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Propedêutica Clínica Cirrose e Insuficiência hepática ⇒ Nos casos de insuficiência hepática o fígado não está realizando suas funções adequadamente, dessa forma há um conjunto de sinais e sintomas que indicam insuficiência hepática. Devemos lembrar algumas funções importantes do fígado: ● Metabolização de toxinas e fármacos ● Síntese proteica → principalmente albumina ● Controle glicêmico ● Síntese de fatores de coagulação ● Síntese de ácidos graxos e triglicerídeos ● Captação e metabolismo de amônia (ciclo da ureia) ● Conjugação de bilirrubina ✓ Cirrose: A cirrose é uma das principais doenças hepáticas que pode levar a insuficiência. Causas da cirrose podem ser, por exemplo, o etilismo crônico e esteatose hepática, mas existem inúmeras outras doenças que podem levar a cirrose, normalmente são fatores que causam agressão mas dão tempo hábil para o fígado se regenerar (e rearranjar sua arquitetura). ● As células estreladas ficam sob efeito de células inflamatórias, como consequência há aumento na produção de fibras colágenas e deposição excessiva no espaço de Disse, o que pode causar obstrução nos sinusóides hepáticos. Com o tempo ocorre um rearranjo na arquitetura hepática e ao final desse processo os hepatócitos sofrem fibrose, já que são cada vez menos irrigados por conta da obstrução dos sinusóides. ● Os hepatócitos podem formar nódulos de regeneração que crescem muito por conta do excesso de função e atingem uma nova arquitetura. ⇒ Sinais e sintomas da cirrose: ● Devemos sempre fazer uma boa e completa anamnese para retirar bem a história clínica do paciente. ● Ao exame físico, o paciente cirrótico normalmente se apresenta da seguinte forma: ➢ Ictérico: Como a conjugação de bilirrubina ocorre no hepatócito na cirrose ele está fibrótico, esse processo fica prejudicado e o paciente muito provavelmente se apresentará ictérico. ➢ Ginecomastia: Na cirrose há um hiperestrogenismo e baixa testosterona, com isso os receptores de estrógeno na mama recebem o estímulo para crescimento e não há testosterona suficiente para bloquear essa ação, dessa forma o paciente desenvolve ginecomastia. ➢ Eritema palmar: É uma consequência do hiperestrogenismo, visto que esse hormônio causa vasodilatação ➢ Aranhas vasculares: Dilatação de microcapilares vasculares (um tipo de telangiectasia). Devemos ter em mente que aranhas vasculares não são a mesma coisa que circulação colateral, já que as aranhas vasculares são terminações arteriolares que formam os microcapilares arteriolares, na circulação colateral a dilatação que ocorre é nas veias. ⇒ A cirrose também pode se apresentar com: ● Síndrome da hipertensão portal: a compressão dos sinusóides hepáticos eleva a pressão do sistema porta. Esse aumento de pressão inverte o sentido do fluxo sanguíneo nas veias tributárias do sistema, ocasionando a circulação colateral. Outra manifestação comum em decorrência da hipertensão portal é a ascite (presença de líquido na cavidade abdominal), isso ocorre porque a hipertensão portal causa um desequilíbrio nas forças (hidrostática e osmótica), causando extravasamento de líquido (através dos sinusóides hepáticos, que são fenestrados) para a cavidade abdominal. ● OBS: A ascite pode ser classificada de acordo com seu volume: ❏ Grande volume (> 1500 mL): Sinal de piparote ❏ Médio volume (500 mL - 1500 mL): Macicez móvel/semicírculos de Skoda ❏ Pequeno volume (< 500mL): Sinal da poça ou ultrassonografia ● Encefalopatia hepática: Distúrbio na função neurológica por consequência das alterações hepáticas. Os transtornos neurológicos podem variar desde falta de atenção até convulsões. A fisiopatologia da encefalopatia hepática ainda não é muito bem esclarecida, entretanto acredita-se que a acumulação de neurotoxinas (como a amônia, por exemplo) no sangue em decorrência da perda da função de detoxificação hepática seja a principal causa. Com a evolução da encefalopatia o paciente vai se tornando desinibido (perda de julgamento crítico, moral e sexual), apático e apresentando irritabilidade. São frequentes distúrbios do sono e vigília. Os pacientes podem evoluir com desorientação espaço-temporal, estado confusional, estupor e até mesmo coma. ● Achados semiológicos da encefalopatia hepática: ➔ Asterixis (flapping): O paciente fica com a mão estendida e o examinador faz uma hiperextensão do dorso da mão. Em pacientes sem encefalopatia a mão volta normalmente e sem tremor, num paciente com encefalopatia a mão do paciente volta lentamente e com tremores, caracterizando o flapping. Acredita-se que essa alteração esteja relacionada com a perda de controle fino da motricidade e alterações extrapiramidais. O flapping é um bom indicador de encefalopatia hepática. ➔ Postura de descerebração transitória: Quando o paciente está deitado nota-se a musculatura da mão toda enrijecida de forma centrífuga. ● Infecções associadas (principalmente peritonite bacteriana espontânea), sangramentos gastrointestinais, uso de diuréticos (somado a desidratação), entre outros fatores podem precipitar o quadro de EH. ● Para classificar a encefalopatia hepática utilizamos a escala clínica de gravidade de West-Haven: Insuficiência hepática ⇒ É a consequência clínica mais grave de doenças hepáticas. Pode ser causada por destruição rápida das células hepáticas (como na hepatite fulminante, por exemplo) e nas lesões progressivas do fígado (como na cirrose alcoólica). A insuficiência hepática aguda é uma síndrome de início súbito e rápido de coagulopatia e encefalopatia em pacientes sem história prévia de doença hepática. ● O conceito que melhor define, de forma sucinta, a insuficiência hepática é: incapacidade do fígado em exercer suas funções ● A insuficiência hepática aguda é classificada da seguinte forma: ➢ Hiperaguda: Intervalo entre icterícia-encefalopatia ≤ 7 dias ➢ Aguda: Intervalo entre icterícia-encefalopatia 8 a 28 dias ➢ Subaguda: intervalo icterícia-encefalopatia > 28 dias ✓ Etiologia da insuficiência hepática aguda: Hepatites virais e uso de drogas são as causas mais comuns para a IHA. O paracetamol é uma droga lícita que pode levar a insuficiência hepática aguda, sendo inclusive a causa mais comum de IHA na América do Norte, Inglaterra e em outros países da Europa. Nos países subdesenvolvidos, as hepatites virais ainda são as principais causas de IHA. ● Na maioria dos casos o fígado deteriora de tal forma que é necessário transplante hepático. ● Devemos estar atentos aos produtos herbais de emagrecimento. Já existem artigos relacionando o uso com a insuficiência hepática (toxinas de plantas que se acumulam no fígado e causam agressão aos hepatócitos). ● O uso crônico de álcool, anticonvulsivantes e a desnutrição aumentam a susceptibilidade do paciente a desenvolver IHA. ● Cerca de 20 a 40% dos casos de IHA seguem sem etiologia definida. ✓ Sinais e sintomas: ● Os sintomas iniciais são inespecíficos: fadiga, adinamia (grande fraqueza muscular), mialgia, anorexia, náuseas, dor abdominal e febre. ● A elevação acentuada de enzimas hepáticas e icterícia são fundamentais para o diagnóstico. A presença de coagulopatia e encefalopatia são fatores obrigatórios para o diagnóstico de IHA. Vale ressaltar que a icterícia é o primeiro sinal de acometimento hepático. ● A insuficiência hepática pode causar anemia, trombocitopenia, distúrbios da coagulação e leucopenia. Como os fatores V, VII, IX e X, protrombina e fibrinogênio são sintetizados no fígado, as reduções dos níveis destes fatores pela doença hepática contribui para os distúrbios hemorrágicos. A má absorção da vitamina K lipossolúvel contribui ainda mais para a redução da síntese desses fatores de coagulação. ○ OBS: Tempo de protrombina prolongado tem valor prognóstico indicando gravidade da lesão hepática. ● O paciente habitualmente apresenta distúrbios endócrinos, como já foi citado acima. Isso porque o fígado é responsável pela metabolização de esteróides. ● Síndrome hepatorrenal: O termo síndrome hepatorrenal refere-se a uma falência renal funcional observadaocasionalmente nos estágios terminais da insuficiência hepática, quando não existem causas funcionais que expliquem a doença renal. ● Importante: A gravidade e a temporalidade apresentam relação direta com o prognóstico. Resumo feito por: Vinicius José Perri Dias
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