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Transtornos alimentares Distúrbios dos hábitos alimentares ou dos comportamentos voltados ao controle de peso que resultam em um importante prejuízo da saúde física e/ou do funcionamento psicossocial do indivíduo. Epidemiologia: 0,3% para Anorexia nervosa e 1% para bulimia nervosa, idade de início é na faixa dos 10-19 anos, sendo as mulheres mais acometidas. Ocupações e esportes de risco: modelos, ginastas, atrizes, patinadoras, maratonistas, profissionais da área de saúde. *O abuso físico também parece aumentar o risco. Fisiopatologia Etiologia multifatorial bem estabelecida, sendo especialmente impactantes as influências socioculturais. Anorexia nervosa Síndrome caracterizada por baixo peso com comportamentos voltados à manutenção deste, distorção da imagem corporal, medo intenso de engordar, sendo este o elemento psicopatológico central, além de alterações endócrinas que levam à amenorreia. Quadro clínico Mulher jovem, levada a contragosto à consulta por familiares, bastante preocupados com a sua perda de peso e restrição dietética extrema. Grande preocupação com o peso e a forma corporal, inexorável busca pela magreza, podem envolver-se em métodos purgativos e atividades físicas excessivas. Algum grau de distorção da imagem corporal, acreditando que estão obesas ou que uma parte específica do corpo está muito grande, a motivação para a dieta pode ser manifestada como uma queixa somática, ex. dor ou desconforto abdominal. Alto grau de rigidez, perfeccionismo e introspecção, a autoestima baixa pode reforçar comportamentos alimentares, uma vez que a perda de peso é vivida como uma conquista, e não como um problema. Podem ter especial interesse em culinária, apesar de evitarem comer em público. Até metade dos indivíduos descreve episódios de compulsão alimentar, o que dispara comportamentos compensatórios. Alguns chegam a ter medo de que calorias possam ser ganhas em situações diárias, como escovar dentes e passar batom, hidratante ou protetor solar. Diagnóstico diferencial Bulimina nervosa Transtorno do humor TOC Fobias Transtorno dismórfico corporal Abuso de substâncias Iatrogenia medicamentosa Doenças orgânicas Comorbidades são mais regra do que exceção: transtornos de ansiedade e de personalidade, transtornos depressivos, abuso/dependência de substâncias. Tratamento Tratamento ambulatorial, estabelecimento de um bom vínculo com o doente, facilitando sua colaboração. Critérios de internação: IMC < 14 ou rápida perda ponderal (> 1kg/sem.) Necessidade de separação do ambiente familiar ou social Resistência ao tratamento Complicações clínicas graves Falha do tratamento extra-hospitalar Risco de suicídio ou autoagressão Ausência de suporte familiar ou social Terapia nutricional: estima-se um ganho de 0,5 kg/semana em pacientes ambulatoriais e 0,5-1 kg/semana nas internações. Não existe evidência para uso de nenhuma medicação específica. Na fase aguda, podem ser utilizados para redução de sintomas específicos (antipsicóticos para a distorção de imagem corporal, ISRS para compulsões/ideias obsessivas e BZDs para a ansiedade antes da refeição) ou comorbidades psiquiátricas, com a observação de que frequentemente esses sintomas melhoram com a recuperação do peso. Bulimia nervosa Conota um estado patológico de voracidade. O episódio em si não ocorre apenas como um meio exagerado de saciar a fome, mas também como um reflexo de estados emocionais ou situações de estresse. Os binges são definidos como episódios de ingestão alimentar excessiva, acompanhados de sensação de perda do controle, são secretos e rápidos, e cessam apenas por mal-estar físico, chegada de outras pessoas ou quando a comida acaba. Quadro clínico Inicia-se com uma dieta para reduzir peso, decorrente da insatisfação com o corpo e baixa autoestima, muitas sentem que só serão aceitas socialmente se atingirem os padrões desejados pela sociedade. A fome e a tensão emocional (frustrações, rejeições, angústia, solidão) costumam ser os gatilhos para um episódio bulímico, levando a um grande desespero em virtude do medo que têm de engordar. Os repetidos binges são clinicamente marcantes neste transtorno, e chega-se a ingerir mais de 3.000kcal em um único episódio, os alimentos são na maioria das vezes carboidratos e gorduras (evitados em sua dieta regular). Este descontrole leva a evitar o ganho de peso por meio de comportamentos compensatórios, como jejum, restrição alimentar e exercício excessivo. Com o passar do tempo, descobrem que purgar, por meio de vômitos, laxantes, diuréticos ou enemas, pode ser uma solução mais fácil para o controle do peso, tornando-se escravas de um duradouro ciclo de bulimia-purgação. A culpa e a vergonha por essa prática são bastante comuns. É comum que evitem situações de exposição à comida, ex. comer em público, nas quais controlar a alimentação seja difícil, trazendo grande impacto aos relacionamentos pessoal e social. Complicações HO, arritmias e miocardiopatias Constipação, esofagite, gastrite, sangramento gastrintestinal Hipocalemia, acidose e alcalose metabólica Aumento de glândulas parótidas pela prática dos vômitos Erosão de esmalte dentário e cáries Aumento da frequência de convulsões Sinal de Russell* e petéquias Irregularidade menstrual Diagnóstico diferencial Doenças gastrintestinais Síndromes neurológicas e genéticas Transtornos psiquiátricos (depressão atípica) e outros transtornos alimentares Comorbidades: transtornos depressivos, transtorno afetivo bipolar, transtornos do impulso e abuso/dependência de substâncias, TP borderline e histriônico. Tratamento Critérios de internação Complicações médicas Ciclos incoercíveis de compulsão-purgação Risco de suicídio Baixo controle de impulsos TCC + ADs Uso de ADs é bem estabelecido, sendo ISRS a 1º linha. A única substância aprovada pela FDA é a fluoxetina e recomenda-se uso de doses elevadas (60-80 mg/dia). Nos casos de maior comorbidade, impulsividade ou pouca resposta, o uso de topiramato torna-se uma opção. Transtorno da compulsão alimentar Início no fim da adolescência, caracteriza-se pela presença de episódios de compulsão alimentar (ingestão excessiva de alimentos com perda de controle) associados à angústia e arrependimento, mas sem levar a comportamentos compensatórios direcionados ao controle do peso. Os episódios compulsivos não são exclusivos dos obesos, embora o aporte calórico e a frequência da compulsão geralmente levem à obesidade na maioria dos casos. A preocupação com o próprio comportamento alimentar, a sensação de dissociação durante o episódio de descontrole e a racionalização das causas do binge podem ajudar na diferenciação entre TCA e hiperfagia/obesidade sem compulsão. Traços de personalidade em comum nos indivíduos acometidos pelo TCA, incluindo impulsividade, pensamento dicotômico (“tudo ou nada”), autocrítica excessiva e baixa autoestima. São pacientes que têm grande preocupação com a maneira errática de lidar com a alimentação. Diagnóstico diferencial Bulimia nervosa Obesidade Síndrome do comer noturno Depressão atípica Tratamento Orientação nutricional + psicoterapia + psicofármacos ISRS são os fármacos mais utilizados, entretanto, outros ADs e o topiramato apontam resultados positivos na redução dos episódios de compulsão alimentar. Abordagem farmacológica tem resultados positivos no controle da compulsão alimentar, porém não mostra evidência de impacto na redução de peso.
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