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SISTEMAS DE INFORMAÇÕES GERENCIAIS www.esab.edu.br 3 Sumário 1. Apresentação I.......................................................................05 2. Necessidades, Desejos, Demandas e o Marketing................06 3. Conceitos e Aplicações do Marketing.....................................11 4. Orientação das Organizações................................................18 5. Mix de Marketing.....................................................................27 6. Evolução do Marketing...........................................................46 7. Resumo I................................................................................56 8. Apresentação II......................................................................58 9. Tendências Fundamentais Moldando o Marketing..................59 10. O Marketing no Brasil............................................................64 11. Ambiente de Marketing..........................................................72 12. Sistema de Informações em Marketing: Proporcionando Informações Para o Marketing...............................................79 13. Comportamento dos Consumidores....................................91 14. Resumo II............................................................................102 15. Apresentação III..................................................................104 16. Marketing Pessoal...............................................................105 17. Marketing de Serviços..........................................................115 18. Marketing Social..................................................................125 19. Marketing Digital..................................................................134 20. Marketing Educacional........................................................150 21. Resumo III...........................................................................162 22. Glossário.............................................................................164 23. Bibliografia...........................................................................165 www.esab.edu.br 4 APRESENTAÇÃO DO TUTOR Caro Pós-graduando(a), Este módulo explora temas relacionados ao universo do marketing. Introduz conceitos e aborda discussões sobre um processo de vital importância para as organizações. Iremos, então, visualizar definições e orientações sob as quais as empresas podem fazer negócios. Abordaremos também o conjunto de ferramentas que a organização utiliza para perseguir seus objetivos de Marketing no mercado-alvo. Discutiremos algumas tendências que moldam o marketing e contextualizarmos algumas especificidades brasileiras. Relacionaremos variáveis do ambiente de marketing, bem como elementos do sistema de informações em marketing. Discutiremos, de maneira ampla, o comportamento do consumidor. Feito isso, exploraremos alguns tipos específicos de marketing. Ementa Administração de marketing: conceitos fundamentais, tipos de marketing, orientações de marketing, processo de marketing. Marketing estratégico: segmentação, definição de público alvo, posicionamento. Marketing tático: Marketing Mix, produto, preço, praça, promoção. Plano de marketing. Implementação e controle. Objetivo geral do módulo Discutir sobre o marketing, evidenciando a sua importância no atual cenário dos negócios. Carga horária 40 horas. Autores Altair de Oliveira e Beatriz Gobbi. www.esab.edu.br 5 Eixo Temático 1: Ideias elementares e conceitos fundamentais relacionados ao marketing. Apresentação Para iniciar a nossa conversa sobre marketing, vamos abordar brevemente nas próximas unidades assuntos pertinentes, discutindo o que é necessidade, desejo, demanda, etc. Enfim, apresentar as ideias básicas relacionadas ao universo do marketing, discutindo a sua importância. www.esab.edu.br 6 Olá estudante, vamos começar o nosso estudo! Navegaremos aqui pelo universo do marketing. Nesta primeira unidade abordaremos alguns conceitos centrais ligados ao marketing. Mas, o que este termo da língua inglesa significa? Morici (2013) nos adverte sobre o uso desse vocábulo que é tão falado, mas pouco conhecido. Segundo o autor, no Brasil, na maior parte dos casos o público leigo assume que “marketing” é o mesmo que “publicidade” ou “propaganda”. Uma segunda interpretação, de conotação bastante negativa é a do tipo “tudo isso não passa de puro marketing”, sendo nesse caso um sinônimo para “enganação”. Mesmo em alguns setores da imprensa brasileira existe essa confusão. Não é raro acontecer que publicitários famosos apareçam nas notícias como “marqueteiros”. Entretanto, conforme nos alerta Morici, todos esses sentidos passam longe do real significado do marketing. A partir de uma breve análise do vocábulo - que tem como radical o termo “Market” - pode-se depreender uma possível associação à palavra mercado. Tal relação, conforme esclarece Barbosa (2017), não ocorre somente no plano etimológico, pois os propósitos e as ações de marketing estão relacionados ao mercado, entendido em um sentido amplo como o grupo de consumidores em potencial. www.esab.edu.br 7 Na literatura de gestão, há registro do uso do termo Marketing em obra datada do ano de 1910. Trata-se do livro Marketing Methods and Salesmanship – Métodos de Marketing e Vendas – cuja autoria é atribuída ao professor Ralph Butler. Tal obra, segundo Barbosa (2017), abordou 3 temas principais: métodos de marketing, vendas e gerenciamento de vendas. Ainda de acordo com Barbosa (2017), em relação à área de gestão, o conceito de marketing vincula-se à série de atividades, funções e ferramentas que favorecem a concepção de novas ideias, bem como o planejamento e o desenvolvimento de produtos e serviços que irão satisfazer às necessidades de possíveis consumidores. Necessidades, conforme explica Kotler (2012) e Kotler e Armstrong (2015), são requisitos elementares do ser humano. As necessidades humanas são situações de privação percebidas. Nós precisamos de ar, comida, água, roupas e abrigo. Também sentimos necessidade de diversão e de educação. Tais necessidades transformam-se em desejos quando direcionadas a objetos específicos que possam satisfazê-las. Os desejos são a forma que as necessidades assumem quando são moldados pela cultura e pela personalidade humana. Por exemplo, um consumidor norte- americano, que precisa se alimentar, pode querer/desejar um típico sanduíche acompanhado de um refrigerante. Já um habitante do Afeganistão pode querer arroz, cordeiro e cenouras. Demandas são, por sua vez, desejos por produtos ou serviços específicos sustentados pela capacidade de comprá-los. Desejo e demanda não são, portanto, a mesma coisa. Kotler (2012) esclarece que muitas pessoas podem querem, por exemplo, um carro da marca Mercedes, mas poucas delas podem comprá- lo. Assim, é importante que empresas mensurem não somente a www.esab.edu.br 8 quantidade de pessoas que desejam o seu produto, mas também aquelas que estariam realmente dispostas a comprá-lo e que teriam condições para isso. Para Kotler, as diferenciações entre necessidade, desejo e demanda lançam luzes sobre as críticas frequentes de que “o marketing cria necessidades” ou de que “o marketing faz as pessoas comprarem coisas que não querem”. Para o autor, o marketing não cria necessidades, pois estas surgem antes dele (o marketing). O quê os profissionais de marketing, em associação com outros fatores sociais, podem fazer é influenciar os desejos daqueles que sentem necessidade de algum produto ou serviço. Os profissionais podem, por exemplo, promover a ideia de que um automóvel Mercedes irá satisfazer a necessidade de status social da pessoa, mas não criar a necessidade em si. O autor ressalta ainda que alguns clientes têm necessidades das quais nem sempre estão plenamente cientes, ou necessidades que não conseguem expressar. Kotler questionar o que o clienteestaria querendo dizer, por exemplo, quando pede um cortador de grama “potente” ou um hotel “tranquilo”? Ou ainda quando um cliente deseja um carro “barato”. Então, o profissional de marketing precisa pesquisar mais a fundo para tentar entender. Nessa direção, Kotler distingue cinco tipos de necessidade humanas e nos fornece os seguintes exemplos: 1. Necessidades declaradas (o cliente quer um carro econômico). 2. Necessidades reais (o cliente quer um carro cujo custo de manutenção — e não o seu preço inicial — seja baixo). 3. Necessidades não declaradas (o cliente espera um bom atendimento por parte do revendedor). 4. Necessidades de “algo mais” (o cliente gostaria que o revendedor incluísse um sistema de GPS). 5. Necessidades secretas (o cliente quer ser visto pelos amigos como um consumidor inteligente). www.esab.edu.br 9 Assim, o autor nos alerta sobre o fato de que responder apenas à necessidade declarada pode não ser o suficiente para o cliente. Pense no mercado da telefonia móvel, por exemplo. Os consumidores não sabiam muita coisa sobre telefones celulares quando estes chegaram ao mercado. As empresas Nokia e Ericsson se esforçaram para moldar as percepções dos consumidores em relação a esses aparelhos. Para conquistar vantagem competitiva, afirmar Kotler, as empresas devem ajudar os clientes a descobrir o que querem. O marketing envolve uma atividade humana direcionada a satisfazer necessidades e desejos por meio das transações estabelecidas entre organização e cliente. A fundamentação desse pensamento, vigente entre acadêmicos e profissionais do marketing, é, segundo nos informa Oliveira (2012), constituída a partir das contribuições de Abraham Maslow. Você já ouviu falar e se recorda da pirâmide de Maslow? Maslow desenvolveu estudos que estabeleceram a hierarquia das necessidades que nós, os seres humanos, possuímos. Essas necessidades foram agrupadas em necessidades fisiológicas, de segurança, social, estima e autorrealização e foram dispostas em forma de pirâmide. Os níveis da pirâmide, grupos de necessidades, indicam uma gradação que vai da mais elementar à mais sofisticada. Além disso, a satisfação de uma necessidade “mais elevada” depende da satisfação das necessidades imediatamente “inferiores”. A revista HSM apresentou em dezembro de 2017 uma atualização dessa famosa pirâmide formulada por Eric Almquist, especialista em analytics da consultoria Bain & Company. Após quatro anos de pesquisas, ele propôs um redesenho da pirâmide de necessidades humanas que o psicólogo Abraham Maslow desenvolveu em meados da década de 1950. E qual é o argumento do especialista e quais foram as mudanças / alterações promovidas, você deve estar se perguntando! www.esab.edu.br 10 Segundo Eric Almquist, no século XXI há 30 necessidades que, se adequadamente atendidas, levam à criação de valor para os consumidores e, portanto, para as empresas que os servem. Na nova pirâmide nossas necessidades são agrupadas em necessidades funcionais, necessidades emocionais, necessidades de transformação e necessidades de gerar impacto social. Compare a seguir as pirâmides de Maslow e a atualização dela proposta por Almquist. Figura 1 – Pirâmide de Maslow Fonte: http://www.revistahsm.com.br Figura 2 – Pirâmide de Almquist Fonte: http://www.revistahsm.com.br www.esab.edu.br 11 Olá estudante, na unidade anterior apresentamos algumas ideias iniciais sobre marketing. Vimos, em linhas gerais, que marketing é uma atividade humana direcionada a satisfazer necessidades e desejos por meio das transações estabelecidas entre uma organização e um cliente. Então, vamos nesta unidade explorar mais conceitos e explicações sobre os propósitos do marketing. A definição oficial, de 2018, da American Marketing Association, associação que reúne profissionais de marketing em nível internacional, é: “Marketing é uma atividade, conjunto de instituições e processos para criar, comunicar, entregar e trocar ofertas que tenham valor para os consumidores, clientes, parceiros e sociedade em geral”. Kotler e Amstrong (2015) sinalizam que o marketing nos dias atuais não deve ser entendido no velho sentido de efetuar uma venda, mas no de satisfazer as necessidades dos clientes. Os autores explicam que venda ocorre somente depois que um produto é produzido. O marketing, por sua vez, inicia-se antes mesmo de a empresa ter determinado o produto. Então, para esses autores: “Marketing é o processo pela qual as empresas criam valor para os clientes e constroem fortes relacionamentos com eles a fim de, em troca, capturar valor deles” (KOTLER; AMSTRONG, 2015). Assim, os autores apresentam um modelo simplificado e expandido do processo de marketing em 5 etapas (Figura 3). Nas 4 primeiras etapas, as organizações trabalham para entender www.esab.edu.br 12 os clientes e construir o relacionamento com ele. Logo, inicialmente os profissionais de marketing precisam entender o mercado e as necessidades e desejos dos consumidores. Depois, eles precisam elaborar uma estratégia de marketing orientada para o cliente com o propósito de obter, manter e cultivar clientes-alvo. Na etapa seguinte, os profissionais elaboram programas de marketing que, de fato, entregam valor superior. Todas essas etapas anteriores foram a base para a quarta etapa: criar relacionamentos lucrativos com o cliente e encantá-lo. Por fim, na última etapa, a organização colhe as recompensas de seu forte relacionamento com os clientes ao capturar valor deles. Então, ao criar valor para os clientes, as empresas capturam valor dos clientes em troca, na forma de vendas, lucros, customer equity de longo prazo. Figura 3 – Modelo expandido de processo de Marketing Fonte: Kotler e Armstrong (2015) www.esab.edu.br 13 Para os autores Kotler e Keller (2012), há definições sociais e gerenciais de Marketing. A definição social evidencia o papel desempenhado pelo marketing. Nessa direção, pode-se afirmar que o “Marketing é um processo social pelo qual indivíduos e grupos obtêm o que necessitam e desejam por meio da criação, da oferta e da livre troca de produtos de valor entre si” (KOTLER; KELLER, 2012). De um ponto de vista gerencial, muitas vezes o marketing é descrito de forma reduzida como sendo a “arte de vender produtos”. No entanto, as vendas são apenas a “ponta do iceberg do marketing”. Andrade (2012) observa que em descrições com as anteriores, o marketing deixa de ser apenas uma “função organizacional” a serviço da agregação de valor para determinado produto e/ou organização - com o objetivo de angariar benefícios para esta (e) para todos os envolvidos em seus processos(os stakeholders) - e passa a ser uma “atividade “ cujo propósito é agregar valor ao produto e/ou à organização, de forma que esse “valor” seja benéfico para a sociedade em geral. Marcos Cobra (2015), por sua vez, indica que “a essência do marketing é um estado da mente. Em marketing os profissionais de negócios adotam o ponto de vista do consumidor. E, essas decisões são apoiadas com base no que o cliente necessita e deseja”. E a que se aplica o marketing? Os professores Kotler e Keller (2012) explicam que os profissionais de marketing se envolvem na gestão da troca de diferentes tipos de produtos: bens, serviços, eventos, experiências, pessoas, lugares, propriedades, organizações, informações e ideias. Os autores evidenciam sucintamente cada uma dessas categorias, fornecendo exemplos e dados da realidade norte-americana: www.esab.edu.br 14 Bens: Bens tangíveis constituem a maior parte do esforço de produção e marketing da maio ria dos países. As empresas norte- americanas produzem e comercializam a cada ano bilhões de produtos alimentícios frescos, enlatados, empacotados e congelados, além de milhões de carros, refrigeradores, televisores, máquinas e vários outros bens que sustentam a economia moderna. Serviços: À medida que as economias evoluem, uma proporção cada vezmaior de suas atividades se concentra na prestação de serviços. A atual economia dos Estados Unidos consiste em um mix de 70 por cento de serviços e 30 por cento de produtos. Entre os serviços estão aqueles prestados por empresas aéreas, hotéis, locadoras de automóveis, cabeleireiros, esteticistas e técnicos de manutenção e reparo, assim como contadores, bancários, advogados, engenheiros, médicos, programadores de software e consultores de gestão. No entanto, muitos produtos combinam bens e serviços, como é o caso de uma refeição em um restaurante fast-food, por exemplo. Eventos: Os profissionais de marketing promovem eventos periódicos como grandes feiras setoriais, espetáculos artísticos e comemorações de aniversários. Eventos esportivos globais como os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo são promovidos, na mesma intensidade, tanto para empresas quanto para torcedores. Experiências: Organizando diversos serviços e mercadorias, uma empresa pode criar, apresentar e comercializar experiências. O Magic Kingdom, do Walt Disney World, proporciona aos clientes uma visita a um reino de conto de fadas, um navio pirata ou uma casa mal-assombrada. Também há mercado para experiências customizadas, como passar uma semana em um centro de treinamento de beisebol jogando com grandes craques veteranos ou escalar o Monte Everest. www.esab.edu.br 15 Pessoas: Artistas, músicos, médicos, advogados e financistas bem-sucedidos, entre outros profissionais, têm buscado a ajuda de agências de marketing de celebridades. Algumas pessoas são particularmente hábeis em fazer seu marketing pessoal — pense em David Beckham, Oprah Winfrey e Rolling Stones. O consultor Tom Peters, ele próprio um mestre do marketing pessoal, aconselha as pessoas a se tornarem uma “marca”. Lugares: Cidades, estados, regiões e países inteiros competem ativamente para atrair turistas, novos moradores, fábricas e sedes de empresas. Entre os profissionais de marketing de lugares estão especialistas em desenvolvimento econômico, agentes imobiliários, bancos comerciais, associações comerciais locais e agências de propaganda e relações públicas. O Las Vegas Convention & Visitors Authority obteve êxito com sua provocativa campanha “What Happens Here Stays Here” (“O que acontece aqui fica aqui”), retratando a cidade como um “playground para adultos”. Durante a recessão de 2008, contudo, a realização de convenções corporativas diminuiu. Preocupada com sua reputação atrevida e potencialmente inconveniente, a entidade usou um anúncio de página inteira na revista Business Week para defender sua capacidade de realizar reuniões de negócios formais. Propriedades: Propriedades são direitos intangíveis de posse tanto de bens imóveis quanto de bens financeiros (títulos e ações). Podem ser comprados e vendidos, e essas trocas requerem um esforço de marketing. As imobiliárias trabalham para proprietários de imóveis ou para quem as procura para comprar e vender imóveis residenciais ou comerciais. Já as instituições bancárias e de investimentos estão envolvidas no marketing de produtos financeiros tanto para pessoas físicas quanto para pessoas jurídicas. www.esab.edu.br 16 Organizações: As organizações trabalham sistematicamente para construir uma imagem sólida e positiva na mente de seu público-alvo. No Reino Unido, o programa de marketing da rede de supermercados Tesco, “Every Little Helps” (“Todo pouco ajuda”), reflete a atenção da empresa aos detalhes em tudo o que faz, tanto dentro da loja quanto para a comunidade e para o meio ambiente. A campanha alçou a Tesco à posição de principal rede de supermercados no país. Universidades, museus, grupos de teatro, empresas e organizações sem fins lucrativos usam o marketing para melhorar sua imagem e competir por público e recursos. Informações: A produção, a embalagem e a distribuição de informações constituem importantes setores da economia. A informação é basicamente o que livros, escolas e universidades produzem, comercializam e distribuem a um preço para pais, alunos e comunidades. Segundo o ex-presidente da Siemens Medicai Solutions dos Estados Unidos, Tom McCausland, “nosso produto não é necessariamente um aparelho de raio X ou de ressonância magnética, mas, sim, uma informação. Nosso negócio é, na verdade, tecnologia de informação para a saúde, e nosso produto final é, na verdade, um registro eletrônico do paciente: informações sobre exames laboratoriais, patologia e medicamentos, assim como registros de voz”. Ideias: Toda oferta de marketing traz em sua essência uma ideia básica. Charles Revson, da Revlon, certa vez observou: “Na fábrica, fazemos cosméticos; na loja, vendemos esperança”. Produtos são plataformas para a oferta de algum conceito ou benefício. Os profissionais de marketing social estão sempre às voltas com a promoção de ideias como as campanhas norte- americanas “Friends Don’t Let Friends Drive Drunk” (“Amigos não deixam amigos dirigirem alcoolizados”) e “A Mind is a Terrible Thing to Waste” (“Desperdiçar um intelecto é uma coisa terrível”). Vimos que os profissionais do marketing têm a incumbência de satisfazer aos desejos e às necessidades dos nossos diversos públicos. Então, qual é o objetivo do marketing? www.esab.edu.br 17 Andrade (2012) nos alerta que não se pode esquecer que as pessoas buscam benefícios e as empresas também. Portanto, o objetivo do marketing é o lucro. O Autor pondera que mesmo nas ONGs é essa, de certa forma, a lógica vigente. Embora, trate-se apenas de um retorno para dar suporte às atividades, pois as organizações não governamentais também precisam das fontes de financiamento para seus projetos e, ainda, para a remuneração das pessoas que atuam na prestação dos serviços e para a manutenção das estruturas. Obviamente, nesse âmbito, trata-se apenas de lucro para a sustentação ou operacionalização. E em relação às pessoas, pode-se dizer a mesma coisa? Segundo o autor, o objetivo delas também é o lucro. Quando se utiliza o marketing pessoal, tem-se um objetivo que não é, necessariamente, o dinheiro. Esse benefício (lucro) pode ser moral, intelectual e - por que não? - uma vantagem financeira (por exemplo, a estratégia que auxilia na conquista do tão sonhado emprego). O autor alerta quer, do ponto de vista do marketing, o lucro precisar ser sustentável. Portanto, as organizações devem praticar o “ganha-ganha”. Isso quer dizer que a vantagem deve ser mútua. Diferentemente do que ocorria há algumas décadas, a manutenção de um relacionamento estável com o cliente é o que proporcionará lucros por mais tempo; como consequência, a empresa terá resultado desse procedimento. Caro estudante, dirija-se ao Ambiente Virtual de Aprendizagem e participe do nosso Fórum de discussão. Lá você pode interagir com seus colegas e com seu tutor de forma a ampliar, por meio da interação, a construção do seu conhecimento. Vamos lá? Tema: O marketing cria ou satisfaz necessidades, o que você acha? O marketing molda as necessidades e os desejos do consumidor? Ou o marketing simplesmente reflete as necessidades e os desejos do consumidor? FÓRUM www.esab.edu.br 18 Cada empresa adota uma estratégia para conseguir vender seus produtos e serviços. A orientação estratégica norteará todos os negócios da empresa e a sua forma de agir diante do mercado e dos seus clientes. O Marketing, no seu processo evolutivo, passou por diversas fases cada qual com uma filosofia distinta. Elas também evidenciam uma orientação da organização em relação ao mercado. Vejamos, então, com elas se relacionam à própria evolução dos conceitos de marketing. De maneira geral, pode-se enumerar as seguintes orientações: Orientação para a produção e para o produto A orientação para a produção é um dos conceitos mais antigos nos negócios. As empresas orientadas para a produção consideram que os clientes darão preferência a produto fáceis de encontrar e que sejam de baixo custo (KOTLER; KELLER,2012). A orientação para a produção é uma filosofia que ainda pode ser útil em algumas situações. Por exemplo, a Lenovo (fabricante de computadores) dominava o mercado chinês, altamente competitivo e sensíveis a preço, por meio de baixo custos de mão de obra, alta eficiência na produção e distribuição em massa. Entretanto, apesar de ser útil em alguns contextos, a orientação de produção pode levar à uma miopia de marketing. As organizações que adotam essa orientação correm um considerável risco de manter em demasia o foco em suas operações em detrimento dos seus verdadeiros objetivos: satisfazer as necessidades dos clientes e construir relacionamento com eles (KOTLER; ARMSTRONG, 2015). www.esab.edu.br 19 Uma consequência da orientação para a produção é a orientação para o produto. Nesse caso, as empresas se focam principalmente no seu produto, e não no negócio do qual fazem parte. Elas acreditam que seu produto é insubstituí vel e indispensável para o consumidor e que os consumidores sempre darão preferência aos produtos que ofereçam melhor qualidade, desempenho e benefícios. Os administradores que utilizam essa lógica enfatizam a fabricação de bons produtos e a sua melhoria no longo prazo. A orientação para o produto sustenta que os consumidores darão preferência aos produtos que ofereçam melhor qualidade, desempenho e benefícios. Nesse caso, a empresa busca produzir produtos que apresentem esses atributos ou características inovadoras. Nesse caso, a estratégia de marketing se concentrará em promover melhorias constantes nos produtos (KOTLER; ARMSTRONG, 2015). Alguns fabricantes de máquinas de escrever, por exemplo, demoraram a assimilar a ideia de que seus clientes desejavam computadores. Imaginavam que estes prefeririam suas máquinas, por estas serem mais simples de ser manuseadas. Na realidade, as pessoas estavam mais susceptíveis às facilidades que os computadores ofereciam, mesmo que tivessem que aprender a usá-los. Reichelt (2013) explica que quando se afirma que uma empresa tem foco em produção, isso não quer dizer que ela não tenha departamentos e colaboradores que atuem nas demais áreas ou mesmo que não ela pratique vendas ou marketing. As orientações para o mercado significam que a empresa dá mais ênfase e importância a essa atividade do que às demais e que as demais atividades se adaptam às decisões tomadas na área que a empresa enfatiza. www.esab.edu.br 20 Orientação para as vendas As empresas orientadas para as vendas adotam o pensamento de que os clientes não tomam a decisão de comprar sozinhos. Desta forma, a empresa precisa induzi-los a tomar a decisão, caso contrário não haverá a compra (KOTLER; KELLER, 2012). Diversas empresas adotam esta orientação, e com sucesso. O que ocorre é que elas não estão preocupadas com a satisfação das necessidades dos clientes, e sim com a satisfação das suas próprias necessidades. Muitas vezes, os clientes para quem foi vendido o produto não o desejavam e somente o adquiriram devido à chamada “Venda por Pressão”, o que pode, fatalmente, gerar um cliente insatisfeito. O marketing orientado para venda é uma estratégia arriscada. Ele é voltado para a criação de transação de vendas e não para a construção de relacionamentos lucrativos e de longo prazo com os clientes (KOTLER; ARMSTRONG, 2015). Orientação para o Marketing A orientação para o marketing surge a partir de 1950. Nessa orientação, a empresa desloca o foco da produção e das vendas e o direcionar para o cliente. A filosofia do marketing não é voltada para produzir e vender bens e sim para sentir e reagir ao cliente. O desafio é, assim, descobrir o que o consumidor necessita e, então, criar e oferecer produtos e serviços que atendam a essa necessidade (KOTLER; KELLER, 2012). As empresas orientadas para o Marketing guiam-se pela seguinte forma de agir e pensar: Procuram inteirar-se do que seus clientes desejam e oferecem exatamente o que eles querem. Fazem isto antes dos seus concorrentes e de forma que os seus produtos se tornem diferentes e atrativos para os clientes. www.esab.edu.br 21 Assim, terão clientes satisfeitos e, tendo clientes satisfeitos, terão clientes fiéis. De acordo com Kotler (2000), as empresas orientadas para o Marketing têm uma preocupação constante com os desejos dos clientes. Quando esses desejos mudam, as empresas procuram evoluir, orientando-se pelo que os clientes querem, buscando formas que possam atendê-los. Devido à existência de um mercado cada vez mais competitivo no Brasil, as empresas, de uma forma geral, assim como os vários tipos de organização, a exemplo das escolas, precisam estar constantemente preocupadas com os clientes. Se não puderem atendê-los, um concorrente poderá fazê-lo, e, então, os competidores serão os vencedores. A maioria das pessoas gosta de pizzas, e diversos empresários, conscientes disso, montaram pizzarias. Ocorre que nem sempre as pessoas estão dispostas a ir às pizzarias para saborear seus produtos. Novamente, procurando atender os clientes, estas empresas ofereceram o serviço de Entrega em Domicílio, conhecido por Disk-Pizza. Agora, contudo, estão diante de um novo problema: os clientes não somente querem pizzas entregues em casa, mas pizzas entregues em casa em no máximo 10 minutos após o pedido. É um novo desafio, mas aí já é outra história... Orientação para o marketing holístico Kotler e Keller (2012) acreditam que o marketing atual deve levar em conta a complexidade e, ao mesmo tempo, a amplitude e os efeitos dos próprios programas e ações de marketing. Os autores apresentam o conceito de marketing holístico para denotar uma filosofia de que tudo é importante e que tudo se integra. O marketing holístico é sustentado por quatro pilares essenciais que são o marketing interno, o marketing integrado, o marketing de desempenho e o marketing de relacionamento (Figura 4). www.esab.edu.br 22 Figura 4 – Dimensões do Marketing Holístico Fonte: Kotler e Armstrong (2012) Marketing interno O marketing interno é voltado para os colaboradores da organização. Ele consiste, segundo Kotler e Keller (2012), em contratar, treinar e motivar funcionários para atender bem os clientes. O marketing interno visa ainda assegurar que todos na organização, principalmente a alta gerência, adotem os princípios de marketing adequados. Os autores afirmam que profissionais de marketing inteligentes devem reconhecer que as atividades de marketing dentro da empresa podem ser tão importantes quanto as atividades de marketing dirigidas para fora da empresa — se não mais importantes. Para os autores, não faz sentido a organização tentar obter excelência em serviço antes que a própria equipe esteja pronta para fornecê-la. Assim, o marketing não deve ser visto como uma responsabilidade de um único departamento. Ele deve ser assumido como um compromisso de toda a organização, impulsionando a visão, missão e o planejamento institucional. www.esab.edu.br 23 Marketing de Relacionamento De acordo com os autores, o marketing de relacionamento tem como objetivo construir relacionamentos de longo prazo mutuamente satisfatórios com seus componentes-chave, a fim de conquistar ou manter negócios com eles. Kotler e Keller (2012) explicam que um dos principais objetivos do marketing é, cada vez mais, desenvolver relacionamentos profundos e duradouros com todas as pessoas ou organizações que podem, direta ou indiretamente, afetar o sucesso das atividades de marketing da empresa. Então, os quatro componentes-chave no marketing de relacionamento são os clientes, os funcionários, os parceiros de marketing (canais, fornecedores, distribuidores, revendedores, agências) e os membros da comunidade financeira (acionistas, investidores, analistas). As empresas devem gerar prosperidade a esses componentes e equilibrar os retornos a todos os principais stakeholders. Desenvolver relações sólidas com eles exige a compreensão de suas competênciase recursos, necessidades, metas e desejos. Logo, o marketing de relacionamento resulta no desenvolvimento de um ativo insubstituível da empresa chamado rede de marketing. Essa rede se compõe da empresa e dos parceiros de apoio (clientes, funcionários, fornecedores, distribuidores e varejistas, entre outros) com quem ela construiu relacionamentos comerciais mutuamente compensadores. O princípio operacional pode ser resumido da seguinte forma: construa uma rede de relacionamento efetiva com os principais stakeholders e os lucros virão como uma consequência natural. www.esab.edu.br 24 Marketing integrado O marketing integrado ocorre, de acordo com a visão de Kotler e Keller (2012), quando a organização concebe atividades de marketing e formula programas de marketing voltados a criar, comunicar e entregar valor aos consumidores de tal forma que “o todo seja maior do que a soma das partes”. Para tal, o marketing integrado deve ser baseado em dois princípios fundamentais: (1) diversas atividades de marketing são capazes de criar, comunicar e entregar valor e (2) todo profissional de marketing deve conceber e implementar cada atividade de marketing com todas as demais atividades em mente. Todas as comunicações da empresa também devem ser integradas. Adotar uma estratégia de comunicação integrada envolve escolher opções de comunicação que se reforcem e complementem entre si. Um profissional de marketing deve empregar seletivamente a televisão, o rádio e a propaganda impressa, a assessoria de imprensa e os eventos, bem como as comunicações de relações públicas e via site, de modo que cada elemento dê sua própria contribuição e, ao mesmo tempo, melhore a eficácia dos outros. Além disso, cada qual deve transmitir uma mensagem de marca que seja consistente em cada ponto de contato. A empresa também deve desenvolver uma estratégia de canais integrados, avaliando cada opção de canal por seu efeito direto sobre as vendas do produto e o brand equity, bem como por seu efeito indireto via interações com outras opções de canal. Os profissionais de marketing devem encontrar o equilíbrio certo entre ter canais demais (o que pode levar a conflitos entre os membros do canal e/ou à falta de suporte) e muito poucos deles (o que pode resultar em oportunidades de mercado perdidas). www.esab.edu.br 25 Marketing de desempenho O marketing de desempenho, na visão dos autores supracitados, pressupõe o entendimento dos retornos financeiros e não financeiros para a empresa e para a sociedade a partir de atividades e programas de marketing. Ele envolve os seguintes aspectos: Responsabilidade Financeira: As organizações são cada vez mais solicitadas a justificar seus investimentos em termos financeiros e de rentabilidade, bem como em termos de construção da marca e expansão da base de clientes. Elas empregam uma ampla variedade de indicadores financeiros para avaliar o valor direto e indireto que seus esforços de marketing criam e reconhecem que muito de seu valor de mercado vem de ativos intangíveis, especial- mente marcas, base de clientes, funcionários, capital intelectual e relações com distribuidores e fornecedores. Os indicadores de marketing podem ajudar as empresas a quantificar e comparar seu desempenho de marketing em relação a um amplo conjunto de dimensões. A pesquisa de marketing e a análise estatística avaliam a eficiência financeira e a eficácia de diversas atividades de marketing. Por fim, as empresas podem utilizar processos e sistemas para se certificar de que estão maximizando seu valor a partir da análise desses indicadores. Responsabilidade Social: Considerando-se que os efeitos de marketing transcendem a empresa e o cliente e se estendem para a sociedade como um todo, as empresas devem considerar o contexto ético, ambiental, jurídico e social de sua função e atividade. A tarefa da organização é, portanto, determinar as necessidades, os desejos e os interesses dos mercados-alvo e satisfazê-los de um modo mais eficaz e eficiente do que os concorrentes, sem deixar de preservar ou intensificar o bem-estar dos consumidores e da sociedade no longo prazo. www.esab.edu.br 26 Como vimos, os autores indicam a existência de cinco orientações concorrentes sob as quais as empresas podem fazer negócios: a orientação de produção, a orientação de produto, a orientação de vendas, a orientação de marketing e a orientação de marketing holístico. As três primeiras têm uso muito limitado hoje em dia. As orientações estão relacionadas à uma visão de marketing diferente surgida em contexto específico. www.esab.edu.br 27 Mix de Marketing (ou Composto de Marketing) é o conjunto de ferramentas que a organização utiliza para perseguir seus objetivos de Marketing no mercado-alvo. Essas ferramentas foram historicamente classificadas em quatro grupos amplos, denominados os 4Ps do Marketing: produto, preço, praça e promoção (do inglês product, price, place and promotion). Figura 5 – Os 4Ps do Mix de Marketing Fonte: Kotler e Keller (2012) Os 4Ps foram um termo cunhado, na década de 60, pelo professor Gerome McCarthy, que procurou classificar os elementos de uma maneira que permitisse facilidade de lembrança e popularização do seu conceito. www.esab.edu.br 28 Traduzidos do inglês, os 4Ps foram originalmente definidos e entendidos como: • Product (Produto): o produto deve, com obrigatoriedade, ser o produto desejado pelo cliente, dentro das suas expectativas e que satisfaçam às suas necessidades. • Price (Preço): o cliente procurará um preço justo, que não deve ser nem muito elevado – de modo que o cliente considere que não vale a pena comprá-lo – nem tão baixo que o leve a pensar que há algo de errado com o produto, a ponto de recusá-lo. • Place (Praça, Ponto, Distribuição): o produto desejado com um preço justo deve estar ao acesso do cliente, isto é, num local em que ele possa comprá-lo no momento que desejar. • Promotion (Composto Promocional): há um provérbio popular que diz: “A propaganda é a alma do negócio”, e, realmente, ele tem toda a razão, pois se não divulgarmos o produto aos clientes eles não saberão da sua existência e não poderão adquiri-lo. No entanto, segundo Kotler e Keller (2012), em virtude da abrangência, complexidade e riqueza do marketing — como exemplifica o marketing holístico — claramente esses 4P’s não representam mais todo o cenário atual dos negócios. Para os autores, se os atualizarmos para que reflitam o conceito de marketing holístico, obteremos um conjunto mais representativo que envolverá as realidades do marketing moderno, quais sejam: www.esab.edu.br 29 pessoas, processos, programas e performance. Figura 6 – A evolução da administração de marketing Fonte: Kotler e Keller (2012) As pessoas refletem, em parte, o marketing interno e o fato de que os funcionários são fundamentais para o sucesso do marketing. Este será́ tão bom quanto as pessoas dentro da organização. Também refletem o fato de que as empresas devem ver os consumidores como pessoas e compreender suas vidas em toda sua amplitude, e não apenas como alguém que compra e consome produtos. Os processos refletem toda a criatividade, a disciplina e a estrutura incorporadas à administração de marketing. As empresas devem evitar planejamento e tomada de decisão ad hoc e assegurar que ideias e conceitos avançados de marketing desempenhem o devido papel em tudo o que fazem. Somente com a instauração do conjunto certo de processos a orientar atividades e programas uma empresa pode se envolver em relacionamentos de longo prazo, mutuamente benéficos. Outro www.esab.edu.br 30 importante conjunto de processos leva a empresa a gerar de forma criativa insights e inovações em bens e atividades de marketing. Os programas refletem todas as atividades da empresa direcionadas aos consumidores. Eles englobam os antigos 4Ps e também uma gama de outras atividades de marketingque podem não se encaixar perfeitamente à antiga visão de marketing. Independentemente de serem on-line ou off-line, tradicionais ou não, essas atividades devem ser integradas de tal forma que seu todo seja maior do que a soma de suas partes e que realizem múltiplos objetivos para a empresa. Definimos que performance, assim como o desempenho no marketing holístico, captura o leque de possíveis indicadores de resultado que tenham implicações financeiras e não financeiras (lucratividade, bem como brand equity e customer equity) e implicações que transcendem a própria empresa (responsabilidade social, no contexto jurídico, ético e comunitário). Já Kotler (2017) acredita que o mix de marketing (4Ps) deve ser conectado com o que ele chama de 4Cs: cocriação (co-criation), moeda (currency), ativação comunitária (communal activation) e conversa (conversation). Para o autor, em um mundo conectado, o conceito do mix de marketing evoluiu para acomodar mais participação do cliente. Assim, o autor nos elenca as seguintes redefinições: Do produto para a cocriação. Na economia digital, a cocriação é a nova estratégia de desenvolvimento de produtos. Por meio da cocriação e do envolvimento dos clientes desde cedo no estágio de concepção, as empresas podem melhorar a taxa de sucesso do desenvolvimento de novos produtos. A cocriação também permite aos clientes customizar e personalizar produtos e serviços, criando assim proposições de valor superiores. Do preço para moeda corrente/ precificação dinâmica. O www.esab.edu.br 31 conceito de precificação também está evoluindo na era digital, de padronizada para dinâmica. A precificação dinâmica – estabelecer preços flexíveis com base na demanda do mercado e na capacidade de utilização – não é nova em certos setores, como hospitalidade (turismo, hotelaria e restaurantes) e companhias aéreas. No entanto, avanços na tecnologia levaram a prática para outros setores. Varejistas on-line, por exemplo, coletam uma enorme quantidade de dados que lhes permitem recorrer à análise de big data para oferecer uma precificação única para cada cliente. Assim, a precificação dinâmica permite que as empresas otimizem a rentabilidade ao cobrar de clientes distintos de maneiras diferentes, com base no padrão do histórico de compras, na proximidade das lojas físicas e em outros aspectos do perfil dos clientes. Na economia digital, o preço é semelhante à moeda corrente, que flutua em função da demanda do mercado. Da praça (distribuição) para a comunidade. O conceito de canal também está mudando. Na economia compartilhada, o conceito de distribuição mais potente é a distribuição ponto a ponto. Protagonistas como Airbnb, Uber, Zipcar e Lending Club estão abalando os setores de hotelaria, transporte via táxi, aluguel de carros e bancário, respectivamente. Eles fornecem aos clientes acesso fácil a produtos e serviços que não são de sua propriedade, e sim de outros clientes. A ascensão da impressão 3-D estimulará ainda mais essa distribuição ponto a ponto no futuro próximo. Imagine clientes querendo um produto e, em questão de minutos, recebendo esse produto impresso diante deles. Em um mundo conectado, os consumidores exigem acesso quase instantâneo a produtos e serviços, o que só é viável se as outras pessoas estiverem bem próximas. Essa é a essência da ativação comunitária. Da promoção para a conversa. Da mesma forma, o conceito de promoção também evoluiu nos últimos anos. Tradicionalmente, a www.esab.edu.br 32 promoção sempre foi uma relação unilateral, com as empresas enviando mensagens aos consumidores como públicos passivos. Hoje, a proliferação da mídia social permite aos consumidores reagir a essas mensagens. Também permite que eles conversem sobre as mensagens com outros consumidores. A ascensão de sistemas de avaliação como TripAdvisor e Yelp fornece uma plataforma para que eles possam conversar e oferecer avaliações de marcas com as quais tenham interagido. Com um mix de marketing conectado (os quatro Cs), as empresas têm grandes chances de sobreviver na economia digital. Entretanto, o paradigma da venda também precisa mudar. Tradicionalmente, os consumidores são objetos passivos de técnicas de vendas. Em um mundo conectado, a ideia é que ambos os lados obtenham valor comercial de forma ativa. Com a maior participação do consumidor, as empresas estão envolvendo os clientes na comercialização transparente. www.esab.edu.br 33 Depois de abordarmos ideias elementares relacionadas ao marketing é hora de visualizar uma aplicação práticas de conceitos trabalhados nas unidades anteriores. Conheça mais sobre o mix de marketing lendo o estudo de caso realizados por Dario de Oliveira Lima Filho, Claudia Moreira Borges, Marcel dos Santos Cabral e Rodrigo Arakaki, publicado nos anais do VI SEMEAD. A UTILIZAÇÃO DO MIX DE MARKETING - UM ESTUDO DE CASO NA MCDONALD’S RESUMO: Este artigo aborda a análise do mix equilibrado de marketing da McDonald´s Shopping Campo Grande. Abordam- se os conceitos de produto, preço, promoção/propaganda e ponto de venda, em um estudo de caso. A conclusão é que a McDonald´s utiliza, de forma eficiente, o composto de marketing da seguinte forma: os clientes são pouco sensíveis a preços, a empresa oferece uma maior variedade de produtos para atender ao seu público-alvo, possui uma localização privilegiada que, juntamente com a promoção e propaganda, auxilia a organização na conquista de uma maior competitividade no setor de varejo de alimentos. Palavras-Chave: McDonald´s, marketing, varejo, fast-food ESTUDO COMPLEMENTAR www.esab.edu.br 34 INTRODUÇÃO O varejo vem apresentando, nas últimas décadas, um papel cada vez mais importante no cenário econômico brasileiro e mundial, e um número crescente de empresas varejistas aparece na relação das maiores empresas do Brasil. O volume anual de vendas do setor varejista brasileiro é superior a R$ 100 bilhões, movimentado por mais de 1 milhão de lojas e responsável por mais de 10% do PIB nacional. Dentre os inúmeros setores do varejo, pode-se destacar o setor de alimentos, que apresenta grande expressão nacional. As lojas de varejo alimentar por auto-serviço (supermercados e hipermercados) e as lojas de varejo alimentar tradicionais possuem um volume de vendas de aproximadamente R$ 64,5 milhões, o que representa cerca de 6,45% do PIB nacional (Parente, 2000:20 e 21). Este estudo é voltado para a franquia de restaurantes da rede McDonald´s, utilizando-se para análise a loja localizada no Shopping Campo Grande. A escolha da empresa se deve a inúmeros fatores como o padrão QSL&V (qualidade, serviço, limpeza e valor), que é “símbolo universal de performance no ramo de fast-food” (Love, 1996 apud Fontenelle, 2002); a padronização que atinge todos os processos, desde o manejo da matéria-prima até o produto final, englobando até mesmo normas a serem seguidas no atendimento ao cliente; e principalmente, o valor da marca que a empresa adquiriu ao longo dos anos. O presente artigo buscou identificar como a loja McDonald´s Shopping Campo Grande utiliza os 4P´s (produto, preço, promoção/propaganda e ponto de venda), os quais funcionam como fatores-chave de sucesso e apontam caminhos para um melhor aproveitamento de marketing. REVISÃO DE LITERATURA Produto Na literatura, encontram-se definições muito próximas de produto. De acordo com Kotler (1998:383), “produto é algo que pode ser oferecido a um mercado para satisfazer a um desejo ou necessidade”. Por sua vez, Nickels e Wood (1999:162) definem produto como “um bem ou serviço ou uma ideia que um consumidor adquire através de uma troca de marketing para satisfazer uma necessidade ou um desejo.” Hoje, a exigência dos clientes em relação à qualidade aumentou muito, e as empresas que não conseguirem manter um padrão de qualidade em sua produção perdem competitividade frente à concorrência. O sucesso de uma organização pode ser influenciado por vários fatores,e a superação das expectativas dos clientes em relação a produtos e serviços pode ser um item de grande valor em um mercado competitivo, sendo por isso necessária a cuidadosa escolha do mix de produtos, planejada para interagir adequadamente com as outras variáveis do mix varejista (Parente, 2000:183). Para a empresa tornar-se competitiva deve criar produtos que acrescentem valor para o consumidor, como afirma Levitt (1969) apud Kotler (1998:384): www.esab.edu.br 35 “a nova concorrência não está entre o que as empresas produzem em suas fábricas, mas entre o que acrescentam a seus produtos na forma de embalagem, serviços, propaganda, sugestões do consumidor, financiamento, condições de entrega, armazenagem e outras coisas que as pessoas valorizam.” As empresas varejistas normalmente trabalham com uma vasta gama de produtos. Desta forma, estes produtos devem ser classificados de maneira hierárquica para facilitar a gestão do mix. Algumas padronizações referentes ao sistema classificatório dos produtos começam a surgir decorrentes da disseminação dos conceitos de gestão de categorias. Uma maneira de departamentalizar o composto de produtos é através da classificação em: departamentos, categorias, subcategorias, segmentos, subsegmentos e o item específico (Parente, 2000). Kotler (1998) menciona que a classificação dos produtos pode ser feita quanto à durabilidade (bens duráveis, não-duráveis e semiduráveis), quanto à disponibilidade (bens de conveniência, de compra comparada, de especialidade) e quanto à tangibilidade (tangíveis e intangíveis), auxiliando os varejistas a hierarquizar os produtos dentro das diversas categorias e ajudando também na identificação do comportamento de compra dos clientes. Conforme Parente (2000), o varejista deve considerar alguns aspectos estratégicos para orientar suas decisões referentes ao seu mix de produtos, como amplitude e profundidade, preço e qualidade, marcas próprias e política de marcas e a importância ou papel da categoria. Ressalte-se que as decisões do mix varejista, como as que são tomadas a respeito da localização, seleção de mercadorias, serviços oferecidos aos clientes, preço e atividades promocionais acabam convergindo para a loja, ou seja, as características físicas e comodidades que atraem e satisfazem necessidades de compra dos clientes (Boone & Kurtz, 1998). Preço A variável preço é de grande importância para o varejista, na concepção de Parente (2000:160): “De todas as variáveis do marketing mix, a decisão preço é aquela que mais rapidamente afeta a competitividade, o volume de vendas, as margens e a lucratividade das empresas varejistas”. Kotler (1998:435) reforça ainda mais a importância do preço numa organização quando afirma que “o preço é o único elemento do composto de marketing que produz receita; os outros elementos geram custos”. www.esab.edu.br 36 A empresa pode estabelecer o preço de seus produtos, ao se basear em três objetivos principais: objetivo de vendas, objetivo de imagem de preço e objetivo de lucro. Geralmente, as empresas estabelecem seus preços visando a maximizar seus lucros, obter retorno sobre investimento, margem sobre venda ou manter o status quo. Nickels e Wood (1999:222) apontam que “(...) o valor é a razão entre os benefícios percebidos e o preço percebido.” Assim, a definição da política de preços também deve levar em consideração alguns aspectos relativos ao comportamen- to do mercado consumidor, como a elasticidade que reflete a sensibilidade dos clientes às alterações de preço, e o estudo dos segmentos de mercado o qual permite o conhecimento das principais características dos consumidores, como, por exemplo, se são orientados para o custo ou benefício (Pa- rente, 2000:165 e 166). Outro fator que influencia na determi- nação do preço é a exclusividade do produto, pois produtos exclusivos apresentam pouca sensibilidade a alteração de preço (Parente, op. cit.:170). Promoção e Propaganda O mix de marketing ou composto promocional deve ser usa- do não só para atrair os clientes para aloja, mas também para motivá-los à compra. Entretanto, é necessário que o consumidor saiba com antecedência da existência da organi- zação, quais são os produtos que ela oferece e seus respec- tivos preços, a qualidade dos produtos e outras informações que são necessárias para sensibilizar o cliente. Parente (2000: 243) cita as mais relevantes vantagens dos principais meios de divulgação: • Propaganda: atração de grande audiência; baixo custo por leitor, telespectador ou ouvinte; numerosas alternativas de mídia; padronização do conteúdo da mensagem, tempo e duração do anúncio; na mídia impressa, o leitor pode anali- sar o anúncio com maior atenção; o contexto editorial ajuda o anúncio; e ocorre a redução dos custos operacionais no varejo, pois o ouvinte fica sabendo dos produtos antes da compra. • Promoção: geralmente, é um apelo visual que capta a atenção do cliente; os temas e ferramentas podem ser dis- tintos; o consumidor deve receber algo de valor, como um cupom ou mercadoria gratuita; ajuda a incrementar o tráfego e mantém a lealdade do varejista; aumenta as compras por impulso e clientes podem divertir-se, principalmente com de- monstrações e degustações. www.esab.edu.br 37 • Publicidade: sem custo para o varejista; alta credibili- dade para o consumidor; difícil de ser retaliada pela concor- rência; ajuda a criar uma imagem favorável de longo prazo; audiência massificada; e uma fonte objetiva desperta muita atenção dos consumidores. O composto promocional deve ser informativo e persuasivo (tentando convencer os consumidores sobre a superioridade dos produtos ou serviços), como também pode simplesmen- te reforçar a comunicação empresa-cliente. Esses objetivos podem ser de curto prazo quando visam a aumentar o de- sempenho de vendas ou de longo prazo, mais voltado para promover a loja institucionalmente. A publicidade pode ser definida como uma “ferramenta de relações públicas consistindo na comunicação positiva ou negativa referente à atividade do varejista, indireta, impesso- al, vinculada por uma mídia de massa e não-paga nem credi- tada a nenhum responsável.” (Lewison, 1997 apud Parente, 2000). Boone & Kurtz (1998:415) argumentam que “a propaganda tenta condicionar o consumidor a adotar um ponto de vista favorável em relação à mensagem promocional. O objetivo é aumentar a probabilidade de o consumidor comprar um determinado produto ou serviço.” Já a promoção de vendas na visão do mesmos autores são as “atividades de marketing que não constituam venda pessoal, propaganda e publicida- de, e que incremental a compra pelo consumidor e a eficácia do distribuidor.” Ponto de Venda Com relação ao ponto de vendas, a tomada de decisão en- volverá dispêndios fixos que muitas vezes são elevados, além de demandarem tempo, recursos e esforços no caso de uma reversão na escolha de uma localização mal sucedida. Parente (2000:332) aponta três alternativas de tipos de loca- lização: centro comercial não planejado, centro comercial pla- nejado e loja isolada. Os centros comerciais não planejados são pontos que tiveram sua evolução espontânea por algum motivo, como por exemplo proximidade do mercado consu- midor, e que não foi programado. Já os centros comerciais planejados foram anteriormente projetados com um objetivo, como oferecimento de produtos específicos e variados. As lojas isoladas ou Free Standing, não possuem outras lojas vizinhas para aumentar sua atratividade, podendo estar em avenidas ou outros pontos de grandes fluxos de pessoas, ou por outro motivo estratégico. Podemos analisar no quadro 1 os pontos e tipos de cada um deles sob a visão de Parente (2000:337) e Kotler (1998:507): www.esab.edu.br 38 Quadro 1 - Tipo de Localizações. Localizações Tipos 1. Centro Comercial Não Planejado • Centro comercial: complexo comercial mais importante da cidade com grande varie- dade de lojas. • Bairro: grandevariedade de tipos e ra- mos varejistas de compra comparada e/ou de conveniência • Vizinhança: junção de pequenas lojas de conveniência Característica em comum: consumidores de menor renda 2. Centro Comercial Planejado • Shopping centers*: conglomerado de lojas em um espaço físico determinado, com o intuito de formar um complexo comercial inte- grado, oferecendo, linhas de produtos variadas e complementares. Os shopping centers po- dem ser: regionais (grande porte, possuindo complexo de lojas que oferecem mercadorias em geral), comunitário (porte médio com me- nor sortimento de lojas em relação ao regio- nal), vizinhança (menor porte, com lojas de conveniências para atender necessidades do dia-a-dia), especializado (especializado em uma determinada linha de produtos), os outle- ts centers (shopping contendo lojas dos pró- prios fabricantes) e o festival center (são os localizados em áreas turísticas) 1. Loja Isola-da • Podem ser de grande, média ou peque- no porte. Fonte: Elaborado pelos próprios autores, com dados de PA- RENTE (2000) e KOTLER (1998) * Os shopping centers são os mais importantes na área de centros comerciais planejados, mas não são os únicos. Podemos notar que, dependendo do ramo e porte da loja va- rejista, um determinado ponto de venda não se adequa às suas “necessidades de localização”. Esses talvez sejam os primeiros fatores a serem considerados para escolha de um bom ponto. www.esab.edu.br 39 Outro fator que é necessário considerar é o de acessibilidade da loja para seus clientes. Neste quesito, devemos nos ater aos meios de locomoção que poderão ser utilizados pelos clientes para chegar até a loja e, dependendo dos resultados, o varejista poderá facilitar (por exemplo, disponibilizando estacionamento) ou criar (por exemplo, linha de ônibus que passe perto da loja) meios que induzam o cliente ao consumo de produtos ou servi- ços. Porém, em algumas lojas, a acessibilidade pode não ser tão relevante para os clientes, como argumenta Parente (2000:112): “Produtos de marcas sofisticadas que possuem características únicas, motivam os consumidores a despender grandes esforços e a percorrer grandes distâncias para a sua aquisição”. Almeida (1997:36) afirma que “... a escolha da localização de novas lojas ganha importância estratégica”, no que vemos a se- riedade de se tomar tal decisão, podendo ser um dos pontos que colocará a empresa no rumo do sucesso ou mesmo irá determinar seu fracasso. METODOLOGIA Esta pesquisa pode ser classificada, quanto aos fins, como ex- ploratória e descritiva (Vergara, 2000). Exploratória, porque “visa prover os pesquisadores de maior conhecimento sobre o proble- ma da pesquisa em perspectiva.” (Mattar, 1999:80), por meio do estudo de caso, e descritiva, dado que se estabeleceu um objetivo bem definido, adotou-se procedimentos formais na coleta de da- dos e em sua avaliação, e ainda buscou-se determinar alternati- vas de cursos de ação para a empresa que foi objeto da pesquisa (Mattar, 1999). Inicialmente, realizou-se um levantamento bibliográfico, buscan- do-se determinar quais trabalhos já haviam sido realizados por outros pesquisadores abordando a mesma problemática deste estudo. Assim, foram pesquisados livros, revistas especializadas e informações publicadas pela empresa analisada. Após esta etapa, partiu-se para a coleta de dados primários. Os meios utilizados para tanto foram a entrevista pessoal individual com a gerência intermediária do restaurante (utilizando um roteiro pré-definido de questões), e a observação não disfarçada e não estruturada, que permite “grande flexibilidade para analisar os comportamentos e situações em observação.” (Mattar, 1999:181). ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Segmentação de Mercado O estudo dos segmentos de mercado que a empresa deseja dire- cionar suas ações é de fundamental importância, pois, conhecen- do seu público alvo, ela poderá desenvolver melhores estratégias que visem a satisfazer às necessidades e desejos desse merca- do. Kotler (1998:37) afirma que “nenhuma empresa pode operar em todos os mercados e satisfazer a todas as necessidades. www.esab.edu.br 40 Nem pode fazer um bom trabalho dentro de um mercado muito amplo(...)”. Portanto, “as empresas trabalham melhor quando definem cuidadosamente seu(s) mercado(s)-alvo(s) e preparam um programa de marketing sob medida.” (Kotler, op. cit. Idem). Fontenelle (2002:193) apresenta sua contribuição ao afirmar que“(...) uma imagem de marca, apesar de ancorada nos valores sociais mais amplos de uma época, precisa projetar, mais diretamente, os valores e o modo de vida de um deter- minado público que ela deseja atingir”. No caso da Corpora- ção McDonald´s, seu público-alvo é constituído por famílias de classe média e especialmente crianças. Fontenelle des- creve as ações da empresa para superar as expectativas de seu público-alvo (op. cit.:141): “(...) a loja assume áreas de um ‘mundo encantado’: é um ambiente arquitetado para passar diversão, ornado com todos os símbolos da McDonald´s: os arcos dourados, os jingles mais importantes, as pegadas de Ronald McDonald´s que conduzem o visitante ao longo da loja e a exibição dos acontecimentos memoráveis da história da companhia em Gabinetes de Nostalgia.” A empresa tem uma grande preocupação com o público infantil, alugando espaço para a realização de festas de ani- versários com teatros de fantoches e oferecendo também produtos especiais, como o McLanche Feliz, que vem acom- panhado de brindes. Produto A análise em torno dos produtos da empresa McDonald’s deve considerar a classificação da estrutura física (a loja) como um produto. A organização, além de apresentar uma variedade de bens físicos, fornece também uma série de serviços a seus clientes, como, por exemplo, o esforço pela busca de qualidade em seus produtos. Essa busca é inces- sante. A vistoria é rigorosa em procedimentos de fabricação, transporte e armazenagem dos ingredientes para o preparo dos produtos. Tal intensidade pode ser comprovada pela construção da Food-Town, local onde estão situadas três em- presas parceiras e fornecedoras da McDonald’s. O aspecto físico da loja é segue o padrão da empresa ado- tado em todo o mundo. Suas cores mais vibrantes (vermelho e amarelo), são as cores mais utilizadas no ramo alimentício, sendo que ambas apresentam algum tipo de mensagem rela- cionada à rapidez e apetite. Além da utilização das cores, a empresa mantém uma boa iluminação e ótima limpeza, utilizando-se também dos odores exalados pelo preparo dos alimentos para estimular os senti- dos dos clientes. A boa exposição dos cartazes e das placas, que apresentam quais são os produtos e preços, facilitam a comunicação e o processo de compra. www.esab.edu.br 41 Os produtos da empresa são classificados como bens não-du- ráveis, de especialidade, e com marca própria, o que garante uma maior fidelização dos clientes da empresa. No que tange à amplitude do mix desses produtos, a análise revela que se trata de amplitude estreita, tendo um pequeno número de categorias (sanduíches, bebidas, sobremesas e acompanhamentos). A pro- fundidade é pequena, apresentando uma variedade pequena de produtos dentro da mesma categoria (acompanhamentos: batatas fritas pequenas, médias e grandes). É interessante notar que, no surgimento da McDonald’s, a linha de produtos era mais enxuta que hoje, possuindo ao todo dez itens. Hoje esse número já está ultrapassado sendo a inovação um diferencial para empresa. Os novos produtos são desenvolvi- dos por um departamento de pesquisa e desenvolvimento, situado em São Paulo (capital), e testados em uma loja experimental na mesma cidade. A McDonald’s não permite inovações dos produtos por parte dos franqueados, mantendo assim o controle dos produ- tos nas mãos da franqueadora. A análise revela também que produtos dentro da categoria acom- panhamentos e da categoria bebidas são, geralmente, consumi- dos com os produtosda categoria sanduíches, sendo bens de complementaridade. Essa estratégia visa a aumentar as vendas da empresa, como afirma Parente (2000:198): “Os consumidores são menos sensíveis ao preço de produtos complementares”. No que diz respeito ao atendimento, pode-se analisá-lo como um “produto”, sendo ele constituído de três componentes: bens físicos, serviços e ideias (Kotler, 1998:28). A presente pesquisa re- velou que a McDonald’s possui uma meta de atendimento a cum- prir, que é de 45 (quarenta e cinco) segundos. A meta proposta vem sendo superada pela empresa de Campo Grande, que vem obtendo valores entre 39 e 41 segundos. O foco no cliente faz a empresa primar pela qualidade, a qual é transmitida através da higiene e da agilidade no atendimento. Qualquer sombra de dúvi- da a respeito da qualidade do produto faz com que o mesmo não seja aceito pela empresa como um bem apto para o consumo. Como a organização trabalha com produtos de marca própria, consegue atrair um público fortemente fiel; sua imagem melhora criando uma vantagem competitiva em relação aos seus concor- rentes. Concluiu-se, por meio deste estudo, que a maioria das compras são não-planejadas, ou seja, ocorrem durante o proces- so de compra. Os sanduíches, por serem a especialidade da empresa, são con- siderados como categoria de destino; a categoria de bebidas é classificada como rotineira, pois se nota que é de costume o con- sumo dos produtos desta categoria com a de destino. Já a cate- goria de sobremesas e acompanhamentos desempenham o papel de categoria de conveniência e ocasional respectivamente, pois a capacidade de atração é baixa para a categoria de sobremesas e média para a categoria de acompanhamentos, com exceção de sorvetes (sobremesas) e batatas-fritas (acompanhamentos) que possuem uma elevada capacidade de retenção dos clientes. www.esab.edu.br 42 Preço O preço dos produtos McDonald´s é cuidadosamente estudado, sendo estabelecido por uma corporação central em cada país no qual a rede se instala. Seu preço é padrão para todas as regiões desses países, com exceção de algumas cidades como Manaus, em que o produto tem um preço diferenciado devido ao custo de logística das matérias-pri- mas. A McDonald´s Shopping Campo Grande pratica um preço médio de mercado e tem como objetivo manter uma certa paridade com seus concorrentes ou, um diferencial aceitável em relação aos mesmos. Um de seus objetivos de preço é manter o status quo; isso significa que a empresa está satisfeita com seus resultados e não quer modificar a situação de seus preços ou o equilíbrio competitivo que possa existir. Com relação ao valor e posicionamento estratégico da empresa po- de-se constatar que, em seu último aumento de preço, a variação nas vendas foi menor que a porcentagem do aumento; isso mostra que a demanda dos clientes é inelástica. Um dos possíveis motivos dessa inelasticidade é o fato de que os clientes da empresa estão satisfeitos com o produto que lhes é oferecido e se dispõem a pagar um pouco mais pelo conjunto de benefícios que a loja oferece, pois como argu- menta Fontenelle (2002: contracapa) “... o que a marca McDonald´s menos vende é comida”, ou seja, o consumidor ao adquirir um sandu- íche do restaurante está comprando “a sensação” da marca McDonal- d´s. Esses clientes podem, pois, ser classificados como orientados para o benefício. A estratégia de precificação adotada pela McDonald´s é a de valor e benefício alto que consiste em adotar um preço médio e oferecer uma gama diversificada de benefícios aos clientes. As táticas de preço ado- tadas pela empresa são as seguintes: Preço Alto-Baixo: consiste em oferecer descontos em determinados produtos anunciados e depois retornar ao preço normal. É o que acon- tece durante os períodos de promoção. Preço Único: cobra o mesmo preço por produto para todos os consu- midores, não permitindo a prática do desconto. Preço “Costumeiro”: procura manter o preço no mesmo patamar por um longo período de tempo. É o que ocorre com os produtos tradicio- nais como o BigMac e as McOfertas. Preço de “Pacote”: é um preço diferenciado com desconto, quando o cliente adquire uma série de itens de produtos. Um exemplo disso são as McOfertas em que o cliente adquire um “pacote completo” contendo um sanduíche, batatas-fritas e refrigerante no tamanho médio e acres- centando-se R$ 1,00, o consumidor pode levar batatas e refrigerante grande. Nota-se que essa estratégia de adicionar R$ 1,00 é influencia- da pelo comportamento de compra do consumidor que, muitas vezes, adquire esses itens por impulso, em resposta a um repentino estímulo que é dado pelos próprios atendentes da loja. Preço da Marca Própria: preço padrão dos produtos McDonald´s que refletem a relação benefício x custo oferecido aos clientes. Apesar da diversidade das táticas de preço, o restaurante apresenta restrições com relação às formas de pagamentos, só aceitando paga- mento à vista. www.esab.edu.br 43 Promoção e Propaganda O setor varejista é o que mais investiu em mídia nos últimos tempos, (Paren- te, 2001:248), sendo o jornal (53%) e a TV (41%) os artífices mais utilizados como meio de divulgação (Ibope..., 2000). A McDonald’s é cotada como a 29ª maior anunciante no setor varejista (Idem. Ibidem), mostrando a importân- cia para a empresa em se comunicar/projetar no mercado utilizando esses recursos, pois mesmo sendo a número um do mundo em reconhecimento (McDonalds..., 1999), ela trabalha sua imagem no sentido de informar so- bre produtos lançados constantemente, em épocas pré-determinadas, sobre ações sociais promovidas para benefício da comunidade, bem como reforçar a marca para salientar que a McDonald’s existe para satisfazer as necessida- des de alimentação de quem quer que seja. Os meios de propaganda mais utilizados segundo a entrevista com a gerência são: propaganda dentro da própria loja, televisão, rádio, outdoors, multimí- dia, luminosos em pontos estratégicos (backlight), internet e revista. A rede não delimita seus meios de divulgação, pois dependendo do objetivo, da mensagem a transmitir e do público a atingir, um específico meio é utilizado. Por exemplo: é lançado um novo pacote promocional para o público infantil e o meio mais eficiente de divulgar essa novidade, segundo a gerente de marketing, seria talvez com um comercial na TV e principalmente recursos visuais bem atrativos na entrada da loja. Essa possibilidade de escolha se dá simplesmente porque a empresa possui recursos disponíveis para este deter- minado fim e porque uma mesma propaganda favorece todas as lojas, distri- buídas em diversos locais, diminuindo o custo consideravelmente para cada franqueado. Mesmo sendo o jornal um dos meios mais utilizados de divulgação no setor varejista, a empresa não se utiliza deste meio como forma de se promover junto à sociedade (pelo menos para a loja onde delimitou-se a pesquisa). As formas mais utilizadas são recursos áudio- visuais dentro da própria loja, através de cartazes, banners, faixas contendo ofertas, sinalizações junto ao caixa, enfim, uma variedade de artifícios para atrair a atenção. Toda a loja é revestida desse tipo de recurso, contendo o nome do produto, o preço e muitas vezes a ilustração para que o cliente veja, de forma antecipada, as formas e os detalhes de sua futura refeição (o tamanho também é visualizado automaticamente, e nota-se que o tamanho é valorizado para dar mais ên- fase a mercadoria). Como já mencionado, os consumidores do McDonald’s fazem suas compras por impulso e de forma não planejada, ou seja, todos os artifícios só reforçam e incentivam o consumidor a efetivar a compra. Mesmo querendo comprar um só produto, o consumidor se sentir atraído a efetivar outras compras, principalmente se o custo versus benefício apresentar uma boa relação. Em promoção de vendas, a McDonald’s realiza, com custeio próprio, o ofe- recimento de brindes em formato de brinquedos, associados a produtos em promoção ou lançamentos, incentivandoos clientes a ampliarem suas com- pras ou estimular outros, (Parente, 2001:267). O fast-food aproveita datas comemorativas e eventos especiais ao longo do ano para fazer promoções de vendas, oferecendo produtos diferenciados com o intuito de aumentar o volume de vendas. Um exemplo claro se dá nos meses de julho, novembro e dezembro, época de férias escolares. www.esab.edu.br 44 Na divulgação envolvendo publicidade, nota-se que o McDia Feliz é responsável por criar uma ótima imagem na imprensa, que divulga as boas ações da empresa principalmente para com as crianças com câncer, que são beneficiadas com as doações. A loja de Campo Grande não só participa destes acontecimentos que são de nível nacional, como contribuem também com ações de cunho regional. Ponto de Venda Determinar a localização de uma nova loja, muitas vezes, torna-se um trabalho de extremo cuidado, pois uma má localização pode ser fatal para a empresa, comprometendo toda uma estrutura an- tes montada, organizada e planejada. A rede McDonald’s, ciente deste fato, é quem faz o rastreamento da região onde se instalará a nova franquia, e escolhe o melhor ponto para o franqueado. A análise do melhor ponto de vendas é minuciosamente feita, levando-se em conta todos os fatores influentes e não influentes diretos no negócio. A decisão de se instalar no shopping Campo Grande, classificado como shopping regional, é porque a popu- lação da cidade já o tem como ponto de encontro, onde os con- sumidores podem realizar compras rotineiras (supermercados), compras não-rotineiras (confecções, calçados, celulares, presen- tes), busca por entretenimento (cinema, play center), consulta por serviços (banco, Detran, vídeo locadora, conserto de calçados, acesso à internet), procura por novidades e por refeições (praça de alimentação). Sendo o shopping esse conglomerado de lojas varejistas, o que interessa particularmente a este estudo é a cha- mada praça de alimentação. Ao se isolar a praça de alimentação, pode-se perceber que se tra- ta, de uma “loja dentro de uma área comercial”, pois segmentan- do as lojas do shopping center em ramos de atividades, todas as lojas da praça se aglutinariam e formariam uma “loja” com o intui- to de oferecer alimentação aos consumidores. Ela possui um alto poder de retenção de clientes para a área comercial, pois não só oferece o “prazer de comer” num ambiente agradável e higiênico, com lojas especializadas e produtos diferenciados, mas também proporciona um processo de aproximação e integração entre as pessoas, servindo de ponto de encontro principalmente nos finais de semana. Não é, pois, por acaso a existência de um estaciona- mento exclusivo para a praça, um espaço planejado para a circu- lação e parada rápida para refeições. O restaurante da McDonald’s está bem posicionado na praça de alimentação, considerando que em qualquer acesso ao local, é possível a visualização da loja: pelo acesso via shopping-praça, a visualização da fachada é instantânea (pelo fato de estarem frente uma da outra), despertando o interesse e curiosidade dos tran- seuntes por estar bem visível a frente da empresa, com faixas, banners, e até mesmo pelo nome da franquia estar representado com cores fortes (como o amarelo e o vermelho), e além do aces- so via estacionamento, que pode ser visualizado através de ban- ners masters no espaço reservado para os clientes que queiram fazer suas refeições em um local mais reservado. www.esab.edu.br 45 Há facilidade para se locomover até a McDonald’s. Existem vários meios de transportes que podem ser utilizados até o shopping center, o estacionamento é amplo, tendo capacidade para 2160 vagas (ABRASCE, 1999 apud Parente, 2000), além de várias linhas de ônibus que fazem a rota de bairros distantes até o local. O restaurante está muito bem localizado, e mesmo se não estivesse, Parente (2000:337) afirma: “O McDonald’s é um exemplo de loja que vem conseguindo sucesso em todos os tipos de localização. Algumas de suas unidades estão nas zonas comer- ciais do centro da cidade ou de bairro, outras em shopping centers e junto a hipermercados, e ainda outras como unidades isoladas.” A marca McDonald´s é que faz com que isso seja possível, pois as pessoas estão dispostas a despenderem grandes esforços e a percorrerem grandes distâncias para aquisição dos produtos oferecidos pela empresa, os quais possuem características únicas, sendo de exclusividade da empresa (Parente, 2000:112). CONCLUSÃO / LIMITAÇÕES Através do estudo realizado, constatou-se que a McDonald´s Shopping Cam- po Grande utiliza de forma eficiente o mix equilibrado de marketing. A fabrica- ção de seus produtos é rigorosamente padronizada visando à qualidade, além da inovação que é constante, sendo lançados periodicamente novos produtos. Sua estrutura de preço é cuidadosamente estudada pela franqueadora, que desenvolve políticas, estratégias e táticas de preço bastante competitivas as quais, devido à inelasticidade da demanda dos consumidores, não exercem grande influência nas vendas, mesmo quando ocorre um aumento nos preços. O reconhecimento mundial da marca McDonald´s se deve a um programa de marketing bem feito e elaborado à base de pesquisas científicas, fazendo com que, durante quase 50 anos, a empresa se firmasse como a nº 1 no ramo de fast-foods. A localização de cada restaurante é feita baseada em estudos na região pre- estabelecida e, mesmo que ela esteja em lugares distantes, isso não influi em termos de vendas. Apesar de todas essas qualidades, a McDonald´s possui práticas que devem ser mencionadas: não conseguir adaptar o seu método de produção para a elaboração de produtos de acordo com o pedido do cliente e falta de opções nas formas de pagamentos, podendo implicar a não efetivação da compra. Para o desenvolvimento deste artigo, as principais dificuldades foram com relação à obtenção de dados referentes ao perfil dos clientes da franquia localizada no Shopping Campo Grande, pois a rede McDonald´s não divulga tais dados, e a direção do shopping não permite a aplicação de questionários em suas dependências, sendo limitada a pesquisa em dados bibliográficos e entrevistas com a gerência da empresa. No presente artigo, utilizou-se o público-alvo da rede McDonald´s, pois não se obteve autorização da gerência da loja estudada, nem mesmo do local onde está localizada a franquia para realização de questionários visando a conhe- cer o perfil dos consumidores da empresa. O foco desta pesquisa não possibilitou a análise de toda a rede instalada em Campo Grande (drive-in e quiosques), nem mesmo qualificar sua influência e impactos na percepção do cliente frente à marca, nem fazer comparação na utilização dos P´s entre a empresa pesquisada frente a seus concorrentes, abrindo-se então caminhos para futuras pesquisas. Estes fatores não foram cedidos pela empresa, mas entre eles se encon- trariam os fatores econômicos, sociais, culturais e políticos da região em que será implantada a loja. www.esab.edu.br 46 Ferreira Júnior (2017) discute sobre a evolução do marketing. O autor nos lembra que o conceito de marketing é relativamente novo em nossa sociedade. A sua evolução se deu no período pós- Segunda Guerra Mundial. Nessa época, com o final do conflito ainda recente, teve início uma forte competição empresarial para aquisição de novos mercados. Essa competição foi tão acirrada que, segundo o autor, pode-se dizer que que os campos de batalha migraram da guerra entre países para a guerra entre grandes corporações. Isso demandava novos desafios, os quais impunham esforços para a obtenção de mais receitas e, consequentemente, de lucros. Os produtos fabricados pelas organizações dessa época traziam embutidos em si qualidade e preços relativamente competitivos, mas faltava algo que os realmente direcionasse para o lado final da cadeia produtiva, ou seja, o consumidor ou cliente: era necessário entendê-lo, satisfazê-lo e até mesmo antecipar os seus desejos.
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