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Osteoporose – Dra Joara Martins 1 Osteoporose A osteoporose é uma desordem esquelética cuja principal característica é o comprometimento da força ou da resistência óssea, predispondo ao aumento do risco de fratura – contribuem para a diminuição da resistência fatores como redução da massa óssea e alterações estruturais na microarquitetura das trabéculas. De modo geral, pode ser dividida em primária ou secundária, sendo que a primeira está relacionada ao envelhecimento e a segunda é derivada de doenças sistêmicas ou condições que acelerem a perda de massa óssea. A osteoporose primária ainda pode ser classificada em tipo I pós-menopausa, em que ocorre alta reabsorção óssea pelo aumento da atividade osteoclástica (mulheres > 50 anos), ou em tipo II senil ou de involução, em que a reabsorção óssea é normal ou ligeiramente aumentada, associada a uma atividade osteoblástica diminuída (mulheres > 70 anos e homens). A osteoporose secundária tem como causas hipercortisolismo, hipertireoidismo, pós-gastrectomia, hiperparatireoidismo, doenças reumáticas inflamatórias, entre outras. É a enfermidade do esqueleto de maior incidência mundial e a segunda causa de morbidade musculoesquelética nos idosos, afetando mais de 200 milhões de pessoas no mundo e causando grande impacto econômico e social. O pico de massa óssea é atingido em torno dos 20 anos, de modo que quanto maior a proporção, menor o risco de osteoporose no futuro. Como fatores que influenciam esse pico tem-se ingestão de cálcio, genética, hormonal (estrógeno é protetor), peso corporal (pessoas magras e caucasianas aumentam o risco) e exercício físico. Fisiopatologia: o osso é um tecido complexo e ativo que tem seu metabolismo regulado por uma complexa interação entre células e por um conjunto de hormônios, citocinas e fatores de crescimento. Além disso, tem-se influência de fatores genéticos e ambientais e dependência do funcionamento de outros órgãos como os rins e o trato gastrointestinal. Cerca de 70% do tecido ósseo é mineral representado pela hidroxiapatita, enquanto que a água representa 8% e o componente orgânico 22% - principalmente com colágeno tipo I. O tecido ósseo está em constante remodelação através de processos de reabsorção promovida pelos osteoclastos e formação óssea pelos osteoblastos. Para isso, a molécula RANKL é sintetizada pelos osteoblastos e se liga ao receptor RANK nos osteoclastos e seus precursores. Assim, ocorre liberação de M-GFS e diferenciação do osteoclasto maduro, esse que possui microvilosidades e forma um anel adesivo na superfície óssea, além de liberar ácidos – lático, carbônico e cítrico, prótons e proteases como a catepsina K e colagenases para desmineralizar a hidroxiapatita. Esse processo ocorre por um mecanismo de equilíbrio em que a reação é deslocada para a direita, tendo liberação de cálcio para o meio extracelular. Osteoporose – Dra Joara Martins 2 Todavia, essa perda deve ser balanceada, de modo que, à medida que ocorre essa desmineralização tem- se liberação de TGF- e IGF-1, mediadores que participam do processo de estímulo dos osteoblastos para que eles possam contrabalancear a perda óssea, além de reduzir a apoptose dessas células. Então os osteoblastos podem promover a deposição de matéria orgânica (osteoide), além de liberar fosfatase alcalina que hidrolisa o pirofosfato, fato que permite a cristalização de sais de fosfato e cálcio e a mineralização da matriz óssea. Os osteoblastos totalmente circundados pela matriz óssea são denominados osteócitos, esses que ajudam a controlar a formação e a reabsorção óssea, já que secretam esclerostina – para inibir a formação óssea – e outros fatores. Os osteoblastos também produzem a osteoprotegerina (OPG), essa que inibe a reabsorção óssea. Ela funciona como uma isca que se liga ao RANKL e impede que ele se ligue ao RANK no osteoclasto. Nota-se que fatores como vitamina D, paratormônio e glicocorticoides favorecem a atividade osteoclástica por também reduzir a formação de OPG. O corticoide aumenta a reabsorção óssea e diminui a formação óssea, de modo que reduz ação da vitamina D, aumenta excreção de cálcio, aumenta RANKL, diminui a osteoprotegerina no tecido ósseo, aumenta apoptose de osteoblastos e diminui fatores de crescimento – principalmente no início do uso do medicamento, devendo orientar associação com cálcio e vitamina D. Em contraposição, o estrogênio estimula a produção de OPG. Eles serão importantes para manutenção da formação óssea e redução do remodelamento e da reabsorção óssea. Assim, um quadro de menopausa com redução desses hormônios pode facilitar mecanismos redução da densidade mineral óssea. Sabe-se que a redução da densidade mineral óssea pode contribuir para um quadro de osteoporose, em que se tem menor apoptose de osteoclasto – aumentando sobrevida – e redução da sobrevida do osteoblastos e dos osteócitos por aumento da apoptose. Além disso, tem-se aumento da produção de citocinas ativadoras de osteoclastos, fato que promove maior reabsorção óssea e cavidades mais profundas no osso, deixando-o mais frágil e com maior probabilidade de fratura. Sabe-se que 1 a cada 2 mulheres caucasianas terão uma fratura relacionada a osteoporose, sendo que apenas 40% voltam ao nível de independência pré-fratura, fato que aumenta o custo para a sociedade. As fraturas típicas são colo de fêmur, punho e coluna vertebral, tendo como complicações pós-fratura de fêmur infecções, trombose venosa profunda, tromboembolismo pulmonar, falha de fixação, necrose avascular, luxação da prótese e morte. Diagnóstico: na história clínica deve-se identificar fatores de risco como história pessoal de fratura na vida adulta, história de fratura em parente de 1º grau, história atual de tabagismo, baixo peso (< 57kg) ou IMC < 18,5, uso de glicocorticoides (> 5mg/dia, 3 meses), idade avançada, deficiência de estrógeno, baixa ingesta de cálcio durante a vida, atividade física inadequada, alcoolismo (> 3 doses de álcool/dia), quedas recentes, demência, déficit de visão, dieta rica em café e saúde fragilizada. Como medicações que aumentam fator de risco para osteoporose tem-se inibidores da aromatase, análogos de GnRH, terapia antirretroviral, medroxiprogesterona, anticonvulsivantes, anticoagulantes, heparina, tamoxifeno, inibidores da bomba Osteoporose – Dra Joara Martins 3 de prótons, inibidores seletivos da recaptação de serotonina, entre outros. No exame físico deve-se analisar IMC, perda de estatura (> 2 cm de um ano para o outro ou 4 cm da altura com 25 anos) e presença de cifose. Dentre os exames laboratoriais deve-se pedir níveis de cálcio, fosfatase alcalina, 25 OH-vitamina D, fósforo, calciúria de 24h e PTH intacto. Além disso, alguns exames podem auxiliar na definição do diagnóstico diferencial, como LH, testosterona, FSH, progesterona, eletroforese de proteínas, creatinina, hemograma, VHS, T4 libre, TSH, anti-endomísio, antitransglutaminase, enzimas hepáticas, entre outros. Para seguimento e resposta ao tratamento pode-se pedir marcadores do remodelamento ósseo como o CTX, esse que marca reabsorção e reduz 30% dos seus níveis com o tratamento antirreabsortivo. O P1NP é um marcador de formação óssea, sendo que aumenta em 40% com o tratamento anabólico. Como exames de imagem realiza-se densitometria óssea e radiografia de coluna toraco-lombar em perfil para avaliação de fraturas. O diagnóstico pode ser confirmado por densitometria óssea ou por fratura de fragilidade óssea. Na densitometria deve-se avaliar os três sítios: coluna (média da densidade de L1, L2, L3 e L4), colo de fêmur e fêmur total. O Z score é usado para pacientes que não estão na menopausa, crianças e jovens, enquanto que o T score é usado para idosos e menopausadas – considera o pior sítio para o diagnóstico de osteoporose. Para cada desvio padrãoabaixo da média eleva-se 1,5 a 3 vezes o risco de fraturas osteoporóticas, dependendo do sítio ósseo. Por fragilidade o corpo vertebral vai impactando com o passar do tempo, podendo promover um acometimento anterior, bicôncavo ou posterior, além da classificação contar com graus leve, moderado e grave – ressonância ou tomografia para confirmar a impactação. Após a primeira fratura vertebral, o risco de ter fraturas vertebrais subsequentes aumenta de duas a quatro vezes. Tratamento: o tratamento farmacológico é indicado para mulheres pós-menopausadas e homens acima de 50 anos com fraturas vertebrais ou de quadril e/ou T-score < 2,5 no colo de fêmur, coluna lombar e quadril total. Se o paciente tem osteopenia deve-se avaliar a necessidade ou não dos bisfosfonatos – usando quando presença de fatores de risco, sendo que o uso de vitamina D e cálcio vai ser instituído para todos. A ferramenta FRAX foi desenvolvida para calcular o risco de fratura do paciente, sendo que uma probabilidade de fratura > 20% ou de fratura de quadril > 3% o uso de bisfosfonatos deve ser implementado. De acordo com os guidelines a terapêutica deve ser instituída se T score < 2,5 sem fatores de risco ou se < 1,5 e presença de fatores de risco. Além disso, faz-se necessário a modificação do estilo de vida, como cessação de tabagismo, limitação do consumo de álcool, dieta com restrição de sódio, ingestão adequada de cálcio e vitamina D e programação de exercícios físicos para ajudar no ganho e na manutenção de massa óssea. Os exercícios físicos resistidos, supervisionados, que envolvam fortalecimento de quadríceps e com suporte do próprio peso devem ser recomendados para pacientes na pós-menopausa com diagnóstico de osteoporose ou osteopenia, uma vez que se encontram associados com redução do número de quedas. Nos idosos deve-se evitar sedativos de longa duração, atentar para hipotensão e orientar a respeito de não encerar o assoalho, evitar tapetes, evitar pequenos degraus entre os ambientes, não guardar objetos em prateleiras altas, colocar barras de segurança no banheiro, entre outros. A terapia medicamentosa pode ser feita por drogas antirreabsortivas (bisfosfonatos, denosumabe, terapia hormonal, calcitonina e reposição hormonal) e pró-formadoras (teriparatida). Em mulheres sadias > 50 anos Osteoporose – Dra Joara Martins 4 a necessidade diária de cálcio é de 1200mg, enquanto que em mulheres com osteoporose, em uso de corticoides, grávidas, amamentando e acima de 65 anos precisam de 1500mg. De preferência o paciente deve aumentar a ingestão de cálcio pela dieta, realizando a suplementação se necessário. O carbonato e o fosfato tribásico de cálcio são os que contêm a maior disponibilidade de cálcio (40%), mas o citrato de cálcio também pode ser usado (21%), sendo uma opção para nefrolitíase, pós-gastrectomia ou pós-bariátrica. Os níveis adequados de vitamina D promovem redução significativa de fraturas, empregando no mínimo 1.000 UI por dia para manter os níveis de 25OHD > 30ng/mL. Se estiver < 20ng/dL utiliza-se 50.000 unidades de colecalciferol por semana durante três meses, depois mantendo com a posologia de 1.000UI. Em pacientes com hipercalciúria com > 4mg/kg/24h deve-se associar um tiazídico. Os bisfosfonatos orais são os primeiros a serem utilizados no tratamento da osteoporose, como o alendronato (70mg/semana), esses que são análogos do pirofosfato com estrutura tridimensional que se fixa a cátions bivalentes, tendo afinidade por superfícies ósseas em remodelamento – não devem ser administrados em pacientes com depuração de creatinina < 30mL/min. Assim, eles serão internalizados por osteoclastos e promovem perda da função e apoptose dessas células, inibindo a atividade de reabsorção óssea – fato que reduz o risco de fratura vertebral, não vertebral e de quadril. Eles devem ser administrados de manhã, em jejum, e com 250mL de água, sendo que a ingestão de alimentos ou líquidos só deve ocorrer após 30 minutos e o paciente deve permanecer na posição ereta por esse mesmo tempo. Como efeitos colaterais pode-se ter pirose, esofagite, fratura atípica na diáfise (por diminuir o turn over ósseo), sintomas flu-like e osteonecrose de mandíbula (raro). Utiliza-se por 5 anos seguidos VO ou 3 anos IV, fazendo uma pausa e reavaliação – mantendo cálcio e vitamina D. O denosumabe (60mg SC a cada 6 meses por até cinco anos) é um anticorpo monoclonal sintético anti- RANKL, molécula expressa nos osteoblastos que pode se ligar ao RANK nos osteoclastos e promover o mecanismo de reabsorção óssea. Assim, promove efeito similar ao da osteoprotegerina, promovendo a inibição da formação e ativação dos osteoclastos por impedir a interação do RANK ao RANKL. Desse modo, aumenta a densidade mineral óssea e reduzem o risco de fraturas vertebrais, não vertebrais e de quadril – pode ser usado para pacientes com insuficiência renal. Os moduladores seletivos dos receptores de estrógenos (MSRE), como o raloxifeno, atua como um agonista ao estrógeno no osso, aumentando a apoptose de osteoclastos e inibindo a apoptose de osteoblastos. Todavia, nas mamas ele atua como efeito antagonista para que não aumente a proliferação do tecido mamário – que poderia causar câncer. O tamoxifeno é agonista no osso e no endométrio – podendo aumentar o risco de câncer endometrial – e é antagonista na mama. O bazedoxifeno aumente a densidade mineral óssea e possui eficácia similar ao dos bisfosfonatos na redução de fraturas osteoporóticas. Eles estabilizam e aumentam moderadamente a densidade mineral óssea, de modo que promovem redução do risco de fraturas por compressão vertebral. A calcitonina liga-se a um receptor acoplado a proteína G nos osteoclastos e o ativa, tendo diminuição da atividade reabsortiva dessas células. Além disso, aumenta a excreção de cálcio pelos rins e reduz a reabsorção óssea por reduzir a mobilização de cálcio dos ossos. A calcitonina sintética é obtida do salmão Osteoporose – Dra Joara Martins 5 e usada na forma de spray nasal ou via subcutânea, podendo ter efeito reduzindo o risco de fatura vertebral e promovendo um discreto aumento na densidade mineral óssea. Como efeitos adversos pode causar náuseas, urticária, edema nas mãos e cólica intestinal. A teriparatida promove ações semelhantes à do paratormônio e pode ser usada por 18 a 24 meses. O PTH promove diferenciação de precursores de osteoblastos e o tempo de sobrevivência de osteoblastos e osteócitos, tendo um efeito anabólico quando presente de forma intermitente para favorecer o crescimento ósseo. Assim, pode-se realizar uma administração de forma subcutânea, que atinge concentração máxima em cerca de 30 min e meia vida de cerca de uma hora, fato que gera elevação da densidade mineral óssea e promove redução do risco de fraturas vertebrais e não-vertebrais em homens e mulheres com osteoporose. Como efeitos adversos cita-se maior incidência de osteossarcoma por aumentar o crescimento ósseo, sendo contraindicado em pacientes com risco para esse tipo de câncer – terapia não pode ultrapassar 2 anos.
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