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Percepções acerca de medicamentos


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PERCEPÇÕES ACERCA DE MEDICAMENTOS
DISCIPLINA: FARMÁCIA E SOCIEDADE
 “O medicamento percebido como objeto híbrido: uma visão crítica do uso racional”
Referências bibliográficas: - SEVALHO, G. O medicamento percebido como objeto híbrido: uma visão do uso racional. In: ACÚRCIO, F.A. (org). Medicamentos e Assistência Farmacêutica. Belo Horizonte: Coopmed; 2003. p. 1-8.
A partir do desenvolvimento da Clínica Médica (em hospitais franceses século XVIII-XIX), a doença foi analisada em fragmentos cada vez menores, revelando a busca da Medicina por sua partícula fundamental. A ciência ocidental vê a natureza como um objeto a ser explorado em prol do conhecimento, e como obstáculo sobre o qual se deve ter domínio, assim como dizia Bacon (séculos XVI-XVII), “o homem que conhece é dono e patrão da natureza, produtor e utilizador desmedido de tecnologias” (SEVALHO, G, 2003, p.) 
De acordo com Brugger (1969, p.347), a razão não segue mais o conceito de universalidade segundo concepção estática e, sim, dinâmica, sendo vista como o conjunto de normas que garantem a intercomunicabilidade e a compreensão comum. Segundo Marilena Chauí (1996, p.21, 22), referenciais clássicos da razão “são a universalidade, necessidade, intengibilidade do real e da ação humana” Para ela, tais referenciais se perderam ao caracterizar uma “crise da razão”. 
Para adequar o consumo à crescente produção tecnológica, a sociedade necessita diminuir mais ainda a temporalidade das ações, retirando dos bens a durabilidade e os substituindo rapidamente. 
Com o desenvolvimento da ciência moderna, do Iluminismo e da sociedade que segue o sistema político-econômico do capitalismo, a OMS, em 1985, estabeleceu que o uso racional de medicamentos exige que os pacientes recebam a medicação correta e em doses satisfatórias por determinado período, e com o mínimo de gasto para eles e a comunidade. Aos moldes capitalistas da sociedade atual, razão, tecnologia e ciência “são elementos indissolúveis para a compreensão crítica da complexidade social”, de acordo com Chauí. 
Portanto, para compreender a complexidade dos componentes do mundo moderno, devemos ter conhecimento da interdisciplinaridade – reunir conhecimento de diversas disciplinas –, e unir ciências sociais, naturais e humanas.
“Por uma filosofia do medicamento”
Referências bibliográficas: SILVA, C.D.C. Por uma filosofia do medicamento. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2015, vol.20, n.9, pp.2813-2824.
O desejo do homem de viver e prolongar sua existência foi um dos eventos que propiciaram o desenvolvimento dos medicamentos. Com a Revolução Industrial, os medicamentos se tornaram base para comportamentos voltados à cura no ocidente, além de passarem a ser onipresentes nos tratamentos de doenças – fazendo com que a farmacologização do corpo se constituísse em uma nova cultura. 
O obscuro registro histórico do medicamento no século XX – altos lucros atingidos com a comercialização de medicamentos, falta de moléculas inovadoras e o acesso dificultado a novos fármacos – mostra a importância de abordagens que excedam o tecnicismo. Michel Foucault formulou o conceito de biopolítica (animal vivo e dotado de existência política), que teve contribuições como as de Nikolas Rose – o qual afirma que uma das mutações científico-culturais determinantes das ideias de saúde e vida pelo campo da medicina atualmente é a economia da vitalidade. Diariamente, as pessoas definem suas vidas baseando-se na existência médica, cognitiva e biológica (praticar esportes, evitar obesidade, atentar-se à saúde mental e cognitiva). 
Rose discorreu sobre essas novas formas de cidadania (para ele, biológicas), caracterizadas devido à biopolítica: elas se organizam ao redor do que há em comum em um “status somático”, que reúne novos medicamentos e tecnologias. As diferenças binárias de patológico e normal da Clínica Médica se arranjam em estratégias definidas pela racionalidade, contexto no qual o prescritor define sua decisão, tendo em vista que a prescrição médica – a qual pressupõe o exame, anamnese e diagnóstico – se submete a regulações impostas pelo Estado e Mercado. 
Na perspectiva da filosofia do medicamento, há 3 campos de problematização da medicação: ontológico (análise da causalidade instrumental e significado dado pela sociedade aos medicamentos), morais (critérios avaliativos dos medicamentos e seus objetivos, do que eles implicam à moral, política, economia e cultura) e epistemológicos (visão voltada à estrutura do conhecimento operacional, à relação estabelecida entre conhecimento tecnológico e científico, e à natureza da síntese).

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