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SUMÁRIO 1. Introdução ..................................................................... 3 2. Etiologia e fisiopatologia ......................................... 3 3. Sinais e sintomas ....................................................... 8 4. Diagnóstico ................................................................12 5. Tratamento .................................................................17 Referências bibliográficas ........................................22 3SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS 1. INTRODUÇÃO A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é o distúrbio endócrino mais comum nas mulheres em idade re- produtiva, variando de 4 a 16% en- tre os estudos. Sua primeira descri- ção data de 1935 quando Stein e Leventhal descreveram o quadro clí- nico típico dessa doença. Sua etio- logia é multifatorial e ainda não está totalmente esclarecida, envolvendo a predisposição genética e a sua inte- ração ambiental. Atualmente a SOP é considerada uma doença metabólica, pois além das manifestações gine- cológicas, essa patologia pode cur- sar com alterações lipídicas, diabetes mellitus (DM), obesidade, hiperten- são arterial sistêmica (HAS), aumento do risco cardiovascular, entre outros fatores. O principal achado clínico nas pacientes com SOP é a associação do hiperandrogenismo e da anovulação, porém as manifestações clínicas são bastante variadas, incluindo hirsu- tismo, infertilidade, acne, obesidade, entre outras manifestações. Sendo assim, para o diagnóstico da SOP é necessário a investigação e exclusão de outras patologias que cursam com sinais e sintomas semelhantes, como tumores produtores de androgênios, hiperplasia de adrenal e hiperprolac- tinemia. Isso é importante visto que terá impacto na instituição da tera- pêutica adequada, que inclui regulari- zação dos ciclos menstruais, controle do hiperandrogenismo e distúrbios metabólicos e melhora da qualidade de vida das pacientes. SE LIGA! A SOP é a principal causa de anovulação crônica e hiperandrogenis- mo em mulheres, estando presente em cerca de 90% das mulheres com ciclos anovulatórios e 80% das mulheres com hiperandrogenismo! 2. ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA A etiologia da SOP ainda é desco- nhecida, porém acredita-se que sua origem é muitifatorial e envolvem al- terações genéticas poligênicas e suas interações com condições ambien- tais. Em vários estudos encontra-se uma maior incidência de casos dentro das famílias, sugerindo a transmissão da alteração genética. A fisiopatologia da SOP não é muito bem esclarecida, mas sabe-se que ocorre uma alteração da pulsatilidade na liberação do hormônio GnRH pelo hipotálamo. Entretanto, não se sabe se essa disfunção da pulsação no GnRH é um distúrbio primário ou se- cundário a regulação de outros pro- dutos alterados na SOP. De qualquer forma, com a alteração do GnRH, há um aumento da liberação do LH e uma diminuição da liberação do FSH, am- bos produzidos pela hipófise anterior. 4SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS SAIBA MAIS! GnRH- Hormônio liberador de gonadotrofina, responsável pela liberação de FSH e LH. LH - Hormônio folículo estimulante, controla a produção de hormônios ovarianos. FSH - Hormônio luteinizante, controla a produção de hormônios ovarianos. O papel do LH é de estimular as cé- lulas da teca a produzirem androgê- nios. Portanto, se há mais LH, haverá também maior produção de andro- gênio, principalmente testosterona e androtenediona. Já o FSH estimula a produção da enzima aromatase nas células da granulosa. Essas enzimas convertem os androgênios em estro- gênios. Sendo assim, como há uma diminuição da liberação de FSH, ocor- re também a redução da produção de estrogênios, propiciando um acúmulo de androgênios. SAIBA MAIS! TECA - As células da teca são responsáveis pela produção de andrógenos. GRANULOSA - As células da granulosa são responsáveis pela conversão de androgênios em estrogênios. O aumento de androgênios ovarianos prejudica o desenvolvimento folicular normal, fazendo com que os folículos fiquem imaturos e se transformem em múltiplos folículos subdesenvolvi- dos na periferia ovariana. Além disso, níveis elevados de androgênios cau- sam alterações no perfil lipídico das pacientes com SOP e também predis- põem ao surgimento de acne. Na pe- riferia, sob ação da enzima 5-alfa-re- dutase a testosterona é transformada em Di-hidrotestosterona, hormônio que causa hirsutismo. Os androgênios circulantes são convertidos em estro- gênios no tecido periférico, sobretudo nas células do tecido adiposo, sendo assim, pacientes obesas com SOP tem maior produção de estrogênio. Devido ao não desenvolvimento foli- cular, a paciente não ovulará, levando ao quadro de anovulação crônica e por consequência, oligo ou amenor- reia. Como não há ovulação, também não há formação de corpo lúteo, que é o responsável pela produção de progesterona. Com isso, o endomé- trio dessa paciente será estimulado somente pelo estrogênio produzi- do, sem a oposição da progesterona, levando ao risco de sangramento 5SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS uterino anormal, hiperplasia endome- trial e câncer de endométrio. Devido ao aumento de androgênios e resistência a insulina presentes em algumas mulheres com SOP, ocorre a diminuição da produção da Globu- lina Ligadora de hormônios sexuais (SHBG, de sex hermone-binding glo- bulin) proteína produzida pelo fígado e responsável pelo carreamento dos esteroides sexuais. Com a redução dessa proteína, ocorre o aumento da concentração de androgênios livres e disponíveis para se acoplarem aos re- ceptores nos orgãos-alvo. Além disso, alguns estudos têm demonstrado as- sociação entre baixos níveis de SHBG e DM2 e DM gestacional. SE LIGA! Algumas mulheres podem apresentar níveis normais de testoste- rona, mas sinais de hiperandrogenismo. Isso ocorre devido a maior fração livre da testosterona. A resistência a insulina e o hiperinsulinis- mo compensatório podem estar presen- tes tanto em mulheres magras, quanto em obesas com SOP. Acredita-se que prevalência de resistência à insulina em mulheres com SOP varia muito de 44% a 70%. A fisiopatologia envolvida na re- sistência a insulina ocorre devido a uma anormalidade na sinalização intracelular do receptor insulínico. CONCEITO! A resistência à insulina é definida como absorção reduzida de gli- cose em resposta a uma determinada quantidade de insulina. A resistência insulínica pode ser res- ponsável por levar a atresia folicular dos ovários, aumento da produção de androgênios pelos ovários, dimi- nuição da produção de SHBG e na pele leva ao surgimento de acantose nigricans. Além disso, está associada ao surgimento de DM tipo 2, hiper- tensão arterial, dislipidemia e doença cardiovascular (DCV). Cerca de 45% das pacientes com SOP possui sín- drome metabólica. SE LIGA! A Síndrome metabólica se ca- racteriza por resistência à insulina, obe- sidade, dislipidemia aterogênica e hiper- tensão arterial. 6SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS SAIBA MAIS! Para o diagnóstico da Síndrome Metabólica é necessário a presença de pelo menos três dos critérios abaixo: 1. Circunferência abdominal ≥ 88cm; 2. Triglicérides ≥ 150 mg/dl; 3. HDL < 50 mg/dl; 4. PA≥ 130x85mmHg; 5.Glicemia ≥ 100 mg/dl. Figura 1. Fisiopatologia da síndrome dos ovários policísticos. Fonte: Federação Brasileira das Associações de Gineco- logia e Obstetrícia (FEBRASGO), 2018 7SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS MAPA MENTAL – FISIOPATOLOGIA DA SOP HIPOTÁLAMO LIBERAÇÃO DO GnRH ALTERADA HIPÓFISE ꜛdo LH e ꜛdo FSH OVÁRIO (TECA) ꜛ ANDROGÊNIO TECIDO ADIPOSO ꜛESTROGÊNIOPERFIL LIPÍDICO ALTERADO GLÂNDULA SUPRARRENAL ATRESIA FOLICULAR RESISTÊNCIA INSULINICAPELE HIRSUTISMO, ACNE, ACANTOSE NIGRICANS ANOVULAÇÃO/ AMENORREIA ÚTERO HIPERPLASIA ENDOMETRIAL SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL RETROALIMENTAÇÃO 8SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS 3. SINAIS E SINTOMAS A SOP se caracteriza por um amplo espectro de manifestações clínicas, dificultandoo seu diagnóstico. Em geral, as apresentações clínicas ficam evidentes anos após a puberdade. • DISFUNÇÃO MENSTRUAL – Em mulheres com SOP as principais disfunções sexuais apresentadas são a oligomenorreia, amenorreia secundária e/ou sangramento ute- rino anormal. ◊ Amenorreia/ oligomenorreia: A amenorreia e a oligomenor- reia são consequências do es- tado de anovulação que não forma corpo lúteo e por isso não produz progesterona. Em algumas pacientes com SOP, a amenorreia pode ser expli- cada pelos níveis elevados de androgênios. SE LIGA! Amenorreia secundaria ocor- re quando existem ciclos menstruais prévios, porém ocorre ausência de pelo menos 3 ciclos menstruais em mulhe- res com ciclos regulares ou ausência de menstruação por, pelo menos, seis me- ses em mulheres com ciclos irregulares. CONCEITO! Oligomenorreia: ciclos com intervalos maiores que 35 dias entre as menstruações. ◊ Sangramento uterino anor- mal: Na SOP também pode ocorrer sangramentos uteri- nos que variam de intensidade e duração e aparecem de ma- neira imprevisível. Esses san- gramentos se devem a esti- mulação do endométrio pelos estrogênios, sem contraposi- ção da progesterona, levando a surgimento de um endomé- trio espesso e instável, resul- tando em sangramentos. • HIPERANDROGENISMO – As manifestações do hiperandroge- nismo na SOP são principalmente a acne, hirsutismo e/ou alopecia androgênica. ◊ Acne: A acne se deve ao blo- queio da abertura folicular por hiperceratose, produção ex- cessiva de sebo, proliferação de Propionibacterium acnes comensal e inflamação por ação androgênica. ◊ Alopecia: A alopecia ocorre devido a ação da 5-alfa-redu- tase no folículo piloso, gerando queda do cabelo. A manifesta- ção mais comum do hiperan- drogenismo é o hirsutismo que é definido como a presença de pelos mais escuros e ásperos em padrão de distribuição tipi- camente masculino. ◊ Hirsutismo: Dentro do folí- culo piloso a testosterona é 9SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS convertida em di-hidrotes- tosterona (DTH) pela enzima 5-alfa-redutase. A testostero- na e principalmente a DTH são os responsáveis por engrossar e enegrecer os pelos de áre- as sensíveis a androgênios. A quantificação da distribuição de pelos pode ser feita utili- zando a Escala de Ferriman- -Gallwey (Figura 2) que possui 9 imagens com diferentes pa- drões de hirsutismo, sendo que o seu grau é pontuado de 0 a 4. De acordo com as no- vas recomendações da ASRM e ESHRE, a pontuação para considerar o hirsutismo varia de acordo com a etnia da pa- ciente, sendo considerados o valor de 4 para orientais ou 6 para outras etnias. Figura 2. Hirsutismo na parte inferior do abdome. Fonte: Revista Brasileira de Ultrassonografia 2012. SE LIGUE! A virilização não é uma ma- nifestação comum da SOP. Portanto, em mulheres com sintomas como aumen- to de massa muscular, diminuição das mamas, aumento do clítoris e engrossa- mento da voz, deve-se investigar outras causas de hiperandrogenismo, princi- palmente tumorais. 10SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS • DISFUNÇÕES ENDÓCRINAS Mesmo em pacientes com índi- ce de massa corporal (IMC) ideal, é comum na SOP a ocorrência de resistência insulínica, intolerância a glicose e DM2. ◊ Resistência insulínica: Um dos marcadores da resistên- cia insulínica é o aparecimento SAIBA MAIS! Medicamentos como esteroides anabolizantes, metoclopramida, metildopa, testosterona e progestágenos podem gerar hirsutismo em mulheres. Por isso, devemos estar atentos ao uso dessas substâncias quando estivermos diante de um quadro de hirsutismo. Figura 3. Escala de de Ferriman-Gallwey para avaliação do hirsutismo. Fonte: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), 2018. de acantose nigricans que é a consequência do estímulo in- sulínico no desenvolvimento de queratinocitos e fibroblas- tos da pele, levando ao espes- samento e escurecimento em áreas de flexão da pele, princi- palmente nas axilas e na nuca. 11SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS ◊ DM2/intolerância a glicose: mulheres com SOP apresen- tam risco elevado de desen- volver DM tipo 2 e intolerância a glicose devido a disfunção das células beta pancreáticas presente nessa patologia. • DISLIPIDEMIA – A dislipidemia tem alta prevalência na SOP e se caracteriza por níveis elevados de lipoproteína de baixa densidade (LDL), triglicerídeos e colesterol, além níveis reduzidos de lipopro- teína de alta densidade (HDL). Sendo assim, a Síndrome Metabó- lica é uma entidade frequente nas mulheres com SOP. • OBESIDADE – Cerca de metade das pacientes com SOP são obe- sas, ou seja, tem IMC maior que 30. O padrão típico é andrógeno, com aumento da relação cintura/qua- dril. Esse aspecto contribui para o desenvolvimento de dislipidemia e aumento o risco cardiovascular presentes em mulheres com SOP. • APNEIA OBSTRUTIVA DO SONO – Tem alta prevalência em mulheres com SOP e está relacionada com obesidade central, resistência in- sulínica e alterações metabólicas e hormonais presentes na SOP. • NEOPLASIA ENDOMETRIAL – Mulheres com SOP tem três vezes mais chance de desenvolver ne- oplasias endometriais devido ao quadro de anovulação crônica, as- sociada a estimulação estrogênica sem oposição progestágena. • INFERTILIDADE – Como descrito acima, devido ao processo de al- teração do eixo hipotálamo-hipó- fise-ovariano, ocorre anovulação, visto que o desenvolvimento foli- cular não é completado. Dessa for- ma, a SOP é responsável por cerca de 80% dos casos de infertilidade anovulatória. • HIPERTENSÃO ARTERIAL – A hipertensão arterial tem risco au- mentado de ocorrer em pacientes com SOP. Ela ocorre sobretudo no final da idade reprodutiva. 12SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS 4. DIAGNÓSTICO Existem vários critérios que podem ser usados para o diagnóstico da sín- drome dos ovários policísticos, como o National Institutes of Health (NIH), Consenso de Rotterdam e Andro- gen Excess and PCOS Society (AE- -PCOS). O mais utilizado é o critério de Rotterdam que leva em conta um consenso entre a European Society for Human Reproductive Medicine (ESHRE) e a American Society for Re- productive Medicine (ASRM)(Quadro 1). Segundo esse consenso está pre- sente pelo menos dois dos três cri- térios propostos para o diagnóstico: oligo-amenorreia, hiperandrogenis- mo clínico e/ou laboratorial e morfo- logia ultrassonográfica de policistose ovariana. Além disso, é obrigatório MAPA MENTAL CLÍNICA ALOPECIA HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA DISLIPIDEMIA INFERTILIDADE AMENORREIA SECUNDÁRIA OLIGOMENORREIA OBESIDADE HIPERANDROGENISMO ACNE CICLOS ANOVULATÓRIOS SEBORREIA HIRSUTISMO SÍNDROME METABÓLICA SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL QUADRO CLÍNICO 13SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS que outras doenças que causam hi- perandrogenismo deve ser excluídas. De acordo com os critérios de Rotter- dam é possível o diagnóstico de SOP em mulheres com ciclos regulares e ovulatórios, desde que tenha hirsu- tismo e ovários policísticos a USG, item obrigatório nos outros critérios citados acima. Outro ponto é de que com esses critérios, é possível haver pacientes com SOP sem os sinais de hiperandrogenismo, que caracteriza a doença. CRITÉRIOS DE ROTTERDAM 1. Alteração dos ciclos menstruais 2. Hiperandrogenismo clínico 3. Morfologia ovariana policística à ultrassonografia (USG) Fonte: Adaptado de Consenso de Rotterdam, novas recomendações da ASRM/ESHRE de 2018. De acordo com esses critérios, enten- de-se por alteração no ciclo mens- trual a ausência de menstruação por um período de 90 dias ou mais ou a presença de um número de ciclos menstruais menor ou igual a 9 por ano. Em relação ao hiperandroge- nismo, deve-se pontuar esse critério quando houver pelo menos um dos seguintes achados: Acne, hirsutismo e alopecia de padrão androgênico ou hiperandrogenismo laboratorial. SE LIGA! O hiperandrogenismo labo- ratorial ocorre quando há elevação de pelo menos um androgênio,que pode ser testosterona total, androstenediona e/ou sulfato de desidroepiandrosterona sérica (SDHEA). Com relação a presença de ovários po- licísticos à USG, deve ter mais de 20 fo- lículos antrais de tamanho entre 2 e 9 mm, em pelo menos um dos ovários ou volume ovariano de maior ou igual à 10 cm3 (Imagem 3). Não deve ser conside- rado o ovário que apresente folículo do- minante ou corpo lúteo. Nesses casos, o exame deve ser repetido. 14SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS FLUXOGRAMA DIAGNÓSTICO Apenas 1 critério clínico Oligomenorreia + Hiperandrogenismo CRITÉRIOS DE ROTTERDAM NÃO SIM Diagnóstico da SOP Sem hiperandrogenismo USG com critérios para SOP? SIM NÃO DESCARTAR OUTRAS CAUSAS DE ANIVULAÇÃO DESCARTAR OUTRAS CAUSAS DE HIPERANDROGENISMO Disfunções tireoidianas Hiperprolactinemia Tumor ovariano Hiperplasia adrenal congênita Tumor adrenal 15SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS Em exames complementares temos: • LH e FSH: Normalmente virá com a relação aumentada, maior que 2 • BHCG: para exclusão de gravidez em pacientes com amnorreia. • Avaliação hormonal: Testosterona, androstenediona e SDHEA, que podem estar normais ou levemen- te aumentados. • SGBG que estará reduzida de- vido a redução da sua síntese no fígado por ação dos andrógenos circulantes SAIBA MAIS! Novos estudos tem usado o hormônio anti-mulleriano (HAM) como método diagnóstico, com evidências de boa correlação entre os os seus níveis e a contagem de folículos, volume ova- riano e distribuição periférica dos folículos. Com base nesses estudos, o HAM está sendo contado para substituir a USG, no entanto, devido a discrepâncias no ponto de corte entre esses estudos, o HAM ainda não é utilizado como critério diagnóstico. Figura 4. USG evidenciando ovário de aspecto policístico e hipertrofia do estroma ovariano. Fonte: Revista Brasileira de Ultrassonografia 2012. 16SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS SE LIGA! Para o diagnóstico de SOP outras causas de hiperandrogenismo devem ser excluídas. Por isso, é reco- mendado a investigação dos principais diagnósticos diferenciais (Quadro 2). DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS DE HIPERANDROGENISMO INVESTIGAÇÃO Disfunções tireoidianas Dosagem de hormônio tireoestimulante (TSH) e/ou T4 livre. Hiperprolactinemia Dosagem de prolactina Tumor ovariano produ- tor de androgênio Dosagem de testostero- na total ou livre Tumor adrenal Dosagem de deidroe- piandrosterona sulfata- da (DHEA-S) Hiperplasia adrenal congênita Dosagem de 17-alfa- -hidroxiprogesterona (17OHP) Insuficiência ovariana primária Dosagem de hormônio folículo-estimulante (FSH) Quadro 2. Diagnósticos diferenciais dos quadros de hiperandrogenismo. Modificado de Federação Brasileira das Associações de Gine- cologia e Obstetrícia (FEBRASGO), 2018. Como já descrito, disfunções meta- bólicos como a resistência insulínica, obesidade e o risco de diabetes tipo 2, estão presentes na SOP. Por isso, é importante a investigação dessas pa- tologias, seja no exame físico através da circunferencial abdominal, pressão arterial e da investigação metabólica e bioquímica, com a avaliação do me- tabolismo glicídico (Glicemia de jejum e/ou TTGO) e lipídico (colesterol total e frações e triglicérides). Essa inves- tigação servirá também para o diag- nóstico da Síndrome Metabólica, en- tidade frequente nas pacientes com SOP. Em adolescentes, os critérios diag- nósticos para SOP são controversos, visto que nesse período da vida os sinais e sintomas sugestivos da SOP podem ser confundidos com os que ocorrem na puberdade normal. De um modo geral, novos consensos re- comendam que para o diagnóstico de SOP, as adolescentes devem estar presentes os três critérios citados no consenso de Rotterdam e não dois, como nos adultos. No entanto, para essa faixa etária a morfologia ova- riana não considerada, e o hiperan- drogenismo implica necessariamente na presença de hirsutismo ou hipe- randrogenemia. Além disso, mesmo que preencha esses critérios, é reco- mendado que o diagnóstico feito na adolescência deve ser revisto após oito anos da menarca ou até poster- gado para depois dos 18 anos com- pletos. Neste caso, deve-se tratar os sintomas como distúrbio menstrual e hirsutismo, independentemente do diagnóstico definitivo de SOP. 17SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS 5. TRATAMENTO A SOP possui uma ampla gama de si- nais e sintomas com grande impacto na qualidade de vida das pacientes. Por isso o tratamento dos sintomas da SOP varia de acordo com as quei- xas de cada paciente individualmen- te. Além disso, o tratamento precoce da SOP reduz a morbimortalidade por doenças cardiovasculares. • NÃO MEDICAMENTOSO – Uma das queixas frequentes entre as pacientes com SOP é o sobrepe- so e obesidade e para isso, como na população geral recomenda-se modificações do estilo de vida, com cessação do tabagismo e do uso abusivo de álcool, prática de ativi- dade física regular e alimentação saudável. A perda de peso está associada a melhora da obesidade, dislipidemia, hipertensão, doença hepática gordurosa não alcoólica, apneia do sono, regulação endócri- na, hiperglicemia e efeitos positivos na normalização dos ciclos mens- truais. Evidências apontam que a perda de peso melhora os índices de ovulação, contribuindo para re- dução da infertilidade. Além dis- so, está relacionada a redução de abortamentos e doenças gestacio- nais, tanto fetais, quanto maternas. • Para o hirsutismo, medidas cosmé- ticas como métodos de depilação e epilação (retirada inteira dos pelos) também podem ser empregados. A depilação é a técnica mais utili- zada, no entanto, efeitos colaterais como irritação da pele podem sur- gir. Dentre as técnicas de epilação pode-se usar a retirada mecânica dos pelos com pinça, cera e laser ou através da retirada permanente com a destruição térmica dos folí- culos pilosos. É comum em pacien- tes com SOP problemas psicológi- cos, como ansiedade e depressão, devido ao impacto do hiperan- drogenismo na feminilidade e au- toestima, sendo necessário uma abordagem multidisciplinar entre com profissionais ligados a saúde mental. • MEDICAMENTOSO – O tratamen- to medicamentoso visa reduzir as queixas mais comuns das pacien- tes com SOP. ◊ Irregularidade menstrual: Para o tratamento da irregula- ridade menstrual, é recomen- dado o uso preferencial de anticoncepcionais hormonais combinados (AHC) no trata- mento de mulheres com SOP que não desejam gestar. Es- ses medicamentos além de promover a regularização dos ciclos menstruais e anticon- cepção, também estão ligados a redução dos níveis de andro- gênios circulantes e promove antagonismo endometrial com a progesterona. Isso ocorre pois o estrogênio dos AHC 18SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS aumenta a síntese e liberação de SHBG no fígado, reduzin- do a quantidade de testos- terona livre. Dessa forma, os AHC diminuem o hirsutismo e mais da metade das pacien- tes e reduz a proliferação en- dometrial. Mulheres que pos- suem contraindicação ao uso de AHC, podem fazer uso de progestágenos isolados para regularização do ciclo, porém esse medicamento não previ- ne a gravidez e o não melhora o hirsutismo, além de está li- gado a efeitos colaterais como cefaleia e ganho de peso. SE LIGA! Em mulheres com amenor- reia, deve-se descartar gestação antes de iniciar o uso dos anticoncepcionais. Alguns estudos apontam que com o uso da metformina, além da melhora no perfil metabólico, está associada a redução da secreção de androgênios, melhorando assim o ciclo menstrual. Com isso, esse medicamento pode ser usado no tratamento de segunda li- nha para melhora das irregularidades menstruais em mulheres com SOP. ◊ Hiperandrogenismo clínico: Para o tratamento do hirsu- tismo clínico assim como de graus moderado e grave e da acne, pode-se utilizar os an- tiandrogênicos, associado a AHC. A medicação de escolha é o acetato de ciproterona. En- tretanto, esses medicamentosestão associados ao ganho de peso e redução da libido. SE LIGA! Os antiandrogênicos estão li- gados a feminilização de fetos masculi- nos, por isso sempre deve está associa- do a métodos contraceptivos. Ademais, os AHC além de promover a regularida- de menstrual, estão ligados a redução dos androgênios livres, reduzindo o hir- sutismo. Medicações antiandrogênicas como espironolactona e finasterida que é um inibidor da enzima 5-alfa-redutase também podem ser utilizadas no trata- mento do hirsutismo, mas possuem al- guns efeitos colaterais, sendo mais usa- das quando há contraindicação ou não resposta às demais medicações. ◊ Distúrbios metabólicos: Para mulheres que não atingiram controle metabólico com a melhora da qualidade de vida, a metformina pode ser reco- mendada como adjuvante. Essa medicação é associada à redução da resistência insulí- nica, obesidade e melhora do perfil lipídico, além de reduzir a gliconeogênese hepática e melhorar as taxas de ovulação. ◊ Infertilidade: Pacientes que desejam gestar pode utilizar medicações que induzem a ovulação, sendo a droga de primeira escolha o Citrato de Clomifeno. Essa medicação possui bons níveis de ovula- ção e gravidez. Na intolerância a essa droga, pode-se utilizar 19SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS ainda gonadotrofinas. Vale lembrar que com o uso dessas medicações a paciente deve ser monitorada com ultrasso- nografias visando melhor efi- cacia gestacional e identifica- ção de efeitos colaterais como a Síndrome do hiperestímulo ovariano. A fertilização in vitro (FIV) também tem altas taxas de sucesso em pacientes com SOP que desejam engravi- dar. Cirurgias para ressecção da cunha ovariana e eletro- cauterização ovariana (Drillii- ng ovariano) também podem ser empregadas em casos selecionados. ◊ Cirurgia bariátrica: Pacientes com SOP que tenham dificul- dade de perda de peso, so- bretudo com obesidade grave, podem utilizar a cirurgia bariá- trica como opção de tratamen- to. Essa cirurgia, independente da técnica empregada, está relacionada à redução ponde- ral, regularização hormonal e metabólicos, além de melhoria no hirsutismo, irregularidade menstrual e fertilidade. 20SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS MAPA MENTAL DE TRATAMENTO Hirsutismo Medicamentoso Tratamento Não medicamentoso Irregularidade menstrual Antiandrogênio: Acetato de ciproterona Distúrbios metabólicos Anticoncepcionais hormonais combinados Mudanças de estilo de vida Depilação/Epilação Acompanhamento psicológico Redução do peso corporal Melhora da alimentação Atividade física Infertilidade Citrato de Clomifeno Metformina 21SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS MAPA MENTAL GERAL SOP Etiologia Origem genética multifatorial poligênica DiagnósticoTratamento Quadro clínico Fisiopatologia USG Critérios de Rotterdam Exames laboratoriais para exclusão Alteração na liberação do GnRH Aumento da relação LH/FSH Aumento dos androgênios Redução do FSH Redução da aromatase Redução dos estrogênios Atresia folicular SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL SEBORREIA ALOPECIA HIRSUTISMO INFERTILIDADE OLIGOMENORREIA DISLIPIDEMIA AMENORREIA SECUNDÁRIA ACNE Mudanças de estilo de vida Anticoncepcionais hormonais combinados Metformina Antiandrogênio: Acetato de ciproterona 22SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Hoffman, Barbara L. et al. Ginecologia de WILLIAMS. 2 ed. Porto Alegre. Artmed. 2014. Freire AMA. Achados ecográficos mais comuns em mulheres adolescentes. In: Revista Bra- sileira de Ultrassonografia: RBUS/ Sociedade Brasileira de Ultrassonografia – 2012. Vol13, 17 edição. p 11. Goiania. Hall, John Edward; Guyton, Arthur C. Guyton & Hall tratado de fisiologia médica. 12. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. Ministério da Saúde. Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas: Síndrome dos ovários policísticos Brasília: Ministério da Saúde; 2019. Rosa-e-Silva AC. Conceito, epidemiologia e fisiopatologia aplicada à prática clínica. In: Sín- drome dos ovários policísticos. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Gineco- logia e Obstetrícia (Febrasgo); 2018. Cap. 1. p. 1-15. (Série Orientações e Recomendações Febrasgo, nº 4, Comissão Nacional de Ginecologia Endócrina). Yela DA. Particularidades do diagnóstico e da terapêutica da síndrome dos ovários policís- ticos na adolescência. 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