Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 ANATOMIA E FISIOLOGIA PATOLÓGICAS RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Neoplasias de Fígado e Vias Biliares TUMORES HEPÁTICOS NÃO NEOPLÁSICOS Hiperplasias nodulares: o Há uma alteração focal ou difusa no suprimento sanguíneo hepático pela V. porta e uma consequente compensação do suprimento sanguíneo arterial o Hiperplasia nodular focal: Nódulo bem demarcado, mal encapsulado e grande Lesão de massa espontânea em fígado normal sem outros aspectos Mais frequente em adultos jovens ou de meia-idade Lesão clara (pode ser amarela, indicando esteatose) Possui uma cicatriz estrelada central, cinza-esbranquiçada e deprimida, de onde saem septos fibrosos A cicatriz contém grandes vasos com hiperplasia fibromuscular Origina-se por uma lesão vascular congênita ou adquirida Região hipoperfundida Septos Região hiperperfundida Hiperplasia o Hiperplasia nodular regenerativa Fígado completamente transformado em nódulos, mas sem fibrose Hepatócitos tumefeitos circundados por hepatócitos atróficos Pode levar à hipertensão portal ROBBINS 2 ANATOMIA E FISIOLOGIA PATOLÓGICAS RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Ocorre em associação com condições que alteram o fluxo sanguíneo intra-hepático (vasculite, transplante de órgãos sólidos e medula), com o HIV e com doenças reumáticas (Ex.: LES) Maioria assintomático NEOPLASIAS DE FÍGADO Neoplasias benignas: o Hemangiomas cavernosos: Tumores de vasos sanguíneos. Neoplasia benigna hepática mais comum Nódulos distintos, macios, vermelho-azulados, pequenos (< 2cm), geralmente ficam embaixo da cápsula Micro: Canais vasculares em um leito de tecido conjuntivo fibroso Podem ser confundidos com metástases o Adenomas hepatocelulares: Neoplasias benignas desenvolvidas a partir de hepatócitos. O uso de contraceptivos orais e esteroides anabolizantes são fatores de risco para seu desenvolvimento Causam dor abdominal por crescerem rapidamente e exercerem pressão na cápsula do fígado Necrose hemorrágica quando a lesão ultrapassa seu fornecimento de sangue A ruptura do adenoma pode gerar sangramento intra-abdominal (emergência cirúrgica) Adenomas Hepatocelulares Inativados por HNF1-α: Mutações inativadoras somáticas de HNF1-α (90%) e mutações germinativas (10%) Mais comum em mulheres 3 ANATOMIA E FISIOLOGIA PATOLÓGICAS RAUL BICALHO – MEDUFES 103 HNF1-α Codifica um fator de transcrição Mutações germinativas heterozigotas MODY-3 (Diabetes tipo 3) Segunda mutação somática Adenoma hepatocelular Tumores frequentemente gordurosos, sem atipia celular ou arquitetural Baixo risco de malignidade A Proteína de Ligação do Ácido Graxo do Fígado (PLAGF) está ausente devido à mutação de HNF1-α (que a regula) Diagnóstico com imunomarcação de PLAGF e ausência dessa proteína no fígado Adenomas Hepatocelulares com β-catenina Ativada: São encontrados em homens e mulheres Risco elevado de transformação maligna Devem ser ressecados mesmo em assintomáticos Muito associados com o uso de contraceptivo oral e esteroides anabolizantes Elevado grau de displasia citológica ou arquitetural e até áreas de carcinoma hepatocelular O diagnóstico pode ser feito por imunomarcação de β- catenina, que mostra a translocação nuclear (estado ativado) Glutamina sintetase positiva Adenomas Hepatocelulares Inflamatórios São encontrados em homens e mulheres Associados à Doença Hepática Gordurosa Não Alcóolica Risco pequeno de transformação maligna, mas devem ser ressecados até em assintomáticos Mutações ativadoras no gp130 (correceptor para IL-6) Sinalização constitutiva de JAK-STAT Superexpressão de reagentes de fase aguda Exemplos desses reagentes, como Proteína C-reativa e Amiloide A sérico podem estar elevados no soro 10% tem mutações de β-catenina concomitantes Maior risco de malignidade Possuem, além de hepatócitos e vasos, áreas de estroma fibrótico, inflamação mononuclear, reações ductulares, sinusóides dilatados e vasos telangiectásicos 4 ANATOMIA E FISIOLOGIA PATOLÓGICAS RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Neoplasias malignas: o Hepatoblastoma: Tumor hepático mais comum no início da infância (raro depois dos 3 anos) Tipo epitelial e Tipo epitelial e mesenquimal misto Ativação frequente da via de sinalização WNT Associação com PAF e Síndrome de Beckwith-Wiedemann Tratado com ressecção cirúrgica o Carcionoma Hepatocelular (CHC) ou Hepatoma: Mais comum em homens Muito comum em países com altas taxas de infecção crônica pelo HBV (Ásia e África Subsaariana) Pico dos 20 ao 40 anos 50% se apresenta na ausência de cirrose Tem diminuído pela vacinação para Hepatite B Menos comum em países ocidentais, mas vem aumentando devido à epidemia de Hepatite C Manifesta depois dos 60 anos Associado com cirrose (90% dos casos) 5 ANATOMIA E FISIOLOGIA PATOLÓGICAS RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Patogenia: Doenças hepáticas crônicas são o cenário mais comum para o aparecimento de CHC Progressão para cirrose e hepatocarcinogênese ocorrem paralelamente (não é um levando ao outro) Fatores mais importantes são as infecções virais (HBV e HCV) e lesões tóxicas (aflatoxina e álcool). Os fatores interagem entre si e juntos aumentam o risco para o desenvolvimento de CHC Também aumentam o risco de CHC: Hemocromatose hereditária, deficiência de α1AT, Doença de Wilson, obesidade, diabetes melito e Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica Eventos mutacionais iniciais mais comuns: Ativação de β-catenina e não ativação do p53 Ciclos de morte e regeneração celular em estados inflamatórios crônicos (HBV, HCV, DHA etc.) Aumentam o risco de mutações na regeneração de hepatócitos Lesões precursoras: Adenomas hepatocelulares (principalmente os de mutação ativadora de β-catenina) Displasias celulares em doença hepática crônica: Alteração das pequenas células: Diretamente pré-maligna Relação núcleo-citoplasma aumentada Hipercromasia nuclear leve e/ou pleomorfismo B, Alteração de pequenas células. As células anormais têm uma taxa núcleo/citoplasma aumentada e são separadas por meio de placas espessadas. Hepatócitos de aparência normal estão no canto inferior direito. Alteração das grandes células: Marcador de aumento de risco de CHC / Pré-maligna na Hepatite B Hepatócitos dispersos e maiores, geralmente príximos de tratos portais ou septos Núcleos grandes e, muitas vezes, múltiplos e moderadamente pleomórficos Relação núcleo-citoplasma normal (ambos crescem como um todo) 6 ANATOMIA E FISIOLOGIA PATOLÓGICAS RAUL BICALHO – MEDUFES 103 A, Alteração de grandes células. Grandes hepatócitos com núcleos volumosos, muitas vezes atípicos, estão espalhados entre os hepatócitos de tamanho normal, com núcleos redondos típicos. Nódulos displásicos: Diferem dos nódulos cirróticos aoseu rodor no tamanho, suprimento vascular, cor e/ou textura Nódulos displásicos de baixo grau: Indicam um risco mais elevado para o CHC no fígado como um todo. Podem ou não sofrer transformação para lesões de alto grau Desprovidos de atipia citológica ou arquitetônica Tratos portais ainda presentes (fornecimento de sangue próximo do normal) Nódulos displásicos de alto grau: Via mais importante para o surgimento de CHC na hepatite viral e doença hepática alcoólica Possuem características citológicas e/ou arquitetônicas que sugerem CHC Subnódulo dentro de um nódulo maior Tratos portais em menor quantidade Artérias que alimentam a lesão aumentam para predominarem sobre o fluxo venoso portal FIGURA 18-58 A, Cirrose relacionada à hepatite C com um nódulo distintamente grande (setas). O crescimento nódulo-em-nódulo sugere câncer em evolução. B, Histologicamente,a região delimitada pelo quadrado em A mostra um carcinoma hepatocelular (CHC) bem diferenciado (à direita) e um subnódulo de CHC moderadamente diferenciado (centro à esquerda) 7 ANATOMIA E FISIOLOGIA PATOLÓGICAS RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Morfologia: Macro: Aparecem como uma massa unifocal geralmente grande, como nódulos multifocais de tamanho variável amplamente distribuídos ou como um câncer difusamente infiltrativo extenso (podendo envolver todo o fígado) Podem ser pálidos ou ter uma aparência diversificada por diferentes estados de diferenciação: Branco Estroma abundante Amarelo Alteração gordurosa predominante Verde Produção de bile por hepatócitos malignos bem diferenciados Variam de lesões bem diferenciadas a altamente anaplásicas Metástases: Intra-hepáticas: Por invasão vascular ou extensão direta Mais prováveis se o tumor for maior que 3 cm São nódulos de tumor pequenos e satélites ao redor de massas primárias maiores Extra-hepáticas: Via vascular é mais provável (principalmente sistema venoso), via linfática pouco comum Tendem a ocorrer em fases mais avançadas Carcinoma fibrolamelar: Variante distinta de CHC Normalmente em idade inferior a 35 anos, sem predileção por sexo ou fatores de predisposição Tumor único, grande, duro, “cirroso” e com faixas fibrosas Células bem diferenciadas e ricas em mitocôndrias, crescendo em cordões separados por lamelas paralelas de feixes de colágeno densos FIGURA 18-59 Carcinoma fibrolamelar. A, Espécime ressecado mostrando um nódulo bem demarcado. B, Vista com ninhos e cordões de hepatócitos oncocíticos, de aspecto maligno, separados por densos feixes de colágeno. Aspectos clínicos: Manifestações clínicas pouco características, podendo ser mascaradas pela hepatite crônica ou cirrose 8 ANATOMIA E FISIOLOGIA PATOLÓGICAS RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Dor abdominal alta pouco definida, mal-estar, fadiga, perda de peso e, às vezes, hepatomegalia, massa abdominal ou plenitude abdominal Icterícia, febre e sangramento gastrointestinal e de varizes esofágicas são achados inconstantes Aumento do nível de α-fetoproteína sérica (em 50% dos casos de CHC avançado) Exames de imagem são valiosos para detecção de pequenos tumores USG Identificar nódulos distintos de todos os tipos TC e RM Estudos vasculares / de contraste O curso natural envolve o crescimento progressivo da massa primária até que altere a função hepática ou dê metástase nos pulmões ou outros locais Fatores que geralmente levam à morte: Caquexia Sangramento gastrointestinal ou de varizes esofágicas Insuficiência hepática com comma hepático Ruptura do tumor com hemorragia fatal (raro) Sobrevida em 5 anos baixíssima (normalmente morre em 2 anos) Pequenos tumores (triagem/exames de imagem) podem ser removidos cirurgicamente ou sofrer ablação Ablação por radiofrequência e quimioembolização são utilizadas para controle local de grandes tumores o Colangiocrcinoma (CCA): Depois do CHC, é o tumor maligno primário mais comum do fígado É uma neoplasia maligna da árvore biliar (ocorre nos ductos biliares dentro e fora do fígado) Fatores de risco: Causam inflamação crônica e colestase Ocorrêcia de mutações somáticas ou de alterações epigenéticas em colangiócitos Infestação por vermes do fígado (Opisthorchis e Clonorchis) Doença inflamatória crônica dos grandes ductos biliares (Ex.: Colangite Esclerosante Primária, Hepatolitíase e Doença Hepática Fibropolicística) Hepatite B, Hepatite C e Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica (risco de CHC e CCA) CCA Extra-hepático: Tumores peri-hilares / Tumores de Klatskin: Localizados na junção dos ductos hepáticos direito e esquerdo (50-60% dos CCA) Tumores distais: Originários do ducto biliar comum posterior ao duodeno (20-30% dos CCA) Sintomas de obstrução biliar, colangite e dor no QSD Prognóstico ruim (sobrevida de 15% em 2 anos) CCA Intra-hepático: 10% dos CCA Chamam atenção devido à obstrução do fluxo biliar ou como uma massa hepática sintomática 9 ANATOMIA E FISIOLOGIA PATOLÓGICAS RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Geralmente não são detectados até o final do seu curso (Morte em média 6 meses após diagnóstico) Lesões pré-malignas do CCA: Principalmente as Neoplasias Intraepiteliais Biliares, de baixo a alto grau (BilIN-1, -2 ou -3) Mais raras: Neoplasias císticas mucinosas e Neoplasiabiliar papilar intradutal Morfologia: Adenocarcinomas típicos Geralmente produzem mucina Maioria moderadamente diferenciado, com estruturas glandulares/tubulares definidas e revestidas por células epiteliais malignas Desmoplasia acenuada Invasão linfática e perineural comuns (propiciam metástases) CCA extra-hepático: Geralmente pequenos ao diagnóstico (produzem características obstrutivas rapidamente) Nódulos cinza e firmes no interior da parede do ducto biliar Podem ser lesões difusamente infiltrativas, lesões papilares ou lesões polipoides CCA intra-hepático: Em fígado não cirrótico Podem criar um tumor arborizado dentro de uma porção do fígado (segue ao longo do trato portal) Pode desenvolver um nódulo tumoral maciço FIGURA 18-60 Colangiocarcinoma. A, Colangiocarcinoma multifocal no fígado de um paciente com infestação por verme Clonorchis sinensis. B, Glândulas malignas invasivas em um estroma reativo e esclerótico. C, Invasão perineural por glândulas malignas, formando um padrão circular ao redor do nervo central retido. o Outros tumores malignos hepáticos primários: Raros Combinação de CHC e CCA Neoplasias císticas mucinosas e Neoplasias papilares intraductais como CCA invasivo Angiossarcoma do fígado (quase fatal) Hemangioendotelioma epitelioide (prognóstico variável) Linfomas hepáticos (principalmente em homens de meia-idade) Linfomas difusos de grandes células B Linfomas MALT 10 ANATOMIA E FISIOLOGIA PATOLÓGICAS RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Linfoma de células T gama-delta hepatoesplênico o Metástases: Muito mais comum que neoplasia hepática primária Fontes mais comuns: cólon, mama, pulmão e pâncreas Geralmente são metástases nodulares múltiplas Pode aparecer como nódulo único (possível de ressecação cirúrgica) Grande envolvimento metastático sem evidência clínica ou laboratorial de insuficiência hepática Quando há destruição hepática maciça ou obstrução direta dos ductos biliares principais Icterícia e elevações das enzimas hepáticas
Compartilhar