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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO BACHARELADO EM MATEMÁTICA –VARIÁVEIS COMPLEXAS RESUMO DAS AULAS DOS DIAS 06/10/2010 e 08/10/2010 – 05 horas de duração Integração Complexa. Integrais de linha Dada f : [a, b] ⊂ R −→ C, f(t) = u(t) + iv(t), cont́ınua, definimos:∫ b a f(t)dt = ∫ b a u(t)dt+ i ∫ b a v(t)dt. (23) Esta definição ”herda”a maioria das propriedades da integral de funções com valores reais, em particular, se c = α+ iβ é uma constante teremos que ∫ b a cf(t)dt = c ∫ b a f(t)dt. Para ver que a igualdade acima é de fato verdadeira, escreva as partes real e imaginária de cada um dos membros da igualdade e compare. Uma outra propriedade comum as duas integrais(real e complexa), é:∣∣∣∣∫ b a f(t)dt ∣∣∣∣ ≤ ∫ b a |f(t)| dt. (24) Para verificar esta última desigualdade, seja c = e−iθ, com θ a ser escolhido covenientemente. Temos que pela equação (1), que Re ( e−iθ ∫ b a f(t)dt ) = ∫ b a Re(e−iθf(t))dt ≤ ∫ b a ∣∣∣e−iθf(t)∣∣∣ dt = ∫ b a |f(t)| dt. Observe que na expressão acima estamos usando parte da desigualdade (2) no caso real. Se escolhermos θ = arg (∫ b a f(t)dt ) , então, Re ( e−iθ ∫ b a f(t)dt ) = ∣∣∣∣∫ b a f(t)dt ∣∣∣∣, e portanto,∣∣∣∣∫ b a f(t)dt ∣∣∣∣ ≤ ∫ b a |f(t)| dt. Seja agora γ uma curva diferenciável por partes, com equação z = z(t), t ∈ [a, b]. Se f é uma função continua em γ∗(o traço de γ), então t 7→ f(z(t)) é cont́ınua no intervalo [a, b], e definimos∫ γ f(z)dz = ∫ b a f(z(t))z′(t)dt. (25) Note que z′ não é cont́ınua, mas existem pontos a = t0 < t1 < t2 < · · · < tn = b, tais que em cada subintervalo [tj−1, tj ], j = 1, · · · , n, z′ é cont́ınua, e portanto a integral acima fica definida por,∫ γ f(z)dz = ∫ b a f(z(t))z′(t)dt = n∑ j=1 ∫ tj tj−1 f(z(t))z′(t)dt. (26) Definição 17 Duas parametrizações, z : [a, b] −→ C e z̃ : [α, β] −→ C são equivalentes se existe uma bijeção continuamente diferenciável s 7→ t(s) de [α, β] sobre [a, b], tal que t′(s) > 0, e z̃ = z ◦ t. A condição t′(s) > 0 significa precisamente que o sentido de percusso é preservado. 45 Proposition 1 Suponha que t 7→ z(t), t ∈ [a, b] e que τ 7→ z̃(τ), τ ∈ [α, β] são parametrizações equivalentes de uma curva γ. Então, ∫ b a f(z(t)z′(t)dt = ∫ β α f(z̃(τ)z̃′(τ))dτ. Demo Seja t : [α, β] −→ [a, b], t = t(τ) seja uma bijeção continuamente diferenciável e crescente tal que z̃ = z ◦ t(estamos supondo que as duas parametrizações são equivalentes). Então, usando a mudança de variável t 7→ t(τ), temos: ∫ b a f(z(t)z′(t)dt = ∫ β α f(z(t(τ))z′(t(τ))t′(τ)dτ = ∫ β α f(z̃(τ))z̃′(τ)dτ. Na última igualdade usamos a regra da cadeia na igualdade z̃ = z ◦ t. Dada a curva γ parametrizada no intervalo [a, b], (t 7→ z(t)), definimos a curva −γ por z = z(−t), t ∈ [−b,−a]. Equivalentemente podemos definir −γ como z = z(a+ b− t), t ∈ [a, b]. Temos então que, Proposition 2 Para toda f cont́ınua e toda γ C1 por partes, tem-se que∫ −γ f(z)dz = − ∫ γ f(z)dz. Demo Temos, usando a mudança de variável t = −τ ,∫ −γ f(z)dz = ∫ −a −b f(z(−t))(−z′(−t))dt = ∫ a b f(z(τ))z′(τ)dτ = − ∫ b a f(z(τ))z′(τ)dτ = − ∫ γ f(z)dz. Definiremos a soma de caminhos γ = γ1 + · · ·+ γn, pela igualdade de integrais,∫ γ1+···+γn f(z)dz = ∫ γ1 f(z)dz + · · ·+ ∫ γn f(z)dz, para todas as funções f que sejam cont́ınuas em γ∗. Quando γ é uma curva fechada, podemos tomar dois pontos distintos quaisquer dela que ficará dividida em duas curvas γ1 e γ2. Temos então que∫ γ f(z)dz = ∫ γ1+γ2 f(z)dz = ∫ γ2+γ1 f(z)dz. Naturalmente podemos escrever qualquer integral complexa em termos de integrais reais. Se f(z) = u(x, y)+ iv(x, y), então teremos:∫ γ f(z)dz = ∫ b a f(z(t))z′(t)dt = ∫ γ udx− vdy + i ∫ γ vdx+ udy. Exemplos 1 - Sejam γ o ćırculo unitário orientado positivamente e n ∈ Z. Então, ∫ γ zndz = { 0, n ̸= −1 2πi, n = −1 . Para ver que esta afirmação é correta, substitúımos γ parametrizada por z(t) = cos t + i sen t, t ∈ [0, 2π] na definição da integral de linha. Então teremos que, no caso n ̸= −1:∫ γ zndz = ∫ 2π 0 (cosnt+ i sennt)(− sen t+ i cos t)dt = ∫ 2π 0 (− cosnt sen t− sennt cos t)dt+ i ∫ 2π 0 (cosnt cos t− sennt sen t)dt = ∫ 2π 0 − sen(n+ 1)tdt+ i ∫ 2π 0 cos(n+ 1)tdt = [ 1 n+ 1 cos(n+ 1)t ]2π 0 + i [ 1 n+ 1 sen(n+ 1)t ]2π 0 = 0 + i0 = 0. No caso em que n = −1, a integral acima se transforma em∫ γ z−1dz = i ∫ 2π 0 dt = 2πi. 46 2 - Seja γ a curva assim definida: o intervalo na reta [1, |z|], z ̸= 0 seguido do arco de ćırculo |z| eit, 0 ≤ t ≤ θ. Então, ∫ γ dw w = log |z|+ iθ = Log z. (Veja a figura abaixo) x y θ 1 |z| z Figura 35: O logaritmo dado por uma integral Temos que a integral desejada é a soma das integrais, primeiro ao longo do segmento [1, |z|], e depois ao longo do arco de ćırculo |z| eit, t ∈ [0, θ], donde,∫ γ dw w = ∫ |z| 1 dt t + ∫ θ 0 i |z| eit |z| eit dt = ∫ |z| 1 dt t + ∫ θ 0 idt = log |z|+ iθ. Sejam p e q funções cont́ınuas em uma região G. Considere as duas seguintes afirmações: (a) Quaisquer que sejam os caminhos γ1 e γ2 em G que tenham os mesmos pontos inicial e final, tem-se que∫ γ1 pdx+ qdy = ∫ γ2 pdx+ qdy. (b) ∫ γ pdx+ qdy = 0, qualquer que seja a curva fechada γ contida em G. Mostremos que (a) e (b) são equivalentes. (b) ⇒ (a) Dados γ1 e γ2, caminhos em G com os mesmos pontos inicial e final, γ = γ1 − γ2 é um caminho fechado em G, donde ∫ γ1 pdx+ qdy − ∫ γ2 pdx+ qdy = ∫ γ pdx+ qdy = 0, portanto, ∫ γ1 pdx+ qdy = ∫ γ2 pdx+ qdy. (a) ⇒ (b) Seja agora γ um caminho fechado qualquer em G. Sejam A e B dois pontos distintos de γ∗; estes pontos dividem a curva em duas, γ1 que é a parte da curva no sentido positivo de A até B, e γ2 que é a parte da curva, mantendo o sentido, de B até A. É claro que γ = γ1 + γ2. Portanto,∫ γ pdx+ qdy = ∫ γ1+γ2 pdx+ qdy = ∫ γ1 pdx+ qdy − ∫ −γ2 pdx+ qdy = 0, pois γ1 e −γ2 tem os mesmos pontos inicial e final. Teorema 12 Sejam G um aberto conexo de C, γ um caminho em G, e p, q : G −→ C funções cont́ınuas. A integral de linha ∫ γ pdx+ qdy depende apenas dos pontos inicial e final de γ, se e só se existe U = U(x, y) : G −→ C tal que ∂U ∂x = p, e ∂U ∂y = q 47 Demo A suficiência é imediata: Se existe U = U(x, y) definida em G tal que ∂U ∂x = p, e ∂U ∂y = q, e se o intervalo do parâmetro de γ é [a, b], então temos que:∫ γ pdx+ qdy = ∫ b a ( ∂U ∂x x′(t) + ∂U ∂y y′(t) ) dt = ∫ b a d dt (U(x(t), y(t))) dt = U(x(b), y(b))− U(x(a), y(a)), o que mostra que a integral só depende dos pontos inicial e final. Necessidade Fixe um ponto qualquer z0 = (x0, y0) ∈ G; como G é conexo, podemos ligar um outro ponto qualquer z = (x, y) ao ponto fixado por uma poligonal, e, podemos se necessário determinar que cada trecho desta poligonal seja paralelo a um dos eixos coordenados, e em particular, o trecho final pode ser horizontal ou vertical, como na figura abaixo . z0 z x y z0 z x y Vejamos primeiro o caso em que o caminho termina em um trecho na horizontal. Como a integral de linha depende apenas dos pontos inicial e final do caminho de integração, se γ é qualquer caminho em G, ligando z0 a z, a expressão U(z) = U(x, y) = ∫ γ pdx+ qdy, define uma função em G. Escolhendo uma poligonal ligando z0 a z com o último trecho horizontal, teremos U(x, y) = ∫ x p(t, y)dt+ constante, donde ∂U(x, y) ∂x = p(x, y). Da mesma forma, se a poligonal ligando z0 a z tem seu último trecho na vertical, então, U(x, y) = ∫ y q(x, t)dt+ constante, logo, ∂U(x, y) ∂y = q(x, y). Definição 18 Se existe U tal que ∂U(x, y) ∂x = p(x, y) e ∂U(x, y) ∂y = q(x, y), diremos que p(x, y)dx+ q(x, y)dy é uma forma diferencial exata. Em resumo:∫ γ pdx+ qdy depende apenas dos pontos inicial e final de γ, se e só se pdx+ qdy é uma forma diferencial exata. Cabem aqui duas observações: 1 – Se U como no teorema existe, ela é única, a menos de adição de constante. 2 – As funções p, q, U , podem ser reais ou complexas. Pergunta: Dada f cont́ınua em G, em que condiçõesf(z)dz é uma diferencial exata? Observe que f(z)dz = f(z)dx + if(z)dy, portanto, esta forma diferencial é exata se e só se ∂F ∂x = f(z) e ∂F ∂y = if(z), ou, equivalentemente, ∂F ∂x = −i∂F ∂y , logo, f é cont́ınua e F satisfaz as equações de Cauchy- Riemann, donde F é holomorfa em G com F ′ = f . Resposta: Se f é cont́ınua em G então f(z)dz é exata se e somente se f é a derivada de uma função holomorfa em G. Como exemplo, já vimos, a menos de translação(a = 0) que∫ |z−a|=R (z − a)ndz = { 0, n ̸= −1 2πi, n = −1 , 48 portanto não existe função holomorfa f definida em uma vizinhança de a, com a removido, tal que f ′(z) = 1 z − a nesta vizinhança. Um outro exemplo: Se n ∈ Z, n ̸= −1, então (z − a)n = ( (z−a)n+1 n+1 )′ , e z 7→ (z−a) n+1 n+1 é uma função holomorfa em C \ {a}, se n < 0 e holomorfa em C se n ≥ 0, portanto∫ γ (z − a)ndz = { 0, −1 ̸= n < 0 para toda curva fechada γ que não passa por a 0, n ≥ 0 para toda curva fechada γ , Exemplos 1 – Calcular ∫ |z|=2 2dz z2 − 1 . Por enquanto não temos muitas alternativas para fazer este cálculo, a não ser o teorema 1. Note que 2 z2 − 1 = 1 z − 1 − 1 z + 1 . Olhando formalmente o segundo membro desta última igualdade,vemos que é igual a derivada de log ( z − 1 z + 1 ) , e, onde existir um ramo holomorfo desta multifunção, a igualdade deixa de ser formal para ser real. Ora, anteriormente vimos que existe um ramo holomorfo de log ( z − 1 z + 1 ) em C \ [−1, 1], logo a curva fechada |z| = 2 está contida em C \ [−1, 1], portanto,∫ |z|=2 2dz z2 − 1 = ∫ |z|=2 [ log ( z − 1 z + 1 )]′ dz = 0. 2 – Calcular ∫ |z|=1 |z − 1||dz|. Usando a parametrização, z(t) = eit = cos t+ i sen t, t ∈ [0, 2π], obtemos,∫ |z|=1 |z − 1||dz| = ∫ 2π 0 √ (cos t− 1)2 + sen2 tdt = ∫ 2π 0 √ 2(1− cos t)dt = 8. 3 – Calcular ∫ |z|=r xdz. Use a parametrização natural de |z| = r para calcular esta integral. Aqui faremos este cálculo de um modo diferente. Observe que x = z + z 2 = 1 2 ( z + r2 z ) . Consequentemente,∫ |z|=r xdz = ∫ |z|=r 1 2 ( z + r2 z ) dz = 1 2 ∫ |z|=r zdz + 1 2 ∫ |z|=r r2 z dz = 1 2 × 0 + r 2 2 × 2πi = r2πi. 49
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