensibilidade, reflexos) • E – Exposição do doente com controle contra a hipotermia (tirar a roupa, procurar lesões e/ou fraturas adicionais, controlar a temperatura) OBS: A hipotermia dificulta o processo de recuperação e cicatrização do paciente EXAME PRIMÁRIO • Objetivos: - Determinar a gravidade da condição da vítima (risco de morte iminente) - Determinar condutas imediatas a serem tomadas • Princípio: trate à medida que encontre A - Vias aéreas com proteção cervical • Cenário → Vítima inconsciente e com respiração ruidosa – muitas vezes é por uma queda da língua (obstrução da orofaringe) • Manobras de desobstrução das vias aéreas: 1. Chin Lift – Estabilizar a cabeça do paciente e elevar o queixo (não deve ser feita em suspeita de lesão cervical). 2. Jaw Thrust – anteriorização da mandíbula (empurrar a cabeça com os polegares no osso zigomático, com os outros dedos no ângulo da mandíbula e empurra para cima o queixo do paciente que vai vir junto à língua, para estabilizar a cabeça ao chão e manter a língua em posição de desobstrução) OBS: Após as manobras → Cânula orofaríngea (Guedel) → medir o tamanho correto da distância do canto da boca do paciente até o canal auditivo, estabilizar a desobstrução e a posição da cabeça do paciente, a língua tem um formato curvo assim como a cânula, então ela deve ser inserida de maneira contrária (parte côncava em direção ao céu da boca) quando entra metade da cânula, deve se girar para que ela se disponha de maneira correta. Por ela ser oca, a passagem do ar acontece. SÓ DEVE SER USADA EM PACIENTES INCONSCIENTES E COM RESPIRAÇÃO RUIDOSA. Em crianças, pega-se um abaixador de língua e coloca a cânula de maneira direta (concavidade virada para baixo) Após manobra de anteriorização da mandíbula houve melhora da respiração ruidosa OBS: Colar cervical • Deve ser colocado de maneira a evitar lesões na coluna do paciente (em casos de suspeita) • Um socorrista deve estabilizar a cabeça o paciente em linha reta e o outro deve vir pela lateral e colocar o colar por baixo da cabeça (por trás da nuca) e fechar o colar (escolhido proporcionalmente ao tamanho do paciente) B – Respiração e Ventilação • Cenário: vítima com nítida taquipneia (aumento na frequência de respiração – hiperventilação) • Administração de O2 sob máscara após garantir ausência de corpos estranhos na glote Expor o tórax: • Inspeção visual (visualizar se os dois lados do tórax se expandem normalmente) • Palpação (suspeita de fratura e/ou hematoma) • Ausculta (procurar murmúrios vesiculares) • Percussão (encostar os dedos no tórax do paciente e verificar se o som é timpânico) → em pacientes com pneumotórax o som é mais alto ou mais seco ➔ Máscara facial com balão (ambu) com válvula unidirecional → Manobra C-E: Polegar na parte superior e indicador na parte inferior – posição de C, comprimir no paciente e os outros dedos formando a letra E para travar a mandíbula do paciente. É preciso travar para evitar que o ar escape pelas laterais OBS: Pode ser usada juntamente a cânula orofaríngea quando o paciente continuar com respiração ruidosa VIA AÉREA DEFINITIVA Indicações de intubação: • Escala de Coma de Glasgow menor ou igual a 8 • Traumatismo facial grave • Hematoma cervical • Antes do transporte: - Piora do nível de consciência mesmo que ECGla > 8 - Crises convulsivas Intubação orotraqueal: ➔ Lâmina com o cabo (laringoscópio) ou tubo orotraqueal. Deve haver iluminação direta das cordas vocais ➔ Posicione seu corpo de modo que seus olhos fiquem a uma distância que permita visão binocular do paciente ➔ Segure o laringoscópio com a mão esquerda e a lâmina para baixo ➔ Abra a boca do paciente e insira a lâmina do laringoscópio à direita da língua do paciente ➔ Mova a lâmina ao centro da boca, empurrando a língua para a esquerda ➔ Coloque a ponta da lâmina curva na valécula, entre a base da língua e a epiglote ➔ Movimento de báscula em 45° para expor as cordas vocais ➔ Passar o tubo com a outra mão OBS: ➔ Manobra de Sellick: outro socorrista empurra a traqueia para baixo, comprimindo o esôfago para evitar o refluxo de alimentos para a via aérea ➔ Utilizar lâmina reta em crianças (diretamente puxa a epiglote com ela) e a curva em adultos (encaixar na valécula). ➔ Não apoiar o cabo no dente do paciente para evitar quebra. ➔ O tubo pode ser passado vazio ou com o fio guia (facilita a rigidez do tubo) ➔ Capinógrafo – aparelho detector de CO2, detectar se o tubo realmente está na traqueia ➔ Traqueostomia – via aérea definitiva, procedimento cirúrgico e eletivo feito quando o paciente já está intubado, verificar a fucula esternal do paciente e fazer a cirurgia nessa região OBS: Cricotireoideostomia – “falsa” traquesostomia feita fora do hospital Dificuldades da intubação: • Combatividade • Enrijecimento dos músculos da mandíbula • Hemorragia, vômitos Evitar: • Broncoaspiração (presença de secreções ou sangue dentro das vias aéreas do paciente) • Piora hemodinâmica (estado circulatório) • Aumento da pressão intracraniana (aumento de CO2 na circulação e, por tabela, no cérebro) Confirmação da posiçãodo tubo traqueal: • Visualização direta das cordas vocais • Vapor de água no tubo durante a expiração • Expansão torácica simétrica • Presença de murmúrio vesicular bilateral (som escuto pelo estetoscópio) • Ausência de sons aéreos no epigástrio (ausculta da região acima do estômago) OBS: A passagem do tubo às cegas, em vez de ir pra traqueia para ir para o estômago, pelo esôfago, pode fazer pressão, fazendo-o insuflar e dilatar, o que vai empurrar o seu conteúdo para a cavidade orofaríngea • Recursos complementares: - Detector de CO2 exalado (padrão ouro) - Oxímetro de pulso (concentração de O2 indireta na circulação periférica) DETERIORIZAÇÃO DA VENTILAÇÃO • Pneumotórax hipertensivo – presença de ar dentro da cavidade tóraxica (e não somente no pulmão) porém envolvendo por fora do pulmão, comprimindo-o tão intensamente que não consegue expandir. Pode ser espontâneo (bolha pulmonar que rompe devido diferença de pressurização no avião), ou fechado (não há nenhum orifício comunicando o meio externo com o meio interno, colisões seguidas de fraturas – Ex: espicula óssea da costela perfura a pleura) • Pneumotórax aberto – causado por facada, tiro, empalamento • Hemotórax – sangue dentro do tórax • Hemopneumotórax – presença de sangue dentro da cavidade torácica junto de ar • Contusão pulmonar – hematoma/contusão dentro do parênquima pulmonar. Colisão do pulmão internamento com a cavidade torácica, dificulta trocas gasosas • Tórax instável – fratura de costela em 2 ou mais costelas no mínimo em 2 lugares em cada uma, troca gasosa deficiente, por vezes necessita de cirurgia para estabilizar a costela OBS: Fratura simples de costela não causa problemas graves, com os movimentos respiratórios realinha e cicatriza por completo em aproximadamente 4 semanas ➔ Cenário – após administração de O2 sob máscara não houve melhora da taquipneia e o paciente começou a apresentar cianose labial (lábio arroxeado – alta concentração de CO2, oxigenação tecidual insuficiente) • Expor e examinar o tórax da vítima (foi baleado abaixo da axila) → Ausculta: murmúrio vesicular ausente à esquerda (o tiro pode ter penetrado a cavidade pulmonar, dificultando a respiração) • Curativo de 3 pontas com melhora significativa do padrão respiratório → um dos 4 lados sem ponta, não deixa que o ar entre na cavidade torácica, porém consegue sair pela extremidade aberta (por pressão positiva) C - Circulação • Avaliação e controle da hemorragia externa - A hipotensão (baixa da pressão) é hipovolêmica (baixa de volemia sanguínea) até prova em contrário - Nível de consciência (primeiro o paciente fica agitado e depois se acalma) • Sangramento - Pressão manual direta (a mão exerce pressão sobre o ferimento) - Torniquetes (envolver a circunferência do membro, ocluir os vasos sanguíneos, só deve ser utilizado em casos de amputação ou de quase amputação) • Imobilizar fraturas • Avaliação da perfusão Pulso: - Frequência - Características - Regularidade - Locais Pele: - Cor - Temperatura - Umidade - Tempo de enchimento capilar (ideal: <2’’) Cenário: • Pulso radial palpável bilateralmente, de boa amplitude, com frequência em torno de 96 bpm • Pele pálida, fria, sudoréica • Tempo de enchimento capilar <2” (unha) D - Avaliação neurológica • Avaliar: Nível de consciência (perguntas simples e diretas) e tamanho da pupila e sua reação • Método AVDN (A = alerta, V = resposta ao estímulo/visão, D = só reponde a dor, N = não responde aos estímulos) → antigo • Escala de coma de Glasgow – abertura ocular, resposta verbal, resposta motora AVALIAÇÃO DAS PUPILAS Tamanho: • Normal • Miose - contração da pupila (resposta normal à luz) • Midríase – resposta anormal à luz, dilatação (afecção neurológica que pode estar comprimindo o tronco cerebelar) Simetria: • Isocóricas – as duas pupilas iguais • Anisocóricas – diferença no tamanho das pupilas Reação à luz: • Fotorreagentes – se protegendo da intensidade luminosa • Espásticas – espasmos como resposta à luz OBS: O rebaixamento do nível de consciência foi por causa do trauma ou há diminuição da oxigenação e perfusão cerebral? → álcool, drogas, doenças associadas • Cenário: pupilas isocóricas e fotorreagentes • Glasgow: 10 (AO: 3 / RV: 2 / RM: 5) E - Exposição/Ambiente • Despir o paciente, na medida do possível, para procurar outras lesões com risco de vida • Preservar/manter a temperatura corporal • Deixar de reconhecer lesões com risco de vida, por não expor adequadamente o doente é gravíssimo OBS: Ausência de lesões aparentes → não exclui a possibilidade de TRM (Traumatismo raquimedular – lesão na coluna) AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA • Exame da cabeça aos pés (ver, ouvir e sentir concentradamente) • História SAMPLA: (Sinais Vitais, Alergias, Medicamentos de uso habitual, Passado Médico / Prenhez, Líquidos e alimentos ingeridos recentemente, Ambiente e eventos relacionados ao trauma OBS: Traumas graves → pode ser que não dê para passar do exame primário (alta desestabilização) Cenário: • Jovem de 28 anos atropelada, está ansiosa e queixa-se de dor no abdome e na bacia • Com relação à cinemática e à vítima, quais os fatores a serem considerados? • Idade • Tipo do carro envolvido • Velocidade x peso da vítima OBS: Atropelamento de adulto: traumatismo no nível da coxa/joelho. Atropelamento de criança: traumatismo na região toracoabdominal OBS: Calcular a energia cinética → a velocidade aumenta a energia cinética de forma exponencial, portanto é mais importante para medir a gravidade Cenário: • A – Vias aéreas pérvias • B – Ventilação rápida; murmúrio vesicular normal e simétrico • C – Sem sangramento externo; pulso radial ausente de um lado; pulso carotídeo rápido; muito descorada • D – Escore de 13 na GSC (AO – 3, RV-4, MRM – 6) • E – Crepitação (rangido) à palpação da bacia ➔ Possibilidade de fratura na bacia, fonte de sangramento intensa Cenário: • Você vai atender um rapaz de 22 anos, que bateu seu carro em alta velocidade. Ele era o motorista do veículo e estava sem cinto de segurança • Quais os fatores importantes relacionados à cinemática? O indivíduo é arremessado para frente • Quais lesões devemos suspeitar? Possibilidade de múltiplos traumatismos Exame primário • A – Ventilação ruidosa • B – Ventilação rápida e superficial. Ausculta com murmúrio vesicular diminuído globalmente • C – Pequeno sangramento de laceração de couro cabeludo; pulso radial rápido e fraco; pele fria e suada • D - Escore 8 da GCS (AO-2, RV-2, MRM-4) • E – Deformidade evidente no punho esquerdo NO HOSPITAL A – VIAS AÉREAS COM PROTEÇÃO DA COLUNA CERVICAL • Considerar inicialmente lesão de coluna cervical em todo politrauma • Retirar o colar (pacientes conscientes e após palpação e manobras) • Se houver dúvida → solicitar Rx da coluna cervical B – RESPIRAÇÃO E VENTILAÇÃO • Expor o tórax do paciente • Inspeção, palpação, ausculta, percussão • Verificar se a respiração é eficaz e se o paciente está bem oxigenado • Via aérea pérvia não significa uma ventilação adequada • Não há necessidade de exame complementar para diagnosticar lesões potencialmente fatais • Nesta fase o oxímetro de pulso deve ser conectado ao paciente • Administrar O2 • Tratar pneumotórax hipertensivo, tórax instável, contusão pulmonar, hemotórax e hérnia diafragmática → causada por traumatismo intenso na região epigástrica, passagem de alguns órgãos intra-abdominais para dentro da cavidade torácica C – CIRCULAÇÃO • Hemorragia • Avaliação: • Nível de consciência (menor perfusão cerebral) • Cor da pele (cianose – perda 30% volemia) • PA (diminuição – perda 30% volume) • Pulso (taquicardia, filiformes, ausentes)• Diurese (50 ml/h) OBS: 3 parâmetros rápidos: nível de consciência, cor da pele e pulso OBS: Controlar a hemorragia interrompendo o sangramento • Necessário intervir cirurgicamente em caso de trauma profundo ou detectar e estancar hemorragia superficial • A reanimação volêmica agressiva e contínua não substitui o controle definitivo da hemorragia D – AVALIAÇÃO NEUROLÓGICA Causas de alteração do nível de consciência: 1. Oxigenação e perfusão cerebral inadequadas 2. Lesão cerebral 3. Intoxicação por drogas ou álcool 4. Distúrbios metabólicos (DM, convulsão e PCR) E – EXPOSIÇÃO/AMBIENTE • Retirar a roupa • Manter aquecido • Reavaliar antes do exame secundário Medidas auxiliares ao exame secundário • Radiografias adicionais da coluna • Tomografia computadorizada • Urografia excretora • Angiografia • Estudo radiológico das extremidades • Ultrassonografia • Broncoscopia • Esofagoscopia OBS: Exames de imagem só devem ser feitos em pacientes estáveis, sem risco iminente de morte Reavaliação • Deve haver reavaliações constantes do paciente • Monitorização contínua dos sinais vitais, débito urinário, e da resposta do doente ao tratamento Cuidados definitivos • Paciente evolui estável: alta • Paciente instável: cirurgia • Lesões que excedem a capacidade da instituição: transferência Resumindo • Garantir a segurança da equipe e da vítima • Avaliar a situação para determinar a necessidade de recursos adicionais • Reconhecer a cinemática envolvida nas lesões • Reconhecer as lesões com risco de morte já no exame primário • Manter a coluna cervical estabilizada durante o atendimento do paciente • Controlar a hemorragia externa significativa • Manter a estabilização manual da coluna cervical até a imobilização da coluna por inteiro • Iniciar o transporte da vítima para o local apropriado em até 10 minutos após o início do atendimento • Tomar as medidas necessárias para tratamento do choque • Uma vez tratadas adequadamente ou descartadas as lesões com risco de morte, obter uma história médica da vítima e realizar a avaliação secundária