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Resenha Crítica Documentário Lixo Extraordinário - Williams Passos - Passei direto

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Resenha Crítica – Documentário: Lixo extraordinário
O documentário Lixo Extraordinário retrata a experiência do projeto social realizado pelo conceituado artista plástico Vik Muniz, no aterro sanitário de Jardim Gramacho, situado em Duque de Caxias/RJ. Neste projeto, Vik tem como principal objetivo transformar a vida dos catadores de material reciclado através da construção coletiva de obras de arte contemporânea, que futuramente serão representadas e comercializadas em leilão. Desta forma, todo o documentário é constituído através da narrativa destes personagens, que em desenvolvimento de suas atividades cotidianas contribuem diretamente para o desenvolvimento do projeto social. Sebastião, Ísis, Valter, Zumbi, Irmã, Magna e Suellem são os principais atores da trama, simbolizando a vida de milhares de brasileiros, que assim como eles, vivem numa situação limítrofe. 
O documentário é bastante reflexivo, centrado na importância de colocar em pauta temas relevantes, como: arte, cultura, representações sociais e políticas públicas. Ao decorrer da narrativa é evidente e alarmante as condições de vida a que são submetidos estes trabalhadores, assim como a inoperância dos gestores públicos na localidade. Eles são consumidos pela pobreza, precariedade de saneamento, falta de recursos materiais e ausência de reconhecimento da classe trabalhadora. Desta forma acentuam a desigualdade social gerada pela má distribuição de renda, falta de políticas educacionais e de inclusão social. São falhas inadmissíveis que resultam na invisibilidade destes importantes atores sociais. Os catadores do aterro de Gramacho foram os únicos responsáveis pela manutenção da vida útil do lixão, retirando resíduos sólidos que chegavam a cerca de 200 toneladas diárias de materiais reaproveitáveis ou recicláveis, o equivalente a uma cidade de 400 mil habitantes. A economia gerada com este trabalho garantia o sustento de mais de 15 mil famílias do aterro e do seu entorno. Tendo em vista que, atualmente no Brasil mais de 90% do material a ser reciclado advém do trabalho de coleta de mais de 1 milhão de catadores, e que o setor de reciclagem cresce em média 12% ao ano, já não cabe mais a invisibilidade destes agentes sociais e a informalidade do setor. Contudo, também devemos assumir a responsabilidade de cuidar do meio ambiente, a começar pela coleta seletiva, assim como fazem os catadores, pois vivemos num momento crítico em que a capacidade de produção e consumo de mercadorias foi elevada a níveis altíssimos e a duração das mercadorias diminuiu significativamente, principalmente devido a obsolescência planejada dos produtos. Também é responsabilidade das empresas praticar a logística reversa, ou seja, criar meios para a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento ou destinação adequada. Conforme, a lei 12.305/10, referente à Política Nacional de Resíduos Sólidos, a responsabilidade do descarte correto dos resíduos cabe a todos, seja pessoa física ou jurídica e ao Estado.
O projeto social de Vik nos mostrou que é possível mudar a nossa realidade e a de outras pessoas começando pequeno, mesmo com poucos recursos, contudo, através de muito planejamento e trabalho. Falta de recursos são apenas pequenos empecilhos e não refletem impossibilidade ou incapacidade. Poucos e interessantes livros encontrados no lixo possivelmente tiveram maior proveito do que em seu local de origem. Conforme Tião relata, o livro “O príncipe de Maquiavel, encontrado no lixão, o influenciou como liderança na associação de catadores, assim como os ideais de Nietzsche os ajudaram a enxergar a realidade social em que estava inserido. Conhecimento e empatia também são importantes para evitar preconceitos. Em uma das falas do artista nota-se o prejulgamento ao falar sobre os que trabalhavam no aterro: “Devem ser as pessoas mais rudes em quem podemos pensar. São viciados. É o fim da linha. Dê uma olhada na geografia da área. Aqui é o fim da linha.”. O que parecia ser o fim da linha para ele, era tudo na vida daquelas pessoas, e foi o ápice de sua carreira. A arte ressignificou a triste realidade dos recicladores e a visão equivocada do artista. Outra fala de Vick valida a ideia de que o mínimo de solidariedade tem grande poder de transformação: “tirar as pessoas, nem que seja por poucos minutos do lugar onde elas estão, e mostrar-lhes outro mundo, outro lugar, mesmo que seja um lugar onde possam ver onde estão, isso muda tudo." Transformação, realização, percepção de valor do trabalho , amor a si e ao próximo, foram os principais resultados deste lindo projeto na vida de todos os envolvidos, e a nós expectadores. Creio, que nossa responsabilidade maior a partir de agora, é disseminar este documentário e usá-lo como inspiração para transformação do meio social.