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Interações medicamentosas potenciais dos anti-hipertensivos: uso perigoso entre idosos

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Prévia do material em texto

I 
 
 
 
 
 
 
“Interações medicamentosas potenciais dos anti-hipertensivos: uso perigoso 
entre idosos” 
 
 
por 
 
 
Pablo Mibielli Frederico 
 
 
 
 
Dissertação apresentada com vistas à obtenção do título de Mestre em 
Ciências, na área de Epidemiologia em Saúde Pública. 
 
 
 
 
 
Orientadora principal: Prof.ª Dr.ª Suely Rozenfeld 
Segunda orientadora: Prof.ª Dr.ª Guacira Corrêa de Matos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro, março de 2012. 
 
 II 
 
 
 
 
Esta dissertação, intitulada 
 
 
“Interações medicamentosas potenciais dos anti-hipertensivos: uso perigoso 
entre idosos” 
 
 
 
apresentada por 
 
 
Pablo Mibielli Frederico 
 
 
 
foi avaliada pela Banca Examinadora composta pelos seguintes membros: 
 
 
 
 
Prof.ª Dr.ª Vera Lúcia Edais Pepe 
Prof.ª Dr.ª Dóra Chor 
Prof.ª Dr.ª Suely Rozenfeld – Orientadora principal 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dissertação defendida e aprovada em 29 de março de 2012. 
 III 
RESUMO 
Introdução - Devido à idade avançada os idosos frequentemente apresentam múltiplas 
patologias e necessitam fazer uso de mais de um medicamento, estando assim, sujeitos a 
interações medicamentosas indesejadas que podem resultar em eventos adversos e 
ineficiência do tratamento medicamentoso. Esse trabalho tem como objetivos caracterizar e 
identificar fatores associados às potenciais interações medicamentosas relacionadas ao uso 
de anti-hipertensivos em idosos. 
Métodos – O estudo tem por base um inquérito, com amostra de idosos (com 60 anos ou 
mais de idade) residentes no Rio de Janeiro, beneficiários da Previdência Social 
(DATAPREV), realizado em 2003. Foram analisados os dados buscando identificar o uso 
simultâneo de anti-hipertensivos com outras substâncias que tenham potencial para causar 
efeitos indesejados. Foram selecionados os anti-hipertensivos da Relação Nacional de 
Medicamentos Essenciais e as interações medicamentosas a partir do livro Drug Interaction 
Facts. 
Resultados e discussão – Cinquenta e três por cento da amostra de 577 indivíduos, eram 
usuários de anti-hipertensivos. Desses, 31% usavam substâncias que, com elevado grau de 
evidência científica, interagem com os anti-hipertensivos, podendo causar eventos 
adversos. Os entrevistados que utilizam 5 ou mais medicamentos tiveram chance 6,52 vezes 
maior de exposição a interação medicamentosa potencial, quando comparados aos usuários 
de 4 ou menos medicamentos; os internados no último ano tiveram chance 2,66 vezes 
maior, quando comparados aos que não sofreram internação hospitalar; e os indivíduos 
referindo estado de saúde muito ruim ou ruim tiveram chance 2,33 vezes maior, quando 
comparados aos que referem estados de saúde bom ou muito bom. O conhecimento das 
interações medicamentosas é importante para a utilização racional dos medicamentos e para 
melhora da qualidade da prescrição, principalmente em idosos, pois sua ocorrência pode 
prejudicar o tratamento de doenças importantes como a hipertensão arterial. 
Palavras-chave: interação medicamentosa potencial, idosos, anti-hipertensivos. 
 
 
 
 
 IV 
ÍNDICE DE CONTEÚDOS 
 Páginas 
INTRODUÇÃO 
 
1 
ESTUDOS DE UTILIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS 
 
1 
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS 
 
4 
A POPULAÇÃO IDOSA E O USO DE MEDICAMENTOS 
 
7 
HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS): tratamento 
 
9 
EPIDEMIOLOGIA DAS INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS – 
frequência, medicamentos envolvidos e fatores de risco 
 
 IM em pacientes hospitalizados 
 
 IM em pacientes ambulatoriais 
 
 IM na área cardiovascular 
 
12 
 
 
13 
 
13 
 
14 
JUSTIFICATIVAS 
 
16 
OBJETIVOS 
 
17 
SUJEITOS E MÉTODOS 
 
18 
RESULTADOS 
 
25 
DISCUSSÃO 
 
44 
SUGESTÔES 
 
54 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
55 
ANEXO 1 – Questionário domiciliar – Parte C – Uso de medicamentos 
 
 
ANEXO 2 – Parecer nº 79/02 do Comitê de Ética em Pesquisa da 
ENSP/FIOCRUZ 
 
 
ANEXO 3 – Anti-hipertensivos e interações medicamentosas potenciais 
selecionadas 
 
 
 
 V 
ÍNDICE DE FIGURAS E QUADROS 
 Páginas 
Figura 1. Relação entre erros de medicação, eventos adversos relacionados a 
medicamentos e eventos adversos em potencial 
 
02 
Quadro 1. Classificação da pressão arterial para indivíduos acima de 18 anos 
 
09 
Figura 2. Fluxograma para o tratamento da hipertensão arterial, segundo a “VI 
Diretrizes Brasileiras de Hipertensão” 
 
10 
Quadro 2. Classes de fármacos anti-hipertensivos e alguns fármacos 
 
11 
Quadro 3. Classificação por níveis de gravidade e evidência científica, segundo 
Tatro 
 
21 
Figura 3. Distribuição da amostra formada por aposentados com 60 anos de idade ou 
mais, Município do Rio de Janeiro, 2003 
 
36 
Quadro 4. Interações potenciais entre aposentados com 60 anos de idade ou mais, 
Município do Rio de Janeiro, 2003 
 
41 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 VI 
ÍNDICE DE GRÁFICOS 
 Páginas 
Gráfico 1. Distribuição por nº de fármacos utilizados, segundo o sexo, entre 
aposentados com 60 anos de idade ou mais, Município do Rio de Janeiro, 2003 
 
29 
Gráfico 2. Distribuição por nº de fármacos utilizados, segundo a idade, entre 
aposentados com 60 anos de idade ou mais, Município do Rio de Janeiro, 2003 
 
30 
Gráfico 3. Proporção de usuários de anti-hipertensivos, por sexo, entre aposentados 
com 60 anos de idade ou mais, Município do Rio de Janeiro, 2003 
 
31 
Gráfico 4. Proporção de usuários de anti-hipertensivos, por idade, entre aposentados 
com 60 anos de idade ou mais, Município do Rio de Janeiro, 2003 
 
31 
Gráfico 5. Proporção de indivíduos utilizando um ou mais anti-hipertensivos 
concomitantes, por sexo, entre aposentados com 60 anos de idade ou mais, 
Município do Rio de Janeiro, 2003 
 
32 
Gráfico 6. Proporção de indivíduos utilizando um ou mais anti-hipertensivos 
concomitantes, por idade,entre aposentados com 60 anos de idade ou mais, 
Município do Rio de Janeiro, 2003 
 
32 
Gráfico 7. Distribuição dos indivíduos segundo nº de interações potenciais, por sexo 
e idade, entre aposentados com 60 anos de idade ou mais, Município do Rio de 
Janeiro, 2003 
 
37 
Gráfico 8. Interações potenciais mais frequentes, por sexo, entre aposentados com 
60 anos de idade ou mais, Município do Rio de Janeiro, 2003 
 
42 
Gráfico 9. Interações potenciais mais frequentes, por idade, entre aposentados com 
60 anos de idade ou mais, Município do Rio de Janeiro, 2003 
 
42 
 
 
 
 
 
 
 
 
 VII 
ÍNDICE DE TABELAS 
 Páginas 
Tabela 1. Caracterização dos usuários de anti-hipertensivos, segundo variáveis 
demográficas, sociais e de saúde, entre aposentados com 60 anos de idade ou mais, 
Município do Rio de Janeiro, 2003 
 
26 
Tabela 2. Caracterização dos usuários de anti-hipertensivos, segundo presença de 
doenças cardiovasculares auto-referidas, entre aposentados com 60 anos de idade ou 
mais, Município do Rio de Janeiro, 2003 
 
27 
Tabela 3. Caracterização dos usuários de anti-hipertensivos, segundo presença de 
outras doenças auto-referidas, entre aposentados com 60 anos de idade ou mais, 
Município do Rio de Janeiro, 2003 
 
28 
Tabela 4. Perfil de utilização dos anti-hipertensivos estudados, por sexo, entre 
aposentados com 60 anos de idade ou mais, Município do Rio de Janeiro, 2003 
 
34 
Tabela 5. Perfil de utilização dos anti-hipertensivos estudados, por idade, entre 
aposentados com 60 anos de idade ou mais, Município do Rio de Janeiro, 2003 
 
35 
Tabela 6. Caracterização dos participantes sujeitos a interações, segundo variáveis 
demográficas, sociais e de saúde, entre aposentados com 60 anos de idade ou mais, 
Município do Rio de Janeiro, 2003 
 
38 
Tabela 7. Caracterização dosparticipantes sujeitos a interações, segundo presença 
de doenças cardiovasculares auto-referidas, entre aposentados com 60 anos de idade 
ou mais, Município do Rio de Janeiro, 2003 
 
39 
Tabela 8. Caracterização dos participantes sujeitos a interações, segundo presença 
de outras doenças auto-referidas, entre aposentados com 60 anos de idade ou mais, 
Município do Rio de Janeiro, 2003 
 
40 
Tabela 9. Fatores associados à exposição às interações medicamentosas potenciais 43 
1 
 
INTRODUÇÃO 
Os avanços tecnológicos no campo da produção dos medicamentos, sua crescente utilização 
pelas populações e as limitações de conhecimento a respeito da segurança dos fármacos 
trouxeram reconhecimento de que os medicamentos, além de ajudar no restabelecimento da 
saúde, também podem causar danos. Essa constatação vai ao encontro de uma antiga 
definição grega para phármakon, que é o que pode trazer tanto o bem como o mal, manter a 
vida ou causar a morte (Weatherall, 1990). 
 A definição acima traz embutida a noção de risco presente na utilização de 
medicamentos. O risco diz respeito à probabilidade de ocorrência de um evento ou 
desfecho desfavorável na utilização de tecnologias, e outros procedimentos nas 
intervenções em saúde (Guilam, 2006). 
 Dessa forma, esforços têm sido direcionados no sentido de descrever, organizar e 
disponibilizar informações que contribuam para aumentar a segurança na utilização de 
medicamentos. Uma das estratégias adotadas para direcionar a produção do conhecimento 
tem sido o desenvolvimento dos estudos de utilização. 
 
ESTUDOS DE UTILIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS 
Os estudos de utilização de medicamentos têm sido foco de interesse desde a década de 
1960. Nessa época, esse tipo de estudo tinha pouca inserção na área acadêmica e era pouco 
discutido pelas autoridades em saúde pública (Gama, 2008). 
 A OMS define utilização de medicamentos como comercialização, distribuição, 
prescrição e uso de medicamentos na sociedade, considerando as consequências médicas 
sociais e econômicas (WHO, 2003). 
 2 
 Os estudos envolvendo utilização de medicamentos atendem a diversos objetivos, 
dentre eles: descrição de padrões de uso; constatação de variações nos perfis terapêuticos; 
avaliação de efeitos de medidas de intervenção; estimativa de exposição individual a 
medicamentos; detecção de sinais da má utilização; levantamento das necessidades de 
medicamento, entre outros propósitos (Melo, 2006). 
Inseridos no contexto do processo de utilização de medicamentos existem alguns 
termos para classificar efeitos indesejáveis que os medicamentos podem causar no 
organismo humano. A publicação Preventing Medications Errors traz as definições e a 
Figura 1 ilustra as relações entre os termos (Institute of Medicine of National Academies, 
2006). 
Figura 1. Relação entre erros de medicação, eventos adversos relacionados a 
medicamentos e eventos adversos em potencial. 
 
 
 
 
 
 
Os erros de medicação são definidos como qualquer evento evitável que, de fato ou 
potencialmente, provoque o uso inadequado de medicamento. Esses erros podem ser 
relacionados a práticas profissionais, processos, sistemas, incluindo prescrição, 
dispensação, administração, monitoramento, entre outros (Institute of Medicine of the 
National Academies, 2006). 
 3 
 Os eventos adversos relacionados a medicamentos são definidos como qualquer 
dano ou lesão causado ao paciente pela intervenção da equipe de saúde relacionada aos 
medicamentos (Institute of Medicine of the National Academies, 2006). A definição de um 
comitê de peritos em segurança e qualidade dos cuidados à saúde da OMS (SP-SQS, 2005) 
é semelhante: evento adverso a medicamento é qualquer dano ocorrido ao paciente durante 
a terapia medicamentosa e resultante de cuidado apropriado, ou de cuidado indevido ou 
sub-ótimo. 
 Os eventos adversos em potencial são aqueles nos quais o erro ocorreu, mas não 
houve dano ao paciente por ter ocorrido em condições específicas ou pe lo fato de o erro ter 
sido interceptado e corrigido antes que houvesse dano. Apesar de não chegar a trazer 
problemas para o paciente, a identificação desse tipo de evento é importante na avaliação 
de risco da terapia (Institute of Medicine of the National Academies, 2006). 
 Os eventos adversos relacionados a medicamentos podem ser evitáveis, quando o 
dano é resultado de erros em qualquer estágio do processo de utilização, ou não evitáveis, 
quando o dano provocado pela utilização de medicamento não é conseq uência de erro 
como, por exemplo, nos casos de alergia em pacientes sem histórico de alergia (Institute of 
Medicine of the National Academies, 2006). 
Os eventos adversos não evitáveis são também denominados reações adversas, 
definidas pela OMS como qualquer efeito prejudicial ou indesejado que se manifeste após a 
administração do medicamento, em doses normalmente utilizadas no homem para 
profilaxia, diagnóstico, tratamento de uma enfermidade ou modificação da função 
fisiológica (Institute of Medicine of the National Academies, 2006). 
 4 
 Entre os eventos evitáveis, que podem comprometer a qualidade da assistência à 
saúde, estão as interações entre fármacos. Elas podem ser devidas a erros que não atingiram 
o paciente ou a eventos com danos (preveníveis ou não). 
 
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS 
Apesar da recomendação de priorizar a utilização de um único medicamento para o 
tratamento das enfermidades, em muitos casos, e por diversos motivos, faz-se necessário o 
uso de dois ou mais medicamentos concomitantemente, o que traz a possibilidade de 
interação entre eles. Uma interação medicamentosa (IM) de desfecho trágico e bem 
documentada na literatura ocorreu em 1984 na cidade de Nova Iorque, nos EUA, quando 
um jovem de 18 anos, usuário de fármacos inibidores da monoaminoxidase, foi medicado 
com meperidina ao dar entrada no setor de emergência e, em poucas horas, veio a falecer 
devido à depressão do sistema nervoso central (Asch, 1998). 
 Embora as IM, em sua maioria, repercutam negativamente no estado clínico do 
paciente, elas também podem ser benéficas. Como exemplo, há o antagonismo específico 
do diazepam com o flumazenil, o segundo sendo antagonista competitivo dos 
benzodiazepínicos no sistema nervoso central. A interação reverte os efeitos sedativos do 
diazepam. Há também a associação de sulfametoxazol com trimetoprima, ambos inibidores 
da mesma via de síntese de DNA em microorganismos, mas que atuam em pontos 
diferentes reduzindo o risco de resistência bacteriana (Rang, 2001). 
 Nies define interação medicamentosa potencial como a possibilidade de um 
medicamento alterar a intensidade do efeito farmacológico de outro medicamento 
administrado concomitantemente. O resultado da interação pode ser o aumento ou a 
 5 
diminuição dos efeitos de um ou ambos os medicamentos, ou o aparecimento de um novo 
efeito não observado na administração de um dos medicamentos isolados (Nies, 1996). 
A maioria dos estudos sobre IM investiga o potencial para interações, possivelmente 
pela dificuldade de se obter comprovação da ocorrência de interação em amostras 
significativas. Por outro lado, o estudo das interações potenciais possibilita uma análise do 
risco ao qual a população estudada está sendo exposta. 
As interações podem ser classificadas quanto ao mecanismo de ação em: 
farmacodinâmicas e farmacocinéticas. 
 Interações farmacodinâmicas ocorrem quando dois fármacos fazem suas ligações no 
mesmo receptor, ou quando eles têm efeitos aditivos ou inibitórios devido à atividade em 
diferentes receptores no organismo. Frequentemente, as substâncias, além de seus efeitos 
primários, apresentam um ou mais efeitos secundários que podem resultar em interações. 
Como exemplo, muitos anti-histamínicos e antidepressivos tricíclicos são potentes 
antagonistas muscarínicos (Nies, 1996). 
Os mecanismos farmacocinéticos das IMs ocorrem quando asações de um fármaco 
alteram o perfil de absorção, distribuição, metabolismo ou excreção de um segundo 
fármaco. O resultado pode ser aumento ou diminuição na concentração da substância no 
local de ação (Nies, 1996). 
Os fármacos administrados concomitantemente podem ainda interagir de modo 
físico-químico antes de alcançar o sítio de ação (interações farmacêuticas). Como exemplo, 
Ca2+ e outros íons metálicos presentes em antiácidos são quelados pela tetraciclina, no trato 
gastrintestinal, formando um complexo que não é absorvido (Nies, 1996). 
Muitos fármacos se ligam extensivamente à albumina plasmática e às 
glicoproteínas. Apenas substâncias não ligadas têm capacidade para penetrar nos diferentes 
 6 
tecidos. Substâncias com muita afinidade por tais proteínas inibem a ligação de outras 
fazendo com que estas fiquem mais disponíveis para atuar nos tecidos, provocando um 
aumento na sua atividade farmacológica (Nies, 1996). Por exemplo, a fenilbutazona desloca 
a warfarina de seus locais de ligação à albumina, prolongando o tempo de protrombina. O 
resultado desta IM é o aumento do potencial hemorrágico do anticoagulante (Rang, 2001). 
Com relação ao metabolismo de fármacos, as interações podem provocar aumento 
ou diminuição da quantidade de substância disponível para ação, pela inibição ou indução 
da metabolização das mesmas. Esse tipo de interação pode ocorrer entre dois fármacos, 
entre fármaco e componente da dieta ou entre fármaco e substância química, como álcool e 
fumaça de cigarro (Nies, 1996). Para a maioria dos casos, a principal via de metabolismo 
responsável pelas IMs é a de oxidação da fase I, mediada pela atividade das enzimas do 
citocromo P450. Como exemplo, a cimetidina é inibidora do citocromo P450 e provoca 
aumento da atividade farmacológica da amiodarona enquanto a rifampicina é indutora e 
provoca aceleração do metabolismo de contraceptivos orais (Rang, 2001). As substâncias 
também podem provocar alterações na excreção renal e tal capacidade depende da interação 
entre elas e o sítio ativo de transporte. Como exemplo, a probenecida é inibidora da 
secreção tubular renal de penicilinas, cefalosporinas, dapsona, indometacina, metotrexato, 
sulfinpirazona e zidovudina (Aronson, 2006). 
 Um sub-grupo populacional de alto risco para ocorrência de IM é formado pelos 
pacientes idosos, que frequentemente utilizam muitos medicamentos concomitantemente, 
têm diversas comorbidades , redução da função hepática e renal, e dificuldade em manter o 
status nutricional adequado (Mallet, 2007). 
 
 
 7 
A POPULAÇÃO IDOSA E O USO DE MEDICAMENTOS 
A população mundial, e também a brasileira, vem envelhecendo de forma rápida, desde o 
início da década de 1960. O aumento da população idosa vem sendo associado com a 
transição demográfica que, teoricamente, é orientada por três postulados centrais. O 
primeiro diz respeito à diminuição da mortalidade provocada pelo progresso técnico; o 
segundo, à mudança cultural dos hábitos reprodutivos, onde há retardamento dos 
casamentos e maior controle da fecundidade pelos casais; e, o terceiro, à influência do 
crescimento econômico no processo de queda da fecundidade. Essas transições afetam 
significativamente, e de forma direta, a estrutura etária da população (Chaimowicz, 1997). 
 O estatuto do idoso define a população idosa como aquela formada por pessoas com 
idade igual ou superior a 60 anos, e ainda garante a eles prioridade com relação à 
formulação de políticas públicas, ao atendimento preferencial e individualizado nos 
serviços, tanto públicos como os privados, dentre outros aspectos (Brasil, 2003a). 
 A idade avançada não implica, necessariamente, em diminuição na condição de 
saúde. Porém, observa-se um número maior de indivíduos com fragilidades e 
vulnerabilidades nesse estrato da população do que nos indivíduos adultos. Ta l fato pode 
ser explicado pela diminuição nas reservas fisiológicas, redução da homeostase, alterações 
nos mecanismos inflamatórios e imunológicos, presença de comorbidades e utilização de 
muitos medicamentos (Spinewine, 2007). No Canadá, estimou-se que 44% das prescrições 
no ano de 2005 eram direcionadas a idosos (Mallet, 2005). 
 O envelhecimento modifica o funcionamento do organismo de maneira altamente 
variável, tornando a seleção apropriada da farmacoterapia um processo complexo e 
desafiador. A população idosa apresenta uma alta variabilidade interindividual em relação à 
saúde, à doença e aos níveis de perda de capacidade para atividades cotidianas. Essa 
 8 
heterogeneidade traz grandes dificuldades, para os prescritores, com relação às decisões a 
serem tomadas no momento da prescrição. Dessa forma é comum encontrar, para essa faixa 
etária, prescrições inapropriadas, ou seja, medicamentos não prescritos quando necessários, 
mais fármacos prescritos do que necessário e medicamentos prescritos erroneamente 
(Spinewine, 2007) 
 Assim, a idade do paciente constitui fator importante para a ocorrência de eventos 
adversos relacionados a medicamentos. Além dos processos farmacocinéticos e 
farmacodinâmicos de absorção, distribuição, metabolização e excreção alterados, a 
existência de comorbidades e as dificuldades com relação à prescrição apropriada 
predispõem os idosos à IM (Rissato, 2005). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 9 
A HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTEMICA (HAS): tratamento 
No Brasil, a hipertensão arterial sistêmica é uma das principais doenças crônicas. Este 
agravo à saúde é caracterizado por níveis elevados e sustentados de pressão arterial (PA) e 
tem origem reconhecidamente multifatorial. O Quadro 1 mostra a classificação da pressão 
arterial para indivíduos acima de 18 anos. 
 
Quadro 1. Classificação da pressão arterial para indivíduos acima de 18 anos. 
 
* Pressão normal-alta ou pré-hipertensão. 
Fonte: Sociedade Brasileira de Cardiologia, 2010. 
 
Inquéritos realizados em cidades brasileiras nas últimas duas décadas apontam 
prevalência de HAS, na população geral, em torno de 30%. Porém, essa porcentagem 
aumenta para 50% se considerarmos a população idosa, na faixa composta por indivíduos 
entre 60 e 69 anos, alcançando 75% em indivíduos acima de 70 anos. O avançar da idade, 
então, tem uma relação direta com a elevação de PA, e é considerado um importante fator 
de risco para a doença (Sociedade Brasileira de Cardiologia, 2010). 
 A HAS pode ser controlada, dependendo da gravidade, da elevação nos valores da 
PA e do risco individual, por mudança no estilo de vida ou pelo tratamento medicamentoso. 
A mudança no estilo de vida abrange situações de menor risco pessoal e menores elevações 
 10 
de PA, e envolve medidas para controle do peso e mudanças nos padrões de alimentação, 
com ingestão de ácidos graxos insaturados, fibras, proteínas de soja, redução no consumo 
de sal e de álcool; regularidade na prática de atividade física; combate ao tabagismo; 
técnica de respiração lenta; e o controle do stress psicossocial (Sociedade Brasileira 
Cardiologia, 2010). 
 O tratamento medicamentoso, por sua vez, é adotado em situações de maior risco 
individual e maiores aumentos na PA, e é muito diversificado. Estão disponíveis, segundo o 
documento “VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão” da Sociedade Brasileira de 
Cardiologia, sete classes de fármacos anti-hipertensivos, envolvendo mais de dez 
mecanismos de ação diferentes. E, dependendo do estágio de gravidade da doença, a 
monoterapia não é suficiente, e pode ser necessário associar até três medicamentos, como 
mostra a Figura 2. 
 
Figura 2. Fluxograma para o tratamento da hipertensão arterial, segundo a “VI 
Diretrizes Brasileiras de Hipertensão”. 
 
Fonte: Sociedade Brasileira de Cardiologia, 2010. 
 11 
 
 O Quadro 2 apresenta as sete classes de fármacos com respectivos exemplos de 
substâncias comumente comercializadas, mostrando a diversidade de opções terapêuticas. 
 
Quadro2. Classes de fármacos anti-hipertensivos e alguns fármacos. 
Diuréticos Inibidores adrenégicos Bloqueadores dos canais de cálcio 
 Tiazídicos Ação central Fenilalquilaminas 
 Clortalidona Metildopa Verapamil 
 Hidroclorotiazida Clonidina Benzotiazepinas 
 Indapamida Betabloqueadores Diltiazem 
 Alça Atenolol Diidropiridinas 
 Bumetanida Metoprolol Anlodipino 
 Furosemida Propranolol Nifedipino 
 Poupadores de potássio Alfabloqueadores Nitrendipino 
 Amilorida Doxazosina Felodipino 
 Espironolactona Prazosina Inibidores da ECA* 
Vaso dilatadores diretos Bloqueadores do receptor at1 Captopril 
 Hidralazina Losartana Enalapril 
 Minoxidil Valsartana Ramipril 
Inibidor direto de renina Candesartana Lisinopril 
 Alisquireno Irbesartana Perindopril 
* Enzima conversora de angiotensina. 
 Fonte: Sociedade Brasileira de Cardiologia, 2010. 
 
 São, também, diversas as possibilidades de associações entre fármaços. Um trabalho 
realizado na cidade de São Paulo sobre o uso de anti-hipertensivos mostrou que as classes 
de medicamentos mais utilizados foram os inibidores da enzima conversora de angiotensina 
(ECA), diuréticos, betabloqueadores e bloqueadores dos canais de cálcio. E as associações 
mais frequentes foram diurético e inibidor da ECA, diurético e betabloqueador, inibidor da 
ECA e bloqueador de canal de cálcio, inibidor da ECA e betabloqueador (Souza, 2006). 
 
 
 
 12 
EPIDEMIOLOGIA DAS INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS – frequência, 
medicamentos envolvidos e fatores de risco 
 A frequência de IM em diferentes populações ou estudos é muito variável. Alguns fatores 
que podem explicar as diferenças são: o local da pesquisa (ambulatório, hospital); as classes 
terapêuticas envolvidas; as características da amostra investigada (idade, sexo, estado fisio-
patológico, tipo de alimentação); o modo de administração dos medicamentos (dose, via, 
intervalo e sequência da administração); os hábitos dos profissionais quanto às prescrições 
e o uso irracional de medicamentos (Secoli, 2001). 
Com relação aos fatores associados, análises multivariadas apontaram número de 
medicamentos utilizados (Janchawee, 2005; Doubova, 2007; Secoli, 2010; Bacic-Vrca, 
2010) e doenças relacionadas ao sistema cardiovascular (Doubova, 2007; Secoli, 2010) 
como fatores preditores da ocorrência de interações medicamentosas potencias. Com 
relação à idade, a associação é observada em estudos com a população geral, porém 
naqueles com participantes de 60 anos ou mais de idade a associação não é significativa 
(Secoli, 2010; Bacic-Vrca, 2010). Na análise multivariada de Carter (2002), que incluiu a 
interação entre idade e número de medicamentos utilizados, o efeito da idade foi minimo 
em pacientes recebendo poucos medicamentos mas foi notável nos indivíduos utilizando 
mais medicamentos. 
 Fatores como nível de escolaridade, saúde auto-referida, hospitalização nos últimos 
meses e consultas médicas nos últimos meses também já foram estudados em população 
acima de 50 anos de idade porém não foi identificada associação entre eles e a ocorrência 
de interação medicamentosa (Secoli, 2010; Doubova, 2007). 
 
 
 13 
 IM em pacientes hospitalizados 
 Num hospital universitário na Suissa, as prescrições, de admissão e de alta, de 
pacientes com diagnóstico de insuficiência cardíaca foram analisadas. Oitenta e seis por 
cento da amostra tinha idade igual ou superior a 65 anos. O número de medicamentos 
prescritos na alta (8) foi significativamente maior que o de medicamentos prescritos na 
admissão (6). Foram encontradas IM potenciais em 68% dos pacientes na admissão e em 
89% dos pacientes na alta (Straubhaar, 2006). 
No hospital geral de Vitória da Conquista foi conduzido um estudo retrospectivo em 
prescrições de pacientes de 18 anos ou mais que permaneceram no hospital por período 
superior a 24 horas. Trinta e sete por cento dos pacientes estavam sujeitos a IM potencial e 
dentre os cincos pares de interação mais comuns dois deles envolviam medicamentos que 
atuam no sistema cardiovascular (Moura, 2009). 
Em relação aos idosos, no Hospital Israelita Albert Einstein, localizado em São 
Paulo, foram identificadas 705 IMs potenciais numa amostra de 155 pacientes 
hospitalizados, resultando em, aproximadamente, quatro interações por paciente. Destas, 
28% eram graves e 72% moderadas e as consequências mais frequentes foram aumento do 
risco de sangramento e hipoglicemia ou hiperglicemia (Locatelli, 2007). 
 
IM em pacientes ambulatoriais 
 Num hospital universitário na Tailândia, as prescrições de pacientes ambulatoriais, 
de todas as idades, com dois ou mais medicamentos foram analisadas e 27,9% delas 
continham, ao menos, uma IM potencial. Dentre os cincos pares de interação mais comuns 
 14 
dois deles envolviam medicamentos que atuam no sistema cardiovascular (Janchawee, 
2005). 
 No norte da Itália, os registros clínicos de pacientes ambulatoriais de todas as idades 
foram analisados retrospectivamente e 4,7% dos participantes (16037) estavam expostos a 
IM potencial. Nesse estudo apenas interações de alta relevância clínica (gravidade elevada 
e evidência bem documentada) foram selecionadas. Mais de 80% dos med icamentos 
envolvidos nas interações atuam no sistema cardiovascular, sendo a digoxina o de maior 
frequência. Diuréticos, amiodarona, varfarina, verapamil e inibidores da enzima conversora 
de angiotensina estavam também frequentemente envolvidos (Magro, 2008). 
Um inquérito domiciliar com idosos residentes em São Paulo mostrou que 26% 
(1035 idosos) usavam medicamentos envolvidos em IMs potencialmente perigosas. Foi 
observado também que idosos com hipertensão, diabetes e problemas de coração tem maior 
chance de estarem expostos a interações (Secoli, 2010). 
 
 IM na terapia cardiovascular 
Em prescrições de usuários do programa norte americano Medicaid, com mais de 
30 anos de idade, utilizando anti-hipertensivos e com 4 ou mais medicamentos não tópicos 
prescritos, estimou-se utilização média, por paciente, de 2 anti-hipertensivos e 7 
medicamentos de outras classes. Os usuários de diuréticos poupadores de potássio, 
comparados aos usuários de outros tipos de anti-hipertensivos, apresentaram maior 
probabilidade (37,4%) de ter IM potencial de alta relevância clínica (Carter, 2002). 
Na Croácia, foram entrevistados 265 pacientes idosos ambulatoriais com 
hipertensão arterial, recebendo 2 ou mais medicamentos. Foram observadas 215 interações 
 15 
distintas e 90,6% da amostra estava sujeita a interação potencial. Cinquenta e um por cento 
das IMs potenciais envolviam anti-hipertensivos (Bacic-Vrca V, 2010). 
No norte da Palestina, nas prescrições de 876 pacientes ambulatoriais com doença 
cardiovascular e em uso de um ou mais anti-hipertensivos, foram encontrados 433 pares de 
IM potencial. Os usuários de beta-bloqueadores, comparados aos usuários de outros anti-
hipertensivos, tiveram a maior porcentagem (31,1%) de IM potenciais (Sweileh, 2005). 
No Japão, o estudo de uma coorte de indivíduos hipertensos, ainda não tratados, 
subdivididos em usuários e não usuários de anti- inflamatórios não esteróides, aferiu a 
pressão arterial sistólica na linha de base, e após 2 meses de tratamento para hipertensão 
arterial. Entre os usuários de anti- inflamatórios não esteroidais a pressão arterial foi, na 
segunda medida, maior (diferença ajustada de 2,88mmHg) que entre os não usuários, 
mostrando uma atenuação significativa da efetividade dos agentes anti-hipertensivos pela 
co-administração de anti- inflamatórios não esteróides (Ishiguro, 2008). 
Os resultados dos trabalhos citados e demais estudos encontrados na literatura 
devem ser interpretados com muita cautela. Existe variação nas definições e nas 
classificaçõesdos níveis de relevância clinica, devido às diferentes fontes usadas para 
detectar interações medicamentosas. As bases de dados sobre IM não são específicas para 
subgrupos populacionais, como o dos idosos. Muitas IM potenciais não levam a efeitos 
clínicos e, por outro lado, eventos adversos relacionados a IM podem não ser reconhecidos, 
sendo com frequência atribuídos às comorbidades (Mallet, 2007). 
 
 
 
 
 16 
JUSTIFICATIVAS 
É comum, principalmente em determinados grupos populacionais, encontrar indivíduos 
recebendo tratamento medicamentoso para múltiplas patologias, prescritos por profissionais 
de diferentes especialidades. A comunicação entre esses profissionais é, por vezes, muito 
limitada e não há quem coordene e possa retirar duplicações, redundâncias entre 
medicamentos ou prevenir interações entre fármacos. Esse contexto favorece o uso 
simultâneo de vários fármacos (polifarmácia) de maneira inapropriada. Uma consequência 
importante é a ocorrência de IM que, frequentemente, encontra-se relacionada a eventos 
adversos que, por sua vez, são reconhecidos como importante problema de saúde pública. 
Insucesso terapêutico e danos aos pacientes são os desfechos que podem ser 
provocados por IM. As estimativas, embora muito variáveis, mostram altas proporções de 
indivíduos sujeitos a IM potencial, principalmente se hospitalizados. 
 A idade avançada representa um fator de risco importante para ocorrência de IM. 
Pacientes geriátricos apresentam mudanças significativas no organismo, como alterações na 
distribuição da água, na massa muscular e na gordura corporal, assim com na função 
hepática e renal que podem afetar a biodisponibilidade e comprometer a metabolização dos 
medicamentos, aumentando sua meia-vida (t½) e a duração do efeito farmacológico. 
 Na atualidade, as IMs têm se constituído em importante objeto de investigação e são 
escassos os trabalhos sobre IM em pacientes idosos não hospitalizados. Estudos de 
utilização de medicamentos podem ser importante fonte de informação sobre potenciais 
eventos adversos relacionados às IMs, uma vez que os dados estão disponíveis, e 
usualmente são coletados de forma padronizada. Esse estudo retoma as informações obtidas 
em um inquérito realizado no Rio de Janeiro e pretende abordar o tema das IMs em idosos.
 
 17 
 
 
OBJETIVOS 
Geral 
Estudar as potenciais interações medicamentosas relacionadas ao uso de anti-hipertensivos, 
em idosos. 
Específicos 
Selecionar e descrever, com base na literatura, as interações medicamentosas e os seus 
possíveis eventos adversos, relacionadas ao uso de anti-hipertensivos. 
 
Estimar a prevalência de interações potenciais entre os medicamentos usados por uma 
amostra de beneficiários do INSS, acima de 60 anos de idade. 
 
Identificar fatores associados à ocorrência de interações medicamentosas na amostra 
estudada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 18 
 
 
SUJEITOS E MÉTODOS 
Origem dos dados e população de estudo 
Trata-se de um estudo de utilização de medicamentos, realizado a partir de informações 
obtidas do inquérito Perfil de Utilização de Medicamentos por Aposentados Brasileiros 
(Brasil, 2003b). Foram selecionados indivíduos, para entrevistas domiciliares e postais, de 
idosos com 60 anos ou mais de idade, vinculados ao Regime Geral de Previdência Social 
do INSS/MPAS. O inquérito foi realizado em 2003, nas cidades do Rio de Janeiro e Belo 
Horizonte. 
 Dos 456.628 aposentados, residentes no Rio de Janeiro, foi selecionada pelo 
DATAPREV, com base em seu cadastro de beneficiários, uma amostra aleatória simples, 
considerando-se nível de 95% de confiança e taxas de resposta de 75%. Inicialmente foram 
sorteados 800 indivíduos e devido a perdas inevitáveis, como falecimento e mudança para 
endereços não localizados, a amostra original foi acrescida de 100 indivíduos (Brasil, 
2003b). 
 Os questionários para entrevista domiciliar contavam com três blocos de perguntas. 
Um deles sobre características sociais e demográficas do indivíduo: data de nascimento, 
sexo, tipo de moradia, pessoas residentes no domicílio e escolaridade. Outro, sobre 
indicadores das condições de saúde e uso de serviços de saúde: percepção da própria saúde; 
incapacidade para realizar atividades de rotina por problemas de saúde nas duas últimas 
semanas; número de internações hospitalares no ano anterior; queixas quanto à qualidade 
do atendimento médico; história de doenças diagnosticadas por algum profissional de 
 19 
saúde; utilização de plano de saúde; pagamento e fornecimento de medicamentos por plano 
de saúde. E um terceiro bloco abordando o uso de medicamentos: uso regular; 
independência para o uso no dia-a-dia; gastos com medicamentos no último mês; 
identificação e caracterização dos medicamentos utilizados nas duas últimas semanas; 
duração do uso dos mesmos; origem da prescrição; local de obtenção; maior problema 
encontrado quando da necessidade do medicamento; apresentação do comprovante de uso 
do medicamento; interrupção do uso (Anexo 1). 
 A coleta de dados foi feita por graduandos em farmácia, treinados segundo um 
Manual de Instrução para Aplicação do Questionário Domiciliar (Brasil, 2003b). 
 As informações foram organizadas em banco de dados utilizando programas 
específicos e a classificação dos medicamentos foi feita segundo o Dicionário de 
Especialidades Farmacêuticas/DEF e a classificação Anatomical Therapeutic Chemical 
Classification System/ATC (Brasil, 2003b). 
 O inquérito foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação Oswaldo 
Cruz (Anexo 2). Foram garantidos sigilo e confidencialidade das informações por meio de 
carta assinada pela Coordenação Regional do Projeto, e consentimentos livres e 
esclarecidos foram obtidos dos participantes. 
 
Definição de interações medicamentosas (IM) e seleção dos pares de fármacos 
Será considerada a seguinte definição de IM potencial: possibilidade de um 
medicamento alterar a intensidade do efeito farmacológico de outro medicamento 
administrado concomitantemente. O resultado da interação pode ser o aumento ou a 
diminuição dos efeitos de um ou de ambos os medicamentos, ou o aparecimento de um 
 20 
novo efeito não observado na administração de um dos medicamentos isolados (Nies, 
1996). Serão consideradas apenas as IMs que possam provocar desfechos adversos aos 
pacientes. 
A seguir, as fontes bibliográficas a partir das quais foram definidos os critérios para 
seleção dos anti-hipertensivos e os respectivos fármacos que interagem com cada um deles. 
 
Anti-hipertensivos (AH) - a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) 
foi a referência para selecionar os anti-hipertensivos a serem estudados. A RENAME é um 
importante instrumento para assistência farmacêutica, construído com base nas 
necessidades nacionais, que busca englobar fármacos com segurança e eficácia terapêutica 
comprovada (Brasil, 2010b). Os anti-hipertensivos selecionados a partir da RENAME 
pertencem a seis classes diferentes, e são os seguintes: espironolactona e hidroclorotiazida 
(diuréticos); atenolol, metildopa, metoprolol e propranolol (bloqueadores adrenérgicos); 
anlodipino e verapamil (bloqueadores de canais de cálcio); hidralazina e nitroprusseto de 
sódio (vasodilatadores diretos); captopril e enalapril (inibidores da enzima conversora de 
angiotensina) e losartana potássica (antagonista de receptores de angiotensina). 
Fármacos que interagem com os AH - foram selecionados os fármacos com os quais os 
antihipertensivos listados na RENAME interagem, e que podem causar danos aos pacientes 
ou ineficácia do tratamento. O critério para seleção das IMs envolveu nível de evidência e 
gravidade do dano. A fonte de informação foi o Drug Interaction Facts (Tatro, 2011) que 
classifica as interações em cinco níveis de evidência e três de gravidade. 
 Níveis de evidência: 
Estabelecida: provada ocorrência em estudos controlados.Provável: muito provável, porém não provado clinicamente. 
 21 
Suspeita: pode ocorrer, existem bons dados, mas são necessários mais estudos. 
Possível: pode ocorrer, mas os dados são muito limitados. 
Improvável: duvidoso, ausência de evidência de efeito clínico. 
Níveis de gravidade: 
Leve: incômodo ou efeito pequeno. 
Moderada: deterioração do estado do paciente. 
Elevada: risco de vida ou dano permanente. 
 Para esse estudo foram selecionadas apenas as interações correspondentes aos níveis 
1 e 2 (Quadro 3) e elas são apresentadas no Anexo 3. 
 
Quadro 3. Classificação por níveis de gravidade e evidência científica, segundo 
Tatro*. 
Níveis Gravidade Documentação 
1 Elevada Suspeita ou > 
2 Moderada Suspeita ou > 
3 Leve Suspeita ou > 
4 Elevada / Moderada Possível 
5 Leve Possível 
Todos os níveis Improvável 
* Tatro DS. Drug Interaction Facts. Missouri: Wolters Kluwer Health; 2011. 
 
Preparo do banco de dados 
Foram utilizados nesse estudo dois bancos de dados, um combinando informações 
sobre características socias e demográficas, e indicadores das condições de saúde e uso de 
serviços de saúde e outro apenas com informações relacionadas a medicamentos. 
 Dos fármacos AH listados na RENAME, foram encontrados, no banco de 
medicamentos, os seguintes princípios ativos, após ajustes nos nomes químicos: 
espironolactona, hidroclorotiazida, atenolol, cloridrato de propranolol, tartarato de 
 22 
metoprolol, succinato de metoprolol, metildopa, besilato de anlodipino, cloridrato de 
verapamil, cloridrato de hidralazina, captopril, maleato de enalapril e losartana potássica. 
Apenas o nitroprussiato de sódio não foi utilizado por nenhum dos participantes nos 15 dias 
que antecederam a entrevista domiciliar. 
 O banco de medicamentos continha informação sobre cada princípio ativo utilizado 
em linhas diferentes e dessa forma cada participante da amostra, nesse banco, ocupava uma 
ou mais linhas dependendo da quantidade de princípios ativos utilizados. Para relacionar as 
informações contidas nos dois bancos de dados foi necessário horizontalizar o banco de 
medicamentos de forma que cada participante ocupasse apenas uma linha. Apartir desse 
ponto foram criadas variáveis para cada par de interação a ser estudado e também uma 
variável para o total de interações encontradas em cada participante. Essas variáveis foram 
inseridas no banco de informações sócio-demográficas para que fossem realizadas as 
análises. 
 
Unidade de análise e variáveis do estudo 
Foram consideradas duas unidades de análise, os participantes e os medicamentos. 
Com relação aos participantes foram utilizadas as seguintes variáveis: 
- Sexo, nas categorias masculino e feminino. 
- Idade, nas categorias indivíduos de 60 a 74 anos e indivíduos de 75 anos ou mais. 
- Escolaridade, nas categorias até primeiro grau incompleto; e primeiro grau completo e 
mais. 
- Tipo de moradia: nas categorias mora só ou não mora só. 
 23 
- Número de medicamentos, nas categorias usuários de 1 a 4 medicamentos e usuários de 5 
ou mais. Também foi utilizada uma segunda categorização: não usuários de medicamentos; 
usuários de 1 medicamento; usuários de 2 a 5; usuários de 6 a 10; e usuários 11 ou mais 
medicamentos. 
- Internação hospitalar no último ano, nas categorias sim e não. 
- Consultas médicas nos últimos 12 meses, nas categorias 1 a 5 consultas e 6 ou mais. 
- Estado de saúde auto referido, nas categorias muito bom ou bom; regular; e muito ruim ou 
ruim. 
- Possui plano de saúde, nas categorias sim e não. 
- Esteve de cama nos últimos 12 dias, nas categorias sim e não. 
- Doenças auto-referidas nas categorias sim e não: pressão alta; infarto; angina; ataque do 
coração; derrame; diabetes; artrite, artrose ou reumatismo; asma; bronquite; depressão; 
problemas de audição; e problemas de visão. 
- Usuários de anti-hipertensivos, nas categorias sim e não. A variável também foi 
categorizada em usuários de 1 anti-hipertensivo; 2 anti-hipertensivos; e 3 ou mais. 
- Expostos a interação medicamentosa, nas categorias sim e não; e também nas categorias 1 
e 2 ou mais interações. 
Os pares de interação medicamentosa potencial encontrados na amostra foram 
analisados individualmente. 
 
Análise de dados 
Os seguintes indicadores com relação aos participantes foram definidos: 
- número de participantes em uso de anti-hipertensivos/total de participantes 
 24 
- número de participantes com risco de interações/total de participantes 
- número de participantes com risco de interações/total de usuários de anti-hipertensivos 
Com relação aos medicamentos, foi definida a frequência de cada par individual de 
interação. 
Foi estimada a proporção de entrevistados que usam anti-hipertensivos e, entre eles, 
a proporção dos usuários sujeitos à interação. A seguir, foram identificadas as possíveis 
associações entre a variável desfecho e as variáveis explicativas (independentes). 
A variável desfecho foi uso simultâneo, ou não, de anti-hipertensivos com fármacos 
capazes de causar danos por interação medicamentosa. As variáveis independentes 
estudadas foram: sexo, idade, escolaridade, consultas médicas, internações, número de 
medicamentos usados, pessoas na residência, participação em plano de saúde, estado de 
saúde auto-referido, acamado nos últimos 15 dias e variáveis relacionadas a comorbidades. 
Na análise bivariada, os dados foram apresentados como frequências absolutas e 
relativas, e as diferenças entre as proporções comparadas por meio do teste 2, com 95% de 
significância estatística. 
Para a análise multivariada, a variável “número de medicamentos utilizados” foi 
selecionada, uma vez que é apontada, de forma consistente na literatura, como variável 
relevante; além disso, no presente estudo, ela se associou, significativamente, à ocorrência 
de IM na análise bivariada. As “doenças cardiovasculares” não foram cogitadas, uma vez 
que o estudo refere-se às interações entre fármacos anti-hipertensivos, supostamente usados 
por indivíduos com algum problema cardiovascular. Ainda com base na literatura 
consultada, a “idade” não foi considerada para modelagem estatística. Ademais, a amostra 
estudada é relativamente homogênea no que se refere à idade e, na análise não ajustada, a 
 25 
variável não apresentou associação estatística com interações potenciais entre fármacos. As 
“internações hospitalares no ano anterior” e a “saúde auto-referida” foram incluídas por 
estarem fortemente associadas às interações na análise bivariada (p<0,001). Optou-se por 
empregar a regressão logística, apropriada para desfechos binários, sendo o método de 
estimação do ajuste do modelo a máxima verossimilhança. 
 Os procedimentos de preparo do banco de dados e das análises foram realizados em 
SPSS 17. 
 
RESULTADOS 
População de estudo 
Do total de 900 entrevistas previstas (800 da amostra inicial e 100 da amostra adicional), 
70,7% da amostra efetiva (816) foram entrevistados (Brasil, 2003b). A amostra foi 
composta por 577 indivíduos, com predominância do sexo feminino (61%) e com média de 
idade de 72 anos, variando de 60 a 94 anos. Mais da metade dos participantes (64,1%) 
referiram ter doenças diretamente relacionadas ao sistema cardiovascular (pressão alta, 
infarto, angina, ataque do coração ou derrame) e a porcentagem aumenta para 66,4% se o 
diabetes for considerado. 
 Do total de participantes, 261 (53,3%) faziam uso de algum agente anti-
hipertensivo. A proporção de usuários de anti-hipertensivos foi maior: entre os com até 
primeiro grau incompleto (49,4% vs 38,8% entre os com primeiro grau completo e mais); 
entre os que utilizaram 5 medicamentos ou mais (66,7% vs 34,8% entre os que utilizaram 
de 1 a 4 medicamentos); entre os que sofreram internação hospitalar no último ano (63,3% 
vs 42,4% entre os que não sofreram internação hospitalar no último ano); entre os que 
fizeram 6 ou mais consultas médicas noúltimo ano (54,3% vs 39,2% entre os que fizeram 
 26 
de 1 a 5 consultas médica nos últimos 12 meses) e entre os que referiram um estado de 
saúde muito ruim ou ruim (61,4% vs 34,4% entre os que referiram saúde muito boa ou 
boa). Foram descritas acima apenas diferenças significativas (p<0,05, tabela 1). 
Tabela 1. Caracterização dos usuários de anti-hipertensivos, segundo variáveis 
demográficas, sociais e de saúde, entre aposentados com 60 anos de idade ou mais, 
Município do Rio de Janeiro, 2003 (N=577) 
Características Usuários de anti-
hipertensivos 
N(%) 
Não usuários de 
anti-hipertensivos 
N(%) 
P valor 
Sexo 
 Masculino 
 Feminino 
 
93 (41,3) 
168 (47,7) 
 
132 (58,7) 
184 (52,3) 
 
0,132 
Idade 
60 – 74 anos 
 ≥ 75 
anos 
 
162 (44,8) 
99 (46,0) 
 
200 (55,2) 
116 (54,0) 
 
0,762 
Escolaridade 
Até primeiro grau 
incompleto 
Primeiro grau 
completo e mais 
 
176 (49,4) 
 
85 (38,8) 
 
180 (50,6) 
 
134 (61,2) 
 
 
0,013 
Mora só 
Sim 
Não 
 
42 (39,6) 
218 (46,4) 
 
64 (60,4) 
252 (53,6) 
 
0,206 
Número de 
medicamentos 
utilizados 
1 - 4 
 5 ou 
mais 
 
 
 
135 (34,8) 
126 (66,7) 
 
 
 
253 (65,2) 
63 (33,3) 
 
 
 
< 0,001 
Internação 
hospitalar no 
ultimo ano 
Sim 
Não 
 
 
 
50 (63,3) 
210 (42,4) 
 
 
 
29 (36,7) 
285 (57,6) 
 
 
 
0,001 
Consultas médicas 
nos últimos 12 
meses 
1 – 5 
 6 ou 
mais 
 
 
 
135 (39,2) 
125 (54,3) 
 
 
 
209 (60,8) 
105 (45,7) 
 
 
 
< 0,001 
Estado de saúde 
auto-referido 
 
Muito bom ou bom 
Regular 
 
 
 
88 (34,4) 
126 (52,3) 35 
 
 
 
168 (65,6) 
115 (47,7)22 (38,6) 
 
 
 
< 0,001 
 27 
Muito ruim ou ruim (61,4) 
Possui plano de 
saúde 
Sim 
Não 
 
 
 
102 (41,1) 
158 (48,3) 
 
 
146 (58,9) 
169 (51,7) 
 
 
0,086 
Esteve de cama nos 
últimos 15 dias 
Sim 
Não 
 
 
31 (50,8) 
230 (44,6) 
 
 
30 (49,2) 
286 (55,4) 
 
 
0,354 
 
 
Segundo a presença de doenças cardiovasculares auto-referidas, observa-se que a 
proporção de usuários de anti-hipertensivos referindo doenças cardiovasculares foi maior 
do que os que não referiram (p<0,05), com exceção da variável ataque do coração, que não 
apresentou diferença significativa entre as categorias (tabela 2). Já na tabela 3, que se refere 
à presença de outras doenças auto-referidas, a proporção de usuários de anti-hipertensivos 
referindo diabetes; artrite, artrose ou reumatismo e problemas de visão, foi maior do que os 
que não referiram (p<0,05). 
 
Tabela 2. Caracterização dos usuários de anti-hipertensivos, segundo presença de 
doenças cardiovasculares auto-referidas, entre aposentados com 60 anos de idade ou 
mais, Município do Rio de Janeiro, 2003 (N=577) 
Características Usuários de anti-
hipertensivos 
N(%) 
Não usuários de 
anti-hipertensivos 
N(%) 
P valor 
Pressão alta 
Sim 
Não 
 
244 (70,7) 
17 (7,4) 
 
101 (29,3) 
214 (92,6) 
 
< 0,001 
Infarto 
Sim 
Não 
 
25 (67,6) 
235 (43,7) 
 
12 (32,4) 
303 (56,3) 
 
0,018 
Angina 
Sim 
Não 
 
38 (59,4) 
223 (43,6) 
 
26 (40,6) 
288 (56,4) 
 
0,025 
Ataque do coração 
Sim 
Não 
 
20 (58,8) 
241 (44,5) 
 
14 (41,2) 
301 (55,5) 
 
0,175 
Derrame 
 28 
Sim 
Não 
29 (63,0) 
230 (43,6) 
17 (37,0) 
298 (56,4) 
0,030 
 
 
 
Tabela 3. Caracterização dos usuários de anti-hipertensivos, segundo presença de 
outras doenças auto-referidas, entre aposentados com 60 anos de idade ou mais, 
Município do Rio de Janeiro, 2003 (N=577) 
Características Usuários de anti-
hipertensivos 
N(%) 
Não usuários de 
anti-hipertensivos 
N(%) 
P valor 
Diabetes 
Sim 
Não 
 
69 (70,4) 
191 (40,0) 
 
29 (29,6) 
286 (60,0) 
 
 < 0,001 
Artrite, artrose ou 
reumatismo 
Sim 
Não 
 
 
133 (54,3) 
126 (38,4) 
 
 
112 (45,7) 
202 (61,6) 
 
 
 < 0,001 
Asma 
Sim 
Não 
 
10 (43,5) 
251 (45,4) 
 
13 (56,5) 
302 (54,6) 
 
0,651 
Bronquite 
Sim 
Não 
 
21 (47,7) 
239 (45,1) 
 
23(52,3) 
291 (54,9) 
 
0,867 
Depressão 
Sim 
Não 
 
52 (52,0) 
208 (44,0) 
 
48 (48,0) 
265 (56,0) 
 
0,245 
Problemas de 
audição 
Sim 
Não 
 
 
59 (46,8) 
202 (44,9) 
 
 
67 (53,2) 
248 (55,1) 
 
 
0,614 
Problemas de visão 
Sim 
Não 
 
204 (49,8) 
57 (34,3) 
 
206 (50,2) 
109 (65,7) 
 
0,002 
 
 29 
 
Utilização de medicamentos 
Os participantes utilizavam em média 3,7 fármacos (intervalo: 0-24). A distribuição 
por número de fármacos utilizados é apresentada nos gráficos 1 e 2, por sexo e por idade, 
respectivamente. Para ambos os sexos, observa-se maior proporção de usuários que 
utilizavam de 2 a 5 fármacos, seguido de usuários de 6 a 10 fármacos; em ambos os grupos 
a proporção de mulheres é maior do que a dos homens (p<0,05). A diferença observada 
entre as faixas etárias não foi estatisticamente significativa (p>0,05). 
 
 
 30 
 
 
Os gráficos 3 e 4 comparam as proporções de usuários de anti-hipertensivos com o 
restante da amostra, por sexo e por idade, respectivamente. As mulheres e os mais jovens 
(60 a 74 anos) utilizaram mais fármacos, tanto entre os usuários de anti-hipertensivos como 
no restante da amostra. Mas as diferenças por sexo e por idade, entre os estratos, não é 
significativa (p>0,05). 
 31 
 
 
 
Aproximadamente 27% da população estudada usa um único fármaco para o 
controle da pressão arterial. Os gráficos 5 e 6 comparam a distribuição do número de anti-
 32 
hipertensivos usados por idade e sexo, respectivamente, e mostram que conforme aumenta 
o número de anti-hipertensivos utilizados diminui o número de usuários. Há maior 
proporção de mulheres e indivíduos de 60 a 74 anos fazendo uso de anti-hipertensivos nos 
3 sub-grupos analisados, mas as diferenças não foram significativas (p>0,05). 
 
 
 33 
Quanto ao perfil de utilização dos anti-hipertensivos agrupados por classe de 
medicamentos, entre os diuréticos, os bloqueadores adrenérgicos, os bloqueadores de canal 
de cálcio e os inibidores da enzima conversora de angiotensina os fármacos mais utilizados 
foram, respectivamente, a hidroclorotiazida (93,1%), o atenolol (57,9%), o anlodipino 
(81,3%) e o enalapril (65,3%). A RENAME inclui apenas um antagonista de receptores de 
angiotensina, a losartana potássica que foi utilizada por 7 participantes, e entre os vaso 
dilatadores diretos apenas a hidralazina foi utilizada por 7 participantes (tabela 4). Na tabela 
4 observa-se maior utilização de anti-hipertensivos pelas mulheres, com exceção do 
bloqueador adrenérgico metoprolol, e a tabela 5 mostra que os indivíduos de 60 a 74 anos 
fazem maior utilização de anti-hipertensivos com exceção do diurético, espironolactona, e o 
bloqueador de canal de calcio, verapamil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 34 
Tabela 4. Perfil de utilização dos anti-hipertensivos estudados, por sexo, entre 
aposentados com 60 anos de idade ou mais, Município do Rio de Janeiro, 2003 (n=261) 
Classes de anti-
hipertensivos 
Homens n ( %) Mulheres n ( %) Total de 
usuários* n ( %) 
Diuréticos (n= 116) 
 - Espironolactona 
 - Hidroclorotiazida 
 - Combinação dos 
fármacos da classe 
 
4 (44,4) 
31 (28,7) 
0 
 
4 (55,6) 
76 (71,3) 
1 
 
9 (7,8) 
108 (93,1) 
Bloqueadores 
adrenérgicos (n= 95) 
 - Atenolol 
 - Propranolol 
 - Metoprolol 
 - Metildopa 
 - Combinação dos 
fármacos da classe 
 
 
16 (29,1) 
9 (32,1) 
2 (66,7) 
5 (45,5) 
0 
 
 
39 (70,9) 
19 (67,9) 
1 (33,3) 
6 (54,5) 
0 
 
 
55 (57,9) 
28 (29,5) 
3 (3,2) 
11 (11,6) 
Bloqueadores de canal de 
cálcio (n= 32) 
 - Anlodipino 
 - Verapamil 
 - Combinação dos 
fármacos da classe 
 
 
10 (38,5) 
1 (16,7) 
0 
 
 
16 (61,5) 
5 (83,3) 
0 
 
 
26 (81,3) 
6 (18,8) 
Vasodilatadores diretos 
(n= 7) 
 - Hidralazina 
 - Nitroprussiato de 
sódio 
 
 
3 (42,9) 
0 (0) 
 
 
 
4 (57,1) 
0 (0) 
 
 
(100) 
0 (0) 
Inibidores da enzima 
conversora da 
angiotensina(n= 150) 
 - Captopril 
 - Enalapril 
 - Combinação dos 
fármacos da classe 
 
 
 
21 (38,6) 
35 (36,7) 
1 
 
 
 
31 (61,4) 
58 (63,3) 
4 
 
 
 
57 (38,0) 
98 (65,3) 
Antagonista de receptores 
de angiotensina (n= 7) 
 - Losartana potássica 
 
 
3 (42,9) 
 
 
4 (57,1) 
 
 
7 (100) 
* Há indivíduos em uso de dois ou mais fármacos, de diferentes classes e/ou na mesma 
classe, e por isso os totais superam o número de participantes. 
 35 
Tabela 5. Perfil de utilização dos anti-hipertensivos estudados, por idade, entre 
aposentados com 60 anos de idade ou mais, Município do Rio de Janeiro, 2003 
(N=261) 
Classes de anti-
hipertensivos 
60 a 74 anos (%) 75 anos ou + (%) Total de 
usuários* n ( %) 
Diuréticos (n= 116) 
 - Espironolactona 
 - Hidroclorotiazida 
 - Combinação dos 
fármacos da classe 
 
2 (22,2) 
68 (63,0) 
0 
 
6 (77,8) 
39 (37,0) 
1 
 
9 (7,8) 
108 (93,1) 
Bloqueadores 
adrenérgicos (n=95) 
 - Atenolol 
 - Propranolol 
 - Metoprolol 
 - Metildopa 
 - Combinação dos 
fármacos da classe 
 
 
41 (74,5) 
17(60,7) 
2 (66,7) 
7 (63,6) 
0 
 
 
14 (25,5) 
11 ( 39,3) 
1 (33,3) 
4 (36,4) 
0 
 
 
55 (57,9) 
28 (29,5) 
3 (3,2) 
11 (11,6) 
Bloqueadores de canal de 
cálcio (n= 32) 
 - Anlodipino 
 - Verapamil 
 - Combinação dos 
fármacos da classe 
 
 
16 (61,5) 
3 (50,0) 
0 
 
 
10 (38,5) 
3 (50,0) 
0 
 
 
26 (81,3) 
6 (18,8) 
Vasodilatadores diretos 
(n= 7) 
 - Hidralazina 
 - Nitroprussiato de 
sódio 
 
5 (71,4) 
0 (0) 
 
2 (28,6) 
0(0) 
 
7(100) 
0 (0) 
Inibidores da enzima 
conversora da 
angiotensina (n=150) 
 - Captopril 
 - Enalapril 
 - Combinação dos 
fármacos da classe 
 
 
 
35 (66,7) 
56 (60,2) 
3 
 
 
 
17 (33,3) 
37 (39,8) 
2 
 
 
 
57 (38,0) 
98 (65,3) 
Antagonista de receptores 
de angiotensina (n= 7) 
 - Losartana potássica 
 
 
5 (71,4) 
 
 
2 (28,6) 
 
 
7 (100) 
* Há indivíduos em uso de dois ou mais fármacos, de diferentes classes e/ou na mesma 
classe, e por isso os totais superam o número de participantes. 
 
 
 
 
 
 
 
 36 
Interações medicamentosas 
A figura 3 apresenta a distribuição da amostra, conforme os subgrupos de usuários 
de medicamentos. Ela é composta por 577 indivíduos, 84,9% usuários de medicamentos. 
Dentre esses, 53,3% estavam fazendo uso de anti-hipertensivos. Entre os usuários de anti-
hipertensivos, 31,0% estavam sujeitos à interação medicamentosa potencial (IMP). E nesse 
grupo, 74,1% estavam sujeitos a 1 interação, 17,3% a 2 interações e 8,6% a 3 interações. 
Considerando o total da amostra (577 indivíduos) a razão de participantes sujeitos a IMP 
relacionada ao uso de anti-hipertensivos foi de 14,0%. 
 
Figura 3. Distribuição da amostra formada por aposentados com 60 anos de idade ou 
mais, Município do Rio de Janeiro, 2003. 
 
 
 37 
Foram observados 26 pares diferentes de interação, totalizando 110 interações em 
81 indivíduos, sendo 23 de gravidade elevada, nível 1 (20,9% das interações) e 87 de 
gravidade moderada, nível 2 (79,1% das interações). O gráfico 7 mostra a distribuição de 
indivíduos segundo número de IMP, por sexo e idade. Mulheres de 60 a 74 anos formaram 
o grupo mais sujeito a IMP, enquanto que o grupo menos sujeito foi o de homens de 75 
anos ou mais. Embora no estrato de 2 ou mais interações o número de indivíduos seja 
notadamente menor, o perfil de distribuição dos indivíduos sujeitos a IMP permanece 
semelhante entre os estratos. 
 
 
 
 
A tabela 6 caracteriza os participantes sujeitos a IMP, segundo variáve is 
demográficas, sociais e de saúde. A proporção de indivíduos sujeitos a IMP foi maior: entre 
os que usaram 5 ou mais medicamentos (31,2% vs 5,7% entre os que usaram 4 ou menos); 
entre os que afirmaram ter sido hospitalizados no ano anterior (31,6% vs 11,1% entre os 
 38 
demais); entre os que realizaram 6 ou mais consultas médicas nos últimos 12 meses (21,3% 
vs 9,3% entre os que realizaram 5 ou menos consultas); entre os que consideram seu estado 
de saúde muito ruim ou ruim (28,1% vs 7,8% entre os que consideram seu estado de saúde 
muito bom ou bom); e entre os acamados nos últimos 15 dias (29,5% vs 12,2% entre os 
demais). As diferenças descritas foram significativas (p<0,05). 
 
Tabela 6. Caracterização dos participantes sujeitos a interações, segundo variáveis 
demográficas, sociais e de saúde, entre aposentados com 60 anos de idade ou mais, 
Município do Rio de Janeiro, 2003 (N=577) 
Características Sem interação 
n(%) 
Com interação 
n(%) 
P valor 
Sexo 
 Masculino 
 Feminino 
 
195 (86,7) 
301 (85,5) 
 
30 (13,3) 
51 (14,5) 
 
0,697 
Idade 
60 – 74 anos 
 ≥ 75 
anos 
 
311 (85,9) 
185 (86,0) 
 
51 (14,1) 
30 (14,0) 
 
0,964 
Escolaridade 
Até primeiro grau 
incompleto 
Primeiro grau 
completo e mais 
 
301(84,6) 
 
193 (88,1) 
 
55 (15,4) 
 
26 (11,9) 
 
0,231 
Mora só 
Sim 
Não 
 
95 (89,6) 
400 (85,1) 
 
11 (10,4) 
70 (14,9) 
 
0,227 
Número de 
medicamentos 
utilizados 
0 - 4 
 5 ou 
mais 
 
 
 
 366 (94,3) 
130(68,8) 
 
 
 
22 (5,7) 
59 (31,2) 
 
 
 
< 0,001 
Internação 
hospitalar no último 
ano 
Sim 
Não 
 
 
 
54 (68,4) 
440 (88,9) 
 
 
 
25 (31,6) 
55 (11,1) 
 
 
 
< 0,001 
Consultas médicas 
nos últimos 12 
meses 
1 – 5 
 6 ou 
mais 
 
 
 
312 (90,7) 
181 (78,7) 
 
 
 
32 (9,3) 
49 (21,3) 
 
 
 
< 0,001 
 39 
Estado de saúde 
auto-referido 
Muito bom ou bom 
Regular 
 Muito ruim ou 
ruim 
 
 
236 (92,2) 
201 (83,4) 
41 (71,9) 
 
 
 20 (7,8) 
40 (16,6) 
16 (28,1) 
 
 
< 0,001 
Possui plano de 
saúde 
Sim 
Não 
 
 
219 (88,3) 
276 (84,4) 
 
 
29 (11,7) 
51 (15,6) 
 
 
0,180 
Esteve de cama nos 
últimos 15 dias 
Sim 
Não 
 
 
43 (70,5) 
453 (87,8) 
 
 
18 (29,5) 
63(12,2) 
 
 
< 0,001 
 
A caracterização dos participantes sujeitos a IMP, segundo presença de doenças 
cardiovasculares auto-referidas é apresentada na tabela 7. Observa-se que a proporção de 
participantes sujeitos à IMP foi maior entre os que referiram doenças cardiovasculares e as 
diferenças em todas as variáveis analisadas foram significativas (p<0,05). A tabela 8, que 
caracteriza os usuários segundo outras doenças auto-referidas, mostra que a proporção de 
participantes sujeitos à IMP foi maior (p<0,05) apenas entre os que referiram diabetes 
(30,6% vs 10,5%). 
 
Tabela 7. Caracterização dos participantes sujeitos a interações, segundo presença de 
doenças cardiovasculares auto-referidas, entre aposentados com 60 anos de idade ou 
mais, Município do Rio de Janeiro, 2003 (N=577) 
Características Sem interação 
n(%) 
Com interação 
n(%) 
P valor 
Pressão alta 
Sim 
Não 
 
269 (78,0) 
226 (97,8) 
 
76 (22,0) 
5 (2,2) 
 
< 0,001 
Infarto 
Sim 
Não 
 
22 (59,5) 
472 (87,7) 
 
15 (40,5) 
66 (12,3) 
 
< 0,001 
Angina 
Sim 
Não 
 
44(68,8) 
450 (88,1) 
 
20 (31,3) 
61 (11,9) 
 
< 0,001 
Ataque do coração 
Sim 
Não 
 
 
22 (64,7) 
473 (87,3) 
 
12 (35,3) 
69 (12,7) 
 
0,001 
 40 
Derrame 
Sim 
Não 
 
29 (63,0) 
465 (88,1) 
 
17 (37,0) 
63 (11,9) 
 
< 0,001 
 
 
 
Tabela 8. Caracterização dos participantes sujeitos a interações, segundo presença de 
outras doenças auto-referidas, entre aposentados com 60 anos de idade ou mais, 
Município do Rio de Janeiro, 2003 (N=577) 
Características Sem interação 
n(%) 
Com interação 
n(%) 
P valor 
Diabetes 
Sim 
Não 
 
68 (69,4) 
427 (89,5) 
 
30 (30,6) 
50 (10,5) 
 
< 0,001 
Artrite, artrose ou 
reumatismo 
Sim 
Não 
 
 
209 (85,3) 
283 (86,3) 
 
 
36 (14,7) 
45 (13,7) 
 
 
0,740 
Asma 
Sim 
Não 
 
22 (95,7) 
473 (85,5) 
 
1 (4,3) 
80 (14,5) 
 
0,361 
Bronquite 
Sim 
Não 
 
37 (84,1) 
457 (86,2) 
 
7(15,9) 
73 (13,8) 
 
0,582 
Depressão 
Sim 
Não 
 
84 (84,0) 
408 (86,3) 
 
16 (16,0) 
65 (13,7) 
 
0,605Problemas de 
audição 
Sim 
Não 
 
 
103 (81,7) 
392 (87,1) 
 
 
23 (18,3) 
58 (12,9) 
 
 
0,285 
Problemas de visão 
Sim 
Não 
 
347 (84,6) 
148 (89,2) 
 
63 (15,4) 
18 (10,8) 
 
0,339 
 
 
O quadro 4 apresenta os principais pares de IMP observados em pelo menos 3 
indivíduos da amostra. As classes de fármacos anti-hipertensivos encontrados nas 
interações foram os inibidores da enzima conversora de angiotensina, os bloqueadores 
adrenérgicos e os diuréticos. Os pares de IMP mais frequentes na amostra foram enalapril e 
ácido acetilsalicílico (4,3%), captopril e ácido acetilsalicílico (2,9%) e atenolol e ácido 
 41 
acetilsalicílico (2,9%). Identificou-se, também, um par de IMP envolvendo dois agentes 
anti-hipertensivos, espironolactona e captopril (0,9%). 
 
Quadro 4. Interações potenciais* entre aposentados com 60 anos de idade ou mais, 
Município do Rio de Janeiro, 2003 (N=577) 
Pares de fármacos Consequência clínica** Frequência na amostra n (%) 
Maleato de enalapril e ácido 
acetilsalicilico 
Redução do efeito hipotensivo 
e vasodilatador. 
25 (4,3) 
Captopril e ácido 
acetilsalicilico 
Redução do efeito hipotensivo 
e vasodilatador. 
17 (2,9) 
Atenolol e ácido 
acetilsalicilico 
Efeitos anti-hipertensivos dos 
betabloqueadores podem ser 
atenuados pelos salicilatos. 
17 (2,9) 
Maleato de enalapril e 
cloridrato de amilorida 
Elevação da concentração 
sérica de K+ em pacientes de 
risco. 
6 (1,0) 
Cloridrato de propranolol e 
acído acetilsalicilico 
Efeitos anti-hipertensivos dos 
betabloqueadores podem ser 
atenuados pelos salicilatos. 
6 (1,0) 
Espironolactona e captopril Elevação da concentração 
sérica de K+ em pacientes de 
risco. 
5 (0,9) 
Espironolactona e digoxina Diurético pode atenuar o efeito 
inotrópico positivo da digoxina. 
Digoxina pode ser aumentada 
no soro. 
4 (0,7) 
Hidroclorotiazida e digoxina Disturbios eletrolíticos 
induzidos pela tiazida podem 
predispor a arritimias induzidas 
pelos digitálicos. 
4 (0,7) 
Hidroclorotiazida e furosemida Ambos os grupos tem efeitos 
sinérgicos que podem resultar 
em diurese profunda e sérias 
anormalidades eletrolíticas. 
3 (0,5) 
* Consideradas as identificadas em, no mínimo, três participantes. 
** Fonte: Tatro DS. Drug Interaction Facts. Missouri: Wolters Kluwer Health; 2011. 
 
 
A distribuição dos 3 pares de IMP mais frequentes, por sexo e idade, é apresentada 
nos gráficos 8 e 9, respectivamente. Nos 3 pares o número de mulheres sujeitas a IMP é 
maior que o número de homens e no par captopril e ácido acetilsalicílico essa diferença foi 
menos acentuada, mas não houve diferença significativa entre os estratos (p>0,05). Com 
relação aos grupos etários, indivíduos de 60 a 74 anos estavam aparentemente mais sujeitos 
 42 
à IMP nos 3 pares mais frequentes. Porém só foi encontrada diferença significativa entre as 
faixas etárias com relação ao par captopril e ácido acetilsalicílico (p<0,05). 
 
 
 
 43 
A tabela 9 apresenta os resultados da análise multivariada. Os fatores associados à 
exposição às Interações Medicamentosas Potencias (IMP) incluídos no modelo de regressão 
logística foram: número de medicamentos utilizados, internação hospitalar no último ano e 
estado de saúde auto-referido. Indivíduos utilizando 5 ou mais medicamentos tiveram 
chance 6,52 vezes maior de exposição a IMP, quando comparados aos usuários de 4 ou 
menos medicamentos; os internados no último ano tiveram chance 2,66 vezes maior, 
quando comparados aos que não sofreram internação hospitalar; e os indivíduos referindo 
estado de saúde muito ruim ou ruim tiveram chance 2,33 vezes maior, quando comparados 
aos que referem estados de saúde bom ou muito bom. 
Tabela 9. Fatores associados às interações medicamentosas potenciais 
Variáveis OR bruta (95% IC) OR ajustada (95% IC) 
Nº de medicamentos utilizados 
0 – 4 
5 ou mais 
 
1,0 
7,55 (4,45 – 12,81) 
 
1,0 
6,52 (3,66 – 11,63) 
Internação hospitalar no último ano 
Não 
 Sim 
 
1,0 
3,70 (2,14 – 6,42) 
 
1,0 
2,66 (1,42 – 4,97) 
Estado de saúde auto-referido 
Muito bom ou bom 
Regular 
 Muito ruim ou ruim 
 
1,0 
2,35 (1,33 – 4,15) 
4,60 (2,21 – 9,62) 
 
1,0 
1,26 (0,67 – 2,35) 
2,33 (1,03 – 5,24) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 44 
DISCUSSÃO 
Na amostra composta por 577 indivíduos acima de 60 anos de idade, beneficiários da 
Previdência Social e residentes no Rio de Janeiro, 84,9% (490 indivíduos) são usuários de 
medicamentos e nesse grupo 53,3% são usuários de anti-hipertensivos. Desses últimos, 
31,0% usam substâncias que, com elevado grau de evidência científica, interagem com os 
anti-hipertensivos, podendo causar eventos adversos. 
O estudo tem como pontos positivos ter abordado um tema pouco tratado entre nós 
e de difícil abordagem. Isso decorre de o uso concomitante de fármacos gerar possíveis 
múltiplas combinações, nem todas com evidências científicas estabelecidas para sustentar 
provas de ocorrência de interações. Além disso, os estudos existentes podem não abranger 
as diferentes posologias empregadas. Para ilustrar, o uso de ácido acetil salicílico em 
comprimidos de 350mg parece atenuar o efeito vasodilatador do enalapril e outros efeitos 
dependentes de prostaglandinas por mais de 24 horas (Hall, 1992). 
Entre as limitações, ressalta-se o fato de o estudo se basear em informação obtida do 
paciente em entrevista. Ainda que tendo sido solicitado aos entrevistados comprovação de 
uso do medicamento, com apresentação de receita médica, bula ou embalagem, é possível 
que a informação sobre exposição aos fármacos tenha sofrido algum viés. Entretanto, se 
ocorreu, possivelmente foi no sentido da omissão de uso por problemas de lembrança. A 
correção do sub-registro tornaria os valores das estimativas mais extremos. 
Outra limitação relaciona-se ao fato de o estudo ter utilizado informação auto-
referida pelos participantes, e não a partir dos registros dos tratamentos farmacológicos 
com base em prontuários médicos. Sendo assim, não se pode garantir que os medicamentos 
envolvidos em IMP foram, de fato, utilizados concomitantemente, dentro do período 
recordatório de 15 dias. Mas a comparabilidade das estimativas dos diferentes inquéritos 
 45 
não é prejudicada, uma vez que os mesmos costumam adotar procedimento e período 
recordatório semelhantes. 
Entre os usuários de anti-hipertensivos, 31,6% utilizavam apenas 1 medicamento e 
conforme o aumento do número de fármacos anti-hipertensivos utilizados, o número de 
indivíduos diminui. Tal resultado foi semelhante ao encontrado por Carter (2002), no qual 
participantes utilizando anti-hipertensivos, com média de 61,2 anos de idade, usuários de 1 
anti-hipertensivo somavam 37,7% e o número usuários diminui com o aumento de agentes 
anti-hipertensivos utilizados. Mas, Sweileh (2005), em trabalho realizado na Palestina, 
com participantes usuários de anti-hipertensivos, também com média de 61,2 anos de idade, 
observou a maior porcentagem de indivíduos utilizando 2 anti-hipertensivos (43,7%) 
seguido dos usuários de 3 (25,8%) e em terceiro lugar os usuários de 1 medicamento 
(22,1%). Diferentes hábitos de prescrição provavelmente podem ser um dos motivos da 
diferença observada. 
 Carter (2002) e Sweileh (2005) observaram a frequência de uso de classes de anti-
hipertensivos. Para ambos, entre as três classes mais utilizadas estavam os inibidores da 
enzima conversora de angiotensina, os beta-bloqueadores adrenérgicos e os bloqueadores 
de canal de cálcio. Já no presente estudo, entre as três classes mais utilizadas as duas 
primeiras também foram encontradas por nós, seguida dos diuréticos, e depois pelos 
bloqueadores de canal de cálcio. Dessa forma pode-se considerar, apesar da diferença 
observada, que os achados dos estudos apontam para uma mesma direção mostrando que 
determinados aspectos do perfil de utilização de anti-hipertensivos permanecemsemelhantes, apesar de se tratar de estudos realizados em países que podem ter práticas 
prescritivas diferentes. Todas as substâncias listadas acima são indicadas para o tratamento 
 46 
em idosos. Os beta-bloqueadores adrenérgicos devem ser usados com cautela nesse grupo, 
uma vez que o risco de efeitos adversos é maior (Brasil, 2010a). 
 A metildopa consta na RENAME como de uso restrito para o tratamento da 
hipertensão na gravidez, e é também considerada medicação potencialmente inapropriada, 
pelo critério de Beers (nivel mais alto de severidade), para uso em idosos, podendo causar 
bradicardia e depressão nessa população (Fick DM, 2003). Ainda assim, dentre os 261 
idosos usuários de anti-hipertensivos, 11 (4,2%) utilizavam o fármaco metildopa.
 Quanto às diferenças entre os sexos, os resultados de Secoli (2010), Carter (2002) e 
Doubova (2007) coincidem com nossos. Nenhum deles sugere haver diferenças entres 
homens e mulheres com relação à frequência de IMP. 
Com relação ao papel do número de medicamentos em uso, como preditor para as 
IMP, os resultados convergem entre si, e com os nossos. Os achados dos autores citados 
indicam que o número de medicamentos utilizados pode ser visto como um fator preditor 
para exposição a IMP, independente das diferenças na idade dos participantes dos estudos: 
acima de 30 anos (Carter, 2002); mais de 50 anos (Doubova, 2007); 60 anos ou mais 
(Secoli, 2010). Tais resultados são esperados uma vez que quanto maior o número de 
fármacos utilizados concomitantemente maior a possiblidade de haver interação entre eles. 
Os resultados desta análise apontam no mesmo sentido e reforçam esta questão que já é 
considerada bem estabelecida na literatura. 
 Também está claro na literatura sobre interações medicamentosas na população 
geral que, com o avançar da idade, a probabilidade de exposição à IMP também cresce. 
Porém, quando apenas indivíduos com 60 anos ou mais são incluídos no estudo, como 
neste trabalho e no de Secoli (2010), não há diferença significativa com relação a presença 
de IMP entre os sub-grupos de idosos de 60 até 74 anos e o de idosos de 75 anos ou mais, 
 47 
apesar do presente estudo ter observado uma aparente utilização de medicamentos mais 
intensa por parte dos idosos até 74 anos de idade (p>0,05). 
 Na análise bivariada, os participantes com morbidades relacionadas ao sistema 
cardiovascular, como pressão alta e infarto, e diabetes, estão mais propensos à exposição à 
IMP. O observado vai ao encontro dos achados de Doubova (2007), onde os grupos de 
indivíduos com doenças cardiovasculares ou com disturbios endócrinos, alimentares ou 
metabólicos estavam mais sujeitos a IMP. Secoli (2010) também encontrou resultados 
concordantes ao observar que hipertensão, problemas de coração e diabetes eram fatores de 
risco associados a IMP. A maioria das morbidades consideradas pelos estudos como 
preditoras de interação entre os fármacos são doenças crônicas e assim envolvem 
tratamento medicamentoso contínuo, frequentemente envolvendo múltiplos fármacos. 
Dessa forma seria esperado esse tipo de relação entre as doenças crônicas e as IMP, 
principalmente em população idosa que, além das alterações de parâmetros 
farmacocinéticos causadas pela idade, estão sujeitos às alterações funcionais provocadas 
pelas próprias doenças crônicas, o que os deixa mais propensos a ocorrência de eventos 
adversos relacionados a medicamentos. 
 Na análise multivariada, o fato de o entrevistado ter sido internado no ano anterior e 
referir pior saúde associou-se às interações entre os fármacos antihipertensivos, o que 
diverge dos achados de Secoli (2010). Características da população e das interações 
estudadas podem explicar as diferenças entre os estudos; rever a literatura pode ajudar a 
compreender o papel dessas variáveis. 
Os resultados da análise multivariada confirmaram aqueles da análise bivariada. O 
número de medicamentos permaneceu fortemente associado, embora com valores um 
pouco menores após o ajuste (OR= 7,6 vs 6,5). 
 48 
 Dentre os 577 participantes do estudo, 14,0% estavam sujeitos à IMP relacionada ao 
uso de anti-hipertensivos e quando considerados apenas os usuários de anti-hipertensivos, a 
prevalência sobe para 31,0%. Secoli (2010), em trabalho semelhante com população idosa 
residente na cidade de São Paulo, porém englobando interações que envolvem não só anti-
hipertensivos mas todos os fármacos utilizados, estimou que 26,5% dos participantes 
estavam sujeitos a IMP e considerando o grupo de usuários de dois ou mais medicamentos 
a prevalência subiu para 54,9%. As diferenças entre as estimativas do nosso estudo e o de 
Secoli (2010) podem ser explicadas pela quantidade de interações pesquisadas em cada 
trabalho e pelas diferenças entre as fontes de informação utilizadas para identificar as 
interações, suas consequências e sua gravidade. Aqui, foi empregado o Drug Interaction 
Facts enquanto Secoli (2010) utilizou Micromedex. No entanto, seria esperada frequência 
maior de interações num estudo que incluísse número maior de pares de interações a serem 
pesquisados, como foi o caso do estudo citado acima (Secoli, 2010). 
 As fontes de informação sobre IMP utilizadas podem influenciar as estimativas e 
explicar as diferenças encontradas na literatura sobre o tema. Mas, mesmo empregando a 
mesma fonte, pode haver diferenças nos critérios escolhidos. Para ilustrar, Magro (2008) 
utilizou, assim como nós, o livro Drug Interaction Facts como fonte de informação para 
seleção de interações. Essa base divide as interações em cinco categorias de relevância 
clinica, mas Magro (2008) considerou apenas as interações classificadas na categoria 1 
(relevância clinica mais elevada) e assim encontrou uma prevalência de 4,7% numa 
amostra incluindo apenas usuários de medicamentos. Já aqui foram selecionadas interações 
classificadas nas categorias 1 e 2. Dessa forma, apesar de a fonte de informação ser a 
mesma, ao confrontar resultados, esse tipo de observação deve ser feita, pois o número de 
interações selecionadas varia muito e influência de maneira importante as estimativas. 
 49 
Espera-se frequência maior de interações quando um número maior de interações é 
pesquisada. 
Quando são comparados estudos realizados a partir de fontes diferentes de 
informação, a preocupação deve ser ainda maior visto que não se conhece o grau de 
concordância entre elas; ou seja, deve-se levar em consideração que as interações incluídas 
variam conforme a fonte, assim como a maneira como são classificadas com relação à 
relevância clinica em cada uma delas. Vitry (2006) selecionou 50 fármacos e listou as 
interações entre eles segundo quatro fontes de informação diferentes. Das interações 
classificadas com nivel de significancia 1 e 2 no Drug Interaction Facts, 14,6% não 
estavam incluidas no Micromedex, e entre as interações comuns às duas fontes de 
informação, 33% das classificadas como de gravidade elevada no Micromedex foram 
classificadas como de gravidade moderada no Drug Interaction Facts. 
Outra situação para ilustrar as divergências que podem ocorrer entre as fontes de 
informação, diz respeito à interação entre a espironolactona e os anti- inflamatórios. 
Segundo o Formulário Terapêutico da Rename, o ácido acetilsalicilico e os anti-
inflamatórios não-esteroidais (AINES) podem reduzir o efeito da espironolactona (Brasil, 
2010a). Entretanto, na busca por interações entre espironolactona e AINES, em Aronson 
(2006), observa-se que alguns deles, em especial a indometacina e o ácido mefenâmico, 
inibem a excreção de canrenone, que é um metabólito ativo da espironolactona. Já o Tatro 
(2011) não refere interações entre espironolactona e AINES, exceto com o ácido 
acetilsalicílico, porém com gravidade menor, portanto excluído do presente estudo. 
Dessa forma, mesmo considerando a existência de fontes confiáveis como o 
Micromedex, excluímos

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