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1 Equilíbrio Ácido–Base Introdução ao equilíbrio Ácido-Base I- Teorias para classificação dos ácidos e bases A classificação de certas substâncias como ácidas ou básicas teve sua origem na observação de algumas propriedades físicas e químicas que estes compostos conferem às suas soluções aquosas e de algumas características organolépticas dessas substâncias. Os ácidos são substâncias eletrolíticas de sabor azedo, que reagem com diversos metais (os chamados metais ativos) liberando gás hidrogênio, reagem também com carbonatos liberando gás carbônico, avermelham o papel de tornassol e destroem as propriedades das bases. As bases são substâncias eletrolíticas amargas, escorregadias ao tato, deixam o papel de tornassol azul e destroem as propriedades dos ácidos. As teorias sobre ácidos e bases foram propostas para explicar o comportamento dessas substâncias baseando-se em algum princípio mais geral. As principais teorias são de Arrhenius (1887), de Brönsted-Lowry (1923) e de Lewis (1923). 1) Teoria de Arrhenius (Teoria da dissociação eletrolítica) Arrhenius definiu os ácidos como substâncias que contêm hidrogênio em sua fórmula e que em soluções aquosas se dissociam ou ionizam formando íons H + e as bases como substâncias que contêm a hidroxila em sua fórmula e que em soluções aquosas se dissociam formando íons OH − . Assim, a produção de íons H + ou de íons OH − em solução aquosa é, de acordo com Arrhenius, a responsável pelas propriedades ácidas e básicas das substâncias, respectivamente. Esquematicamente, em solução aquosa, escreve-se: Ácidos: HA → H + + A − Se dissociam ou ionizam e fornecem o íon hidrogênio Bases: BOH → B + + OH − Se dissociam e fornecem o íon hidroxila A reação de neutralização de um ácido com uma base corresponde, portanto, à combinação entre as espécies iônicas H + e OH − , produzindo água, conforme a equação: H + + OH − ⇆ H2O 2 A teoria de Arrhenius ignora o papel ativo que o solvente exerce no processo de dissociação ou de ionização, além de não explicar o caráter básico de algumas soluções formadas por substâncias que não tem a hidroxila na sua fórmula, como é o caso de uma solução de amônia (NH3). Na tentativa de suprir as limitações dessa teoria, outras teorias foram propostas. 2) Teoria de Brönsted-Lowry (Teoria protônica) Brönsted e Lowry, independentemente, propuseram uma teoria mais ampla e geral para a definição de ácidos e bases. Segundo essa teoria, o comportamento como ácido e como base depende da reação da qual a espécie participa. Os ácidos foram definidos como espécies capazes de doar íons hidrogênio (prótons) numa reação química, e as bases, como espécies capazes de receber íons hidrogênio (prótons) numa reação química. Dessa forma, nem os ácidos nem as bases poderiam seriam classificados como tal, se estivessem isolados. A sua classificação depende, necessariamente, da análise de uma reação química específica. Esse comportamento pode ser representado por: Ácido ⇆ H+ + Base Portanto, quando um ácido perde um próton resulta em uma espécie deficiente de próton, que por sua vez se comporta como uma base. Assim, o ácido e a sua base correspondente formam um par ácido-base conjugado. Para que um ácido possa doar um próton, torna-se necessário a presença de uma base para recebê-lo e vice-versa. Em especial, o mecanismo de dissociação ou ionização dos ácidos em uma solução deve ser entendido como a transferência de um ou mais próton(s) do ácido para o solvente: (Hn)Ácido + Solvente ⇆ (Hn-m)Ácido−m + (Hm)Solvente+m Reciprocamente, o mecanismo de dissociação ou ionização das bases em solução pode ser entendido como a transferência de próton(s) do solvente para a base: Base + (Hn)Solvente ⇆ (Hm)Base+m + (Hn-m)Solvente-m 3 Por exemplo, em solução aquosa pode-se descrever a ionização do ácido clorídrico como: HCl + H2O → H3O + + Cl − Ácido1 Base2 Ácido2 Base1 onde HCl (ácido1) e o íon cloreto, Cl − (base1) formam um par conjugado de ácido e base e a H2O (base2) e o H3O + (ácido2) formam o outro par conjugado de ácido e base. Observe que neste caso é formada a espécie H3O + , proveniente da abstração dos íons H + doados pelo ácido, HCl (ácido1), para as moléculas do solvente, H2O (base2). A espécie H3O + recebe o nome de íon hidrônio. Da mesma forma, pode-se descrever a ionização da amônia em solução aquosa como: NH3 + H2O ⇆ NH4 + + OH − Base1 Ácido2 Ácido1 Base2 onde a amônia, NH3 (base1) e o íon amônio, NH4 + (ácido1) formam um par conjugado e a H2O (ácido2) e o íon hidroxila, OH − (base2) formam o outro par conjugado. De acordo com esses mecanismos, pode-se verificar o papel ativo do solvente que pode, ora agir como uma base, ora como um ácido. Espécies que assim procedem são denominadas anfóteras. Substâncias anfóteras comportam-se como ácidos ou bases, dependendo das outras substâncias (reagentes) que estão presentes em uma solução. As reações ácido-base não estão limitadas apenas a água, mas podem ocorrer com outros solventes que tenham caráter ácido ou básico. Alguns exemplos: HCl + C2H5OH ⇆ C2H5OH2 + + Cl − Ácido1 Base2 Ácido2 Base1 HCl + H3CCOOH ⇆ H3CCOOH2 + + Cl − Ácido1 Base2 Ácido2 Base 1 4 No primeiro caso, em uma solução alcoólica, o etanol (C2H5OH) é um solvente com características básicas, pois recebe um próton do ácido clorídrico. No segundo caso, uma situação interessante, o ácido acético (H3CCOOH) age como uma base na presença do ácido clorídrico. Na teoria de Brönsted-Lowry, o termo neutralização não tem o sentido de destituição das propriedades do ácido e da base, já que a reação entre eles resulta em um novo ácido e em uma nova base. 3) Teoria de Lewis (Teoria eletrônica) Nessa teoria os ácidos foram definidos como espécies capazes de compartilhar elétrons recebidos de outra espécie numa reação química, e as bases, como espécies capazes de doar os elétrons a serem compartilhados numa reação química. É oportuno mencionar, neste momento, que existem outras teorias mais amplas e mais complexas de ácidos e bases do que as citadas anteriormente. Porém, no que concerne a presente disciplina, a teoria de Brönsted-Lowry é suficiente para as discussões e análises. Em Química Analítica, trabalha-se com a teoria de Brönsted-Lowry e, sem perda de generalidade, apenas para soluções que utilizam água como solvente. II- Autoionização da água O caráter anfótero da água se manifesta na sua autoionização, isto é, na reação ácido- base entre duas moléculas de água. A água é um eletrólito extremamente fraco, que se ioniza segundo a equação: H2O + H2O ⇆ H3O + + OH − Kw = [H3O + ] [OH − ] A constante Kw , é denominada de produto iônico da água e, a 25 o C, tem o valor numérico tabelado de 1,008 × 10 −14 . Por conveniência, esse valor será, em trabalhos futuros, considerado igual a 1,00 × 10 −14 . Deste modo, dada a relação estequiométrica da equação de autoionização da água, tem- se que [H3O + ] = [OH − ] e, portanto, [H3O + ] = [OH − ]= 10 −7 molL −1 5 III- Força de ácidos e bases A força de um ácido ou de uma base é devida à extensão da reação do ácido ou da base com a água. Esta força representa fisicamente a tendência que um ácido tem de doar ou que uma base tem de receber prótons. O parâmetro usado para avaliar essa tendência (força do ácido ou da base) é a constante de equilíbrio dos sistemas água/ácido (Ka) ou água/base (Kb). Portanto,esse parâmetro está associado à extensão da reação de um ácido ou de uma base com o solvente. Exemplos 1) Considere-se a ionização do ácido acético (CH3COOH) e do fenol (C6H5OH) em água e as suas respectivas constantes de equilíbrio CH3COOH + H2O ⇄ CH3COO - + H3O + Ka = 1,8x10 -5 C6H5OH + H2O ⇄ C6H5O - + H3O + Ka = 1,1x10 -10 Comparando o valor das constantes de equilíbrio dos dois ácidos pode-se afirmar que o fenol é um ácido mais fraco do que o ácido acético. Ou seja, no equilíbrio a concentração dos íons fenolato (C6H5O - ) será menor do que a concentração dos íons acetato (CH3COO - ) para uma mesma concentração analítica dos dois ácidos. Ou seja, a extensão da reação do ácido acético com a água é maior do que a do fenol. 2) Analogamente, pode-se comparar a força de duas bases. NH3 + H2O ⇄ NH4 + + OH - Kb = 1,8x10 -5 C5H5N + H2O ⇄ C5H5NH + + OH - Kb = 1,9x10 -9 Neste caso pode-se afirmar que a piridina (C5H5N) é uma base mais fraca do que a amônia (NH3) Uma propriedade importante dos pares ácido-base conjugados surge de uma relação de reciprocidade que ocorre para a tendência entre receber ou doar prótons: se um ácido tem uma grande tendência em doar prótons, a sua base conjugada tem, necessariamente, pequena tendência em recebê-los, e vice-versa. Se um ácido tem uma pequena tendência em doar prótons, a sua base conjugada tem, necessariamente, uma grande tendência em 6 recebê-los. Desta forma, entende-se que um ácido relativamente pouco fraco dá origem a uma base conjugada relativamente fraca e, reciprocamente, um ácido relativamente muito fraco dá origem a uma base conjugada relativamente pouco fraca Exemplos 1) Considere a interação dos pares conjugados ácido acético / íon acetato e fenol / íon fenolato com a água e os valores das respectivas constantes de equilíbrio. CH3COOH + H2O ⇄ CH3COO - + H3O + Ka = 1,8x10 -5 CH3COO - + H2O ⇄ CH3COOH + OH - Kb = 5,6x10 -10 C6H5OH + H2O ⇄ C6H5O - + H3O + Ka = 1,1x10 -10 C6H5O - + H2O ⇄ C6H5OH + OH - Kb = 9,1x10 -5 Como o fenol é um ácido mais fraco do que o ácido acético, o íon acetato é uma base mais fraca do que o íon fenolato. Deve-se observar que não é possível estabelecer as forças relativas dos ácidos e bases fortes em relação à água. A água não tem capacidade para diferenciar a força dos ácidos e das bases fortes, comportamento denominado efeito nivelador. A razão da existência do efeito nivelador se deve ao fato de que, para um ácido forte HX, a sua dissociação é completa em água, e a constante de equilíbrio dessa reação tende para infinito, pois a concentração de HX é desprezível. HX + H2O → H3O + + X − Ka = [H3O + ] [X − ] / [HX] →∞ Desse modo, todos os ácidos e bases fortes têm constantes que não são mensuráveis e, por conseguinte, não conseguimos medir a força relativa dos ácidos e bases fortes em relação à água. Logo, esse solvente nivela a força desses ácidos e dessas bases e não os diferencia em relação à sua força. Outros solventes podem, entretanto, ser usados para diferenciar a força dos ácidos e bases fortes (Efeito Diferenciador). 7 IV- Constante de ionização dos pares ácidos e bases conjugados Pode-se estabelecer uma relação, frequentemente útil, entre as constantes de ionização, Ka e Kb, de um par ácido-base conjugado fraco. Ácido fraco: HA + H2O ⇆ H3O + + A − Ka = [A - ] [H3O + ] / [HA] (1) Base fraca: A − + H2O ⇆ OH − + HA Kb = [HA] [OH - ] / [A - ] (2) Para isso, além das relações (1) e (2) acima, deve-se introduzir a constante do produto iônico da água, Kw = [H3O + ] [OH − ]. Rearranjando essa última expressão tem-se [OH − ] = Kw / [H3O + ] que substituída na equação (2) fornece: Kb = [HA] Kw / [A - ] [H3O + ] ou Kb = Kw / Ka ou ainda Kw = Ka Kb Esta última relação possibilita a determinação da constante Kb de uma base conjugada à um ácido, cuja constante ácida é Ka, e vice-versa. V- Escala de pH e pOH Nas discussões sobre equilíbrio químico, frequentemente, trabalha-se com números muito pequenos para as constantes Ka de um ácido ou Kb de uma base. Deste modo, é conveniente trabalhar com esses números em uma escala logarítmica. Para isso utiliza- se, sempre que possível, o operador p que implica na extração do recíproco do logaritmo (base 10) de um número. Por definição, se X é um número real e positivo, então, pX = −log(X). Se [A] é a concentração em mol por litro (mol L −1 ), de uma dada substância A em uma solução, então, pA = −log([A]). Pela definição da função p, pode-se dizer, então, que pH = −log([H3O + ]). Analogamente, define-se pOH como o recíproco do logaritmo (base 10) da concentração de íons hidroxila [OH − ], em mol L −1 , em uma solução: pOH = −log [OH − ]. 8 Considerando-se a equação que define o produto iônico da água: Kw = [H3O + ] [OH − ] = 10 −14 pode-se escrever uma relação entre pH e pOH, na forma: −log([H3O + ][OH − ]) = −log([H3O + ]) − log([OH − ]) = −log(10 −14 ) ou, pH + pOH = 14 (5) Por outro lado, usando a equação Kw = Ka Kb , obtem-se: −log(KaKb ) = −log Ka + (−log Kb) = −log(10 −14 ) ou, pKa + pKb = 14 (6) Baseado nas igualdades (5) e (6), as soluções são classificadas, em geral, como soluções ácidas se o seu pH é menor que 7, e como soluções básicas se o seu pH é maior que 7. Soluções com pH=7 são classificadas como neutras. Equilíbrio ácido-base envolvendo ácidos e bases monopróticos fortes I- Introdução Segundo a teoria de Brönsted-Lowry, um ácido forte (HX) se ioniza completamente em água, dando origem ao íon hidrônio (H3O + ) e ao íon X - solvatados (rodeados pelas moléculas do solvente). HX + H2O → H3O + (aq) + X − (aq) Da mesma forma, uma base forte (BOH) se dissocia completamente em água dando origem ao íon hidroxila (OH − ) e ao íon B + solvatados. BOH + H2O → B + (aq) + OH − (aq) O processo de ionização dos ácidos fortes e de dissociação das bases fortes inibe a autoionização da água. 2 H2O ⇆ H3O + (aq) + OH − (aq) 9 Isso se deve ao fato de que, quando um ácido ou uma base se ioniza ou se dissocia em água, fornece, respectivamente, mais íons H3O + ou OH − para o sistema. De acordo com o princípio de Le Chatelier, aumentando a concentração dos produtos, o sistema tende a responder a essa perturbação, deslocando a reação para a formação de mais reagentes. Assim, ao aumentar a concentração de íons H3O + , que é produto da autoionização da água, a reação da água será deslocada para a esquerda, no sentido dos reagentes, de modo que a contribuição de íons H3O + e OH − provenientes da água será menor. Da mesma forma, ao aumentar a concentração de íons OH - na água, a sua autoionização também será deslocada para a esquerda. Portanto, a contribuição da água em termos de íons H3O + e OH − é, na maioria das vezes, muito pequena e será tanto menor quanto maior a concentração dos ácidos e das bases fortes, respectivamente. II- Cálculo das concentrações das espécies presentes em soluções de ácidos fortes monopróticos Considere a dissolução de um ácido forte monoprótico HX em água de tal forma que a solução resultante apresente uma concentração analítica Ca (mol L −1 ). Os ácidos fortes monopróticos estão completamente dissociados em solução aquosa. Equações das reações envolvidas na dissociação: HX + H2O → H3O + (aq) + X − (aq) (1) 2 H2O ⇆ H3O + (aq) + OH − (aq) Kw = [H3O + ] [OH − ] (2) Para se calcular a concentração de todas as espécies presentes nessa solução, deve-se fazer o tratamento sistemático para o sistema em equilíbrio. Balanço de massa para X: Ca = [X - ] (3) Balanço de cargas: [H3O + ] = [OH - ] + [X − ] (4) Substituindo as equações (2) e (3) em (4) tem-se: a [H O + ] =K [H O + ] + a Equação geral para ácidos fortes monopróticos Aloma Realce 10 Rearranjando a equação (5), chega-se a uma equação de 2º grau em termos de H3O + : [H3O + ] 2 – Ca [H3O + ] - Kw = 0 (6) A partir da equação (6) pode-se então, calcular a concentração de íons H3O + na solução e seu respectivo valor de pH e, a partir desse valor, determinar as concentrações de todas as espécies presentes no equilíbrio. Conclui-se que a concentração de H3O + na solução e consequentemente o pH da mesma dependem apenas da quantidade de ácido adicionado a uma certa quantidade de água, ou seja, dependem apenas da concentração analítica do ácido. Exemplos 1) Qual o pH de uma solução aquosa de ácido clorídrico (HCl) 0,1 mol L −1 ? Qual a concentração das outras espécies no equilíbrio? Utilizando a equação (6) onde Ca = 0,1 mol L −1 e Kw = 1 x 10 −14 , tem-se que: [H3O + ] = 0,1 mol L −1 e o pH = 1. [OH ] = K [H O + ] = 1 10 1 mol 1 [Cl − ] = Ca = 0,10 mol L −1 Antes de resolver a equação (6) poderia ter sido feito uma simplificação na equação (4). Se a solução não for muito diluída, [OH − ] << Ca, então [OH − ] é um valor muito pequeno e assim, na equação (4): [H3O + ] = [X − ] = [Cl - ] = Ca Logo, [H3O + ] = 0,1 mol L −1 Essas aproximações somente são válidas dentro de certos limites. 2) Qual o pH de uma solução de HCl 10 −8 mol L −1 ? Fazendo a mesma simplificação do problema anterior observa-se que: Ca = [H3O + ] = 10 −8 mol L −1 e pH = 8 O resultado obtido é incoerente, pois se a solução é ácida, o pH tem que ser menor do que sete. Portanto, a aproximação não é válida e a equação (6) deve ser resolvida. Os valores encontrados serão: Aloma Realce Aloma Realce 11 [H3O + ] = 1,05x10 −7 mol L −1 e pH = 6,98 [OH - ] = 9,5x10 -8 mol L −1 [Cl - ] = 10 -8 mol L −1 Neste caso, deve-se observar que a contribuição dos íons H3O + e OH − provenientes da autoionização da água é significativa, pois a solução é diluída. III- Cálculo das concentrações das espécies presentes em soluções de bases fortes monopróticas Analogamente pode-se chegar a uma equação semelhante para calcular o pH das soluções de bases fortes monopróticas e as mesmas generalizações podem ser feitas. As bases fortes monopróticas também estão completamente dissociadas em solução aquosa. Considere a dissolução de uma base forte monoprótica BOH em água de tal forma que a solução resultante apresente uma concentração analítica Ca (mol L −1 ). Equações das reações envolvidas na dissociação: BOH + H2O → B + (aq) + OH − (aq) (1) 2 H2O ⇆ H3O + (aq) + OH − (aq) Kw = [H3O + ] [OH − ] (2) Para se calcular a concentração de todas as espécies presentes nessa solução, deve-se fazer o tratamento sistemático para o sistema em equilíbrio. Balanço de massa para B + : Ca = [B + ] (3) Balanço de cargas: [OH - ] = [H3O + ] + [B + ] (4) Substituindo as equações (2) e (3) em (4) tem-se [OH- ] = K [OH- ] + a Equação geral para bases fortes monopróticas Rearranjando a equação (5), chega-se a uma equação de 2º grau em termos de OH - : [OH - ] 2 – Ca [OH - ] - Kw = 0 (6) 12 A partir da equação (6) pode-se então, calcular a concentração de íons OH - na solução e seu respectivo valor de pH e, a partir desse valor, determinar as concentrações de todas as espécies presentes no equilíbrio. Conclui-se que a concentração de OH - na solução e consequentemente o pH da mesma dependem apenas da quantidade de base adicionada a uma certa quantidade de água, ou seja, dependem apenas da concentração analítica da base. Exemplos 1) Qual o pH de uma solução aquosa de hidróxido de sódio (NaOH) 0,1 mol L −1 ? Qual a concentração das outras espécies no equilíbrio? Utilizando a equação (6) onde Ca = 0,1 mol L −1 e Kw = 1 x 10 −14 , tem-se que: [OH - ] = 0,1 mol L −1 [ ] = K [OH-] = 1 10 -1 mol -1 e pH = 13 [Na + ] = Ca = 0,10 mol L −1 Antes de resolver a equação (6) poderia ter sido feito uma simplificação na equação (4). Se a solução não for muito diluída, [H3O + ] << Ca, então [H3O + ] é um valor muito pequeno e assim, na equação (4): [OH - ] = [B + ] = [Na + ] = Ca ⇛ [OH - ] = 0,1 mol L −1 Essas aproximações somente são válidas dentro de certos limites. 2) Qual o pH de uma solução de NaOH 10 −8 mol L −1 ? Fazendo a mesma simplificação do problema anterior observa-se que: Ca = [OH - ] = 10 −8 mol L −1 e pOH = 8 e pH = 6 O resultado obtido é incoerente, pois se a solução é básica, o pH tem que ser maior do que sete. Portanto, a aproximação não é válida e a equação (6) deve ser resolvida. Os valores encontrados serão: [OH - ] = 1,05x10 -7 mol L −1 ⇛ [H3O + ] = 9,5x10 −8 mol L −1 e pH = 7,02 [Na + ] = 10 -8 mol L −1 Neste caso, deve-se observar que a contribuição dos íons H3O + e OH − provenientes da autoionização da água é significativa, pois a solução é diluída. Aloma Realce Aloma Realce 13 Equilíbrio ácido-base envolvendo ácidos e bases monopróticos fracos I- Introdução Segundo a teoria de Brönsted-Lowry, um ácido fraco (HA) se ioniza parcialmente em água, dando origem ao íon hidrônio (H3O + ) e ao íon A - solvatados (rodeados pelas moléculas do solvente). HA + H2O ⇆ H3O + (aq) + A − (aq) Ka = [A − ] [H3O + ] / [HA] Da mesma forma, uma base fraca (B) se ioniza parcialmente em água dando origem ao íon hidroxila (OH − ) e ao íon BH + solvatados. B + H2O ⇆ BH + (aq) + OH − (aq) Kb = [BH + ] [OH − ] / [B] O processo de ionização dos ácidos e bases fracos também inibe a autoionização da água, em função da força do ácido e da base. Como no caso dos ácidos e bases fortes a ionização dos ácidos e bases fracos, fornece, respectivamente, mais íons H3O + ou OH − para o sistema que vai perturbar o equilíbrio da água. 2 H2O ⇆ H3O + (aq) + OH − (aq) II- Cálculo das concentrações das espécies presentes em soluções de ácidos fracos monopróticos Considere a dissolução de um ácido fraco monoprótico HA em água de tal forma que a solução resultante apresente uma concentração analítica Ca (mol L −1 ). Os ácidos fracos estão parcialmente ionizados em solução aquosa. Para se calcular a concentração de todas as espécies presentes nessa solução, deve-se fazer o tratamento sistemático para o sistema em equilíbrio, como no caso dos ácidos fortes. Aloma Realce Aloma Realce 14 Equações das reações envolvidas na ionização: HA + H2O ⇆ H3O + (aq) + A − (aq) Ka= [H O +][A-] [HA] (1) H2O ⇆ H3O + (aq) + OH − (aq) Kw = [H3O + ] [OH − ] (2) Balanço de massa para A − : Ca = [HA] + [A - ] (3) Balanço de cargas: [H3O + ] = [OH - ] + [A − ] (4) Substituindo as equações (4) e (2) em (3), rearranjando (3) e (4) e substituindo em (1) tem-se: [H O + ] = -[H O + ] [ -] [H O + ] [ -] Equação geral para ácidos fracos monopróticos Rearranjando a equação (5), chega-se a uma equação de 3º grau em termos de H3O + que apresenta certo grau de dificuldade para ser resolvida. Antes de resolver a equação (5) pode ser sido feito uma simplificação na equação (4). Se o ácido não for muito fraco (ou seja, se Ka não for muito pequeno) e se a solução não for muito diluída, [H3O + ] >> [OH − ], então [OH − ] é um valor muito pequeno e assim, na equação (4): [H3O + ] ~ [A − ]. Então a equação (5) passa a ser escrita como: [H O + ] -[H O + ] [H O + ] (6) Rearranjando a equação (6), chega-se a uma equação de 2º grau em termos de H3O + : [H3O + ] 2 + Ka [H3O + ] – KaCa = 0 (7) A partir da equação (7) pode-se então, calcular a concentração de íons H3O + na solução eseu respectivo valor de pH e, a partir desse valor, determinar as concentrações de todas as espécies presentes no equilíbrio. Essas aproximações somente são válidas dentro de certos limites. Conclui-se que a concentração de H3O + na solução e consequentemente o pH da mesma dependem, da concentração analítica do ácido fraco monoprótico e da sua constante de equilíbrio. Aloma Realce Aloma Realce 15 Exemplo Calcule a concentração de todas as espécies presentes em uma solução de ácido acético 0,1 mol L -1 . Dado: Ka = 1,8x10 -5 Equações dos equilíbrios envolvidos: CH3COOH + H2O ⇆ CH3COO - + H3O + Ka= [H O +][ -] [ ] 2 H2O ⇆ H3O + + OH - Kw = [H3O + ] [OH − ] Balanço de massa para o ácido: Ca = [CH3COOH] + [CH3COO - ] Balanço de cargas: [H3O + ] = [OH - ] + [CH3COO − ] Considerando que o ácido acético não é um ácido muito fraco e que a solução não é muito diluída, então pode-se usar a equação simplificada (7). [H3O + ] 2 + 1,8x10 -5 [H3O + ] – (1,8x10 -5 x 0,1) = 0 Resolvendo a equação do 2º grau encontra-se [H3O + ] ~ 1,3x10 -3 mol L -1 o que corresponde a um pH igual a 2,9. A partir desse valor calcula-se as concentrações das outras espécies presentes na solução. [OH - ] = [ ] ~ - - ~ 7,5x10-12 mol L-1 [CH3COO - ] ~ [H3O + ] ~ 1,3x10 -3 mol L -1 [CH3COOH] ~ Ca + [CH3COO - ] ~ (0,1 - 1,3x10 -3 ) ~ 0,09866 mol L -1 Observando os valores encontrados pode-se dizer que a simplificação [H3O + ] >> [OH - ] é válida e, portanto, pode-se usar a equação do 2º grau para o cálculo das concentrações das espécies presentes no equilíbrio. III- Cálculo das concentrações das espécies presentes em soluções de bases fracas monopróticas Analogamente pode-se chegar a uma equação semelhante para calcular o pH das soluções de bases fracas monopróticas e as mesmas generalizações podem ser feitas. 16 Considere a dissolução de uma base fraca monoprótica B em água de tal forma que a solução resultante apresente uma concentração analítica Ca (mol L −1 ). As bases fracas estão também parcialmente ionizadas em solução aquosa. Para se calcular a concentração de todas as espécies presentes nessa solução, deve-se fazer o tratamento sistemático para o sistema em equilíbrio, como no caso dos ácidos fracos monopróticos. Equações das reações envolvidas na ionização: B + H2O ⇆ BH + (aq) + OH − (aq) K = [ +][ ] [B] (1) H2O ⇆ H3O + (aq) + OH − (aq) Kw = [H3O + ] [OH − ] (2) Balanço de massa para B: Ca = [BH + ] + [B] (3) Balanço de cargas: [H3O + ] +[BH + ] = [OH - ] (4) Substituindo as equações (4) e (2) em (3), rearranjando (3) e (4) e substituindo em (1) tem-se: [O - ] = [ ]-[ -] [ - ]-[ ] Equação geral para bases fracas monopróticas Rearranjando a equação (5), chega-se a uma equação de 3º grau em termos de OH - que apresenta certo grau de dificuldade para ser resolvida. Antes de resolver a equação (5) pode ser sido feito uma simplificação na equação (4). Se a base não for muito fraca (ou seja, se Kb não for muito pequeno) e se a solução não for muito diluída, [OH − ] >> [H3O + ], então [H3O + ] é um valor muito pequeno e assim, na equação (4): [BH + ] ~ [OH − ]. Então a equação (5) passa a ser escrita como: [O - ] -[ - ] [ -] (6) Rearranjando a equação (6), chega-se a uma equação de 2º grau em termos de OH - : [OH - ] 2 + Kb [OH - ] – KbCa = 0 (7) 17 A partir da equação (7) pode-se então, calcular a concentração de íons OH - na solução e seu respectivo valor de pH e, a partir desse valor, determinar as concentrações de todas as espécies presentes no equilíbrio. Essas aproximações somente são válidas dentro de certos limites. Conclui-se que a concentração de OH - na solução e consequentemente o pH da mesma dependem, da concentração analítica da base fraca monoprótica e da sua constante de equilíbrio. Exemplo Calcule a concentração de todas as espécies presentes em uma solução de metilamina 1,5x10 -4 mol L -1 . Dado: Kb = 3,2x10 -10 Equações dos equilíbrios envolvidos: CH3NH2 + H2O ⇆ CH3NH3 + + OH - [ -][ ] [ ] 2 H2O ⇆ H3O + + OH - Kw = [H3O + ] [OH − ] Balanço de massa para a base: Ca = [CH3NH2] + [CH3NH3 + ] Balanço de cargas: [H3O + ] + [CH3NH3 + ] = [OH - ] Considerando que a metilamina não é uma base muito fraca e que a solução não é muito diluída, então pode-se usar a equação simplificada (7). [OH - ] 2 + Kb [OH - ] – KbCa = 0 Resolvendo a equação do 2º grau encontra-se [OH - ] ~ 5,5x10 -5 mol L -1 . A partir desse valor calcula-se as concentrações das outras espécies presentes na solução. [H3O + ] = [ -] ~ - - ~ 1,8x10-10 mol L-1, o que corresponde a um pH igual a 9,7 [CH3NH3 + ] ~ [OH - ]~ 5,5x10 -5 mol L -1 [CH3NH2] ~ Ca + [CH3NH3 + ] ~ (1,5x10 -4 - 5,5x10 -5 ) ~ 9,5x10 -5 mol L -1 18 Observando os valores encontrados pode-se dizer que a simplificação [OH − ] >> [H3O + ] é válida, portanto pode-se usar a equação do 2º grau para o cálculo das concentrações das espécies presentes no equilíbrio. IV- Grau de dissociação (ionização) x Curva de distribuição de espécies Assim, para a ionização de um ácido monoprótico fraco HA pode-se definir: α(HA) = α0 = [HA] a(HA) α(A-) = α1 = [ -] De forma análoga, para a ionização de uma base monoprótica fraca B pode-se definir: α(B) = α0 = [B] a(B) α(BH+) = α1 = [ ] É importante ressaltar que, a soma de todos os graus de ionização para cada um dos sistemas deve ser igual à unidade: Ca = α0Ca + α1Ca ⇛ 1 = α0 + α1 Embora as espécies conjugadas (HA/A - e B/BH + ) sempre existam juntas em uma solução (mas em proporções diferentes), é importante ressaltar que as características químicas da espécie HA podem ser muito distintas daquelas da espécie A - . O mesmo acontece com as espécies B e BH + . As espécies conjugadas podem se converter uma na outra pela variação do pH do meio. Pelo princípio de Le Chatelier, a variação na concentração de H3O + no meio perturba o equilíbrio de ionização dos ácidos e bases fracos. Assim, é imprescindível conhecer qual(is) espécie(s) predomina(m) em uma solução com um valor de pH predefinido. A forma mais simples de se expressar a predominância de uma espécie conjugada é pelo Aloma Realce 19 seu grau de ionização. Quanto mais próximo de 1, maior a proporção da espécie em relação às suas espécies conjugadas. O grau de ionização pode ser calculado para qualquer valor de pH, independentemente da concentração analítica. Os valores de α calculados podem ser lançados em um gráfico, como na figura 1 que mostra a curva do grau de ionização de um ácido HA em função do pH Figura 1: Grau de ionização do ácido fraco HA em função do pH. Fonte: Oliveira, A., F., Equilíbrios em Solução Aquosa, Ed. Átomo, 2009 Pode-se observar que quando o pH é menor do que 3, praticamente há mais de 98 % do ácido molecular, HA, no meio. O extremo oposto ocorre a partir de pH maior do que 6, ou seja, há menos de 5,5 % de HA no meio. A parte que não é de ácido molecular é, obviamente da sua base conjugada. De forma análoga pode se obter a curva do grau de ionização da base conjugada A - em função do pH, mostrada na figura 2. 20 Figura 2: Grau de ionização da base conjugada A - em função do pH. Fonte: Oliveira, A., F., Equilíbrios em Solução Aquosa, Ed. Átomo, 2009 O comportamento observado é o contrário do mostrado na figura 1. Entretanto, nos valores de pH entre 3 e 6,5 há quantidades razoáveis das duas espécies do par conjugado. Assim, é comumente apresentado o gráfico da distribuição de espécies, que contémas curvas de todas as espécies de um mesmo sistema ácido-base de Brönsted-Lowry. (Figura 3) _____________α0 ------------α1 Figura 3: Curva de distribuição de espécies para o par conjugado HA/A - Fonte: Oliveira, A., F., Equilíbrios em Solução Aquosa, Ed. Átomo, 2009 21 Observando a curva de distribuição de espécies, verifica-se que há um ponto onde as duas curvas se encontram e o valor de α é igual a 0,5, ou seja, ambas as espécies do par conjugado estão presentes na mesma concentração. O ácido nessa condição de pH está 50 % ionizado. Nesse ponto o valor do pH é numericamente igual ao valor do pKa do ácido. Equilíbrio ácido-base envolvendo sais derivados de ácidos e bases monopróticos Os sais podem dissociar e formar soluções com caráter ácido ou básico devido à reação de seus íons com a água, reações estas denominadas de hidrólise. Os sais também podem formar soluções neutras. Pode-se prever se o sal dará origem a uma solução ácida, básica ou neutra considerando a força do ácido e da base que lhe deram origem ou simplesmente usando a teoria de Brönsted-Lowry. A(s) espécie(s) iônica(s) provenientes da dissociação do sal em água, seja(m) ela(s) derivada(s) de um ácido ou de uma base, pode(m) interagir com as moléculas da água o que vai definir a natureza da solução formada. Tipos de sais derivados de ácidos e bases monopróticos: 1) Sal de comportamento neutro O sal de comportamento neutro (ou sal de reação neutra) é aquele cujo ânion e cátion é derivado de um ácido forte e uma base forte, respectivamente. Seus íons não reagem com a água, pois se assim fosse, dariam origem a eletrólitos fortes. São exemplos de sais neutros os cloretos e nitratos dos metais alcalinos e alcalinos terrosos como o cloreto de sódio (NaCl), o cloreto de bário (BaCl2) o nitrato de bário (Ba(NO3)2) e o nitrato de lítio (LiNO3). Esses sais não sofrem hidrólise, ou seja, não reagem com a água, originando soluções de pH = 7 (soluções neutras). 22 Considere-se uma solução de concentração Ca mol L −1 de cloreto de sódio (NaCl): Dissociação do sal: NaCl(s) + H2O→ Na + + Cl − Autoionização da água: 2 H2O ⇄ H3O + + OH − Kw = [H3O + ] [OH − ] (1) Balanços de massa: Ca = [Na + ] (2) Ca = [Cl − ] (3) Balanço de carga: [H3O + ] + [Na + ] = [Cl − ] + [OH − ] (4) Substituindo (2) e (3) em (4), temos [H3O + ] + Ca = Ca + [OH − ] Portanto, [H3O + ] = [OH − ] (5) Substituindo (5) em (1) [H3O + ] = [OH − ] = 1 x 10 −7 mol L −1 pH = pOH = 7 2) Sal de comportamento básico O sal de comportamento básico (ou sal de reação básica) é aquele cujo ânion é proveniente de um ácido fraco e o cátion de uma base forte. O ânion (base conjugada do ácido fraco) interage com a água (hidrólise) liberando íons hidroxila (OH − ) para o meio. Como exemplos de sais de reação básica pode-se citar o acetato de sódio (CH3COONa) e o nitrito de sódio (NaNO2). Considere-se uma solução de concentração Ca mol L −1 de acetato de sódio (CH3COONa) Dissociação do sal: CH3COONa + H2O → H3COO - + Na + Interação com a água: CH3COO − + H2O ⇄ CH3COOH + OH − [ ] [ -] [ -] Autoionização da água: 2 H2O ⇄ H3O + + OH − Kw = [H3O + ] [OH − ] Balanço de massa: Ca = [Na + ] Ca = [CH3COOH] + [CH3COO − ] Balanço de carga: [H3O + ] + [Na + ] = [CH3COO − ] + [OH − ] 23 Trabalhando com as 5 equações de forma semelhante ao que foi feito para as bases monopróticas fracas, chega-se a equação do 2º grau em OH - que permite calcular a concentração de todas as espécies presentes na solução. De forma semelhante às bases fracas a concentração no equilíbrio das formas conjugadas CH3COO - / CH3COOH varia em função do pH, uma vez que o equilíbrios são perturbados pela variação da concentração de íons H3O + no meio. Essa variação pode ser observada na curva de distribuição de espécies para o sal. Exemplo Calcular a concentração de todas as espécies presentes em uma solução de acetato de sódio (CH3COONa) 0,1 mol L −1 Dado: Ka(CH3COOH) = 1,8x10 -5 Equação do 2º grau para o cálculo da concentração de OH - na solução de uma base monoprótica fraca: [OH - ] 2 + Kb [OH - ] – KbCa = 0 onde: Ca = 0,1 mol L − 1 e Kb = Kw / Ka = 5,6x10 -10 Resolvendo a equação do 2º grau encontra-se [OH - ] ~ 7,5x10 -6 mol L -1 . A partir desse valor, calcula-se as concentrações das outras espécies presentes na solução. [H3O + ] = [ -] ~ - - ~ 1,3x10-9 mol L-1, o que corresponde a um pH igual a 8,9 [CH3COOH] ~ [OH - ]~ 7,5x10 -6 mol L -1 [CH3COO - ] ~ Ca - [CH3COOH] ~ (0,1 - 7,5x10-6) ~ 0,09993 mol L-1 Observando os valores encontrados pode-se dizer que a simplificação [OH - ] >> [H3O + ] é válida e, portanto, pode-se usar a equação do 2º grau para o cálculo das concentrações das espécies presentes no equilíbrio. Portanto, o sal acetato de sódio é um sal de reação ou de comportamento, ou de caráter básico. 3) Sal de comportamento ácido O sal de comportamento ácido (ou sal de reação ácida) é originado de um ânion de ácido forte com um cátion de base fraca. Neste caso a hidrólise ocorre com o cátion. 24 Como exemplos tem-se o cloreto de amônio (NH4Cl) e o cloridrato de piridina (C5H5NHCl). O sal origina soluções de caráter ácido, pois sua dissociação dá origem a um ácido fraco, que por sua vez reage com a água liberando íons hidrônio (H3O + ). Por exemplo: NH4Cl(s) +H2O → NH4 + + Cl – NH4 + + H2O ⇄ NH3 + H3O + 2 H2O ⇄ H3O + + OH − Desse modo, tem-se uma solução contendo um ácido fraco e a expressão para o cálculo da concentração de H3O + é: [H3O + ] 2 + Ka [H3O + ] – KaCa = 0 A partir da concentração de H3O + pode-se calcular a concentração de todas as espécies presentes no equilíbrio, usando as aproximações e os balanços de massa e de carga como no caso dos ácidos monopróticos fracos. Exemplo Calcular a concentração de todas as espécies presentes em uma solução de cloreto de amônio (NH4Cl) 0,010 molL −1 . Dado: Ka(NH4 + ) = 5,6x10 −10 Usando a equação do 2º grau encontra-se: [H3O + ] = 2,4x10 -6 mol L -1 e pH = 5,6 [OH − ] = 4,2x10 -9 mol L -1 [NH3] ~ [H3O + ] = 2,4x10 -6 mol L -1 [NH4 + ] ~ 0,009998 mol L -1 Observando os valores encontrados pode-se dizer que a simplificação [H3O + ] > [OH − ] é válida e, portanto, pode-se usar a equação do 2º grau para o cálculo das concentrações das espécies presentes no equilíbrio. Portanto, o sal cloreto de amônio é um sal de reação ou de comportamento, ou de caráter ácido. 25 Equilíbrio ácido-base envolvendo ácidos e bases polipróticos fracos I- Introdução Segundo a teoria de Brönsted-Lowry, um ácido fraco poliprótico é capaz de doar mais de um próton, ou seja, tem na sua estrutura dois ou mais hidrogênios ionizáveis. Da mesma forma, uma base fraca poliprótica tem na sua estrutura dois ou mais pontos capazes de receber dois ou mais prótons. As ionizações são sucessivas e os respectivos valores das constantes diminuem de uma etapa para outra, pois as sucessivas etapas de ionização são reprimidas pelo íon hidrônio e pelo íon hidroxila, respectivamente, formado nas etapas anteriores. Em geral, as constantes de ionização dos ácidos e das bases polipróticos são bastante diferentes entre si, ou seja, normalmente, a primeira constante é bem maior que a segunda, que é bem maior que a terceira e assim sucessivamente. No entanto, alguns ácidos e bases apresentam valores muito semelhantes para as diversas constantes de ionização. A grandeza da diferença das constantes de ionização dos ácidos e bases polipróticos é uma função da sua estrutura. II- Cálculo das concentrações das espécies presentes em soluções de ácidos fracos polipróticosPara uma solução aquosa de ácidos polipróticos, deve-se escrever as equações das várias reações de equilíbrio, já que são várias as etapas de ionização. O número de reações em equilíbrio está ligado ou associado ao número de hidrogênios ionizáveis presentes no ácido poliprótico. Considere a dissolução de um ácido fraco diprótico H2A em água de tal forma que a solução resultante apresente uma concentração analítica Ca (mol L −1 ). 26 Para se calcular a concentração de todas as espécies presentes nessa solução, deve-se fazer o tratamento sistemático para o sistema em equilíbrio, como no caso dos ácidos fracos monopróticos. Equações das reações envolvidas na ionização: H2A + H2O ⇄ H3O + (aq) + HA − (aq) [ ] [ ] [ ] (1) HA − + H2O ⇄ H3O + (aq) + A 2− (aq) [ ] [ - ] [ ] (2) 2 H2O ⇄ H3O + (aq) + OH − (aq) Kw = [H3O + ] [OH − ] (3) Balanço de massa: Ca = [H2A] + [HA − ] + [A 2− ] (4) Balanço de carga: [H3O + ] = [HA − ] + 2 [A 2− ] + [OH − ] (5) Algumas simplificações podem ser feitas antes de se desenvolver a equação geral para um ácido diprótico. 1) Se a solução é ácida a [OH - ] deve ser muito pequena, isto é, [H3O + ] >> [OH − ] e, portanto, pode ser desprezada em (5) [H3O + ] ~ [HA − ] + 2 [A 2− ] (5') 2) Se a segunda constante de ionização for muito menor que a primeira, então, a concentração de A 2− pode ser desprezada. Sendo assim as equações (4) e (5') tornam-se: Ca ~ [H2A] + [HA − ] (4') [H3O + ] ~ [HA − ] (5'') Esta aproximação só é valida se: > Substituindo (5'') em (4') e rearranjando [H2A] = Ca - [H3O + ] (4'') Substituindo (4'') e (5'') em (1) tem-se: [ ] [ ] [ ] Reagrupando, a equação final passa a ser: [H3O + ] 2 + Ka1[H3O + ] – Ka1Ca = 0 (6) 27 Com estas simplificações a situação fica equivalente a um ácido monoprótico fraco, pois a segunda dissociação do ácido diprótico foi desprezada. Isto é, o ácido pode ser tratado, para efeito de cálculos, como um ácido fraco monoprótico. Com estas simplificações [H3O + ] ~ [HA − ] e, portanto, Ka2 ~ [A 2- ]. Exemplo Calcule o pH de uma solução aquosa de ácido sulfídrico (H2S), 0,0600 mol L −1 . Dados: Ka1 = 5,7x10 −8 e Ka2 = 1,2x10 −1 . Equações dos equilíbrios envolvidos: H2S + H2O ⇆ HS - + H3O + [ ][ ] [ ] HS - + H2O ⇆ S 2- + H3O + [ ][ ] [ ] 2 H2O ⇆ H3O + + OH - Kw = [H3O + ] [OH − ] Balanço de massa para o ácido: Ca = [H2S] + [HS - ] + [S 2- ] Balanço de cargas: [H3O + ] = [OH - ] + [HS − ] + 2 [S 2- ] Considerando [OH - ] muito pequena, ou seja [H3O + ] >> [OH - ], e como Ka1 >> Ka2 ( = 4,8x10 5 > ) então, o ácido sulfídrico pode ser tratado como um ácido monoprótico e pode-se usar a equação simplificada (6). [H3O + ] 2 + 5,7x10 -8 [H3O + ] – (5,7x10 -8 x 0,06) = 0 Resolvendo a equação do 2º grau encontra-se [H3O + ] ~ 5,9x10 −5 mol L -1 o que corresponde a um pH igual a 4,2. A partir desse valor, calcula-se as concentrações das outras espécies presentes na solução. [OH - ] = [ ] ~ - - ~ 1,7x10-10 mol L-1 [HS - ] ~ [H3O + ] ~ 5,9x10 -5 mol L -1 [H2S] ~ Ca + [HS - ] ~ (0,06 – 5,9x10 -5 ) ~ 0,05994 mol L -1 [S 2- ] ~ Ka2 = 1,2x10 −1 mol L -1 28 Observando os valores encontrados pode-se dizer que as simplificações [H3O + ] >>[OH - ] e Ka1 >> Ka2 são válidas e, portanto, pode-se desconsiderar a segunda ionização do ácido e usar a equação do 2º grau para o cálculo das concentrações das espécies presentes no equilíbrio. III- Cálculo das concentrações das espécies presentes em soluções de bases fracas polipróticas Analogamente pode-se chegar a uma equação semelhante para calcular o pH das soluções de bases fracas polipróticas e as mesmas generalizações podem ser feitas. Considere a dissolução de uma base fraca diprótica B em água de tal forma que a solução resultante apresente uma concentração analítica Ca (mol L −1 ). Para se calcular a concentração de todas as espécies presentes nessa solução, deve-se fazer o tratamento sistemático para o sistema em equilíbrio, como no caso dos ácidos polipróticos. Equações das reações envolvidas na ionização: B + H2O ⇆ BH + (aq) + OH − (aq) [ ][ -] [ ] (1) BH + (aq) + H2O ⇆ BH2 2+ (aq) + OH − (aq) [ ][ -] [ ] (2) H2O ⇆ H3O + (aq) + OH − (aq) Kw = [H3O + ] [OH − ] (3) Balanço de massa para B: Ca = [B] +[BH + ] + [BH2 2+ ] (4) Balanço de cargas: [H3O + ] +[BH + ] + 2 [BH2 2+ ] = [OH - ] (5) Algumas simplificações podem ser feitas antes de se desenvolver a equação geral para uma base diprótica. 1) Se a solução é básica a [H3O + ] deve ser muito pequena, ou seja [OH − ] >> [H3O + ] e, portanto, pode ser desprezada em (5) [OH - ] ~ [BH + ] + 2 [BH2 2+ ] (5') 29 2) Se a segunda constante de ionização for muito menor que a primeira, então a concentração de BH2 2+ pode ser desprezada. Sendo assim as equações (4) e (5') tornam- se: Ca ~ [B] +[BH + ] (4') [OH - ] ~ [BH + ] (5'') Esta aproximação só é valida se: > Substituindo (5'') em (4') e rearranjando [B] ~ Ca -[OH - ] (4'') Substituindo (4'') e (5'') em (1) tem-se: [ -] [ -] [ -] Reagrupando, a equação final passa a ser: [OH - ] 2 + Kb1[OH - ] – Kb1Ca = 0 (6) Com estas simplificações a situação fica equivalente a uma base monoprótica fraca, pois a segunda dissociação da base diprótica foi desprezada. Isto é, a base pode ser tratada, para efeito de cálculos, como uma base fraca monoprótica. Com estas simplificações [OH - ] ~ [BH + ] e, portanto, Kb2 ~ [BH2 2+ ]. IV- Grau de ionização x Curva de distribuição de espécies De maneira similar às equações para o cálculo do grau de ionização das espécies monopróticas, há aquelas para as espécies de sistemas polipróticos. A ideia geral do grau de ionização deve ser mantida, ou seja, a razão entre a concentração no equilíbrio de uma determinada espécie e a concentração total ou concentração analítica. Assim, para a ionização de um ácido diprótico fraco H2A pode-se definir: α(H2A) = α0 = [ ] α(A-) = α1 = [ -] 30 α(A2-) = α2 = [ -] De forma análoga, para a ionização de uma base diprótica fraca B pode-se definir: α(B) = α0 = [B] a(B) α(BH+) = α1 = [ ] α(BH2 2+ ) = α2 = [ ] Deve ser observado que novamente a soma dos graus de ionização deve ser igual à unidade: α0 + α1 + α2 = 1 As figuras 1 e 2 mostram as curvas de distribuição de espécies para o ácido oxálico e para uma diamina, respectivamente. Figura 1: Curva de distribuição de espécies do ácido oxálico Fonte: Oliveira, A., F., Equilíbrios em Solução Aquosa, Ed. Átomo, 2009 31 α0 α1 α2 Figura 2: Curva de distribuição de espécies da diamina Fonte: Oliveira, A., F., Equilíbrios em Solução Aquosa, Ed. Átomo, 2009 Observando as curvas de distribuição de espécies, verifica-se que há dois pontos onde duas curvas se encontram e o valor de α para cada uma das espécies representadas é igual a 0,5, ou seja, ambas estão presentes na mesma concentração. Nesses pontos o valor do pH é numericamente igual ao valor do pKa do ácido ou o correspondente valor de pOH é igual ao valor do pKb da base. Equilíbrio ácido-base envolvendo sais derivados de ácidos e bases polipróticos Os sais derivados de ácidos ou bases polipróticos também podem dissociar e formar soluções com caráter ácido ou básico devido à reação de seus íons com a água. Pode-se prever se o sal dará origema uma solução ácida ou básica considerando a força do ácido e da base que lhe deram origem e a natureza química do próprio sal. 32 1) Sais sem hidrogênio ionizável na sua estrutura – Sais de comportamento básico Alguns exemplos desses sais são os carbonatos e fosfatos dos metais alcalinos como o carbonato de sódio (Na2CO3) e o fosfato de potássio (K3PO4). O ânion do sal (base conjugada do ácido poliprótico) interage com a água (hidrólise) liberando íons hidroxila (OH − ) para o meio e, portanto, o sal tem comportamento básico. Considere-se uma solução de concentração Ca mol L −1 de carbonato de sódio (Na2CO3) Dissociação do sal: Na2CO3 + H2O → O3 2- + 2 Na + Interação com a água: CO3 2- + H2O ⇄ HCO3 - + OH − [ ] [ ] [ ] HCO3 - + H2O ⇄ H2CO3 + OH − [ ] [ ] [ ] Autoionização da água: 2 H2O ⇄ H3O + + OH − Kw = [H3O + ] [OH − ] Balanços de massa: Ca = [Na + ] / 2 Ca = [CO3 2- ] + [HCO3 - ] + [H2CO3] Balanço de carga: [H3O + ] + [Na + ] = [HCO3 - ] +2 [CO3 2- ] + [OH − ] Trabalhando com as 5 equações de forma semelhante ao que foi feito para as bases polipróticas fracas, chega-se a equação do 2º grau em OH - que permite calcular a concentração de todas as espécies presentes na solução. Exemplo Calcular a concentração de todas as espécies presentes em uma solução de carbonato de sódio (Na2CO3) 0,05 mol L −1 Dados: H2CO3: Ka1 = 4,4x10 -7 Ka2 = 4,7x10 -11 Equação do 2º grau para o cálculo da concentração de OH - na solução de uma base diprótica, que pode ser tratada como uma base monoprótica, devido às aproximações: [OH - ] 2 + Kb1 [OH - ] – Kb1Ca = 0 Aproximações:1) [OH − ] >> [H3O + ] 33 2) Kb1 / Kb2 ~ 10 4 (Kb1 = Kw / Ka2 = 2,1x10 -4 Kb2=Kw / Ka1 = 2,3x10 -8 ) Resolvendo a equação do 2º grau encontra-se [OH - ] ~ 3,2x10 -3 mol L -1 . A partir desse valor, calcula-se as concentrações das outras espécies presentes na solução. [H3O + ] ~ 3,1x10 -12 mol L -1 , o que corresponde a um pH igual a 11,5 [HCO3 - ] ~ [OH - ]~ 3,2x10 -3 mol L -1 [CO3 2- ] ~ Ca - [HCO3-] ~ (0,05 – 3,2x10-3) ~ 0,047 mol L-1 [H2CO3] ~ Kb2 ~ 2,3x10 -8 mol L -1 2) Sais com hidrogênio ionizável na sua estrutura – Sais de comportamento anfótero Anfóteros são espécies que tanto podem reagir como ácido ou como base. Como exemplos tem-se bicarbonato de sódio (NaHCO3), fosfatobiácido de sódio (NaH2PO4) e o sal dissódico do ácido etilenodiaminotetracético – EDTA (Na2H2Y). As soluções destas espécies podem ser ácidas ou básicas, dependendo da grandeza das constantes. Assim o sal terá comportamento anfótero de caráter ácido se Ka > Kb e terá comportamento anfótero de caráter básico se Kb > Ka. Considere uma solução de um sal NaHA de concentração analítica Ca mol L -1 . Os equilíbrios envolvidos são: Dissociação do sal: NaHA(s) + H2O → Na + + HA − Interação da espécie HA − com a água: - Comportamento básico: HA − + H2O ⇄ H2A + OH − [ ] [ -] [ -] = (1) - Comportamento ácido: HA − + H2O ⇄ A 2− + H3O + [ -] [ ] [ -] (2) Ionização da água: 2 H2O ⇄ H3O + + OH − Kw = [H3O + ] [OH − ] (3) - Balanço de massa: Ca(sal) = [Na + ] (4) Ca(sal) = [H2A] + [HA − ] + [A 2− ] (5) - Balanço de carga: [H3O + ] + [Na + ] = [HA − ] + 2 [A 2− ] + [OH − ] (6) 34 Substituindo (4) em (6) tem-se: [H3O + ] + Ca = [HA − ] + 2 [A 2− ] + [OH − ] Ca = [HA − ] + 2 [A 2− ] + [OH − ] - [H3O + ] (7) Substituindo (5) em (7) tem-se: [H2A] + [HA − ] + [A 2− ] = [HA − ] + 2 [A 2− ] + [OH − ] - [H3O + ] [H2A] = [A 2− ] + [OH − ] - [H3O + ] (8) De (1) tem-se: [ ] [HA -] Ka1 [OH -] ⇒ [ ] [HA -] Ka1 [ ] ⇒ [ ] [ ][HA-] Ka1 (9) De (2) tem-se: [ -] [ -] [ ] (10) Substituindo (9), (10) e (3) em (8), rearranjando a equação resultante e considerando que as reações entre HA − e a água, que envolvem as constantes Kb2 e Ka2, não ocorrem em grande extensão, pode-se considerar que [H2A] e [A 2− ] são desprezíveis e, portanto, [HA − ] ~ Ca, logo a equação torna-se: [ ] √ ( ) Essa é a equação geral para se determinar a concentração dos íons H3O + em uma solução de um sal anfótero. Exemplo Calcular o pH de uma solução 0,1 mol L -1 dos seguintes sais derivados do ácido fosfórico: a) fosfato de sódio (Na3PO4) b) fosfatomonoácido de sódio (Na2HPO4) c) fosfatodiácido de sódio (NaH2PO4) Dados: H3PO4 Ka1 = 6,0x10 -3 Ka2 = 6,3x10 -8 Ka3 = 4,8x10 -13 a) Na3PO4 + H2O → 3Na + (aq) + PO4 3- (aq) 35 PO4 3- (aq) + H2O ⇄ HPO4 2- (aq) + OH - (aq) Kb1 = Kw / Ka3 = 2,1x10 -2 HPO4 2- (aq) + H2O ⇄ H2PO4 - (aq) + OH - (aq) Kb2 = Kw / Ka2 = 1,6x10 -7 H2PO4 - (aq) + H2O ⇄ H3PO4(aq) + OH - (aq) Kb3 = Kw / Ka1 = 1,7x10 -12 2 H2O ⇄ H3O + (aq) + OH - (aq) Kw = [H3O + ] + [OH - ] Pelos equilíbrios pode-se concluir que o fosfato de sódio é um sal de comportamento básico. O íon fosfato (PO4 3-) se comporta como uma base triprótica em solução aquosa. Então, se as aproximações: [OH - ] >> [H3O + ] e Kb1 / Kb2 > 10 4 (1,3x10 5 > 10 4 ) forem verdadeiras, pode-se tratar o íon fosfato como uma base monoprótica. Assim, usando a equação do 2º grau: [OH - ] 2 + Kb1[OH - ] - Kb1Ca(sal) = 0 Encontramos: [OH - ] ~ 3,6x10 -2 mol L -1 , [H3O + ] ~ 2,7x10 -13 mol L -1 e o pH ~ 12,6. Portanto, as aproximações são válidas e valor do pH é compatível com o comportamento do sal. b) Na2HPO4 + H2O → 2Na + (aq) + HPO4 2- (aq) HPO4 2- (aq) + H2O ⇄ PO4 3- (aq) + H3O + (aq) Ka3 = 4,8x10 -13 HPO4 2- (aq) + H2O ⇄ H2PO4 - (aq) + OH - (aq) Kb2 = Kw / Ka2 = 1,6x10 -7 2 H2O ⇄ H3O + + OH - Kw = [H3O + ] + [OH - ] Pelos equilíbrios pode-se concluir que o fosfatomonoácido de sódio é um sal de comportamento anfótero. O íon fosfatomonoácido (HPO4 2- ) se comporta tanto como uma base quanto como um ácido em solução aquosa. Como Kb2 > Ka3, o sal terá comportamento anfótero de caráter básico. O valor do pH da solução será calculado pela expressão: 36 [ ] √ ( ) Assim, [ ] √ = 1,9x10 -10 mol L -1 e o pH ~ 9,7 (coerente com o previsto para o comportamento do sal) c) NaH2PO4 + H2O → Na + (aq) + H2PO4 - (aq) H2PO4 - (aq) + H2O ⇄ HPO4 2- (aq) + H3O + (aq) Ka2 = 6,3x10 -8 H2PO4 - (aq) + H2O ⇄ H3PO4(aq) + OH - (aq) Kb3 = Kw / Ka1 = 1,7x10 -12 2 H2O ⇄ H3O + + OH - Kw = [H3O + ] + [OH - ] Pelos equilíbrios pode-se concluir que o fosfatodiácido de sódio é um sal de comportamento anfótero. O íon fosfatodiácido (H2PO4 - ) se comporta tanto como uma base quanto como um ácido em solução aquosa. Como Ka2 > Kb3, o sal terá comportamento anfótero de caráter ácido. O valor do pH da solução será calculado pela expressão: [ ] √ ( ) Assim, [ ] √ = 2,1x10 -5 mol L -1 e o pH ~ 4,7 (coerente com o previsto para o comportamento do sal) 37 Equilíbrio ácido-base envolvendo Solução Tampão I- Introdução As chamadas soluções tampão são formadas por solutos com caráter ácido e/ou básico e têm aplicação muito importante em diversos processos químicos. Essas soluções têm a capacidade de ajustar o pH de um meio para um valor desejado e, ainda, manter esse pH mesmo quando há uma variação na concentração dos íons H3O + nesse meio. Portanto, são soluções que resistem às modificações de pH quando a elas é adicionada uma pequena quantidade de um ácido forte ou de uma base forte ou aindaquando sofrem uma diluição. As variações de pH ocorridas nas soluções tamponadas são insignificantes quando comparadas às variações nas soluções não tamponadas. Por este motivo, estas soluções são utilizadas para manter constante o pH de um sistema e para preparar soluções de pH definido. No entanto, essa capacidade é limitada e depende do tipo de solução e da sua concentração. II- Constituição As soluções tampão podem ser divididas em dois grandes grupos de acordo com a natureza do soluto usado para prepará-la, ou seja, de acordo com a sua constituição. Grupo I: Soluções formadas por ácidos ou bases fortes concentradas Essas soluções regulam e mantêm o pH nos extremos da faixa entre 0 e 2 para soluções de ácidos fortes em concentrações entre 1 e 10 -2 mol L -1 e entre 12 e 14 para soluções de bases fortes na mesma faixa de concentração. Exemplos 1. Soluções de ácido clorídrico cujo pH varia de 0 a 2 38 2. Soluções de hidróxido de sódio cujo pH varia de 12 a 14 Grupo II: Soluções formadas por dois solutos pares conjugados entre si Essas soluções regulam e mantêm o pH na faixa de 2 a 12. Um dos solutos tem comportamento de ácido fraco e o outro tem comportamento de base fraca em relação ao solvente água. Os solutos têm que ser pares conjugados entre si e ambos devem estar presentes na solução em concentrações apreciáveis. Exemplos 1. Uma mistura de solução de ácido acético (CH3COOH) e acetato de sódio (CH3COONa) 2. Uma mistura de solução de amônia (NH3) e cloreto de amônio (NH4Cl). 3.Uma mistura de solução de ácido fosfórico (H3PO4) e fosfatobiácido de sódio (NaH2PO4). 4. Uma mistura de carbonato de sódio (Na2CO3) e bicarbonato de sódio (NaHCO3). 5) Uma mistura de fosfatobiácido de sódio (NaH2PO4) e fosfatomonoácido de sódio (Na2HPO4). III- Mecanismo de funcionamento das soluções tampão do grupo II Em uma solução tampão constituída do par ácido / base conjugada, HA / A - , tem-se os seguintes equilíbrios: Ionização do ácido fraco: HA + H2O ⇄ A − + H3O + Dissociação do sal contendo A - : NaA + H2O → A − + Na + Hidrólise da base conjugada: A − + H2O ⇄ HA + OH - Autoionização da água: 2 H2O ⇄ H3O + + OH − Se a esse tampão é adicionado uma certa quantidade de ácido forte, os íons H3O + liberados por ele são quase que totalmente consumidos pela base conjugada: 39 A − + H3O + ⇄ HA + H2O A modificação no pH do meio será insignificante desde que a quantidade de matéria do ácido forte adicionada seja bem menor que a quantidade de matéria da base conjugada do tampão. Por outro lado, se a adição for de uma base forte, essa consome os íons H3O + do meio, originados pela ionização do ácido fraco do tampão, provocando uma perturbação no equilíbrio do ácido fraco com a consequente ionização do ácido para restabelecer o equilíbrio. Se a quantidade de matéria da base forte for bem menor que a quantidade de matéria do ácido fraco, a variação do pH será insignificante. IV- Cálculo do pH das soluções tampão Considerando o tampão formado pela mistura de um ácido fraco, HA, de concentração analítica Ca mol L −1 com sua base conjugada, A − , de concentração analítica Cb mol L −1 sob a forma de seu sal, NaA, então tem-se os equilíbrios já mencionados, com as suas respectivas constantes: Ionização do ácido fraco: HA + H2O ⇄ A − + H3O + Ka = [ ] [ ] [ ] Dissociação do sal contendo A - : NaA + H2O → A − + Na + Hidrólise da base conjugada: A − + H2O ⇄ HA + OH − Kb = [ ] [ -] [ -] Autoionização da água: 2 H2O ⇄ H3O + + OH − Kw= [H3O + ] [OH − ] Balanços de massa: Ca = [Na + ] Ca + Cb = [HA] + [A − ] (As espécies HA e A − são provenientes da dissociação do sal e da hidrólise de A − e da ionização de HA) Balanço de carga: [H3O + ] + [Na + ] = [A − ] + [OH − ] Trabalhando com as expressões das constantes de equilíbrio, dos balanços de massa e do balanço de carga e ainda fazendo as seguintes simplificações: 1- Se Ka >> Kb para um par ácido / base conjugada ⇒ [H3O + ] >> [OH − ] 40 ou Se Kb >> Ka para um par base / ácido conjugado ⇒ [OH − ] >> [H3O + ] 2- Se as soluções do par conjugado do tampão não forem muito diluídas ⇒ Ca e Cb >> [H3O + ] para um par ácido / base conjugada ou Ca e Cb >> [OH - ] para um par base / ácido conjugado Então, chega-se na equação simplificada para o sistema tampão: [ ] que permite calcular a concentração de íons hidrônio para qualquer par conjugado. Esta mesma equação na forma logarítmica pode ser expressa como: pH = pKa - log(Ca/Cb) ⇒ Equação de Henderson Hasselbach VI- Exemplos Os exemplos a seguir têm o objetivo de mostrar os diferentes tipos de pares conjugados que podem formar uma solução tampão e os respectivos valores de pH da solução resultante da mistura desses reagentes. Observação: A opção de se usar a mesma concentração analítica para ambos os solutos em todos os exemplos tem como único objetivo simplificar os cálculos. 1) Calcule o pH de uma solução tampão formada por ácido benzoico na concentração de 2x10 -2 mol L -1 e benzoato de sódio na concentração de 5x10 -3 mol L -1 . Dado: Ácido benzoico Ka = 6,3x10 -5 Essa é uma solução tampão preparada a partir de 2 reagentes sendo um ácido e o outro a sua base conjugada, cada um deles com a sua respectiva concentração analítica. 41 O ácido benzoico é um ácido monoprótico fraco e seu equilíbrio em água pode ser escrito como: C6H5COOH + H2O ⇄ C6H5COO - (aq) + H3O + (aq) Ka = 6,3x10 -5 O benzoato de sódio é um sal de comportamento básico e seu equilíbrio em água pode ser escrito como: C6H5COONa + H2O → C6H5COO - (aq) + Na + (aq) C6H5COO - (aq) + H2O ⇄ C6H5COOH(aq) + OH - (aq) Kb =Kw/Ka =1,6x10 -10 Portanto, a autoionização da água é perturbada tanto pelos íons H3O + quanto pelos íons OH - . Essa perturbação depende das constantes de equilíbrio Ka e Kb e das respectivas concentrações analíticas dos solutos. Neste caso como Ka é maior do que Kb, o pH da solução tampão resultante será menor do que 7, ou seja a solução será ácida. Para calcular o valor do pH da solução, usa-se a expressão simplificada: [ ] Substituindo na equação os valores dados no problema, [H3O + ] = 2,5x10 -4 mol L -1 e o valor do pH da solução é 3,6. Portanto, como previsto meio ácido. 2) Calcule o pH de uma solução tampão formada pelo par conjugado amônia na concentração de 0,1 mol L -1 e cloreto de amônio mesma concentração 0,1 mol L -1 . Dado: Amônia Kb = 1,8x10 -5 Essa é uma solução tampão preparada também a partir de 2 reagentes sendo uma base e o seu ácido conjugado, ambos na mesma concentração analítica. A amônia é uma base monoprótica fraca e seu equilíbrio em água pode ser escrito como: 42 NH3 + H2O ⇄ NH4 + (aq) + OH - (aq) Kb = 1,8x10 -5 O cloreto de amônio é um sal de comportamento ácido e seu equilíbrio em água pode ser escrito como: NH4Cl + H2O → NH4 + (aq) + Cl - (aq) NH4 + (aq) + H2O ⇄ NH3(aq) + H3O + (aq) Ka = Kw / Kb = 5,6x10 -10 Portanto, como no exemplo anterior, a autoionização da água é perturbada tanto pelos íons H3O + quanto pelos íons OH - . Essa perturbação depende das constantes de equilíbrio Ka e Kb e das respectivas concentrações analíticas dos solutos. Neste caso como Kb é maior do que Ka, o pH da solução tampão resultante será maior do que 7, ou seja a solução será básica. Para calcular o valor do pH da solução, usa-se a expressão simplificada: [ ] Substituindo na equação os valores dados no problema, [H3O + ] = 5,6x10 -10 mol L -1 e o valor do pH da solução é 9,3. Portanto, como previsto meio básico. 3) Calcule o pH de uma soluçãotampão formada por ácido ftálico na concentração de 0,1 mol L -1 e biftalato de potássio (ftalatoácido de potássio) na concentração de 0,1 mol L -1 . Dado: Ácido ftálico Ka1 = 1,3x10 -3 Ka2 = 3,9x10 -6 Essa é uma solução tampão preparada também a partir de 2 reagentes pares conjugados entre si, ambos na mesma concentração. O ácido ftálico é um ácido diprótico fraco e seus equilíbrios em água podem ser escritos como: C6H4(COOH)2 + H2O ⇄ C6H4(COO)2H - (aq) + H3O + (aq) Ka1 = 1,3x10 -3 C6H4(COO)2H - (aq) + H2O ⇄ C6H4(COO)2 2- (aq) + H3O + (aq) Ka2 = 3,9x10 -6 43 Como Ka1 >> Ka2, o ácido ftálico se comportará como ácido monoprótico na solução tampão. O biftalato de potássio é um sal anfótero e seus equilíbrios em água podem ser escritos como: C6H5(COO)2HK + H2O → C6H5(COO)2H - (aq) + K + (aq) C6H5(COO)2H - (aq) + H2O ⇄ C6H5(COOH)2(aq) + OH - (aq) Kb2=Kw/Ka1=7,7x10 -12 C6H5(COO)2H - (aq) + H2O ⇄ C6H5(COO)2 2- (aq) + H3O + Ka2 = 3,9x10 -6 Como nessa solução tampão o biftalato de potássio está na presença do ácido ftálico o seu comportamento predominante será básico. Então, a autoionização da água é perturbada tanto pelos íons H3O + vindos do ácido ftálico, quanto pelos íons OH - vindos do biftalato de potássio. Essa perturbação depende das constantes de equilíbrio Ka1 e Kb2 e das respectivas concentrações analíticas dos solutos. Neste caso como Ka1 é maior do que Kb2, o pH da solução tampão resultante será menor do que 7, ou seja, a solução será ácida. Para calcular o valor do pH da solução, vamos usar a expressão simplificada: [ ] Onde Ca e Cb são, respectivamente, as concentrações analíticas do ácido ftálico e do sal anfótero (que se comporta como a base conjugada) na solução tampão. Substituindo na equação os valores dados no problema, [H3O + ] = 1,3x10 -3 mol L -1 e o valor do pH da solução é 2,9. Portanto, como previsto meio ácido. 4) Calcule o pH de uma solução tampão formada por biftalato de potássio na concentração de 0,1 mol L -1 e ftalato de potássio na concentração de mol L -1 . Dado: Ácido ftálico Ka1 = 1,3x10 -3 Ka2 = 3,9x10 -6 44 Essa é uma solução tampão preparada também a partir de 2 reagentes pares conjugados entre si, ambos na mesma concentração analítica. O ftalato de potássio é um sal de comportamento básico e seus equilíbrios em água podem ser escrito como: C6H5(COOK)2 + H2O → C6H5(COO)2 2- (aq) + 2K + (aq) C6H5(COO)2 2- (aq) + H2O ⇄ C6H5(COO)2H - (aq) + OH - Kb1 = 2,6x10 -9 C6H5(COO)2H - (aq) + H2O ⇄ C6H5(COOH)2(aq) + OH - Kb2 = 7,7x10 -12 Como Kb1 >> Kb2, o íon ftalato se comportará como uma base monoprótica na solução tampão. O biftalato de potássio é um sal anfótero e seus equilíbrios em água podem ser escritos como: C6H5(COO)2HK + H2O → C6H5(COO)2H - (aq) + K + (aq) C6H5(COO)2H - (aq) + H2O ⇄ C6H5(COOH)2(aq) + OH - (aq) Kb2=Kw/Ka1=7,7x10 -12 C6H5(COO)2H - (aq) + H2O ⇄ C6H5(COO)2 2- (aq) + H3O + (aq) Ka2 = 3,9x10 -6 Como nessa solução tampão o biftalato de potássio está na presença do ftalato de potássio, sal de comportamento básico, o seu comportamento predominante será ácido. Então, a autoionização da água é perturbada tanto pelos íons H3O + vindos do biftalato de potássio quanto pelos íons OH - vindos do íon ftalato. Essa perturbação depende das constantes de equilíbrio Ka2 e Kb1 e das respectivas concentrações analíticas dos solutos. Neste caso como Ka2 é maior do que Kb1, o pH da solução tampão resultante será menor do que 7, ou seja a solução será ácida. Para calcular o valor do pH da solução, vamos usar a expressão simplificada: [ ] 45 Onde Ca e Cb são respectivamente as concentrações analíticas do sal biftalato de potássio (que se comporta como ácido) e do sal ftalato de potássio na solução tampão. Substituindo na equação os valores dados no problema, [H3O + ] = 3,9x10 -6 mol L -1 e o valor do pH da solução é 5,4. Portanto, como previsto meio ácido. 5) Calcule o pH da solução tampão formada por fosfatomonoácido de sódio (Na2HPO4) e fosfatodiácido de sódio (NaH2PO4) ambos na concentração de 0,1 mol L -1 Dados: H3PO4 Ka1 = 6,0x10 -3 Ka2 = 6,3x10 -8 Ka3 = 4,8x10 -13 Essa é uma solução tampão preparada também a partir de 2 reagentes pares conjugados entre si, ambos na mesma concentração. O fosfatomonoácido de sódio é um sal anfótero e seus equilíbrios em água podem ser escritos como: Na2HPO4 + H2O → 2Na + (aq) + HPO4 2- (aq) HPO4 2- (aq) + H2O ⇄ PO4 3- (aq) + H3O + (aq) Ka3 = 4,8x10 -13 HPO4 2- (aq) + H2O ⇄ H2PO4 - (aq) + OH - (aq) Kb2 = Kw / Ka2 = 1,6x10 -7 Pelos equilíbrios pode-se concluir que o fosfatomonoácido de sódio é um sal de comportamento anfótero. O íon fosfatomonoácido (HPO4 2- ) se comporta tanto como uma base quanto como um ácido em solução aquosa. Como Kb2 > Ka3, o sal terá comportamento predominantemente básico. O fosfatodiácido de sódio é também um sal anfótero, e seus equilíbrios em água podem ser escrito como: NaH2PO4 + H2O → Na + (aq) + H2PO4 - (aq) H2PO4 - (aq) + H2O ⇄ HPO4 2- (aq) + H3O + (aq) Ka2 = 6,3x10 -8 46 H2PO4 - (aq) + H2O ⇄ H3PO4(aq) + OH - (aq) Kb3 = Kw / Ka1 = 1,7x10 -12 Pelos equilíbrios pode-se concluir que o fosfatodiácido de sódio é um sal de comportamento anfótero. O íon fosfatodiácido (H2PO4 - ) se comporta tanto como uma base quanto como um ácido em solução aquosa. Como Ka2 > Kb3, o sal terá comportamento predominantemente ácido. Assim, na solução tampão formada pela mistura dos 2 reagentes o fosfatodiácido de sódio atua como o ácido e o fosfatomonoácido de sódio atua como a base do tampão. Então, a autoionização da água é perturbada tanto pelos íons H3O + vindos do fosfatodiácido de sódio quanto pelos íons OH - vindos do fosfatomonoácido de sódio. Essa perturbação depende das constantes de equilíbrio Ka2 e Kb2 e das respectivas concentrações analíticas dos solutos. Neste caso como Kb2 é maior do que Ka2, o pH da solução tampão resultante será maior do que 7, ou seja a solução será básica. Para calcular o valor do pH da solução, vamos usar a expressão simplificada: [ ] Onde Ca e Cb são, respectivamente, as concentrações analíticas do sal fosfatodiácido de sódio (que se comporta como ácido) e do sal fosfatomonoácido de sódio (que se comporta como base) na solução tampão. Substituindo na equação os valores dados no problema, [H3O + ] = 6,3x10 -8 mol L -1 e o valor do pH da solução é 7,2. Portanto, como previsto meio básico. V- Como preparar uma solução tampão Nos trabalhos práticos é importante escolher qual o melhor par conjugado para se ter o valor de pH mais próximo possível do valor desejado e para o mesmo ser o mais eficiente possível, dentro da necessidade do trabalho. 47 Para se escolher o melhor par conjugado deve-se levar em consideração que o tampão será tanto mais eficiente (ou seja, mantém o valor do pH do meio mesmo quando se adiciona uma quantidade significativa de ácido ou base ao mesmo) quanto mais próximas forem as concentrações do ácido e da base usados. Na expressão: [ ] se Ca ~ Cb então [H3O + ] ~ Ka ou pH ~ pKa Sendo assim, o par deve ser escolhido tendo como referência a constante de acidez da substância que age como o ácido do tampão. O ajuste no valor do pH deverá ser feito pela variação nas concentrações analíticas de cada uma das espécies. Exemplos 1) a) Quais devem ser os reagentes usados para preparar uma solução tampão pH 10? De acordo com o que foi mencionado no item anterior, o ácido do tampão deve ter uma constante de equilíbrio o mais próximo possível do valor da concentração dos íons H3O + desejada. Se o pH dasolução é igual a 10, o valor de pKa deve ser próximo de 10. Com o auxílio de uma tabela de constantes de acidez, verifica-se que o pKa do íon amônio é 9,25. Sendo assim, a escolha do par conjugado cloreto de amônio (ácido) e amônia (base) seria uma boa opção para ser usado no preparo da solução tampão. b) Qual deve ser a concentração individual de cada um dos reagentes para se preparar a solução da letra (a), sabendo que a concentração total do sal e da base na solução é igual a 0,30 mol L -1 . Usando a equação: [ ] na forma logarítmica pH = pKa – log Ca/Cb e sabendo que Ca + Cb = 0,30 mol/L pode-se resolver o sistema de 2 equações e 2 incógnitas e encontrar o valor das concentrações individuais. Assim, Ca(NH4Cl) = 0,045 mol L -1 e Ca(NH3) = 0,255 mol L -1 48 2) Descreva a preparação de 250 mL de solução tampão pH 5 a partir de soluções de ácido acético 0,5 mol L -1 e acetato de sódio 0,2 mol L -1 . Dado: Ka = 1,8x10 -5 pH = pKa – log Ca/Cb - ⇒ Va / Vb = 0,22 como: Va+ Vb = 250 mL Va = 45 mL e Vb = 205 mL As soluções tampão também podem ser preparadas a partir de um dos reagentes e da obtenção do outro “in loco” por meio de uma reação química adequada. Essa situação é muito comum na prática, porque nem sempre se encontram disponíveis no laboratório os reagentes que formam o par conjugado adequado para a situação de interesse. Quando o reagente disponível é o ácido do tampão pode-se adicionar uma base forte, em quantidades adequadas, de maneira que a solução final contenha uma parte do ácido que não reagiu e a sua base conjugada que é o produto da reação. HA + OH - ⇄ A- + H2O Keq = 1 / Kb Onde: HA representa a espécie que se comporta como o ácido na solução tampão e A - representa a espécie que se comporta como a base na solução. Quando o reagente disponível é a base do tampão pode-se adicionar um ácido forte, em quantidades adequadas, de maneira que a solução final contenha uma parte da base que não reagiu e o seu ácido conjugado que é o produto da reação. A - + H3O + ⇄ HA + H2O Keq = 1 / Ka Onde: A - representa a espécie que se comporta como a base na solução tampão e HA representa a espécie que se comporta como o ácido na solução. É importante ressaltar que o ácido forte e a base forte devem ser o reagente limitante das reações, de maneira que a quantidade de íons H3O + e OH - , respectivamente, no equilíbrio seja desprezível. Em outras palavras, a constante de equilíbrio de cada uma das reações deve ser grande, isso impõe a condição de que o ácido e a base reagentes não podem ser muito fracos. 49 Exemplo Calcule o pH da solução tampão resultante da mistura de 200 mL de solução de ácido acético na concentração de 0,1 mol/L com 150 mL de solução de hidróxido de sódio na concentração de 0,1 mol L -1 . Dado: Ácido acético Ka = 1,8x10 -5 Quando misturadas as 2 soluções, o ácido acético vai reagir com o OH - (proveniente da dissociação da base forte) e formar o íon acetato (base conjugada do ácido acético) em proporções estequiométricas. CH3COOH + OH - ⇄ CH3COO - + H2O Keq = 1/Kb = 1 / 5,6x10 -10 = 1,8x10 9 Quantidade de matéria de CH3COOH inicial = 0,1 mol L -1 x 0,2 L = 0,02 mol Quantidade de matéria de OH - inicial = 0,1 mol L -1 x 0,15 L = 0,015 mol Como a proporção estequiométrica da reação é 1:1, então: Quantidade de matéria de CH3COOH final = (0,02 – 0,015) mol = 0,005 mol Quantidade de matéria de CH3COO - formada = 0,015 mol A solução final será formada por ácido acético e íon acetato, par conjugado. Portanto, uma solução tampão. Para calcular o valor do pH da solução, vamos usar a expressão simplificada: [ ] Onde Ca e Cb são respectivamente as concentrações analíticas do ácido e da base conjugada na solução tampão. Ca = 0,005 mol / 0,35 L = 0,014 mol L -1 Cb = 0,015 mol / 0,35 L = 0,043 mol L -1 Substituindo na equação os valores encontrados, temos [H3O + ] = 5,8x10 -6 mol L -1 e o valor do pH da solução é 5,3. 50 VI- Efeito da diluição de uma solução tampão Se a solução tampão não for muito diluída, o pH só dependerá da relação Ca/Cb e de Ka. Em outras palavras, o pH não se altera significativamente por diluição desse tampão em água. Porém, se a solução for muito diluída, uma posterior diluição alterará ligeiramente o pH ao se tornarem consideráveis os valores de Ca - [H3O + ] e Cb + [H3O + ], acarretando elevado erro no cálculo do pH. Assim, não se deve utilizar a equação simplificada para calcular o pH da solução diluída. Por outro lado, se a solução for muito concentrada, uma diluição provocará uma variação no pH porque variará a força iônica do meio o que altera o valor de Ka. VII- Capacidade freadora e eficiência de uma solução tampão A capacidade freadora ou capacidade reguladora ou capacidade tamponante de uma solução tampão é definida como a quantidade de matéria de base forte ou ácido forte que pode ser adicionada a um litro de solução tampão para provocar a variação de uma unidade de pH. A quantidade de ácido forte ou de base forte que pode ser adicionada a uma solução tampão para provocar a variação no pH depende não somente da relação das concentrações analíticas de seus componentes, mas também da grandeza das concentrações individuais desses componentes. Quanto maiores forem as concentrações do ácido fraco e da base conjugada maior será a quantidade do ácido forte ou da base forte que poderá ser adicionada para provocar a mesma variação no pH, ou seja, quanto maiores forem as concentrações dos componentes do tampão tanto menor será a variação do pH quando a ele se adiciona uma mesma quantidade de um ácido ou de uma base forte. A eficiência de um tampão é definida como a resistência à variação de pH quando a ele é adicionado um ácido forte ou uma base forte. Quanto menor for a variação de pH após a adição de ácido forte ou de base forte mais eficiente será a solução tampão. 51 VIII- Efeito da adição de ácidos e bases fortes a um tampão Para verificar a ação freadora e a eficiência de uma solução tampão, deve-se calcular o efeito da adição de um ácido forte e de uma base forte no pH da solução. Em uma solução tampão formada por um par ácido-base conjugado, HA / NaA, os seguintes equilíbrios estão envolvidos: HA + H2O ⇄ H3O + + A − NaA(s) + H2O → Na + + A − A − + H2O ⇄ HA + OH − Pode-se observar que a adição de uma determinada quantidade de matéria de ácido forte a esta solução tampão acarretará uma diminuição na concentração da base conjugada A − e um aumento da concentração de HA na mesma quantidade, isto é, o ácido forte reagirá com os íons A − e, consequentemente, levará ao aumento na concentração de HA. Se essas variações não forem muito grandes a relação Ca/Cb permanecerá praticamente a mesma, o que implica numa pequena variação do pH. Uma variação insignificante no pH também ocorrerá após a adição de uma determinada quantidade de matéria de uma base forte que levará a um consumo idêntico em quantidade de matéria do ácido HA e a aumento de A - na mesma quantidade, porém a relação Ca/Cb também não se altera significativamente. Exemplo Considere a solução tampão formada pelo par conjugado amônia e cloreto de amônio. Se as concentrações analíticas, na solução tampão, da amônia for 0,255 mol L -1 e do íon amônio for 0,045 mol L -1 , o pH da solução será igual a10. Dado: NH3 Kb = 1,8x10 -5 a) Calcule o novo valor do pH, se a 100mL dessa solução forem adicionados 2,0 mL de solução de NaOH 0,1 mol L -1 . A adição de uma base forte à solução tampão provoca uma reação química entre o ácido do tampão (o íon amônio) e os íons OH - provenientes da base forte.
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