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Dosimetria: Resolução de Caso - UNICURITIBA, profª Marion Bach

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Trabalho 
Trata-se o caso de crime de extorsão mediante sequestro previsto no artigo 159 do Código Penal, com uma qualificadora, pois o sequestro durou mais do que 24 horas (art 159 §1). Dessa forma a pena do crime em abstrato será de reclusão de 12 a 20 anos. 
Para se calcular a pena final é necessária a realização da dosimetria, consistente em 3 fases. Na primeira fase analisa-se, segundo o artigo 59 do Código Penal, a culpabilidade, antecedentes, conduta social, personalidade, motivos, circunstâncias, consequências e o comportamento da vítima. Na segunda fase verifica-se as atenuantes e agravantes, presentes nos artigos 61, 62, 65 e 66 do CP. Por fim, é averiguado se no caso concreto há majorantes ou minorantes.
Ao observar o caso de Jaiminho Lacerda, notamos a existência de 3 elementos na primeira fase que podem ser valorados negativamente, sendo estes a culpabilidade, os antecedentes e as circunstâncias do crime.
a) Na culpabilidade verifica-se o grau de censurabilidade/ reprovabilidade da conduta. Neste caso houve uso de violência, pois o réu deferiu coronhada na cabeça da vítima pelo fato desta estar gritando, possuindo laudo de lesões corporais nos autos (fl 34). Diante disso, haverá um aumento de 1 ano. 
b) Em relação aos antecedentes, verifica-se a existência de antecedente criminal, pois Jaiminho possui condenação por um crime de furto, cometido em 03/03/2007, cuja sentença condenatória	transitou em julgado em 04/01/2008, ou seja, há mais de 5 anos. Dessa forma, aumenta-se 2 anos.
c) No que tange as circunstâncias do crime, o réu invadiu a casa em horário que todos estavam dormindo, de madrugada, usando arma de fogo, sem possibilidade de defesa das vítimas. Nesse sentido, nos posicionamos para o acréscimo de 1 ano da pena.
d) Para análise da Personalidade inexiste elementos concretos, portanto, deixamos de valorar.
e) Conforme relato da testemunha de defesa, Jaiminho possui uma boa conduta social. Auxilia no sustento dos seus filhos, é uma boa pessoa e não consegue emprego fixo, pois não tem muito estudo. Faz bicos na construção civil e somente se envolveu com o crime para sustentar sua família. Ademais, não é possível utilizar condenação não transitada em julgado para fundamentar uma conduta social ruim. 
Nessa perspectiva já se pronunciou o Tribunal de Justiça do Distrito Federal:
PENAL E PROCESSUAL PENAL. ROUBO TENTADO. RESISTÊNCIA. ABSOLVIÇÃO. INSUFICIÊNCIA DO CONJUNTO PROBATÓRIO. CONDUTA DO RÉU NÃO CARACTERIZADORA DE CRIME. DOSIMETRIA DA PENA. CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS FAVORÁVEIS. CONDUTA SOCIAL. INQUÉRITOS E AÇÕES PENAIS EM CURSO. IMPOSSIBILIDADE. CONSEQUÊNCIAS. INERENTES AOS TIPOS PENAIS. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. 1. INCABÍVEL A ABSOLVIÇÃO QUANDO O CONJUNTO PROBATÓRIO COLIGIDO AOS AUTOS MOSTRA-SE UNÍSSONO, RESTANDO AS DECLARAÇÕES DO RÉU ISOLADAS NO CONTEXTO PROBATÓRIO. 2. IN CASU, EM QUE PESE A NEGATIVA DO RÉU, OS DEMAIS ELEMENTOS PROBATÓRIOS COLHIDOS DURANTE A INSTRUÇÃO PROCESSUAL, EM ESPECIAL AS DECLARAÇÕES DA VÍTIMA, ATESTAM, DE FORMA INCONTESTE, A PARTICIPAÇÃO DO APELANTE NA PRÁTICA DOS DELITOS EM QUESTÃO. 3. INVIÁVEL A UTILIZAÇÃO DE INQUÉRITOS POLICIAIS E AÇÕES PENAIS EM CURSO PARA AGRAVAR A PENA BASE EM NOME DA CONDUTA SOCIAL, CONFORME DIRETIVA CORPORIFICADA NO VERBETE 444, DO COLENDO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. 4. SE AS CONSEQUÊNCIAS MENCIONADAS PELO MAGISTRADO A QUO SÃO INERENTES AOS DELITOS SOB EXAME, DEVE TAL CIRCUNSTÂNCIA SER AFASTADA DA FIXAÇÃO DA PENA BASE. 5. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
(TJ-DF - APR: 1650084520098070001 DF 0165008-45.2009.807.0001, Relator: SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS, Data de Julgamento: 07/10/2010, 2ª Turma Criminal, Data de Publicação: 20/10/2010, DJ-e Pág. 238) 
Isto posto, não haverá aumento neste quesito.
f) Não há comportamento da vítima que tenha contribuído para a realização do crime de extorsão mediante sequestro.
g) Motivos: Não será considerado aumento uma vez que no caso em tela os motivos existentes são inerentes ao crime, não podendo ser utilizados para tal.
h) Consequências: Depreende-se dos fatos que não há consequências expressivas para o aumento de pena, visto que não será considerado relevante a mera presunção de consequência ou a inerente ao crime.
Concluída a primeira fase da dosimetria, a pena- base resta em 16 anos.
2ª Fase: 
Agravantes: Tendo em vista a reincidência do réu, condenação 	por crime de lesão corporal leve,	cometido	em	05/06/2010,	cuja	sentença	condenatória transitou em	julgado	em	10/09/2012. Aumentamos a pena em 2 anos e 6 meses. 
Atenuantes: Há previsão do artigo 65, inciso III, alínea c e d, atenuantes aplicáveis ao caso. 
A confissão realizada pelo réu é motivo para atenuar a pena, devendo esta ser de 1 ano. O crime fora cometido também sob coação a que o réu podia resistir, portanto, dá-se a diminuição de 3 meses, visto que foi compelido a praticar a conduta pelo parceiro Dinho, mediante ameaça a sua família.
Consideramos o histórico do réu como substrato para atenuante da pena, em razão da aplicação da teoria da co-culpabilidade do estado. Conforme Zaffaroni, 1999: 
“ A teoria defende que o Estado deve ser corresponsável pelo delito, pois não ofereceu condições de aprimoramento cultural e econômico ao agente, que se restou marginalizado, uma vez que a sociedade, muitas vezes, é desorganizada, discriminatória e excludente”.
Nesse sentido, observa-se que Jaiminho possui deficiência em sua formação acadêmica (concluiu apenas o primeiro grau), porque parou de estudar para poder sustentar a casa. Em razão disso, e de outros crimes anteriores cometidos, encontra dificuldade para ser empregado, não conseguindo levar sustento de maneira honesta para sua mulher e seus filhos, se vendo obrigado a voltar-se para vida delituosa. Assim, dá-se a diminuição da pena em 3 meses.
Ultrapassada a segunda fase, estabeleceu-se a pena provisória ou intermediária em 17 anos.
Minorantes:
Em vistas do laudo psicológico juntado aos autos, que comprova a semi-imputabilidade do réu, causa de diminuição em um terço da pena provisória. 
Tendo sido o crime cometido em concurso, Jaiminho é merecedor da minorante constante no parágrafo 4º do art. 159, dessa forma, recebe diminuição na pena em um terço. 
CÁLCULO:
Dezessete anos da pena intermediária subtraído a primeira minorante (cinco anos e seis meses), que resulta em onze anos e quatro meses. Em razão do método de cálculo cumulado, subtrai-se a segunda minorante do resultado acima, dando a pena final em 7 anos e 6 meses.

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