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Manejo alimentar de bovinos de leite

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MANEJO ALIMENTAR DE BOVINOS DE LEITE
VACAS EM LACTAÇÃO
O requerimento nutricional de vacas leiteiras apresenta mudanças significativas ao longo de seu ciclo produtivo (lactação e gestação):
1. Um pico de lactação (60 dias – 8 semanas) pós parto;
2. Seguido por um tardio pico de consumo, com cerca de 14 semanas pós parto (100 dias); 
3. Passam cerca de 60-70 dias consumindo menos do que o necessário para manter sua demanda de produção leiteira; entra no que é chamado de balanço energético negativo. Normal a perda de peso.
.
Gradativamente entra em balanço energético positivo, preparando o corpo para uma nova gestação. (12 semanas) de lactação - 90-120 dias pós parto.
Queda de 8-10% da lactação por mês;
Consumo atende tranquilamente a demanda para produção de leite de manutenção, ganhando condição corporal.
60 dias antes do parto ela é tirada da ordenha, fornecendo um descanso para o novo ciclo de lactação – período seco – se estende de 14-21 dias antes do parto. Feto ganha peso, e as demandas nutricionais dela são facilmente mantidas (cuidar com o ganho excessivo de peso).
De 14-21 dias antes e pós-parto é chamado de período de transição. Muito crítico, série de alterações hormonais e mais suscetíveis a doenças metabólicas caso não seja feito interferências nutricionais. 
Objetivos:
Maximizar a produção de leite/ pico de lactação (200 litros a mais em toda a lactação); 
Evitar queda acentuada da curva de produção;
Manter a composição do leite; 
· Evitar baixos % de proteína e gordura; 
Manter a reprodução;
Emprenhar a vaca o mais rápido possível; 
Prevenir o surgimento de desordens metabólicas: Cetose, deslocamento de abomaso, edema de úbere, acidose, hipocalcemia, retenção de placenta etc.
VACAS LEITEIRAS APRESENTAM 6 FASES ARRAÇOAMENTO:
Fase I: 60 – 21 dias pré-parto - período seco 
Fase II: 21 dias pré-parto – parto - período pré-parto; 
Fase III: parto – ± 14 dias pós-parto - período pós-parto; 
Fase IV: ± 14-21 dias pós-parto – 100 DEL - Início de lactação; 
Fase V: 100 – 200 DEL - 2º terço de lactação;
Fase VI: 200 DEL – 60 dias pré-parto - final da lactação;
DEL = Dias em Lactação
FASE I
60 – 21 dias antes do parto
Período seco
Período dedicado a recuperação da glândula mamária e preparação para a próxima lactação;
Vacas não são ordenhadas;
Administrados antibióticos (protocolo de secagem) – mastite clínica ou subclínica.
Dependendo da condição corporal, deve-se restringir a quantidade de alimento para evitar que cheguem obesas ao parto (ideal de condição corporal 3,5 ± 0,25).
Animais podem ter uma dieta constituída em maior parte (até 80% CMS) por volumoso de boa qualidade. 
NÃO CONFUNDIR MENOR EXIGÊNCIA COM AUSÊNCIA DE EXIGÊNCIA! 
Erros durante essa fase serão carreados para o período de lactação; 
Dieta com concentrações moderadas de nutrientes: 
· CMS 2% PV 
· NDT 60%
· PB 12-13% (30% PNDR) 
· Ca 0,60% 
· P 0,26% 
· Adicionar Microminerais e Vitaminas
FASE II
21 dias antes do parto – parto
 Período pré-parto
Período dedicado a preparar a vaca para o parto e a dieta de lactação;
Controlar desordens metabólicas (Hipocalcemia e Cetose); 
· Modificar o ambiente ruminal; 
· Preparar o sistema imune; 
· Preparar para um maior consumo de matéria seca.
A elevação da pressão interna nos órgãos (pela presença do feto) associada a grande variação hormonal nesse período (progesterona e estrógeno e corticoides) reduzem o consumo de MS (maior na última semana);
Se muito gorda, pode adentrar num distúrbio metabólico (cetose ou esteatose hepática).
· Redução de até 30-40% 
ESTRATÉGIAS NUTRICIONAIS
Estimular o consumo de MS (tentar manter entre 1,6 – 2,0 %PV ou ~10 kg MS / dia); 
Aumentar a densidade energética e proteica da dieta (para compensar a redução no consumo);
· Relação concentrado : volumoso para amido (CNF 33-34%); 
· NDT 67% ou ELl 1,52 Mcal/kg MS; 
· PB 15% (40% PNDR);
O aumento do consumo de concentrado também adapta os microrganismos ruminais e favorece o desenvolvimento das papilas ruminais.
Deve-se também adequar o consumo de minerais; 
Ca 0,7% (1,4%) 
P 0,3% 
Mg 0,2% (0,4%) 
S 0,2% (0,4%) 
Na 0,05% 
Cl 0,15% (0,8%) 
Valores entre parênteses para dietas aniônicas.
Fazer com que esses níveis de minerais sejam adequados, estimula o animal a recrutar mais cálcio do osso afim de manter os níveis de cálcio no sangue e as demandas do organismo.
Hipocalcemia: Distúrbio caracterizado pela redução repentina do Ca sérico. 
Isso acontece porquê: 
1. Diminuição das reservas de Ca no sangue 
a. vaca não produz leite 
2. Aumento das exigências de Ca (contração muscular, formação do colostro); 
3. Hormônios (PTH) que mobilizam o Ca dos ossos estão pouco ativos; 
a. Está geralmente associado ao consumo de forragens com alto teor de K+ 
b. Dietas catiônicas 
Sintomas: perda do tônus muscular, diferentes graus de apatia, problemas secundários (p.ex. retenção de placenta, metrite) ; 
Prevenção: utilização de dietas pré-parto.
Controlar hipocalcemia: fazer uso de dietas aniônicas: utilizam mais ânions (Cl- e S-) que cátions (Na+ e K+), levando a uma diferença catiônica-aniônica da dieta (DCAD) negativa. 
Evitar forragens verdes (ricas em K+) – pastos de inverno; 
Restrição do consumo de Ca; OU Sais aniônicos 200 g vaca/dia;
Monitorar pH urinário (6,0 – 7,0);
FASE III
Período pós-parto (parto – ± 14-21 dias pós-parto) 
Período transição entre secreção de colostro e leite, início da involução uterina e crítico em termos de distúrbios metabólicos. 
Consumo de MS ainda reduzido 
Colostro/Leite sendo produzidos 
Vacas em BEN; 
Cetose, hipocalcemia, deslocamento de abomaso, retenção de placenta e edema de úbere podem ocorrer;
Requerimentos: 
CMS ~3% PV (14 – 18 kg MS/dia) - consumos um pouco maiores.
Ca 1,1% 
S 0,25% 
PB 19% (40% PNDR) 
P 0,5% 
NDT 75% ou ELl 1,71 Mcal/kg MS 
Mg 0,33% 
Gord 5% 
K 1,0% 
FDN 30% e FDA 21% 
Na 0,33% 
CNF 35% 
Cl 0,33%
Considerar o uso dos seguintes aditivos: 
140g de bicarbonato (evitar acidose ruminal clinica e subclínica)
12g de niacina e Drench de propilenoglicol como estartégias pare reduzir chances de esteatose hepática e cetose. 
O propileno glicol age estimulando a secreção de insulina, favorecendo a captação de ácidos graxos não esterificados e conversão deles em triglicerídeos.
Niacina é um dos componentes necessários para conversão de triglicerídeos em VLDL.
100g de levedura, melhora o ambiente ruminal. 
Quando elas estão prontas para serem agrupadas com as demais vacas?
Temperatura corporal normal (38 -39 ºC); 
Movimentos ruminais (1-2 ciclos / min) 
Teste de cetose (presença de CC na urina); 
Comportamento ingestivo (se está comendo).
DESORDENS METABÓLICAS – CETOSE E ESTEATOSE HEPÁTICA
A vaca vem de um balanço energético negativo;
Mobilizam grandes quantidades de gordura (triglicerídeos em ácido graxo livre) das reservas corporais a fim de manter a glicemia. 
Esse ácido graxo livre ganha a corrente sanguínea e chega ao fígado, normalmente ele seria oxidado a ATP ou convertido em triglicerídeo, VLD e consequentemente (se estivesse produzindo leite poderia ir e resultar em gordura no leite); 
Contudo, como a vaca está em balanço energético negativo, (se a vaca for muito gorda) ocorrerá a mobilização de muito ácido graxo livre/não esterificado. Chegará um ponto que excederá a capacidade do organismo de converter ácidos graxos livres em corpos cetônicos (voltarão pra corrente sanguínea levando a distúrbios neurológicos, onde a vaca se alimenta menos e mobiliza ainda mais gordura) ou converter triglicerídeo em VLD (acumula no fígado levando a esteatose).
Cetose: desordem metabólica caracterizada pelo aumento da concentração sérica de corpos cetônicos (acetoacetato, β-hidroxibutirato e acetona; 
Esteatose hepática: desordem metabólica causada pelo acúmulo excessivo de gordura no fígado; 
Sintomas: odor cetônico, redução no consumo de matéria seca, letargia ou comportamento errático, presença de corpos cetônicos na urina, sangue e leite;
FASE IV
Início de lactação pico de produção de leite (14 dias pós-parto – 60 DEL)
Produção de leite aumenta rapidamente,atingindo o pico 60 dias após o parto e o consumo de MS não acompanha a alta demanda de nutrientes; 
Assim, a vaca entra em balanço energético negativo e perde condição corporal; 
Cetose pode ser um problema; 
Dieta com elevadas concentrações de nutrientes e minerais; 
Evitar acidose e depressão da gordura do leite.
Como requerimento:
Vacas de alta produtividade, deve-se fornecer uma dieta com altos valores de nutrientes. Mas não ignorar o fato da acidose e depressão da gordura do leite serem problemas comuns nessa fase.
Acidose:
Com uma dieta com altas quantidades de carboidratos rapidamente fermentáveis, há o crescimento bacteriano excessivamente e por consequência uma maior formação de ácidos graxos voláteis e liberação de H+. Essa combinação reduza o pH ruminal, estimulando então as bactérias Streptococcus bovis que produzirão lactato derrubando ainda mais o pH. Surgem aí Lactobacillus que produz um lactato com um poder acidificante ainda maior causando acidose metabólica.
Esse pH baixo no rumem aumenta a sua osmolaridade, levando mais água para dentro desse rúmen e aumenta a velocidade de passagem desse alimento levando a um quadro de diarreia.
O pH baixo também mata a flora que degradará a celulose, causando a liberação na corrente sanguínea de histaminas e lipopolissacarídeos gerando um quadro de laminite.
Animais em acidose reduzirão seu consumo de alimentos – atonia ruminal.
Teor de gordura do leite
Conforme aumenta a quantidade de concentrado da alimentação, e diminuindo volumoso (fibra), por consequência uma redução no tempo de mastigação e salivação que gera uma queda do pH ruminal.
Essa queda pode levar uma redução gradativa produção de acetato, percursor da gordura e um aumento da proporção molar de propionato (percursor de lactose e glicose - diluido).
Dietas que acidificam o pH ruminal + dietas com presença de óleos: desviam a rota de biohidrogenação ruminal (saturam gorduras, para não ser tóxica) aumentando na glândula mamária a depressão da gordura no leite.
Para evitar essa depressão de gordura:
O nível de FDN da dieta não deve ser menor do que 25%, assim como 19 pontos percentuais do FDN devem ser oriundos de forragens (FDNf) – estimula a ruminação, mastigação e salivação.
Para cada 1% de redução do FDNf abaixo 19%, aumentar 2% do FDN total; 
O nível de CNF na dieta total não deve ser superior a 40% na primeira e 44% nas demais semanas desse período;
Mistura de volumoso e concentrado:
Fibra fisicamente efetiva (FDNfe): FDN que efetivamente estimula a mastigação, salivação, ruminação e motilidade; 
FDN que mantém a saúde ruminal (pH > 6.2) e o % de gordura do leite; 
Peneira:
· 19 mm 
· 8 mm 
· 4 mm 
· Fundo 
FDNfe = retido acima da peneira de malha 4 mm;
Recomenda-se multiplicar o que ficou retido pelas malhas pelo valor de FDN da dieta e ele necessariamente precisa ser 22% ou pode-se avaliar através de tabelas:
Pode ser necessário o uso de gorduras protegidas (até 5%), no intuito de se aumentar a densidade energética da dieta (sem reduzir drasticamente o teor de fibra) e controlar eventuais reduções no teor de gordura do leite e o balanço energético negativo.
Deve-se promover um aumento gradual da inclusão de concentrados, afim de controlar casos de acidose e deslocamento de abomaso.
Aumentar também a frequência do fornecimento de concentrados, quando a necessidade for acima de 8kk/MS/dia.
Pico de consumo (60-100 DEL)
Nesta fase, as vacas devem ser mantidas no pico de lactação pelo maior tempo possível; 
Como não há restrições de consumo, as vacas devem parar de perder condição corporal ou passar a ganhar pequenas quantidades diárias; 
As vacas devem emprenhar durante esse período;
· Balanço energético negativo afeta negativamente a prenhez; 
Sendo assim, os cuidados durante esse período incluem evitar a rápida queda na curva de lactação, o baixo teor de gordura do leite e eventuais balanço energético negativo.
FASE V
Segundo terço de lactação (100 – 200 DEL)
Nessa fase, a produção de leite declinará (8-10%/mês) e a vaca gestando. 
O consumo de nutrientes atende os requerimentos e a dieta deve conter cerca de 16% de PB (30% PNDR) e 65-70% de NDT; 
Os problemas potenciais nesta fase são poucos.
FASE VI
Final de lactação (200 DEL – 60 dias antes do parto) 
Nessa fase, a produção de leite estará declinando (8-10%/mês) e a vaca gestando. 
O consumo de nutrientes atende facilmente os requerimentos e a dieta deve conter cerca de 12-15% de PB (30% PNDR) e 65-70% de NDT
Como a quantidade de energia da dieta poderá ser diminuída, ela pode conter uma maior proporção de volumoso acrescido de ureia como fonte de PDR (até 70% da PB). 
Os problemas potenciais nesta fase são praticamente inexistentes.
NOVILHAS
Período de recria:
Animais de reposição;
Desmama até o primeiro parto (2 – 24 meses); 
Manejo voltado para idade e peso adequado;
Primeira cobertura ou IA (15 meses – 55% PA);
Parto (24 meses – 90% do PA);
Fornecer pastagem de qualidade; 
Concentrado (16 – 18% PB e 70% NDT); 
Formar lotes homogêneos (evitar a competição);
CUIDADOS 
Alto teor de energia: Novilhas pesadas, com dificuldade de emprenhar e com infiltração de gordura no úbere; 
Baixo teor de proteína: redução do desenvolvimento em altura/estrutura;
Subnutrição crônica: peso abaixo do desejado na época de cobertura e parição.
BEZZERRAS
Característica dos animais: Sistema digestório subdesenvolvido;
Rúmen, retículo e omaso (inativos); 
Abomaso (funcional);
Presença da goteira esofágica (Esophageal groove).
Primeiro dia: Colostro; 
Transferência de imunidade passiva (IgA, IgM, IgG); 
Deve ser consumido ao longo das primeiras 24 horas; 
Fornecidos da própria mãe ou do banco de colostro (refrigerado ou congelado); 
Banco de colostro: aquecer a 38º C;
Recomendações de dieta sólida: Fornecer a partir da primeira semana de vida.
Textura grosseira ou pellet; 
Adicionar melaço (aceitabilidade); 
Evitar forragem; 
Fornecer fibra de boa digestibilidade (p. ex. casquinha de soja, polpa cítrica); 
Estimular o consumo de água;
Desmame: 
Deve ser realizado quando os animais já consomem 1 kg de concentrado por dia (verificado ao longo de sucessivos dias) - 60 dias. 
Quando fornecer volumoso: quando os animais já consomem pelo menos 1 kg de concentrado; 
O volumoso ainda não substitui o concentrado;
A forragem deve ser de alta qualidade.

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