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A EVOLUÇÃO DA ENGENHARIA DE PRODUÇÃO E OS AVANÇOS CURRICULARES THIAGO FRANCISCO MALAGUTTI (CEUCLAR ) thiagomalagutti.claretiano@gmail.com Diego Fernandes Silva (CEUCLAR ) difersilva@yahoo.com.br Luis Fernando Paulista Cotian (CEUCLAR ) luis.cotian@gmail.com Esse estudo insere-se no contexto das discussões referentes a formação docente, com ênfase no engenheiro de produção, evidenciando os momentos históricos e as condições que favoreceram a criação e expansão da Engenharia de Produção como profissão no Brasil. Esta pesquisa pressupõe que estudar a formação docente do engenheiro torna-se importante, e se justifica diante das novas demandas das políticas educacionais do ensino superior, pela sua expansão nas últimas décadas e consequentemente, as lacunas na formação do engenheiro, que se transforma professor e logo, precisa se adequar à docência. Para este estudo, utilizou-se a metodologia de abordagem qualitativa, tendo como base a pesquisa documental, no sentido de maior apropriação do contexto histórico sobre a engenharia de modo geral, e para fins deste trabalho, a engenharia da produção, situando-a no contexto econômico, político, social e cultural. Vários estudos e e pesquisa contribuem para esse trabalho, dentre outros: Hobasbawn (1995), Harvey (1994), Tardif (2002;2006), Telles(1984), Vargas(1994), entre outros. Nesse sentido, a abordagem histórica sobre a engenharia, contribui fundamentalmente para a compreensão da docência na engenharia, bem como elucidar sobre as implicações sociais, culturais e pedagógicas, perpassando pelos saberes da docência nos quais o processo de construção encontra-se inserido. Pretende-se com isso, contribuir para novas perspectivas sobre a formação da docência, na engenharia, bem como outras áreas afins. Palavras-chaves: História da engenharia; Formação do engenheiro; Currículo. XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10 Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014. XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10 Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014. 2 1. Introdução As transformações ocorridas nas últimas décadas do século XX, e mais precisamente a globalização a qual contribuiu para o norteamento de políticas, influenciou o campo educacional, e uma série de mudanças e determinações que comprometem toda a sua estrutura e organização. Essas transformações afetam diretamente o ensino superior, uma vez que as instituições de ensino se encontram como estratégicas diante da necessidade de melhoraria das condições de oferta de seus cursos de graduação, bem como a necessidade de expansão, segundo as novas demandas do mercado. Nesse contexto, insere-se a formação da docência como profissão, o que vai demandar novos formatos para a qualificação de profissionais. Com isso, umnovo cenário se expressa diante da criação de novas áreas do conhecimento que se transformaram em cursos superiores, ou seja, algumas diciplinas estratégicas deram suporte para a criação de um novo curso superior, e por isso, a formação do profissional engenheiro, deve ultrapassar os limites do conhecimento estritamente técnico para uma ênfase pedagógica, necessária para o desempenho da atividade docente. Assim, a qualificação de profissionais, oriundos de uma formação tecnicista, tem sido objeto de estudo e pesquisas, visando contribuir com a melhoria da qualidade do trabalho docente, nos cursos de engenharia e outros afins. Porém, quando se trata da docência universitária, nos temas sobre formação, saberes docentes, práticas pedagógicas, muitos esforços têm expressado sobre a necessidade de maior relevância sobre os estudos nessa perspectiva. Para fins de trabalho, entende-se por saberes docentes, de acordo com Tardif “Pode-se chamar de saber o juízo verdadeiro, isto é, o discurso que afirma com razão a respeito de alguma coisa” Tardif (2002), então “saber alguma coisa é possuir uma certeza subjetiva racional Tardif (2002), Entretanto, quando se trata da docência nas áreas tecnológicas, na maioria das vezes, tem se apresentado como uma dificuldade para os docentes que atuam no ensino superior. Não obstante, entende-se que a formação específica e técnica desses profissionais foi orientada historicamente, com base no paradigma instrumental da ciência moderna, por isso, a questão fundamental é a busca da superação desse modelo de paradigma. O autor Santos XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10 Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014. 3 (2002) em sua obra “Um discurso sobre as ciências” diz respeito ao modelo de racionalidade herdado a partir do século XVI e firmado no século XIX. A nova racionalidade científica enxerga uma única forma de se atingir o conhecimento verdadeiro, aquela decorrente da aplicação de seus próprios princípios epistemológicos e de suas regras metodológicas. Sendo um modelo totalitário, esta nova visão de mundo apresentava distinções fundamentais aos modelos de “saberes” aristotélicos e medievais, que são: - Opunham-se conhecimento científico e conhecimento do senso comum; - Opunham-se natureza e pessoa humana. Desse modo, a formação do engenheiro encontra-se norteada por uma racionalidade técnica, conferida pelo modelo curricular e consequentemente, pelo modelo de formação do engenheiro que se torna professor. Portanto, essa questão torna-se interessante para o debate das questões contemporâneas da educação tecnológica, bem como sobre os interesses políticos e econômicos que norteiam a organização do currículo escolar, como principal no processo de formação universitária. As contribuições históricas, teóricas e epistemológicas tornam-se necessárias para pensar a formação do engenheiro e a sua atuação no trabalho docente. O objetivo do presente artigo é identificar os principais momentos históricos da expansão da engenharia de produção no Brasil, bem como compreender a formação do engenheiro na perspectiva da docência. Espera-se, com a elaboração deste artigo, a partir de umapesquisa documental e da análise do conteúdo, cooperar para o enriquecimento da literatura atual sobre o tema e despertar pesquisas futuras. 2. Revisão Bibliográfica 2.1 Breve histórico sobre a engenharia no Brasil: algumas características A origem da Engenharia ocorre desde que o homem começou a dar formas aos objetos e utilizá-los para beneficio próprio e de sua comunidade. As primeiras ferramentas confeccionadas pelo homem datam de dois milhões de anos atrás, fabricadas principalmente a partir de pedras lascadas, ossos e madeiras. Esse período é conhecido como Paleolítico XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10 Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014. 4 também chamado de Período da Pedra Lascada, justamente fazendo alusão a utilização das pedras pelos homens. Desta forma era possível caçar e se defender de animais, cortar árvores e construir abrigos para sua proteção e de sua comunidade (PEREIRA; BAZZO, 2007). Mediante a expansão dos conhecimentos científicos, aos poucos a engenharia foi se estruturando. A soma do desenvolvimento da matemática com a explicação dos fenômenos físicos em meados do século XVIII resultou em um conjunto de doutrinas que definitivamente caracterizava a engenharia moderna. Nesta época observa-se o surgimento de várias disciplinas que se tornariam as essências dos cursos de engenharia que estavam por nascer, principalmente as disciplinas de cunho básico,como: física, cálculo, álgebra, entre outras, necessárias para a formação do engenheiro e consideradas como enfoque técnico suficiente para a atuação do engenheiro nas funções demandadas pelo mercado de trabalho (PEREIRA; BAZZO, 2007). O surgimento dos primeiros cursos da Engenharia propriamente dita, coincide com um dos grandes acontecimentos da história do século XVIII, que é a primeira revolução industrial (TELLES, 1984). Harvey (1994) coloca que o surgimento da Revolução Industrial foi marcado pela racionalização do tempo-espaço implementado pela burguesia para desenvolver suas atividades econômicas. Ao realizar a documentação em mapas sobre os territórios geográficos, surgiram uma série de leis que forçavam os trabalhadores rurais a migrarem para a realização de trabalhos nas primeiras fábricas. Como consequência disto, a burguesia toma ciência da necessidade de investimentos em máquinas e transportes, que são os pilares da revolução industrial. Corrobora com Harvey o autor Hobsbaw (1995) que em seu livro “Era dos extremos” nomeia de era de ouro, o que correspondente a um grande desenvolvimento da ciência e da pesquisa tecnologica, tendo grande impactos nos meios de transporte e nas industrias. 2.2 Nascimento da escola de engenharia no Brasil XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10 Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014. 5 No Brasil, no ano de 1810, é fundada a Academia Real Militar, de onde descende, em linha direta, a famosa Escola Politécnica do Rio de Janeiro, sendo o início da Engenharia em nosso país. (TELLES, 1984). Nesse sentido, percebe-se que a criação do curso de engenharia tem sua ênfase na área militar, conforme destaca Kawamura (1981):Tanto para a formação acadêmica quanto para o trabalho que estavam estritamente ligados à “arte militar”, na medida em que sua tecnologia interessava apenas enquanto meio de segurança e repressão (KAWAMURA, 1981). Asssim, em 4 de dezembro de 1810, é institucionalizado o primeiro curso de engenharia, conforme esclarecido por Telles (1984) na carta:“[...]Faço saber a todos que esta Carta virem, que Tendo consideração, ao muito que interessa ao Meu Real Serviço, ao Bem Público dos Meus Vassalos, e a defesa e segurança dos Meus Vastos Domínios, que se estabeleça no Brasil, e na minha atual Corte e Cidade do Rio de Janeiro, um Curso regular das Ciências exatas, e de Observação, assim como de todas aquelas que são aplicações das mesmas aos Estudos Militares e Práticos, que formam a Ciência Militar em todos os seus difíceis e interessantes ramos, de maneira que dos mesmos Cursos de estudos se formem hábeis oficiais de Artilharia, Engenharia e ainda mesmo Oficiais da classe de Engenheiros Geógrafos e Topógrafos, que possam também ter o útil emprego de dirigir objetos administrativos de Minas, de Caminhos, Portos, Canais, Pontes, Fontes e Calçadas [...] [...] Sou Servido Ordenar na forma dos seguintes Estatutos: Da Junta Militar;Número de Professores, Ciências que devem ensinar, e dos seus substitutos; Requisitos que devem ter os professores e vantagens que lhe ficam pertencendo (grifo nosso); Dos Discípulos e condição que devem ter para serem admitidos, assim como das diversas classes em que deverão subdividir- se.[...]”(TELLES, 1984). Percebemos com isso, que a engenharia brasileira, descente da área militar, podendo-se dizer que o primeiro curso de engenharia no Brasil, foi voltado para aárea militar. A maioria das engenharias descende sempre de algum setor associado, conforme relata Vargas (1994), porém quando falamos da engenharia de produção, objeto deste estudo, percebemos que o surgimento da mesma está associado a momentos econômicos e políticos que ocorrem no país. XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10 Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014. 6 2.3 Engenharia de Produção: o surgimento “Enquanto que nas demais Engenharias, parte de sua história é a história do setor associado, setor metalúrgico para Engenharia Metalúrgica, setor de mineração para Engenharia de Minas, setor de construção para Engenharia Civil, etc., no caso da Engenharia de Produção o setor associado, se houver algum, é a própria economia do país”. (VARGAS, 1994). É possível identificar por meio da trajetória histórica, que as origens da Engenharia de Produção, tem seu marco a partir da Primeira Revolução Industrial e nos princípios do Taylorismo, sendo que este, teve a sua difusão conduzida por empresários paulistas no início da década de trinta, tendo um grande impacto sobre o meio intelectual, acadêmico e empresarial, e posteriormente sobre a máquina burocrática do estado (VARGAS, 1985). Kawamura (1981) destaca o trabalho do engenheiro como professor:“As mudanças institucionais, favorecendo o ensino técnico e especializado, de acordo com a valorização da eficiência técnica, da tecnologia, da produção em escala e do consumo supérfluo e de massa, crescentemente incorporada na ideologia dominante, estenderam as oportunidades de trabalho para o engenheiro no magistério (grifo nosso) e pesquisa tecnológica” (KAWAMURA, 1981). Nos Estados Unidos de onde descende a engenharia de produção brasileira, sua paternidade é atribuída a Frederick Taylor. Já no Brasil essa paternidade deve ser conferida ao professor Ruy Leme, sendo considerado como o principal autor da criação da Engenharia de Produção no Brasil (VARGAS, 1994) . As suas iniciativas, no sentido de trazer a Engenharia de Produção para o país e as suas ações no sentido de implantá-la efetivamente, como primeiro curso superior, na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, na década de 1950, apenas com as disciplinas de Engenharia de Produção e Complemento de Organização Industrial. Em 1959, o Professor Leme propôs desdobrar o curso de Engenharia Mecânica em duas opções: Projeto e Produção, o que posteriormente teria seu desdobramento como o primeiro curso de Engenharia de Produção do país, conforme podemos conferior no fragmento a seguir: “Senhor diretor: Por meio desta, levamos à apreciação de V. Exª o currículo do Curso de Engenharia de Produção, que propomos seja criado na Escola Politécnica. Elaboramos este currículo em colaboração com o professor Herbert G. Ludwig, da Michigan StateUniversity, XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10 Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014. 7 especialmente designado pelo escritório Ponto IV, do governo norte-americano, para estudar a instalação do referido curso em nossa Universidade. Julgamos dispensável encarecer a importância desta proposta. Constitui, sem duvida alguma, uma atualização imprescindível nos currículos da Escola Politécnica, permitindo a formação de engenheiros capazes de racionalizar nossas indústrias, reduzir custos, elevar a produtividade. Na elaboração do currículo, procuramos por motivos de economia, criar o menor numero de disciplinas novas. Assim, o 5º e 6º semestres são comuns aos cursos de Mecânicos (...). Desta forma, o curso proposto apresenta uma grande afinidade com o de Mecânicos, podendo, se as leis e regulamentos permitirem, ser considerado apenas como opção deste último. Desejamos esclarecer que, para o completo funcionamento do Curso de Produção, seriam necessários seis assistentes, cada um encarregando-se de 6 a 7 aulas semanais e a montagem de um Laboratório de Produção, para as aulas práticas das diversas disciplinas.” (Instituto Anísio Teixeira, 2010, p. 23, apud FLEURY, 2008). Com o curso superior de Engenharia de Produção proposto pelo professor Ruy Leme, fez-se necessáriodefinir quais atividades (disciplinas teóricas, práticas, entre outras) fariam parte do currículo desse engenheiro para que o mesmo pudesse ser capaz de desenvolver os trabalhos pertinentes à função. 2.4 O Currículo de Engenharia: algumas considerações Segundo Moreira (1994), as teorias tradicionais do currículo aparecem no contexto do processo de industrialização, massificação dos movimentos migratórios, da massificação da escolarização, racionalização da construção, desenvolvimento e experimentação dos currículos. A proposta dos estudiosos dessas teorias era planejar “cientificamente” as atividades pedagógicas e manter o controle sobre elas visando evitar que o comportamento e o pensamento do aluno se desviassem de metas e padrões pré-definidos. O currículo na escola era considerado um instrumento de controle social, por excelência. À escola coube inculcar os valores, as condutas e os hábitos “adequados”. O ensino vocacional cresceu e foi indispensável organizar o currículo de acordo com o contexto histórico associado à industrialização; as características associadas à ordem, racionalidade e eficiência marcaram esse período. XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10 Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014. 8 A luz do currículo do curso de engenharia o denominado, “currículo mínimo” dos cursos de Engenharia foi implantado em 1976 por meio da Resolução CFE em 27 de abril de 1976 pelo MEC. Já na RESOLUÇÃO Nº 48/76, de abril de 1976, fixa os mínimos de conteúdo e de duração do curso de graduação em Engenharia e define suas áreas de habilitação. Tal legislação contemplava uma carga horária mínima (3600 horas) e a duração de curso de Engenharia variáva de quatro a nove anos e não estabelecia cargas horárias para as disciplinas, a não ser no caso de atividades de laboratório, deixando tal encargo a cada instituição de ensino de Engenharia que definiam seis áreas de habilitação, a saber: Civil, Elétrica, Mecânica, Metalurgia, Minas e Química. Estabelecia uma divisão de matérias englobando formação básica, formação geral, formação profissional geral e formação profissional específica. No artigo 15 previa um mínimo de 30 horas para a realização de estágios supervisionados de curta duração, estabelecendo no parágrafo único do referido artigo que o número de horas poderia ser aumentado, definindo, para efeito de integralização, um máximo de um décimo do número de horas fixado para o curso (CASTRO, 2010). Em seu Anexo I, entre as matérias de formação geral, estabelecia a matéria "Ciências do Ambiente" que deveria incluir "A biosfera e seu equilíbrio” , “Efeitos da tecnologia sobre o equilíbrio ecológico” e “Preservação dos recursos naturais". Interessante lembrar, principalmente para os que foram graduados nos primeiros anos de sua vigência, como causava estranheza essas matérias. Desnecessário frisar como é atual e até determinante, já com outra roupagem, a ponto de justificar a criação da nova área de Engenharia Ambiental, através da Portaria 1.693 de 5 de dezembro de 1994. 3. Metodologia de Pesquisa A metodologia utilizada é a de abordagem qualitativa, utilizando de análise documental, no sentido de identificar documentos que remontam à história da engenharia de produção no Brasil.A pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental irão levantar fatos anteriores e atuais para descobrir quais acontecimentos relevantes se destacaram e tiveram impacto na formação do engenheiro e no trabalho docente realizado pelo mesmo. Segundo Gil (2010), uma vantagem deste tipo de pesquisa se dá pelo fato de o autor poder consultar e obter dados tendo as bibliografias adequadas. Por outro lado, há a desvantagem de XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10 Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014. 9 utilizar um dado secundário que pode ter sido coletado ou processado de modo equivocado e, assim, uma pesquisa que utilizar esses dados equivocados poderá reproduzir e/ou ampliar esses erros. Da mesma forma, Lakatos e Marconi (2003) definem a característica da pesquisa documental dizendo “que a fonte de coleta de dados está restrita a documentos, escrita ou não, constituindo o que se denomina de fontes primárias. Estas podem ser feitas no momento em que o fato ou fenômeno ocorre, ou depois”. Como fonte primária podemos considerar: Documentos de arquivos públicos e Publicações parlamentares e administrativas, impostas pelo MEC. 4. Apresentação da Discussão 4.1 O currículo do Engenheiro No ensino de Engenharia temos currículo e contexto a serem discutidos, uma vez que é um desafio agregar na modernidade a tecnologia com ciência e produzir ações que se confrontam com impactos sociais, ambientais, econômicos e teóricos. Para entender o currículo de Engenharia, é preciso considerar o contexto histórico, econômico e político em que o currículo é organizado. Como vimos, os cursos de Engenharia surgiram da necessidade de expandir conhecimentos científicos e sua aplicação prática, e consequentemente diante da necessidade de construção de máquinas, e o desenvolvimento de produtos e processos, o que fortalece os eixos da profissão. Sendo assim, a formação do engenheiro é fundamentada pelos conteúdos inseridos no currículo, o que vai legitimar o conhecimento científico e técnico do curso. Porém, é preciso compreender que assim como a criação do curso encontra-se inserido num contexto mais amplo, o currículo da mesma forma, insere em dimensões políticas, ideológicas, culturais de acordo com o momento histórico. É claro que não podemos nos esquecer dos fatores culturais, sociais e econômicos que determinam as diversas sociedades, pois a sistematização de problemas e soluções relacionadas ao currículo e ao projeto educativo da educação está diretamente ligada a ideias e valores que orientam as decisões sobre os conteúdos e a racionalização dos meios para alcançá-los. XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10 Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014. 10 Considerando o contexto histórico da organização currícular é importante ressaltar a influência de uma época, onde o país vivia o chamado período da ditadura militar, onde as características políticas e ideológicas determinavam a organização dos conhecimentos na universidade, o que fica claro nas características predominantes das resoluções que contemplam os cursos superior, uma vez que “fixava os mínimos de conteúdo e de duração do curso de graduação em Engenharia e definia suas áreas de habilitação”. Nesse sentido, os cursos superior para obterem o credenciamento exigido por lei, deveriam se adequar às normas, as quais muitas vezes atuavam no sentido de inibir quaisquer iniciativas, por parte da docência e/ou mesmo dos dirigentes instituicionais, das universidades. Partia-se do princípio de que todas as modalidades de Engenharia pudessem ser enquadradas como habilitações ou ênfases dessas grandes áreas. O que se verificou foi que isto dificultava o enquadramento de determinadas necessidades de formação profissional, principalmente a partir do surgimento de novas tecnologias e entrelaçamento com aquelas já existentes como, por exemplo, as relacionadas à informática, automação, meio ambiente, produção, etc (PINTO ET AL., 2003) Tal Resolução (Nº 48/76, de abril de 1976) foi considerada por alguns como uma “estratégica” e após sua elaboração, em 1995, o programa REENGE (ReEngenharia do Ensino de Engenharia) retomou discussões sobre o ensino de Engenharia no país, oportunizando maiores discussões acerca dos cursos de Engenharia,tendo em vista o movimento instaurado pela globalização da sociedade As mudanças estabelecidas pela globalização introduziram sérias transformações na indústria nacional e o surgimento de novas orientações para cursos superiores, dentre outros, o curso de engenharia é tido como uma área do conhecimento voltada para os interesses do setor produtivo em resposta às mudanças rápidas e contínuas do mundo econômico e social, voltado para as determinações do mercado produtivo. Com o advento da Lei de Diretrizes e Bases, em 20 de dezembro de 1996, cai a exigência do currículo mínimo que privilegiava a acumulação de conteúdos como garantia de formação de um bom profissional e o processo ensino e aprendizagem era todo centrado no professor (CASTRO, 2010). XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10 Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014. 11 Em 1997, vinte e um anos depois, uma nova tendência curricular surgiu, desprezando o currículo mínimo e definindo diretrizes curriculares que têm o objetivo de servir de referência para a IES (Instituição de Ensino Superior) ao organizar seus programas de graduação (LINSINGEN, 1999). Assim, começa o processo histórico de elaboração e aprovação das Diretrizes dos Cursos de Graduação em Engenharia, por meio do Edital do MEC/SESu n. 4/1997, com a convocação das IES a apresentarem propostas para as diretrizes curriculares dos curso de graduação a serem sistematizadas pelas Comissões de Especialistas de Ensino de cada área (CASTRO, 2010). 4.2 Diretrizes Curriculares: o novo modelo Em 2002 foram aprovadas as novas DCs (Diretrizes Curriculares) para os cursos de Engenharia. Reiterando: a Resolução CFE 48/76 que fixava conteúdos mínimos estruturada em dois núcleos, o comum e o diversificado com carga horária de 3600 horas e a duração entre 5 a 9 anos caem por terra e tais diretrizes oferecem condições aos seus egressos de adquirir competências e habilidades para, o que gera a resolução CNE/CES 11/2002. Na figura abaixo temos a comparação das duas resoluções e suas alterações (PINTO ET AL., 2003) Figura 1 –Comparação entre as Resoluções CFE 48/76 e CNE/CES 11/2002 XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10 Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014. 12 Fonte: Retirado de Pinto et al. (2003) As Diretrizes Curriculares estabelecem também que, cada curso de Engenharia deva possuir um projeto pedagógico que demonstre claramente como o conjunto das atividades previstas garantirá o perfil desejado de seu egresso e o desenvolvimento das competências e habilidades esperadas. “O novo engenheiro deve ser capaz de propor soluções que sejam não apenas tecnicamente corretas, ele deve ter a ambição de considerar os problemas em sua totalidade, em sua inserção numa cadeia de causas e efeitos de múltiplas dimensões.” (PORTARIA n. 011/2002 do CNE, 2014). Assim, observamos que ao longo da história da engenharia e consequentemente com as mudanças em seu curriculos, vale ressaltar o docente de engenharia que participou XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10 Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014. 13 diretamente de todo este processo. Para isso o autor Tardif (2006) que realiza pesquisas com professores com o propósito de compreender de onde nascem e quais seriam os saberes docentes de um professor coloca que, o saber é “sempre o saber de alguém que trabalha alguma coisa no intuito de realizar um objetivo qualquer” Tardif(2006). O autor garante que o saber dos professores está relacionado com sua própria pessoa e identidade, sua experiência de vida e carreira profissional, desta forma ele pontua que os saberes são plurais, pois advêm de várias fontes. CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com o presente artigo, de uma maneira geral, configura-se até então, que somente na primeira metade da década de 1950, com a criação das disciplinas: Engenharia de Produção e Complemento de Organização Industrial por iniciativa do Professor Ruy Aguiar da Silva Leme é que de fato nascia a Engenharia de Produção no Brasil. Notamos também que ao longo dos anos o currículo de engenharia sofreu alterações significativas, pois cada época forneceu um tipo de situação política e econômica no país, no qual o mesmo teve quer ser adaptado à realidade de cada cenário. REFERÊNCIAS CASTRO, R. N. A. Teorias do currículo e suas repercussões nas diretrizes dos cursos de engenharia. Revista Educativa, Goiânia, v. 13, n. 2, p. 307-322, jul./dez. 2010. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5ª. São Paulo: Atlas, 2010. HARVEY, D. Condição pós-moderna. São Paulo, SP: Loyola, 1994. HOBSBAWN, E. Era dos extermos: o breve seculo xx: 1914-1991. 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