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GOTA Introdução Artropatia por formação de cristais de urato monossódico di-hidratado nos tecidos articulares. Doença sub tratada e sub diagnosticada. Os pacientes geralmente não fazem o tratamento corretamente. → Sempre que estivermos diante de uma monoartrite: realizar artrocentese. Diagnósticos diferenciais Investigar: • Gota • Infecção sistêmica (solicitar sorologias) • Trauma • Neoplasia (investigação hematológica) → Pacientes com gota referem “aura”. Sabem quando ocorrerá uma crise. → Em pacientes jovens, devemos ficar sempre atentos a infecções do trato geniturinário. Questionar os hábitos sexuais do paciente. Fatores de risco Fatores de risco: • Hiperurecemia • Sexo → masculino • Idade → 30 a 60 anos • Etnia → caucasianos e asiáticos (deficiência da enzima conversora da hipoxantina) • Genética → predisposição maior quando tem um parente de primeiro grau com a doença • Dieta → maior ingestão de proteínas, alimentos ricos em purinas, calorias, bebidas adoçadas bebidas alcoólica e frutose • Medicamentos hiperuricemiantes → como diuréticos e AAS → A maior prevalência de gota no sexo masculino diminui com a idade, uma vez que os estrógenos são fatores de proteção para as mulheres, que se tornam uma população mais susceptível após a menopausa – maior incidência de gota entre 55 a 70 anos. → Os pacientes podem ingerir carne vermelha e bebidas alcoólicas com moderação (homens – 2 latas; mulheres – 1 lata). O aumento da longevidade está relacionado com o aumento dos casos de gota. → Hiperurecemia assintomática NÃO é gota. Só pode ser considerado gota após a primeira crise de artrite. Fisiopatologia A formação dos cristais decorre da supersaturação de urato dos tecidos envolvidos. A elevação dos níveis séricos de urato (> 7 mg/dl) pode ser resultado de uma superprodução ou de uma produção excessiva ou redução na excreção renal (90% dos casos). A doença é determinada pela interação entre fatores genéticos e ambientais. → Fatores ambientais como clima frio e úmido podem desencadear crises de gota. Fisiopatologia: • Superprodução (metabolismo hepático) ou turnover celular • Subexcreção renal ou extra renal → A redução do pH (< 7,4) e da temperatura (< 37 °C) diminuem a solubilidade do urato e, por isso, a topografia das crises é predominantemente apendicular e periférica. Relação da causa com a fisiopatogenia: • Genética e drogas: resultado de uma subexcreção renal ou extra renal • Dieta, álcool, metabólica, proliferativa: ocasionadas por superprodução Metabolismo do ácido úrico: • 30% é proveniente do próprio organismo e 70% da dieta • Purina → hipoxantina → xantina → ácido úrico → transportado e excretado → 30% intestinal e 70% renal O ácido úrico é formado a partir da dupla oxidação da purina hipoxantina pela xantina oxidase. A frutose e o álcool podem acelerar a produção do AMP, que ao entrar na via das purinas, gera mais hipoxantina. → URAT-1: enzima que aumenta a reabsorção renal do AU. Alguns medicamentos utilizados no tratamento inibem a URAT-1 e aumentam a excreção do AU (losartana, probenecida e AAS em altas doses). → Deficiência da hipoxantina guanina fosforibosiltransferase (enzima capaz de reaproveitar a hipoxantina) pode acarretar uma forma grave e precoce de gota. Uma vez formado, o ácido úrico não pode ser degradado. É excretado pelo intestino (30%) e pelos rins (70%). Nos rins: • É totalmente filtrado, pois é uma molécula pequena • 90% do AU filtrado é reabsorvido no túbulo proximal pelos transportadores de ácidos orgânicos (ex. URAT-1) Quadro clínico Hiperuricemia assintomática: • Estágio pré-gota ou precursora da gota • Níveis elevados de uricemia sem a presença de complicações da formação de cristais de urato (artrite ou litíase urinária) → Indivíduos com hiperuricemia persistente, mesmo que não desenvolvam gota, apresentam maior risco para HAS, IR e DCV. Normalmente ocorrem em pacientes com uricemia mantida > 9 ou 10 mg/dl. Quadro clínico: • Homens na 4° ou 5° década de vida com artrites agudas intermitentes • Acomete preferencialmente as articulações dos pés – podagra (inflamação da articulação metatarsofalângica do hálux) • Início durante a madrugada → por causa do frio e porque a articulação está em repouso por longo período • Aura da gota → sintomas que precedem o aparecimento de uma crise e são percebidos pelo paciente • Dura em média 10 anos → Geralmente os pacientes com gota têm dificuldade de adesão ao tratamento e acabam desenvolvendo seu próprio “esquema medicamentoso”. Crises agudas da gota (CAG): • Dor intensa e eritema local • Grande sensibilidade ao toque • Respondem bem à antiinflamatórios e podem ter resolução espontânea após alguns dias • Se não for adequadamente tratada a partir da CAG, as crises tendem a ser mais frequentes e prolongadas → evolui para quadro crônico e progressivo, com sequelas e deformidades → A alternância de CAG com períodos assintomáticos é fortemente sugestiva de gota. O diagnóstico diferencial nessa fase deve incluir artrite traumática, artrite infecciosa, artrite psoriásica e artrtites causadas por outros cristais. Quadro clínico da gota crônica: • Período entre as recaídas não é mais livre de dor • Sinovite crônica • Poliartrite → evolui com o acometimento de outras articulações • Deformidades → tofos (depósitos de urato) • Impacto nas atividades cotidianas o Surgimento dos “tofos” → coleções organizadas de critais de monourato de sódio em 3 – 21% dos casos o Comum em locais de cartilagem (orelhas e mãos) e nas bursas dos cotovelos • Comum: bursite e tenossinovite Diagnóstico Diagnóstico: • Artrocentese • Dosagem de ácido úrico → geralmente está diminuído durante a crise (o AU sai da circulação sanguínea e é depositado nas articulações, por isso muitas vezes está diminuído durante as crises) → O diagnóstico definitivo é dado pelo exame a fresco do líquido sinovial. Liquido sinovial → característica inflamatória: • Cor amarelo palha/turvo • Viscosidade diminuída • Leucócitos 2000 a 75000 (predomínio de PMN) • Glicose normal • Pesquisa de cristais deve ser feita em liquido fresco, máximo 6h após retirada ou em líquido refrigerado 4°C em até 24h (microscopia de luz polarizada apresenta birrefringência negativa) • Uricosúria de 24h o Se aumentado → excesso de produção o Calcular o clearance do ácido úrico → se diminuído indica redução da excreção o CIAu = AU na urina de 24h x diurese em ml/min)/AU sérico → Birrefrigerência negativa e cristais em forma de agulha – necessário para o diagnóstico definitivo da gota! → Os achados de cristais em forma de agulha, típicos de urato de monossódico, especialmente se fagocitados por leucócitos, são considerados patognomônicos da gota. Solicitação de exames Na crise: • PCR (muito elevado) • VHS (muito elevado) • Hemograma → leucocitose com aumento de PNM Fora do período de crise, solicitar: • Hemograma • Lipidograma • Glicemia de jejum • Ureia • Creatinina • Cálcio • Fósforo • FA, GGT, TGO, TGP • PTH • TSH • USG rins e vias urinárias Exames de imagem: • Radiografia o Pouco valor diagnóstico nas primeiras crises o Inicialmente: aumento de partes moles e derrame articular o Com a evolução: cistos subcondrais e erosões bem definidas na proximidade dos tofos (lesões em saca-bocado) o Tardiamente (> 10 anos): erosões ósseas (saca-bocado) e tofos justa ou periarticulares podem ser vistos como nódulos densos de tecido mole ou calcificados • Ultrassonografia o Apresenta achados mais sensíveis e específicos para gota mesmo em fases iniciais o Microcristais no líquido sinovial → tempestade de neve (snowstorm) o Duplo contorno: característica não específica de gota; banda(linha) hiperecoica na margem condrossinovial da cartilagem hialina, desaparece quando AU < 6 por mais de 7 meses • Tomografia: TC com dupla emissão de energia (consegue definir a composição dos cristais) o Melhor método de imagem o Não consegue definir sinovite ativa ou inativa o Consegue detectar depósitos incipientes de cristais e até diferenciar os cristais de urato dos cristais de cálcio → Depois que o paciente perde motilidade da articulação, geralmente ele para de queixar dor. Lesões em saca bocado na radiografia: Diagnóstico Diagnóstico: • < 4 = improvável • > 4 e < 8 = possível • > 8 = provável Padrão: identificação dos cristais de MUS na amostra por meio de microscopia de luz polarizada. Tratamento Ajuste de outros tratamentos: • Evitar medicamentos que diminuem excreção renal do AU, como: o Diuréticos tiazídicos o Diuréticos de alça o AAS dose baixa (60 – 300 mg) o Beta bloqueadores o Ácido nicotínico o Bloqueadores dos receptores da angiotensina (tirando losartana) • Substituir por: o Losartana o Bloqueadores dos canais de cálcio (diltiazem, verapamil, nifedipina, anlodipino, felodipina, nimodipina, nisoldina) o Fenofibrato (lipidil, lipanon, reducofen, hipofithy, fenobraty, lanpexio) Orientação alimentar – evitar os seguintes: • Bebidas alcoólicas, principalmente a cerveja • Vísceras (coração, fígado e rins) • Temperos prontos • Fermento de padeiro e levedura de cerveja na forma de suplemento • Carne vermelha em excesso • Frutos do mar como mariscos, mexilhão e vieiras • Peixes como anchovas, arenque, cavala e sardinha (de mar e de rio) • Produtos industrializados com algum ingrediente que tenha frutose como: refrigerante, sucos de caixinha ou em pó, ketchup, maionese, mostarda, molhos industrializados, caramelo, mostarda, mel artificial, chocolate, bolos, pudins, fast food, salsicha e presunto → Frutose da fruta geralmente não desencadeia a crise, mas a que é utilizada como conservante sim. Tratamento na crise O paciente deverá ser orientado a identificar os primeiros sinais e sintomas e iniciar seu tratamento imediatamente, preferencialmente nas primeiras 24 horas. Tratamento farmacológico: • Iniciar o tratamento nas primeiras 24h (ideal) • Se estiver usando terapia uricorredutora → NÃO interromper • AINE, colchicina e corticosteroides (VO, IM ou intra-articular) → podem ser utilizados isoladamente ou em combinação → Na prática, quando não há contraindicação, um AINE em dose plena, associado ou não com colchicina em dose baixa (0,5 a 1 mg/dia,) tem sido a opção mais empregada. Para pacientes com contraindicação para AINE, o uso da colchicina em dose baixa nas primeiras 12 horas é efetivo. Não medicamentoso: • Repouso, compressa gelada, evitar bebidas alcóolicas e evitar sobrecarga da articulação acometida • Medicamento: deve usar 1 – 2 semanas (suspender depois de 2 dias da resolução da crise) • Mais recomendado: AINES em dose plena + colchicina (0,5 – 1 mg/dia) → Se o paciente tiver indicação de tratamento com liporredutor, a colchicina deve ser mantida como forma de profilaxia, pois o medicamento liporredutor pode deflagrar uma crise. Geralmente a profilaxia deve ser mantida por 4 a 6 semanas. O controle adequado da hiperuricemia é a melhor forma de prevenção de novas CAG → manter nível sérico < 6 mg/dl. → Em pacientes com tofo: manter < 5 mg/dl para que ocorra a reabsorção. Orientações: • Manter dieta hipocalórica com baixo teor de purinas • Reduzir o consumo de álcool, refrigerantes e bebidas energéticas com alto teor de frutose Colchicina: • Melhor indicar nas primeiras 12h, depois de 36h tem efeito reduzido • Fazer dose de ataque de 2 comprimidos (totalizando 1 mg), seguido de 1 comprimido (0,5 mg) após 1 hora, seguido de profilaxia com 2 comprimidos (totalizando 1 mg/dia) após 12 horas. Medicações uricoredutoras (MUR) estão indicadas quando: • Duas ou mais crises ao ano • Dano articular • Presença de tofo • Urolitíase • Primeira crise < 40 anos • AU > 8 mg/dl • Presença de comorbidades • Inibidores competitivos da xantina oxidase - iXO (bloqueiam a síntese hepática do AU): o Alopurinol: ▪ Previne a síntese de urato a partir da hipoxantina e da xantina ▪ Cerca de 3 a 5% dos pacientes apresentam reações adversas → pode causar náuseas, vômitos, erupção cutânea, febre medicamentosa, leucopenia, trombocitopenia, alteração da função hepática, síndrome de hipersensibilidade ao alopurinol (exantema, febre, hepatite, eosinofilia) ▪ Iniciar dose de 100 mg/dia (aumentar a cada 2 – 3 semanas), dose efetiva em alguns casos é de 600/800 mg/dia • Inibidor seletivo da XO não purínico (metabolizado no fígado e eliminado na urina e nas fezes): o Febuxostato: ▪ Dose 40 – 120 mg/dia ▪ Insuficiência renal leve ou moderada e hepática Cild Pugh A e B (não tem no Brasil) • Uricosúrico: o Aumenta a excreção renal o Benzbromarona: ▪ Bloqueia de modo efetivo a reabsorção do AU mediada pela URAT-1 ▪ Dose: 25 – 50 mg/dia (alvo → 200 mg/dia) ▪ As doses devem ser escalonadas de forma progressiva, a cada 2 a 4 semanas, de acordo com a necessidade, até atingir a dose alvo ▪ O paciente deve ser orientado a fazer ingestão hídrica diária de 30mL/kg para prevenir a ocorrência de urolitíase ▪ Devem ser evitadas em hepatopatas ou em indivíduos que fazem uso de outros medicamentos hepatotóxicos ou que ingerem bebidas alcoolicas em excesso – risco de hepatite fulminante → O início das MUR pode estar associado com o desencadeamento de novas CAG e, por isso, deve ser iniciado em doses baixas e de preferencia associadas com o uso de fármacos anti-inflamatórios profiláticos. Idealmente só devem ser introduzidas após o controle completo de uma CAG. → As doses deverão ser ajustadas a cada 2 – 4 semanas, até alcançar o alvo terapêutico estabelecido para o paciente. → Explicar para o paciente todos os efeitos colaterais e orientá-lo a procurar um DE caso apresente sintomas de hipersensibilidade ao alopurinol.
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