Prévia do material em texto
DESCRIÇÃO Tributos no comércio exterior e seu papel na Administração Aduaneira. PROPÓSITO Entender como os tributos federais e estaduais incidem sobre as operações de comércio exterior, tanto na importação quanto na exportação, além de inteirar-se das funções exercidas pelo Imposto de Importação ao longo da história e seus efeitos sobre a economia do país. PREPARAÇÃO Antes de iniciar o estudo, é importante ter em mãos a Constituição da República, de 1988; o Código Tributário Nacional, especialmente, os artigos que vão do 19 ao 28; o Decreto-Lei nº 37/1966 com as suas alterações, considerando a lei básica aduaneira; e o Regulamento Aduaneiro, aprovado pelo Decreto nº 6759/2009. OBJETIVOS MÓDULO 1 Reconhecer a importância dos tributos incidentes sobre o comércio exterior em face da concorrência internacional MÓDULO 2 Identificar a função regulatória exercida pelos Impostos de Importação e de Exportação MÓDULO 3 Diferenciar os demais tributos incidentes sobre o comércio exterior Fonte: Travel mania / Shutterstock INTRODUÇÃO Vamos compreender a função que exercem os impostos sobre a importação e sobre a exportação, e como repercutem no panorama econômico brasileiro. Vamos entender, também, as razões das diversas maneiras como se apresentam as renúncias fiscais, particularidade que distingue o Direito Aduaneiro dos demais ramos do Direito. O dinamismo do comércio exterior, que deriva da evolução dos meios de troca e de pagamento entre exportadores e importadores, dos processos de unitização de carga que promovem a modernização de portos, aeroportos e pontos de fronteira, e a assinatura de tratados e convenções, visando à uniformização de procedimentos pelas alfândegas do mundo afora, conduzem, inevitavelmente, à necessária e permanente adaptação da legislação interna no que respeita ao comércio internacional. Assim, vamos estudar os processos de despacho aduaneiro de mercadorias, traduzidos nos chamados regimes aduaneiros, entendidos como o conjunto de atos e procedimentos para o qual contribuem importadores e exportadores, com vistas à liberação e entrega de bens após a inspeção feita pelas autoridades fiscais. Como complemento natural, vamos analisar os tributos que incidem sobre o comércio exterior, haja vista que, no regime federativo, não só o governo central tributa mercadorias nacionais e estrangeiras. Destinadas ao consumo no país, nas importações, por exemplo, incidem os impostos sobre a venda interna da mercadoria, competência atribuída, não só ao governo federal, como, também, aos estados. MÓDULO 1 Reconhecer a importância dos tributos incidentes sobre o comércio exterior em face da concorrência internacional BARREIRAS ADMINISTRATIVAS E TÉCNICAS Fonte: Travel mania / Shutterstock Neste módulo, examinaremos as barreiras impostas aos operadores do comércio com outros países, ou seja, iremos conhecer as exigências de natureza fiscal e administrativa que têm que ser cumpridas por todos aqueles que se propõem a ingressar com mercadorias no território nacional ou que promovam a saída de produtos nacionais ou nacionalizados através das nossas fronteiras, sejam terrestres, aéreas ou aquáticas. As barreiras administrativas e técnicas consistem em medidas adotadas pelos governos ou pelas empresas privadas, com o objetivo de restringir o acesso de produtos estrangeiros a seus territórios, com prejuízo sensível para o livre comércio entre as nações, objetivo maior do Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio, conhecido como GATT. javascript:void(0) É preciso notar, porém, que nem todas as práticas consideradas restritivas ao comércio são condenadas pelo órgão multilateral de comércio. A condição básica para o reconhecimento de barreira, sem dúvida, é a constatação do prejuízo causado ao país que se vale do recurso ao Órgão de Solução de Controvérsias da OMC. ACORDO GERAL SOBRE TARIFAS ADUANEIRAS E COMÉRCIO Acordo internacional estabelecido em 1947, visando promover o comércio internacional e remover ou reduzir barreiras. ATENÇÃO O comitê gestor do Acordo sobre Barreiras Técnicas, da Organização Mundial de Comércio (OMC), que já possui mecanismos de solução de controvérsias, vem desenvolvendo estudos com o objetivo de ampliar a proteção aos países importadores e exportadores contra práticas desleais que coloquem em risco a inviolabilidade das cargas e das pessoas, o meio ambiente, a saúde e a segurança nacional, além de outros pontos que se mostram vulneráveis diante do crescimento do comércio internacional. As medidas adotadas, nesse sentido, buscam preservar os objetivos gerais previstos no GATT, quais sejam, entre outros, eliminar as barreiras tributárias e não tributárias impostas por alguns países e que afetam o livre comércio. O crescimento das trocas internacionais justifica essa preocupação, visto que, em um ambiente de perfeita transparência nas transações, todos os países tendem a crescer, pois o comércio internacional, como se diz, é “uma via de mão dupla”. A intensificação do intercâmbio comercial, contudo, gera, além disso, um acirramento da concorrência e a reserva de mercado, com detrimento da liberdade das trocas. EXEMPLO Práticas, como, por exemplo, o dumping, a concessão de subsídios, os contingenciamentos, e muitas outras, produzem efeitos diversos e nocivos a todos os protagonistas do comércio internacional. Tais imposições têm sempre como justificativa — ou pretexto — proteger a vida humana ou animal, os recursos naturais e o meio ambiente. Verifica-se, assim, verdadeira antinomia de propósitos entre os países-membros da OMC que firmaram o acordo visando à eliminação de barreiras ao comércio, e as práticas condenadas pela OMC adotadas por esses mesmos países signatários. Vale notar que se tornou frequente a adoção, por alguns países, de medidas fitossanitárias, sob a alegação de prejuízo ao meio ambiente, o estabelecimento de regulamentos técnicos arbitrários, de concessão de subsídios de toda espécie, e a fixação de quotas quantitativas de entrada de produtos. Essas medidas são tomadas em substituição às tarifas alfandegárias, único instrumento permitido pela OMC para o fim de regular o comércio internacional e proteger a indústria nacional. É do interesse de todos e necessário, para a elevação do nível de vida e o bem-estar das populações, que o intercâmbio comercial seja livre de barreiras impostas pelos países, quando denotam violação das regras dispostas nos acordos bi ou multilaterais firmados. Por ocasião da assinatura do GATT, o comércio internacional padecia de séria proteção, mediante a imposição de elevadas alíquotas do Imposto de Importação, que inibiam as trocas de produtos. Várias negociações foram realizadas, no período que antecedeu a assinatura do acordo, para que as tarifas aduaneiras fossem reduzidas e o comércio intensificado. No Brasil, antes da conclusão da rodada uruguaia do GATT, encerrada em 1994, as alíquotas atingiam níveis proibitivos. Além disso, as quotas e os contingenciamentos utilizados na importação de bens tornavam o Brasil um dos países mais protecionistas do mundo. Fonte: Wikipedia A partir de 1995, ano de criação da OMC, que coincidiu com a assinatura do acordo base para a criação do Mercado Comum do Sul (Mercosul), a política de comércio exterior do país alinhou-se à dos demais signatários do acordo, provocando a redução das alíquotas do imposto e adotando, em contrapartida, as medidas compensatórias de práticas comerciais abusivas ou ilegais. É de se ressaltar que as restrições às exportações, como adotadas por alguns países, também são prejudiciais ao comércio mundial, na medida em que encarecem a matéria-prima e os produtos intermediários produzidos naquele país e utilizados nos processos de industrialização do país de destino das exportações. Torna-se oportuno salientar que as chamadas regras de origem, que têm por fim assegurar a transparência nastransações comerciais, podem constituir séria barreira ao comércio caso sejam adotadas sem critérios razoáveis e estritamente técnicos e econômicos. Essas regras são instituídas mediante a apresentação obrigatória do Certificado de Origem nas importações originárias de países com os quais tenham sido firmados acordos de redução tarifária. Na hipótese de modificação significativa, de forma a se considerar produto novo, é imprescindível que a classificação tarifária do produto tenha sido alterada em função da transformação. No caso específico do Mercosul, é considerado originário do país o produto que tenha incorporado o máximo de 40% do valor FOB (Trata-se do valor da mercadoria no local de embarque.) do produto final, em insumos de terceiros países. Assim também, as operações de montagem permitem a incorporação de no máximo 50% de materiais oriundos de terceiros países, para que possa ser considerado originário do país signatário do acordo. javascript:void(0) CERTIFICADO DE ORIGEM NAS IMPORTAÇÕES ORIGINÁRIAS São, assim, considerados originários de determinado país os produtos elaborados integralmente no território desse país, que no seu território tenham sido objeto de modificação no seu estado ou na sua natureza, de modo a serem considerados produtos novos, ou que atendam ao percentual, acordado entre os países, de matérias-primas ou produtos intermediários produzidos no país de origem. RESUMINDO É importante assinalar que interesses comerciais ou circunstanciais podem provocar distorções consideráveis no comércio entre as nações, o que deve ser combatido pelos países que se sintam prejudicados, mediante o ingresso junto ao órgão de Solução de Controvérsias da OMC com vistas a preservar o livre comércio, objetivo maior do acordo. DEFINIÇÃO E TIPOS DE TRIBUTOS, FATO GERADOR E INCIDÊNCIA As importações e as exportações são regidas pelo chamado Regime Aduaneiro, que consiste no tratamento jurídico-tributário disposto na legislação vigente e dispensado às operações com mercadorias importadas ou exportadas, objeto de controle pelas alfândegas. Traduzem-se, também, como regras que disciplinam a entrada e a saída de bens no âmbito do território nacional. Fonte: 3DDock / Shutterstock Fonte: Christoph Burgstedt / Shutterstock Como regra, toda mercadoria que ingressa no território aduaneiro é passível de tributação. Todavia, considerando a natureza extrafiscal do Imposto de Importação, assim como do Imposto de Exportação, certas operações são dispensadas de tributos, mediante a concessão de isenções ou, mesmo, gozam da imunidade constitucionalmente prevista. Dessa forma, o tratamento tributário a que se sujeitam as mercadorias que entram ou saem do território nacional depende do regime aduaneiro aplicável, entendido como o conjunto de atos legais e normativos, além dos procedimentos administrativos que visem à liberação da mercadoria pelas autoridades aduaneiras. Esses regimes são classificados, conforme o caso, em gerais ou comuns, especiais e aplicados em áreas especiais. Preliminarmente, cabe salientar que a entrada e a saída de mercadorias do território nacional estão sujeitas à incidência de tributos de variadas espécies e competência. A complexidade do sistema tributário, no Brasil, impõe a exigência de impostos federais e estaduais, pagos por importadores e exportadores, sem contar as contribuições especiais, espécie tributária que igualmente são cobradas nas importações e exportações. As mercadorias que ingressam no país se destinam a consumo ou emprego em atividades comerciais, industriais ou de prestação de serviços, conforme o caso. Tendo em vista a variedade de impostos previstos na Constituição e na legislação específica, são cobrados, pelas autoridades fiscais: IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO E IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS – IPI (Plano federal) IMPOSTO SOBRE A CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS E SERVIÇOS – ICMS (Competência dos Estados) Vale acrescentar: ainda são exigidas algumas contribuições, como o Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM), e outras específicas, dependendo do produto, como, por exemplo, a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico. Note que a CIDE-Combustíveis é o único tributo devido quando se tratar de importação de combustíveis líquidos, sólidos ou gasosos. Por razões econômicas e fiscais, o mesmo não se dá nas exportações. Segundo a máxima “não se exporta imposto”, não é costume a cobrança de tributo na venda de mercadorias ao exterior, o que oneraria o produto e, ao mesmo tempo, reduziria as condições de competitividade do país. Em face da natureza econômica, típica dos dois impostos federais cobrados, o ingresso de bens no país pode dar-se importação a título definitivo ou não: TÍTULO DEFINITIVO Quando a mercadoria é incorporada à economia nacional, tanto para simples consumo como para fins de integração a processo produtivo. TÍTULO NÃO DEFINITIVO Quando, porém, o bem não se destina à incorporação ao processo industrial, mas contribui com essa atividade produtiva ou, ainda, presta determinado tipo de serviço no país, devendo retornar ao exterior tal como aqui ingressou. O mesmo raciocínio pode ser feito para as exportações. Por vezes, o produto nacional deixa o país a fim de participar de exposição ou, por exemplo, servir à construção de uma estrada ou de um gasoduto, para ficarmos apenas com duas possíveis saídas temporárias: REGIMES ADUANEIROS GERAIS Salvo por renúncia legal, os tributos devidos são pagos na entrada da mercadoria no país. Nos regimes aduaneiros gerais, ou comuns, a mercadoria que chega ao país — ou dele sai — é submetida a todos os procedimentos normais de uma importação para consumo — ou de uma exportação comum —, não se entendendo a palavra “consumo” em seu sentido econômico, mas, sim, que a mercadoria foi incorporada ao patrimônio econômico nacional, digamos assim, tanto com fins de consumo propriamente dito como para o fim de integrar o ativo de uma empresa industrial. REGIMES ADUANEIROS ESPECIAIS São dispensados os tributos por razões estritamente econômicas. Caracterizam-se, em regra, pela suspensão dos tributos, desde que cumpridos determinados requisitos estabelecidos em lei. Apenas uma modalidade de drawback (é um benefício fiscal pelo qual se obtém isenção ou suspensão de impostos sobre insumos usados no processo de fabricação dos produtos) goza da isenção do Imposto de Importação, diferentemente das demais, beneficiadas pela suspensão. Tais requisitos dizem respeito, inicialmente, ao prazo de permanência da mercadoria no país. Este, sem dúvida, constitui fator distintivo dos regimes gerais, cujo ingresso — ou saída — ocorre em caráter definitivo. Outro fator característico dos regimes especiais prende-se à finalidade econômica. Com efeito, não faria sentido o ingresso ou a saída temporária da mercadoria, não fora devido a um interesse superior, qual seja, o emprego em atividade industrial ou na prestação de serviço. A última das três condições dos regimes especiais prende-se à garantia dos tributos devidos. Ao firmar o termo de responsabilidade, o importador, assim como o exportador, é chamado a oferecer depósito, fiança, caução de título ou um seguro, que garanta o recolhimento dos tributos normalmente exigidos caso a mercadoria seja extraviada ou desviada durante o período de permanência, temporária, recorde-se, no país ou no exterior. REGIMES ADUANEIROS APLICADOS EM ÁREAS ESPECIAIS São as áreas de livre comércio, criadas com a finalidade de favorecer o progresso e o desenvolvimento de zonas fronteiriças de determinadas regiões do país, além de aumentar as relações bilaterais com os países vizinhos. Os regimes aduaneiros aplicados em áreas especiais representam fatores de estímulo ao desenvolvimento econômico de regiões desprovidas de recursos suficientes para alavancarem o crescimento de sua economia e de suas populações. Enquanto não se processao despacho para ingresso definitivo da mercadoria no país, o importador, no Brasil, é consignatário da mercadoria. Aqui, faz-se necessário distinguir as duas figuras, lembrando que: Fonte: davooda / Shutterstock CONSIGNATÁRIO É aquele a quem se destina o bem e quem se responsabiliza pela sua guarda e destinação. javascript:void(0) Fonte: davooda / Shutterstock IMPORTADOR É o destinatário final, caso a mercadoria seja nacionalizada durante o período de permanência sob o regime especial. O Imposto de Importação, tributo de competência federal, é previsto no art. 153, inc. I, da Constituição da República de 1988, nos artigos de 19 a 22 do Código Tributário Nacional e no Decreto-Lei n° 37, de 18 de novembro de 1966. Atualmente, a incidência do imposto está regulamentada no Decreto n° javascript:void(0) 6.759/09, de 5 de fevereiro de 2009, que constitui o Regulamento Aduaneiro (RA). A nossa lei fundamental em vigor excepciona, expressamente, o Imposto de Importação dos princípios da legalidade e da anterioridade da lei. Em outras palavras, o § 1º, do art. 153, da Carta Magna, faculta ao Poder Executivo a competência para fixar a alíquota do imposto de acordo com a necessidade e a conveniência econômica. O órgão encarregado da fixação das alíquotas é a Secretaria Executiva da Câmara de Comércio Exterior (Camex). Assim, também, o imposto constitui exceção aos princípios da anterioridade em relação ao exercício e da nonagesimal, conforme dispõe o § 1º, do art. 153, da CRFB/88, que exclui o Imposto de Importação da regra, segundo a qual é vedado cobrar tributo no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que o instituiu ou majorou e, ainda, nos 90 dias após a publicação. O imposto constitui importante instrumento de política econômica e, consequentemente, de orientação sobre os rumos do comércio exterior. Desse modo, o Imposto de Importação exerce funções de incentivo ao incremento da produção de determinados bens, de atração de investimentos, de controle cambial etc. Essa é a função extrafiscal que caracteriza o imposto. O Imposto de Importação não tem, evidentemente, função arrecadadora. Nos termos do caput do art. 1º, do Decreto-Lei nº 37/1966, o fato gerador do imposto é a entrada de mercadoria estrangeira no território aduaneiro, que, como já dissemos, coincide com o território nacional e, de acordo com o art. 72, do Regulamento Aduaneiro. Para fins de cálculo, considera-se ocorrido o fato gerador do imposto na data do registro da declaração de importação, na repartição aduaneira por onde ocorrer o despacho de importação, conforme dispõem o art. 23, do Decreto-Lei 37/1966, e o art. 73, inc. I, do Regulamento Aduaneiro. Significa dizer que, se por acaso ocorrer extravio ou desvio de finalidade da mercadoria ingressada no país, o imposto devido, acrescido dos gravames cobrados, obedecerá à alíquota vigente na data do registro da Declaração de Importação, sendo o valor atualizado de acordo com o índice de correção monetária calculada até a data da exigência, independentemente de possível alteração na regra em data posterior ao registro. Fonte: Imagine Photographer / Shutterstock O imposto incide sobre o produto estrangeiro, conforme disposto no art. 153, inc. I, da Constituição Federal. Para esse fim, entende-se como estrangeiro o produto industrializado ou extraído do solo do país exportador. Isso porque a Carta Magna é clara ao se referir a produto e não à mercadoria, devendo ser interpretada como tudo aquilo que seja ou que possa ser considerado objeto de comércio. Todavia, quando se tratar de peça para reposição de outras avariadas pelo uso em operação industrial, incide o imposto, tendo em vista considerar-se que se trata de nova importação. Com efeito, a importação posterior não se confunde com a primeira, criando, portanto, novo fato gerador. STATUS JURÍDICO: PRODUTO NACIONAL, ESTRANGEIRO, NACIONALIZADO E DESNACIONALIZADO Fonte: Pasuwan / Shutterstock Na introdução do tema, falamos em despacho aduaneiro de mercadorias, conjunto de procedimentos que envolve as autoridades aduaneiras e os operadores no comércio exterior. Agora, trataremos das consequências advindas do despacho aduaneiro na importação e, após, sobre os conceitos de mercadoria nacionalizada, diferenciando-a de mercadoria nacional. Como vimos, o art. 153, da Constituição Federal, dispõe que a União pode instituir imposto incidente sobre a importação de produtos estrangeiros sem especificar o significado, nesse contexto, da palavra “produto”, que pode ser vista em dois sentidos. Em uma primeira visão e, tendo sido utilizado pela Constituição no campo do Direito Tributário, é de se supor que o termo se refira ao resultado de uma operação de industrialização, no sentido de produto industrializado. Contudo, a palavra “produto” possui conceito amplo, englobando, inclusive, o de mercadoria, uma vez que deve ser entendido como tudo aquilo que é obtido e extraído da natureza ou produzido pelo homem. Dito isso, é fácil deduzir que todo bem que ingresse, no território aduaneiro, está passível de imposição de tributos, salvo se o produto gozar de benefício fiscal, como a imunidade, a isenção, a suspensão ou qualquer outra espécie de renúncia fiscal, pois o Imposto de Importação incide sobre a entrada, no país, de produto estrangeiro. PRODUTO javascript:void(0) É ou pode ser uma mercadoria, desde que seja objeto de comercialização. E, como mercadoria, qualquer coisa móvel ou corpórea suscetível de comercialização interna ou com o exterior. Ao ingressar no território aduaneiro, a mercadoria se submete ao processo de despacho aduaneiro de importação, a partir do qual ela se torna uma mercadoria nacionalizada. Em vista disso, faz- se necessário distinguir despacho para consumo e nacionalização da mercadoria. Desde que nenhuma irregularidade seja encontrada pelas autoridades alfandegárias, é por meio da importação que a mercadoria é desembaraçada, ou seja, liberada e entregue ao importador, destinando-se ao consumo, à venda ou à integração em processo de industrialização. Quando, na linguagem aduaneira, se diz: DESPACHADA PARA CONSUMO Não se quer dizer que a mercadoria vá ser consumida com o seu uso regular. O conceito econômico de “consumo” não pode ser aqui aplicado, devendo-se entender, em matéria aduaneira, que a mercadoria será entregue ao importador, e cumprirá uma das finalidades acima indicadas. NACIONALIZAÇÃO Pode-se dizer que o bem importado, conferido e desembaraçado pela alfândega e entregue ao importador, deixará de ser um produto estrangeiro para integrar o patrimônio econômico nacional. Nesse caso, usa-se o termo “nacionalização” para o bem que ingressa em definitivo no território nacional. Os dois conceitos, portanto, “despacho para consumo” e “nacionalização”, têm natureza distinta, ou seja, o primeiro deve ser entendido no sentido jurídico e o segundo no sentido econômico, embora, na prática, decorram dos mesmos procedimentos na alfândega. Em resumo, uma vez liberada, é indiferente dizer-se que a mercadoria foi despachada para consumo ou nacionalizada. Em que pese o sentido diferente, a consequência é a mesma, qual seja, a entrega da mercadoria ao importador livre e desembaraçada pelas autoridades aduaneiras. Ao colocar rótulo ou etiqueta em seus produtos, a legislação brasileira sobre o IPI exige que o importador ou revendedor informe com precisão a origem do produto. Evidentemente, isso só pode ser feito após o desembaraço e a entrega do bem ao importador, isto é, quando o bem já estiver liberado para consumo, venda ou industrialização. Dados os conceitos de produto estrangeiro e nacionalizado, passemos a analisar os conceitos de produto nacional e desnacionalizado. Basicamente, o produto nacional é aquele passível de exportação, sendo utilizado o mesmo conceito de produto tanto para a importação quanto para a exportação. Fonte: Maxx-Studio/ Shutterstock Para melhor entendimento, não só o produto nacional, a saber, o industrializado ou o extraído no país, pode ser exportado. Também o produto nacionalizado, ou seja, importado a título definitivo, é passível de exportação. Recordando, o produto importado para consumo — ou nacionalizado — ingressa no país e se incorpora à economia nacional, como se produto nacional fosse. Assim, para fins de tratamento tributário, na exportação, não se distingue produto nacional e produto nacionalizado, visto que ambos podem ser objetos de exportação. Em contrapartida, produto desnacionalizado é aquele que deixou o país em caráter definitivo. Nesse sentido e, vistos sob ângulos opostos, os conceitos de nacionalização (de produto estrangeiro) e de desnacionalização (de produto nacional ou nacionalizado) se equivalem. Um caso particular que merece citação diz respeito à entrada e à saída temporárias de bens do país. Essas modalidades, que serão mais bem estudadas quando abordarmos os regimes aduaneiros especiais, são as chamadas admissão temporária e exportação temporária, além de outras, consideradas como regimes suspensivos, uma vez que os tributos devidos não são exigidos na entrada ou na saída dos bens. Nesses casos, importador e exportador se sujeitam à condição suspensiva dos tributos, tendo em vista que só serão exigidos na hipótese de descumprimento de condições estabelecidas por lei. Como exemplo de tais condições, tem-se destinar o bem, em regra, a uma finalidade econômica; e respeitar o prazo de permanência no Brasil ou no exterior e retornar à origem, tão logo se conclua o regime especial. Por último, mesmo a saída em caráter definitivo não submete a operação de exportação à incidência dos impostos de exportação, IPI ou ICMS, em razão da imunidade prevista na Constituição da República. Assista ao vídeo a seguir para saber mais acerca dos diferentes tributos sobre o comércio exterior. FUNÇÕES, PRINCÍPIOS E FORMAS DE CÁLCULO DOS TRIBUTOS O comércio exterior constitui importante instrumento de desenvolvimento econômico e de atração de capitais. Os tributos que incidem sobre as operações de entrada e saída de mercadorias do país gozam de tratamento tributário diferenciado, ora sendo contemplados com a renúncia total ou parcial, ora com o diferimento ou a suspensão de tributos. Esses fatores revelam a função extrafiscal ou regulatória do Imposto de Importação, característica igualmente reconhecida para os demais tributos, vinculados às operações com o exterior. Como respaldo dessa característica, a Constituição brasileira excepciona expressamente o Imposto de Importação do princípio da legalidade. Dispõe o inc. I, combinado com o § 1º, ambos do art. 153, que é vedado exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça. Fonte: Art Alex / Shutterstock O imposto constitui, também, exceção ao princípio da anterioridade da lei, segundo o qual é vedado cobrar tributo no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que o instituiu ou majorou. É o que encontramos no inc. III, al. b, combinado com o § 1º, ambos do art. 150, da Carta Magna. Coerentemente, o imposto é, ainda, exceção ao princípio da anterioridade nonagesimal da lei, disposto no art. 150, inc. III, al. c, que veda a cobrança de tributo antes de decorridos 90 dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou. A aplicação dos princípios acima citados ao Imposto de Importação corresponderia à perda da finalidade do tributo, que consiste em promover o desenvolvimento do país. É bastante significativo o montante do imposto dispensado pela renúncia, tanto pelas imunidades e isenções concedidas, quanto pela aplicação do princípio da seletividade, que, embora não constando expressamente do Texto Maior, é igualmente aplicado ao Imposto de Importação. Aplicam-se aos tributos incidentes sobre o comércio exterior todos os princípios expressos e implícitos na Constituição da República, com exceção daqueles mencionados pelas razões expostas. Assim, os tributos incidentes no comércio exterior estão sujeitos, apenas para citar alguns, aos princípios da legalidade, no que se refere à criação de tributos, da capacidade contributiva, da vedação ao confisco, da irretroatividade da lei e do tratamento uniforme da lei tributária, entre outros. REGRA GERAL Os tributos são calculados aplicando-se uma alíquota, em geral, ad valorem (calculada sobre o valor do bem), sobre uma base de cálculo. O Imposto de Importação não foge à norma estabelecida para os demais impostos constantes do sistema tributário vigente. A alíquota incidente é encontrada na Tarifa Externa Comum (TEC), tendo por base a Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM), enquanto a base de cálculo é o valor de transação da mercadoria importada. Em decisão apertada prolatada no REsp nº 1.799.306/RS, a Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça determinou a inclusão das despesas de capatazia na base de cálculo do imposto. Com efeito, no julgamento, o STJ reformou decisões anteriores, bem como contrariou toda a doutrina especializada, que entendia violação ao Regulamento Aduaneiro e ao Acordo sobre Valoração Aduaneira firmado no âmbito do GATT, que, expressamente, dispõem que a base de cálculo do imposto consiste no valor de transação da mercadoria no ponto de chegada ao destino, ou seja, no porto, aeroporto ou ponto de fronteira, antes de efetuada a descarga. É de se acrescentar que os impostos incidentes sobre as operações de importação tomam como ponto de partida o cálculo do Imposto de Importação, elevando, assim, o valor a ser pago. Para calcular o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), aplica-se a alíquota relativa ao produto importado sobre uma base representada pelo mesmo valor atribuído à mercadoria quando se calculou o Imposto de Importação, acrescido do valor do Imposto de Importação encontrado e de eventuais encargos cambiais previstos em lei. Por oportuno, há muitos anos a lei não prevê encargos cambiais, como um ágio, por exemplo, ou uma sobretaxa de câmbio. De modo similar é calculado o ICMS. A alíquota do imposto vigente no estado incide sobre uma base de cálculo constituída do mesmo valor que serviu de base para o cálculo do Imposto de Importação, ao qual se somam os valores dos dois impostos anteriormente calculados, quais sejam, o Imposto de Importação e o IPI, e os encargos alfandegários, como eventuais multas aplicadas e demais tributos incidentes. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. NAS IMPORTAÇÕES DE GÁS LIQUEFEITO DE PETRÓLEO, INCIDE(M): A) O Imposto de Importação (I.I.), o IPI e o ICMS. B) Sendo o I. I. isento neste caso, apenas o IPI e o ICMS. C) Apenas a CIDE-Combustíveis. D) O I. I., o IPI, o ICMS e a CIDE-Combustíveis. E) O I.I. e o ICMS. 2. DAS AFIRMATIVAS ABAIXO, MARQUE A OPÇÃO CORRETA. A) Para fins aduaneiros, são indiferentes os conceitos de produto estrangeiro, produto importado e produto desnacionalizado. B) São objeto de tributação apenas as importações de produtos estrangeiros e desnacionalizados. C) Em termos jurídicos aduaneiros, são idênticos os conceitos de produto importado e produto nacional. D) São sujeitos ao Imposto de Exportação, quando incidente, os produtos nacional ou desnacionalizado. E) Há incidência tributária na admissão temporária de produto. GABARITO 1. Nas importações de gás liquefeito de petróleo, incide(m): A alternativa "C " está correta. Nas importações comuns, incidem, em regra, o I. I., o IPI e o ICMS. Todavia, quando se tratar de importação de combustíveis, sejam líquidos, sólidos ou gasosos, o único tributo incidente é uma contribuição, a CIDE-Combustíveis. 2. Das afirmativas abaixo, marque a opção correta. A alternativa "D " está correta. Os conceitos de produto nacional, estrangeiro, nacionalizado e desnacionalizado são distintos segundo a legislação e a doutrina sobre o comércio exterior. Embora com conceitos distintos, somente o produtonacional e o produto (que foi) desnacionalizado estão sujeitos ao Imposto de Exportação, quando exigido. MÓDULO 2 Identificar a função regulatória exercida pelos Impostos de Importação e de Exportação Depois de estudarmos os tributos que incidem sobre as operações de comércio exterior e os conceitos de produto nacional, estrangeiro, nacionalizado e desnacionalizado, veremos com mais detalhes a incidência e demais características dos impostos, das contribuições e a Taxa de Utilização do Siscomex. IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO Fonte: Visual Generation / Shutterstock LEGISLAÇÃO APLICÁVEL O Imposto de Importação é um tributo de competência federal, previsto no artigo 153, inc. I, da Constituição da República de 1988, nos artigos 19 a 22 do Código Tributário Nacional, e regido pelo Decreto-Lei n° 37, de 18 de novembro de 1966, ainda em vigor. Atualmente, o imposto está regulamentado pelo Decreto n° 6.759/09, de 5 de fevereiro de 2009, o chamado Regulamento Aduaneiro (RA). Fonte: Phongphan / Shutterstock Ao se estudar qualquer modalidade de tributo, os principais aspectos a serem considerados são: • Incidência; • Fato gerador; • Sujeitos passivos; • Base de cálculo; • Características próprias de cada um, o que lhes atribui a particularidade em termos de incidência. Todos esses aspectos derivam, basicamente, da Constituição brasileira, na qual se destaca a função regulatória do imposto, que o diferencia dos demais tributos, que, em regra, cumprem função financeira, ou seja, visam à obtenção de recursos para o tesouro. A seguir, vejamos as principais características do Imposto de Importação. O imposto incide sobre o produto estrangeiro que entra no território aduaneiro. Tratando-se de características extrafiscais, o texto constitucional de 1988 excepciona, expressamente, o Imposto de Importação do princípio da legalidade no que se refere à alteração de suas alíquotas. Diz o inc. I, combinado com o § 1º, ambos do art. 153, da Constituição, que é vedado exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça, assim como o imposto em estudo é também exceção ao princípio da anterioridade da lei. Desta feita, dispõe a Carta Magna, no inc. III, al. b combinada com o § 1º, ambos do art. 150, que é vedado cobrar tributo no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que o instituiu ou majorou. Da mesma forma, por meio da Emenda Constitucional nº 42/2003, o referido imposto passou a excepcionar o princípio da anterioridade chamada nonagesimal, segundo a qual é vedado cobrar tributo antes de decorridos 90 dias da data em que haja sido publicada a lei que o instituiu ou aumentou. A exceção se refere à al. c, do inc. III, do art. 150, da Constituição da República. COMENTÁRIO É simples o motivo dessas exceções. O imposto é importante instrumento de política econômica e de comércio exterior do país. Mediante a tributação ou pela renúncia fiscal, setores industriais, investidores internos e estrangeiros, bem como outros ramos da atividade econômica são estimulados ou desestimulados pelo aumento ou pela redução das alíquotas. Essa é a função extrafiscal do imposto. Seria incoerente, portanto, a aplicação dos princípios supracitados em relação ao Imposto de Importação, pois lhe esvaziaria a utilidade para fins de política econômica. Não obstante a sua função arrecadatória ser colocada em segundo plano, são plenamente aplicáveis ao imposto os demais princípios previstos na Carta Magna. O fato gerador do Imposto de Importação é a entrada do produto estrangeiro no território aduaneiro, segundo dispõe o art. 72 do Regulamento Aduaneiro. Conforme determina o art. 23, do Decreto-Lei nº 37/1966, considera-se ocorrido o fato gerador do imposto na data do registro da declaração de importação na repartição por onde se processar o despacho aduaneiro de importação e conforme dispõe o art. 73, inc. I, do Decreto nº 6.759/2009. Os dispositivos, no entanto, têm sido objeto de reiteradas decisões judiciais, todas corroborando o entendimento expendido. Nos acórdãos publicados, lê-se a menção expressa ao caráter extrafiscal do imposto de importação, como acima descrito. Essas decisões têm sido importantes para se assegurar o direito adquirido ao pagamento do imposto segundo a alíquota vigente, na data do registro da documentação respectiva, na alfândega, data de ocorrência do fato gerador para fins de lançamento do tributo. Lembre-se de que a Súmula nº 4, do antigo Tribunal Federal de Recursos, reconhece a compatibilidade entre o fato gerador do Imposto de Importação e o disposto no art. 23, do Decreto-Lei nº 37/1966. Desse modo, a majoração ou a redução da alíquota, após a chegada da mercadoria ao ponto de descarga, produz efeito imediato sobre o valor dos tributos devidos, desde que a mercadoria não tenha sido submetida a despacho com vistas ao desembaraço do bem importado. Fonte: Ivector / Shutterstock É de se considerar, ainda, ocorrido o fato gerador no dia do lançamento do correspondente crédito tributário, como se depreende do art. 73, inc. II, do Decreto nº 6759/2009, nos casos de: Bens contidos em remessa postal internacional não sujeitos ao regime de importação comum; Bens compreendidos no conceito de bagagem, seja acompanhada ou desacompanhada; Mercadoria constante de manifesto ou de outras declarações de efeito equivalente, cujo extravio ou avaria for apurado pela autoridade aduaneira; Mercadoria estrangeira que não tenha sido objeto de declaração de importação, na hipótese em que tenha sido consumida ou revendida ou não seja localizada pela fiscalização aduaneira. Questão interessante prende-se à importação de partes ou peças para reposição de outras anteriormente importadas e que se tornaram inservíveis por avaria causada pelo uso normal do aparelho ou equipamento de aplicação industrial. O Superior Tribunal de Justiça já se posicionou a respeito, decidindo que se trata de nova importação, sujeita, portanto, ao pagamento dos tributos normalmente exigíveis. Segundo o STJ, a importação posterior não se confunde, nem se sobrepõe à primeira, ocorrendo, sem dúvida, um novo fato gerador. SUJEITOS E PROCEDIMENTOS Fonte: MIND AND I / Shutterstock O sujeito passivo, em tese, é a pessoa que tem o dever legal de cumprir a obrigação tributária surgida com a ocorrência do fato gerador. O sujeito passivo, conforme seja a responsabilidade pela ocorrência do fato gerador, pode ser o contribuinte, que, por definição, tem a relação pessoal ou direta com o fato gerador, ou o responsável, aquele que, embora não tenha a relação direta, é indicado por lei para a satisfação da obrigação surgida. Nos termos do art. 104, do Regulamento Aduaneiro, são contribuintes do imposto o importador — assim considerada qualquer pessoa que promova a entrada de mercadoria estrangeira no território aduaneiro: DESTINATÁRIO DE REMESSA POSTAL INTERNACIONAL (Indicado pelo respectivo remetente e que admita o seu recebimento) ADQUIRENTE DE MERCADORIA ENTREPOSTADA Neste último caso, o consignatário de mercadoria depositada no regime especial de entreposto aduaneiro. Já os responsáveis tributários pelo pagamento do imposto são — nos termos dos artigos 105 e 106, do regulamento: TRANSPORTADOR Pelos tributos devidos sobre mercadorias procedentes do exterior, que não cheguem ao destino ou cheguem avariadas, ainda que em percurso doméstico o fiel depositário, assim considerada qualquer pessoa encarregada da custódia de mercadoria sob controle aduaneiro, por solidariedade. ADQUIRENTE OU O CESSIONÁRIO DE MERCADORIA BENEFICIADA Com isenção ou redução do imposto. REPRESENTANTE No país, do transportador ou armador estrangeiro. ADQUIRENTE DE MERCADORIA DE PROCEDÊNCIA ESTRANGEIRA No caso de importação realizada por sua conta e ordem, por intermédio de pessoa jurídica importadora. ENCOMENDANTE Adquire mercadoria de procedência estrangeira de pessoa jurídica importadora. EXPEDIDOR OPERADORDE TRANSPORTE Multimodal ou qualquer subcontratado para a realização do transporte multimodal. BENEFICIÁRIO DE REGIME ADUANEIRO SUSPENSIVO Destinado à industrialização para exportação, no caso de admissão de mercadoria admitida no regime por outro beneficiário, mediante sua anuência, com vistas à execução de etapa da cadeia industrial do produto a ser exportado. QUALQUER OUTRA PESSOA Que a lei assim designar. Fonte: Diego Grandi / Shutterstock Por decisão da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, o agente marítimo foi excluído da responsabilidade tributária pela falta ou pela avaria verificada no curso do despacho aduaneiro de mercadoria importada, tendo em vista que não restou comprovada a sua participação no ato de que resultou o sinistro. Entendeu o STJ que o agente marítimo não é representante, empregado, mandatário ou comissário do transportador, mas sim representante do armador, não cabendo, assim, ser a ele imputada a responsabilidade, conforme se depreende dos termos do art. 135, inc. II, do Código Tributário Nacional. CÁLCULO DO IMPOSTO, ALÍQUOTAS E INCIDÊNCIA O Imposto de Importação devido pelo ingresso de mercadoria no território nacional é calculado, em regra, mediante a aplicação de uma alíquota sobre uma base de cálculo. A alíquota é representada por um percentual, por isso ad valorem, que incide sobre uma base imponível expressa em moeda. De acordo com a legislação em vigor, somente em moeda nacional pode o tributo ser pago no Brasil. Fonte: mstanley / Shutterstock O valor da mercadoria, apurado segundo as normas do artigo VII, do GATT, é calculado com base na taxa de câmbio vigente no dia do registro da Declaração de Importação no Siscomex. Por sua vez, a alíquota ad valorem é encontrada na Nomenclatura Comum do Mercosul, baseada no Sistema Harmonizado de Designação e Codificação de Mercadorias (NCM/SH), constante do GATT. Excepcionalmente, porém, é utilizada a alíquota específica, combinada com a ad valorem, no caso de importação de fumo e seus derivados e bebidas, sendo que a alíquota específica incide sobre determinada unidade de medida, a saber, o peso da mercadoria, o volume ou a quantidade, conforme especificado no art. 75, inc. II, do Regulamento Aduaneiro. As alíquotas do I.I. variam de acordo com a classificação fiscal da mercadoria estrangeira na Tarifa Externa Comum (TEC). Vale dizer que o I.I. é calculado pela aplicação das alíquotas fixadas pela TEC, conforme o posicionamento da mercadoria segundo a Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM). EXEMPLO O cavalo, quando não se trata de reprodutor de raça pura, está classificado na posição NCM/SH 0101.90.10, cuja alíquota correspondente é 2 %. Vejamos com mais detalhes: Os quatro primeiros dígitos da classificação fiscal da mercadoria referem-se ao capítulo e à posição em que se insere a mercadoria; Os dois dígitos subsequentes referem-se à subposição, que pode ser subdivida em dois níveis, conforme o caso; Os últimos dois dígitos referem-se ao item e subitem em que a mercadoria está inserida. A estrutura do Sistema Harmonizado obedece a uma ordem progressiva de elaboração dos produtos, começando com animais vivos e terminando com obras de arte. Compreende seções, capítulos, posições, subposições, dispostos de forma numérica, podendo chegar a 8 dígitos, com a Tarifa Externa Comum (TEC). Vejamos, a seguir, a estrutura da TEC, com base no Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias (SH), conjugada à Nomenclatura Brasileira de Mercadorias (NBM), denominada pela sigla NBM/SH: 05 capítulo 0503 posição 0503.00 subposição 0503.00.1 item 0503.00.13 subitem Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal A TEC pode conter, ainda, os chamados “ex”, em que se classificam produtos beneficiados com a redução de alíquota, tendo em vista o interesse econômico do país devidamente justificado pelo importador. Além de notas explicativas dos títulos de seções, capítulos, posições e subposições, a nomenclatura, segundo o Sistema Harmonizado, contém seis regras gerais e uma regra geral complementar, para a sua interpretação, que orientam a forma como são classificadas as mercadorias importadas. No que tange à classificação em item e subitem, a classificação fiscal das mercadorias segue a Regra Geral Complementar (RGC), que, basicamente, determina a adoção das regras e dos critérios do SH. ATENÇÃO As Notas Explicativas do Sistema Harmonizado de Designação e Codificação de Mercadorias (NESH), elaboradas pela Organização Mundial de Alfândegas, contêm comentários exaustivos e definidos sobre o alcance geral das posições e subposições do Sistema Harmonizado. Fonte: Pcess609 / Shutterstock Passemos, então, ao estudo dos regimes de tributação. REGIME DE TRIBUTAÇÃO SIMPLIFICADA – RTS É definido como o que permite o pagamento do Imposto de Importação incidente sobre bens despachados por remessa postal ou encomenda aérea internacional, destinados à pessoa física ou jurídica, cujo valor não ultrapasse US$3.000,00 ou o equivalente em outra moeda, mediante aplicação da alíquota única de 60%. Não são exigidos os demais tributos internos, como o IPI e as Contribuições para o PIS/PASEP e a COFINS, e sua cobrança independe da classificação tarifária que eventualmente possa receber a mercadoria. A base de cálculo, nessa modalidade, é o preço efetivamente pago pela mercadoria, acrescido do valor do frete e do seguro devido pelo transporte até o local de descarga ou de entrega do bem. Cabe ressaltar que, sobre medicamentos destinados à pessoa física, a alíquota do RTS é zero. Vale ainda destacar que estão excluídos do regime as bebidas alcoólicas e o fumo e seus derivados. Caso o bem submetido a essa modalidade de tributação exceda o valor ou a quantidade estipulados, a mercadoria será objeto de fiscalização e se aplicará o regime normal de tributação, exigindo-se, porém, a presença do importador. REGIME DE TRIBUTAÇÃO ESPECIAL – RTE Os bens contidos e declarados como bagagem desacompanhada que chegarem ao país como remessa internacional serão objeto do Regime de Tributação Especial, se assim desejar o contribuinte e desde que os observem as características necessárias ao gozo desse regime. A mercadoria será despachada sob a modalidade de DSI, conforme vimos, mediante registro no Siscomex Importação. O interessado deverá comunicar a opção aos Correios ou à empresa de courier. Também será aplicado o regime especial nos casos em que a mercadoria exceda o limite de isenção permitido, sendo aplicada a alíquota única de 50% sobre o valor constante de documento fiscal de compra, não sendo exigidos os demais tributos federais. REGIME DE TRIBUTAÇÃO UNIFICADA — RTU Tem por base a Lei nº 11.898/2009, regulamentada pelo Decreto nº 6.956/2009, alterado pelo Decreto 9.525/2018, e é disciplinado pela Instrução Normativa nº 1.698/2017. São beneficiários do regime as empresas microimportadoras, os microempreendedores individuais (MEI), os empresários individuais e as empresas regidas pelo Simples Nacional. A habilitação ao regime é feita com base em protocolo de processo eletrônico encaminhado à alfândega onde o contribuinte mantiver domicílio tributário. O deferimento e, consequentemente, a validade de sua habilitação são condições essenciais para o início da operação comercial com a mercadoria submetida ao RTU. A liberação da mercadoria não exime o contribuinte de futuras e eventuais inspeções feitas pela autoridade aduaneira, em qualquer ponto do país, inclusive no que tange à sua regularidade fiscal. O prazo de habilitação ao RTU é indeterminado, ou seja, dispensa renovação e o contribuinte só será desabilitado em face de possível descumprimento das normas pertinentes ao regime. IMPOSTO DE EXPORTAÇÃO Fonte: Visual Generation / Shutterstock O Imposto de Exportação, de competência federal, incide sobre a mercadoria nacional ou nacionalizada destinadaao exterior. Assim como o Imposto de Importação, também esse imposto exerce função extrafiscal, constituindo igualmente exceção aos princípios da legalidade e da anterioridade da lei em relação ao exercício e à anterioridade nonagesimal. LEGISLAÇÃO APLICÁVEL Sua base legal é encontrada no art. 153, inc. II, da Constituição da República, nos artigos de 23 a 28, do Código Tributário Nacional, e no Decreto-Lei n° 1.578, de 11 de outubro de 1977, nos artigos 213 e seguintes do Regulamento Aduaneiro, aprovado pelo Decreto nº 6759/2009. O imposto tem como fato gerador a saída da mercadoria do território nacional, devendo ser considerado ocorrido o fato gerador, para fins de cálculo, a data do registro da Declaração de Exportação no Siscomex. É de se observar que a Constituição da República excluiu expressamente as exportações do campo de incidência do IPI e do ICMS, respectivamente, no art. 153, § 3°, inc. III e no art. 155, § 2º, inc. X, al. a. Fonte: Zolnierek / Shutterstock SUJEITOS E PROCEDIMENTOS Fonte: KAMONRAT / Shutterstock Conforme dispõe o art. 217, do Regulamento Aduaneiro, qualquer pessoa que promova a saída de mercadoria do território aduaneiro é considerada contribuinte do imposto, calculado mediante a aplicação de uma alíquota sobre a base de cálculo. O desembaraço aduaneiro de exportação é o procedimento pelo qual se processa, nas repartições alfandegárias, a liberação da mercadoria para saída do país, seja a título definitivo ou não, após o pagamento de tributos, se devidos, e o cumprimento das formalidades legais e regulamentares exigidas. O processamento das exportações é efetuado por meio do Sistema Integrado do Comércio Exterior (Siscomex). É necessária a juntada da nota fiscal de venda do produto a ser exportado, dispensada apenas quando se tratar, por exemplo: de remessa para o exterior de objeto de valor reduzido, de amostra sem valor comercial, entre outros. ALÍQUOTA E INCIDÊNCIA À Secretaria Executiva da Câmara de Comércio Exterior (CAMEX), órgão colegiado vinculado à Presidência da República, compete decidir sobre a imposição, ou não, do tributo. Quando fixada, a alíquota básica é de 30%, podendo ser elevada a até 150% ou reduzida a zero, de modo a atender aos objetivos da política cambial e do comércio exterior. A base de cálculo é o preço normal que a mercadoria, ou sua similar, alcançaria, ao tempo da exportação, em uma venda em condições de livre concorrência no mercado internacional, observadas as normas expedidas pela CAMEX. O preço à vista da mercadoria, FOB ou colocado na fronteira, é indicativo do preço normal. Fonte: Opat Suvi / Shutterstock A dificuldade de apuração do preço normal pode levar a Câmara de Comércio Exterior a fixar critérios específicos ou estabelecer pauta de valor mínimo como base para o cálculo do Imposto de Exportação, nos termos do que dispõe o art. 214, § 1°, do regulamento. Assista ao vídeo a seguir para saber mais sobre Impostos de Importação e Exportação. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. DAS AFIRMATIVAS ABAIXO, IDENTIFIQUE A RELATIVA AOS CONTRIBUINTES DO IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO. A) O importador e, nos casos de falta ou avaria, também o transportador e o depositário. B) Toda pessoa jurídica que ingresse regularmente com mercadoria estrangeira no território nacional. C) O importador de mercadoria estrangeira ou desnacionalizada e o viajante sobre a bagagem que conduz. D) Toda pessoa, física ou jurídica, que ingresse no país com mercadoria ou produto sujeito a tributos. E) As pessoas físicas que ingressem com qualquer mercadoria estrangeira no Brasil. 2. TENDO EM VISTA O SEU CARÁTER EXTRAFISCAL OU REGULATÓRIO, O IMPOSTO DE EXPORTAÇÃO CONSTITUI EXCEÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA: A) Anterioridade da lei em relação ao exercício e ao da anterioridade nonagesimal. B) Legalidade e da anterioridade da lei nos dois sentidos, do exercício e nonagesimal. C) Legalidade, da anterioridade da lei nos dois sentidos e da vedação ao confisco. D) Legalidade e da anterioridade da lei em relação ao exercício, como dispõe a CRFB. E) Tipicidade e da vedação ao confisco. GABARITO 1. Das afirmativas abaixo, identifique a relativa aos contribuintes do Imposto de Importação. A alternativa "D " está correta. Tanto a pessoa jurídica como a física podem ser contribuintes, inclusive na condução de bagagem, quando o viajante ingressa no país com mercadoria sujeita à tributação. 2. Tendo em vista o seu caráter extrafiscal ou regulatório, o Imposto de Exportação constitui exceção aos princípios da: A alternativa "B " está correta. Apesar do caráter extrafiscal do imposto, os demais princípios, implícitos e expressos, constantes ou derivados da Constituição da República, devem ser obedecidos. No caso do princípio da anterioridade da lei, a natureza fiscal compreende as duas hipóteses, quais sejam, aquela em relação ao exercício, assim como a nonagesimal. MÓDULO 3 Diferenciar os demais tributos incidentes sobre o comércio exterior Vimos que a importação consiste no ingresso de produtos estrangeiros no território aduaneiro, que coincide com o território nacional. Mutatis mutandis, exportação é a saída de produtos nacionais ou nacionalizados do território nacional. Assim entendido, é natural que tributos de competência dos três níveis de poder incidam sobre essas operações. Vamos estudar, agora, os principais tributos previstos na Constituição e nas leis, devidos na entrada e na saída de produtos do nosso território. IMPACTOS ADUANEIROS EM OUTROS IMPOSTOS (IPI, ICMS, ISS E IR) Fonte: Monster Ztudio / Shutterstock Conforme foi dito, a Constituição brasileira imuniza de tributos às exportações, ressalvando, apenas, alguns tributos internos, impostos, taxas e contribuições, que incidem sobre a produção e a comercialização, que indiretamente oneram as exportações. Além do Imposto de Importação, as operações sobre o comércio exterior estão sujeitas a outros tributos, a saber: • Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI); • Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS); • Contribuição para o Programa de Integração Social e de Formação para o Patrimônio do Servidor Público (PIS/PASEP); • Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS); • Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM). O Imposto sobre Produtos Industrializados, como o próprio nome sugere, incide sobre o produto industrializado, não importando onde tenha ocorrido o processo de industrialização. Como não incide sobre a operação em si, que, no caso presente, ocorre no exterior, o IPI é exigido, também, na entrada de produto estrangeiro no país. O IPI tem como fato gerador o desembaraço aduaneiro, e é calculado aplicando-se a alíquota relativa ao produto importado sobre o mesmo valor que serviu de base para o cálculo do Imposto de Importação, somado ao valor do Imposto de Importação devido e ao montante dos encargos cambiais porventura cobrados, o que, há décadas não integra, na prática, a base de cálculo do IPI na importação. Quem é contribuinte do Imposto de Importação? javascript:void(0) É a pessoa, importador ou não, que introduziu a mercadoria no país. Vejamos a seguir duas modalidades de importação: Fonte: Designincolor / Shutterstock IMPORTAÇÕES POR CONTA E ORDEM DE TERCEIRO O importador é aquele que contrata a importação, troca mensagens e ajusta preço com o exportador, efetua o pagamento, recebe a mercadoria, promove o despacho aduaneiro junto à alfândega e, após esse procedimento, a transfere ao adquirente. Fonte: Olesia_g / Shutterstock IMPORTAÇÕES POR ENCOMENDA O importador assume todos os encargos da importação, inclusive efetuando a remessa de divisas ao exterior às suas expensas e, ao final, a transfere ao adquirente mediante a expedição de Nota Fiscal de venda. Esseé o principal fator distintivo da modalidade anterior, visto que a responsabilidade pela introdução da mercadoria, no território nacional, cabe ao importador, que se torna, assim, o verdadeiro proprietário da mercadoria importada. DESEMBARAÇO ADUANEIRO A expressão consiste na liberação da mercadoria, o que se verifica após a conferência aduaneira, ato pelo qual a autoridade confronta a mercadoria com a documentação apresentada. Na hipótese de verificação parametrizada, a mercadoria segue o mesmo critério de liberação previsto para o Imposto de Importação, ou seja, se a seleção recair sobre o canal verde, a mercadoria é liberada sem a conferência física do bem e assim sucessivamente segundo os parâmetros estabelecidos. Vale observar que, em todos os casos, a isenção ou a redução do Imposto de Importação de que se beneficia o importador estende-se ao IPI. Assim, com as devidas considerações, se por alguma razão o Imposto de Importação vier a ser exigido, o IPI vinculado também o será. A classificação do produto industrializado, na Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados (TIPI), segue também a Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM), tendo por base o Sistema Harmonizado de Codificação e Designação de Mercadorias (SH). Também incide na importação o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços Interestaduais e Intermunicipais de Transportes e Comunicação (ICMS). O imposto, de competência dos estados e do Distrito Federal, tem como fato gerador a entrada da mercadoria estrangeira no território nacional. Calcula-se o ICMS aplicando-se a alíquota correspondente, que varia entre 17% e 20%, conforme o estado, sobre o mesmo valor que serviu para cálculo do I.I. e do IPI, somando-se a este o próprio I.I. e ao IPI calculados, além das despesas alfandegárias porventura havidas, como multas e adicionais previstos. Nas operações internas, o imposto integra a base de cálculo, o que se costuma chamar de “imposto por dentro”. Nas operações internacionais, diferentemente, a regra a seguir é a exposta acima. Fonte: Monster Ztudio / Shutterstock O preço de importação expresso em moeda estrangeira será convertido em moeda nacional, com base na mesma taxa de câmbio utilizada para cálculo do Imposto de Importação. Nas importações, também é exigido o Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM), cujo produto da arrecadação constitui um dos recursos do Fundo da Marinha Mercante destinado a prover a renovação, ampliação e recuperação da frota mercante nacional de veículos aquáticos. Tal adicional será examinado a seguir. Sobre as importações de produtos estrangeiros e serviços incidem ainda a Contribuição para os Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público e a Contribuição Social para o Financiamento da Seguridade Social, respectivamente, PIS/PASEP-Importação e a COFINS-Importação, instituídas pela Lei nº 10.865/2004, com as alterações procedidas pela Lei nº 13.137/2015. As contribuições têm como fato gerador a entrada de bens estrangeiros no território nacional, assim como o pagamento, o crédito, a entrega, o emprego ou a remessa de valores a residentes ou domiciliados no exterior como contraprestação por serviços prestados. O produto da arrecadação do PIS/PASEP se destina a financiar o abono salarial pago aos trabalhadores, enquanto a COFINS tem por finalidade assegurar recursos para pagamento do seguro-desemprego. A base de cálculo do PIS/PASEP e da COFINS, incidente sobre a importação de bens, é o valor aduaneiro do produto importado. Originariamente, o ICMS integrava a base de cálculo das contribuições. Todavia, no julgamento em regime de repercussão geral no RE nº 574.706, o Supremo Tribunal Federal excluiu o ICMS da base de cálculo das contribuições em tela por entender que o imposto não pode ser considerado faturamento ou receita bruta das empresas, uma vez que o valor pago a título do imposto é repassado ao consumidor. Ao julgar a questão, o STF decidiu que o PIS e a COFINS incidem apenas sobre o valor faturado pela empresa, entendido este como a soma dos valores recebidos pela empresa nas operações de venda de mercadorias. As alíquotas estabelecidas para o PIS/PASEP-Importação e para a COFINS-Importação na lei são, respectivamente, 1,65% e 7,6%, aplicando-se as mesmas normas relativas à suspensão do pagamento do Imposto de Importação e do IPI vinculado à importação, quando se tratar de importação de mercadorias sob os regimes aduaneiros especiais. ATENÇÃO Não se cogita incidência de Imposto de Renda e de ISS na importação, em razão dos fatos geradores dos dois impostos não serem compatíveis com as atividades de comércio exterior. Da mesma forma, não incidem os dois impostos nas exportações. AFRMM — ADICIONAL AO FRETE PARA RENOVAÇÃO DA MARINHA MERCANTE Fonte: Foto-select / Shutterstock O AFRMM, instituído pelo Decreto-lei nº 2.404/1987, é disciplinado pela Lei nº 10.893/2004. A cobrança, fiscalização, arrecadação, restituição e o ressarcimento do tributo é competência da Receita Federal, sendo que o pagamento é feito de forma online, através do site do Sistema Mercante. O fato gerador da contribuição é a movimentação de carga importada no porto de descarga da mercadoria e a base de cálculo, sobre a qual incidem as alíquotas de 25% para o transporte de longo curso, 10% no transporte de cabotagem e 40% na navegação fluvial e lacustre de granéis líquidos nas regiões Norte e Nordeste. A base de cálculo da contribuição é o valor do frete declarado no conhecimento de carga. O contribuinte do AFRMM é a empresa de navegação marítima. ATENÇÃO Nas hipóteses em que o frete esteja expresso em moeda estrangeira, a conversão deve ser feita à taxa de câmbio média para compra, indicada pelo Banco Central do Brasil, e vigente na data do efetivo início da operação de descarga da embarcação. TAXA DE UTILIZAÇÃO DO SISCOMEX Fonte: beeboys / Shutterstock A Taxa de Utilização do Siscomex, administrada pela Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil, foi criada pela Lei nº 9.716/98. O art. 306, do Regulamento Aduaneiro, dispõe sobre a contribuição. A taxa é devida por ocasião do Registro da Declaração de Importação no Siscomex, à base de R$30,00 por declaração e R$10,00 por adição, assim entendida como a mercadoria destacada pela classificação tarifária. A taxa é cobrada juntamente com o Imposto de Importação. O valor da taxa foi aumentado em cerca de 500% pela Portaria MF 257/2011, mais tarde declarada ilegal pelo Superior Tribunal de Justiça, considerando que a taxa só pode ser corrigida em razão da variação dos custos de operação e investimentos, o que não se verificou. A Receita Federal não demonstrou ter havido reajustes nos custos de operação originais e sequer nos custos de operação atuais que justificassem a elevação do valor da taxa. Assista ao vídeo a seguir para saber a respeito de Outros Tributos sobre o Comércio Exterior. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. AS IMPORTAÇÕES DE PRODUTOS ESTRANGEIROS SUJEITAM-SE AO PAGAMENTO DO: A) IPI, calculado com base na alíquota ad valorem, quando se tratar de fumo e seus derivados e bebidas. B) ICMS, apenas quando se tratar de produto sujeito ao IPI, tendo em vista a similitude entre os dois impostos. C) AFRMM, nos casos de importação de combustíveis e lubrificantes sólidos, líquidos e gasosos. D) I. I., IPI, em casos de importação de produtos industrializados no exterior, e ao ICMS estadual. E) I.I. e AFRMM. 2. A TAXA DE UTILIZAÇÃO DO SISCOMEX É COBRADA: A) No momento do registro da Declaração de Importação no Siscomex. B) No momento em que a mercadoria chega ao ponto de descarga no país. C) Junto com o Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante. D) Apenas quando a mercadoria é transportada por via marítima. E) Apenas no transporte aeronáutico de mercadorias. GABARITO 1. As importações de produtos estrangeiros sujeitam-seao pagamento do: A alternativa "D " está correta. As importações se sujeitam ao Imposto de Importação, IPI, tratando-se de produtos industrializados no exterior, e ao ICMS estadual. Por exclusão, na letra a, consta que o IPI só contém alíquotas ad valorem, o que está equivocado; na letra b, vale notar que o ICMS não se restringe aos produtos sujeitos ao IPI; e, na letra c, nos casos de importação de combustíveis, incide a CIDE-Combustíveis. Portanto, apenas a letra D é correta. 2. A Taxa de Utilização do Siscomex é cobrada: A alternativa "A " está correta. Por ser devida em virtude da utilização do Siscomex, a taxa tem como fato gerador o registro da Declaração de Importação ou de Exportação no sistema informatizado. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Estudamos sobre os tributos no comércio exterior e verificamos a necessidade de simplificação da regulamentação e dos procedimentos em comércio exterior. Fica óbvio que a quantidade de tributos incidentes nas importações reflete a complexidade do próprio Sistema Tributário Nacional, com seus mais de 80 tributos que pesam sobre a economia como um todo. Identificamos os diferentes tributos, com foco sobretudo nos diversos aspectos dos impostos de importação e exportação, mas também vendo os reflexos do comércio exterior em outros tributos. Não é certo dizer que, enquanto as exportações devem ser desoneradas, as importações devem ser tributadas de modo a desestimular a entrada de produtos estrangeiros no país. Absolutamente! O que se precisa é criar formas de incentivo à industrialização de bens no país, tornando, assim, as importações mais seletivas, de modo a que sejam importados apenas bens de produção e reduzida a importação de bens de consumo geral — o que provoca o desequilíbrio na balança comercial, com consequências desastrosas para toda a sociedade brasileira. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS MEIRA, Liziane Angelotti. Tributos sobre o comércio exterior. São Paulo: Saraiva, 2012. PIRES, Adilson Rodrigues. O dumping e a natureza dos direitos antidumping. In: Revista do Icet, Fortaleza (CE), v. II, n. 2, p. 9-25, 2001. PIRES, Adilson Rodrigues. Práticas abusivas no comércio internacional. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001. PIRES, Adilson Rodrigues. Tributação sobre o comércio exterior. Tributação das Empresas, São Paulo: Quartier Latin, 2006. EXPLORE+ Pesquise nos principais veículos de notícias aquelas que tratam dos impactos das reformas tributárias. Leia o artigo Os limites do valor aduaneiro como base de cálculo dos tributos incidentes na importação, do professor Adilson Pires Rodrigues. CONTEUDISTA Adilson Rodrigues Pires CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);