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1Abordagem Clássica Abordagem Clássica Vania Martins 2Abordagem Clássica Sumário Introdução .................................................................................................... 03 Objetivos ...................................................................................................... 04 Estrutura do Conteúdo ............................................................................... 04 Abordagem Clássica Tópico 1: Contexto de Surgimento ....................................................................... 05 Tópico 2: Administração Científica: Taylor e a Racionalização do Trabalho ................................................................................................... 06 Tópico 3: Henry Ford e a Produção em Massa ................................................. 17 Tópico 4: Teoria Clássica de Fayol ...................................................................... 23 Tópico 5: A Abordagem Clássica Hoje ................................................................ 30 Resumo ......................................................................................................... 33 Leitura Complementar ................................................................................ 34 Referências Bibliográficas ......................................................................... 35 3Abordagem Clássica Neste conteúdo, você estudará as principais contribuições de Frederick Taylor, Henry Ford e Henri Fayol para as teorias da Administração. Buscando ampliar a eficácia da atuação dos gestores e a eficiência dos sistemas produtivos, esses três autores construíram os pilares da chamada Abordagem Clássica em um contexto marcado pelas consequências do processo de industrialização da sociedade, no qual as fábricas careciam de princípios fundamentais de gestão. Taylor, Ford e Fayol foram os criadores das primeiras teorias formais que analisaram o funcionamento das organizações, oferecendo aos gestores os instrumentos básicos para lidar com os principais conflitos de sua época. A partir desses fundamentos, diversos modelos de organização se desenvolveriam posteriormente, produzindo impactos que podem ser percebidos até os dias de hoje nas empresas e na sociedade. 4 Estrutura do Conteúdo Objetivo s Abordagem Clássica Esperamos que ao final deste conteúdo, você seja capaz de: 1. Conhecer os principais conceitos de- senvolvidos pelas teorias que compõem a Abordagem Clássica; 2. Compreender os impactos da Admi- nistração Científica e da Teoria Clássica para a gestão das organizações; 3. Relacionar as propostas da Aborda- gem Clássica com práticas atuais de gestão. Para que você compreenda melhor as contribuições da Abordagem Clássica para a Administração, este conteúdo está dividido nos seguintes tópicos: 1. Contexto de Surgimento 2. Administração Científica: Taylor e a Racionalização do Trabalho 3. Henry Ford e a Produção em Massa 4. Teoria Clássica de Fayol 5. A Abordagem Clássica Hoje 5Abordagem Clássica 1. Contexto de Surgimento Em primeiro lugar, vamos procurar observar o contexto onde surgiu a Abordagem Clássica da Administração para que possamos entender melhor as propostas de Taylor, Fayol e Ford, os três principais participantes desta escola. Por isso, vamos viajar rapidamente até a virada do século XIX para o XX, no contexto da sociedade industrial capitalista, onde a tecnologia se desenvolvia rapidamente e as fábricas haviam se tornado o grande centro das atividades econômicas na Europa e nos Estados Unidos. Segundo Motta e Vasconcelos (2006), havia, neste momento, uma demanda muito grande para o aperfeiçoamento de técnicas de gestão capazes de aumentar a produtividade do trabalho, melhorar o desempenho das fábricas e, consequentemente, aumentar os lucros das organizações. Você pode imaginar como eram as fábricas nesse contexto? Grandes, complexas, reunindo centenas ou, muitas vezes, milhares de operários e diante de mudanças tecnológicas que, desde a Revolução Industrial, não paravam de ocorrer. Estamos falando da fase conhecida como Segunda Revolução Industrial, caracterizada pela invenção da energia elétrica e do motor à combustão, que vão trazer para as fábricas novas possibilidades de produção. Porém, para que essas possibilidades se desenvolvessem plenamente, era necessário resolver uma série de problemas que afetavam o processo produtivo. 6Abordagem Clássica É nesse contexto que surge a Abordagem Clássica, composta pela Teoria da Administração Científica de Frederick Taylor e pela Teoria Clássica de Henri Fayol. Henry Ford é considerado o mais importante membro do grupo que aplicou e desenvolveu os princípios da Teoria Científica. Vamos começar, então, pelas propostas de Taylor para lidar com esses problemas. 2. Administração Científica: Frederick Taylor e a Racionalização do Trabalho Frederick Taylor (1856-1915) nasceu nos EUA. Começou trabalhando na área de mecânica, estudou engenharia e conseguiu diversas promoções na Midvale Steel Company. Depois trabalhou como consultor, divulgando os resultados de seus estudos nos EUA e na Europa. Seus métodos foram aplicados em toda a indústria e nos mais diversos tipos de organização, como hospitais, forças armadas e empresas de serviços. A aplicação de seus métodos foi muito bem-sucedida ao longo da primeira metade do Século XX e ficou conhecida como taylorismo. Frederick Taylor ABORDAGEM CLÁSSICA Teoria Clássica Teoria da Administração Científica Frederick Taylor e Henry Ford Henri Fayol 7Abordagem Clássica Taylor elaborou uma proposta para os gestores das empresas que ficou conhecida como Administração Científica. Essa proposta visava combater os seguintes problemas que prejudicavam o desempenho da indústria naquele momento (MOTTA; VASCONCELOS, 2006): Os operários ganhavam o mesmo para uma determinada tarefa, independentemente de seu desempenho. O pagamento para cada tarefa era fixo No antigo sistema de administração, não havia quase nenhuma orientação de gerência para a execução das tarefas e para as escolhas do instrumento de trabalho, dentre os vários à disposição. Não havia padrão para executar as tarefas Os operários trabalhavam em longas jornadas e em condições ainda muito insalubres. A insatisfação era grande. Havia manifestações operárias Não havia nenhum tipo de plano por parte da administração voltado para atrair e reter os funcionários na organização. A rotatividade era alta O resultado desse quadro era que o operário produzia abaixo de sua capacidade e não tinha motivação nenhuma para produzir mais, já que recebia o mesmo que os colegas menos produtivos. Além disso, em virtude de suas insatisfações, os operários costumavam trabalhar em ritmo mais lento do que o esperado e ainda quebravam as máquinas, acusando os chefes de exigirem demais do equipamento. Taylor classificou esse comportamento dos operários como vadiagem sistemática (“fazer cera” no trabalho), procurando chamar a atenção para o fato de que a falta de um padrão para a execução de tarefas dificultava muito o controle da supervisão. O interessante é que Taylor pretendia atacar esses problemas, de modo a tornar mais produtivos os trabalhadores e, ao mesmo tempo, superar a oposição existente entre empregados e patrões na fábrica. Veja bem o que diz Taylor, logo no início de sua obra fundamental, Princípios de Administração Científica, publicada em 1911: 8Abordagem Clássica “O principal objetivo da administração deve ser o de assegurar o máximo de prosperidade ao patrão e, ao mesmo tempo, o máximo de prosperidade ao em- pregado. A maioria das pessoas crê que os interesses fundamentais dos em- pregadores e empregados sejam necessariamente antagônicos. Ao contrário, a administração científica tem a certeza de que os verdadeiros interesses de ambos são um único e mesmo: de que a prosperidade do empregadornão pode existir se não for acompanhada da prosperidade do empregado, e vice-versa. É possível dar ao trabalhador o que ele mais deseja — altos salários — e ao empregador também o que ele realmente almeja — baixo custo de produção” (TAYLOR, 1995[1911]). Você já deve ter percebido que Taylor queria harmonizar interesses de empregados e empregadores. Não deixa de ser uma proposta ousada, já que, naquela época, os conflitos entre essas duas classes estavam bem aguçados. Conseguiu notar, também, qual seria a chave para obter tal harmonia? Como seria possível, ao mesmo tempo, garantir maiores salários aos trabalhadores e reduzir os custos de produção? Se você fosse o administrador da Midvale Steel, o que você faria? ( ) Colocaria o trabalhador para trabalhar mais horas. ( ) Reduziria o salário do trabalhador. ( ) Aumentaria a produtividade do trabalhador. 9Abordagem Clássica Acertou em cheio se pensou na palavra “produtividade”. Para Taylor, a conta era simples: se o trabalhador é mais produtivo, o custo da produção se reduz. E, com isso, o empregador pode dispor de mais recursos para recompensar melhor seus empregados por seu desempenho. Entendeu, então, qual era o projeto de Taylor para enfrentar os problemas das fábricas? Pois bem, agora vamos entender de que maneira Taylor pretendia aumentar a produtividade do trabalhador. O primeiro ponto que precisamos entender é a padronização das tarefas. Vamos a ela: Taylor percebeu que a indústria tinha uma clara ideia sobre a quantidade de trabalho que se pode esperar de uma máquina, mas não conhecia os limites da produtividade dos trabalhadores. Por isso, propôs a realização de estudos de tempos e movimentos para encontrar o padrão que seria a melhor maneira de executar cada tarefa (chamada por Taylor de “The One Best Way”) Assim Taylor descreveu este método: “Encontrar, digamos, 10 a 15 trabalhadores particularmente hábeis em fazer o trabalho que vai ser executado. Estudar o ciclo exato de operações elementares ou movimentos que cada um desses homens emprega, ao executar o trabalho que está sendo investigado, como também os instrumentos usados. Estudar, com o cronômetro de parada automática, o tempo exigido para cada um destes movimentos elementares e então escolher os meios mais rápidos de realizar as fases do trabalho. Eliminar todos os movimentos falhos, lentos e inúteis. Depois de afastar todos os movimentos desnecessários, reunir em um ciclo os melhores e mais rápidos, assim como os melhores instrumentos” (TAYLOR, 1995[1911]). Note bem como a aplicação de métodos científicos de observação e mensuração foram fundamentais nos estudos de Taylor. Dentro desse sistema, Taylor também alertou que se entregarmos uma tarefa de carregar barras de ferro a um trabalhador, sem orientação, ele pode se esgotar fisicamente após algumas horas de trabalho (ANDRADE e AMBONI, 2011). 10Abordagem Clássica Dessa forma, Taylor desenvolveu a Lei da Fadiga: O homem só pode se submeter a um trabalho penoso durante uma parte do dia, necessitando de períodos de descanso. Deste modo, o operário pode trabalhar o dia todo sem perder o rendimento! Como podemos perceber, os métodos de Taylor levaram a uma padronização do trabalho, pois todo operário que realizava determinada tarefa, tinha que fazê-la de acordo com o “The One Best Way”. Segundo Motta e Vasconcelos (2006), as sugestões de Taylor para garantir que a padronização se sustentasse e resultasse em maior desempenho no trabalho foram as seguintes: Os trabalhadores escolhidos deveriam ser os mais aptos para realizar a tarefa. Seleção Científica do Trabalhador Os trabalhadores deveriam ser ensinados a executar as tarefas dentro dos padrões estabelecidos. Treinamento Científico do Trabalhador A supervisão deveria verificar com rigor se as tarefas são realizadas conforme os padrões determinados. A função do controle era de extrema importância no sistema de Taylor. Vigilância Rigorosa sobre o Trabalhador O sistema de pagamento deveria levar em conta o número de peças produzidas, a rapidez e a perfeição na tarefa realizada. Seria uma forma de incentivo para aqueles trabalhadores que seguiam as instruções e eram mais produtivos. Bonificações para os Trabalhadores mais Produtivos 11Abordagem Clássica Podemos dizer que, com seus métodos, Taylor criou a Organização Racional do Trabalho, segundo a qual o trabalho é executado dentro de um padrão previamente planejado para evitar desperdícios e garantir que a tarefa seja realizada da forma mais rápida e simples, aumentando a produtividade. Podemos perceber que, na organização racional do trabalho proposta por Taylor, quanto mais especializado fosse o operário, maior seria o seu rendimento. Entenda que especialização do operário significa dedicação a uma tarefa simplificada e padronizada. Aprender ou ser treinado significava apenas tornar-se mais eficiente na execução de uma função bem específica. Os problemas desse sistema, limitando o desenvolvimento de habilidades do trabalhador e impedindo que ele alcance a visão do todo da organização, só foram percebidos depois. A especialização passou a receber uma série de críticas por deixar o operário limitado à execução de tarefas rotineiras que não exigiam do intelecto. Muitas empresas ainda pensam de forma parecida, sendo comum que alguns chefes digam por aí que o “trabalhador é pago para trabalhar e não para pensar”. Quer entender melhor o debate sobre as consequências do taylorismo? Acesse Recurso Multimídia e assista ao documentário. Conteúdo On-line 12Abordagem Clássica O fato é que Taylor apostava na especialização, acreditando que ela deveria alcançar também a supervisão. Assim, na supervisão funcional, cada operário é subordinado a vários supervisores, cada um responsável por um setor da empresa. Taylor pretendia, com isso, aumentar o controle sobre a produção, pois cada supervisor entenderia muito bem do assunto que estaria sob sua supervisão (MOTTA e VASCONCELOS, 2006). Supervisor de produção Supervisor de manutenção Supervisor de qualidade Operário A Operário B Operário C Operário D Fonte: Adaptado de Idalberto Chiavenato — Teoria geral da administração, 2003. Na supervisão funcional, cada operário é subordinado a vários supervisores, cada um responsável por determinada função. É importante entender que, para Taylor, somente a gerência seria capaz de planejar a produção, cabendo aos operários simplesmente a execução das tarefas. Taylor justificava essa opção argumentando que os operários não tinham condições intelectuais de estudar ou elaborar planos para organizar as tarefas. 13Abordagem Clássica Como você deve estar percebendo, dentro do sistema de Taylor, a função primordial do administrador era determinar a melhor maneira de executar o trabalho. A forma de descobrir o “The One Best Way”, como vimos, era analisar cada etapa do trabalho, de modo que os movimentos necessários à sua execução fossem simplificados e reduzidos. Na medida em que fossem descobertos os movimentos e tempos padronizados, o operário deveria simplesmente reproduzi-los, isto é, fazer a tarefa seguindo o roteiro prescrito, sem questionamento. Portanto, lembre-se bem da regra fundamental do sistema taylorista: PLANEJAMENTO A cargo da administração EXECUÇÃO A cargo dos trabalhadores Como destacam Motta e Vasconcelos (2006), o resultado desse sistema é que todo o trabalho mental é retirado da oficina e concentrado nas mãos da administração! Princípios de Administração Científica de Taylor Veja, a seguir, quais são os princípios de administração científica de Taylor: 14Abordagem Clássica Você percebe que, dentro desse sistema proposto por Taylor, o homem não passa de uma engrenagem? Taylor acreditava que a natureza humana era, basicamente, materialista, de acordo com a noção de “homem econômico”, que tinha as seguintes características (MOTTA; VASCONCELOS, 2006): Administração como ciência Utilizar métodoscientíficos para planejar as tarefas, substituindo o critério pessoal do operário pelo método científico que estuda e especifica como a tarefa deve ser realizada. Seleção científica do trabalhador Abandonar o recrutamento “em massa” e utilizar critérios científicos para encontrar o homem de primeira classe, isto é, o trabalhador fisicamente mais adequado para cada tarefa. Treinamento científico do trabalhador Preparar o trabalhador para executar a tarefa segundo o padrão estabelecido, exercitando-o, por meio de instrutor competente em novos métodos, até que o trabalho prossiga regularmente, de acordo com as leis científicas, desenvolvidas pela administração. Cooperação harmoniosa entre trabalhador e gerência Repartir equitativamente as responsabilidades: à administração cabe o planejamento do trabalho enquanto aos operários cabe a execução, sob estrita vigilância da supervisão. PRINCÍPIOS DE ADMINISTRAÇÃO CIENTÍFICA DE TAYLOR 15Abordagem Clássica Motivado somente pelo dinheiro Racional, egoísta e calculista Deve ser estritamente controlado Tende à vadiagem Dentro dessa concepção de natureza humana, o único fator motivador para o operário era o monetário. Essa visão foi muito criticada por reduzir a complexa estrutura da personalidade humana a interesses financeiros. Além disso, trata-se de uma visão limitada também porque enxerga o indivíduo como um ser puramente racional, que não é afetado por emoções e que age de modo previsível, já que é motivado principalmente pelo dinheiro. Aliás, você já deve ter percebido que os aspectos humanos da organização não eram o alvo das preocupações de Taylor, não é mesmo? Por isso Taylor foi criticado por entender a organização como se fosse uma máquina – um arranjo estático de peças que funciona de acordo com uma programação prévia - e não como um sistema dinâmico constituído de pessoas. Além disso, a organização era vista como um sistema fechado, que leva em conta apenas os elementos de seu ambiente interno. Isso significa que Taylor dedicou pouca ou nenhuma atenção ao que acontecia fora da organização, isto é, no seu ambiente externo. Nenhuma mudança ocorrendo com consumidores, concorrentes, ou mesmo com a sociedade em geral, era foco de atenção de Taylor. Como vimos, no taylorismo todos os esforços estavam voltados para obter melhores resultados por meio da organização racional do trabalho. Esta sim era vista como a chave para aumentar a produtividade do trabalhador! Taylor também enfrentou muita resistência por parte da classe operária. Em muitas fábricas, seus métodos foram aplicados de modo equivocado, com a imposição de tempos reduzidos demais para as tarefas, levando os trabalhadores a esforços excessivos. Além disso, os trabalhadores temiam perder seus empregos (RAGO; MOREIRA, 1984). 16Abordagem Clássica O fato é que Taylor, em 1912, teve que se explicar diante do Senado americano, por conta das greves e tumultos de operários revoltados com seu sistema. Ao Senado, Taylor procurou demonstrar todos os benefícios obtidos com a aplicação de seus métodos, mostrando resultados impressionantes, tais como: • Métodos adotados nas principais indústrias do mundo; • Redução de custos e eliminação de desperdícios no processo produtivo; • Elevação da média salarial dos operários; • Indústrias mais produtivas e eficientes. Veja um pequeno trecho da obra de Taylor, mostrando como alguns desses resultados foram alcançados: “Nas usinas da Bethlehem Steel, 400 operários eram utilizados no carrega- mento de minérios e de cinzas. Os golpes de pá eram tão pesados, que os operá- rios ficavam extenuados em pouco tempo e depois nada produziam. Procuramos determinar qual o peso ideal de cada golpe de pá, chegando-se a 10 kg. Então projetamos uma pá cuja forma e tamanho permitiam que o operário pegasse tal quantidade em cada golpe. Como resultado, a turma de 400 operários reduziu-se a 140. Apesar da elevação dos salários em 60%, as despesas de carregamento caíram de 8 centavos para 4 centavos de dólar por tonelada, o que representou uma economia de 78 mil anuais para a empresa” (TAYLOR, 1995[1911]). Sem dúvida, o foco de Taylor era a correta utilização dos recursos (meios de produção disponíveis), o que para ele significa maior eficiência. Se você pudesse ajudar Taylor a formular uma resposta ao questionamento dos operários, o que você diria, ponderando o lado positivo e o lado negativo de seus métodos? 17Abordagem Clássica Segundo Park (1997), Taylor teve importantes discípulos, como o casal Frank (1868-1924) e Lillian (1878-1972) Gilbreth, que procuraram aprimorar o estudo de tempos e movimentos, sempre com o objetivo de melhorar a eficiência das tarefas individuais. O casal Gilbreth introduziu algumas inovações neste estudo, como a utilização de câmeras de filmagem para registrar como as pessoas executavam suas tarefas e, assim, aprimorar o “The One Best Way”, especialmente na tarefa de assentamento de tijolos. Frank Gilbreth também aplicou a racionalização das tarefas ao trabalho dos cirurgiões, sugerindo que estes fossem apoiados por enfermeiros especializados em passar-lhes os instrumentos. Atuando como engenheira industrial, em um campo bastante fechado às mulheres na época, Lillian é considerada a primeira figura feminina importante da administração. 3. Henry Ford e a Produção em Massa Henry Ford (1863-1947) nasceu nos EUA e iniciou carreira como mecânico, fundando, em 1903, a Ford Motors Company. Com essa empresa, promoveu uma grande inovação no século XX: a produção em massa do automóvel – produto antes artesanal e destinado às classes altas. Com base na racionalização da produção e na linha de montagem, Ford conseguiu reduzir os custos de fabricação do automóvel, vendendo-o a um preço acessível às camadas populares e modificando a estratégia comercial de sua época. Henry Ford 18Abordagem Clássica A produção em massa, conforme idealizada nas fábricas de Henry Ford, difundiu-se pelas indústrias ao longo do século XX, transformando-se em um dos pilares do sistema de produção capitalista. Vamos compreender as características desse sistema que alavancou a produção nas fábricas? A produção em massa está baseada na racionalização do trabalho e na tecnologia da linha de montagem móvel, que possibilitaram a fabricação em série de produtos padronizados com reduzido custo produção (MOTTA; VASCONCELOS, 2006). A tecnologia da linha de montagem não foi inventada por Ford, porém sua inovação consistiu na ideia de aplicá-la à linha de produção do automóvel. Essa tecnologia utiliza sistemas de plataformas móveis (esteiras rolantes), que transportam as peças de um lugar a outro na linha de montagem, de modo que cada trabalhador executa sua tarefa de modo quase fixo em seu posto de trabalho, movimentando-se pela fábrica o mínimo possível e economizando, com isso, uma boa quantidade de tempo. Acesse Recurso Multimídia e assista ao vídeo sobre fordismo e veja como funciona a linha de montagem no início do século XX. Conteúdo On-line Segundo Motta e Vasconcelos (2006), o sistema de trabalho implantado na fábrica de Ford era baseado nos princípios da Administração Científica de Taylor: o trabalho era executado dentro de certos ritmos e padrões, de modo coordenado e econômico. Ford aprofundou ainda mais a racionalização do trabalho proposta por Taylor, de modo que a própria progressão do produto através do processo produtivo ocorria de forma planejada, ordenada e contínua, sendo o trabalho entregue ao trabalhador (ao invés de o trabalhador se deslocar até ele). Como destaca Stanganelli (1995), Ford entendia que quanto mais especializado, mais produtivo seria o trabalhador. Em sua concepção, a especialização do operário era indispensável para reduzir os custos da produção e agilizar a execução das tarefas, sendo importante também para reduzir a fadiga. Não se preocupava com os efeitos negativos dessa especializaçãosobre o trabalho humano, pois acreditava que se existiam tarefas monótonas, também existiam “cérebros monótonos”, para os quais esse tipo de trabalho acabava sendo até saudável. 19Abordagem Clássica O que você acha dessa ideia de Ford? Ela é semelhante às ideias de Taylor sobre a especialização do trabalhador? A padronização também é uma forte característica do sistema de produção Fordista. Tudo era padronizado (o produto, o maquinário, os materiais e o trabalho do operário) visando à redução dos custos de produção. Além disso, Ford contava com os seguintes princípios, segundo Motta e Vasconcelos (2006): Utilização imediata dos equipamentos e da matéria-prima, de modo a obter a rápida colocação dos produtos no mercado. INT EN SI FI CA ÇÃ O A capacidade humana de produção era aumentada por meio da especialização e da linha de montagem. PRO DU TI VI DA DE A rápida colocação dos produtos no mercado procurava garantir que o produto final fosse vendido antes do vencimento do prazo de pagamento dos salários e dos insumos. Ford costumava dizer que “o minério de ferro sai da mina no sábado e é entregue sob a forma de um carro ao consumidor na terça-feira”.ECO NO M IC ID A D E Como você deve ter percebido, todo o sistema montado por Ford apontava para uma direção: produção eficiente e sem interrupções. Conhecido como push product line, o sistema tinha o objetivo de produzir o automóvel de modo rápido, fazendo-o escoar para o mercado consumidor no menor prazo possível (MOTTA; VASCONCELOS, 2006). 20Abordagem Clássica Para Ford, as interrupções não programadas da linha de montagem significavam dinheiro perdido. Nesse sentido, havia a preocupação com a gestão do estoque das peças de reposição, que sempre deveriam estar disponíveis para o andamento contínuo da produção. Visando à garantia da continuidade de operação da linha de montagem, o sistema fordista era verticalizado, de modo que a empresa fabricava as peças, além de montar e vender os automóveis ao consumidor final. Ford chegou a iniciar, na década de 1920, em plena floresta amazônica, um empreendimento com o objetivo de cultivar seringueiras para obter autonomia no suprimento de borracha para suas fábricas. Esse empreendimento, que não foi bem-sucedido, se chamou “Fordlândia” e existem boas referências para você saber um pouco mais a respeito: • O livro “Fordlândia, Ascensão e Queda da Cidade Esquecida de Henry Ford na Selva”, de Greg Grandin. • O documentário “Fordlândia”, de Marinho Andrade e Daniel Augusto. Disponível em Recurso Multimídia. Na época de Ford, era difícil encontrar fornecedores capazes de atender às necessidades de suprimento da empresa de forma eficaz e confiável, de modo que a verticalização acabava sendo uma forma de garantir a continuidade das operações de fabricação, sistema que ficou conhecido como Just in case. A verticalização foi um aspecto que mudou bastante na indústria automobilística atual. Enquanto Ford estava preocupado em controlar a produção de borracha para fabricar pneus para seus automóveis, hoje, as grandes montadoras adquirem pneus de fornecedores independentes. Acesse o Recurso Multimídia e conheça a estratégia inovadora de Ford para dominar o mercado automobilístico. Conteúdo On-line 21Abordagem Clássica O Declínio do Fordismo Devemos lembrar que Ford fundou sua empresa no início do século XX. Tratava-se de um contexto onde a economia e a sociedade tinham características que favoreciam muito tal modelo de produção. O rígido sistema de padronização e especialização do trabalho, assim como a autoridade centralizada, eram características típicas das empresas durante a primeira metade do século XX: nitidamente organizadas e bem estruturadas, altamente eficientes na produção de determinados produtos padronizados e em quantidades cada vez maiores. A partir dessa lógica de produção, o sistema de Ford representou uma das bases da chamada era industrial. Porém, essas características tinham sua face negativa: restringiam muito a iniciativa, a flexibilidade e a inovação, fatores que viriam a se tornar essenciais para as empresas quanto mais se aproximava o século XXI. Pense bem: o sistema de produção de Ford era concentrado na eficiência da produção de automóveis padronizados. Por quanto tempo esse tipo de produto seria capaz de atrair a atenção do consumidor? Com o crescente nível de informação e de exigência dos clientes e, principalmente, a diversificação de gostos, como o sistema de Ford poderia sobreviver? De acordo com Motta e Vasconcelos (2006), Ford foi criticado por manter uma visão focada no produto, que deveria ser fabricado em grande quantidade e com custos reduzidos, deixando em segundo plano a evolução das necessidades do mercado consumidor. Existe uma anedota que diz que Ford, no auge da produção em massa, afirmou que os clientes poderiam comprar automóveis Ford de qualquer cor, desde que fossem pretos. Mais uma vez, estamos falando do tema da rigidez dos sistemas criados pela abordagem clássica, não é mesmo? Os sistemas eram muito eficientes, porém, apresentavam grandes dificuldades de adaptação às mudanças do mercado. Segundo Gounet (1992), a partir dos anos 70, o modelo fordista começa a perder espaço para um novo modelo de produção desenvolvido no Japão, na fábrica da empresa Toyota, e que ficou conhecido como toyotismo. Esse novo sistema passou a se organizar a partir de princípios bem diferentes daqueles que vigoravam no fordismo e rapidamente se tornou um novo padrão de produção para a indústria, dando origem ao que chamamos hoje de “produção flexível”. Veja uma comparação entre o modelo fordista e o modelo de produção flexível: 22Abordagem Clássica PRODUÇÃO FORDISTA PRODUÇÃO FLEXÍVEL Desenvolvido a partir da década de 1910 nas fábricas da Ford (EUA), tornando-se o modelo dominante na primeira metade do século XX. Modelo desenvolvido a partir da década de 1950 nas fábricas da Toyota (Japão), tornando-se o modelo dominante a partir da década de 1970. Produção Just in case (grandes estoques). Produção Just in time, ou “no momento certo, sem geração de estoques”. Sistema verticalizado (a empresa controla quase todas as etapas do processo produtivo). Produção em rede (a empresa atua com uma cadeia de fornecedores e terceiriza diversas etapas de seu processo produtivo). Operário especializado em uma única tarefa. Trabalhador multifuncional. Centralidade do trabalho individual. Centralidade do trabalho em equipe. Estrutura em pirâmide (autoridade centralizada). Estrutura “enxuta” (hierarquia reduzida). De um lado, quem “pensa” (gestor); de outro, “quem executa” (operário). Trabalhador participa da melhoria do processo produtivo, desenvolvendo e aplicando conhecimento. Produção em série de produtos padronizados. Produção “flexível” de produtos diversificados, de acordo com a demanda. Respostas lentas às mudanças de mercado. Respostas rápidas às mudanças de mercado. 23Abordagem Clássica 4. Teoria Clássica de Fayol Henri Fayol nasceu na Turquia, mas teve sua formação intelectual e profissional na França. Ingressou como engenheiro de minas em um conglomerado do setor de mineração, o Commentry-Fourchambeau- Decazeville, vindo a se tornar seu diretor-geral. Tornou-se uma referência de administração eficaz, ao assumir a empresa às portas da falência e entregá-la alguns anos depois como uma das mais prósperas da França. Foi um grande defensor do ensino da Administração, não só nas Universidades como também nas escolas, afirmando que “todos têm necessidade, em maior ou menor grau, de noções de administração, seja na família, na empresa ou nos negócios do Estado”. Henri Fayol A Teoria Clássica se desenvolveu na França a partir de 1916, com a publicação do livro “Administração Geral e Industrial” de Fayol e preocupa-se fundamentalmente com a estrutura de funções e de atividades que a organização deveria possuir para ser eficiente (MOTTA; VASCONCELOS,2006). Sua abordagem é classificada como global ou anatômica por considerar que a eficiência da estrutura geral da empresa geraria a eficiência de cada uma de suas partes (como departamentos, seções e cargos). Para que essa estrutura funcionasse bem, era indispensável a função administrativa. Como veremos, a abordagem de Fayol representou uma ampliação do foco de atenção anteriormente estabelecido por Taylor na organização racional do trabalho, já que Fayol ocupou-se principalmente em estabelecer os papéis referentes ao nível diretivo da organização. 24Abordagem Clássica Segundo Andrade e Amboni (2011), a preocupação de Fayol em organizar com clareza as atividades da organização o levou a estabelecer seis funções básicas da empresa, que são as seguintes: ADMINISTRATIVA: Integração das demais funções CONTÁBIL: Balanço e análise de custos COMERCIAL: Compra e venda TÉCNICA: Produção de bens FINANCEIRA: Busca e alocação de capitais DE SEGURANÇA: Proteção de bens e pessoas Essas funções apresentam-se de modo um pouco diferente nas empresas de hoje em dia, recebendo o nome de “áreas” e sendo estruturadas de diferentes maneiras. É importante notar que a função administrativa é central nessa estrutura desenhada por Fayol, pois é responsável pela sincronização de todas as funções básicas da empresa. E o que faz essencialmente um administrador nessa estrutura? Nas palavras de Fayol (apud SILVA, 1984), trata-se do seguinte: “Administrar é prever, organizar, comandar, coordenar e controlar”. 25Abordagem Clássica Você notou bem quais as principais funções de um administrador para Fayol? Acesse o Recurso Multimídia e veja a síntese das ideias de Fayol sobre cada uma dessas funções: Prever, Organizar, Comandar, Coordenar e Controlar. Conteúdo On-line Outra observação importante de Fayol é que essas funções administrativas existem em qualquer nível ou área da empresa. Esta é uma ideia bastante interessante de Fayol, que acreditava que as funções administrativas não eram exclusivas da alta cúpula, mas estavam distribuídas proporcionalmente por todos os níveis hierárquicos. Porém, segundo Silva (1987), à medida que subimos na escala hierárquica, maior deveria ser a capacidade administrativa e menor a técnica. Pelo pensamento de Fayol exposto até aqui, podemos perceber que ele concebeu a empresa como uma organização linear, com as seguintes características (SILVA, 1987): Forma de pirâmide, com a autoridade centralizada (concentrada no topo da hierarquia). Unidade de direção (cada plano se integra ao plano maior da organização). Cadeia escalar (cada nível hierárquico subordinado a um nível superior). Unidade de comando (cada pessoa tem apenas um único chefe). 26Abordagem Clássica Veja, na figura a seguir, uma representação desse tipo de organização: Diretor Gerente de produção Gerente comercial Gerente financeiro Setor A Setor B Setor D Setor E Setor C Você deve ter notado que Fayol preocupou-se muito com a unidade de comando na organização. Nesse ponto, Fayol discordava da supervisão funcional proposta por Taylor, por achar que ela prejudicava a coordenação das atividades da organização. Contrabalançando um pouco da rigidez do princípio escalar, Fayol preconizava a autoridade de staff, atribuída a especialistas em determinadas áreas de atuação, que poderiam aconselhar e orientar os administradores. Esses especialistas de staff não têm autoridade formal, pois esta pertence àqueles que possuem determinadas posições hierárquicas na organização. Sua autoridade provém de seu conhecimento, como especialista, a respeito dos assuntos que interessam à empresa (CHIAVENATO, 2003). 27Abordagem Clássica Portanto, fique atento: AUTORIDADE DE LINHA Depende da posição formal na hierarquia. Depende do conhecimento especializado. Autoridade para decidir e implementar. Autoridade para aconselhar ou orientar. AUTORIDADE DE STAFF Se você pensou nas modernas figuras do consultor e do assessor, você acertou em cheio. Hoje, o especialista de staff recebe esses nomes. Princípios de Administração de Fayol Podemos perceber que a Teoria Clássica, assim como a Administração Científica de Taylor, caracteriza-se por um enfoque prescritivo, pois ambas prescrevem as funções do administrador e os princípios gerais que o gestor deve adotar para administrar com eficácia. Ambas são teorias que buscam ensinar as “receitas” para administrar. Segundo Chiavenato (2003), Fayol estabeleceu catorze princípios de administração: Autoridade e responsabilidade: direito de mandar e poder de ser obedecido. A responsabilidade aparece como uma consequência natural da autoridade. 01 Disciplina: obediência e assiduidade, tanto para chefes quanto para subordinados. Para tal, é necessário que, além do adequado comportamento dos chefes, haja a imposição de sanções. 02 28Abordagem Clássica Divisão do trabalho: método para aumentar a produtividade, pois a repetição da tarefa traz habilidade e precisão. 03 Unidade de comando: a dualidade de comando é fonte permanente de conflitos. Por isso é importante que, para cada ato, haja ordens de um só chefe. 04 Unidade de direção: um só comando e um só plano para cada conjunto de atividades que tenham o mesmo objetivo. 05 Subordinação do interesse particular ao geral: os objetivos da organização devem prevalecer sobre os objetivos de cada indivíduo. 06 Remuneração do pessoal: deve agradar a empregados e empregadores, observando-se sempre a situação econômica da empresa. 07 Centralização: concentração da autoridade no topo da hierarquia. 08 Cadeia escalar: linha de autoridade que vai do escalão mais alto ao mais baixo, em função do princípio do comando. 09 Ordem: tanto material (cada coisa em seu lugar, evitando perda de recursos), quanto social (otimização da produção por meio da melhor alocação dos recursos humanos). 10 29Abordagem Clássica Equidade: tratamento justo a todos os funcionários, de modo a obter sua lealdade dos funcionários. 11 Estabilidade do pessoal: para permitir que os agentes tenham tempo de aprender e executar as tarefas bem. A rotatividade de pessoal é prejudicial para a organização e deve ser evitada. 12 Iniciativa: capacidade de colocar em prática os planos de ação. 13 Espírito de equipe: convergência de esforços em prol dos interesses gerais da organização. 14 As principais críticas dirigidas à Teoria Clássica de Fayol foram as seguintes: • Concepção da organização como uma máquina, isto é, “um arranjo rígido e estático de peças”, que funciona de forma lógica e previsível; • Atenção exclusiva aos elementos formais da organização, deixando em segundo plano o elemento humano; • Concepção da organização como um sistema fechado, sem interação relevante com o ambiente externo; • Concepção limitada do indivíduo, segundo a qual os indivíduos agem como seres isolados na organização, desconsiderando suas relações com os grupos; • Ausência de trabalhos experimentais que garantissem a comprovação científica das teorias. Alguns estudiosos dirigiram essa crítica também a Taylor que, embora pretendendo criar uma ciência, teria se baseado em princípios e teses não comprovados cientificamente, com pouca utilização de pesquisas e experimentações científicas. 30Abordagem Clássica Assim como Taylor, Fayol também teve discípulos e o mais importante deles, segundo Park (1997), foi Luther Gullick, que ocupou posição de destaque na administração pública americana, onde participou de reformas na estrutura governamental do governo Roosevelt, entre 1936 e 1938. Gullick fez uma revisão das funções do administrador propostas por Fayol, incluindo a função de “equipar-se com pessoal” – destacando importantes processos de recursos humanos, como seleção e treinamento – e a função de “orçar”, referente ao exercício do controle financeiro da organização. 5. A Abordagem Clássica Hoje É hora de refletir mais um pouco sobre o que estudamosnessa unidade. Acesse o Recurso Multimídia e analise a aplicabilidade das ideias propostas pela Abordagem Clássica nos dias de hoje. Conteúdo On-line Ao contrário dos tempos de Taylor — onde o trabalhador ficava restrito à mera execução de tarefas preestabelecidas que, em geral, não exigiam muito de seu intelecto — hoje muitas empresas exigem que o trabalhador pense, seja criativo e agregue valor à organização, colaborando com as inovações necessárias à competitividade. Você também já deve ter ouvido falar no trabalhador multifuncional, não é mesmo? Aquele que é capaz de se adaptar à realização de mais de uma tarefa, conforme a necessidade da organização. Esse tipo de trabalhador é cada vez mais requisitado nas organizações. Você deve lembrar que Taylor, Ford e Fayol defendiam o contrário, ou seja, a especialização do trabalhador em uma única tarefa, pois acreditavam que a melhor maneira do trabalhador adquirir domínio sobre sua tarefa era simplificando-a ao máximo, tornando-a repetitiva, de modo que a própria repetição levasse o trabalhador a aperfeiçoar sua técnica. 31Abordagem Clássica É claro que todas as mudanças que vemos ocorrer nas organizações hoje em dia não chegaram a se tornar regras absolutas, que ocorrem em todos os lugares exatamente do mesmo jeito. Na verdade, a racionalização do trabalho na linha de montagem pode ser verificada em várias situações, como você pode ver na imagem ao lado de uma linha de montagem de uma empresa atual, onde os trabalhadores preparam alimentos: Muitas vezes, o trabalho na linha de montagem é realizado por robôs: Por isso, ao tomar qualquer organização concreta como exemplo, você deve usar sua capacidade de observação e de análise para identificar o quanto ela se aproxima ou se afasta de antigos modelos de administração. 32Abordagem Clássica Não esqueça! Taylor, Ford e Fayol viveram em uma época de maior estabilidade, onde as mudanças tinham um ritmo mais lento, comparado aos dias de hoje. O tipo de tecnologia presente nas fábricas e no cotidiano das pessoas também era bem diferente. Em suma, estávamos longe da “era da globalização”. Para completar o cenário, no início do século XX, o nível de educação e de qualificação dos trabalhadores era muito baixo. Todo esse contexto, sem dúvida, influenciou a maneira de pensar desses primeiros teóricos da administração, fazendo-os chegar a certas conclusões sobre o melhor modo de administrar as empresas. Por isso, a Abordagem Clássica como um todo pode ser considerada um tanto rígida e conservadora para a era de mudança em que vivemos. Porém, foi ela quem construiu os pilares da administração, representando o primeiro grande esforço de sistematizar os conhecimentos sobre o gerenciamento das organizações, com o objetivo de resolver problemas como o da baixa produtividade. A partir desses pilares, as teorias seguintes foram desenvolvidas. 33Abordagem Clássica Estudamos duas teorias que compõem a Abordagem Clássica: a teoria da Administração Científica e a Teoria Clássica. Vimos a proposta de Administração Científica de Taylor para aumentar a produtividade dos trabalhadores por meio da organização racional do trabalho. Discutimos os principais resultados obtidos por seus métodos e também as principais críticas dirigidas à racionalização e à padronização das tarefas na organização, especialmente pelos impactos produzidos no trabalho operário. Acompanhamos, também, os impactos da utilização da linha de montagem no processo produtivo do automóvel, bem como a nova estratégia comercial delineada por Ford em relação ao mercado consumidor. Buscamos as características do modelo de produção em massa e fizemos a comparação com o modelo de produção flexível, aplicado na atualidade. Trabalhamos, ainda, com os elementos básicos do processo administrativo segundo a Teoria Clássica de Fayol, destacando, em seguida, os catorze princípios de administração que este autor propôs para obter o melhor funcionamento das organizações. Por fim, fizemos um exercício de comparação entre as principais ideias propostas pela Abordagem Clássica e as características predominantes nas organizações nos dias de hoje. 34Abordagem Clássica Você pode ler dois ótimos textos que discutem a atualidade do taylorismo: NÓBREGA, Clemente. Sua excelência: Taylor superstar. Revista Exame, 24 Set. 1997. ROSA, Alexandre Reis. Um século de taylorismo. Revista GVexecutivo, vol. 10, n. 2, julho/dezembro 2011. Disponível em: http://rae.fgv.br/gv-executivo/vol10-num2-2011 35Abordagem Clássica AMBONI, Nério; ANDRADE, Rui Otávio Bernardes de. Teoria Geral da Administração. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. GOUNET, Thomas. Fordismo e toyotismo na civilização do automóvel. São Paulo: Boitempo, 1992. MOREIRA, Eduardo; RAGO, Luzia Margareth. O que é taylorismo. São Paulo: Brasiliense, 1984. MOTTA, Fernando Prestes; VASCONCELOS, Eduardo. Teoria Geral da Administração. Rio de Janeiro: Thomson, 2006. SILVA, Benedito. Taylor e Fayol. Rio de Janeiro: FGV, 1987. STANGANELLI, R. (org.). Henry Ford por ele mesmo. São Paulo: Martin Claret, 1995. TAYLOR, Frederick Winslow. Princípios de Administração Científica. São Paulo: Atlas, 1995.
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