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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA RELATÓRIO DE AULA PRÁTICA PORTO ALEGRE 2020 1. PRINCÍPIO DO MÉTODO: A atividade de uma enzima em relação a sua exposição a meios com pHs diferentes pode ser mensurada através de quanto produto foi gerado, no mesmo tempo, para cada meio testado. No caso da enzima pirofosfatase, por exemplo, podemos definir em qual faixa de pH sua ação será máxima sob o substrato pirofosfato se analisarmos sua ação em um mesmo período de tempo em meios com valores distintos de pH, analisando posteriormente quanto fosfato inorgânico (produto da reação) foi produzido em cada meio. Para quantificarmos o fosfato inorgânico presente em uma amostra podemos utilizar o método Fiske-Subbarow, que consiste na reação de molibdato de amônio com fosfato inorgânico (Pi) em meio ácido e na presença de um agente. Nessas condições haverá formação de uma cor azulada nas amostras, que varia de intensidade de acordo com a concentração de Pi presente em cada uma. Esquema reduzido da reação: PPi + H2O 2 Pi Importante salientar que quanto maior é a intensidade do azul, maior é a quantidade de fosfato inorgânico encontrado nessa solução, ou seja, esses dois elementos são diretamente proporcionais. 2. OBJETIVO: O presente relatório objetiva analisar em qual faixa de pH a enzima pirofosfatase possui maior atividade, almejando com o resultado a máxima velocidade enzimática. 3. METODOLOGIA: 3.1 Elaboração da curva padrão: Para realizar a quantificação de fosfato inorgânico totais de uma amostra com base em espectrofotometria necessitamos primeiro elaborar uma curva padrão com base na análise de amostras no espectrofotômetro cujas concentrações sejam conhecidas. Para tanto, amostras de soluções com concentrações maiores ou menores de ortofosfato passam por análise no espectrofotômetro, equipamento capaz de emitir ondas eletromagnéticas em frequências exatas e pré-estabelecidas que passam pela amostra, sendo parte barradas e parte transmitidas, gerando assim valores de absorbância. As amostras precisam ser feitas com o mínimo erro possível, preferencialmente através do uso de pipetas eletrônicas para dosagem do conteúdo de fosfato inorgânico e água destilada de cada tubo a ser analisado na espectrofotometria, e com utilização de triplicatas. As triplicatas objetivam mitigar possíveis inconsistências na pipetagem. Dos três valores gerados descarta-se aquele mais discrepante (se houver) e posteriormente faz-se a média, gerando um valor só de absorbância para cada concentração. Quanto as concentrações, elas devem ser estabelecidas preferencialmente em intervalos iguais, como vemos na tabela 1, utilizada como base no processo de diluição do conteúdo de fosfato inorgânico entre as amostras a serem utilizadas na elaboração da curva padrão. Linhas Concentração de Pi (μL) Concentração de Água (μL) A 0 250 B 50 200 C 100 150 D 150 100 E 200 50 Tabela 1: Concentração de fosfato inorgânico e concentração de água utilizada em cada amostra. Percebemos o aumento gradativo da concentração de fosfato inorgânico em cada amostra, assim como o fato de que a primeira amostra (A) não possui nenhum conteúdo de fosfato. Essa amostra recebe o nome de branco da reação, tendo como principal função indicar ao aparelho o que não deve ser levado em conta no cálculo da absorbância. Posteriormente, de posse dos valores de absorbância calculamos o fator de calibração individual de cada amostra (exceto a do soro) com base na fórmula Fc = Q / A, em que Fc representa o Fator de Calibração, Q representa a Quantidade de fosfato inorgânico e A a Absorbância. Fórmula 1: F = Q/A Os valores de absorbância das amostras individuais são então unidos e através de média simples obtemos o Fator de Calibração médio (FCm). Esse fator pode ser usado na fórmula um para que cheguemos ao valor da quantidade de ortofosfato das soluções com diferentes pH (lembrando que dessas soluções só possuímos o valor de absorbância). Para finalizar a curva padrão, plotamos um gráfico da curva no software Excel, gerando também o coeficiente de ajuste. 3.2 Elaboração das amostras enzimáticas para diferentes faixas de pH Depois de realizada a curva padrão utilizaremos seis tubos com volumes iguais de tampão (específico para cada faixa de pH), de MgCl2 (responsável por gerar o cofator Mg2+ essencial para a enzima), de água destilada e de pirofosfato. A ordem de inserção dos componentes deve ser seguida rigidamente. Por último adiciona-se a enzima pirofosfatase (que catalisa a quebra do pirofosfato em duas moléculas de fosfato inorgânico), porém essa com concentração zerada na amostra A (branco). Na tabela dois observamos as concentrações dos elementos citados em seus respectivos tubos. Tubos pH Tampão (μL) MgCl2 (μL) Água (μL) PPi (μL) Pirofosfatase (μL) A -- 150 20 40 20 0 B 6,2 150 20 40 20 20 C 6,7 150 20 40 20 20 D 7,2 150 20 40 20 20 E 7,9 150 20 40 20 20 F 8,4 150 20 40 20 20 Tabela 2: Concentrações de interesse de cada amostra e seus respectivos pH. Importante destacar que a adição da enzima deve ser feita da maneira mais rápida possível. Uma vez que no final do processo calcularemos a velocidade enzimática em relação a um mesmo tempo, torna-se salutar que haja a mínima diferença entre a finalização de cada amostra para que em nenhuma delas a enzima aja por mais tempo sobre o substrato. Depois da adição de todos reagentes necessários é preciso colocar todas as amostras em incubadoras por vinte minutos à uma temperatura de trinta e sete graus celsius. Após, esse procedimento de incubação, realizamos em todas as amostras a pipetagem de 1000 μL de molibdato de amônio (preparado com ácido). Esse processo faz com que a pirofosfatase desnature, parando assim a atividade catalítica. A adição desse composto deve ser realizada o mais rápido possível, para fazer com que o tempo de ação da enzima seja próximo entre amostras. Para obtermos um resultado mais exato, coloca-se 20 μL de enzima no tubo Branco, que será desnaturada instantaneamente devido a concentração de molibdato de amônio anteriormente adiciona à essa amostra. O aparelho de análise posteriormente utilizará a amostra A como referência para descontar a cor inespecífica nas demais amostras. O próximo passo é acrescentar em todos os tubos 80 μL de agente redutor que fornecerá elétrons e promoverá uma mudança de cor nas amostras, seguindo o método Fiske-Subbarow. É necessário incubar essas amostras por sete minutos em temperatura ambiente. Depois da incubadora, é feita a pipetagem, em triplicata, de 200 μL da solução na mesma microplaca utilizada para a realização da curva padrão. Só que essas amostras vão ficar nas colunas de 4 até 6, e nas linhas de A até F. O aparelho fará então a leitura em 640 nm, nos gerando um valor de absorbância para cada amostra da triplicata. Análogo ao procedimento de formação da curva padrão, urge a necessidade de descontarmos amostras discrepantes e posteriormente elaborarmos uma média simples, da qual sairá um resultado para cada triplicata. Nesse ponto, de posse do resultado de absorbância de cada triplicata, precisamos interpretar esse valor para chegarmos ao objetivo do processo: quantificar o Pi presente em cada amostra. Isso pode ser feito através de uma inversão da fórmula 1. Se antes tínhamos a concentração e o valor de absorbância para então calcularmos o fator de calibração, agora utilizaremos o fator de calibração obtido na curva padrão (3.1) e multiplicaremos pelo valor de absorbância para então chegarmos a quantidade de Pi em cada amostra. 4. RESULTADOS: Na tabela 3 podemos ver os valores utilizados paraa construção da curva padrão: Padrões Abs 1 Abs 2 Abs 3 Abs (média) Quantidade de Pi (µmol) Fc (parcial) FcM (médio) B 0,002 -0,001 -0,001 0 0 - - 1 0,069 0,082 0,076 0,0757 0,05 0,6608 0,7650 2 0,116 0,121 0,111 0,1160 0,10 0,8621 3 0,193 0,217 0,198 0,2027 0,15 0,7401 4 0,250 0,252 0,062 0,2510 0,20 0,7968 Tabela 3: Valores para construção da curva padrão Cálculo dos valores para tabela 3: Abs média: 1 – (0,069+ 0,082 + 0,076) / 3 = 0,0756 2 – (0,116 + 0,121 + 0,111 0) /3 = 0,01156 3 – (0,193 + 0,217 + 0,198 0) / 3 = 0,2026 4 – (0,250 + 0,252) / 2 = 0,251 (o valor 0,062 foi descartado por ser muito discrepante quanto comparado com os demais da triplicata. Quantidade de Pi Tubo Branco Tubo 1 Tubo 2 Tubo 3 Tubo 4 Q = 0 (sem Pi) 1 μmol – 1000 μL Q – 50 μL Q = 0,05 1 μmol – 1000 μL Q – 100 μL Q = 0,1 1 μmol – 1000 μL Q – 150 μL Q = 0,15 1 μmol – 1000 μL Q – 200 μL Q = 0,2 Fator de calibração (Fc) = Q/A Tubo 1 Tubo 2 Tubo 3 Tubo 4 (0,05/0,0757) Fc1= 0,6608 (0,1/0,1160) Fc2= 0,8621 (0,15/0,2027) Fc3= 0,7401 (0,2/0,2510) Fc4=0,7968 Gráfico da curva padrão: Gráfico 1: Curva padrão. Na tabela 4 observamos a concentração de Pi em cada amostra em relação a faixas distintas de pH, assim como a velocidade em (nmol/min). O dado de velocidade indica quantos nmols foram produzidos na reação enzima e substrato para cada minuto de ação. y = 1,2566x + 0,0033 R² = 0,9903 0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 A b so rb  n ci a Quantidade de pirofosfato (em µmol) Pi X A FcM = (0,6608+0,8621+0,7401+0,7968) / 4 = 0,7650 Quantidade de Pi (produzido em 20 min) Velocidade (nmol/min) Abs 1 Abs 2 Abs 3 Abs (média) (µmol) (nmol) B 0,001 -0,002 0,001 0,0000 0 0 0 pH 6,2 0,187 0,185 0,171 0,1810 0,1385 138,4562 6,9228 pH 6,7 0,214 0,220 0,233 0,2223 0,1701 170,0742 8,5037 pH 7,2 0,279 0,282 0,273 0,2780 0,2127 212,6565 10,6328 pH 7,9 0,247 0,234 0,244 0,2417 0,1849 184,8633 9,2432 pH 8,4 0,168 0,196 0,177 0,1803 0,1379 137,9463 6,8973 Tabela 4: valores de pH comparados, absorbância média, concentração de fosfato inorgânico (em µmol e nmol) e velocidade (nmol/min) Abs média: pH 6,2 = (0,187 + 0,185 + 0,171) = 0,180 pH 6,7 = ( 0,214 + 0,220 + 0,233) = 0,2223 pH 7,2 = (0,279 + 0,282 + 0,273) = 0,2780 pH 7,9 = (0,247 + 0,234 + 0,244) = 0,2417 pH 8,4 = 0,168 + 0,196 + 0,177) = 0,1803 *Os valores de quantidade de Pi foram obtidos multiplicando a absorbância média indicada em cada triplicata pelo valor do fator de calibração médio. Pi = AxFc pH 6,2 Pi = 0,1810x0,7650 Pi = 0,1385 µmol Converter de µmol para pH 6,7 Pi = 0,2223x0,7650 Pi = 0,1701 µmol nmol pH 7,2 Pi = 0,2780x0,7650 Pi = 0,2127 µmol x1000 pH 7,9 Pi = 0,2714x0,7650 Pi = 0,1849 µmol pH 8,4 Pi = 0,1803x0,7650 Pi = 0,1379 µmol *A conversão de µmol em nmol foi feita multiplicando os valores encontrados em µmol por mil. No gráfico 2 vemos o comportamento da enzima em relação aos valores distintos de pH: Gráfico 2: velocidade em relação ao pH. 5. CONCLUSÕES: Concluímos que a faixa de pH 7,2 favorece mais o funcionamento da enzima, como podemos avaliar pela barra maior no gráfico 2. Nesse ponto a velocidade enzimática estará otimizada. Enzimas funcionam de formas diferentes em pHs diferentes, funcionando de forma menos acelerada ou até se desnaturando em pHs muito longínquos do ideal. A metodologia utilizada mostrou-se eficiente ao quantificar de forma pouco onerosa o quanto de fosfato inorgânico foi gerado em cada faixa de pH. Além disso, uma vez gerada a curva padrão não haveria necessidade de gerar outra, tornando o processo ainda mais simples no caso de novas amostragens. 0 2 4 6 8 10 12 0 6,2 6,7 7,2 7,9 8,4 P H Velocidade (nmol/min) Velocidade x Ph
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