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In�ufi��ên�i� Car�íac� É uma síndrome clínica resultante de alterações no enchimento e/ou na ejeção ventricular. Tanto alterações estruturais quanto funcionais podem levar aos sintomas associados a essa síndrome. Os principais sintomas associam-se à congestão pulmonar e sistêmica, mas também podem se manifestar com sinais e sintomas de baixo débito cardíaco. Pacientes podem ter fração de ejeção preservada (ICFEP), fração de ejeção reduzida (ICFER) ou fração de ejeção intermediária (ICFEI). Atualmente, pacientes com fração de ejeção ventricular esquerda (FEVE) menor do que 40% são denominados ICFER; enquanto pacientes com FEVE maior do que 50% associados a sintomas de IC, elevação de biomarcadores e/ou resposta alterada em testes de exercício hemodinâmico são considerados ICFEP e aqueles, também sintomáticos, com FEVE entre 40-49% são denominados ICFEI. Essa síndrome tem caráter progressivo e por esse motivo pode ser classificada em estágios, sendo considerados: - A: pacientes com fator de risco para desenvolver IC; - B: pacientes com doença estrutural, porém sem sintomas de IC; - C: pacientes com sinais ou sintomas de IC; - D: aqueles com sintomas refratários ao tto clínico que necessitem de suporte avançado como transplante cardíaco, dispositivos de assistência ventricular ou cuidados paliativos. Em relação aos sintomas, pode-se classificar a IC de acordo com a classe funcional da New York Heart Association: - NYHA I: ausência de sintomas; - NYHA II: atividades habituais causam sintomas (limitação leve); - NYHA III: atividades menos intensas que as habituais causam sintomas (limitação importante); - NYHA IV: incapacidade para realizar qualquer atividade sem apresentar desconforto. A classificação proposta por Gheorghiade é feita com base em níveis pressóricos: - ICA com PA elevada: sintomas abruptos, mais frequente em mulheres, volemia normal ou pouco elevada, com resposta rápida ao tto. - ICA com PA normal: início gradual dos sintomas, queda da fração de ejeção. - ICA com PA baixa: também com início gradual dos sintomas e sinais de baixa perfusão tecidual, tendo difícil resposta terapêutica. Já a classificação de Stevenson propõe avaliação a partir do perfil hemodinâmico. De acordo com essa classificação, os pacientes que apresentam congestão são denominados “úmidos”, enquanto os sem congestão, “secos”. Os que apresentam sinais de perfusão periférica inadequada são denominados “frios”, e os sem sinais de baixa perfusão, “quentes”. São considerados pacientes congestos aqueles que apresentam ortopneia, estase jugular, hepatomegalia, edema ou crepitações, enquanto se considera baixo DC a presença de pulso filiforme, rebaixamento do nível de consciência, hiponatremia, extremidades frias, hipotensão em uso de IECAs ou disfunção renal. Epidemiologia: A população idosa merece atenção especial. Uma das hipóteses para a alta prevalência de IC na população idosa é a aceleração do envelhecimento cardiovascular por fatores de risco específicos (usualmente, hipertensão arterial, diabete, doença arterial coronariana), afetando o coração e todo o leito vascular. É descrito progressivo aumento da incidência (10 para 1.000 em maiores de 65 anos), como também da taxa de mortalidade intra-hospitalar. Etiologia: A IC é em geral a via final de diferentes doenças que acometem o coração. Alguns fatores de risco para o desenvolvimento de IC merecem destaque, e entre eles estão: doença coronariana; hipertensão; diabetes; obesidade e tabagismo. Dados da literatura sugerem que pacientes com cardiomiopatia isquêmica e chagásica apresentam pior prognóstico quando comparados a outras etiologias. Em nosso meio, a etiologia valvar de causa reumática ainda merece atenção. No entanto, em cerca de 1/3 dos casos não é possível determinar a etiologia da IC com precisão. Esses pacientes recebem a denominação de cardiomiopatia idiopática quando a causa não é totalmente esclarecida, porém pode ser secundária a infecções virais não identificadas ou ainda defeitos genéticos não devidamente determinados. Fisiopatologia: 1) Ativação neuro-hormonal e inflamação: Durante o curso inicial da IC, a ativação do sistema nervoso adrenérgico do SRAA induz mudanças adaptativas que permitem a manutenção da perfusão por meio de mecanismos que incluem aumento da contratilidade cardíaca, retenção de sódio e fluidos e vasoconstrição. No entanto, com o tempo esses mecanismos tornam-se desadaptativos e resultam em disfunção cardíaca e de órgãos-alvo, aumentando a proliferação de fibroblastos, estresse oxidativo e deposição de matriz extracelular. 2) Congestão venosa e disfunção endotelial: A congestão venosa tem papel central, associando-se à ativação neuro-hormonal, disfunção endotelial e disfunção renal. Em boa parte dos pacientes, associa-se a disfunção de VD, com consequente sobrecarga no sistema cava (alterações hepáticas e intestinais, ascite) e congestão venosa renal, além do próprio edema periférico. O agravamento da congestão e a disfunção renal modificam a resposta a diuréticos de alça, com necessidade de doses mais altas para maior impacto na diurese. Essa síndrome cardiorrenal está associada ao desequilíbrio nos níveis de NO (endotelite aguda) e a aumento no estresse oxidativo (prostaglandinas e citocinas) e, por conseguinte, a progressão da IC. 3) Comorbidades e disfunções secundárias de órgãos-alvo: A congestão é o perfil clínico predominante na maioria dos pacientes com ICA, com menor proporção apresentando-se com hipoperfusão periférica ou choque cardiogênico. Ainda que a fisiopatologia não esteja completamente entendida, ambos podem levar a lesão de órgão-alvo (pulmões, rins, fígado, intestino, cérebro) e estão associados a pior prognóstico. Pulmões: Aumentos na pressão hidrostática do átrio esquerdo (AE) e regurgitação mitral repercutem com aumento da pressão capilar pulmonar, aumentando a transudação de fluido para o interstício, consequentemente rigidez pulmonar e dispnéia. Rins: Os mecanismos aventados incluem redução no fluxo sanguíneo renal (por congestão ou baixo débito), pressão intra-abdominal elevada, hipóxia renal, aumento da pressão intersticial e fibrose intersticial, além dos mediadores inflamatórios. Fígado: A colestase é um achado mais comum, porém o mais grave é a necrose centro-lobular e elevação de transaminases decorrente de hipoperfusão (hepatite hipóxica). Intestino: Por um lado, o aumento da permeabilidade intestinal e da flora bacteriana contribui para inflamação crônica e desabsorção. Por outro, a congestão venosa sistêmica/vasoconstrição e a redução do débito cardíaco contribuem para a redução do fluxo na microcirculação esplâncnica e o aumento do fenômeno de isquemia intestinal. Quadro Clínico: Os objetivos principais do exame físico são confirmar o diagnóstico, identificar possíveis fatores de exacerbação e determinar padrão hemodinâmico para manejo. A pressão venosa jugular elevada e a presença de um galope S3 estão associadas ao aumento da morbidade e da mortalidade na IC. A IC aguda é classificada de acordo com quatro aspectos: 1) Síndrome clínica de apresentação (insuficiência ventricular esquerda, IC congestiva, choque cardiogênico e edema agudo de pulmão); 2) Tempo de evolução da doença (IC aguda nova ou crônica agudizada); 3) Tipo de disfunção ventricular (ICFEp – (FEVE > 50%); ICFEi (FEVE 40-50%) e ICFEr (FEVE < 40%); 4) Modelo clínico-hemodinâmico. Exames Complementares: Avaliação laboratorial no paciente com ICA pode fornecer informações importantes de diagnóstico e prognóstico. O teste deve incluir um hemograma completo, painel metabólico básico com teste de função renal, hepática, troponina e nível de peptídeo natriurético cerebral (BNP). O teste de troponina pode ajudar no prognóstico e na detecção de isquemia subjacente como um potencial evento desencadeante descompensação. Um eletrocardiograma (ECG) deve ser obtido rapidamente para avaliar a etiologia ou fatores precipitantes. Radiografia de tórax é acessível. Seus achados podem sugerir o diagnóstico de IC, incluindocardiomegalia, congestão vascular central e edema intersticial. A ecocardiografia deve ser realizada durante a avaliação inicial de pacientes com IC, assim que possível. A ultrassonografia à beira do leito pode ser valiosa para diagnosticar ICA, com alta especificidade e razões de probabilidade positivas. O número de zonas pulmonares examinadas varia na literatura, entre 8 zonas pulmonares torácicas e mais recentemente 4 ou 6 zonas. Manejo do paciente com IC aguda descompensada: 1) Identificar situações que trazem risco imediato à vida; 2) Suporte respiratório; 3) Correção de fatores precipitantes/ desencadeantes; 4) Manejo de comorbidades descompensadas; 5) Manejo hemodinâmico; 6) Transição de cuidados (otimização das medicações e planejamento pós-alta). Manejo Hemodinâmico: As evidências para restrição hidrossalina em pacientes com IC descompensada são inconclusivas. Todos os pacientes devem interromper o hábito tabágico, e aqueles que não o conseguem por conta própria devem ser encorajados a procurar serviços especializados. O uso de bebidas alcoólicas também pode ser deletério em pacientes portadores de IC, seja pela capacidade de induzir diretamente a disfunção ventricular ou pela possibilidade de desencadear arritmias. Recomenda-se que a vacina anti-influenza seja feita anualmente e a vacina anti-pneumocócica a cada 5 anos. Os diuréticos promovem excreção de sódio e água e são a principal ferramenta no manejo da hipervolemia. Em pacientes com edema de alças intestinais, a mucosa pode lentificar a absorção do medicamento, reduzindo o pico de ação e contribuindo para o desenvolvimento de resistência a diuréticos. Tiazídicos e poupadores de potássio têm menor poder diurético quando utilizados de maneira isolada, mas são de grande utilidade quando usados em conjunto com diuréticos de alça. A dose ideal de diurético vai depender da dose em uso prévio, da função renal e da magnitude da congestão. Durante a terapia diurética, sinais vitais, ingesta hídrica, débito urinário, peso, função renal, eletrólitos e sintomas e sinais de congestão devem ser diariamente monitorizados. O racional do uso de vasodilatadores na IC consiste na redução da pós-carga, sabidamente elevada pela hiperativação do sistema adrenérgico e renina-angiotensina-aldosterona. Os vasodilatadores estão indicados nos pacientes com perfil hemodinâmico quente-congesto, na ausência de hipotensão arterial ou choque cardiogênico, hipovolemia ou comorbidades como sepse. A utilização do suporte terapêutico com agentes inotrópicos aplica-se para os pacientes com baixo débito cardíaco com sinais de hipoperfusão (disfunção orgânica ou choque cardiogênico). Após atingir a estabilidade hemodinâmica e resgatar as disfunções orgânicas, as drogas endovenosas devem ser retiradas de forma gradual, em um processo de “desmame”, e substituídas por vasodilatadores orais. É importante garantir a euvolemia antes e durante o desmame, pois congestão é causa importante de falência de desmame de inotrópicos. A noradrenalina e a vasopressina são os agentes vasopressores mais utilizados. Pela ação vasoconstritora, promovem aumento na pressão arterial, que pode ser necessário para manter a perfusão de orgânica. Estão indicadas em pacientes com importante hipotensão arterial ou choque cardiogênico, ou na presença de inflamação sistêmica associada. Os pacientes sem indicação de anticoagulação devem receber profilaxia de trombose venosa profunda. Em pacientes com disfunção renal (clearance de creatinina < 30 mL/minuto), evitar o uso de heparina de baixo peso molecular e utilizar preferencialmente heparina não fracionada. Transição de Cuidados: Após a alta, o paciente entra no chamado “período vulnerável”, um período de 60-90 dias em que há risco elevado de re-hospitalização e óbito. IC CO� F�AÇÃO DE EJ�ÇÃO RE����DA: Fisiopatologia: Na maioria dos casos, após determinado insulto, os pacientes se mantêm longos períodos assintomáticos antes de manifestar os primeiros sinais ou sintomas e descompensação. Mecanismos compensatórios deflagrados pelo dano cardíaco estão relacionados aos períodos assintomáticos. Precocemente ocorre a ativação do sistema nervoso (SN) simpático, que permite aumento na frequência cárdica com influência direta sobre o débito cardíaco, estímulo aos receptores beta-adrenérgicos do miocárdio, promovendo maior força contrátil, além de influir sobre o endotélio com estímulo à vasoconstrição. O SN simpático promove ainda a ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA). O SRAA estimula a retenção de sódio e água com a elevação das forças de Frank-Starling, que permitem a sustentação inicial do débito cardíaco. No entanto, esses mecanismos compensatórios promovem também o remodelamento cardíaco (hipertrofia dos miócitos, apoptose celular e deposição de fibrose). Com o passar do tempo, tais mecanismos entram em falência e surgem os primeiros sinais e sintomas de IC. Tratamento Farmacológico: O tratamento farmacológico da ICFEr tem três objetivos primordiais: reduzir a mortalidade, reduzir a morbidade e melhorar a qualidade de vida. Os medicamentos que têm essas três características são: inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA), bloqueadores dos receptores da angiotensina II (BRA), inibidores da neprilisina e dos receptores da angiotensina (INRA), betabloqueadores, antagonistas dos receptores mineralocorticoides (ARM), inibidores do cotransportador sódio-glicose 2 (iSGLT2), hidralazina com nitrato e ivabradina. Os medicamentos que apenas reduzem a morbidade e melhoram a qualidade de vida são: digoxina e diuréticos de alça e tiazídicos. Inibidores da enzima conversora da angiotensina e bloqueadores dos receptores da angiotensina II: Os IECA devem ter preferência em relação aos BRA. Os IECA e BRA devem ser usados em pacientes de quaisquer etiologias e em todas as classes funcionais da New York Heart Association (NYHA). Os BRA devem ser utilizados quando o paciente tiver intolerância aos IECA. Os principais achados relacionados a essa intolerância são tosse persistente e intensa e angioedema. Os principais eventos adversos dos IECA e BRA são hipotensão arterial, hipercalemia e insuficiência renal. Betabloqueadores: Entre os principais benefícios estão o efeito no remodelamento reverso ventricular associado ao aumento da fração de ejeção do ventrículo esquerdo. Eles devem ser usados em quaisquer etiologias e em todas as classes funcionais da NYHA. É importante destacar que, no início do tratamento, alguns pacientes podem piorar um pouco os sintomas, mas isso reverte após alguns dias, portanto o paciente deve ser orientado a manter o medicamento. Inibidores da neprilisina e dos receptores da angiotensina (sacubitril/valsartana): O sacubitril/valsartana deve ser usado preferencialmente em pacientes já em uso de IECA ou BRA, mas que permanecem sintomáticos, porém pode ser utilizado também como primeira terapia. Pode ser utilizado em quaisquer etiologias e em pacientes das classes funcionais II, III e eventualmente na IV da NYHA. Os principais eventos adversos do INRA são hipotensão arterial, hipercalemia e insuficiência renal. Ivabradina: É uma droga única em seu mecanismo de ação, inibindo seletivamente a corrente If no tecido do nó sinoatrial e reduzindo a frequência cardíaca. Para ser utilizada, o paciente precisa estar em ritmo sinusal, sintomático e com a FC maior que 70 bpm. Pode ser utilizada em quaisquer etiologias e em pacientes das classes funcionais II, III e IV da NYHA. O principal evento adverso da ivabradina é a bradicardia sintomática. Digoxina: Apenas melhora a qualidade de vida e reduz hospitalizações, sem impacto na redução de mortalidade. É um medicamento que pode ter muitos efeitos colaterais por intoxicação relacionados a níveis séricos maiores que 1,2 ng/mL, podendo inclusive causar morte. Hidralazina e Nitrato: É uma terapia de segunda linha. A principal indicação, entretanto, é a utilização em indivíduos intolerantes aos IECA ou BRA por insuficiência renal e ou hipercalemia. Diuréticosde alça e tiazídicos: Os diuréticos são os medicamentos mais usados na ICFEr para aliviar os sintomas congestivos. IC CO� F�AÇÃO DE EJ�ÇÃO P�E��R���A E IN���M��IÁRI�: Existem dois grandes mecanismos fisiopatológicos que estão relacionados à IC: a disfunção sistólica, na qual há piora da contratilidade do ventrículo esquerdo, e a disfunção diastólica, que é caracterizada pela piora do relaxamento cardíaco e/ou alteração da rigidez e enchimento. As duas condições quase sempre coexistem e estão mecanicamente interligadas, sendo que na IC com fração de ejeção preservada, existe um predomínio da disfunção diastólica sobre a sistólica, e na IC com fração de ejeção reduzida ocorre o inverso. Mecanismos Diastólicos: A disfunção diastólica indica uma anormalidade funcional do coração, que pode ocorrer com fração de ejeção normal ou alterada, e não necessariamente produz sintomas. A disfunção diastólica é classificada em graus e é caracterizada por perda de relaxamento, por menor enchimento e pressões elevadas durante a diástole. A DD sozinha é essencialmente parte do envelhecimento humano normal. Quando o relaxamento ventricular piora, o enchimento ventricular rápido que ocorre no início da diástole diminui, e essa redução faz com que o enchimento se complete no final da diástole, tornando a contração atrial peça fundamental para completar a diástole. Essa alteração é bem documentada no ecocardiograma pela redução da onda E, aumento da onda a e diminuição da onda e’. Mecanismos Não Diastólicos: 1) Disfunção Sistólica: Nos pacientes com ICFEp supõe-se que a fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) e a maioria dos índices de contratilidade estejam dentro das faixas de normalidade. Entretanto, a FEVE é um parâmetro ruim e não específico para avaliar a contratilidade do VE. A incapacidade de aumentar a função sistólica também piora a reserva diastólica na ICFEp, limitando o recuo elástico e os efeitos de sucção que normalmente facilitam o enchimento do VE. Essas anormalidades relativamente leves na função sistólica em repouso tornam-se limitações muito mais significativas durante o exercício, e se acentuam ainda mais em um coração já comprometido. Isso limita a capacidade de aumentar o volume sistólico e reduz o débito cardíaco e a perfusão dos órgãos-alvo. 2) Hipertensão Pulmonar: O aumento das pressões no AE e nas veias pulmonares em razão da DD leva ao aumento da pressão na artéria pulmonar por meio da retrotransmissão passiva da pressão hidrostática. Nos estágios mais avançados da ICFEp pode haver alterações na estrutura e na função vascular pulmonar, levando a um componente pré-capilar, no qual a resistência vascular pulmonar aumenta. A presença e a gravidade da HAP estão fortemente associadas ao desenvolvimento de disfunção do VD. 3) Desacoplamento Ventriculoarterial: Pacientes com ICFEp experimentam piora do acoplamento ventricular-vascular, o que leva ao aumento da pós-carga do VE. 4) Estado Inflamatório Sistêmico: O estado inflamatório sistêmico, induzido por comorbidades associadas à ICFEp, afeta o endotélio microvascular coronariano, por meio da expressão de moléculas de adesão endotelial. Essa expressão leva à ativação e à migração subendotelial de leucócitos circulantes. Esse estresse reduz a biodisponibilidade de óxido nítrico no miocárdio e leva à redução da atividade da proteína G quinase nos cardiomiócitos, tornando-o rígido e hipertrofiado. 5) Incompetência Cronotrópica: A incapacidade do coração de aumentar sua frequência cardíaca proporcionalmente à atividade ou demanda requerida, causando prejuízo na reserva de volume sistólico na ICFEp. 6) Fibrilação Atrial: O aumento das pressões de enchimento e da rigidez do VE, associado à diminuição da complacência, levam à elevação da tensão da parede atrial, aumento do AE e fibrose. Esse remodelamento estrutural do AE forma o substrato para iniciar e perpetuar a FA. Diagnóstico da ICFEP: Uma abordagem por passos pode ajudar o médico a chegar a um diagnóstico completo da ICFEp, no qual o passo 1 seria uma avaliação inicial em todos os indivíduos com suspeita de IC; no passo 2 estaria a avaliação diagnóstica (confirmar/excluir), que pode ser realizada com a utilização dos escores HFA-PEFF e H2FPEF; o passo 3 seria a busca da confirmação dos pacientes que caíssem na zona cinzenta; e finalmente o passo 4, que seria a busca do diagnóstico. Passo 1: Se nenhum dos critérios listados estiver alterado, o diagnóstico de ICFEp é improvável. Se pelo menos um for positivo, deve-se avançar para o passo 2. Passo 2: Os dois escores que podem ser utilizados são o H2FPEF e o HFAPEFF. A principal diferença entre eles é que o H2FPEF não utiliza o biomarcador. Passo 3: Se o paciente não atinge pontuação que permite o diagnóstico ou exclusão de ICFEp, ou seja, não tem grande alteração na pressão de enchimento ou alteração estrutural, pode ser submetido a teste funcional em cicloergômetro (estresse diastólico) ou ecocardiograma de estresse. Passo 4: Além da pesquisa pelas etiologias sugeridas na seção de diagnóstico básico, sugere-se em casos selecionados a investigação das cardiomiopatias por exames de imagem avançados e das doenças genéticas. Diagnóstico da ICFEI: A principal questão é se os pacientes com ICFEi representam uma entidade fisiopatológica distinta ou se há um fenótipo de transição entre ICFEr e ICFEp. Os principais preditores clínicos de ICFEi são: idade avançada, sexo masculino, pressão arterial sistólica mais alta, diabete melitos e infarto do miocárdio prévio. O diagnóstico de ICFEi de modo geral segue o mesmo raciocínio adotado para a ICFEp. Sinais e sintomas clínicos são semelhantes para pacientes com ICFEp, ICFEi e ICFEr. O eletrocardiograma (ECG) em repouso pode revelar anormalidades como FA, hipertrofia do VE e anormalidades de repolarização. Um ECG normal e/ou concentrações plasmáticas de BNP < 35 pg/mL e/ou NTproBNP < 125 pg/mL tornam improvável o diagnóstico em pacientes com suspeita de ICFEi. Tratamento da ICFEP: O manejo da ICFEp necessita que se considere a presença e a combinação das diversas morbidades e fatores de risco cardiovascular, os quais geram as manifestações clínicas da IC: congestão e a dificuldade de adequar o débito cardíaco ao esforço. Apesar de não haver qualquer estudo clínico disponível testando especificamente um fármaco anti-hipertensivo, indiretamente diversas diretrizes determinam a necessidade do controle pressórico. Nesse contexto, além dos diuréticos tiazídicos, fármacos como inibidores da enzima de conversão da angiotensina (iECA), bloqueadores dos receptores da angiotensina (BRA) ou ARM são os preconizados. Controle das morbidades: Obesidade, diabetes, FA, isquemia miocárdica. Dispositivos em ICFEp: Derivação interatrial esquerdo-direita determina uma transferência de pressão e volume através de um pertuito interatrial e pode descomprimir o átrio esquerdo. Tratamento da ICFEI: Diuréticos: para controle da volemia. Controle das morbidades: conforme as diretrizes específicas. IN����CIÊN�I� CA��ÍAC� AV��ÇAD�: Muitos indivíduos podem manter-se clinicamente estáveis, mesmo com disfunção sistólica importante. Por outro lado, otimização terapêutica plena também pode “recuperar” pacientes com quadros considerados avançados em cenários específicos, inclusive em pacientes já em lista de espera para transplante cardíaco. Um subgrupo de pacientes com IC crônica continuará progredindo e desenvolvendo sintomas persistentemente graves, apesar da terapia farmacológica otimizada. Várias terminologias foram usadas para descrever esse grupo de pacientes, classificados contemporaneamente como IC do estágio D. Deve-se fazer esforço continuado para manter o uso de inibidores do sistema renina-angiotensina-neprilisina, betabloqueadores e antagonistas da aldosterona em pacientes com sintomas graves de IC. Os agentes inotrópicos e vasopressores tradicionais aumentam a contratilidade miocárdica e são geralmente considerados em pacientes com IC em estágio D com curso clínico refratário caracterizado porpressão arterial sistêmica limítrofe ou reduzida, baixo débito cardíaco e hipoperfusão de órgãos-alvo. Os três principais inotrópicos parenterais atualmente disponíveis são a dobutamina, milrinona e levosimendana. 1)A dobutamina é agonista beta-adrenérgico com efeitos diretos na contratilidade do miocárdio, bem como efeitos vasculares e cronotrópicos. 2)A milrinona é um inibidor da fosfodiesterase que apresenta propriedades inodilatadoras e promove aumento do débito cardíaco e queda da resistência vascular pulmonar e sistêmica, sem aumentar significativamente o consumo miocárdico de oxigênio. Tem a possibilidade de ser utilizada em pacientes em uso prévio de fármacos betabloqueadores, mas pode apresentar potencial arritmogênico, principalmente em pacientes isquêmicos. 3)A levosimendana apresenta efeito inotrópico positivo, associado com vasodilatação arterial e vascular pulmonar. Também pode ser usada em pacientes com uso prévio de betabloqueadores, porém suas limitações maiores incluem o efeito hipotensor e o potencial arritmogênico. Apresenta, ainda, a particularidade farmacológica de que infusão única de 24 horas pode ter ações hemodinâmicas prolongadas de até 2 semanas. A noradrenalina é um agente beta e alfa-agonista que está indicada em pacientes com importante hipotensão arterial ou choque cardiogênico, ou na presença de inflamação sistêmica associada ao quadro de IC aguda. Na prática, o uso de inotrópicos deve ser restrito à “terapia de ponte”, habitualmente de curto prazo em candidatos elegíveis ou potencialmente elegíveis para terapias avançadas com dispositivos de assistência mecânica e/ou transplante cardíaco. Pacientes com IC avançada frequentemente apresentam quadros de congestão pulmonar e sistêmica refratária. A retirada de líquidos nesse cenário é frequentemente complicada por algum grau de disfunção renal associada e resistência ao uso de doses habituais de diuréticos. Pacientes com insuficiência renal crônica geralmente requerem doses mais altas de diuréticos para atingir diurese adequada (resistência diurética), e o comprometimento renal basal pode piorar ainda mais, mesmo quando a diurese alivia os sintomas (síndrome cardiorrenal). A indicação de CDI (cardiodesfibriladores implantáveis) em pacientes em avaliação para transplante cardíaco é controvertida, podendo ser considerada em cenários de alto risco de morte súbita quando a expectativa de tempo de espera em lista seja desfavorável. De forma semelhante, o uso de TRC (terapia de ressincronização cardíaca) pode ser considerado em pacientes com IC avançada, particularmente naqueles que apresentem características clínicas de super-respondedores. O transplante cardíaco ainda é reconhecido como o melhor tratamento para a IC refratária, com impactos evidentes na sobrevida e qualidade de vida de pacientes em IC em fase avançada!!! Contraindicações para transplante cardíaco: Paciente portador de doença cerebrovascular, vascular periférica, câncer sem critério oncológico de cura, infecções ativas, doenças pulmonares ou hepáticas graves e irreversíveis, bem como doenças psiquiátricas que impossibilitem o paciente de compreender sua doença e o tratamento necessário no pós-transplante, são contraindicações absolutas para a realização do TC. A presença de diabete melito insulino-dependente com lesão de órgão-alvo pode ser um fator complicador ao TC. Idade acima de 70 anos e obesidade grau 3 também são consideradas contraindicações importantes. Critérios de priorização: os pacientes com maior risco de morte na fila do transplante podem ser priorizados, ou seja, subir posições pela gravidade do quadro clínico em que se encontram. Nesse caso, a posição na fila é determinada pela gravidade, o tipo sanguíneo e o tempo de fila. Avaliação imunológica: a avaliação imunológica inicial é realizada por meio da identificação de anticorpos pré-formados contra pool de antígenos HLA representativos da população à qual o paciente pertence, o que é denominado painel imunológico. O percentual de reatividade do PRA calculado representa o grau de sensibilização do paciente em relação à população local. Imunossupressão: Os esquemas de imunossupressão são geralmente definidos como indução, manutenção e tratamento da rejeição. Complicações: As principais complicações do transplante são rejeição, infecção, tumores, dislipidemia, litíase biliar, doença vascular do enxerto, insuficiência renal, hipertensão arterial sistêmica, falência primária do enxerto. CA����PA��� C�A�ÁSI�� C�ÔNI��: A doença de Chagas (DCh) é uma doença sistêmica que pode afetar os sistemas cardiovascular e digestivo, causada pelo Trypanosoma cruzi, um parasita hemoflagelado transmitido por várias espécies de insetos reduvídeos hematófagos (“barbeiros”). A DCh é endêmica em todos os países continentais da América Latina. História Natural: Tem duas fases distintas: uma fase aguda, de bom prognóstico e curta duração, seguida por uma fase crônica, com suas formas indeterminada, cardíaca e digestiva. A fase aguda é caracterizada por parasitemia evidente, observada no exame direto de sangue. Os sintomas geralmente estão ausentes ou leves. Em pacientes sintomáticos, as manifestações incluem sinais de entrada (chagoma de inoculação), febre, adenopatia generalizada, edema e hepatoesplenomegalia. A doença aguda não tratada tem a duração de 4-12 semanas, com queda gradual do parasitismo tecidual. Após a fase aguda, os pacientes não tratados evoluem para a forma crônica indeterminada (FCI). A FCI é definida pela presença de infecção, confirmada por exame sorológico ou parasitológico, na ausência de sintomas e sinais da doença e de anormalidades ao eletrocardiograma (ECG) e ao estudo radiológico do tórax, esôfago e cólon. Pacientes classificados como portadores da FCI da dCh têm excelente prognóstico de médio prazo (5-10 anos de acompanhamento), e mortes relacionadas à doença nessa forma são muito raras. Em geral, de 10 a 30 anos após a infecção aguda a doença de Chagas torna-se clinicamente evidente por acometimento específico de órgãos, principalmente coração, esôfago e cólon, caracterizando formas clínicas crônicas definidas: cardíacas, digestivas ou mistas (cardiodigestivas). A cardiomiopatia crônica associada à DCh se manifesta como três síndromes básicas que podem coexistir no mesmo paciente: insuficiência cardíaca (IC), arritmia cardíaca e tromboembolismo. A apresentação clínica varia amplamente de acordo com a duração da doença e a extensão do dano miocárdico. Patogênese e Fisiopatologia: A patogênese da CCC envolve complexa interação de diferentes processos, relacionados ao dano tecidual decorrente de persistência do parasita, inflamação, autoimunidade, fibrose, disautonomia e alterações microvasculares. O dano miocárdico causado pela persistência do parasita é considerado o mecanismo mais importante no desenvolvimento da CCC. Embora necessária para o controle da proliferação do parasita, a inflamação resulta em dano tecidual levando à fibrose miocárdica e remodelamento cardíaco e, por fim, à CCC. Diagnóstico: A avaliação inicial da doença cardíaca em pacientes com doença de Chagas deve incluir história médica, exame físico, ECG de 12 derivações em repouso, radiografia de tórax e ecocardiograma (ECO). A radiografia de tórax é importante exame complementar no diagnóstico dos pacientes com cardiopatia chagásica, porém os achados de cardiomegalia e congestão pulmonar são inespecíficos. O ECO é o melhor exame não invasivo utilizado na avaliação da função cardíaca. Quadro Clínico e Tratamento: A CCC apresenta curso evolutivo caracteristicamente lento e progressivo, embora às vezes possa ter evolução rápida. Suas manifestações clínicas variam desde quadros assintomáticos até apresentações graves com IC, distúrbios do ritmo e fenômenos tromboembólicos. Quando sintomática, a CCC se apresenta sob a forma de quatro síndromes clínicas: IC, arritmia cardíaca, tromboembolismo e morte súbita, que, eventualmente, pode constituir sua primeira manifestação. O manejo de pacientes com CCC incluia monitorização de progressão de doença, o uso seletivo de terapia antiparasitária e o tratamento de suporte das complicações cardiovasculares, incluindo a IC, as arritmias e o tromboembolismo. Para pacientes com FEVE normal e sem déficit segmentar, é razoável realizar o ECO de controle a cada 3 a 5 anos. Para pacientes com anormalidades segmentares ou FEVE deprimida, é razoável um ECO de controle a cada 1 a 2 anos. A terapia antiparasitária é indicada para pacientes com infecção aguda, em crianças, em adultos com infecção recente, na forma congênita e na reativação por imunossupressão. Arritmia: A morte súbita é responsável por 50-65% dos óbitos por doença de Chagas. Cerca de 50% dos casos de morte súbita são assintomáticos antes do episódio fatal, porém a maioria dos pacientes apresenta comprometimento ventricular e, principalmente, do sistema de condução. Em populações de chagásicos com função ventricular deprimida ao ECO, a presença de arritmias ventriculares complexas constitui preditor independentemente do risco de evolução para o óbito. A gravidade das arritmias ventriculares tende a se correlacionar com o grau de disfunção ventricular. O uso de amiodarona para indivíduos de alto risco, especialmente aqueles com TVNS e FEVE reduzida, é recomendado pelas diretrizes atuais. A amiodarona representa alternativa viável para pacientes com disfunção ventricular sistólica e arritmia ventricular que não são elegíveis para, ou não têm acesso a um cardiodesfibrilador implantável (CDI). O uso frequente de antiarrítmicos também é importante na tentativa de reduzir o número de choques. O implante de marca-passo permanente é um tratamento eficaz para doença do nó sinusal sintomática e bloqueios atrioventriculares avançados, e as indicações devem seguir as diretrizes nacionais e internacionais atuais. Fenômenos tromboembólicos são relativamente frequentes na CCC e constituem a terceira causa de morte. Do ponto de vista clínico, predominam os fenômenos tromboembólicos que atingem o cérebro seguidos por embolia para os membros e embolia pulmonar.
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