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Periodontia I – Kaliny Alves Santos Periodontite Conhecer os mecanismos da doença é fundamental para escolha de seu tratamento, sabemos que a causa da gengivite e da periodontite é a mesma: bactérias da placa dental. Na maioria das pessoas, os agentes etiológicos permanecem presentes, mas em equilíbrio, ou seja, não ocorre estabelecimento da doença. O que influencia a patologia é a interação das bactérias, sistema imune e fatores ambientais. Nem todo paciente com gengivite evolui para periodontite, assim como nem todo paciente com periodontite perderá o dente. Quando a gengivite evolui, culmina em perda de tecido conjuntivo e ósseo, migração apical do epitélio juncional e desenvolvimento da periodontite. A periodontite baseia-se na interação entre a defesa do hospedeiro e o biofilme, especialmente bactérias como Porphyromonas gingivalis, Tannerella forsythia e Treponema denticola. Estudos mostram que ela é a transição de gengivite de linfócitos T para uma lesão com linfócitos B e plasmócitos. Histopatologia Sabe-se que tanto a gengivite quanto a periodontite são divididas em estágio: inicial, precoce, estabelecido e avançado. As fases inicial e precoce são as descritas na gengivite (resumo de gengivite). Então, as fases estabelecida e avançada serão descritas a diante, elas diferem entre si na expressão clínica e grau de destruição. Lesão estabelecida/progressiva Lesão com predominância de plasmócitos em tecido conjuntivo periodontal e linfócitos (principalmente B), o que diferentemente da lesão rica em linfócito T e restrita à gengiva, permite progressão e desenvolvimento de bolsa periodontal. A bolsa periodontal é formada quando há rompimento do tecido conjuntivo e perda de inserção dele ao dente. Assim, o epitélio juncional migra apicalmente e forma a bolsa. Há crescimento de invaginações para dentro do conjuntivo adjacente. Neutrófilos polimorfonucleares continuam a migrar para a bolsa, formando uma barreira entre tecido e biofilme. O processo inflamatório continua, à medida que a permeabilidade do epitélio é aumentada, assim como sua ulceração, permitindo entrada de mais produtos bacterianos, o que gera produção de citocinas, isso destrói tecido conjuntivo e osso. Em torno do infiltrado, existe uma faixa fibrosa comum nas lesões crônicas, sendo uma tentativa de separação entre a lesão e os demais tecidos, mas independentemente do nível da bolsa, o osso alveolar e o ligamento periodontal não ficam inflamados. Lesão avançada Essa fase é marcada pela perda de inserção que se torna evidente clínica e histologicamente. Fonte: LINDHE, 2018. Fonte: LINDHE, 2018. Fonte: LINDHE, 2018. Periodontia I – Kaliny Alves Santos Sabe-se que a destruição do tecido é por conta dos efeitos da resposta imunológica e não por conta diretamente das bactérias. A destruição ocorre devido a presença de metaloproteinases de matriz, produzidas pelos fibroblastos estimulados por citocinas, com objetivo de destruição da MEC. Além disso, o colágeno é destruídos pela fragmentação, desnaturação ou fagocitose. Em menor parte, os macrófagos também atuam. Sendo assim, a perda óssea se mostra com o avançar da lesão, mas a faixa fibrosa continua presente encapsulando a lesão, fazendo com que o osso subjacente e ligamento periodontal continuem não inflamados. Linfócitos B na periodontia Ativados por antígenos específicos ou ativadores policlonais (como nos casos de alguns patógenos periodontias que ativam linfócitos B policlonais), os quais estimulam 30% dos linfócitos e podem agir em suas subpopulações. Ele produz anticorpos, mas os produzidos no periodonto nesta situação são de baixa afinidade e a memória não pode ser direcionada, os principais são IgG, IgM e IgA. Os anticorpos de alta avidez dão resistência à continuidade da infeção, já os de baixa avidez não são capazes de mediar resposta imune. Acredita-se que a resposta de anticorpos proteja e detenha a progressão da lesão, mas ainda não se sabe como. Nem anticorpos nem neutrófilos polimorfonuclreares penetram o biofilme, o que torna questionável sua detecção da infecção, mas anticorpos específicos para bactérias podem envolver-se no controle da doença, enquanto os outros fatores não. Dessa forma, se forem ativados de forma contínua, além de produzir anticorpo, produzem muitas citocinas, o que contribui para destruição do tecido. Linfócitos T na periodontite Acreditou-se que a gengivite e periodontite estável fosse mediada por linfócitos Th1, enquanto a periodontite por Th2, isso propõe que a resposta da imunidade inata produza fatores inflamatórios (por neutrófilo polimorfonucleares e macrófagos), o que gera resposta do linfócito Th1, imunidade celular e anticorpo protetor, resultando assim em uma lesão periodontal estável. Porém, se houver resposta inata de forma fraca pela ativação policlonal de linfócito B, isso resulta na atuação dos Th2, depois a resposta de anticorpos não protetores e a lesão então, progride. Atualmente, a ideia aceita é de que a periodontite em nosso organismo é resultado de um equilíbrio entre linfócitos Th1 e Th2, com uma tendência ao 2. Supressão da imunidade celular Estudos nos fazem crer que bactérias como: P. gingivalis, A. actinomycetemcomitans, T. denticola, Capnocytophaga ochracea e F. nucleatum podem induzir supressão de linfócitos, falham na síntese de citocinas e reduzem a resposta celular. Linfócitos T e homeostase Pelo fato dos linfócitos estarem relacionados com quase todas as interações imunorregulatórias, é preciso que exista um equilíbrio entre os efetores Fonte: LINDHE, 2018. Periodontia I – Kaliny Alves Santos e os reguladores, para ser possível obtermos homeostase. Linfócitos Th1 possibilitam macrófagos matarem patógenos intra/extracelulares, além da presença dos linfócitos natural killers (matadores) e dos linfócitos T que participam do recrutamento e ativação dos neutrófilos polimorfonucleares para o local da infecção. Assim, para conter a infecção a produção de interferon-γ reforça a fagocitose. Enquanto o linfócito B sugere progressão da lesão, pelo aumento de citocinas Th2 ou declínio da Th1. Perfis de citocinas Diferentemente do que foi visto no tópico anterior (Th1 na lesão estável e Th2 na progressiva), outros estudos sugeriram que linfócitos Th1 são predominantes ou tem-se redução de linfócitos Th2 em tecidos doentes. Logo, foi proposto então um envolvimento de ambos na doença periodontal. Porém, houve uma concordância sobre o fato de que um desvio do equilíbrio para a síntese de Th2 represente o quadro da periodontia humana. Linfócitos TCD8 Diferentemente do quadro de gengivite, em que existia 2 linfócitos TCD4 para 1 TCD8, na periodontite essa proporção parece ser de 1:1, mesmo aumentando o número de linfócitos TCD8 a sua atuação ainda é incompreendida. A maioria dos TCD4 agem como Th2, ou seja, produzem altos níveis de IL-4 e baixos de interferon-γ. Já os TCD8 produz igualmente IL-4 e interferon-γ, ou seja, tem fenótipo Th0. Existem dois subgrupos de linfócitos TCD8: 1. TCD8 positivos citotóxicos Têm função de mediar citólise (destruição celular pelo excesso de água), produzir muito IFN-γ e nenhuma IL-4 ou IL-5. Além disso, eles suprimem os linfócitos B. 2. TCD8 positivos supressores Têm função de conter a resposta proliferativa dos linfócitos citotóxicos e suprimir a imunidade celular, bem como produzir muita IL-4 e IL-5. Além disso, eles auxiliam os linfócitos B. Resumindo, mesmo não tendo atuação diretana destruição tecidual, os linfócitos TCD8 positivos produzem citocinas, as quais agem tanto na resposta imune inata quanto na adaptativa, sendo importantes na lise dos tecidos/células, infectados/danificados por bactérias. Imunorregulação na doença periodontal O questionamento que rege os estudos neste sentido é baseado no fato de que algumas lesões têm características Th1 e outras Th2. O equilíbrio entre citocinas é o que define se a doença se mantém estável ou se progride, então controlar a expressão Th1/Th2 é imprescindível. Os fatores que controlam a expressão Th1/Th2 são: - Genéticos - Resposta imune inata; - Natureza do antígeno; - Natureza da célula apresentadora de antígeno; - Eixo hipotálamo-hipófise-suprarenal e Sistema Nervoso Simpático; - Eixo T reguladores/Th17; Genética Cerca de 38 a 80% da variação na doença periodontal se deve à genética. Resposta imune inata Cada vez mais os conceitos de imunidade inata e adaptativa se misturam, sabe-se que a resposta imune inata (inespecífica) determina a natureza da resposta adaptativa, assim como aspectos da resposta adaptativa (específica) controlam a resposta inata. - IL.12 A resposta inata forte resulta em altos níveis de IL- 12, logo, associa-se à resposta Th1, enquanto a fraca inata e níveis baixos de IL-12 favorecem resposta Th2. - Receptores toll like Periodontia I – Kaliny Alves Santos Estão presentes em células dendríticas, neutrófilos polimorfonucleares, macrófagos etc. Possuem capacidade de reconhecimento estrutural de padrões moleculares associados ao antígeno (PAMP), sendo lipopolissacarídios, peptidoglicanos, DNA bacteriano, RNA e lipoproteína. Provavelmente eles são importantes na determinação da natureza da resposta do hospedeiro à placa. TLR-4 promove expressão de IL-12 e proteína-10, induzida por INF-γ, indicando resposta Th1. Já TLR-2 inibe IL-12 que resposta Th2. Natureza do antígeno Possivelmente, cada indivíduo possui complexos patogênicos específicos, logo, eles podem não ser patogênicos para todas as pessoas, possivelmente também a coinfecção com múltiplos organismos seja modulador da resposta imune. Natureza da célula apresentadora de antígeno Existe a sugestão sobre as células Th1 e Th2 serem um espectro celular, e que a depender da condição, produzam tanto th1 quanto th2. Logo, o th0 seria o centro do espectro. Células apresentadoras de antígenos na gengivite são predominantemente células dendríticas positivas para TCD4 e TCD8, já em periodontite o predomínio é de linfócito B positivo para TCD19 e TCD83. Os estudos sugerem então a modulação do perfil Th1/Th2 seja através da variação da natureza da célula apresentadora de antígeno. Eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal e SNSimpático O estresse faz com que ocorra progressão rápida da periodontite, tanto a excitação do SNS quanto o eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal gera supressão das respostas Th1, muda o domínio Th2 e leva à periodontite. Eixo T reguladores/Th17 - Linfócitos T reguladores Em lesões periodontais com proporção alta de linfócitos B, ocorre aumento de linfócitos T reguladores. Desempenham papel no controle da autoimunidade e do eixo regulador com os th17. - Linfócitos Th17 Estudos mais recentes mostraram uma linhagem nova de linfócitos T, os T17, que participam bastante da regulação inflamatória, pela produção de IL-17 e indução de IL-6, 8 e PGE2. Além disso, a IL-17 interfere nos osteoclastos, mediando reabsorção óssea, além de acreditar-se na possibilidade de que elas contribuam para doenças autoimunes. Autoimunidade - Linfócitos T natural killers Existe a possibilidade de que os NK tenham papel imunorregulatório autoimune importante. Destruição da matriz do tecido conjuntivo Interações entre as células e célula-matriz regulam a remodelação conjuntiva, eventos que contam com a presença de ativadores e inibidores enzimáticos, citocinas e fatores de crescimento, Os pacientes com periodontite tem quase destruição total do colágeno tipo I e III (maior tipo presente na gengiva), já os tipos V e VI parecem permanecer (relacionados a membrana basal). Relacionam-se assim ao aumento de vascularidade e proliferação epitelial do tecido inflamado. Perda óssea Na situação de periodontite, a reabsorção do osso se dá pela interação de osteoblastos e osteoclastos. Periodontia I – Kaliny Alves Santos Osteoblastos quando estimulados formam receptor ativador do fator nuclear kappa B para o ligante, o qual regula a diferenciação e as funções dos osteoclastos. Eles produzem ácido e hidrolases que descalcificam o tecido mineralizado do osso e degradam matriz orgânica. Já osteoclastos fagocitam a matriz orgânica degradada, reabsorvendo o osso. O aumento de IL-B pode ajudar o vínculo entre aumento de linfócitos B e destruição óssea. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA LINDHE, Jan; LANG, P. Niklaus. Tratado de periodontia clínica e implantologia oral. Guanabara Koogan. Rio de Janeiro. 6. ed. 2018. CONTATO @kalinyalves_ Kaliny368@gmail.com mailto:Kaliny368@gmail.com