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Aprendizagem Motora Profª Daniela Dias Barros 1 DESENVOLVIMENTO MOTOR Preparada por Daniela Dias Barros Esse roteiro foi baseado em: GALLAHUE, D.L.; OZMUN, J. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. 3ª. ed. São Paulo: Phorte, 2005. UNIDADE I: FASES OU ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO MOTOR A Aprendizagem Motora é um campo de estudo que está relacionado ao Controle Motor e ao Desenvolvimento Motor. Cada um possui suas especificidades e juntos formam o campo de estudo chamado Comportamento Motor. O Controle Motor investiga como os movimentos são produzidos e controlados, ou seja, como o sistema nervoso central é organizado de maneira que músculos e articulações tornam-se coordenados em movimentos e como informações sensoriais do meio ambiente e do próprio corpo são usadas na coordenação e controle dos movimentos. O Desenvolvimento Motor estuda as mudanças que ocorrem no movimento do ser humano ao longo de seu ciclo de vida. A Aprendizagem Motora estuda os processos e mecanismos envolvidos na aquisição de habilidades motoras e os fatores que a influenciam, isto é, como a pessoa se torna eficiente para alcançar uma meta desejada, com prática e experiência. Os três são muito difíceis de serem separados, pois estão intimamente relacionados. Por isso, é importante que se tenha uma visão integrada desses três fenômenos. Além, é claro, da visão de que para se compreender o complexo processo envolvido na organização, controle e aprendizagem de movimentos, a análise apenas de seus efeitos produzidos no meio ambiente é bastante limitada. É necessário investigar a organização e o controle de movimentos não só com base na análise dos resultados produzidos no meio ambiente, mas também mediante cuidadosa descrição da dinâmica do próprio padrão de movimento e das estruturas neurais responsáveis pela sua produção. O conhecimento dos processos de desenvolvimento situa-se no âmago da educação. Sem os conhecimentos profundos de seus aspectos, os educadores podem apenas supor as técnicas de intervenção apropriadas. O desenvolvimento motor é um campo de estudo legítimo que disseca as áreas de fisiologia do exercício, biomecânica, aprendizado motor e controle motor, bem como as áreas de psicologia desenvolvimentista e social. Desenvolvimento motor é a contínua alteração no comportamento motor ao longo do ciclo da vida, proporcionada pela interação entre as necessidades da tarefa, a biologia do indivíduo e as condições do ambiente. Os estudiosos do desenvolvimento motor reconhecem que as exigências físicas e motoras específicas de uma tarefa motora interagem com o indivíduo (fatores biológicos) e o ambiente (fatores de experiência ou aprendizagem). Esses fatores podem ser modificados um pelo outro. INDIVIDUAL Hereditariedade Biologia Natureza Fatores Intrínsecos AMBIENTE Experiência Aprendizado Encorajamento Fatores Extrínsecos Extrínsecos TAREFA Fatores Físicos Fatores Mecânicos Aprendizagem Motora Profª Daniela Dias Barros 2 O desenvolvimento é um processo contínuo que se inicia na concepção e cessa com a morte. O desenvolvimento inclui todos os aspectos do comportamento humano; é permanente. Além disso, deve-se observar que o desenvolvimento é um processo que envolve emergência, aquisição e aperfeiçoamento de funções e habilidades a partir de um script que vai sendo escrito ao longo da experiência. É um processo caracterizado por um “determinismo indeterminado.” O desenvolvimento motor é altamente específico. O conceito obsoleto de que alguém possui ou não habilidades em atividades motoras foi substituído pelo conceito de que cada pessoa tem capacidades específicas em cada uma das muitas áreas de desempenho. Vários fatores que envolvem habilidades motoras e desempenho físico interagem de maneira complexa com o desenvolvimento cognitivo e afetivo. Cada um desses fatores é afetado por uma ampla variedade de exigências biológicas/ambientais e relacionadas a tarefas específicas. É preciso lembrar-se da individualidade: cada indivíduo tem um tempo peculiar para a aquisição e para o desenvolvimento de habilidades motoras. Classificações etárias do desenvolvimento Há níveis de desenvolvimento que podem ser classificados de várias maneiras. A mais freqüente é a idade cronológica ou idade do indivíduo em meses e/ou anos, sendo de uso universal e constante. Embora o desenvolvimento esteja relacionado à idade, não depende dela. A idade cronológica meramente fornece a estimativa aproximada do nível de desenvolvimento do indivíduo, que pode ser mais precisamente determinado por outros meios. A idade biológica fornece um registro do índice de seu progresso em direção à maturidade. É uma idade variável que corresponde aproximadamente à idade cronológica e pode ser determinada medindo-se as seguintes idades: 1) idade morfológica: fornece o tamanho atingido pelo indivíduo (altura e peso); 2) idade óssea: fornece o registro da idade biológica do esqueleto em desenvolvimento; pode ser determinada por radiografias dos ossos carpais da mão e punho; 3) idade dental: o desenvolvimento dos dentes fornece a mensuração da idade da calcificação; 4) idade sexual: a maturação sexual é determinada pelo alcance variável de características sexuais primárias e secundárias. Há outros métodos de classificação etária: 1) idade emocional: é a medida da socialização e da habilidade para funcionar dentro de um meio social/cultural particular; 2) idade mental: medida complexa do potencial mental como função do aprendizado e de autopercepção; 3) idade do autoconceito: medida da avaliação pessoal sobre seu valor ou dignidade; 4) idade perceptiva: avaliação do índice e da extensão do desenvolvimento perceptivo. Diferença entre crescimento e desenvolvimento Crescimento físico refere-se a um aumento no tamanho do corpo de um indivíduo na maturação. É o aumento da estrutura do corpo causado pela multiplicação ou aumento das células. Desenvolvimento refere-se a alterações no nível de funcionamento de um indivíduo ao longo do tempo. É uma alteração adaptativa em direção à habilidade. É necessário ajustar, compensar ou mudar a fim de obter ou manter a habilidade. É um processo permanente. É o estudo do que ocorre e como ocorre no organismo desde sua concepção até a morte, incluindo todas as dimensões interrelacionadas de nossa existência. Há dois elementos entrelaçados que desempenham papel-chave no processo de desenvolvimento, a saber, maturação e experiência. A maturação refere-se a alterações qualitativas que capacitam o indivíduo a progredir para níveis mais altos de funcionamento. É basicamente inata, no sentido biológico, geneticamente determinada e resistente a influências externas e ambientais. É caracterizada por uma ordem fixa de progressão. A experiência refere-se a fatores do ambiente que podem alterar o aparecimento de várias características desenvolvimentistas no decorrer do processo de aprendizado. Há ainda outro termo que deve ser levado em consideração, a saber, adaptação, que é usado para referir-se à complexa interação entre as forças do indivíduo e do ambiente. Áreas do comportamento Aprendizagem Motora Profª Daniela Dias Barros 3 A classificação das reações humanas em áreas do comportamento pode ser: área cognitiva (comportamento intelectual), área afetiva (comportamento sócio-emocional) e área psicomotora (comportamento motor). A área psicomotora inclui processos de alteração, estabilização e regressão na estrutura física e na função neuromuscular. Inclui todas as alterações físicas e fisiológicas no decorrer da vida, sendo considerada o estudo do desempenho motor e das habilidades motoras. A área cognitiva envolve a relação funcional entre a mente e o corpo. A área afetivaenvolve sentimentos e emoções quando aplicados ao próprio indivíduo e a outros por meio do movimento. Aprendizagem Motora A aprendizagem motora é um processo interno que produz alterações consistentes no comportamento individual em decorrência da interação da experiência, da educação e do treinamento com processos biológicos. A aprendizagem é um fenômeno no qual a experiência é pré-requisito; corresponde apenas a um aspecto no qual o movimento desempenha parte principal, significando uma alteração relativamente constante no comportamento motor em função da prática ou de experiências passadas. O controle motor é um aspecto da aprendizagem e do desenvolvimento que lida com o estudo de tarefas isoladas em condições específicas. Formas de movimento Movimento refere-se à alteração real e observável na posição de qualquer parte do corpo. Alguns termos são necessários conceituar. Habilidade motora é entendida como um padrão de movimento fundamental realizado com precisão, exatidão e controle maiores. Habilidade esportiva é o refinamento ou a combinação de padrões de movimento fundamentais ou de habilidades motoras para desempenhar atividades relacionadas a um esporte. O desempenho de uma habilidade esportiva requer que se façam alterações precisas nos padrões básicos do movimento para atingir níveis superiores de habilidades. Classificação das habilidades motoras O modelo utilizado por Gallahue (2005) de desenvolvimento motor enfatiza a função da tarefa motora expressa nas três categorias de movimento, a saber, estabilidade, locomoção e manipulação, além das fases do desenvolvimento motor expressas pela sua complexidade através dos movimentos reflexos, rudimentares, fundamentais e especializados. Fases do Desenvolvimento Motor O processo do desenvolvimento motor revela-se basicamente por alterações no comportamento motor. Podem-se observar diferenças de desenvolvimento motor provocadas por fatores próprios do indivíduo (biologia), do ambiente (experiência) e da tarefa em si (físico/mecânico). O movimento observável pode ser agrupado em três categorias: Estabilizadores Locomotores Manipulativos O movimento estabilizador é qualquer um que haja algum grau de equilíbrio (é uma atividade motora rudimentar), como por exemplo, girar, virar, empurrar e puxar. A estabilidade, necessária neste movimento, refere- se a qualquer movimento que tenha como objetivo obter e manter o equilíbrio em relação à força da gravidade. O movimento locomotor refere-se a movimentos que envolvem mudanças na localização do corpo relativamente a um ponto fixo na superfície, por exemplo, caminhar, correr, pular, saltitar ou saltar um obstáculo. O movimento manipulativo refere-se tanto a manipulação motora rudimentar quanto à manipulação motora refinada, como por exemplo, arremessar, apanhar, chutar e derrubar um objeto. A manipulação refinada envolve o uso complexo dos músculos da mão e punho, como costurar, cortar, digitar, escrever. Aprendizagem Motora Profª Daniela Dias Barros 4 Muitos movimentos envolvem a combinação desses três tipos de movimentos, como pular corda, girar corda, jogar futebol. A seguir, serão descritas fases do desenvolvimento motor e seus estágios correspondentes. Tabela 1: Classificação do movimento com exemplos FASES DESENVOLVIMENTO MOTOR ESTABILIDADE (ênfase no equilíbrio do corpo em situações de movimento estático e dinâmico) LOCOMOÇÃO (ênfase no transporte do corpo de um ponto a outro) MANIPULAÇÃO (ênfase em colocar ou receber força de um objeto) Fase motora reflexa Reflexo corretivo labiríntico Reflexo corretivo do pescoço Reflexo corretivo corporal Reflexo de rastejar Reflexo dos 1º passos Reflexo de natação Reflexo palmar de agarrar Reflexo plantar de agarrar Reflexo de levantar Fase motora rudimentar Controle da cabeça e pescoço Controle do tronco Sentar sem apoio Ficar em pé Rastejar Engatinhar Sentar-se ereto Alcançar Agarrar Soltar Fase motora fundamental Equilibrar-se em um pé Andar sobre barra elevada Movimentos axiais Andar Correr Pular Saltar Lanças Pegar Chutar Bater Fase motora especializada Exercício na barra de ginástica Defender chute a gol Correr 100 metros Andar numa rua cheia de pessoas Dar um chute a gol Rebater uma bola arremessada Fatores que Afetam o Desenvolvimento Motor 1. Fatores Intrínsecos ao Indivíduo Há uma sequência ordenada e previsível de desenvolvimento físico que acontece da cabeça aos pés e do centro do corpo em direção às suas extremidades. Os bebês mostram um controle sequencial sobre a musculatura da cabeça, pescoço e tronco antes de ganha controle sobre as pernas e os pés. Crianças pequenas são desajeitas e apresentam um controle motor deficiente sobre as extremidades inferiores. A criança pequena, em termos de aquisição de habilidades, é capaz de controlar os músculos do tronco e da cintura escapular antes dos músculos do pulso, mãos e dedos. Esses processos de desenvolvimento tendem a mostrar sinais de regressão com a velhice. Entretanto, os indivíduos mais velhos podem evitar e reduzir tal regressão permanecendo ativos. O índice de crescimento de um indivíduo segue um padrão característico que é universal para todos. Há a chamada plasticidade desenvolvimentista, que ocorre quando, por exemplo, quando uma doença grave retarda o ganho normal de altura, peso e habilidade motora da criança. Assim, que se recupera, a criança tende a atualizar-se. Observa-se também em bebês de baixo peso ao nascer. Oportunidades restritas de movimentos e privação de experiências têm mostrado interferir nas habilidades das crianças para desempenhar tarefas que são características de suas faixas etárias. A extensão até a qual a criança poderá alcançar seus companheiros etários depende da duração e da severidade da privação, da idade e do potencial genético de crescimento individual da criança. A aptidão é um fator que se estende além da maturação biológica e inclui a consideração de fatores que podem ser modificados ou manipulados para encorajar e promover a aprendizagem. Os fatores que influenciam a aptidão são: maturação física e mental, interação com a motivação, aprendizagem de pré-requisitos e um ambiente enriquecedor. Aprendizagem Motora Profª Daniela Dias Barros 5 No entanto, segundo pesquisas mais atuais, é difícil afirmar quando exatamente alguém está pronto para aprender uma nova habilidade motora (experiência motora precoce). Sugere-se que a experiência precoce em uma atividade motora, antes que o indivíduo esteja apto, provavelmente trará benefícios mínimos. O reconhecimento de estar ‘apto’ é responsabilidade tanto do educador quanto do aluno. A aptidão, que é a combinação de desenvolvimento maturacional, propiciação ambiental e sensibilidade do educador, têm inúmeras implicações para as oportunidades de aprendizagem por toda a vida. Um indivíduo é mais suscetível a certos tipos de estímulos em certas épocas. O desenvolvimento normal em períodos posteriores pode ser prejudicado se a criança não recebe o estímulo apropriado no período crítico. Por exemplo, nutrição inadequada, pressão prolongada, cuidados maternos inadequados. Em contrapartida, há os fatores positivos do período crítico, a saber, a intervenção apropriada em período específico tende a facilitar formas mais positivas de desenvolvimento em estágios posteriores, em comparação com a mesma intervenção que ocorre em outra época. Outro fator são os efeitos do envelhecimento, que podem ser retardados ou reduzidos pelo uso contínuo do cérebro e do sistema motor. Além do mais, é preciso levar em consideração que cada pessoa possui sua própria escala de tempo para o desenvolvimento. É uma combinação da hereditariedade e de influências ambientais. Portanto, a adesão rígida à classificação cronológica de desenvolvimentopor idade não tem apoio ou justificativa. As médias de idade são apenas aproximações que servem como indicadores convenientes de comportamento desenvolvimentista apropriados. É comum observar desvios da média até 6 meses a 1 ano no aparecimento de numerosas habilidades. A tendência de exibir diferenças individuais está intimamente ligada ao conceito de aptidão e ajuda a explicar porque alguns indivíduos estão aptos a aprender novas habilidades e outros não. Há, ainda, as habilidades filogenéticas, que tendem a aparecer automaticamente e em sequência previsível na criança em maturação; são também resistentes às influências ambientais externas. E as habilidades ontogenéticas, que dependem basicamente da aprendizagem e das oportunidades ambientais. 2. Fatores Ambientais Muitas pesquisas têm se concentrado nos efeitos da influência do comportamento dos pais no período pré- natal e no início da infância no funcionamento (motor e cognitivo) subsequente das crianças. O vínculo, que é a ligação emocional forte que perdura ao longo do tempo, distância, privações e vontades, começa a se desenvolver no nascimento e pode ser estabelecido de modo incompleto com uma separação precoce. Esses casos podem ser devidos à prematuridade e ao baixo peso ao nascer. A ligação precoce entre os pais e a criança parece influenciar no desenvolvimento. O estímulo e a privação têm sido estudados por anos para demonstrar sua influência sobre o aprendizado de muitas habilidades. Ambos têm potencial para influenciar o nível de desenvolvimento. Em estudos sobre a precocidade de um treinamento específico de algumas habilidades, demonstrou-se a inabilidade do treinamento precoce para apressar o desenvolvimento até um grau apreciável. No entanto, pessoas treinadas precocemente exibiram autoconfiança e segurança maiores nas atividades em que tinham recebido treinamento. Assim sendo, treinamento e atenção especial podem não influenciar os aspectos quantitativos das habilidades motoras aprendidas tanto quanto os aspectos qualitativos, ainda que haja um interrelacionamento entre maturação e experiência. A partir da década de 1980 houve uma explosão de programas de estímulos para recém-nascidos, bebês e crianças em idade pré-escolar, como natação e ginástica. Mas há alegações, contra e a favor, de tais programas, na medida em que existam poucas provas sólidas de que tais programas de fato tragam qualquer benefício a longo prazo em habilidades motoras avançadas. A Academia Americana de Pediatria em protesto (1994) recomendava que: programas de exercícios estruturados para bebês não devem ser vistos como terapeuticamente benéficos para o desenvolvimento de bebês saudáveis; os pais devem ser encorajados a proporcionar um ambiente de brincadeiras seguro e minimamente estruturado para seus filhos. Aprendizagem Motora Profª Daniela Dias Barros 6 E ainda há a questão dos efeitos das oportunidades limitadas ou restritas para a prática na aquisição das habilidades motoras. Estudos feitos em três instituições no Irã relataram que a falta de cuidados, a quietude ambiental e a ausência geral de oportunidades motoras ou de experiências foram as causas do retardo motor nas duas primeiras instituições, sendo que na terceira o retardo era bem menor. Conclui-se, assim, que o desenvolvimento comportamental não pode ser totalmente atribuído à hipótese da maturação. Restrições graves e a falta de experiência podem atrasar o desenvolvimento normal. Condições extremas de privação ambiental podem romper tanto a sequência como o nível da aquisição de habilidades motoras. Uma das maiores necessidades das crianças é praticar habilidades em certa época, quando atingiram um determinado nível de desenvolvimento que as torna aptas a beneficiar-se do máximo dessas habilidades. A prática especial antes da aptidão maturacional é de benefício duvidoso. 3. Fatores de Tarefa Física Alguns fatores adicionais afetam o crescimento e desenvolvimento motor, tais como: classe social, gênero, bagagem cultural e étnica. Nascimento prematuro, desordens alimentares, níveis de aptidão e fatores biomecânicos, bem como alterações fisiológicas associadas ao envelhecimento e à escolha do estilo de vida têm influência no processo permanente de desenvolvimento motor de maneira importante. A prematuridade – bebês nascidos com 1,5-2,5 kg – é de grande preocupação porque está intimamente associada ao retardamento mental e físico, à hiperatividade e à morte de bebês e, frequentemente, prejudica o processo de desenvolvimento motor. Quanto menor a idade gestacional, mais alta a incidência de deficiência maior. O bebê pré-termo tem ainda possibilidade de ter mais dificuldades no aprendizado, prejuízos na linguagem e na interação social, problemas de coordenação motora. Por razões ainda desconhecidas, meninos são mais gravemente afetados que meninas. Estudos vêm sendo feitos para saber quais são exatamente os efeitos da prematuridade em bebês a longo prazo. O efeito da luz, dos ruídos e da ausência de toque agradável (em UTI’s) no desenvolvimento do sistema neurológico também vem sendo estudado. As desordens alimentares (obesidade, anorexia nervosa, bulimia, desordem alimentar compulsiva) em crianças e adolescentes também podem ser fatores de prejuízos no crescimento e desenvolvimento motor. Crianças obesas que não tenham emagrecido até os 14 anos, têm um risco de 70% de permanecerem obesas na idade adulta. O nível de aptidão física e as exigências mecânicas de uma tarefa influenciam a habilidade de nos movimentarmos com controle, habilidade e segurança. A interação entre atividade física, genética e nutrição sugere os limites máximos e mínimos da aptidão física esperados para um indivíduo. Aptidão física é definida como um conjunto de atributos que uma pessoa possui relacionado à habilidade de realizar uma atividade física, combinado com a bagagem genética e a manutenção nutricional adequada. O nível pessoal de aptidão relacionada á saúde e ao desempenho influencia de muitas maneiras o desenvolvimento motor. A aptidão motora é considerada como o nível de desempenho atual de um indivíduo, influenciado por fatores, tais como: movimento, agilidade, equilíbrio, coordenação e força. FASES DO DESENVOLVIMENTO MOTOR E SEUS ESTÁGIOS CORRESPONDENTES 1. FASE MOTORA REFLEXA Os movimentos reflexos são subcorticalmante controlados; por isso são involuntários. Os primeiros movimentos que o feto faz são reflexos. Os reflexos são movimentos involuntários que formam a base para as fases do desenvolvimento motor. A partir das atividades reflexas o bebê obtém informações sobre o ambiente imediato. Os reflexos primitivos de sobrevivência são agrupadores de informações, ’caçadores’ de alimentos e de reações protetoras (reflexos de sugar e procurar pelo olfato). User_Ficus Realce User_Ficus Realce User_Ficus Realce User_Ficus Realce User_Ficus Realce User_Ficus Realce User_Ficus Realce User_Ficus Realce User_Ficus Realce User_Ficus Realce User_Ficus Realce User_Ficus Realce Aprendizagem Motora Profª Daniela Dias Barros 7 Os reflexos primitivos posturais são similares aos posteriores – voluntários – mas são inteiramente involuntários, como por exemplo, o reflexo primário de caminhar e o de arrastar-se. Desde o 4º mês de vida fetal até o 4º mês da infância os movimentos do bebê são reflexos. É o estágio de codificação de informações, que irão se armazenar no córtex em desenvolvimento. Depois o bebê passa para o estágio de decodificação de informações, no qual processa as informações recebidas. Há hipóteses de que esses movimentos reflexos formam a base para o movimento voluntário posterior. À medida que o córtex gradualmente amadurece, ele assume controle sobre os reflexos posturais de caminhar, engatinhar, nadar e outros similares. Se um reflexo estiver ausente,irregular ou desigual em intensidade, suspeita-se de disfunção neurológica. A ausência de movimentos reflexos normais ou a continuação prolongada de vários reflexos além de seus períodos normais, também podem fazer com que haja suspeita de dano neurológico. A seguir, alguns exemplos de reflexos primitivos de sobrevivência observados em bebês. a) Reflexo de Moro e Reflexo de choque Coloca-se o bebê em posição supina e bate levemente no abdome ou gera-se um sentimento de insegurança quanto ao apoio. Há, então, uma repentina distensão e flexão dos braços e expansão dos dedos. Depois, os membros voltam à posição flexionada normal contra o corpo. O reflexo de Moro está presente no nascimento até por volta dos 6 meses de idade. b) Reflexos de busca e sucção A estimulação da área ao redor da boca (reflexo de busca) faz o bebê voltar sua cabeça em direção à fonte de estimulação. É mais forte nas três primeiras semanas de vida e é substituído pela reação direcionada de posicionamento da cabeça, que se torna bastante refinada. O movimento de sucção é a tentativa de ingerir alimento. Ambos os reflexos estão presentes em todos os recém-nascidos normais. O reflexo de busca pode persistir até o final do primeiro ano de vida. O movimento de sucção normalmente desaparece como reflexo no final do terceiro mês, mas persiste como reação voluntária. c) Reflexo de preensão plantar Nos primeiros meses o bebê tem suas mãos bem fechadas. Quando se estimula a palma, a mão vai fechar fortemente ao redor do objeto, seu usar o polegar. O aperto é tão forte que ´bebê é capaz de suportar seu próprio peso quando suspenso. d) Reflexo de preensão plantar Esse reflexo aparece por volta do 4º mês, podendo persistir até 12º mês. É facilmente observado quando se pressiona os polegares contra a parte de trás dos dedos do pé do bebê. User_Ficus Realce User_Ficus Realce User_Ficus Realce User_Ficus Realce Aprendizagem Motora Profª Daniela Dias Barros 8 Os reflexos que se seguem são reflexos primitivos posturais. Eles nos fazem lembrar movimentos voluntários posteriores. Automaticamente fornecem para o indivíduo a manutenção de uma posição ereta em relação ao seu ambiente. São encontrados em todos os bebês normais, podendo persistir no decorrer do primeiro ano. Aprendizagem Motora Profª Daniela Dias Barros 9 a) Reflexos corretivos labirínticos e visuais Os impulsos que surgem no labirinto fazem o bebê manter a cabeça em alinhamento apropriado com o ambiente, mesmo quando outros canais sensoriais (visão e tato) são excluídos. Aparece no 2º mês e persiste até aproximadamente o 6º mês. b) Reflexo de levantamento O reflexo de levantamento dos braços é uma tentativa involuntária do bebê de manter-se em posição ereta. Aparece por volta do 3º ou 4º mês. c) Reflexo de nadar Em posição inclinada imerso na água o bebê exibe movimentos rítmicos extensores e flexores de natação nas pernas e braços. Estudiosos observaram este reflexo no 11º dia após o nascimento. O reflexo de prender a respiração é provocado ao imergir o rosto do bebê na água. 2. FASE DE MOVIMENTOS RUDIMENTARES São as primeiras formas de movimentos voluntários observados nos bebês desde o nascimento até aproximadamente 2 anos de idade. São determinados pela maturação e caracterizam-se por uma sequência de aparecimento altamente previsível. O ritmo em que essas habilidades aparecem varia de criança para criança e depende de fatores biológicos, ambientais e da tarefa. O ambiente hereditário e empírico das crianças e as exigências específicas das tarefas motoras têm efeito profundo no índice de obtenção das habilidades motoras rudimentares da primeira infância. As habilidades motoras rudimentares do bebê representam as formas básicas de movimento voluntário que são necessárias para a sobrevivência. Os reflexos primitivos e posturais são substituídos por comportamentos motores voluntários. Ao nível da inibição de reflexos, o movimento voluntário é precariamente diferenciado e integrado porque o aparato neuromotor da criança está ainda em estágio rudimentar de desenvolvimento. Os movimentos são grosseiros e descontrolados. Existem dois estágios que a criança passa, a saber: Aprendizagem Motora Profª Daniela Dias Barros 10 Estágio de inibição de reflexos: estende-se por praticamente todo o 1º ano de vida; progride em direção a um movimento rudimentar controlado, com a supressão de reflexos e a integração dos sistemas sensorial e motor em movimento objetivo controlado. o O período compreendido entre 12/18-24 meses representa um período de prática e de domínio das muitas tarefas rudimentares iniciadas no primeiro ano. Estágio de pré-controle: período entre o 1º e 2º ano; a diferenciação e a integração dos processos sensorial e motor tornam-se mais desenvolvidas e os limitadores de ritmo do início da infância ficam menos pronunciados. Com 1 ano a criança já apresenta um pouco mais de precisão e controle dos movimentos. O processo de diferenciação entre os sistemas sensorial e motor e a integração de informações motoras e perceptivas acontecem de forma mais coerente e significativa. As crianças aprendem a obter e a manter seu equilíbrio, a manipular objetos e a locomover-se pelo ambiente com notável grau de proficiência e controle. As habilidades rudimentares do bebê são os blocos construtores do desenvolvimento mais extenso das habilidades motoras fundamentais no início da infância e das habilidades motoras especializadas posteriormente. A estabilidade é a mais básica das três categorias de movimento porque todo movimento voluntário envolve um elemento de estabilidade. Sequência de desenvolvimento e idade aproximada das habilidades motoras rudimentares Tarefas de estabilidade Habilidades selecionadas Idade de início aproximada Controle da cabeça e pescoço Virar para ambos os lados Segurar-se com apoio Bom controle em decúbito ventral Bom controle em decúbito dorsal 1ª semana 1º mês 3º mês 5º mês Controle do tronco Levanta cabeça e peito Tenta virar-se de bruços Rola com para ficar de bruços Rola para ficar em decúbito dorsal 2º mês 3º mês 6º mês 8º mês Sentar Senta com apoio Senta com próprio apoio Senta sozinho Fica em pé com apoio 3º mês 6º mês 8º mês 6º mês Ficar de pé Apoia-se segurando com as mãos Fica em pé com apoio Fica em pé sozinho 10º mês 11º mês 12º mês Sequência de desenvolvimento e idade aproximada das habilidades motoras rudimentares Tarefas locomotoras Habilidades selecionadas Idade de início aproximada Movimentos horizontais Movimentos rápidos das pernas Arrastar-se Engatinhar 3º mês 6º mês 9º mês Andar ereto Anda com apoio Anda segurando com as mãos Anda com orientação Anda sozinho (mãos para o alto) Anda sozinho (mãos abaixadas) 6º mês 10º mês 11º mês 12º mês 13º mês Aprendizagem Motora Profª Daniela Dias Barros 11 O aparecimento de habilidades manipulativas rudimentares fornece ao bebê em desenvolvimento o primeiro contato significativo com os objetos do ambiente imediato. Sequência de desenvolvimento e idade aproximada das habilidades motoras rudimentares Tarefas manipulativas Habilidades selecionadas Idade de início aproximada Alcançar Alcance globular ineficaz Alcance de procura definido Alcance controlado 1º ao 3º mês 4º mês 6º mês Pegar Pegadura reflexiva Pegadura voluntária Pegadura palmar com as duas mãos Pegadura palmar com uma mão Pegadura e pinça Pegadura controlada Come sem ajuda Nascimento 3º mês 3º mês 5º mês 9º mês 14º mês 18º mês Soltar Soltura básica Soltura controlada 12º ao 14º mês 18º mês Os programas aquáticos infantis podem ser muito benéficos em termos de fornecimento de estímulos adicionais,pois promovem a integração entre os pais e a criança. No entanto, em estudos recentes não foram encontradas evidências de que a natação infantil melhore o desempenho posterior. A noção de um período crítico definido para aprender a nadar não tem apoio nas pesquisas disponíveis. PERCEPÇÃO Percepção refere-se a qualquer processo pelo qual obtemos consciência imediata do que está acontecendo ao redor. O termo perceptivo-motor refere-se ao processo de organização de novas informações a partir daquelas já armazenadas, o que leva a um ato manifesto ou desempenho motor. Todo movimento voluntário envolve um elemento de percepção, sendo que há uma ligação importante entre os processos perceptivo e motor. As oportunidades de aprendizagem oferecidas às crianças e aos adultos aumentam a sofisticação de suas modalidades perceptivas. As formas de percepção – visual, auditiva, olfativa e tátil-cinestésica – influenciam o processo de desenvolvimento motor. 3. FASE DE MOVIMENTOS FUNDAMENTAIS Representa um período no qual as crianças pequenas estão ativamente envolvidas na exploração e na experimentação das capacidades motoras de seus corpos. Estão aprendendo a reagir com controle motor e competência motora a vários estímulos, obtendo crescente controle para desempenhar movimentos discretos, em série e contínuos. São padrões básicos de comportamento observáveis. As atividades locomotoras, manipulativas e estabilizadoras nessa fase devem ser desenvolvidas nos primeiros anos da infância. As habilidades motoras rudimentares formaram a base sobre a qual cada criança desenvolve ou refina os padrões fundamentais do início da infância e as habilidades motoras especializadas da infância posterior e da adolescência. Uma das principais concepções erradas sobre o conceito desenvolvimentista da fase de movimentos fundamentais é a noção de que essas habilidades são determinadas maturacionalmente e são pouco influenciadas pela tarefa e por fatores ambientais. Embora a maturação realmente desempenhe papel básico no desenvolvimento de padrões de movimentos fundamentais, não deve ser considerada como única influência. As condições do ambiente – oportunidades para a Aprendizagem Motora Profª Daniela Dias Barros 12 prática, encorajamento, instrução e o cenário do ambiente em si – desempenham papel importante no grau máximo de desenvolvimento que os padrões de movimentos fundamentais atingem. As crianças pequenas estão envolvidas no processo de desenvolvimento e de refinamento das habilidades motoras fundamentais em uma grande variedade de movimentos estabilizadores, locomotores e manipulativos. Elas envolvem-se em muitas experiências coordenadas e efetivas em termos de desenvolvimento, projetadas para aumentar o conhecimento do corpo e do seu potencial para o movimento. Padrão de Movimento relaciona-se ao desenvolvimento de níveis aceitáveis de habilidade e de uma mecânica corporal eficiente para uma grande variedade de situações motoras. Um Movimento fundamental envolve somente os elementos básicos daquele movimento em particular. Ele não inclui fatores como estilo do indivíduo ou peculiaridades pessoais no desempenho e não enfatiza a combinação de certos movimentos fundamentais nas habilidades complexas. Certos movimentos locomotores (correr, pular) ou manipulativos (arremessar, apanhar, chutar, bloquear) são exemplos de habilidades motoras fundamentais dominadas pela criança de início, separadamente. Os traços básicos de um movimento fundamental devem ser iguais em todas as crianças. O desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais é básico para o desenvolvimento motor das crianças. Uma grande variedade de experiências motoras fornece às crianças uma profusão de informações que são a base das percepções que elas têm de si mesmas e do mundo que as cerca. As primeiras tentativas da criança são orientadas para o objetivo de desempenhar uma habilidade fundamental. O movimento é caracterizado por uma sequência imprópria, marcadamente limitado e exagerado uso do corpo e fluxo rítmico e coordenação deficientes. Com o passar do tempo, a criança desenvolve maior controle motor e melhor coordenação rítmica dos movimentos fundamentais. Aprimora-se a sincronização dos elementos temporais e espaciais do movimento, mas os padrões de movimentos neste estágio são ainda restritos ou exagerados, embora bem mais coordenados, que podem ser observados em crianças de 3 a 4 anos. Muitos indivíduos, tanto adultos como crianças, não vão além do estágio elementar em muitos padrões de movimento. Já crianças de 5 a 6 anos as habilidades manipulativas que requerem acompanhamento e interceptação de objetos em movimento desenvolvem-se um pouco mais tarde, em função das exigências visuais e motoras sofisticadas dessas tarefas. Embora algumas crianças possam atingir um estágio maduro basicamente pela maturação e com um mínimo de influência ambiental, a grande maioria precisa de oportunidades para a prática, o encorajamento e a instrução em um ambiente que promova a aprendizagem. Sem essas oportunidades, torna-se virtualmente impossível um indivíduo atingir o estágio maduro de certa habilidade, o que vai inibira aplicação e o desenvolvimento na fase posterior. Sequência desenvolvimentista de movimentos fundamentais O movimento é um processo em desenvolvimento nos anos iniciais da infância. As crianças possuem um potencial de desenvolvimento para atingir o estágio maduro da maior parte das habilidades motoras fundamentais por volta de 6 anos de idade. A conquista real dependerá de fatores como a tarefa, o indivíduo e o ambiente. Condições motoras A maioria dos estudiosos acredita que essa fase segue uma progressão que pode ser subdividida em estágios. A criança cognitiva e fisicamente normal progride de um estágio a outro, de maneira sequencial, influenciada tanto pela maturação como pela experiência. Condições ambientais, como as oportunidades para a prática, o encorajamento e a instrução, são cruciais para o desenvolvimento de padrões maduros de movimentos fundamentais. Programas de instrução podem aumentar o desenvolvimento de padrões motores fundamentais, além do nível atingido somente devido à maturação. As condições naturais do ambiente, como temperatura, iluminação, área de superfície e gravidade podem influenciar tantos os aspectos quantitativos como os qualitativos de certas tarefas motoras. Da mesma forma, condições artificiais, como tamanho, forma, cor e textura de objetos podem influenciar também. Aprendizagem Motora Profª Daniela Dias Barros 13 O objetivo da tarefa é também fator importante que influencia o grau de desenvolvimento manifesto de uma tarefa motora fundamental. A extensão dos ajustes que um indivíduo é capaz de fazer visando certos objetivos será influenciada por vários fatores próprios da pessoa, bem como pelo grau de alterações que as exigências da tarefa atingiram. Condições Objetivo Ambientais da Tarefa Indivíduo Resultado (estado de desenvolvimento da tarefa observada) Diferenças Desenvolvimentistas Quando as habilidades motoras fundamentais de crianças são observadas e analisadas, tornam-se visíveis os vários estágios de desenvolvimento para cada padrão de movimento e também é obvia a existência de habilidades entre as crianças, entre os padrões e “dentro” de cada padrão. As diferenças entre as crianças fazem lembrar do princípio de individualidade de todo aprendizado. A sequência de progressão ao longo dos estágios inicial, elementar e maduro é a mesma para a maioria das crianças. O ritmo, entretanto, variará dependendo tanto dos fatores ambientais como dos fatores hereditários. O fato de uma criança atingir ou não o estágio maduro depende basicamente do ensino, do encorajamentoe das oportunidades para a prática. As diferenças entre padrões são observadas em todas as crianças. Uma delas pode estar no estágio inicial em algumas tarefas motoras; em outras, no estágio elementar; nas demais, no estágio maduro. Elas não progridem de forma igual no desenvolvimento de suas habilidades motoras fundamentais. As brincadeiras e as experiências instrutivas vão influenciai grandemente. As diferenças intrínsecas aos padrões são um fenômeno interessante. A criança pode exibir uma combinação de elementos iniciais, elementares e maduros. As diferenças de desenvolvimento intrínsecas aos padrões são comuns e resultam de: Imitação imperfeita dos movimentos de outro; Sucesso inicial com ação inadequada; Fracasso em exibir esforço máximo; Oportunidade de aprendizagem restrita ou não apropriada; Integração sensório-motora incompleta. Um ensino criativo e diagnóstico pode auxiliar muito a criança no desenvolvimento equilibrado de suas habilidades motoras fundamentais. Uma vez que o controle motor tenha sido estabelecido, esses padrões podem ser mais bem refinados, em termos de produção de força e de precisão, na fase motora especializada. O fracasso em atingir a eficiência em grande variedade de habilidades motoras fundamentais vai inibir o desenvolvimento de habilidades motoras eficientes e efetivas que possam ser aplicadas aos jogos, aos esportes e às atividades de dança, característicos da cultura da criança. Movimentos estabilizadores fundamentais Aprendizagem Motora Profª Daniela Dias Barros 14 A estabilidade é o aspecto mais fundamental do aprendizado de movimentar-se. A estabilidade envolve a habilidade de manter em equilíbrio a relação indivíduo/força de gravidade. Para que um indivíduo tenha uma estabilidade eficiente, é necessária a habilidade de perceber determinada mudança na relação entre as partes do corpo que altera seu equilíbrio. A habilidade de compensar essas mudanças de modo rápido e preciso com movimentos apropriados também é essencial. Os movimentos axiais e várias posturas de equilíbrio estático e dinâmico são considerados os componentes principais da estabilidade. Os movimentos axiais ou não locomotores correspondem a movimentos de orientação do tronco ou dos membros, quando em posição estática. Os movimentos axiais são movimentos do tronco ou membros que direcionam o corpo, enquanto este permanece em posição estacionária. Inclinar, alongar, virar, balançar, alcançar, erguer, empurrar e puxar são movimentos axiais, os quais combinam-se com outros movimentos para criar habilidades motoras mais elaboradas. 4. FASE DE MOVIMENTOS ESPECIALIZADOS O movimento torna-se uma ferramenta que se aplica a muitas atividades motoras complexas presentes na vida diária. As habilidades estabilizadoras, locomotoras e manipulativas são progressivamente refinadas, combinadas e elaboradas para o uso em situações crescentemente exigentes. O tempo de reação e a velocidade do movimento, a coordenação, o tipo de corpo, altura e peso, os hábitos, a pressão do grupo social a que se pertence e a estrutura emocional são apenas alguns dos fatores que influenciam nesses movimentos. Aos 7 ou 8 anos a criança começa a combinar e a aplicar a habilidades motoras fundamentais ao desempenho de habilidades especializadas no esporte e em ambientes recreacionais, com forma, precisão e controle maiores. O desenvolvimento de habilidades motoras especializadas é altamente dependente de oportunidades para a prática, encorajamento, ensino de qualidade e o contexto ecológico do ambiente. As Habilidades Motoras Especializadas são padrões motores fundamentais maduros que foram refinados e combinados para formar habilidades esportivas e outras habilidades específicas complexas. A maioria das crianças tem potencial aos 6 anos para executar bons desempenhos no estágio maduro de grande parte dos padrões motores fundamentais e para começar a transição à fase motora especializada. Muitos adolescentes, porém, têm suas capacidades motoras atrasadas em função das limitadas oportunidades de prática regular, do ensino deficiente ou ausente e do pouco ou nenhum encorajamento. Crianças mais velhas, adolescentes e adultos devem ser capazes de desempenhar movimentos fundamentais no estágio maduro. O fracasso em desenvolver formas maduras de movimentos fundamentais tem consequências diretas na habilidade de um indivíduo em desempenhar habilidades específicas de tarefas na fase motora especializada. Existe uma barreira de competência hipotética entre a fase motora fundamental e a fase motora especializada de desenvolvimento. A transição de uma para outra fase depende da aplicação de padrões de movimento maduros a uma grande variedade de habilidades motoras. Se os padrões forem menos que maduros, a habilidade será prejudicada. O desenvolvimento motor fundamental maduro é pré-requisito para a incorporação bem sucedida de habilidades motoras especializadas correspondentes ao repertório motor de um indivíduo. Mesmo que uma pessoa possa estar cognitiva e afetivamente apta a avançar para essa faze, a progressão depende da conclusão bem sucedida de aspectos específicos da fase anterior. O progresso de uma a outra fase não tem um caráter de tudo ou nada. Não é necessário estar no estágio maduro em todos os movimentos fundamentais antes de avançar para os estágios subsequentes. Sequência de desenvolvimento de movimentos especializados Depois que a criança alcança o estágio maduro de um padrão motor fundamental, poucas alterações ocorrem na ‘forma’ daquela habilidade motora na fase motora especializada. Quanto mais o adolescente aprimora força, resistência, tempo de reação, velocidade de movimento, coordenação e assim por diante, podemos observar níveis de desempenho cada vez melhores. Aprendizagem Motora Profª Daniela Dias Barros 15 Há ligação entre o movimento habilidoso e os níveis de atividade física. há um declínio estável na atividade física vigorosa entre meninos e meninas a partir dos 12 anos. Certamente, uma parte desse declínio é devido à falta de programas de educação física, em qualidade e quantidade. O início dos estágios, nessa fase do desenvolvimento, depende de fatores neuromusculares, cognitivos e afetivos próprios do indivíduo. Os padrões motores fundamentais de uma pessoa são pouco alterados depois que atingem o estágio maduro. As habilidades motoras especializadas são movimentos fundamentais maduros que adaptados às necessidades específicas de uma atividade esportiva, recreativa ou do cotidiano. A chave para o ensino bem sucedido na fase de habilidades motoras especializadas é reconhecimento das condições que possam limitar ou aumentar o desenvolvimento. Existem três estágios da fase motora especializada, a saber: de transição, de aplicação e de utilização permanente. O progresso através dos estágios pertinentes à fase de habilidades motoras especializadas depende da fundamentação de padrões motores previamente estabelecidos durante a fase motora fundamental. 1) Estágio de transição É caracterizado pelas primeiras tentativas do indivíduo de refinar e combinar padrões motores maduros. Nesse estágio, o indivíduo trabalha para ‘compreender a ideia’ de como desempenhar a habilidade esportiva. A habilidade e a competência são limitadas. 2) Estágio de aplicação O indivíduo torna-se mais consciente de seus recursos físicos pessoais e de suas limitações e, de acordo com isso, concentra-se em certos tipos de esporte. A ênfase está na melhora da competência motora. 3) Estágio de utilização permanente Os indivíduos reduzem a área de suas buscas atléticas, escolhendo algumas atividades para participar regularmente em situações competitivas, recreativas ou da vida diária. Uma maior especialização no refinamento de habilidades ocorre nesse estágio de ‘melhor ajustamento’. Atividadespermanentes são escolhidas com base nos interesses pessoais, habilidades, ambições, disponibilidade e em experiência passadas. A precoce participação em esportes não é prejudicial, mas a especialização prematura pode ter alto custo. Esporte juvenil Em condições ideais, o estágio de habilidades motoras transitórias começa por volta dos 7 ou 8 anos de idade. A participação esportiva é importante para milhões de crianças e adolescentes que precisam de liderança competente e de experiências apropriadas do ponto de vista do desenvolvimento. O esporte permite que indivíduos nos estágios de transição e aplicação melhorem suas habilidades e obtenham muita atividade física vigorosa em situações competitivas. Conhecendo o aluno É de vital importância que professores e profissionais da área conheçam que seus alunos têm um conjunto diferente de capacidades físicas, mentais, emocionais e sociais. A seguir, algumas informações importantes a serem observadas: As pessoas aprendem em ritmos diferentes. O potencial de cada pessoa para excelência é único. Habilidades motoras fundamentais devem ser dominadas antes de tentar a habilidade esportiva. As reações de vitória e fracasso variam entre indivíduos, assim como, reações de elogio e crítica. Os níveis de desenvolvimento dos indivíduos variam, resultando em potenciais diferentes para o aprendizado e o desempenho. Não há uniformidade no potencial físico de indivíduos, particularmente, nos anos da pré-adolescência e adolescência. Aprendizagem Motora Profª Daniela Dias Barros 16 Os indivíduos exibem maiores ou menores graus de habilidades motoras rudimentares e refinadas, dependendo das experiências passadas e de fatores herdados. A habilidade de analisar, conceituar e resolver problemas varia de pessoa para pessoa. O aprendizado de habilidade motora é um processo independente da idade que tem uma sequência previsível de estágios que identificam o estado cognitivo e os objetivos de cada indivíduo durante o aprendizado. Assim sendo, seguem-se algumas orientações no que tange ao ensino de uma nova habilidade motora. Identificar o tipo de habilidade a ser trabalhada. Estabelecer um ambiente de prática de acordo com a natureza da habilidade. Introduzir atividades externamente ritmadas, primeiro sob o controle de condições internamente determinadas, iniciando com ambiente e condições de prática da habilidade controladas. À medida que a habilidade se desenvolve, introduzir situações que exijam reações a fatos inesperados em atividades externamente ritmadas. Esforçar-se para obter mais estabilidade, consciência e eliminação de influências ambientais durante atividades internamente determinadas. Encorajar o aluno a ‘pensar na atividade’ nos primeiros estágios da aprendizagem. Conhecer e respeitar o estado cognitivo do aluno, bem como seus objetivos de aprendizagem. Considerações Finais Por volta dos 7 anos, a maioria das crianças tem potencial para estar no estágio transitório de habilidades. A ênfase na melhora das habilidades resulta do aumento do potencial de desempenho da criança. Um fato importante a ser observado é o objetivo que pais e professores precisam ter, a saber, ajudar as crianças a aumentar o controle motor e a competência motora em muitas atividades. Deve-se tomar cuidado para que a criança não restrinja seu envolvimento em certas atividades, especializando-a em outras. Aos 11 a 13 anos a sofisticação cognitiva crescente e certa base ampliada de experiências tornam o indivíduo capaz de tomar numerosas decisões de aprendizagem e de participação baseadas em muitos fatores de tarefa, individuais e ambientais. O indivíduo começa a tomar tais decisões conscientemente a favor ou contra sua participação em certas atividades. Essas decisões aumentam ou inibem a probabilidade de obter-se satisfação e sucesso. Há ênfase crescente na forma, habilidade, precisão e nos aspectos quantitativos do desempenho motor. É a época para refinar e usar habilidades mais complexas em jogos avançados, atividades de liderança e em esportes escolhidos. Aos 14 anos há o auge do processo de desenvolvimento motor e é caracterizado pelo uso do repertório de movimentos adquiridos pelo indivíduo por toda a vida. Fatores como tempo, dinheiro, equipamentos e instalações disponíveis e limitações físicas e mentais afetam esse estágio. O nível de participação de um indivíduo em certas atividades dependerá de talento, oportunidades, condições físicas e motivação pessoal. Esse estágio é uma continuação de um processo permanente. Deve-se parar de considerar as crianças como adultos em miniatura que podem ser programados para desempenhar atividades estressantes, fisiológicas e psicologicamente. Devem-se estruturar experiências motoras significativas apropriadas aos níveis de desenvolvimento particulares. Quando se reconhece que a aquisição progressiva de habilidades motoras de forma desenvolvimentista apropriada é imperativa para o desenvolvimento motor equilibrado de bebês, crianças, adolescentes e adultos, passar-se-á a fazer contribuições reais para seu desenvolvimento total. É injusto exigir de crianças que se especializem em uma ou duas áreas de habilidades, em detrimento do desenvolvimento e da apreciação de habilidades em muitas outras áreas. O nível de aquisição de habilidades motoras é variável desde o período pós-natal até o fim da vida. Seja bebê, criança, adolescente ou adulto, quem receber oportunidades adicionais para a prática, o encorajamento e a instrução em um ambiente propício ao aprendizado terá a possibilidade de adquiri as habilidades motoras. A ausência desses recursos ambientais inibirá sua aquisição. Cada um de nós possui oportunidades por toda a vida para o aprendizado.