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PSIQUIATRIA | Victória Ribeiro de Medeiros Psicose e esquizofrenia - Fortunatto ESQUIZOFRENIA • Falta de conexão entre razão e cognição • Doença crônica, incapacitante, evolução progressiva • Incurável • Prevalência 1% da população • 2/3 não tem funcionamento social • Paciente frequente em CAPS: pacientes com prejuízo cognitivo grande devido à psicose crônica, o que impossibilita que essas pessoas trabalhem → o CAPS oferece atividades ocupacionais (oficina de yoga, teatro, artesanato, música) • Diagnóstico precoce auxilia para bom prognóstico o Detecção em personalidades pré- esquizofrênica, o prognóstico é ainda melhor • Mais comum em homens do que em mulheres (1,4 :1) – curiosidade: homens altos nascidos em meses frios • Devastador no homem • Mais comum nas cidades do que no campo • Kraepelin (1894) – definia esquizofrenia como “demência precoce” • Pico de incidência: o 13-25 anos no homem o Aos 20 anos na mulher o Uso de maconha na adolescência aumenta a predisposição • Paciente fica pior a cada novo surto • Risco de 5% de suicídio entre os esquizofrênicos (1% na população geral) PERÍODO PRÉ MÓRBIDO: 0-13 anos • Gravidez não desejada, parto em meses frios • Demora para ficar em pé, elevada estatura • Começa a andar após 1,5 anos e falar após 2 anos • Crianças com poucas experiências de afeto • Timidez, poucas amizades, dificuldades escolares • Uso frequente de maconha na escola PERÍODO PRODRÔMICO: 13-17 anos • Piora no desempenho e abandono escolar • Agressividade com os colegas e família • Isolamento social • Possível comportamento esquizoide, paranoide, esquizotípico leve • Sintomas depressivos relacionados ao embotamento afetivo • Aumento da frequência do uso de maconha PERÍODO PROGRESSIVO: 18-25 anos • Psicose franca • Perda completa do insight sobre a doença • Paciente em situações de rua • Delírios, alucinações, agressividade • Maior embotamento afetivo-volitivo • Possível início ou não de tratamento CRONIFICAÇÃO: > 25 anos • Disfunção sócio-ocupacional com a estabilização dos sintomas chaves, ou com a piora do quadro PSIQUIATRIA | Victória Ribeiro de Medeiros PSICOSE: conjunto de sinais e sintomas nos quais a capacidade mental da pessoa, sua resposta afetiva e sua capacidade de reconhecer a realidade, de ser comunicar e de se relacionar com outras pessoas estão alteradas. O autismo pode apresentar características de TOC, psicose e esquizofrenia etc. • Projeção paranoide • Beligerância hostil • Expansividade grandiosa (delírios místicos/religiosos)) • O delírio é bem evidente PROJEÇÃO PARANOIDE • Quadro de sintomas positivos • Delírios: persecutórios são os principais! Mas também de referência, somáticas, grandeza, influência, místicos, eróticos • Intenso medo com as crenças delirantes • Acredita que as pessoas estão falando sobre ele • Ideias de vítima de uma conspiração • Sensação de controle por parte de outras pessoas (“roubo de pensamentos”) DISTORÇÕES COGNITIVAS E SENSOPERCEPTIVAS • Medo e incômodo por vozes alucinatórias • Vozes que acusam, culpam ou ameaçam de punição • Alucinações visuais, táteis, gustativas e olfativas (lesão do lobo temporal) • Objetos, pessoas familiares parecem bastante alterados DISTÚRBIOS MOTORES • Posturas rígidas peculiares (estereotipadas) • Gestos repetidos peculiares (TOC psicótico – depende do nível de desorganização) • Sorrisos inadequados (afeto incongruente) • Conversar, balbuciar ou falar em voz baixa consigo mesmo (solilóquios) • Vacância (andar sem rumo) BELIGERÂNCIA HOSTIL • Atitude hostil, irritável e mal-humorada • Heteroagressividade • Intenso ressentimento • Culpa os outros pelos seus problemas • Encontra defeitos em si e nos outros • Desconfiança nas pessoas • Automutilação – casos mais graves EXPANSIVIDADE GRANDIOSA • Expressar atitude de superioridade • Ouvir vozes que elogiam e exaltam • Considerar ter poderes fora do comum • Correlação com delírios místicos ou religiosos • Desorientação e excitação • Linguagem desconexa: respostas irrelevantes ou incoerentes • Desviar-se do assunto • Uso de neologismos • Repetição de palavras e expressões • Desorientação no tempo, espaço ou de si mesmo • Expressão de sentimentos sem restrições • Manifestação de fala apressada • Elevação de humor (na pasicose do TAB) • Demonstrar atitude de superioridade • Dramatizar a si próprio ou os próprios sintomas • Falar alto e de forma tumultuada • Intensa hiperatividade e inquietação • taquilalia • Retardo e apatia: fala mais lenta, indiferença quanto ao próprio futuro, mímica facial rígida, movimentos lentos, deficiência na memória recente, bloqueio da fala, fala baixa ou sussurrada e não responde a perguntas • Autopunição e intensa ansiedade: tendência a se culpar ou se condenar, ansiedade em relação a temas específicos, atitude de autodepreciação, preocupação com ideias de suicídio, pensamento com intromissão de ideias indesejadas, medos específicos, senti-se indigno ou pecador • Sintomas depressivos: humor depressivo, ansiedade, culpa, tensão, irritabilidade, ideação suicida; geralmente ocorrem antes do embotamento afetivo franco ALOGIA: disfunção da comunicação; restrições da fluência e na produtividade do pensamento e da fala ACHATAMENTO OU EMBOTAMENTO AFETIVO: restrições na amplitude e na intensidade da expressão emocional (quando surge PSIQUIATRIA | Victória Ribeiro de Medeiros precocemente, indica mal prognóstico); o uso de antipsicóticos típicos podem causar embotamento afetivo como efeito colateral (diferente dos atípicos) ASSOCIABILIDADE: redução do interesse e da interação social ANEDONIA: redução da capacidade de sentir prazer (é diferente da depressão, não está carregada do elemento sofrimento); “tanto faz, tanto fez”; sem análise aprofundada ou julgamento sobre esse estado anedônico (diferentemente da depressão, em que o paciente percebe e compara a sua falta de prazer em atividades que antes lhe trazia essa sensação) ABULIA: redução do desejo, da motivação ou da persistência; restrição no início de comportamentos dirigidos a objetivos; paciente sem objetivo ou meta, não se importa com isso e não se interessa em ter isso futuramente (no caso depressivo, o paciente possui um “insight” sobre a própria abulia) • Rapport deficiente: relação entre as pessoas; capacidade de formação de vínculo • Passividade: importante se acompanhado de embotamento afetivo • Dificuldade no pensamento abstrato • Falta de espontaneidade (comportamento estereotipado; falta de higiene) • Pensamento estereotipado REDUÇÃO DA FALA: o paciente tem restrição quantitativa no discurso, utiliza poucas palavras e respostas não verbais. Além disso, pode haver empobrecimento do conteúdo da fala, em que as palavras transmitem pouco significado APARÊNCIA DESCUIDADA: o paciente tem aparência descuidada e higiene precária, as roupas são sujas ou manchadas, ou o indivíduo exala um odor desagradável CONTATO VISUAL: o paciente raramente faz contato visual com o entrevistador (parecido com o autismo), ou faz contato muito intenso, profundo, intimidador, demonstra desconfiança Critério diagnóstico de duração de sintomas: 6 meses Critério principal: intensidade de sintomas psicóticos com significativo prejuízo funcional Deve-se excluir a etiologia da psicose aguda relacionada a uso de drogas, retardo mental, autismo, depressão psicótica, TAB psicótico, condições clínicas (delirium ou transtorno mental orgânico) CIRCUITOS CEREBRAIS DISFUNCIONAIS DA ESQUIZOFRENIA PSIQUIATRIA | Victória Ribeiro de Medeiros Via mesolímbica → níveis elevados de dopamina = sintomas positivos, delírio, alucinação, agressividade Via mesocortical (cortéx pré-frontal dorsolateral) → redução da dopamina= sintomas negativos, prejuízo de cognição e de interesse por prazer, embotamento afetivo, redução da volição Córtex proé-frontal porção ventromedial → redução da dopamina = sintomas negativos, embotamento afetivo + redução da volição Via nigroestriatal = normal Via tuberoinfundibular = normal Ou seja: em via mesolímbica = tratamento dos sintomas positivos ↓ dopamina nas vias mesocorticais = piora dos sintomas negativos nas vias nigroestriatais = sintomas piramidais (disfunções motoras, impregnação, distonias, discenesias, oftalmoplegias, protusão da língua – alterações gerais ligadas a movimentos; bipirideno atua para reverter/amenizar esses sintomas) nas vias tuberoinfundibulares = distúrbios sexuais (queda grande da libido, pode acontecer aumento de prolactina e galactorreia e amenorreia); a diminuição da libido pode ser interessante em casos de pacientes hipersexualizados (a hipersexualização é rara nesse caso, mas não impossível de acontecer) Via dopaminérgica nigroestriatal: substância negra → núcleos da base ou o estriado; faz parte do sistema nervoso extrapiramidal e controla a função motora e o movimento. Via dopaminérgica mesolímbica: área tegmental ventral do mesencéfalo → nucleus accumbens, uma parte do sistema límbico do cérebro que se acredita estar envolvida em muitos comportamentos (sensação de prazer, euforia intensa produzido por uso abusivo de substâncias psicoativas), bem como delírios e alucinações na psicose. Via dopaminérgica mesocortical: relacionada à via mesolímbica; área tegmental ventral do mesencéfalo→ áreas do córtex pré-frontal, onde podem mediar sintomas cognitivos (córtex pré-frontal dorsolateral – CPFDL) e afetivos (córtex pré-frontal ventromedial – CPFVM) da esquizofrenia. Via dopaminérgica tuberoinfundibular: hipotálamo → adeno-hipófise e controla a secreção de prolactina. Via de múltiplos locais: substância cinzenta central, parte do mesencéfalo, núcleos hipotalâmicos e núcleo parabraquial lateral → tálamo; sua função não está bem elucidada. Na via mesolímbica, o paciente com esquizofrenia apresenta níveis de dopamina elevados e sintomas positivos: delírio, alucinação, pensamento desorganizado, agressividade. Os antipsicóticos típicos atuam na diminuição dessa dopamina para diminuição dos sintomas positivos, porém não o fazem de forma seletiva, de modo que há muitos efeitos colaterais pela queda generalizada de dopamina. A nível sináptico, há bloqueio de receptores para dopamina, a fim de se evitar a ação dopaminérgica exagerada. A dopamina está relacionada à psicose na via mesolímbica, porém nas outras vias, a diminuição da dopamina leva à diminuição do prazer (núcleo accumbens) – o paciente pode apresentar anedonia associada a antipsicóticos. Bupropionas e anfetaminas (Ritalina, Concerta, Venvanse): aumentam de forma lenta e gradual o aporte de dopamina, gerando recompensa no núcleo accumbens → princípio do tratamento para dependência PSIQUIATRIA | Victória Ribeiro de Medeiros química e alimentação compulsiva. Cautela ao prescrever essas medicações, pois o paciente pode esconder sintomas psicóticos, ou não contar ativamente, e o uso dessas medicações pode agravar os sintomas psicóticos pelo maior aporte de dopamina. Essas medicações, em outros casos, podem ser utilizadas no tratamento de dependência química. cuidado com o uso de antipsicóticos típicos em casos de pacientes com Parkinson, pois pode haver piora do tremor. Haloperidol: se liga apenas a receptores D2 e alfa 1, porém o seu ligante D2 se liga muito fortemente ao seu receptor na célula nervosa, o que, a longo prazo, pode levar a discenesias tardias e distonias que podem não ser reversíveis, porém isso é raro. Os antipsicóticos atípicos não se prendem tão fortemente assim ao receptor da dopamina PSIQUIATRIA | Victória Ribeiro de Medeiros Em casos de puérperas que não estão produzindo leite adequadamente, é possível uso do antipsicótico típico Supirida para provocar a liberação de prolactina e galactorreia. Além disso, há melhora do humor por provocar liberação de serotonina. O glutamato regula liberação de dopamina na via mesolímbica. Como driblar o embotamento afetivo/cognitivo, síndrome extra-piramidal e distúrbios sexuais? Os antipsicóticos atípicos receptores 5HT são serotoninérgicos, e estão envolvidos com a modulação do humor. Alguns antipsicóticos possuem ligantes para receptores dopaminérgicos, que atuarão em maior ou menor grau na psicose. Alguns apresentam menos ação de receptores histaminérgicos, o que causará menor efeito no peso do paciente. • Antagonismo dos receptores 5TH2A → propicia que não seja realizada uma ligação tão intensa aos receptores D2 • Atipicidade ↔ quão rapidamente ele se dissocia do receptor D2: o Típico = ligação prolongada o Atípico = dissociação rápida • Antagonismo total/parcial de 5HT2A e D2: varia com o formato dos ligantes: o O agonismo dos receptores de 5HT1A pode aumentar a liberação de dopamina, o que pode melhorar os sintomas afetivos, cognitivos e negativos, ao mesmo tempo em que também reduz o risco de sintomas extra- piramidais e de elevação da prolactina o O agonista de 5TH1A também pode diminuir a liberação de glutamato, o que pode reduzir indiretamente os sintomas de psicose Os receptores 5HT1A e 5HT2A tem ações opostas na regulação da liberação de dopamina: PSIQUIATRIA | Victória Ribeiro de Medeiros 5HT1A 5HT2A AGONISMO Aceleradores da liberação de dopamina Freios da liberação de dopamina ANTAGONISMO Na via nigro- estriatal: liberação de dopamina = menos ou nenhum sintoma extra- piramidal Na via mesocortical: liberação de dopamina = melhora dos sintomas afetivos, cognitivos e negativos Perfil de eficácia e melhores desfechos para o tratamento da mania e psicose: • Não só há melhora dos sintomas positivos, mas também dos sintomas afetivos, cognitivos e negativos • Bloqueio de aproximadamente 70% dos receptores D2 no núcleo accumbens • Antagonismo e agonismo parcial dos receptores D2, 5HT2A e 5HT1A, e não pela interação com receptores histamina H1, muscarínicos M1 ou alfa 1 adrenérgicos → isso evita sedação prolongada – aumento do risco de quedas e lentificação para o dia a dia! E aumento de peso (se possível, evitar sedação benzodiazepínica • Os psicóticos atípicos disponíveis no SUS só podem ser prescritos por psiquiatra, exceto a Risperidona e há exigência de protocolos a serem seguidos (muito provavelmente o paciente não conseguirá comprar no primeiro mês) Aripipazol: reúne os melhores mecanismos para minimizar efeitos colaterais (o que não significa que seja o melhor para tratamento da psicose) • Excelente antipsicótico • Responde bem em doses baixas • Não afeta no peso • Tem ação antimania Risperidona: • Excelente antipsicótico e anti-maníaco • Em doses baixas já entrega bom efeito antipsicótico • Grande efeito na redução da libido e pode causar galactorreia (mesmo sendo atípicos) – geralmente é usado em pacientes atípicos • Em altas doses pode causar os efeitos de impregnação (se comporta como um antipsicótico de 1ª geração e tem os mesmos efeitos colaterais) Quetiapina: somente age como bom antipsicótico em altas doses PSIQUIATRIA | Victória Ribeiro de Medeiros Olanzapina: • Principal efeito colateral é o aumento importante de peso e risco de síndrome metabólica • Segundo melhor antipsicótico e excelente antimaníaco • Tem ação sedativa e antidepressiva Clozapina: • Melhor antipsicótico; além do lítio, é uma das únicas medicações com ação direta em ideação suicida (demais antipsicóticos de 2ª geração agem no humor) • Última escolha • Pedir hemograma semanalmente, pois há risco de granulocitose! Pacientecom risco de pancitopenia e imunidade deprimida Antagonismo aos receptores H1 + antagonismo 5HT2C = aumento do apetite regulado pelo hipotálamo • Obesidade • Resistência periférica à insulina • DM2 • Dislipidemias • Eventos cardiovasculares Antipsicóticos com maiores efeitos: olanzapina, clozapina, quetiapina, risperidona, antipsicóticos típicos (sedativos) Antipsicóticos com menor efeito: aripiprazol, ziprasidona, lurasidona PSIQUIATRIA | Victória Ribeiro de Medeiros Tratamentos para esquizofrenia - resumo Condutas: 1º: preferência para antipsicótico atípico isolado (risperidona, olanzapina, aripiprazol) 2º: ajustar a dose do antipsicótico atípicos 3º: associar antipsicótico atípico + típico (até 2 tipos) *clozapina = antipsicótico + potente! Adjuvantes: • Benzodiazepínicos, se necessário • Antidepressivos, caso sintomas depressivos • Cessar uso de maconha • Anticolinérgicos para efeitos de impregnação /9bipirideno 2mg até 3x/dia) • Haloperidol deconoato (haloperidol de depósito) para os pacientes com má aderência ao tratamento *provável tratamento ad eternum, podendo talvez reduzir as doses
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