Buscar

Noções De Interação Medicamentosa

Prévia do material em texto

Iana Barbosa Martins 
 
1 Farmacologia Básica – MED 31 
Noções De Interação Medicamentosa 
Iana Barbosa Martins 
Conceito 
A interação medicamentosa não se dá apenas entre 
medicamentos. 
É necessário considerar hábitos de vida e de 
alimentação. 
 
• Medicamento – Fármaco 
• Medicamento – Álcool 
• Medicamento – Tabagismo 
• Medicamento – Alimentos 
• Medicamento – Enfermidade: paciente nefropata tem 
excreção diferenciada do medicamento. 
• Medicamento – Teste diagnóstico: metformina (para 
DM) interage com os meios contraste e aumenta o 
potencial nefropata do meio de contraste. 
• Medicamento – Substância química 
 
Múltiplas Exposições 
Duas situações possíveis: 
• Indiferentismo: não interfere, sem diferença na 
resposta do paciente sem o medicamento. 
• Interação. 
 
Classificação 
 
Quantitativa 
Relacionado ao efeito. 
Ampliação do efeito. 
• Sinergia: 
Adição ou potencialização – torna medicamento mais 
efetivo. 
Ex: Tratamento da hipertensão com paciente tomando 
enalapril com controle ineficaz da PA. Dá-se 
hidroclorotiazida – adição no controle da PA para 
resposta mais efetiva. 
• Antagonismo parcial: 
Medicamento sofre perda da funcionalidade. 
Ex: Paciente com tratamento hipertensivo 
medicamentoso de sucesso toma anti-inflamatório e 
causa uma subida de PA – redução da eficácia do anti-
hipertensivo por conta da interação com anti-
inflamatório. 
• Antagonismo total: 
 
Qualitativa 
Relacionado a qualidade da medicação. 
• Rifampicina + contraceptivo: 
A qualidade do contraceptivo foi perdida por conta do 
antibiótico. 
• Diurético (não poupador de K) + dipoxina: 
Aumento da toxicidade. 
Qualidade de resposta de prejuízo para paciente. 
 
Observações 
• Forma mais simples de classificação: apenas sinergia e 
antagonismo. 
• Antagonismo em alguns casos é sinônimo de 
antidotismo. 
 
Exemplo de Interações 
 
• Quando há metabolismo citocromial: 
Se há dois medicamentos que precisam do 
citocromo, um deles será metabolizado com 
prejuízo. 
• Medicamento que induz o citocromo (amplia a 
quantidade): 
Medicamento eliminado mais rápido pode acarretar 
em efeito reduzido. 
• Medicamento que inibe o citocromo: 
Não elimina o medicamento no tempo devido e a 
redução de eliminação pode causar toxidade ou 
amplificar o efeito. 
 
Observações 
• Atenção na hora de prescrever medicamento 
desconhecido! 
• Importante verificar se tem metabolismo citocromial, 
se é indutor ou inibidor de citocromo. 
Iana Barbosa Martins 
 
2 Farmacologia Básica – MED 31 
• Não é necessário decorar relação com citocromo. 
Incidência 
Não há quantificação, mas se sabe que acontece muito. 
Números subnotificados: 
• Algumas interações, principalmente em pacientes 
internados são confundidas como manifestação da 
doença, agravamento do quadro do paciente, efeito 
adverso ou colateral do medicamento; 
• Automedicação; 
• Prescrição – choque de prescrições de médicos com 
especialidades diferentes, por ex. 
Dois medicamentos com a mesma finalidade às vezes 
não ocorrem sinergia e sim efeitos adversos. 
• Poli farmácia – pacientes que usam muitos 
medicamentos. 
• Aumenta proporcionalmente ao número de fármacos 
utilizados. 
• Medicações com metabolismo cytocromial. 
 
Observações 
• Acontece principalmente em pacientes internados por 
conta do grande número de medicações, que em 
alguns horários se chocam aumentando o risco de 
interação; 
• Cerca de 40% dos casos de intoxicação no Brasil 
ocorrem devido ao uso inadequado de medicamentos 
gerando interação medicamentosa. 
• Evento evitável, pouco percebido pela maioria dos 
médicos que não avalia sua frequência e 
consequências. 
• Poucas informações disponíveis, incompletas, de baixa 
qualidade ou excessivamente acadêmicas. 
• Como evitar: 
Perguntando sempre ao paciente sobre efeitos 
colaterais, medicamentos utilizados, alimentação. 
Anamnese bem feita e farmacológica facilita e ajuda a 
diminuir o conteúdo teórico e acadêmico sobre as 
interações. 
 
Aumento da Suscetibilidade a 
Interações 
Há aumento da suscetibilidade em relação a interações 
quando: 
• Há alterações de processos farmacocinéticos; 
Absorção – problemas gástricos. 
• Comprometimento imunológico; 
• IR – insuficiência renal; 
• Hepatopatia; 
• Cardiopatia; 
• Doença respiratória; 
Leva a estresse oxidativo podendo interferir em base 
celular para interação medicamentosa. 
• Hipotireoidismo; 
• Epilepsia grave; 
Anticonvulsivantes e psicotrópicos de modo geral 
são medicamentos que possuem muita interação 
medicamentosa. 
Em toda prescrição psicotrópica, principalmente 
anticonvulsivante ter bastante atenção para 
interação. 
São drogas com metabolismo cytocromial. 
• Asma aguda; 
Estresse oxidativo. 
• DM descompensado. 
Alteração metabólica. 
 
Interação Fármaco - Alimento 
Grapefruit: laranja americana tem muita chance de 
interação. Tente a diminuir a eficácia da medicação. 
• Pode interagir com os bloqueadores canais de Ca. 
• Importantes anti-hipertensivos: felodipino, 
nifetipino e amlodipina. 
• Fármacos psicotrópicos: carbomazepina e a 
brupopiona. 
• Estatinas: atorvastatina, sinvastatina. 
Principalmente em relação a sinvastatina a 
orientação ao paciente é alimentação saudável e 
não se sabe se as frutas cítricas brasileiras podem 
interagir como a Grapefruit americana. 
 
Ingestão de alimentos 
• Atenção ao processo de absorção – alimento 
competindo com o fármaco. 
• Metabolização do alimento como fator de 
interferência. 
• Alteração na flora – antibióticos são apontados 
como capazes de reduzir a eficácia de contraceptivos 
combinados. 
• Excreção da medicação junto ao alimento – 
tetraciclina + leite ou rico em Ca. Ca vai quebrar a 
tetraciclina e não permite a absorção da mesma 
perdendo o benefício do antimicrobiano. 
 
Como alimentos afetam o uso de 
medicamentos 
• REDUÇÃO DA ABSORÇÃO; 
• ALTERAÇÕES NO TGI (trato gastrointestinal); 
• AUMENTO NA ABSORÇÃO; 
• NENHUMA INTERAÇÃO. 
 
Observação 
Iana Barbosa Martins 
 
3 Farmacologia Básica – MED 31 
• Leite não corta efeito de tóxico lipossolúvel – faz 
absorver mais rápido. 
• Péssima ideia o uso de leite para cortar efeito de 
intoxicação. 
 
Podem influenciar para ocorrência de 
interações 
• Alimentos graxos (ricos em gordura) potencializam a 
absorção, pincipalmente de antifúngicos 
(itraconazol). 
• Dieta hiperprotéica estimula o CYP P450 (citocromo) 
e as ricas em carboidratos inibem. 
Citocromo estimulado pode metabolizar 
medicamento mais rápido reduzindo seu efeito. 
Citocromo inibido faz com que o medicamento 
permaneça mais tempo no organismo produzindo 
reações. 
• Cítricos modificam a farmacocinética de pelo menos 
40 fármacos. 
(1 copo de suco = interação/24h): Estatinas, 
ciclosporina, antagonistas do canal de Ca e dos BZP. 
 
Medicamentos / Tabagismo 
• Tabaco é indutor de enzimas: 
Pode ter efeito diminuído dos medicamentos. 
• Afeta a conjugação com o ácido glicurônico: 
Medicamentos que precisam do ácido glicurônico 
para eliminação, o processo é prejudicado. 
• Aumenta a liberação de catecolaminas: 
Ex: Paciente usa beta bloqueador por tendência a 
arritmias e é tabagista. Devido a liberação de 
catecolaminas o beta bloqueador vai aparentar que 
não está funcionando corretamente. 
Apenas observar o paciente tabagista e reações. 
 
Álcool + Fármacos 
• Em geral é potencializar o efeito. 
• Varia por medicação e quantidade. 
• Varia de acordo com o consumo. 
• Medicamentos com efeito no SNC competem com o 
álcool pelo citocromo sendo metabolizada mais 
lentamente. 
Algumas medicações tem efeito ativo levando ao 
coma alcoólico. 
 
Situações: 
1. Medicamento precisa de metabolismo citocromial 
para eliminação. Sem álcool o processo ocorre 
dentro do esperado. 
No tempo esperado. 
2. Consumo moderado de álcool: 
Álcool interage com o SNC e precisa do citocromo. 
Álcool compete com a medicação pelo citocromo. 
Citocromo metaboliza primeiro o álcool: 
metabolização da medicação reduzida levando a 
diminuiçãoda excreção aumentando o efeito. 
Sendo uma medicação que age no SNC o paciente 
pode ter uma depressão de SNC por conta de 
medicação mais tempo em circulação. 
3. Alcoolista crônico: 
O organismo sente necessidade de metabolização 
constante do álcool induzindo o organismo a 
produzir mais citocromo. 
Mesmo que o paciente pare de beber, os citocromos 
em excesso aumentam a metabolização do 
medicamento e aumentam a excreção: 
• Diminuição do efeito medicamentoso ou 
• Caso seja droga com metabólico toxico, 
aumenta a toxicidade. 
Individuo que tem esse processo de intoxicação a 
nível de SNC, pode ter facilidade ao coma alcoólico. 
Ex: Barbitúrico: nível de consciência reduzida pela 
baixa metabolização da droga e aumento da 
concentração e adição de depressão no SNC. 
 
Efeito Antabuse 
• Metabolização do álcool e Mecanismo de ação do 
Efeito Antabuse 
1. Álcool após ingestão é metabolizado pelo álcool 
desidrogenase em acetaldeído. 
2. Acetaldeído é metabolizado pelo aldeído 
desidrogenase em acetato. 
➢ Acúmulo (excesso) de acetaldeído é o que 
provoca o mal estar da ressaca. 
➢ Quando uma medicação é capaz de bloquear a 
aldeído desidrogenase, bloqueando a capacidade 
do organismo de metabolizar acetaldeído em 
acetato, terá excesso de acetaldeído provocando 
efeito antabuse. 
 
 
 
Iana Barbosa Martins 
 
4 Farmacologia Básica – MED 31 
 
 
Medicamentos e efeito antabuse 
Há uma série de medicamentos que provocam efeito 
antabuse. 
Início do efeito: 5 – 10 minutos. 
Duração: 30min a várias hrs. 
Enjoo, taquicardia, hipotensão, mal estra, cefaleia, 
vertigem. 
• Paciente refere sensação de morte. 
• Esse medicamento é prescrito por alguns psiquiatras 
como antialcoolismo para dar um efeito negativo ao 
etilista e evitar que ele beba. 
• Nitroglicerina, dinidrato de isossorbida, sulfoniureias 
(DM), griseofulvina, cloranfenicol, nitrofurantoína, 
cafamandol e cefoperazona, isoniazida, imidazólicos, 
SMZ + TMP, antibióticos e aines (anti-inflamatórios). 
• Dependendo da concentração de aldeído 
desidrogenase as medicações podem atuar no 
bloqueio dessa enzima e potencializar a ressaca 
como o ENGOV (aas). 
• Medicações com alto índice de efeito antabuse: 
➢ AINES 
➢ Antibióticos (cefalosporinas, sulfas) 
➢ Imidazólicos (verme/cecnidazol e 
metronidazol em especial) 
➢ Sulfoniureias (DM) – mesmo com suspensão 
de 24h pode provocar uma ressaca 
prolongada. 
• Quando o paciente tem uma ressaca turbo, pode ter 
sido vítima do bloqueio enzimático numa escala 
menor do que a de causar realmente o efeito 
antabuse clássico. 
 
Metabolização do álcool, hiperuricemia e 
esteatose hepática. 
1. Capacidade do álcool em excesso devido ao 
processo de acetaldeído, o acetato é 
metabolizado em Acetil-CoA. 
2. Acetil-CoA em contato com ácidos graxos (pode 
ser da própria alimentação) se transforma em 
triglicerídeos, resultando em fígado gorduroso. 
• Paciente não teve excesso de ressaca e o sistema 
enzimático funciona bem, porém o excesso no 
consumo de álcool resulta em excesso de acetato 
produzido que se transforma em Acetil-CoA. 
• Exposição excessiva ao álcool leva a cirrose e hepatite. 
• Paciente com fígado esteatótico é fator de risco para 
cirrose e hepatite. 
 
 
 
 
ACETOAMINOFENO (paracetamol) e 
ÁLCOOL. 
1. Após consumo do paracetamol, 95% será 
conjugado e excretado na urina. 
2. 5% do paracetamol se transforma em NAPQI 
(tóxica pro fígado). 
3. NAPQI precisa de glutationa para ser conjugada 
e excretada em um agente não tóxico. Caso 
contrário, NAPQI se acumula e é hepatotóxico. 
1. Há quase uma inversão no metabolismo com 
prejuízo na eliminação do paracetamol através 
da conjugação com glucoronídeos. 
2. Grande quantidade de NAPQI. 
3. Organismo não tem glutationa suficiente para 
realizar conjugação do NAPQI em excesso, 
provocando facilidade na não eliminação e 
hepatotoxicidade. 
• Álcool induz a CYP2E, com risco de alterar o 
metabolismo hepático do acetoaminofeno. 
Além de indutor dessa enzima, o álcool é seu 
principal substrato. 
• Álcool provoca também depleção da glucationa que 
é a via metabólica de desintoxicação para o NAPQI. 
• Paracetamol associado na Europa com intoxicações 
alcoólicas com hepatite fulminante. 
 
Tratamento do diabetes 
• Sempre que o tratamento for associado com álcool 
tem risco aumento de hipoglicemia independente do 
uso de hipoglicemiante oral ou insulina. 
 
Antidepressivos 
• Não associar psicofármacos com álcool. 
• Associação perigosa por conta do risco de depressão 
do SNC. 
• Fármacos que precisam muito de metabolismo 
citocromial. 
• Antidepressivos: amitriplina (Typtanol), fluoxetina 
(prozac), paroxetina (aropax), sertralina (zolof), 
bupropiona (welbutrin), venlafaxina (efexor). 
• Anorexígenos: femproporex, anfepramona (inibex S), 
mazindol (fogolipo). 
Iana Barbosa Martins 
 
5 Farmacologia Básica – MED 31 
• Barbitúricos – um dos ex de maior gravidade: 
• Livro do Katsung – muitas informações sobre 
interação medicamentosa. 
➢ AP = altamente provável/previsível; 
➢ P = predizível/provável; 
➢ NP = não predizível/não provável; 
➢ NE = não estabelecido. 
➢ Obs: no Katsung vem dizendo que Metronidazol é 
NP. 
➢ Precisa-se considerar a língua de origem do livro, já 
que nos países desenvolvidos não há hábito de 
autoconsumo de metronidazol para parizitoses 
como no Brasil. 
NEM TODA INFORMAÇÃO EM LIVROS DE 
FARMACOLOGIA É ÚTIL E APLICÁVEL EM TODOS OS 
PAÍSES. É PRECISO CONTEXTUALIZAÇÃO LOCAL. 
 
Fármacos / Fármacos 
Antiácidos 
• Redução da absorção gastrintestinal 
➢ Cetoconazol 
➢ Digoxina 
➢ Ferro 
➢ Quinolonas 
➢ Tetraciclinas 
• Aumenta a depuração renal de salicilatos (grandes 
doses de salicilatos) – alguém intoxicado de 
salicilatos, consumo de antiácidos para ajudar na 
excreção. 
AINES 
• Propriedades que promovem a interação com a 
droga - mecanismo de ação relacionado ao efeito 
adverso e a interações medicamentosas. 
➢ Função renal: 
Inibição da prostaglandina pode resultar em 
diminuição da excreção renal de Na, menor 
resistência aos estímulos hipertensivos e escreção 
renal reduzida de lítio. 
➢ Sangramento: 
Maioria dos AINEs inibe a função plaquetária. 
Pode aumentar a probabilidade de sangramento 
devido a outras drogas que afetam a hemostasia. 
➢ Fatores farmacocinéticos: 
Maioria dos AINEs liga-se fortemente às 
proteínas plasmáticas. 
• AINEs diminuem eficácia de anticoncepcionais.

Continue navegando