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Aula 3 e 4: Uroanálise – Conceitos Gerais Avaliação Laboratorial do Sistema Urinário Profa. Thiara Manuele UROANÁLISE • A medicina laboratorial teve início a partir da análise de urina. • Foram encontradas referências ao estudo da urina em desenhos feitos por nossos primeiros ancestrais e em hieróglifos egípcios. • Embora os médicos da Antiguidade não dispusessem de sofisticados métodos de exames, baseavam-se na análise da urina do paciente, para obter um diagnóstico. • Este consistia na observação da turvação, odor, volume, cor, viscosidade e até mesmo a presença ou não de açúcar em certas amostras. https://www.magnusmundi.com/roda-de-urina-os-exames-de-urina-na-idade-media/ https://www.unifafibe.com.br/revistasonline/arquivos/revistafafibeonline/sumario/16/30032011210343.pdf UROANÁLISE • Hipócrates, um dos grandes nomes da medicina, no século V a.C dedicou-se a pesquisa da urina e escreveu sobre ¨uroscopia¨. https://www.magnusmundi.com/roda-de-urina-os-exames-de-urina-na-idade-media/ https://www.unifafibe.com.br/revistasonline/arquivos/revistafafibeonline/sumario/16/30032011210343.pdf UROANÁLISE • Os hipocráticos acreditavam que a urina era um produto residual através do qual o corpo tentava se livrar da matéria pecadora causada por doenças. • A cor da urina, a transparência, a nebulosidade e outros recursos ofereciam uma janela para o que estava acontecendo dentro do corpo. • “Quando as bolhas se depositam na superfície da urina, indicam doença dos rins”, afirmava um dos Aforismos Hipocráticos. https://www.magnusmundi.com/roda-de-urina-os-exames-de-urina-na-idade-media/ https://www.unifafibe.com.br/revistasonline/arquivos/revistafafibeonline/sumario/16/30032011210343.pdf UROANÁLISE • Mais de 3.500 anos atrás, médicos do antigo Egito e da Índia foram capazes de diagnosticar o diabetes em seus pacientes a partir do excesso de açúcar contido na urina. • De fato, o diabete foi uma das primeiras doenças a serem descritas. • Um antigo manuscrito egípcio datado de 1.500 a.C descreve a doença como “um grande esvaziamento da urina“, enquanto os médicos indianos na mesma época chamavam a doença de “madhumeha” ou “urina de mel“, observando a peculiar “adstringente, doce, branca e clara da urina e com sabor acentuado“. • O gosto da urina de uma pessoa diabética era quase universalmente conhecido, como fica evidente no antigo nome chinês da doença – táng niǎo bìng, que significa “doença do açúcar na urina” https://www.magnusmundi.com/roda-de-urina-os-exames-de-urina-na-idade-media/ https://www.unifafibe.com.br/revistasonline/arquivos/revistafafibeonline/sumario/16/30032011210343.pdf UROANÁLISE • No texto intitulado Prognósticos, as diferentes cores e consistências da urina são mencionados. Estas duas características da urina de uma pessoa podiam ser usados para fazer um prognóstico sobre o curso da doença. • No século 7, o médico bizantino Theophilus escreveu um livro muito popular sobre a uroscopia, detalhando como diagnosticar uma variedade de doenças através da urina. • Cerca de 300 anos depois, o influente médico árabe Isaac Judaeus desenvolveu um fluxograma complicado que, segundo ele, poderia determinar todas as doenças conhecidas, com mais de vinte tons de urina para escolher. O gráfico se tornou um grande sucesso entre os médicos medievais. https://www.magnusmundi.com/roda-de-urina-os-exames-de-urina-na-idade-media/ https://www.unifafibe.com.br/revistasonline/arquivos/revistafafibeonline/sumario/16/30032011210343.pdf UROANÁLISE • Esses fluxogramas ficaram conhecidos como “The Wheel of Urine” ou roda de urina e tornaram-se uma inclusão padrão em textos médicos durante séculos, especialmente durante a idade média, quando o interesse pela uroscopia atingia o pico. • Até então, era amplamente reconhecido que certas doenças alteravam perceptivelmente a cor, o cheiro e o gosto da urina. • Analisar a urina era a melhor maneira de determinar se os quatro humores (sangue, fleuma, biles amarela e preta) de um paciente estavam em equilíbrio. • A análise visual da urina tornou-se uma prática médica tão comum que a imagem de um médico segurando um frasco (conhecido como matula) cheio de urina contra a luz tornou-se o símbolo da profissão médica. • https://www.magnusmundi.com/roda-de-urina-os-exames-de-urina-na-idade-media/ https://www.unifafibe.com.br/revistasonline/arquivos/revistafafibeonline/sumario/16/30032011210343.pdf UROANÁLISE • Além de doenças, a urina também foi usada para determinar a gravidez. • Um texto datado de 1552 explica que a urina de uma mulher grávida era de “cor clara de limão pálido variando para o branco sujo, tendo uma nuvem em sua superfície“. • Alguns médicos adicionaram vinho à urina para fins de diagnóstico. Quando o álcool no vinho reagia visivelmente com proteína na urina, o teste era considerado positivo. • Como a excreção urinária de proteína aumentava substancialmente durante a gravidez, o teste pode ter realmente funcionado. Médico do século 11, Constantine o Africano, examinando a urina dos pacientes na Escola Médica Salernitana https://www.magnusmundi.com/roda-de-urina-os-exames-de-urina-na-idade-media/ https://www.unifafibe.com.br/revistasonline/arquivos/revistafafibeonline/sumario/16/30032011210343.pdf UROANÁLISE • Em meados de 1140 d.C tabelas de cores foram criadas para diferenciar cerca de vinte cores diferentes de urina. • Já em 1694, Frederik Dekkers desenvolveu um teste bioquímico eficaz verificar a albuminúria, ou seja, presença de glicose, através da fervura da urina, deixando de lado os métodos antiquados ¨teste do sabor¨ e o ¨teste da formiga¨. https://www.magnusmundi.com/roda-de-urina-os-exames-de-urina-na-idade-media/ https://www.unifafibe.com.br/revistasonline/arquivos/revistafafibeonline/sumario/16/30032011210343.pdf UROANÁLISE • Em 1627, Thomas Bryant publicou um livro onde denunciavam os ¨profetas do xixi¨, médicos charlatães não credenciados que faziam previsões as pessoas através da análise da urina, acabando com a credibilidade que o exame de urina tinha; o livro contribuiu com a aprovação das primeiras leis de concessão de licenças médicas na Inglaterra. https://www.magnusmundi.com/roda-de-urina-os-exames-de-urina-na-idade-media/ https://www.unifafibe.com.br/revistasonline/arquivos/revistafafibeonline/sumario/16/30032011210343.pdf UROANÁLISE • No Século XVII, com a invenção do microscópio, foi possível a realização do exame de sedimento urinário e a criação de métodos para a quantificação desses sedimentos por Thomas Addis em 1827. • Após o desenvolvimento de técnicas modernas de análise, a uroanálise volta a ser de rotina, fazendo parte da análise de um paciente até hoje. https://www.magnusmundi.com/roda-de-urina-os-exames-de-urina-na-idade-media/ https://www.unifafibe.com.br/revistasonline/arquivos/revistafafibeonline/sumario/16/30032011210343.pdf UROANÁLISE • A avaliação sensorial da urina chegou ao fim, no final do século 18 e início do século 19, substituída por análises químicas. • Mas alguns médicos teimosamente ainda continuaram com os métodos antigos e ficaram conhecidos como “profetas mijados”. • Já nos tempos romanos, a urina era usada com o propósito de adivinhação, uma prática conhecida como uromacia. Um uromante olhava para uma tigela de urina e fazia profecias divinas baseadas em como as bolhas se organizavam ao redor da tigela. Outros viam sinais do céu na cor e sabor da urina. Um guia prático para diagnóstico baseado em urina que pode ser realizado em casa, por volta de 1920 https://www.magnusmundi.com/roda-de-urina-os-exames-de-urina-na-idade-media/ https://www.unifafibe.com.br/revistasonline/arquivos/revistafafibeonline/sumario/16/30032011210343.pdf UROANÁLISE • A urina é um importante objeto de estudo. Permite avaliar a função renal e fornece indícios sobre a etiologia da disfunção. • A urina é um fluído de fácil obtenção e revela informações importantes sobre diversas funções metabólicas dos organismos. • Suaanálise conta com um método barato e permite analisar grande número de pessoas. • Por sua simplicidade, baixo custo e facilidade na obtenção da amostra para análise, é considerado um exame de rotina. https://www.magnusmundi.com/roda-de-urina-os-exames-de-urina-na-idade-media/ https://www.unifafibe.com.br/revistasonline/arquivos/revistafafibeonline/sumario/16/30032011210343.pdf UROANÁLISE • Uma das provas mais solicitadas rotineiramente, do ponto de vista do laboratório clínico, é o exame geral de urina. O exame de urina completo inclui exames físico, químico e microscópico. • Cada um deles tem seu valor, sendo os dois primeiros de execução mais simples e o último sendo considerado moderadamente complexo. • A observação das características físicas é mantida até hoje, porém com uma análise mais precisa, devido ao uso de tecnologia por laboratórios altamente equipados e complementada pela análise bioquímica e exame microscópio do sedimento urinário. https://www.magnusmundi.com/roda-de-urina-os-exames-de-urina-na-idade-media/ https://www.unifafibe.com.br/revistasonline/arquivos/revistafafibeonline/sumario/16/30032011210343.pdf UROANÁLISE • ANÁLISE DOS CONSTITUINTES BIOQUÍMICOS DA URINA: tiras reagentes, objetivando tornar a determinação de elementos da urina mais rápida, simples e econômica. • As tiras reagentes podem identificar pH, proteínas, glicose, cetonas, hemoglobina, bilirrubina, urobilinogênio, nitrito, densidade e leucócitos. • Há no mercado instrumentos que executam a leitura das fitas reagentes, garantindo maior precisão no resultado ao eliminar parte do elemento subjetivo inerente à leitura humana. https://www.magnusmundi.com/roda-de-urina-os-exames-de-urina-na-idade-media/ https://www.unifafibe.com.br/revistasonline/arquivos/revistafafibeonline/sumario/16/30032011210343.pdf UROANÁLISE • A ANÁLISE MICROSCÓPICA do sedimento urinário consiste na busca de células e partículas presentes na urina (eritrócitos, leucócitos, bactérias, cilindros, entre outros). • Embora a análise do sedimento forneça informações essenciais sobre o estado funcional dos rins, o exame de urina é um procedimento de alta demanda que requer trabalho laboratorial manual intenso, é pouco padronizado e gera um custo elevado aos laboratórios, pois para se que obtenha resultados de qualidade há a necessidade de mão de obra qualificada. https://www.magnusmundi.com/roda-de-urina-os-exames-de-urina-na-idade-media/ https://www.unifafibe.com.br/revistasonline/arquivos/revistafafibeonline/sumario/16/30032011210343.pdf UROANÁLISE • A urinálise está dividida em três partes: 1) Exame físico 2) Exame químico 3) Avaliação do sedimento urinário. UROANÁLISE • A urina deve ser analisada rapidamente após a coleta, de preferência em até 30 minutos após a obtenção. • Se isto não for possível deve ser imediatamente refrigerada (a 4°C) e armazenada por no máximo 12 horas. • Urinas refrigeradas devem ser levadas à temperatura ambiente e completamente homogeneizadas antes da análise. • A amostra não deve ser congelada. Durante o armazenamento, cilindros e células podem se desintegrar e o pH urinário pode se alterar. • Essas alterações são mais pronunciadas em tempos longos de armazenamento e em altas temperaturas. • Ademais, microorganismos podem continuar a replicação, sendo eles contaminantes ou agentes infecciosos. COLETA E MANIPULAÇÃO DE AMOSTRAS • Para analisar amostras de urina, alguns cuidados devem ser tomados como não manipular as amostras sem luvas e nem centrifugá-las sem tampa. • O descarte pode ser feito em uma pia, contanto que grande quantidade de água seja jogada depois e o recipiente onde a amostra é colocada deve ser descartado como lixo com risco biológico. • Se após a colheita a amostra não receber os cuidados necessários para manter sua integridade, ocorrem alterações na composição da urina tanto in vivo como in vitro. COLETA E MANIPULAÇÃO DE AMOSTRAS Em um laboratório, são obedecidas três regras básicas de como proceder com a amostra urinário quando chega para ser analisada: 1) A coleta deve ser feita em um recipiente seco e limpo, de preferência descartável, diminuindo as chances de ocorrer contaminação. Há recipientes de diferentes tamanhos, inclusive bolsas de plástico com adesivo para uso pediátrico; uso preferencial de tampas com roscas para evitar vazamentos. 2) O recipiente dever possuir identificação com uso de etiquetas contendo nome do paciente, data e hora da colheita; nomes do médico e do hospital também podem ser identificados. O uso de etiqueta garante a autenticidade do resultado, serve com um fator de controle de qualidade. 3) Depois de coletada, a amostra deve ser entregue ao laboratório imediatamente e analisada em 1 hora; se isto não for possível é necessário refrigerar ou adicionar conservantes químicos à amostra. TIPOS DE AMOSTRA • Para colher uma amostra que seja realmente representativa do estado metabólico do paciente, muitas vezes é necessário controlar certos aspectos da coleta, como hora, duração, dieta e medicamentos ingeridos e método de colheita. • É importante das instruções aos pacientes quando eles estiverem de seguir procedimentos especiais de colheita. https://www.unifafibe.com.br/revistasonline/arquivos/revistafafibeonline/sumario/16/30032011210343.pdf TIPOS DE AMOSTRA • Amostas aleatórias (ao acaso): é útil nos exames de triagem, para detectar anormalidades bem evidentes. Contudo, pode produzir resultados errados, devido à ingestão de alimentos ou à atividade física realizada pouco antes da coleta da amostra; • Primeira amostra da manhã: é a amostra ideal para o exame de rotina ou tipo I. trata-se de uma amostra concentrada, o que garante a detecção de elementos figurados que podem não estar presentes nas amostras aleatórias mais diluídas; • Amostra em jejum (segunda da manhã): difere da primeira da manhã por ser resultado da segunda micção após um período de jejum. Não conterá metabólitos provenientes dos alimentos ingeridos antes do início do período de jejum, sendo recomendada para monitorização da glicosúria. https://www.unifafibe.com.br/revistasonline/arquivos/revistafafibeonline/sumario/16/30032011210343.pdf TIPOS DE AMOSTRA • Amostra colhida duas horas após a refeição (Pós prandial): faz-se a prova da glicosúria, e os resultados são utilizados principalmente para monitorar a terapia com insulina em portadores de diabetes melito. • Amostra para teste de tolerância à glicose: as amostras de urina são colhidas no mesmo instante em que se colhe o sangue para se fazer o teste de tolerância `a glicose. O número de amostras pode variar. Na maioria das vezes, as amostras são colhidas em jejum, depois de meia hora, depois de uma hora, depois de duas horas e depois de três horas, consecutivamente após a ingestão da carga de glicose necessária na prova de tolerância à glicose. https://www.unifafibe.com.br/revistasonline/arquivos/revistafafibeonline/sumario/16/30032011210343.pdf TIPOS DE AMOSTRA • Amostra de 24 horas: é utilizada pois, muitas vezes é necessário medir a quantidade exata de determinada substância química na urina, ao invés de registras apenas sua presença ou ausência. No laboratório a amostra deve ser homogeneizada e seu volume deve ser medido e registrado com precisão. • Amostra colhida por cateter: a amostra é colhida em condições estéreis, passando-se pela uretra um cateter que chegue até a bexiga. A finalidade mais comum desse tipo de amostra é a cultura bacteriana. Outra condição menos freqüente é a avaliação da função de cada rim, isoladamente. https://www.unifafibe.com.br/revistasonline/arquivos/revistafafibeonline/sumario/16/30032011210343.pdf TIPOS DE AMOSTRA • Coleta estéril de jato médio: é um método mais seguro e menos traumático de se obter urina para cultura bacteriana. É necessário orientar o paciente sobre os métodos de higiene da genitália, com instruções para coleta apenas da parte média do jato de urina. • Aspiração supra-púbica: a urina é colhida por introduçãode uma agulha que, do exterior, atinge a bexiga. Esse método proporciona amostras para cultura de bactérias completamente isentas de contaminação externa. Também pode ser usado para exame citológico. https://www.unifafibe.com.br/revistasonline/arquivos/revistafafibeonline/sumario/16/30032011210343.pdf TIPOS DE AMOSTRA • Prova de Valentine (coleta de três frascos): esse procedimento é semelhante ao da coleta de jato médio; é usado para a detecção de infecções da próstata (colher 1º e 2º jato de urina separadamente e o 3º jato/amostra após massagem prostática). • Amostras pediátricas: Para este tipo de coleta, são utilizados coletores de plástico transparente com adesivos que se prendem à área genital de crianças de amos os sexos, para coleta de amostras de rotina. Quando a coleta tem que ser feita em condições estéreis, a cateterização ou a aspiração supra-púbica são utilizadas. Recomenda-se cuidado na hora de manipular a bolsa plástica para não tocar seu interior; para as análises bioqímicas quantitativas, existem bolsas que possibilitam a inserção de um tubo, transferindo-se o excesso de urina para um recipiente maior. https://www.unifafibe.com.br/revistasonline/arquivos/revistafafibeonline/sumario/16/30032011210343.pdf