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Neutropenia Febril A neutropenia febril é uma condição definida pela presença de neutropenia grave associada a febre, comumente ocorrendo no nadir de um ciclo de quimioterapia (momento de máximo efeito mielossupressor), geralmente de 1 a 2 semanas após a QT. Pode decorrer também da falência de medula óssea por invasão tumoral, que não é raro nas neoplasias hematológicas, principalmente leucemia. Cabe lembrar que a neutropenia febril, mesmo que associada a pacientes em QT, pode ocorrer em pacientes que sejam neutropênicos. A NF ocorre em 10-50% de todos os pacientes com neoplasias sólidas e em mais de 80% de pacientes com neoplasias hematológicas. A neutropenia febril pós-quimioterapia antineoplásica está associada a infecções microbiologicamente documentadas em aproximadamente 40% dos pacientes, e a bacteremia responde por cerca de metade delas; a outra metade pode ser determinada por um patógeno significativo de um sítio de infecção bem definido (p. ex., urina, aspirado de abscessos, dentre outras topografias cujos fluídos são considerados estéreis). Cerca de 20% das infecções são apenas clinicamente documentadas (p. ex., pneumonia), mas sem a confirmação microbiológica, e outros 20% são classificadas como possíveis infecções. Presume-se que apenas cerca de 20% dos episódios febris não decorram de agentes infecciosos, caracterizando a febre de origem indeterminada ou a febre não explicada. O nível exato de neutropenia é um índice de risco de infecção muito útil, mas a contagem de neutrófilos, isoladamente, não retrata a dinâmica associada com a função dessas células; isto é, a infecção é muito mais provável de ocorrer com uma queda rápida da contagem de neutrófilos, como acontece nos pacientes submetidos à quimioterapia antineoplásica, do que em pacientes com neutropenia estável, como a que é vista nos pacientes com anemia aplástica ou neutropenia idiopática benigna. 1. Causas de Neutrofilia a. Produção Reduzida: - Induzida por fármacos (corticóides); - Quimioterápicos em geral; - Agentes não citotóxicos: antibióticos (cloranfenicol, penicilinas, sulfonamidas), fenotiazinas, tranquilizantes (meprobamato), carbamazepina, clozapina, determinados diuréticos, AINE, antitireoidianos, etc. - Doenças hematológicas: neutropenia idiopática, cíclica, síndrome de Chediak-Higashi, anemia aplásica - Invasão tumoral, mielofibrose, mielodisplasia; - Deficiência de B12 e folato; - Infecciosa: tuberculose, febre tifóide, brucelose, tularemia, sarampo, mononucleose infecciosa, hepatite viral, leishmaniose visceral, AIDS. b. Destruição periférica - Anticorpos antineutrófilos; - Retenção esplénica e/ou pulmonar; - Distúrbios autoimunes: síndrome de Felty, artrite reumatóide, LES; - Fármacos como haptenos: aminoporina, alfametildopa, fenilbutazona, diuréticos mercuriais, algumas fenotiazinas; - Granulomatose de Wegener; c. Acúmulo periférico - Infecção bacteriana maciça (endotoxemia aguda); - Hemodiálise; - bypass cardiopulmonar; Sempre observe primeiro o número de neutrófilos que pode ser dado pela soma de bastões mais segmentados!!! Não existe transfundir apenas neutrófilos!!! Já que esta célula tem meia vida de apenas algumas horas e sua infusão está associada a diversos efeitos colaterais. Na maioria das vezes, o paciente não vai ter foco infeccioso definido e nem sintomas que possam definir o foco, logo, devemos realizar uma ANAMNESE E EXAME FÍSICO DETALHADO! Inspeção de pele, mucosas, região perianal, sítios de inserção de cateteres. Vamos lembrar que como temos um paciente que tem sua resposta inflamatória diminuída, podemos ter uma pneumonia sem imagem ao RX de tórax ou piodermite sem resposta inflamatória exuberante local, assim como outros sintomas. 2. Etiologias Atualmente, cerca de 60% das infecções são causadas por cocos gram-positivo e 35% por bacilos gram-negativos. As infecções causadas pelas bactérias anaeróbias são incomuns no paciente neutropênico. Embora as causadas por cocos gram-positivos superem as causadas por bacilos gram-negativos, as Enterobactérias (Escherichia coli, Klebsiella spp., Enterobacter spp. entre outras) e a Pseudomonas aeruginosa ainda são os patógenos que apresentam a maior taxa de letalidade. Felizmente, a incidência de infecções por Pseudomonas aeruginosa diminuiu significativamente, de maneira universal, pelos vários centros de tratamento de câncer, embora não seja claro o motivo desta redução. Classicamente, as infecções estafilocócicas são originadas dos cateteres vasculares, comumente utilizados nesse tipo de paciente para garantir acesso venoso profundo para a realização de quimioterapia e outras finalidades terapêuticas. Ainda, dentre as infecções causadas por cocos gram-positivos, a emergência dos estreptococos do grupo Viridans é decorrente da pressão seletiva causada pelo uso profilático das fluoroquinolonas, especialmente quando associado ao uso de bloqueadores-H2 e outros antiácidos, levando, provavelmente, a um aumento das colonizações esofágica e gástrica pelos estreptococos da cavidade oral. 3. Avaliação do paciente No paciente neutropênico, a resposta inflamatória clássica apresenta-se diminuída ou até mesmo ausente, fazendo com que a hiperemia, o infiltrado inflamatório, e a capacidade de formar pus em resposta a uma infecção bacteriana estejam prejudicados. Desse modo, o paciente com infecção de pele e tecidos moles não apresentará os sinais típicos de celulite; aquele com infecção pulmonar, poderá não apresentar infiltrado na radiografia; o paciente com meningite, não apresentar pleocitose no líquido cefalorraquidiano; e aquele com infecção urinária, não apresentar piúria. Assim sendo, durante a avaliação clínica do paciente neutropênico febril, deve-se procurar atentamente por sinais e sintomas, principalmente, nos locais mais frequentemente infectados: a região periodontal; a faringe; o esôfago inferior; os pulmões; as regiões perineal e perianal; o fundo de olho; e a pele (incluindo o local de aspiração da medula óssea, o local de acesso do cateter ou do dispositivo vascular e o tecido periungueal); O exame físico deve ser realizado diariamente e minuciosamente, à procura dos mais tênues sinais ou sintomas de infecção dos diversos aparelhos, como a presença de petéquias e equimoses na pele, a hiperventilação com alcalose respiratória, o rebaixamento do nível de consciência, a hipotensão e a oligúria inexplicada, a trombocitopenia com aumento do fibrinogênio, e os distúrbios da coagulação, que podem acompanhar ou até preceder a febre. Deve-se ter ainda em mente que, os pacientes particularmente debilitados ou que fazem uso de doses elevadas de corticosteroides, podem evoluir para um quadro de septicemia fulminante sem a ocorrência da febre. NOSSA CONDUTA PRIMEIRAMENTE SERÁ: - Coleta de hemoculturas; - RX de tórax; - Exames laboratoriais básicos; - Outros exames pertinentes de acordo com a clínica do paciente. 4. Exames complementares O exame do líquido cefalorraquidiano não está indicado como procedimento de rotina na investigação do quadro de neutropenia febril pós-quimioterapia, a não ser que haja suspeita de infecção do sistema nervoso central, em razão dos riscos da trombocitopenia. A investigação radiológica de comprometimento pulmonar deve ser realizada, quando houver sinais e sintomas de infecção respiratória, por meio da radiografia simples, podendo ser complementada com a tomografia computadorizada de alta resolução do tórax, uma vez que esta última é capaz de revelar infiltrado pneumônico em mais da metade dos pacientes cuja radiografia simples foi interpretada como normal. Quando houver lesões cutâneas, está indicada a punção e/ou a biópsia para a realização do exame citológico e/ou histológico, da coloração pelo Gram, da pesquisa de fungos e micobactérias, e das culturas. 5. Fatores associados com risco de desenvolvimento de infecção a ocorrência da lesão da mucosa de todo o trato g trointestinal pela própria quimioterapia antineoplásica, a presença de dispositivos intravasculares, o uso de corticosteroides,a presença de fenômenos obstrutivos das vias naturais por massas de tecido neoplásico (p. ex., trato urinário, trato gastrointestinal, trato respiratório), todos importantes para o desenvolvimento de infecção no paciente neutropênico; foram adicionados a essa lista, com o passar dos anos, fatores como a deficiência sérica congênita da manose ligada à lecitina, um importante componente do sistema imune. Outro fator analisado relaciona a intensidade da quimioterapia antineoplásica com o índice de infecção, quanto maior a intensidade e a agressividade do tratamento, maior é o índice de infecção. Após isso, deve ser instituído antibioticoterapia empírica de amplo espectro para cobrir pseudomonas (CEFEPIME)!!! Outros betalactâmicos com cobertura antipseudomonas podem ser utilizados (ceftazifime, imipenem, meropenem, piperacilina/tazobactam..). Quando há presença de MRSA, a adição de vancomicina ou linezolida ao esquema inicial se faz necessária! Lembrar que devemos usar essa medicação com cautela para que não haja risco de desenvolvimento de VRE (enterococo resistente à vancomicina). Além disso, seu acréscimo deve ser considerado caso haja crescimento de gram-positivo nas hemoculturas ou piora clínica significativa. Associar antifúngico se o paciente mantiver febre por mais de 4 a 7 dias de ATB, ou quando a duração prevista de neutropenia for superior a 7 dias (anfotericina B lipossomal, caspofungina e voriconazol). Caso os exames venham negativos para investigação fúngica, suspender a medicação. Sempre checar os resultados das culturas para direcionar a ATB!!! Em uso empírico de vancomicina, caso a hemocultura não evidencie gram-positivo, deve ser suspensa a ATB. A ATB só deverá ser suspensa se for indicada o sítio de infecção ou se a contagem de neutrófilos atingir 500/mm3 e o paciente esteja afebril. Caso a febre ceda e o paciente continue neutropênico, várias referências indicam manter o ATB por 14 dias. 6. Nível de risco de infecção de baixo risco no paciente neutropênico febril Fatores associados com baixo risco de complicações e maior taxa de resultados favoráveis: Os fatores que sugerem baixo risco para infecção grave entre pacientes com neutropenia: Outro sistema, para aplicação em crianças com neutropenia febril é através da avaliação pelos monócitos!! Crianças que apresentarem contagem absoluta de monócitos ≥ 100 células/ mm3 , sem comorbidades, e com radiografia de tórax normal são consideradas de baixo risco para infecções bacterianas significativas. Paciente de baixo risco deve ser elegível para tratamento ambulatorial, após uma breve internação hospitalar, durante a qual a terapia endovenosa seria iniciada, observada e afastada a possibilidade de infecção fulminante, e averiguado o estado inicial das amostras de culturas. 7. Nível de risco de infecção grave no paciente neutropênico febril Quando o paciente apresenta qualquer uma das condições abaixo, ele já é classificado como alto risco para complicações infecciosas, durante o período febril e de neutropenia pós-quimioterapia. Alternativamente, pode-se utilizar a escala de MASCC para estratificar o risco de infecção. Quais situações podemos iniciar ATB oral no lugar de cefepime? PACIENTES DE BAIXO RISCO que podem ser tratados ambulatorialmente com amoxicilina-clavulanato + ciprofloxacina oral! MASCC (valor preditivo positivo de 91%, especificidade de 68% e sensibilidade de 71%) Não há necessidade de fazer profilaxia para neutropenia febril! Dado que não há impacto na sobrevida, além de aumentar o risco de infecção por bactérias resistentes. Em um contexto de neutropenia grave, <100 células/mm3 e duração >7 dias, geralmente, é utilizado fluoroquinolona e algumas referências também recomendam antifúngico profilático. O uso de fatores estimuladores de colônia (G-CSF), como o filgastim (Granulokine) reduziu o tempo de neutropenia, mas não houve redução na mortalidade dos pacientes graves, não sendo indicado de rotina no tratamento para neutropenia. Contudo, de forma profilática, apenas algumas quimioterapias agressivas, associadas a altos índices de neutropenia febril (>20% dos tratamentos), utilizam esse medicamento pós QT. Entretanto, essa medicação não é isenta de efeitos colaterais e tem alto custo! 8. Recomendações quanto aos cuidados ambientais para os pacientes neutropênicos febris - Higiene de mãos (prevenção de infecções adquiridas em ambientes hospitalar); - Alimentos bem cozidos e lavados, evitando os pré-preparados. - Higiene pessoal (banhos diários, cuidado com região perineal e pontos de inserção de cateteres, cavidade oral, dentária) - Pacientes com mucosite oral devem higienizar 4-6cx por dia com solução de água estéril ou soro fisiológico sobre game. - Plantas e animais devem ser evitados devido ao encontro de fungos filamentosos (Aspergillus spp e Fusarium spp.)
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