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Toxocaríase Fonte:https://www.msdmanuals.com/. Etiologia: Os nematódeos parasitos intestinais mais importantes e frequentes do cão e do gato são, respectivamente, os ascarídeos Toxocara canis e Toxocara cati. Exemplares adultos destes parasitos habitam o intestino delgado de seus hospedeiros e são frequentemente eliminados do organismo por vômito ou fezes. Nestas ocasiões costumam chamar a atenção dos proprietários de cães e gatos pelo seu tamanho relativamente grande, que varia em torno de 10 a 18 cm. Outro ascarídeo intestinal que infecta tanto cães quanto gatos é Toxascaris leonina, porém sua ocorrência costuma ser menos frequente que a de Toxocara spp. Patogenia: Toxocara canis apresenta ciclo de vida mais complexo dentre estes ascarídeos.Os adultos vivem livres no lúmen do intestino delgado do cão, alimentando-se dos nutrientes do quimo e se reproduzindo. Os ovos são arredondados, com parede espessa, e são eliminados, em grande quantidade, para o meio ambiente pelas fezes do cão parasitado, com uma única célula em seu interior. No meio ambiente, dependendo do tipo de solo e das condições climáticas, tais como temperatura e umidade adequados, haverá embrionamento e desenvolvimento larvar até o estágio de L3 no interior dos ovos, em um período que varia de 3 semanas a vários meses. Estes ovos, quando sob ótimas condições ambientais, podem permanecer infectantes por vários anos no meio ambiente. O cão se infecta ingerindo ovos contendo a larva L3 infectante em seu interior. Ao chegarem no estômago, as larvas eclodem e penetram na parede intestinal, alcançam a corrente sanguínea, chegam ao fígado e, posteriormente, aos pulmões, onde sofrem outra ecdise, alcançando o estágio de L4. A https://www.msdmanuals.com/ partir dos pulmões podem seguir duas rotas: migração traqueal (ou hepatotraqueal), que ocorre quando as larvas atravessam os capilares pulmonares, alcançam os alvéolos, sobem a árvore brônquica e a traqueia, indo parar na cavidade bucal, quando, então, podem ser expelidas ou ingeridas, indo direto ao intestino delgado completar seu desenvolvimento até adultos; e a migração somática, que se dá quando as larvas voltam para a circulação arterial e são distribuídas pelos diversos órgãos e pela musculatura do corpo, onde permanecerão em estado de latência. Esse tipo de migração tem maior probabilidade de ocorrer quando o hospedeiro começa a adquirir resistência ao parasito, ou seja, a partir de 2 ou 3 meses de idade, em que diminui a porcentagem de larvas que realizam migração traqueal e aumentam as migrações somáticas. Devido às alterações hormonais que ocorrem no terço final de gestação da cadela e no início da amamentação, aquelas larvas que realizaram migração somática saem do estado de latência e voltam a circular, podendo atravessar a placenta e infectar o feto (infecção transplacentária) ou afetar a glândula mamária e passar pelo leite (infecção transmamária). Algumas larvas podem voltar ao intestino da mãe e novamente se desenvolver até o estágio adulto, e a cadela volta a eliminar ovos pelas fezes, aumentando, desta maneira, a contaminação ambiental. A eliminação dos ovos pelas fezes do cão ocorre cerca de 50 a 60 dias após a infecção, e este período pode variar de acordo com a via de transmissão.Outra possibilidade de infecção é por ingestão de um hospedeiro paratênico(hospedeiro de transporte) infectado, que, geralmente, são pequenos mamíferos e aves que apresentam larvas infectantes em seus tecidos.Após sua ingestão pelo cão, a larva se desenvolverá até o estágio adulto diretamente no intestino, sem realizar qualquer tipo de migração. Cadelas têm o hábito de higienizar seus filhotes durante a fase de amamentação, ingerindo ovos ou parasitos jovens eliminados com as fezes e os vômitos das crias e, nestas ocasiões, devido à natural baixa de imunidade da mãe, os parasitos podem completar o ciclo novamente e voltar a eliminar ovos nas fezes. Toxocara cati apresenta um ciclo semelhante ao de T. canis; porém, não há infecção transplacentária e a probabilidade de migração traqueal após ingestão de ovos infectantes permanece alta mesmo em gatos adultos, porém menos frequente que nos filhotes. A infecção humana por Toxocara canis ou T. cati ocorre especialmente em crianças que vivem em contato com solo contaminado por ovos infectantes. Após a ingestão desses ovos, as larvas que chegarem ao intestino por migração traqueal serão eliminadas com as fezes, mas as que realizarem migração somática podem permanecer migrando por semanas ou meses e, depois, ficarão alojadas nos diversos tecidos do corpo, podendo acarretar sintomas. Essa zoonose é conhecida por toxocaríase humana ou larva migrans visceral (LMV). Quando, no ser humano, a larva se aloja no globo ocular ou no sistema nervoso central (SNC), a infecção é referida, respectivamente, como toxocaríase ocular e toxocaríase cerebral. Sinais Clínicos: Os sinais e sintomas são mais evidentes nos filhotes e dependem de carga parasitária, localização e estágio de desenvolvimento do parasito. Os parasitos adultos podem causar inquietação, diarreia/constipação intestinal, vômitos, abdome volumoso, obstrução ou mesmo rupturas intestinais e morte.É bastante frequente que alguns ou muitos parasitos ainda jovens ou já adultos, que se encontram livres no lúmen intestinal, venham a ser eliminados pelas fezes ou pelo vômito, devido a migrações que realizam para fora do intestino delgado (migrações erráticas). Durante essas migrações, parasitos adultos podem penetrar nos canais biliares ou pancreáticos, retendo bile e contribuindo para os transtornos de absorção. Pode haver pneumonia como consequência das lesões causadas durante a passagem das larvas dos capilares para os alvéolos, podendo levar os filhotes a óbito dentro de 48 a 72 h após o nascimento. Crises convulsivas podem estar relacionadas com lesões focais no SNC, produzidas por toxinas liberadas pelos vermes por meio de suas excretas e por distúrbios metabólicos devido à ação espoliadora, que levariam a um quadro de hipopotassemia e hipoglicemia. Diagnóstico: Sinais clínicos, exame coproparasitológico. Tratamento: Nome comercial/produtor Princípio ativo Dosagem recomendada Espectro de ação Apesar destas medidas, o potencial de contaminação ambiental não pode ser excluído se não for adotado um esquema de profilaxia que interrompa o período pré-patente antes do início da eliminação dos ovos. A eliminação das larvas dos tecidos e, portanto, a prevenção da transmissão vertical intrauterina e transmamária têm um significante efeito na população dos parasitos. Embora o tratamento das cadelas durante a gestação tenha sido sugerido em esquemas de tratamentos anti-helmínticos, este conselho parece ser questionável. Muito se tem pesquisado sobre a eficácia de praticamente todos os anti-helmínticos licenciados contra larvas somáticas, tanto em animais experimentais quanto em cadelas, em várias dosagens e períodos de tratamento. Destes experimentos, geralmente, pode-se concluir que anti-helmínticos nas doses recomendadas não são eficazes contra larvas somáticas em estado de latência e que o tratamento das cadelas antes do acasalamento e 2 semanas antes da data do parto não tem efeito na transmissão pré-natal. A infecção pré-natal pode ser substancialmente reduzida pelo tratamento diário com fembendazol (25 mg/kg), administrado à cadela do 40º dia de gestação até o segundo dia pós-parto, mas esse tratamento é muito caro e nada prático. Uma alternativa para interromper a infecção vertical é a aplicação de lactonas macrolíticas, uma vez por volta do 50º ao 55º dia de gestação, ou duas vezes, no 55º dia de gestação e 5º dia pós-parto. NELSON, Richard; COUTO, C. Guillermo. Medicina interna de pequenos animais. Elsevier Brasil, 2015.