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PAC INTRODUÇÃO/DEFINIÇÃO ❖ Pneumonias são doenças inflamatórias agudas de causa infecciosa que acometem os espaços aéreos e são causadas por vírus, bactérias ou fungos ❖ Embora cause morbidade e mortalidade significativas, as pneumonias comumente não são diagnosticadas e tratadas adequadamente e sua ocorrência é subestimada ❖ A pneuminia comunitária (PAC) se refere à doença adquirida fora do ambiente hospitalar ou de unidades especiais de atenção à saúde ou, ainda, que se manifesta em até 48 h da admissão à unidade assistencial ❖ Além disso, são excluídos da definição pacientes que: - permaneceram hospitalizados por tempo superior a 2 dias nos 90 dias anteriores; - residem em casa de repouso; - receberam antibióticos endovenosos ou quimioterapia nos últimos 30 dias; - tratam-se em clínicas de hemodiálise EPIDEMIOLOGIA ❖ A PAC é causa comum de morbidade e mortalidade, com aproximadamente 20% dos episódios resultando em hospitalização ❖ No Brasil, como em outros países, houve uma redução significativa das taxas de mortalidade por infecções do trato respiratório ❖ Dentre as pneumonias, a PAC persiste como a de maior impacto e é a terceira causa de mortalidade no nosso meio ❖ Embora o número absoluto de mortes no Brasil tenha crescido devido ao aumento da população e ao seu envelhecimento, quando a taxa de mortalidade por PAC é padronizada por idade, observa-se uma queda de 25,5% no período compreendido entre 1990 e 2015 ❖ A incidência de pneumonia comunitária é de 5 a 11 casos por 1000 habitantes/ano - Esta incidência varia com a faixa etária, sendo maior nos extremos de idade ❖ A melhora da situação socioeconômica, o maior acesso a cuidados de saúde, a disponibilidade nacional de antibióticos e as políticas de vacinação explicam em parte a redução das taxas de mortalidade em nosso meio ETIOLOGIA ❖ O termo pneumonia define um quadro genérico de “inflamação do parênquima pulmonar”, provocado na maioria das vezes por agentes infecciosos ❖ Entretanto, há diversas outras causas não infecciosas (20%), como: - Aspiração de alimento e/ou ácido gástrico, - Corpos estranhos - Pneumonite induzida por drogas ou radiação ❖ Infelizmente, em até 50% dos doentes com PAC não se consegue isolar o agente causador ❖ Estudos sugerem que parte das PAC são causadas por infecções mistas com envolvimento de um germe atípico ❖ Os agentes etiológicos variam de acordo com a localidade, características do paciente e gravidade da PAC ❖ O Streptococcus pneumoniae permanece como a bactéria de maior prevalência de PAC dentre os agentes etiológicos ❖ PAC pode ser causada por: - Streptococcus pneumoniae - Mycoplasma pneumoniae - Haemophilus influenzae - C. pneumoniae - Vírus respiratórios (Vírus influenza A e B, metapneumovírus humano, adenovírus, vírus sinciciais respiratórios e vírus parainfluenza) Os germes atípicos, etiologia comum também, são chamados dessa forma por não serem detectados pela coloração de Gram ou cultivados em meios de cultura padrão. Incluem Mycoplasma pneumoniae, Clamydophila pneumoniae, Legionella pneumophila e vírus respiratórios. São causa comum de PAC, exceto Legionella, especialmente em pacientes ambulatoriais. 2 PARTICULARIDADES ETIOLÓGICAS ❖ Algumas características epidemiológicas dos pacientes podem aumentar a chance da PAC ser causada por um germe específico ❖ Haemophilus influenzae não-tipável e a Moraxella catharralis: - Pacientes com doenças broncopulmonares prévias ❖ Staphylococcus aureus: - Pacientes que estão se recuperando de uma infecção pelo vírus Influenza ❖ Pseudomonas sp: - Pacientes imunocomprometidos, naqueles com uso prévio de antibiótico de amplo espectro, com doença pulmonar estrutural, com repetidas exacerbações de DPOC e uso frequente de glicocorticóides ou antibióticos FISIOPATOLOGIA ❖ Os pulmões são constantemente expostos a partículas e microorganismos que estão presentes nas vias aéreas superiores e, por microaspiração, chegam ao trato respiratório inferior ❖ Entretanto, as vias aéreas inferiores normalmente permanecem estéreis por conta dos mecanismos de defesa pulmonares ❖ O desenvolvimento da PAC pode indicar: - Deficiência da defesa do hospedeiro - Exposição a um microorganismo virulento ou uma inoculação excessiva ❖ Outros mecanismos fisiopatológicos: - Disseminação hematogênica de um foco infeccioso à distância - Infecção por contiguidade de outro foco - Macroaspiração ❖ Alguns microorganismos desenvolveram mecanismos específicos para superar as defesas do hospedeiro e estabelecer a infecção. Por exemplo: - Chlamydophila pneumoniae produz um fator ciliostático - Mycoplasma pneumoniae pode cortar o cílio - o vírus Influenza causa redução da depuração do muco traqueal que pode durar até 12 semanas após a infecção - Streptococcus pneumoniae produz uma série de fatores de virulência, entre eles proteases que podem clivar a IgA, cápsula que inibe a fagocitose, pneumolisina, neuroaminidase, hialuronidase - Micobactérias, Nocardia sp, Legionella pneumophila são resistentes à atividade microbicida dos fagócitos ❖ Em adição aos fatores de virulência microbiana, existem condições do hospedeiro que podem levar a uma piora da defesa e ao aumento do risco de pneumonia MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ❖ Os pacientes com PAC geralmente apresentam-se com início agudo ou subagudo de: - Febre (78%) - Tosse (82%) com ou sem expectoração - Dispnéia (40 a 90%) ❖ Outros sintomas comuns: - Dor torácica - Dor pleurítica - Escarro com hemoptóicos → A hemoptise franca é sugestiva de pneumonia por MRSA-AC ❖ Sintomas inespecíficos: - Mialgias - Anorexia - Fadiga ❖ É importante notar que os pacientes idosos frequentemente não apresentam febre, tosse ou mesmo dispneia - Podem apresentar-se com quadro clínico inespecífico, como desorientação, mudanças abruptas da capacidade funcional e descompensação de uma doença previamente Os bacilos Gram-negativos (BGN) entéricos são causa incomum de PAC, exceto em pacientes com risco de aspiração, PAC grave ou etilistas Os fatores de risco para PAC por pneumococo resistente são: ■ idade > 65 anos ou < 5 anos; ■ uso de betalactâmico nos últimos 3 meses; ■ alcoolismo; ■ múltiplas comorbidades; ■ imunossupressão O escarro pode ser: mucoide, purulento ou sanguinolento 3 estável, como diabetes, DPOC ou insuficiência cardíaca - Portanto, o limiar para se pensar em pneumonia nesses pacientes deve ser mais baixo EXAME FÍSICO ❖ Os achados de exame físico como: - Taquipnéia - Taquicardia - Hipotensão - Crepitações localizadas - Sinais sugestivos de consolidação ❖ Esses achados podem estar presentes em frequência e combinação variáveis, e são sugestivos de pneumonia DIAGNÓSTICO ❖ O diagnóstico da pneumonia baseia-se em achados clínicos (febre, tosse, expectoração, dor torácica) e achados de exame físico (estertores crepitantes, sinais de consolidação, taquipnéia, taquicardia) confirmados pela radiografia de tórax - Nenhum conjunto de sinais e sintomas é acurado o bastante para predizer com alto grau de certeza a presença ou não de pneumonia ❖ O diagnóstico etiológico é difícil - Os testes disponíveis frequentemente têm baixa sensibilidade e especificidade - A pesquisa do agente etiológico fica reservada para os casos graves ou nos casos em que, pelos dados epidemiológicos e clínicos, imagina-se que o resultado possa mudar o tratamento empírico padrão ❖ A broncoscopia com lavado broncoalveolar não é necessária na maioria dos casos de PAC - Fica reservada sua indicação para PAC em pacientes imunocomprometidos ou nos casos em que houver falha terapêutica ❖ PCR (reação em cadeia de polimerase) não deve ser usadode rotina, em razão do alto custo - Tem maior utilidade para os germes atípicos EXAMES DE IMAGEM RADIOGRAFIA DE TÓRAX ❖ A realização da radiografia de tórax está recomendada para todos os pacientes admitidos ao hospital ❖ Existe a “tríade propedêutica” que é anamnese + exame físico + radiografia de tórax, que é o método mais comum de diagnóstico da PAC Laboratório Hemograma: leucocitose com desvio a aesquerda (quadro típico) Proteína C-reativa: aumento em vigência de infecção ou inflamação sistêmica LDH: altos níveis estão associados com o diagnóstico de PAC EAS: caso suspeita de pneumonia por Legionella, presença de microhematúria Hemocultura: solicitado na presença de sepse e/ou quando indicada a internação hospitalar. Dificilmente fica positivo (menos de 40% dos casos) 4 ❖ Tem objetivo de confirmar o diagnóstico pela presença de infiltrado pulmonar ❖ A radiografia de tórax também é importante para: - Avaliação da gravidade - Identificação de complicações - Diagnóstico diferencial ❖ É importante atenção aos pacientes imunossuprimidos ou desidratados que podem apresentar-se inicialmente sem alterações radiológicas ❖ Padrões radiológicos incluem consolidação lobar, focos de consolidação, opacidades intersticiais e cavitação ❖ Não é possível afirmar com segurança o agente etiológico baseando-se no padrão radiológico da radiografia de tórax ❖ Padrões radiológicos: - Pneumonia lobar: consolidação de todo ou quase todo um lobo pulmonar, com presença de broncograma aéreo - Broncopneumonia: padrão multifocal (lobular) de condensação alveolar de bordas irregulares e com espessamento de parede brônquica, sem broncograma aéreo - Pneumonia intersticial: padrão insidioso de pneumonia como padrão reticular de infiltração linfática de septos alveolares. Ocorre mais em germes atípicos ULTRASSONOGRAFIA DE TÓRAX ❖ A ultrassonografia de tórax (UST) apresenta maior sensibilidade e maior acurácia do que a radiografia de tórax na identificação de alterações parenquimatosas ❖ Os principais achados ultrassonográficos na PAC são: - Consolidações - Padrão intersticial focal - Lesões subpleurais - Anormalidades na linha pleural ❖ A especificidade para consolidações é de 100% TC DE TÓRAX ❖ A TC de tórax é o método mais sensível na identificação de acometimento infeccioso do parênquima pulmonar - Fatores negativos: alto custo e alta exposição à radiação ❖ Trata-se de exame útil principalmente nos casos em que a acurácia da radiografia de tórax e da UST é baixa, como em pacientes: - Obesos - Imunossuprimidos - Com alterações radiológicas prévias ❖ Além disso, a TC de tórax está indicada na suspeita de infecções fúngicas e para auxiliar na exclusão de outros diagnósticos em casos selecionados DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ❖ Infecção do trato respiratório superior ❖ Hiper-reatividade das vias aéreas ❖ DPOC ❖ Insuficiência cardíaca ❖ Câncer de pulmão ❖ Doenças intersticiais pulmonares ❖ Vasculites pulmonares ❖ Tromboembolismo pulmonar ❖ Atelectasia ❖ Outras infecções respiratórias (tuberculose, infecções fúngicas etc.) ESCORES DE AVALIAÇÃO DA GRAVIDADE ❖ Os pacientes com diagnóstico de PAC devem ser sempre avaliados quanto à gravidade da doença, cuidado que tem impacto direto na redução da mortalidade ❖ Os escores de prognóstico disponíveis dimensionam a gravidade e ajudam a predizer o prognóstico da PAC, guiando a decisão quanto ao local de tratamento (ambulatorial, hospitalar ou UTI) - Guiam também quanto à necessidade de investigação etiológica, quanto à escolha do antibiótico e sua via de administração ❖ Os instrumentos validados incluem: - Pneumonia Severity Index (PSI) - Mental Confusion, Urea, Respiratory rate, Blood pressure, and age ≥ 65 years (CURB-65) - CRB-65 (sem determinação de ureia) 5 - As diretrizes da American Thoracic Society/Infectious Diseases Society of America (ATS/IDSA) de 2007 - Systolic blood pressure, Multilobar involvement, Albumin, Respiratory rate, Tachycardia, Confusion, Oxygenation, and pH (SMART-COP) - Severe Community-Acquired Pneumonia (SCAP) PSI ❖ É composto por 20 itens que incluem características demográficas, comorbidades, alterações laboratoriais, alterações radiológicas e achados do exame físico ❖ Ele classifica os pacientes em cinco categorias, estimando a mortalidade em 30 dias e sugerindo o local de tratamento (Quadros 1 e 2) ❖ O PSI, entretanto, pode subestimar a gravidade da doença em pacientes jovens e sem doenças associadas por ponderar muito a idade e a presença de comorbidades na sua pontuação ❖ Outro ponto negativo é o uso de muitas variáveis, tornando o cálculo complexo; - Entretanto, há calculadoras disponíveis on-line, citando-se, como exemplos, PSI/ Pneumonia Patient Outcomes Research Team (PORT) Score: PSI for CAP e PSI Calculator CURB-65 E CRB-65 ❖ O CURB-65 baseia-se em variáveis das quais deriva seu nome (em inglês): - Confusão mental (escore ≤ 8, segundo o abbreviated mental test score)(48); - Ureia > 50 mg/dl; - Frequência Respiratória > 30 ciclos/min; - (Blood pressure): pressão arterial sistólica < 90 mmHg ou pressão arterial diastólica < 60 mmHg; - Idade ≥ 65 anos ❖ A forma simplificada (CRB-65), sem a dosagem de ureia, é útil em ambientes nos quais exames laboratoriais não estão disponíveis, como na atenção primária Os três últimos relacionados a pneumonia grave e internação em UTI 6 ❖ A maior limitação desses escores é a falta de inclusão de comorbidades que podem acrescentar maior risco de complicações na PAC, como alcoolismo, insuficiência cardíaca ou hepática e neoplasias ❖ Seu valor preditivo negativo de mortalidade seja um pouco inferior ao do PSI ❖ Entretanto, eles se qualificam pela simplicidade, aplicabilidade imediata e facilidade de uso, em ambientes hospitalares ou não DIRETRIZES DA ATS/IDSA 2007 ❖ Os critérios de gravidade adotados pelo documento conjunto da ATS/IDSA e sua versão simplificada estão classificados como maiores e menores (Quadro 3) ❖ Na presença de um dos critérios maiores (choque séptico ou indicação de ventilação mecânica), há a indicação de admissão à UTI - Já a presença de três ou mais critérios menores também indica cuidados intensivos ❖ Esses critérios, entretanto, não se prestam para a avaliação de pacientes ambulatoriais, motivo pelo qual o próprio documento recomenda o uso do PSI ou do CURB-65 para guiar a decisão nesses pacientes SCAP E SMART COP ❖ Fazem a predição da ocorrência de PAC grave ❖ Desenvolvidas para avaliar desfechos diversos dos riscos genéricos de morte ou de admissão à UTI ❖ Esses desfechos incluem também, o desenvolvimento de sepse grave, necessidade de ventilação mecânica e risco de falência terapêutica → SCAP ❖ Desfechos associados de forma mais específica à necessidade do uso de suporte ventilatório mecânico invasivo ou não invasivo ou do emprego de drogas vasopressoras para suporte circulatório → SMART-COP ❖ Esses desfechos têm sido considerados marcadores mais objetivos da gravidade da PAC SCAP ❖ Os critérios maiores são: - pH < 7,30 (13 pontos) - pressão arterial sistólica < 90 mmHg (11 pontos) ❖ Os critérios menores são: - FR > 30 ciclos/min (9 pontos) - PaO2/FiO2 < 250 (6 pontos) - Ureia > 30 mg/dl (5 pontos) - Alteração do nível de consciência (5 pontos) - idade ≥ 80 anos (5 pontos) - presença de infiltrado radiológico multilobar ou bilateral (5 pontos) ❖ Uma pontuação ≥ 10 pontos prediz um maior risco de uso de ventilação mecânica e necessidade de uso de droga vasoativa SMART COP ❖ Pressão arterial sistólica < 90 mmHg (2 pontos); - Envolvimento multilobar (1 ponto) - Albumina < 3,5 g/dl (1 ponto) - FR ≥ 25 ciclos/min (1 ponto) - FC >125 bpm (1 ponto) - Confusão mental (1 ponto) - SpO2 < 93% ou PaO2 < 70 mmHg (2 pontos) - pH < 7,30 (2 pontos) ❖ Uma pontuação > 3 identificou 92% dos pacientes que necessitaram de uso de ventilação mecânica invasiva ou de drogas vasoativas na evolução da PAC 7 COMPLICAÇÕES ❖ Pneumonia necrosante: necrose do parênquima com formação de cavitações ❖ Abscesso pulmonar ❖ Derrame pleural ❖ Síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA): instalação aguda de insuficiência respiratória ❖ Sepse TRATAMENTO ANTIBIOTICOTERAPIA NA PAC: RECOMENDAÇÕES PARA USO DE MONOTERAPIA E TERAPIA COMBINADA TTO DE PACIENTES AMBULATORIAIS ❖ O tratamento antibiótico inicial é definido de forma empírica devido à impossibilidade de se obterem resultados microbiológicos logo após o diagnóstico da PAC, o que permitiria escolher antibióticos dirigidos a agentes específicos ❖ A escolha do antibiótico deve levar em consideração: 1) patógeno mais provável no local de aquisição da doença; 2) fatores de risco individuais; 3) presença de doenças associadas; 4) fatores epidemiológicos, como viagens recentes, alergias e relação custo-eficácia ❖ O uso de monoterapia com β-lactâmico OU macrolídeos para os pacientes ambulatoriais, sem comorbidades, nenhum uso recente de antibióticos, sem fatores de risco para resistência e sem contraindicação ou história de alergia a essas drogas ❖ Os riscos de infecção por agentes patogênicos resistentes e de falência terapêutica são maiores quando há história de uso de um antibiótico nos três meses anteriores, quando os pacientes vêm de regiões onde a taxa local de resistência aos macrolídeos é superior a 25% — o que ocorre, por exemplo, nos EUA e em alguns outros países — e presença de doenças associadas (DPOC, doença hepática ou renal, câncer, diabetes, insuficiência cardíaca congestiva, alcoolismo ou imunossupressão) - Para esses CASOS ESPECÍFICOS, recomenda-se para o tratamento ambulatorial da PAC associar macrolídeos a um β-lactâmico ou realizar monoterapia com uma fluoroquinolona respiratória por pelo menos 5 dias TTO DE PACIENTES INTERNADOS EM ENFERMARIAS ❖ A recomendação atual é o emprego de β- lactâmico associado a um macrolídeo OU fluoroquinolona respiratória isolada ❖ Um β-lactâmico isolado pode ser usado se houver exclusão confirmada de Legionella sp. TTO DE PACIENTES INTERNADOS EM UTI ❖ PAC grave ❖ A terapia combinada deve ser recomendada para pacientes com PAC grave com indicação de admissão em UTI por reduzir a mortalidade ❖ A administração dos antibióticos deve ser a mais precoce possível e deve incluir preferencialmente um macrolídeo E um β-lactâmico, ambos por via endovenosa ❖ Excetuando-se cenários clínicos que indiquem alta probabilidade de germes específicos como agentes causadores as sugestões para a antibioticoterapia inicial na PAC grave são descritas no Quadros 5 e 6. Dessa forma, recomenda-se que o paciente com PAC seja avaliado objetivamente na sala de emergência quanto a gravidade inicial e identificação precoce do risco de evolução para desfechos graves (SCAP, SMART-COP ou ATS/ISDA simplificado, embora necessitem ainda maior validação externa). Na ausência de PAC grave, ou seja, sem indicações socioeconômicas de internação, doenças associadas descompensadas, hipoxemia, impossibilidade de ingestão oral de medicamentos e presença de pelo menos 2 pontos no escore CURB-65 (ou de pelo menos 1 no escore CRB-65 ou de mais que 70 pontos no PSI), o médico assistente deve considerar o tratamento ambulatorial para pacientes com PAC. 8 DURAÇÃO DA ANTIBIOTICOTERAPIA ❖ A antibioticoterapia de curta duração parece ser a mais apropriada, uma vez que proporciona: - Menor exposição do paciente à ação de antibióticos - Reduz a ocorrência de efeitos adversos - Diminui o desenvolvimento de resistência por parte dos microrganismos - Melhora a adesão dos pacientes - Pode minimizar o tempo de internação e os custos financeiros. ❖ Tratamentos muito longos favorecem: - Desenvolvimento de resistência bacteriana - Ocorrência de efeitos adversos potencialmente graves, como infecções por Clostridium difficile ❖ No entanto, o tratamento curto deve ser tão eficaz quanto os tratamentos mais longos no que diz respeito às taxas de mortalidade, complicações e recorrência da doença ❖ Recomenda-se que para a PAC de baixa gravidade e com tratamento ambulatorial, esse seja feito com monoterapia e por 5 dias - A PAC de moderada a alta gravidade deve ser tratada com esquemas antibióticos, por períodos de 7 a 10 dias 9 - O tratamento pode ser estendido até 14 dias a critério do médico assistente. RECOMENDAÇÕES PARA USO DE CORTICOIDE COMO TRATAMENTO ADJUVANTE NA PAC ❖ Durante um quadro infeccioso, o adequado balanço entre a ativação da resposta imune e o controle da inflamação é fundamental para o combate da infecção sem lesão tecidual adjacente ❖ O uso de corticoides na PAC grave mostrou-se tanto seguro como benéfico em diversos desfechos clínicos importantes ❖ Entretanto, são necessários novos estudos que confirmem o impacto dessa terapia sobre a mortalidade relacionada à PAC, apesar de as meta-análises sugerirem a redução dessa taxa, sobretudo no subgrupo com apresentação mais grave EVOLUÇÃO DE ACORDO COM A IDADE ❖ O prognóstico da PAC depende da idade do paciente, das suas comorbidades e do local em que o tratamento é efetuado (ambulatório ou hospital) ❖ Os pacientes jovens sem comorbidades evoluem bem e, em geral, recuperam-se por completo depois de aproximadamente 2 semanas ❖ Os pacientes idosos e os que apresentam comorbidades podem demorar várias semanas ❖ A taxa de mortalidade global da população ambulatorial é < 1% ❖ Para os pacientes que necessitam de hospitalização, a taxa de mortalidade global foi estimada em 10%, e cerca de 50% dos óbitos são atribuídos diretamente à pneumonia. 10 VACINAÇÃO ❖ Recomendações atuais para a vacinação em adultos: antiinfluenza e antipneumocócica VACINA ANTI-INFLUENZA ❖ Influenza é uma infecção viral com manifestações sistêmicas , causada por vírus da família Orthomyxoviridae, classificados em tipos antigênicos A, B e C ❖ A influenza tipo A está associada a pandemias e à doença de maior gravidade; - Tipo B está associada a epidemias regionais - Tipo C associa-se a surtos pequenos e isolados, com pouca relevância clínica em humanos ❖ A vacinação visa evitar pneumonia por influenza ❖ Existe uma forte relação entre as infecções por influenza e pneumonias bacterianas secundárias à infecção viral ❖ A vacinação reduz a intensidade dos sintomas, a necessidade de hospitalização e a mortalidade ❖ Doses anuais ❖ Indicações prioritárias (não exclusivas) - Adultos com idade igual ou superior a 60 anos -Paciente com enfermidades crônicas pulmonares, cardiovasculares (exceto hipertensão arterial sistêmica), renais, hepáticas, hematológicas e metabólicas - Adultos em estado de imunossupressão - Indivíduos com distúrbios neuromusculares, comprometimento funcional pulmonar e dificuldade para remover secreções - Gestantes e mulheres que planejam engravidar e mulheres que estejam em estado de amamentação - Residentes em lares de idosos - Potenciais transmissores dos vírus para indivíduos de maior risco - Profissionais de saúde - Cuidadores domiciliares de crianças (idade inferior a 5 anos) e de indivíduos adultos (idade superior a 50 anos) - População indígena e população privada de liberdade ❖ Indivíduos que não devem ser vacinados: - Pessoas com alergia grave (anafilaxia) a ovo de galinha, a algum componente da vacina ou à dose anterior - Menores de 6 meses de idade - História prévia de síndrome de Guillain-Barré, sobretudo se essa ocorreuapós vacinação para influenza VACINA ANTIPNEUMOCÓCICA Pneumocócica 23-valente: ❖ Dose inicial ❖ Reforço a cada 5 anos ❖ Indicações da vacina: - Adultos com idade igual ou superior a 60 anos - Indivíduos com idade entre 2 e 59 anos, com doença crônica cardíaca, pulmonar, doença falciforme, diabetes, alcoolismo, cirrose hepática, fístulas cérebro-espinhais ou implantes cocleares - Indivíduos com idade entre 2 e 59 anos, com doença ou condição imunossupressora, como doença de Hodgkin, linfoma ou leucemia, insuficiência renal, mieloma múltiplo, síndrome nefrótica, infecção por HIV ou AIDS, doença esplênica ou asplenia, e transplantados de órgãos - Indivíduos com idade entre 2 e 59 anos que utilizem drogas imunossupressoras, como tratamento com corticoides por longo prazo, drogas utilizadas no tratamento de câncer ou que tenham passado por radioterapia - Adultos entre 19 e 59 anos, tabagistas ou portadores de asma - Residentes em casas de saúde e asilos de longa permanência Pneumocócica 10-valente: ❖ 3 doses ❖ Quem deve tomar: - Crianças com 2,4 e meses + reforço entre 12-15 meses 11 DERRAME PLEURAL DEFINIÇÃO/INTRODUÇÃO ❖ O derrame pleural é definido como um acúmulo anormal de líquido no espaço pleural ❖ Fisiologicamente, o líquido pleural é formado na pleura parietal ❖ Sabemos que a pressão hidrostática de seus vasos capilares é um pouco mais elevada que a pressão coloidosmótica do plasma, criando um gradiente que resulta na ultrafiltração de 0,01 ml/kg/h de líquido - Este líquido é continuamente reabsorvido pelos vasos linfáticos da própria pleura parietal ❖ Numa situação de homeostase, encontra-se de 5- 15 ml de líquido no espaço pleural a cada momento ETIOLOGIA/FISIOPATOLOGIA ❖ As Tabelas 2 e 3 enumeram as principais etiologias de derrame pleural. ❖ A diferenciação entre transudato e exsudato é o grande divisor de águas na investigação do diagnóstico etiológico ❖ Estatisticamente, a principal causa de derrame pleural na prática é a Insuficiência Cardíaca Congestiva – um transudato ❖ As principais etiologias de exsudato são o derrame parapneumônico e o câncer - O tipo de câncer mais associado ao derrame pleural é o câncer de pulmão (responsável por 1/3 dos casos), seguido pelo câncer de mama e pelo linfoma (juntas, essas três doenças respondem por ~ 75% dos derrames pleurais neoplásicos) ❖ Na grande maioria das vezes, será causado por um dos mecanismos descritos abaixo: Transudato: - Aumento da pressão hidrostática ou - Redução da pressão coloidosmótica do plasma Exsudato: - Aumento da permeabilidade dos capilares pleurais - Bloqueio à dremagem linfática da pleura - Empiema: infecção do espaço pleural - Hemotórax: hemorragia no espaço pleural - Quilotórax: vazamento de quilo no espaço pleural MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ❖ Derrames pleurais pequenos costumam ser assintomáticos 12 ❖ Nos pacientes que referem sintomas, as queixas mais frequentes são: (1) dispneia; (2) tosse; (3) dor torácica tipo “pleurítica” ou “respirofásica” (dor que piora na inspiração profunda) - Esse tipo de dor denota a existência de inflamação pleural (pleurite), e costuma desaparecer quando o acúmulo de líquido afasta as pleuras parietal e visceral, anulando seu atrito ❖ Derrames muito volumosos podem causar a clássica trepopneia, isto é, dispneia em decúbito lateral com o lado que contém o derrame voltado para cima - O decúbito para o lado oposto alivia a dispneia ❖ De um modo geral, a sintomatologia tende a ser mais intensa em portadores de doenças cardiopulmonares prévias EXAME FÍSICO ❖ Derrames pleurais pequenos não possuem expressão semiológica ❖ Derrames volumosos costumam produzir uma síndrome de derrame pleural: (1) macicez à percussão; (2) redução (ou abolição) do murmúrio vesicular acima da área de derrame; (3) desaparecimento do frêmito toracovocal. ❖ Se houver atelectasia compressiva do parênquima pulmonar subjacente notaremos a clássica respiração brônquica (som alto e agudo, com nítida divisão (silêncio) entre as fases inspiratória e expiratória) e a egofonia (o paciente fala “i”, mas o médico ausculta “e” – significa colabamento do espaço alveolar com brônquios pérvios) ❖ Um derrame que ocupa todo o hemitórax costuma produzir abaulamento dos espaços intercostais e desvio contralateral da traqueia ❖ Nas pleurites iniciais (ainda sem derrame significativo), pode-se perceber o atrito pleural EXAMES DE IMAGEM ❖ Após suspeita clínica de derrame pleural, é mandatório realizar um exame de imagem para definir sua extensão ❖ O método mais comumente utilizado é a Radiografia de Tórax em PA e Perfil ❖ Para que o derrame seja visível na incidência em PA (Póstero-Anterior), é preciso que mais de 175- 200 ml de líquido se acumule no seio costofrênico lateral, levando ao “velamento” desse seio (Figura 1). ❖ Para que o derrame seja visível na incidência em perfil, são necessários mais de 75-100 ml de líquido para “velar” o seio costofrênico posterior (Figura 2). 13 ❖ Logo, a incidência em perfil é mais sensível do que a incidência em PA para o diagnóstico de derrame pleural! ❖ Derrames muito volumosos são facilmente identificáveis, pois produzem um aspecto inconfundível no RX: a famosa parábola de Damoiseau (Figura 3). ❖ A radiografia de tórax também pode ser feita na incidência de Lawrell (decúbito lateral com raios horizontais, colocando o lado do derrame na posição dependente) - Na ausência de aderências pleurais, o líquido corre livremente por ação da força gravitacional (Figura 4). - Esta incidência pode ser muito útil para dirimir dúvidas quanto à existência ou não de derrame em certos casos (ex.: derrame subpulmonar, que faz diagnóstico diferencial com elevação da hemicúpula diafragmática) - Quando a lâmina líquida visualizada nesta incidência possuir > 10 mm de espessura, isso indica que a toracocentese poderá ser realizada “às cegas”, pois há mais de 300 ml de líquido ❖ Nos derrames loculados (aprisionamento do líquido por aderências pleurais – Figura 5) bem como nos derrames de menor volume, para maior segurança a toracocentese deve ser guiada por ultrassonografia ❖ O método de imagem mais sensível para avaliar o derrame pleural é a Tomografia Computadorizada de Tórax, que é capaz de detectar volumes tão pequenos quanto 10 ml (ou seja, a TC consegue perceber até mesmo a presença do líquido pleural normal) - Tal exame tem sua grande indicação no diagnóstico diferencial da doença de base, por permitir uma análise detalhada de todas as estruturas torácicas - Na suspeita de doença pleural, podemos ministrar contraste iodado endovenoso: a ocorrência de captação (ex.: pleural split sign, em que ambos os folhetos – parietal e visceral – estão espessados e se impregnam pelo contraste, sendo separados pelo conteúdo líquido do derrame) evidencia a existência de pleurite (Figura 6). 14 DIAGNÓSTICO ❖ A Toracocentese Diagnóstica é o exame mais importante para esclarecer a etiologia de um derrame pleural ❖ Diante de derrame pleural novo e sem causa aparente, devemos sempre realizar uma toracocentese! ❖ Feita a coleta, o primeiro passo na análise do líquido pleural é a avaliação de sua aparência, o que, em muitos casos, permite um diagnóstico imediato. Observe a Tabela 4. ❖ Quando o líquido pleural possui aspecto seroso, o próximo passo consiste na diferenciação bioquímica entre TRANSUDATO e EXSUDATO - Essa tarefa é facilmente realizada através do emprego dos Critérios de Light (Tabela 5) ❖ Ao definirmos se o derrame é um transudato ou exsudato, limitamos o rol de etiologias possíveis ❖ No caso dos exsudatos assume- se que existe uma doença localizada na pleura - Alémdas dosagens de proteína total e LDH (necessárias para os critérios de Light) - Avalia-se também, de forma rotineira: pH, glicose, celularidade (contagem de células mesoteliais, hemácias e leucócitos, estes últimos com diferencial), coloração de Gram, culturas e citologia oncótica (pesquisa de células neoplásicas) – ver Tabela 6. ❖ Na suspeita de NEOPLASIA, a sensibilidade do primeiro estudo citológico varia em função do tipo específico de câncer e sua extensão, sendo em média de 50-65% 15 - Logo, um resultado negativo não afasta o diagnóstico, e em pacientes com elevada probabilidade pré-teste a conduta é repetir a citologia oncótica, de preferência enviando ao laboratório o maior volume possível de líquido - Caso ainda assim o resultado seja negativo (persistindo uma elevada suspeita clínica), o próximo passo é a biópsia pleural guiada por toracoscopia (preferencial à biópsia “às cegas”). - Tal conduta, aumenta a sensibilidade ❖ A Tabela 7 resume as características peculiares de algumas etiologias selecionadas de derrame pleural exsudativo. TRATAMENTO TRANSUDATOS PLEURAIS ❖ No transudato a pleura não está doente - Logo, o tratamento é direcionado para o controle da doença de base cuja descompensação está causando o derrame (ex.: diureticoterapia para ICC, reposição de levotiroxina no hipotireoidismo) ❖ Uma toracocentese terapêutica pode ser indicada na vigência de desconforto respiratório, visando o rápido alívio do paciente - No entanto, se a doença de base não for controlada, o benefício da toracocentese será transitório ❖ A pleurodese raramente é necessária DERRAME PLEURAL NEOPLÁSICO ❖ Quimio e/ou radioterapia podem ser empregadas de forma paliativa, levando em conta que para a maioria dos tumores malignos a existência de derrame pleural neoplásico significa doença metastática incurável ❖ O tumor que melhor responde a essas medidas é o carcinoma de pequenas células pulmonares ❖ De um modo geral, a única opção eficaz para esses doentes é a toracocentese terapêutica ❖ Se houver reacúmulo do derrame (o que é comum), deve-se optar entre: (1) toracocenteses repetidas; (2) pleurodese; (3) instalação de dreno tubular permanente (que pode ser manejado no domicílio pelo próprio paciente) ❖ A escolha deve ser individualizada, considerando o estado geral do paciente, sua expectativa de vida, tolerância ao desconforto e preferências pessoais DERRAME PARAPNEUMÔNICO ❖ É dividido em três categorias: ❖ (1) simples ou “não complicado”; ❖ (2) complicado; ❖ (3) empiema. ❖ O derrame parapneumônico simples é estéril, 16 - Geralmente de pequeno a moderado volume - Ele não requer drenagem, e sua resolução acompanha a resolução da pneumonia com antibióticos ❖ O empiema, por outro lado, representa infecção grosseira do espaço pleural, sendo francamente purulento (com bacterioscopia e/ou cultura positivos) - Além de antibioticoterapia, esse tipo de derrame precisa ser drenado o mais rápido possível, a fim de evitar a síndrome do encarceramento pulmonar secundária à fibrose pleural ❖ Já o derrame complicado é aquele em que existem alterações inflamatórias sugestivas de invasão bacteriana do espaço pleural, porém esta pode não ser formalmente demonstrada (bacterioscopia e cultura negativos) - Ele será tratado com antibioticoterapia + drenagem torácica se: (1) glicose < 60 mg/dl; (2) pH < 7.2 ou (3) pH entre 7.2-7.3 e LDH do líquido pleural > 1.000 U/l. - A presença de loculações (comum nos derrames parapneumônicos “não simples”) dificulta a drenagem tubular - Nestes casos, pode-se tentar a lise das aderências com método químico (ex.: instilação intrapleural de fibrinolítico + DNAse) ou mecânico (debridamento por videotoracoscopia)
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