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TESE_EsporteExperiênciaEstética_Silva_2014

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Prévia do material em texto

NATAL/RN
2014
LIEGE MONIQUE FILGUEIRAS DA SILVA
Esporte
como experiência
estética e educativa:
uma abordagem
fenomenológica
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
ESTRATÉGIAS DO PENSAMENTO E PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO 
NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E 
TECNOLOGIA 
ESTRATÉGIAS DO PENSAMENTO E PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO 
 
 
 
 
 
LIEGE MONIQUE FILGUEIRAS DA SILVA 
 
 
 
 
 
Esporte como experiência estética e educativa: Esporte como experiência estética e educativa: Esporte como experiência estética e educativa: Esporte como experiência estética e educativa: 
uma abordagem fenomenológicauma abordagem fenomenológicauma abordagem fenomenológicauma abordagem fenomenológica 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL – RN 
2014 
LIEGE MONIQUE FILGUEIRAS DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
Esporte como experiência estética e educativa: Esporte como experiência estética e educativa: Esporte como experiência estética e educativa: Esporte como experiência estética e educativa: 
uma abordagem fenomenológicauma abordagem fenomenológicauma abordagem fenomenológicauma abordagem fenomenológica 
 
 
 
 
 
 
 
Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação 
em Educação da Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte como requisito parcial para 
obtenção do título de doutor em Educação, sob a 
orientação da Profa. Dra. Karenine de Oliveira 
Porpino. 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL – RN 
2014 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Catalogação da Publicação na Fonte. 
UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA 
 
Silva, Liege Monique Filgueiras da. 
Esporte como experiência estética e educativa: uma abordagem 
fenomenológica/ Liege Monique Filgueiras da Silva. - Natal, RN, 2014. 
189 f. : il. 
 
Orientadora: Profa. Dra. Karenine de Oliveira Porpino. 
Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Federal do Rio Grande do 
Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Programa de Pós-graduação em 
Educação. 
 
 
1. Esporte – Tese. 2. Educação física - Tese. 3. Estética – Tese. 4. Corpo – 
Tese. I. Porpino, Karenine de Oliveira. II. Universidade Federal do Rio Grande 
do Norte. III. Título. 
 
RN/BS/CCSA CDU 796.01:37 
LIEGE MONIQUE FILGUEIRAS DA SILVA 
 
 
Esporte como experiência estética e educativa: Esporte como experiência estética e educativa: Esporte como experiência estética e educativa: Esporte como experiência estética e educativa: 
uma abordagem fenomenológicauma abordagem fenomenológicauma abordagem fenomenológicauma abordagem fenomenológica 
 
 
Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação 
em Educação da Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte como requisito parcial para 
obtenção do título de doutor em Educação, sob a 
orientação da Profa. Dra. Karenine de Oliveira 
Porpino. 
 
 
Aprovado em: _____ / _____ / _____ 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
___________________________________________________ 
Dra. Karenine de Oliveira Porpino – UFRN (Presidente da banca) 
 
_______________________________________________________ 
Dra. Terezinha Petrucia da Nóbrega – UFRN (Examinadora interna) 
 
_______________________________________________________ 
Dr. José Pereira de Melo – UFRN (Examinador interno) 
 
_______________________________________________________ 
Dr. Iraquitan de Oliveira Caminha – UFBP (Examinador externo) 
 
_______________________________________________________ 
 Dr. Edilson Fernandes de Souza – UFPE (Examinador externo) 
 
_______________________________________________________ 
Dr. Eduardo Anibal Pellejero - UFRN (Suplente interno) 
_______________________________________________________ 
Dra. Elaine Melo de Brito Costa - UEPB (Suplente externo) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos meus pais e a minha orientadora 
Karenine Porpino, pelo apoio incondicional, 
força e confiança sem igual. A vocês, minha 
eterna gratidão, admiração, amor e respeito. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ao quebrar o silêncio a linguagem realiza o que o 
silêncio pretendia e não conseguiu obter. 
 
Maurice Merleau-Ponty 
Agradecimentos 
 
 
Embora a elaboração de uma tese seja, pela sua finalidade acadêmica, um 
trabalho autoral, esta escrita está longe de ser o resultado de uma atividade 
individual. Certamente, ela se concretizou com a colaboração de inúmeras pessoas, 
que, de modos diferentes, foram importantes para que eu conseguisse chegar até 
aqui. E, por essa razão, desejo expressar os meus sinceros agradecimentos: 
A Deus, por me amparar nos momentos difíceis, por me mostrar os caminhos 
nas horas incertas e por me haver proporcionado a felicidade de encarar com 
coragem e determinação a concretização deste sonho. 
A painho, Luiz Silva, homem valente que nos últimos anos lutou pela vida. 
Obrigada por todo investimento e toda dedicação que, em sua capacidade de amor 
maior, proveu a mim o seu melhor. Viva muito que nossa estrada é longa. À mainha, 
Rosário Sena, sua valentia em não desistir dos seus sonhos e audácia diante da 
vida são exemplos para mim. Obrigada por sua alegria, sabedoria e palavras de 
incentivo que contagiam meu coração e iluminam meu caminhar. Eu amo vocês! 
Aos meus familiares e amigos, que, entendendo minhas ausências em muitos 
momentos, sempre incentivaram meus estudos e a concretização desta tese. E 
ainda, meus filhos peludos, Romeu e Kika, por alegrarem os meus dias e me 
fazerem companhia quando, inevitavelmente, eu precisava estar somente com 
vocês. 
Ao meu grande mestre e amigo, professor Flávio Tinôco, por ter me 
possibilitado descobrir a beleza e o prazer de jogar handebol. Às minhas parceiras 
de quadra, pelos momentos compartilhados, pelos confrontos e pelas alegrias. E 
não menos importante, a todos os clubes onde atuei, técnicos com que convivi, os 
torcedores dos mais diversos e a todas as adversárias, pois, mesmo sem saber, 
vocês marcaram a minha existência e me fizeram escrever esta tese. 
Às professoras Ceiça Alves, Maria Pinto, Ana Maria, Rosinete e Dalvanir da 
Escola Municipal Angélica Moura e do CMEI José Carlos, pela amizade e pelo apoio 
inestimável na realização desta pesquisa. 
A Karenine Porpino, minha orientadora desde a graduação, obrigada pelo seu 
conhecimento, sabedoria e paciência de me fazer ir além do que eu imaginava. Você 
me fez ser uma pessoa melhor, uma profissional mais dedicada e uma pesquisadora 
mais sensível e apaixonada. Obrigada por ter acreditado em mim quando nem eu 
mesma acreditava. Hoje, fechamos juntas um ciclo de trabalho que certamente, 
permanecerá aberto à amizade e às novas parcerias que daqui para a frente espero 
estarem abertas para nós. Amo você! 
À professora Petrucia Nóbrega, pessoa que admiro pelo conhecimento, 
profissionalismo e generosidade em compartilhar tudo o que sabe. Obrigada por ter 
mudado minhas concepções e ter transformado meus objetivos profissionais ainda 
no início da graduação e por ter contribuindo sempre na minha formação. 
Certamente, você faz parte desta escrita. Aos professores Iraquitan Caminha e José 
Pereira, pelas desveladoras contribuições ao longo desse processo. Esta escrita 
também tem muito de cada um de vocês. E ainda, aos professores Edilson Costa, 
Eduardo Pellejero e Elaine Costa pela disponibilidade em compartilhar comigo esta 
escrita. Sinto-me privilegiada. 
Ao Grupo ESTESIA e ao laboratório VER do Departamento de Educação 
Física da UFRN, na figura da professora Rosie Marie, pelo apoio nessa caminhada, 
pela infraestrutura,pelo acesso à leitura diversa e pela oportunidade de participar 
das valiosas atividades tão significativas na minha formação e tão necessárias para 
a elaboração desta tese. E, ainda, aos demais parceiros institucionais pelos 
seminários realizados na UFRN com professores Jacques Gleyse (Université de 
Montpellier) e Carmem Soares (UNICAMP) e na UFPB com os demais colegas e 
professores, os quais consistiram em uma parte muito importante do 
desenvolvimento desta tese. Muito Obrigada! 
À Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em especial, ao Programa 
de Pós-graduação em Educação, alunos, funcionários e professores, pelo 
compromisso, credibilidade e seriedade na formação de mestres, doutores e 
pesquisadores. 
À Capes, pela bolsa de estudos que possibilitou o apoio financeiro necessário 
para a realização desta tese. 
À Andreia e a Fernando, pelo brilhante serviço profissional na revisão e arte 
do trabalho. 
Enfim, a todos os que, de forma direta ou indireta, contribuíram para a 
realização deste trabalho. Muito obrigada! 
 
Resumo 
 
 
Este trabalho trata do esporte como possibilidade de vivência do sensível e defende 
a tese de que a prática esportiva é uma experiência estética e educativa, em que se 
opera o sensível pelas sensações reverberadas no corpo do atleta, na dimensão do 
vivido. Buscamos responder nesta pesquisa as seguintes questões: O que 
sensibiliza o atleta na vivência do esporte? Quais são os sentidos e os significados 
vividos no esporte que fazem o atleta vivenciar essa prática? Como a experiência do 
atleta pode ser pensada como educação? Objetivamos discutir o esporte a partir da 
dimensão do vivido, buscando compreender os significados conferidos à prática 
esportiva e à experiência estética do atleta como educação. Para traçarmos essa 
argumentação, o enfoque da tese é de natureza teórico-filosófica, pautada em 
pensamentos como os de Merleau-Ponty, Walter Benjamin, Marcel Mauss e 
Friedrich Schiller. Para tal, apoiamo-nos na fenomenologia do filósofo francês 
Maurice Merleau-Ponty, tendo como referência o mundo vivido do atleta e a 
experiência da prática esportiva como campo do sensível. Iniciamos a reflexão com 
a narrativa de experiências esportivas, a partir de cinco elementos estéticos: tempo-
espaço do corpo em quadra, o olhar no contexto esportivo, o contato com o 
adversário, a vitória e a derrota e o gesto técnico. Junto a isso, fizemos uma 
apreciação estética dos filmes “Olympia” e “Invictus”, por meio dos quais discutimos 
três categorias temáticas: a sensibilidade, as emoções e o paradoxo do jogo. 
Posteriormente, apresentamos o esporte como potencializador de uma educação 
sensível, manifesta nos processos corporais, do corpo em movimento. Conforme 
ficou evidenciado ao longo deste estudo, buscamos o alcance de uma reflexão sobre 
o esporte centrada no corpo do atleta como abertura ampla dos sentidos para as 
coisas do sensível, cujo viver estético transpõe qualquer concepção determinista, 
que resuma o mundo esportivo à mercantilização, à disciplinarização e ao 
mecanicismo. Esse entendimento aponta caminhos para a Educação Física, que, 
tendo como um dos conteúdos o esporte, pode permitir aos alunos o prazer de 
participar dos gestos construídos, coletivamente, por todos que se colocam em jogo, 
incorporando a capacidade do repetir, do refazer e do brincar como campo de 
possibilidades de uma educação que é móvel, sensível e se inscreve no corpo em 
movimento. 
 
Palavras-chave: Esporte. Educação. Corpo. Estética. 
Abstract 
 
 
This paper deals with sport as a possibility of disclosing the sensible, and defends 
the idea that being a sportsperson equals living an aesthetic and educative 
experience in which one can interacts with the sensible by the athletic body’s 
reverberation of sensations in the dimension of the experienced. We try to answer, in 
our work, basically three questions: what moves the athlete when practicing a sport? 
Which are the meanings and motivations for the practice of sports? At what measure 
the athlete’s experience gains an educational character? Sport is debated in this 
work as an extension of the living, as long as it tries to understand the meanings 
inherent to sport itself as well as to the sportive experience as a kind of education. In 
support of our argument, we give a theoretic and philosophical approach to our 
thesis, based on thinkers like Maurice Merleau-Ponty, Walter Benjamin, Marcel 
Mauss and Friedrich Schiller. For this purpose, we get support on the 
phenomenology of the French philosopher Maurice Merleau-Ponty. Our reference is 
the living world of the athlete and his experience as a field of the sensible. Our point 
of departure is the analysis of the narratives of sport experiences, including five 
aesthetic elements; time and space of the body in the sports courts; the look on the 
sportive context; the contact with the adversary; victory and defeat; the technical 
gesture. Besides it, we worked out an aesthetic evaluation of the movies “Olympia” 
and “Invictus”, what let us discuss three thematic categories: sensibility, emotions 
and the play paradox. Subsequently, we point sport as an optimizer of the sensible 
education, present on the body’s processes, like the body in movement. It was also 
made clear along this paper that we tried to accomplish an analysis on sports 
centered in the athlete’s body as an outfit of the senses to things related to the 
sensible, whose aesthetic experience overpasses any deterministic conception that 
should sum up the sportive world to mercantilization, discipline practices and 
mechanicism. This approach franchises gateways to a Physical Education which, 
containing sports as one of its support, let pupils enjoy the pleasure of constructing 
common objectives, incorporating the capacity of replicating, re-making and playing 
as a field of possibilities offered by an education characterized as being moving, 
sensible and fitful to a body in movement. 
 
Key-words: Sport. Education. Body. Aesthetics. 
Resumen 
 
 
El presente trabajo trata sobre el deporte como posibilidad de vivencia del sensible y 
defiende la tesis de que la práctica deportiva es una experiencia estética y educativa 
en la cual se opera lo sensible por medio de las sensaciones reverberadas en el 
cuerpo del atleta, en la dimensión del vivido. El estudio busca responder a las 
siguientes cuestiones: ¿Que cosa sensibiliza el atleta en la vivencia del deporte? 
¿Cuáles son los sentidos y los significados vividos en el deporte que hacen los 
atletas tener vivencia de esas prácticas? ¿Como la experiencia del atleta puede ser 
pensada como educación? Discutimos sobre el deporte desde la dimensión del 
vivido, tratando de comprender los significados conferidos a la práctica deportiva y a 
la experiencia estética del atleta como educación. Para impulsar ese argumento, 
nuestra tesis presenta un enfoque de naturaleza teórico-filosófica, asentado en 
pensamientos de Merleau-Ponty, Walter Benjamin, Marcel Mauss y Friedrich 
Schiller. Para ello nos basamos en la fenomenología del filósofo francés Maurice 
Merleau-Ponty, teniendo por referencia el mundo vivido del atleta y la experiencia de 
la práctica deportiva como campo del sensible. Comenzamos la reflexión con la 
narrativa de experiencias deportivas desde cinco elementos estéticos: tiempo-
espacio del cuerpo en la cuadra, la mirada en el contexto deportivo, contacto con el 
adversario, la victoria y la derrota, y el gesto técnico. Junto a eso hicimos una 
evaluación estética de los filmes “Olympia” e “Invictus”, y por medio de ella hemos 
discutido sobre tres categorías temáticas: la sensibilidad, las emociones y el 
paradojo del juego. Después presentamos el deporte como potenciador de una 
educación sensible, manifiesta en los procesos corporales, del cuerpo en 
movimiento. Como ya se ha señalado en el curso de este estudio, buscamos el 
alcance de una reflexión sobre el deporte centrada en el cuerpo del atletacomo 
apertura amplia de los sentidos para las cosas del sensible cuyo vivir estético 
transpone cualquier concepción determinista que resuma el mundo deportivo a la 
mercantilización, la disciplinarización y al mecanicismo. Ese entendimiento apunta 
caminos para la Educación Física que, tiendo como uno de sus contenidos el 
deporte, pueda permitir a los estudiantes el placer de participar de los gestos 
construidos colectivamente por todos que se ubican en juego, incorporando la 
capacidad del repetir, del rehacer y del jugar como campo de posibilidades de una 
educación que es mueble, sensible y se inscribe en el cuerpo en movimiento. 
 
Palabras-claves: Deporte. Educación. Cuerpo. Estética. 
 
 
 
 
 
 
Lista de Fotografias 
 
 
Fotografia 01 – Infinidade de lembranças 
Fonte: Arquivo da autora, 1998 ------------------------------------------------------------------- 37 
 
Fotografia 02 – Tempo-espaço do corpo 
Fonte: http://www.cbdu.org.br, 2011 ------------------------------------------------------------ 42 
 
Fotografia 03 – O olhar que habita o jogo 
Fonte: http://www.cbdu.org.br, 2011 ------------------------------------------------------------ 50 
 
Fotografia 04 – Contato com as adversárias 
Fonte: http://www.cbdu.org.br, 2011 ------------------------------------------------------------ 62 
 
Fotografia 05 – O peso da derrota 
Fonte: http://www.cbdu.org.br, 2011 ------------------------------------------------------------ 71 
 
Fotografia 06 – Pan-americano 2001 
Fonte: http://www.cbdu.org.br, 2011 ------------------------------------------------------------ 72 
 
Fotografia 07 – A leveza da vitória 
Fonte: http://www.cbdu.org.br, 2011 ------------------------------------------------------------ 73 
 
Fotografia 08 – Gesto técnico do arremesso 
Fonte: http://www.cbdu.org.br, 2011 ------------------------------------------------------------ 82 
 
Fotografia 09 - Expressões do arremesso 
Fonte: http://www.cbdu.org.br, 2011 ------------------------------------------------------------ 83 
 
Fotografia 10 – Salto para o gol 
Fonte: http://www.cbdu.org.br, 2011 ------------------------------------------------------------ 84 
 
Fotografias 11 e 12 – Nelson Mandela e François Pienaar 
Fonte: Invictus. Cena 5, 2009 --------------------------------------------------------------------- 99 
 
Fotografias 13 e 14 – Equipe All Blacks 
Fonte: Invictus, Cena 22, 2009 ----------------------------------------------------------------- 101 
 
Fotografias 15 e 16 – Equipe Sprinboks 
Fonte: Invictus, Cena 22, 2009 ----------------------------------------------------------------- 101 
 
Fotografias 17 e 18 – Capitão Pienaar incentivando sua equipe 
Fonte: Invictus, Cena 24, 2009 ----------------------------------------------------------------- 102 
 
Fotografias 19 e 20 – Deuses gregos 
Fonte: “Olympia”, Festa do povo, cena 1, 1938 -------------------------------------------- 103 
 
Fotografias 21 e 22 – Discóbulo vivificando 
Fonte: “Olympia”, Festa do povo, cena 2, 1938 -------------------------------------------- 104 
 
Fotografias 23 e 24 – Performance e passagem da tocha olímpica 
Fonte: “Olympia”, Festa do povo, cena 3, 1938 -------------------------------------------- 104 
 
Fotografias 24 e 25 – Atleta negro Jesse Owens 
Fonte: Olympia. Festa do povo, cena 9, 1938 ---------------------------------------------- 106 
 
Fotografias 26 e 27 – Provas na terra 
Fonte: “Olympia”, Festa do povo, cena 5, 1938 -------------------------------------------- 107 
 
Fotografias 28 e 29 – Provas no ar e nas águas 
Fonte: “Olympia”, Festa da beleza, cena 11, 1938 ---------------------------------------- 108 
 
Fotografias 30 e 31 – Lampejos de emoção 
Fonte: “Olympia”, Festa do povo, cena 6, 1938 -------------------------------------------- 108 
 
Fotografias 32 e 33 – Espectadores brancos e negros 
Fonte: “Olympia”, cena 5, 2009 ----------------------------------------------------------------- 114 
 
Fotografias 34 e 35 – Atuação coletiva dos esportistas e dos espectadores 
Fonte: “Olympia”, cena 26, 2009 --------------------------------------------------------------- 115 
 
 
Fotografias 36 e 37 – Vibração pela ação realizada 
Fonte: “Olympia”, Festa da beleza, cena 9, 1938 ----------------------------------------- 116 
 
Fotografias 38 e 39 – Gestos de contenção e evasão 
Fonte: “Olympia”, Festa da beleza, cena 4, 1938 ------------------------------------------ 117 
 
Fotografias 40 e 41 – Duelo dos barcos e das luvas 
Fonte: “Olympia”, Festa da beleza, cena 10, 1938 ---------------------------------------- 118 
 
Fotografias 42 e 43 – Atleta mobilizado pelo jogo 
Fonte: “Invictus”, cena 25, 2009 --------------------------------------------------------------- 128 
 
Fotografias 44 e 45 – Roupas, técnicas e equipamentos da época do filme 
“Olympia” 
Fonte: “Olympia”, Festa do povo, cena 7, 1938 ------------------------------------------- 131 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. Entrando em quadra ______________________________________ 15 
 
Início do jogo ------------------------------------------------------------------------------- 17 
Regras do jogo ----------------------------------------------------------------------------- 24 
 
2. Primeiro tempo - a experiência do jogar ___________________ 33 
 
Tempo-espaço do corpo em quadra -------------------------------------------------- 40 
O olhar no contexto esportivo ---------------------------------------------------------- 48 
Contato com o adversário --------------------------------------------------------------- 56 
A vitória e a derrota – leveza e peso ------------------------------------------------- 68 
Gesto técnico – a potência criativa do corpo --------------------------------------- 79 
 
3. Intervalo – o jogo como devaneio _________________________ 92 
 
Vertigem ------------------------------------------------------------------------------------- 96 
Tensão e excitação ---------------------------------------------------------------------- 112 
Paradoxo ----------------------------------------------------------------------------------- 126 
 
4. Segundo tempo – Esporte: a educação como jogo _______ 141 
 
 
5. Apito final ______________________________________________ 168 
 
 
6. Equipe __________________________________________________ 177 
 
 
7. Anexos __________________________________________________ 185 
EntrandoemQuadra
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O homem joga somente quando é homem no pleno 
sentido da palavra, e somente é homem pleno 
quando joga. 
 
Friedrich Schiller 
17 
Início do jogo 
 
O jogo é fundamental, já dizia Schiller (1995)1. A experiência do jogar permite 
ao homem uma passagem da sensação ao pensamento e do pensamento à 
sensação, não como limitação da sensibilidade e da razão, mas como totalidade 
ontológica da existência, imbricada com as coisas do nosso fazer, do pensar, do 
sentir e do movimentar. 
Assim, como numa experiência que jamais se repete, o início do jogo e todo 
seu contexto transportam o atleta para um cenário no qual, diante dos seus olhos, 
acontecimentos da vida e do mundo se desenrolam, de forma tão intensa como se 
fosse a primeira vez. Um misto de sentimentos despertados pelo universo sensível 
do jogo, o qual alarga a sua existência, e transborda sobre a razão objetiva, uma 
corrente de sentidos2 que lhe insere esteticamente no mundo. 
 A prática esportiva envolve o atleta no mundo, sempre refazendo a vida 
cotidiana, como uma nova forma de existência por intermédio do “eu posso” e não 
de um “eu penso”. Uma unidade mente-corpo capaz de ampliar a experiência vivida 
numa subjetividade fundada no poder de sentir e movimentar o corpo. 
Nessa perspectiva, os horizontes se abrem e o atleta, confrontando o mundo 
que habita, vai se constituindo por meiodos movimentos e da atuação do corpo no 
mundo, instaurando nesse processo uma comunicação entre o dado e o evocado. 
Aliado à performance que lhe é exigida, o corpo se funda em sensações, emoções e 
criações que vão além daquilo que é ditado pelos técnicos e pelas regras, sendo o 
contexto esportivo um espaço fecundo para a constituição de novas formas de sentir 
e habitar o mundo. 
 Esta pesquisa tem como foco principal a dimensão estética do esporte, tendo 
como referência o mundo vivido3 do atleta e a prática esportiva como campo do 
sensível. 
 
1 Não se trata aqui de uma semelhança conceitual entre jogo e esporte, mas sim algumas relações 
que fazem com que, se o primeiro pode se transformar no segundo, o esporte também pode vir a ser 
um jogo, sobretudo, por meio da dimensão sensível, no fazer estético do corpo. Nessa relação, 
compreendemos que o esporte é apenas uma das manifestações de jogo, dentro de um contexto 
bastante socializado e universal. 
2 Em Merleau-Ponty (2011) os sentidos se referem à capacidade do corpo sentir. Uma comunicação 
sensível que expande a existência e dimensiona o homem consigo mesmo e com o mundo. 
3 A expressão mundo vivido é uma tentativa de tradução da palavra alemã lebenswelt. Termo criado, 
inicialmente, por Husserl, em sua fenomenologia estrutural, e retomado nas reflexões de Maurice 
18 
 
Partimos da compreensão de que no esporte os atletas constituem uma 
racionalidade não determinada pelos padrões instituídos pela lógica formal, mas 
uma razão sensível, que se constitui na apreensão dos sentidos e na sua 
comunicação do corpo com o mundo esportivo. 
Dessa forma, o esporte pode ser compreendido como fenômeno estético e o 
atleta como existência constituída pelo logos estético4, o qual é capaz de explicar as 
experiências do corpo, da emoção e do vivido nele. 
Nessa direção, podemos refletir sobre o esporte a partir do mundo vivido do 
atleta, sendo possível pensá-lo como experiência estética e educativa por meio das 
relações que ele estabelece com o corpo na prática esportiva. 
Para isso, nos apoiamos na fenomenologia do filósofo francês Maurice 
Merleau-Ponty, o qual compreende o homem a partir da experiência vivida, na sua 
entrega ao mundo e nas relações nele constituídas. 
Afirmamos a tese de que a prática esportiva é uma experiência estética e 
educativa, em que se opera o sensível pelas sensações reverberadas no corpo do 
atleta, na dimensão do vivido. Experiência na qual o sensível é apreensão de 
sentidos e possuidor de significados. 
Esse posicionamento implica uma perspectiva de compreensão do esporte 
não pelos aspectos estruturais ou pelas suas categorias explicativas, mas pelo viés 
do atleta, por aquele que vivencia e que se refaz em cada instante ali vivido. 
Trata-se de uma compreensão fenomenológica da prática esportiva, uma 
experiência com técnicas e gestos próprios, configurados por uma estrutura rígida. 
Mas que atravessa os recônditos do corpo, criando em cada atleta um estilo próprio 
de jogar que educa através do sensível dos movimentos e da gestualidade. 
Consideramos que o atleta não é somente um mero receptor ou 
simplesmente um sujeito passivo diante do mundo esportivo. Ele interfere naquele 
meio constantemente e o habita, e isso possibilita que ele invente e reinvente aquilo 
que lhe é proposto ou imposto, dando-lhe um significado a partir de sua experiência 
 
Merleau-Ponty (2011). De acordo com esse o filósofo, o termo está relacionado ao mundo pré-
objetivo do ser, ou seja, aquele que antecede à reflexão, a totalidade das percepções vividas. 
4 A estética não se define pelas relações exteriores entre o homem e o mundo, mas na apreensão 
dos sentidos enquanto experiência produtora de conhecimento, que consiste precisamente na relação 
do corpo com o mundo. Essa comunicação com o mundo sensível, enquanto expressão das relações 
corporais e, portanto, de conhecimento, é designada em Merleau-Ponty como logos estético: “Esse 
mundo sensível é o logos do mundo estético”. (MERLEAU-PONTY, 2002, p. 65). 
19 
 
corporal, criando um mundo próprio, no qual o esporte não é um objeto, ou seja, um 
mero exercício físico, um passatempo ou elemento de representação pessoal, mas 
uma prática existencial, em que o atleta encontra sentido. 
O esporte gera sentidos que não se restringem à instrumentalização do corpo, 
ao consumo ou ao mercantilismo, mesmo quando envolvidos com aspectos 
relacionados ao rendimento, ao instrumentalismo e ao tecnicismo. Os atletas 
rompem a lógica determinista do esporte criando e recriando formas de existência 
social e pessoal para além daquilo que foi previsto ou predeterminado. 
Essas ações constantes, invenção e reinvenção, partem das relações vividas 
no mundo esportivo e emergem no corpo, atando o atleta ao esporte através da 
experiência estética. O significado dessa prática não se encontra pronto, mas se 
constitui no movimento, de forma inacabada, sempre em composição para o 
esportista. 
Certamente, não podemos negar algumas peculiaridades do universo 
esportivo, tais como as exigências técnicas, a potencialização do consumo, a 
instrumentalização e o trato severo com o corpo, referências importantes e que 
devem ser consideradas na análise das práticas esportivas5. No entanto, 
acreditamos que, além desses aspectos, os quais não podemos descartar, outras 
dimensões precisam ser levadas em consideração na análise do esporte, pois a 
prática esportiva também apresenta dimensões relacionadas à experiência do 
sensível6. 
Nesse sentido, cabe ressaltar que nos apoiamos na compreensão de estética 
de Merleau-Ponty para a realização deste estudo, a qual se constrói na relação 
imanente entre sujeito e objeto, homem e mundo, entre esporte e atleta. 
 
5 A teoria crítica do esporte, derivada da escola de Frankfurt, por exemplo, se propôs a pensar e 
criticar as práticas esportivas por elas mesmas, em sua estrutura interna e nas condições que faziam 
com que o esporte acontecesse, ou seja, na sua lógica de dominação, repressão e a alienação por 
ele reforçada. Esses pensamentos e essas críticas ao esporte da escola frankfurtiana influenciaram 
vários autores brasileiros, como Valter Bracht (2003), Alexandre Fernando Vaz (2003) e Elenor Kunz 
(2003), que direcionaram suas reflexões acerca do esporte pautado nas características do corpo 
dominado, da disciplina, da violência, da normatização, da competição exacerbada e da 
espetacularização. 
6Autores como Lovisolo (1997, 2009), Santos (2012) e Stigger (2002), sem negar a 
instrumentalização do esporte e sua espetacularização, compreendem que no esporte não temos 
somente um corpo dominado, mas corpos que se movem na tensão entre prazer e utilidade, domínio 
e liberdade. Sentidos que perpassam os fluxos de suas indeterminações, mostrando outros sentidos 
e significados para aqueles que dele participam. 
20 
 
Em seu pensamento, a estética não se define apenas pelo belo artístico, mas 
como vivência do sensível, na experiência do corpo com as coisas, com os outros e 
com o mundo. Logo, não há conceitos definidos ou modelos preestabelecidos, mas 
uma dialética entre o homem e o mundo através dos sentidos que transpassam essa 
relação, abarcando o corpo. Essa experiência: “nos abre para aquilo que não 
somos” (MERLEAU-PONTY, 2009, p. 156), colocando-nos em contato com o 
incomum, com o inesperado e com o novo, fazendo-nos adentrar em outros mundos 
e permitindo que essa experiência nos sensibilize e nos modifique. 
Entrelaçado a isso, alarga-se a compreensão do corpo como objeto, para 
incluir, entre outras questões, a dimensão do sensível como realidade essencial do 
humano,sendo fundamental para a compreensão da ontologia do corpo proposta 
por Merleau-Ponty (2009) a estesia, cuja natureza é sensível, capaz de sensação7. 
Quando Merleau-Ponty menciona o corpo estesiológico, refere-se ao corpo 
capaz de sensação, mas também de comunicação, de expressão, de criação. É o 
corpo que se abre para o exterior, envolvido e afetado pelos sentidos e entrega 
corpórea ao universo da experiência estética, impulsionada por sua relação com o 
mundo. Uma comunicação marcada pelos sentidos que a sensorialidade e a 
historicidade criam, numa síntese sempre provisória, numa expressão existencial 
que move um corpo humano em direção a outro, expandido a vida para novas 
elaborações construídas pelo mundo da experiência vivida (NÓBREGA, 2010). 
Nessa relação, o homem educa e é educado, não pela sistematização do 
conhecimento ou pelo ensino formal, mas pela experiência sensível, construída na 
vivência do corpo, como na concepção fenomenológica de educação, a qual não se 
resume a métodos prontos, visando objetivos determinados, mas abarca o ser 
humano pelo universo dos sentidos, da sensibilidade e da criação. 
Nessa direção, a estesia enquanto conhecimento sensível é expressa nesta 
pesquisa pelo atrever-se do corpo à experiência estética no esporte. O que 
possibilita uma reflexão capaz de conduzir ao espanto como condição de reaprender 
a ver a prática esportiva por meio da educação sensível, que considera a 
experiência vivida um educar aberto à transformação, à inovação, ao sensível. 
 
7 Em Merleau-Ponty (2011) a sensação e a percepção não são elementos separados, posto que na 
própria sensação há significação, o que faz compreender a experiência vivida e suas múltiplas 
significações a partir da relação corpo, movimento e mundo como elementos indissociáveis que têm, 
no sentir, o sentido. 
21 
 
Assim, referimo-nos às experiências que os atletas vivenciam no esporte 
como conhecimento sensível, as quais não estão separadas pelo entendimento, mas 
entrelaçadas na reversibilidade dos sentidos8, na dimensão estética. 
Assim, o corpo do atleta, longe de remeter a qualquer fisiologismo, é de onde 
irão emergir os sentidos fundamentais dessa experiência, no entrelaçamento dele 
com o mundo esportivo. Um encontro que permite fruir sentidos, que conduzem a 
outros modos de existir e que admite a criação de outras linguagens gestuais e 
novas formas do corpo jogar, educar e se sensibilizar. 
Pautamos a estética como linguagem sensível que se constitui no corpo, 
enquanto processo de sentido que se dá através da experiência vivida e das 
relações construídas no mundo. Logo, podemos compreendê-la em suas relações 
com o esporte, como configuração do mundo da criação e do conhecimento. 
Para traçarmos essa argumentação, o enfoque da tese é de natureza teórico-
filosófica, tendo Maurice Merleau-Ponty como referência para pensarmos a 
dimensão estética do ser atleta, bem como discutirmos os sentidos criados pela 
experiência vivida no âmbito das práticas esportivas. 
Somando-se ao filósofo Merleau-Ponty, outros autores também deram 
suporte as nossas discussões, entre eles: Benjamin (1989, 2002, 2012), Mauss 
(2003) Elias (1992) e Schiller (1995), para afirmar o esporte como experiência 
estética e educativa. 
Buscamos responder, no decorrer da construção da tese, as seguintes 
questões: O que sensibiliza o atleta na vivência do esporte? Quais são os sentidos e 
os significados vividos no esporte, que fazem o atleta vivenciar essa prática? Como 
a experiência do atleta pode ser pensada como educação? 
 Seguimos com o objetivo de discutir o esporte a partir da dimensão do vivido, 
buscando compreender os significados conferidos à prática esportiva e à experiência 
estética do atleta como educação. 
 Compreender a prática esportiva com enfoque numa educação sensível, 
através dos seus sentidos e das sensações que são reverberadas nele, torna-se 
uma reflexão importante para entender que o atleta não se restringe a determinadas 
 
8 A noção de reversibilidade dos sentidos é discutida por Merleau-Ponty (2004b, 2009, 2011) como a 
comunicação do corpo que é, ao mesmo tempo, vidente e visível, tocante e tateante, sensível e 
sentiente, num duplo enlace que se funde numa única ação. Em suas palavras o corpo: “[...] vê 
vidente, ele se toca tocante, é visível e sensível para si mesmo” (MERLEAU-PONTY, 2004b, p.17). 
22 
 
ações de movimento ou de pensamento, mas vive o esporte, educa e se educa ao 
criar e recriar movimentos, modos de fazer no jogo, de se relacionar com o outro e 
de posicionar-se diante do mundo. Nesse movimento, amplia a capacidade de 
apreensão dos gestos, das coisas e do mundo, reorganiza-se em novas sensações 
e acrescenta-se em novos sentidos através da experiência íntima e social do corpo. 
Nesse trânsito, encontramos nos espaços acadêmicos algumas produções 
que se aproximam de nosso objeto de estudo, trabalhos significativos para se 
pensar a relação entre o esporte e a educação. Nesses espaços de produção do 
conhecimento, encontramos seis teses de doutorado e três dissertações de 
mestrado defendidas em programas de Pós-graduação na área da Educação e da 
Educação Física que, assim como este trabalho, discutem o esporte a partir do 
mundo vivido do atleta91011. 
Evidenciamos, também, contribuições de estudos sobre a temática em 
questão, tais como as pesquisas desenvolvidas na UFRN pelos professores Allyson 
de Carvalho de Araújo (2006)12 e Antônio de Pádua dos Santos (2008)13 , e ainda os 
 
9 Fizemos uma busca geral das dissertações e teses publicadas no Banco de Teses da Capes, 
defendidas a partir de 1987, segundo o termo “Esporte, Educação, Atleta”, sendo assinaladas “todas 
as palavras” como critério de busca para o assunto pesquisado. Nessa busca, considerando uma 
abordagem quantitativa dos dados obtidos, existem 98 dissertações e 30 teses, com a presença 
desse termo, no referido período. No entanto, nem todas se aproximam do nosso trabalho. 
10 Dissertações de mestrado próximas ao nosso objeto de estudo: “Processo de formação e 
treinamento do atleta de elite no Brasil: dos jogos aos jogos”, de Lila Maria Peres Silva, dissertação 
defendida pelo Programa de Pós-graduação em Educação Física da UGF; “Pedagogia da dor: sobre 
o esporte, a vitória e a derrota na arena” de Luciano do Amaral Dornelles, defendida pelo Programa 
de Pós-graduação em Educação da ULBRA; “Técnica, dor, feminilidade: educação do corpo na 
ginástica rítmica”, de Patrícia Luiza Bremer Boaventura, defendida pelo Programa de Pós-graduação 
em Educação da UFSC. 
11 Teses de doutorado próximas ao nosso objeto de estudo: Tese de Antonio de Pádua dos Santos, 
intitulada “Imaginário radical: trajetória esportiva de corredores de longa distância”, defendida 
Programa de Pós-graduação em Educação da UFRN; Tese de Fátima Maria Pilotto, intitulada 
“Educação corporal de atletas na ginástica artística”, defendida pelo Programa de Pós-graduação em 
Educação da UFRS; Tese de Gabriela Aragão Souza de Oliveira, intitulada “Trajetória de mulheres-
referência no esporte nacional como atletas e gestoras”, defendida pelo Programa de Pós-graduação 
em Educação da UGF; tese de Giuliano Gomes de Assis Pimentel, intitulada “Risco, corpo e 
sociabilidade no voo livre”, defendida pelo Programa de Pós-graduação em Educação Física da 
UNICAMP; Tese de Paulo Cesar Montagner, intitulada “A formação do jovem atleta e a pedagogia da 
aprendizagem esportiva”, defendida pelo Programa de Pós-graduação em Educação Física da 
UNICAMP; Tese de Simone Meyer Sanches, intitulada “Prática esportiva e resiliência”, defendida 
pelo Programa de Pós-graduação em Educação da USP. 
12 Dissertação: “Um olhar estético sobre o telespetáculo esportivo: contribuições parao ensino do 
esporte na escola” (PPGED/UFRN). 
13 Tese de doutorado: “Imaginário radical e Educação Física: trajetória de corredores de longa 
distância” (PPGED/UFRN). 
23 
 
artigos14 produzidos no Grupo de Estudos Corpo e Cultura de Movimento (GEPEC-
UFRN), Grupo de Pesquisa Corpo, Fenomenologia e Movimento (ESTESIA-UFRN) 
e do Laboratório de Imagens do Corpo e da Cultura de Movimento (VER-UFRN), do 
qual faço parte, como referências significativas para a reflexão do atleta não como 
um corpo dominado, mas um ser que dinamicamente escreve sua história no mundo 
esportivo e nele encontra um sentido existencial. 
Nessa direção, percebemos que o esporte, sob ponto de vista do atleta, ainda 
tem sido pouco discutido nas pesquisas acadêmicas. Isto porque, a maioria desses 
trabalhos parte do processo de formação, da resiliência, bem como do olhar externo 
e explicativo do esporte, fazendo-se necessário ampliar os estudos que contemplem 
a experiência sensível e o sentido estético dado pelo atleta. 
Seguindo esse fio condutor, buscamos aproximar os significados da prática 
esportiva da experiência vivida, em sua relação com a experiência estética e a 
educação, para falar dos aspectos que fundamentam a vivência dos atletas nesse 
contexto e que fazem sentido em sua existência. O sentido se faz para os atletas 
através da própria existência, a partir da entrega do corpo e da excitação vivida no 
esporte. E nesse movimento, de modo participativo, criando e recriando, vivendo e 
habitando de modo dinâmico esse mundo, o corpo produz conhecimento, saberes 
produzidos pela experiência humana no mundo vivido. Uma via dupla, na qual o 
sentir e o educar estão presentes na mesma existência, na dimensão sensível, 
tecida no entrelaçamento do corpo com o mundo, com os outros e com a cultura. 
Relação encarnada, de experiência, de sensação, de criação e de renovação. 
Nessa direção, apresentamos elementos que contribuam para pensar a 
relação entre educação e esporte como uma realidade de aprofundamento sensível 
que os constituem, centrada no corpo e na experiência estética como modos de 
educar. 
 
 
 
14 MELO, José Pereira de; NÓBREGA, Terezinha Petrucia da; Beleza e conflito em Olympia. Paidéia, 
Natal, v. 1, n. 2, p. 25-39, fev. 2006. / NÓBREGA, Terezinha Petrucia da; DIAS, João Carlos Neves 
de Souza e Nunes. Futebol: do espetáculo às aulas de Educação Física. Paidéia, Natal, ano 2, v. 1,p. 
25-39. jan./dez. 2006. / SILVA, Liege Monique Filgueiras da; PORPINO, Karenine de Oliveira. O 
ensino do esporte: relato de experiência com alunos do 5º ano. Cadernos de formação RCBCE, 
Florianópolis, v. 2, p. 56-66, jul. 2011. 
24 
Regras do jogo 
 
Para investigar a temática abordada buscamos caminhos de compreensão 
que não tivessem dado ou forma acabada, mas uma aproximação do vivido com o 
sensível, pela dialogicidade do atleta com o mundo esportivo, sempre construindo 
novas formas de habitá-lo. 
Com esse intuito, apresentamos a atitude fenomenológica de Maurice 
Merleau-Ponty como sendo essa referência metodológica, por acreditar que esse 
viés de pensamento está diretamente ligado ao modo como compreendemos o 
fenômeno pesquisado, a saber: numa perspectiva corporal e estética associada à 
educação dos sentidos. 
A Fenomenologia não é um método fechado ou algo exterior, onde o 
pesquisador vai buscar respostas em algum lugar ou em algum objeto. Ao contrário, 
ela é um constante recomeçar, um movimento que parte da experiência vivida e do 
mundo para se pensar o fenômeno estudado. 
Trata-se de uma atitude de pensamento ancorada na vida, que visa 
compreender as coisas15, colocando o conhecimento como centro das experiências 
vividas. Uma atitude que não propõe a explicação definitiva dos fenômenos, mas um 
“chegar às coisas mesmas” pela descrição, anterior a qualquer formulação científica, 
abstrata ou tradicional. O que significa considerar que, antes de qualquer realidade 
objetiva, há um indivíduo que a vivencia; antes da objetividade, há um mundo 
preestabelecido; e, antes de todo conhecimento, há uma vida que o fundamenta. 
O foco de sua atenção é centralizado no desvelamento da experiência vivida, 
interrogando-a, para tentar compreender a dimensão sensível do mundo, 
procurando manter o rigor. Não o da precisão numérica, mas um caminho reflexivo 
sempre aberto a novos diálogos e novos questionamentos. Para tal, ela ancora-se 
na experiência vivida, penetrando na facticidade que é histórica, social e subjetiva. 
Uma referência para o conhecimento revelado pelos sentidos que fundam a 
existência individual e coletiva do “ser no mundo” como uma dimensão à qual ele 
 
15 Sobre o termo coisa, Merleau-Ponty afirma: “A coisa, portanto [...] é um nó de propriedades, das 
quais cada uma é dada se a outra o for, um princípio de identidade. Aquilo que a coisa é, ela o é por 
arranjo interno, plenamente, sem hesitação, sem fissura: ou tudo ou nada. É o por si ou em si, num 
desdobramento exterior, que as circunstâncias permitem e não explicam. É objeto, quer dizer, expõe-
se diante de nós por virtude sua, e precisamente porque está condensada em si mesma”. In: 
MERLEAU-PONTY, M. O visível e o invisível. São Paulo: Perspectiva, 2009, p.158. 
25 
 
não deixa de se situar, ademais, “o homem está no mundo e é no mundo que ele se 
conhece” (MERLEAU-PONTY, 2011, p. 6). 
Porém, esse relato do mundo, do tempo e do espaço vivido, não pretende 
construir ou reconstruir o real, mas descrevê-lo a partir do campo perceptivo16. 
Nesse caso, nosso olhar sobre o fenômeno esportivo. 
Assim, sendo a percepção uma atitude corpórea, ela sempre se faz em torno 
do núcleo do sensível, pela sintonia dada no corpo, pelo seu movimento fruidor e, ao 
mesmo tempo, aberto, em que perceber: “[...] se opõe a imaginar, não é julgar, é 
apreender um sentido imanente ao sensível antes de qualquer juízo” (MERLEAU-
PONTY, 2011, p. 63). 
Tendo como pressupostos básicos a noção de percepção, a relação de 
imanência entre sujeito e objeto, a facticidade e as experiências vividas, a 
Fenomenologia de Merleau-Ponty põe em suspensão o mundo natural, sem romper 
com o seu vínculo. Para isso, recorre a três momentos, que ocorrem de forma 
inseparável: a descrição, a redução e a compreensão. 
É pertinente destacarmos o papel da percepção, da consciência e do sujeito 
no ato da descrição. A descrição, como apreciação, relata o percebido na 
percepção, no fundo onde esta se dá, sem fazer julgamentos ou avaliações, mas 
apontando para o percebido, descrevendo o sentido e a experiência como vivida 
pelo sujeito, para visualizar, de modo, compreensivo, a realidade (BICUDO, 2000). 
Logo, a necessidade da redução fenomenológica como artifício para que 
possamos alcançar os objetivos pretendidos, ainda que não se possa esquecer que 
a maior característica da redução fenomenológica é que esta nunca é completa, 
especialmente, pela relação homem-mundo. Assim, sabendo que essa familiaridade 
nunca será totalmente rompida, e que se deve sempre partir do princípio de que: 
 
O maior ensinamento da redução é a impossibilidade da redução completa 
[...] Se fôssemos o espírito absoluto, a redução não seria problemática. Mas 
porque, ao contrário, nós estamos no mundo, já que o mesmo nossas 
reflexões têm lugar no fluxo temporal que elas procuram captar (MERLEAU-
PONTY, 2011, p. 10-11). 
 
 
16 A experiência perceptiva é o campo primordial da relação do homem enquanto ser-no-mundo. É o 
que denominou de facticidade do mundo em relação às produções entalistas, na medida em que 
"tudo aquilo que sei do mundo, mesmo por ciência, eu o sei a partir de uma visão minha ou de uma 
experiência do mundo sem a qual os símbolos da ciência não poderiam dizer nada. O universo da 
ciência é construído sobreo mundo-vivido [...]” (MERLEAU-PONTY, 2011, p. 3). 
26 
 
A redução põe em evidência a intencionalidade da consciência voltada para o 
mundo, distanciando a realidade como a concebe o senso comum, fazendo aparecer 
o que é essencial no objeto e percebendo como se produz o sentido do fenômeno, 
por meio da percepção e da descrição. Sendo, portanto, uma síntese unificadora e 
provisória, e não a compreensão comum que usualmente se tem. 
A compreensão ampliada da intencionalidade proposta por Merleau-Ponty 
(2011) se distingue da intelectualização, que se limita à natureza imutável. A 
intencionalidade é uma relação dialética onde surge o sentido, ela torna possível o 
contato da percepção com o mundo, em que a consciência se vê no mundo agindo, 
realizando operações e atribuindo significado aos objetos. 
 Nessa direção, para transitar nos conceitos da Fenomenologia, enfatizamos 
como trajeto metodológico neste trabalho a narrativa do mundo vivido e a apreciação 
estética de filmes no sentido de constituir um diálogo com destaque para as cenas 
significativas a partir da ideia de complementaridade, e não de hierarquia entre a 
minha experiência vivida e as produções fílmicas. 
Com relação à narrativa, considero minha experiência como atleta de 
handebol, cuja visibilidade nesta pesquisa pode ser dada através de fotografias de 
treinos e de competições nacionais e internacionais. 
Como atleta, conheci o handebol ainda na adolescência, inicialmente na 
escola17. Posteriormente, as boas performances em competições regionais em nível 
escolar levaram-me à seleção norte-rio-grandense, que me possibilitou participar de 
competições nacionais, e a partir disso, ter a oportunidade de ser atleta profissional, 
contratada pelo Clube de Regatas Vasco da Gama18 e pela Seleção Brasileira de 
handebol19. 
Com o retorno a Natal, sem filiação e desenvolvendo outras atividades, fiquei, 
um pouco afastada das quadras. Mas, durante a realização desta pesquisa, com o 
intuito de sentir e incorporar novamente as sensações vividas no mundo esportivo, 
 
17 Instituto Sagrada Família, situada no município de Natal, no bairro do Alecrim. 
18 Clube esportivo situado no município do Rio de Janeiro no qual permaneci, no período de 2000 a 
2002, como atleta profissional de handebol. 
19 Iniciei minha experiência na Seleção Brasileira de handebol em 1997, na categoria cadete, 
permanecendo até 2002, na categoria juvenil. Na seleção, participei de diversos campeonatos como 
torneios, sul-americano e Pan-americano, em diversas cidades do Brasil e diferentes países da 
América do Sul e da Europa. 
27 
 
retornei ao handebol a fim de reviver situações que poderiam balizar meus 
pensamentos para esta escrita. 
Convidada para jogar no Centro Universitário FACEX, em 2011, voltei a atuar 
em competições nacionais, desta vez, nos Jogos Universitários Brasileiros (JUBs)20. 
Nessa competição, dialoguei com as demais jogadoras, anotei falas, registrei 
minhas impressões diárias, fiz fotografias e fui fotografada. Essa experiência 
desencadeou lembranças de fatos ocorridos em momentos anteriores vividos no 
esporte. Com isso, passei a perceber a importância das situações do jogo e delimitei 
minha narrativa às experiências vividas em quadra, evocadas pelas experiências 
dessa competição. Parti das minhas relações construídas com os elementos que 
compõem o esporte, ou seja, a quadra, os companheiros de equipe, os adversários, 
o resultado final, as técnicas e as regras do jogo. Por meio desses elementos 
surgiram os elementos estéticos como tempo-espaço do corpo em quadra, o olhar 
no contexto esportivo, contato com o adversário, a vitória e a derrota – leveza e 
peso, e, gesto técnico – a potência criativa do corpo. 
Inicio narrando minhas experiências em jogo, numa perspectiva existencial, 
desvelando o vivido, relevando sentimentos, e, ao mesmo tempo, construindo e 
reconstruindo através do meu campo perceptual da narrativa, o esporte na minha 
existencialidade como experiência estética e educativa. 
Benjamin (2012), filósofo alemão, tinha a experiência como centro de sua 
filosofia, e a narrativa, como um acontecimento infinito, no qual é possível refletir a 
experiência humana. 
Para o autor, a narrativa é uma dimensão existencial do homem, pois, de 
certa maneira, o ato de contar e ouvir uma experiência envolve um eu-outro-mundo, 
uma relação de intersubjetividades, dada pela articulação de um passado com o 
presente, apoiado por uma situação que expressa a profusão de sentidos que 
constituem o ser na sua existencialidade, isso porque, segundo Benjamin (2012, p. 
230), “quem escuta uma história está em companhia do narrador; mesmo quem a lê 
partilha dessa companhia” . 
 
20 Competição realizada em 2011, na cidade de Campinas-SP, de 3 a 13 de novembro. Participaram 
do evento 194 instituições de ensino superior, sendo oito modalidades (atletismo, basquete, futsal, 
handebol, judô, natação, vôlei e xadrez), disputadas por mais de três mil atletas-estudantes vindos 
dos 26 estados e do Distrito Federal. Na referida competição, nos consagramos campeãs na 
modalidade handebol feminino da 1ª divisão. 
28 
 
No estudo O narrador (2012) Benjamin examina as narrativas de Nikolai 
Leskov21 e elabora importantes reflexões sobre o ato de narrar. O autor, ao refletir 
alguns elementos próprios dos relatos orais presentes em certas narrativas 
marcados pela violência e pelos absurdos da Primeira Guerra aponta possíveis 
causas da falência da arte de narrar. Para ele, a faculdade de intercambiar 
experiências começa a desaparecer com o rápido desenvolvimento do capitalismo, o 
qual foi distanciando os grupos humanos, fazendo com que as gerações e as ações 
de experiência entrassem em declínio. Entretanto, afirma a importância da narrativa 
exatamente por ela refletir a experiência humana, ser uma forma de comunicação, e 
principalmente, manter as tradições e as conservarem. 
Nesse contexto, o sentido da vida dito na narração não se encerra, mas 
perpassa o tempo e se reconstrói à medida em que é narrada, aproximando os 
ouvintes da experiência vivida tal como ela é, contada pelo narrador. Isto porque, 
ela mantém os valores e percepções presentes na experiência narrada, 
conservando e desenvolvendo o sentido da vida. Em outras palavras: “O narrador 
retira da experiência o que ele conta: sua própria experiência ou a relatada pelos 
outros” (BENJAMIN, 2012, p. 217). 
A partir do pensamento de Benjamin, compreende-se que a narrativa não se 
interessa em transmitir, informar ou explicar as coisas, mas mergulha na vida do 
narrador, retirando dela o vivido, o existencial, levando a experiência vivida a uma 
maior amplitude. E isso supõe uma dimensão fenomenológica, ou seja, a 
experiência do homem no mundo, imbuída pelas relações, afetos e valores de uma 
vida que reflete e transcende o mundo em que ele está envolvido. Mundo aberto, 
não acabado, mas profundo em sentidos, como são as histórias narradas e o 
homem em sua existencialidade. 
Segundo o autor, 
 
O narrador pode: recorrer ao acervo de toda uma vida (uma vida que não 
inclui apenas a própria experiência, mas em grande parte a experiência 
alheia. O narrador infunde a sua substância mais íntima também naquilo 
que sabe por ouvir dizer). Seu dom é poder contar sua vida; sua dignidade é 
contá-la inteira (BENJAMIN, 2012, p. 221). 
 
 
21 Escritor russo do século 19 cujas narrativas sobre os camponeses interessam a Benjamin (2012, p. 
213). 
29 
 
Nesse pensamento corpóreo, mutável, narrativo e descritivo, o corpo embala-
se no ritmo daquilo quer se quer conhecer, surgindo assim a compreensão em 
conjunto com a interpretação: 
 
Observa-se que a compreensão só se torna possível quando o pesquisador 
[...] assumeo resultado da redução como um conjunto de asserções 
significativas para ele, pesquisador, mas que aponta para a experiência do 
sujeito, isto é, que aponta para a consciência que este tem do fenômeno. A 
esse conjunto de asserções denomina-se, aqui, unidades de significados 
(MARTINS, 1992, p. 60). 
 
Desse modo, o mundo dado da consciência é sempre a intencionalidade, não 
pertencendo nem ao sujeito nem ao objeto, mas como uma vinculação homem-
mundo, ou seja, um modo de pensar na constituição do objeto de conhecimento na 
consciência, expresso na vida. 
Para tanto, como horizonte de expressão para o estudo social do esporte, 
buscamos produções cinematográficas que tratassem sobre o esporte no 
Laboratório de Imagens do Corpo e da Cultura de Movimento (VER)22. Dentre tantas 
possibilidades, escolhemos os filmes “Olympia”, um documentário23lançado na 
Alemanha, em 1938; e “Invictus”, um longa metragem produzido nos Estados 
Unidos, em 2009. Enfatizamos que a escolha por essas produções se deu 
intencionalmente por elas traduzirem aproximações estreitas com a temática e com 
os objetivos aqui propostos. 
Mesmo sendo de séculos distintos, ambos trazem contribuições relevantes 
para refletirmos o fenômeno esportivo. Isto porque, sem fugir da espetacularização e 
das demandas estruturais do esporte, apontam para o seu conhecimento na 
perspectiva de deslocamento do ético para o estético, ancorando-se na valoração de 
referências sensíveis, lúdicas e autônomas partilhada pelo vínculo e pela 
experiência corporal do atleta com o mundo esportivo. 
Os filmes analisados, “Olympia”, da diretora alemã Leni Riefenstahl, que 
retrata os Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, ocorridos em pleno regime nazista, e 
“Invictus”, dirigido por Clint Eastwood, que retoma a história da equipe sul-africana 
 
22 Laboratório instalado no Departamento de Educação Física da UFRN e é integrante do Grupo de 
Pesquisa Corpo, Fenomenologia e Movimento (ESTESIA). 
23 Olympia é composto por duas partes, a saber: Parte 1 – Festa do Povo, e Parte 2 – Festa da 
beleza. 
30 
 
de rúgbi e sua chegada à final da Copa do Mundo, no ano 1995, trazem o poder 
ideológico e a dimensão ontológica do corpo como perspectiva de entrelaçamento 
do pessoal com o cultural, o que possibilita, na complexidade da relação corpo e 
mundo, reinterrogar o vivido. 
Destacamos que nossa análise sobre os filmes encontra-se descrita nos 
anexos e que, na perspectiva de termos uma visão geral películas, consideramos 
em cada ficha de análise: a técnica cinematográfica (argumento geral do filme, foco 
narrativo, cenário e figurino, trilha sonora, fotografia e câmera), sobre o corpo e a 
cultura de movimento neles apresentados, e, ainda, as palavras-chaves 
encontradas24. 
Assim, realizamos uma apreciação estética das obras tendo como fator 
preponderante o entrelaçamento do contexto tratado com meu mundo vivido, 
destacando “cenas significativas” de cada filme nas quais fosse possível identificar 
aspectos relacionados aos elementos estéticos e educativos do esporte. Assim nos 
aproximamos de imagens e diálogos da nossa intencionalidade com o fenômeno 
pesquisado, no sentido de que muitos aspectos poderiam ser analisados, sendo 
necessário se fixar naquelas que atendessem as nossas questões de pesquisa. A 
partir desse processo destacamos três temas para discussão: a sensibilidade, as 
emoções e o paradoxo do jogo. 
É pertinente destacarmos que nos aproximamos do conceito de “cenas 
significativas” desenvolvido por Bicudo (2000) em suas pesquisas, no intuito de 
compreendermos o agir com rigor em pesquisas que fazem uso de filmes como um 
meio de registro. O termo foi apresentado como possibilidade metodológica nas 
referências de pesquisas qualitativas. O autor apresenta a cena como um recurso 
metodológico que parte do pensamento de que a compreensão da mesma possibilita 
vários sentidos possíveis. As “cenas significativas” são as unidades de significado. 
Logo, elas não seguem ditames impostos, marcando um encadeamento linear dos 
sujeitos, não sendo, portanto, um fragmento, mas uma possibilidade de 
compreensão do fenômeno, um modo de poder revelar o sentido percebido na 
experiência vivida. 
 
24 Essas fichas de análises são utilizadas pelo Laboratório de Imagens do Corpo e da Cultura de 
Movimento (VER) e foram gentilmente cedidas pela coordenação para a nossa pesquisa. 
31 
 
As cenas transpõem as estruturas lineares de início, meio e fim, transitando 
umas pelas outras, complementando-se, dialogando e se redefinindo por meio dos 
sentidos e significações dados na apreciação estética, afinal, “[...], participar da 
criação de um objeto estético é também criar a si mesmo, é poder retornar sempre a 
um começo repleto de horizontes ilimitados e poder apreender a simbiose entre 
vários fenômenos da existência” (PORPINO, 2011, p. 113). 
Diante disso, os sentidos e os significados perceptíveis se definem, se 
desfazem e se refazem diante dos múltiplos olhares possíveis, a partir da 
experiência vivida de cada apreciador e da constante reatualização feita no 
momento da apreciação. 
Destarte, a experiência estética na narrativa e na apreciação fílmica se faz na 
complexidade da relação entre corpo e mundo, levando em consideração a 
reversibilidade dos sentidos e sua capacidade de reinterrogar o vivido. 
Nessa direção, para compor esta escrita25, organizamos a seguinte estrutura 
textual: a introdução e a metodologia são nomeadas, respectivamente de, entrando 
em quadra e regras do jogo; os três capítulos são denominados de primeiro tempo, 
intervalo e segundo tempo, em alusão à estrutura de um jogo de handebol. 
No primeiro tempo – a experiência do jogar (capítulo 1), a experiência estética 
do corpo no esporte tem como referência a narrativa de minha experiência e a 
linguagem corpórea como elemento sensível no mundo esportivo. Neste capítulo, 
pautamos nossa reflexão a partir de alguns autores como Merleau-Ponty, Calvino e 
Serres, com o intuito de pensarmos sobre o sensível, os saberes e as técnicas 
corporais como dados significativos para uma educação sensível, manifesta nas 
criações e aprendizagens tecidas nas experiências vividas do atleta com os 
elementos esportivos. 
No intervalo: o jogo como devaneio (capítulo 2), fizemos um diálogo da prática 
esportiva com as narrativas cinematográficas que tematizam o esporte, a saber: 
“Olympia” e “Invictus”. Assim, por meio de autores como Merleau-Ponty, Benjamin, 
Elias e Mauss foi possível fazer um diálogo epistemológico, entrelaçando os 
conceitos de jogo, catarse-mimese e técnicas corporais a partir da apreciação 
 
25 Nossa reflexão transita da 1ª pessoa do plural para a 1ª pessoa do singular, sobretudo, no capítulo 
1. Parte em que narro acontecimentos do meu mundo vivido no esporte. 
32 
 
fílmica, como conhecimentos necessários para pensarmos o esporte no contexto 
social. 
No segundo tempo – Esporte: a educação como jogo (capítulo 3), 
apresentamos o jogo para compreensão da prática esportiva como experiência 
estética e educativa. Tal compreensão se configura, no âmbito esportivo, por meio 
do mover do corpo e das suas criações, aprendidos pelo educar do jogo. Um 
aprender que imprime-se sobre o corpo do atleta e se constitui como conhecimento 
aberto e sensível da experiência vivida no mundo. Encaminhamos a discussão a 
partir de Schiller, Merleau-Ponty e Elias considerando o jogo estético, a 
intencionalidade do movimento, o corpo como obra de arte e o papel social do 
esporte, na perspectiva de pensá-lo como manifestação cultural sempre aberto à 
criação de sentidos e possibilidades de significados. 
 
PrimeiroTempo
A experiência do jogar
34Pois um acontecimento vivido é finito, ou pelo 
menos encerrado na esfera do vivido, ao passo que 
o acontecimento rememorado é sem limites, pois é 
apenas uma chave para tudo o que veio antes e 
depois. 
 
Walter Benjamin 
35 
 
Neste capítulo, o foco da discussão é a prática esportiva como 
potencializadora de um conhecimento sensível, que se manifesta nos processos 
corporais, do corpo em movimento, revelado pela sensibilidade do atleta em quadra. 
Para isso, considera-se a experiência estética do corpo no esporte, tendo 
como referência o meu mundo vivido e a linguagem corpórea como campo da 
experiência sensível26 no mundo esportivo. Trago cinco elementos estéticos para 
essa compreensão: tempo-espaço do corpo em quadra, o olhar no contexto 
esportivo, contato com o adversário, a vitória e a derrota e gesto técnico, como uma 
forma de apresentar argumentos teóricos consistentes sobre eles, para 
compreender o esporte por meio de uma estética que envolve o atleta e configura a 
experiência educativa. 
 Para fundamentarmos nossa discussão, Merleau-Ponty se faz um pensador 
importante, por trazer o sensível como uma realidade constitutiva do homem e do 
conhecimento. Outros pensadores também foram utilizados, como Serres e Calvino, 
para podermos compreender que, a profusão dos sentidos encontrados na 
experiência do corpo no esporte são dimensões que lhes servem de suporte. 
 Para Merleau-Ponty (2011), é o sensível que afeta o homem, chega aos 
sentidos e recebe destaque, revelando a impossibilidade de distinção eu-outrem, eu-
mundo, sentiente e sensível, pois, conforme o autor, “uma certa maneira de ser no 
mundo que se propõe a nós de um ponto do espaço, que nosso corpo retoma e 
assume se for capaz, e a sensação é literalmente uma comunhão” (MERLEAU-
PONTY, 2011, p. 286). 
 Ao centralizar sua reflexão na crítica às análises empiristas e intelectualistas 
que dão ao corpo à ideia de transmissor de mensagens, como um sistema físico de 
estímulos definidos por propriedades físico-químicas, o filósofo explica que o 
sensível não é definido como um efeito imediato de um estímulo exterior, em que o 
aparelho sensorial desempenha o papel da transmissão, mas uma condição humana 
modelada pelo contexto do mundo, uma via dupla – condução-codificação – que, 
sem separação, alude todo o corpo em sentido: “O sensível é aquilo que se 
 
26 Em suas reflexões Merleau-Ponty (1989) busca compreender o homem a partir da sua experiência 
vivida, abrindo um imenso leque da relação do homem com seu corpo, com a cultura e com o mundo 
vivido. E, sobre isso ele esclarece que: “A partir do momento em que reconheci que minha 
experiência, justamente enquanto minha, abre-me para o que não é eu, que sou sensível ao mundo e 
ao outro, todos os seres que o pensamento objetivo colocado à distância aproximam-se 
singularmente de mim (MERLEAU-PONTY, 1989, p. 136). 
36 
 
apreende com os sentidos, mas nós sabemos agora que este com não é 
simplesmente instrumental, que o aparelho sensorial não é um condutor, que 
mesmo na periferia a impressão fisiológica se encontra envolvida em relações antes 
consideradas como centrais” (MERLEAU-PONTY, 2011, p. 32). 
 Na concepção de Merleau-Ponty (2011), o sensível não pode ser pensado 
como respostas codificadas dos órgãos dos sentidos e a sensação um estímulo 
físico que se esquiva. Pois os processos corporais entendidos como elementares, 
provenientes do corpo, e superiores, vistos como mentais, mantêm relações que não 
são ordenadas fisiologicamente, mas movimentos de um constante interpretar entre 
o objeto e o sujeito da percepção. Logo, a qualidade do sensível e as determinações 
do percebido imbricam-se, imprimindo certa atitude ao corpo e um engajamento dele 
com o mundo: 
 
A função do organismo na recepção dos estímulos é, por assim dizer, a de 
"conceber" uma certa forma de excitação. Portanto, o "acontecimento 
psicofísico" não é mais do tipo da causalidade "mundana", o cérebro torna-
se o lugar de uma "enformação" que intervém antes mesmo da etapa 
cortical, e que embaralha, desde a entrada do sistema nervoso, as relações 
entre o estímulo e o organismo. A excitação é apreendida e reorganizada 
por funções transversais que a fazem assemelhar-se à percepção que ela 
vai suscitar (MERLEAU-PONTY, 2011, p.114). 
 
 O sensível excede seu significado elementar; o sensorial isolado. Por meio da 
atitude corpórea o estímulo arrebata as emoções, as reações fisiológicas e todo o 
ser, levando o homem a um movimento de busca, de entrega, assim como ocorre 
entre o pintor e o quadro, um conjunto de relações, estímulos sensoriais que 
constitui um todo: 
 
O pintor deve ser transpassado pelo universo e não querer transpassá-lo 
[...] o que chamam inspiração deveria ser tomado ao pé da letra: há 
realmente inspiração e expiração do Ser, respiração no Ser, ação e paixão 
tão pouco discerníveis que não se sabe mais quem vê e quem é visto, quem 
pinta e quem é pintado (MERLEAU-PONTY, 2004b, p. 22). 
 
Nessa perspectiva, o sensível mais do que aquilo que se vê, se ouve ou se 
toca, é aquilo que, ao se ver, ouvir ou tocar, conduz ao objeto, faz ser transpassados 
por ele, assim como o pintor com o quadro, o bailarino com a dança, o atleta com o 
esporte. 
37 
 
Por isso, considera-se pertinente para se pensar o fenômeno pesquisado o 
sujeito que percebe e dá sentido ao ser-no-mundo, como fonte significativa para 
refletimos a dimensão do sensível no esporte. 
Convém trazer neste momento a minha experiência vivida no esporte, no seu 
fazer estético, no fazer e refazer do corpo, pelos quais minha vida tem significação. 
 Assim, no corpo sensível das experiências vividas é que, enquanto atleta 
reinstalo-me no cenário esportivo para embarcar na experiência estética do corpo no 
esporte. E, retornando à minha memória, busco expressar as palavras silenciadas e 
os sentidos que atravessam as múltiplas facetas e as inúmeras significações que 
nele subjazem. 
Retomar essa experiência estética foi um meio de acessar um mundo de 
imagens, uma infinidade de lembranças enraizadas no corpo, uma transfiguração 
temporal em que, misturada pelo presente e pelo passado, fui transportada a um 
porvir de cores, de sons, e de acontecimentos que estão penetrados nas esferas do 
ontológico e na expressividade do meu ser. 
Olhar minhas fotografias no 
esporte possibilitou reinstalar-me 
na experiência esportiva, revivê-la 
no meu corpo quando jogo, 
interrogando-a novamente para 
poder acessar elementos contidos 
em sua estética. Abrigado por 
outros corpos, pelo tecido do 
universo que lhe é constituído e 
pelo mundo esportivo, meu corpo 
vai se configurando por intermédio 
dessa experiência, uma vida e um 
mundo. 
Ao transportar-me através 
dessas imagens, encontro-me 
aberta ao esporte e às sutilezas 
por ele reveladas. Um mundo 
atado ao meu corpo. Sentidos 
Fotografia 01: Infinidade de lembranças 
Fonte: Arquivo da autora (1998) 
38 
 
entrelaçados que foram impressos em minha vida. Afinal, a experiência vivida 
imprime sentidos e é instituída por essa relação, permitindo ao vivido uma 
significação no mundo. 
Há um verdadeiro entrelaçamento do meu ser com o mundo esportivo, o qual 
se relaciona com a minha forma de compreender as coisas e de me envolver com 
elas. Isto porque, a compreensão é eminentemente corporal, e se dá a partir das 
experiências vividas, do contato do corpo, com os outros e também com o mundo 
(MERLEAU-PONTY, 2011). 
O esporte sempre despertou meus sentidos e minhas emoções. A princípio 
irrefletidos, mas mesmo assim, na medida em que eu ia me envolvendo, as 
sensações e tudo que o envolvia criavam laços em mim cada vez mais nítidos, mais 
fortes e existenciais. Ao longo de dezenove anos como atleta, as sensações 
reverberadas, o sensível e o emocional experimentados através do esporte, são 
sentidos quesempre tiveram fortes significações em minha existência. Uma 
existência em que o esporte não aparece como um objeto distante, mas como 
mundo em que habito, pautado pela fluidez do movimento do esporte e da vida. 
Vivenciar o esporte como atleta é poder senti-lo e compreendê-lo com um 
sentido singular, que se manifesta no corpo. E, para nós atletas, ele nem sempre 
possui o mesmo significado que o demando ou o padronizado pela mídia, pela 
política ou pela sociedade. Isto porque, vivê-lo é habitá-lo, descobri-lo através de 
suas nuances, suas formas, seus sons e suas faces, é projetar horizontes que estão 
ancorados no corpo e em seus movimentos, os quais se fundem, adquirindo um 
sentido existencial, uma abertura que: “[...] supõe que o mundo seja e permaneça 
horizonte, não porque minha visão o faça recuar alem dela mesma, mas porque de 
alguma maneira, aquele que vê pertence-lhe e esta nele instalado” (MERLEAU-
PONTY, 2009, p. 101). 
Desse modo, experienciar o handebol intensamente, em treinos, competições, 
viagens, vitórias, derrotas, gritos, alegrias, tristezas, dores e sacrifícios diversos, nos 
mistos de sentimentos e acontecimentos proporcionados por ele, tornou-o 
indispensável em minha vida, sendo ainda uma referência de sucesso pessoal e de 
formação educacional. 
O esporte mudou minha existência e me fez sentir emoções que eu jamais 
senti em outras experiências. Foi nas quadras que descobri, por exemplo, que 
39 
 
minhas sensações mais íntimas eram reveladas, ascendendo e reascendendo 
muitas vezes, o prazer e a dor, a alegria e a tristeza, a ansiedade e a serenidade, a 
emoção e a frieza, o sorriso e o choro, num vínculo paradoxal. 
Na prática esportiva os sentidos são sempre provisórios e inacabados, tendo 
no corpo sua abertura para o sensível. A experiência estética possibilitada pela 
presença corporal do atleta transpõe qualquer determinação ou definição prévia para 
ele, constituindo-se, portanto, em um mesmo contexto, uma experiência sempre 
renovada. “É a ciência do corpo humano que nos ensina, posteriormente, a distinguir 
nossos sentidos. A coisa vivida não é reconhecida ou construída a partir dos dados 
dos sentidos, mas se oferece desde o início como centro de onde estes se irradiam” 
(MERLEAU-PONTY, 2004b, p. 130). 
É a partir das experiências vividas que o homem aprende sobre si e sobre 
seus sentidos, aprendendo, ao mesmo tempo, o mundo através deles. Os sentidos 
do corpo não se realizam por determinações externas entre eles, mas se faz 
espontaneamente entre os elementos envolvidos, quando algo é significativo, os 
sentidos são aguçados e a existência humana é transformada. 
Pelas sensações do corpo vivo o esporte e, em seus movimentos, entrego-me 
ao mundo e ao universo do sensível. Essa experiência ocorre no corpo, na sua 
relação com o mundo e com o outro. 
Na perspectiva do filósofo Merleau-Ponty (2004b), o sujeito da experiência 
estética é um sujeito que é corpo, que escreve sua história nele e por meio dele. 
Logo, faz a sua história por meio de tudo aquilo que vive e sente. O corpo que se 
movimenta no esporte, se refaz a cada instante, revelando, a cada experiência 
vivida, um novo mundo de sentidos e significados. Assim, compreendo-o como 
fenômeno em que a experiência estética é vivida. Em cada sensação, expressão, 
gesto ou comunicação vivida nele, adquiro e produzo saberes que dão sentido à 
minha existência. Não por representação ou por determinação, mas pela 
experimentação sensível do corpo, pelo movimento por vezes indeterminado, pelo 
gesto imprevisível e pelo fazer e refazer de cada experiência vivida. 
Nesse pensamento, compreendo que o esporte disponibiliza uma profundeza 
de sentidos, presente nos corpos dos atletas, que nos possibilita compreendê-lo a 
partir de sua relação com a estética e a educação, permitidas pelas diversas 
significações vividas no jogar. 
40 
 
Tempo-espaço do corpo em quadra 
 
Todos os esportes têm dimensões específicas e um tempo próprio a ser 
seguido. A constatação parece óbvia e de fato é. Há um tempo e um espaço para 
que ele aconteça. As linhas delimitam a superfície a ser utilizada e o cronômetro 
indica o seu andamento. São elementos fixos, controlados por um conjunto de 
árbitros27 especializados para atuar e manter toda “ordem” e “forma” do seu 
decorrer. 
 Em alguns esportes esses elementos são relativamente “curtos” e 
“pequenos”, como no caso do atletismo e da natação, em outros, relativamente 
“longos” e “grandes”, como nos esportes coletivos e automobilísticos, mas todos 
marcados e regidos por delimitações e temporalidades próprias. 
No caso do handebol, a estrutura da partida revela na existência dessa 
organização interna uma duração determinada para a partida e uma limitação para 
os espaços que serão preenchidos. 
A partida é realizada no interior de uma quadra retangular previamente 
delimitada. Oficialmente, suas dimensões são estas: 40 metros de comprimento e 20 
metros de largura, existindo, em cada extremidade, uma área de gol, que 
compreende, na sua amplitude máxima, 6 metros a partir da linha de fundo. Nesse 
espaço, chamado a área do gol, a princípio só pode ser utilizada pelos goleiros, 
sendo punidos os demais jogadores que a invadirem. 
As partidas são realizadas em um período de tempo relativamente longo. 
Uma partida oficial dura 1 hora, sendo esta dividida em dois tempos iguais de 30 
minutos, com um intervalo de 10 minutos entre eles. 
Nesse esporte é possível ao atleta viver tempos diferentes em um mesmo 
espaço: o do próprio ato da partida que, conforme dito, divide-se em dois momentos, 
e é onde desencadeiam-se as jogadas e criam-se as movimentações; e o intervalo, 
 
27 Cada esporte tem um conjunto de arbitragem própria. No handebol, além dos dois árbitros que 
atuam diretamente no jogo, controlando as ações que possam fugir das regras, existem dois 
mesários na lateral da quadra, o secretário e o cronometrista. O secretário tem como função fazer a 
súmula da partida, computando todas as estatísticas do jogo (cartões, gols, faltas etc.). Já o 
cronometrista, que possui um cronômetro, é quem controla o tempo da partida, interrompendo-o 
todas as vezes que os árbitros ou técnicos (pedido de tempo) solicitarem. 
41 
 
compreendido como período de descanso, de troca de jogadores e de possíveis 
orientações técnicas. 
São tempos distintos de um mesmo cenário que se comunicam. Logo, pode-
se considerar os movimentos realizados como uma inter-relação dos elementos da 
partida (espaço, tempo, bola, quadra e jogadores), visto que eles se ligam ao tempo 
como dependente direto do que é acionado no corpo. Ou seja, não há como separar, 
no esporte, tempo-espaço e corpo. Posto que, ambos compõem as ações dos 
atletas em quadra e a forma como eles habitam este lugar. 
Percebo que esses fatores formam uma atmosfera em que habito desde os 
meus 11 anos. O corpo já não é o mesmo desse tempo. A agilidade parece estar 
reduzida, os arremessos gradativamente menos potentes, as dores multiplicaram-se 
e as fragilidades técnicas/táticas/físicas estão mais aparentes. Entretanto, a 
experiência que habita o corpo ao longo desses anos ainda suplanta proezas como 
as dos momentos áureos da adolescência, recuperando percepções somente 
sentidas em quadra, as quais justificam a minha permanência no esporte para me 
sentir mais feliz, mais viva e mais humana, semelhante ao que diz Merleau-Ponty 
(2011, p. 321): “Meu corpo toma posse do tempo [...] ele faz o tempo em lugar de 
padecê-lo”. 
 Por isso, não experiencio o tempo e o espaço de modo cronológico e físico 
simplesmente. Vivo-os no fluxo das minhas ações e vou habitando pela extensão do 
meu corpo, experiências que ele vivencia e que ele mesmo mede. 
Desse modo, meus movimentos não se configuram somente como um 
deslocamento no tempo e no espaço, mas é um mover

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